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1. INTRODUÇÃO
Dessa forma, a gestão de riscos vem compartilhar e atuar como fator complementar a
uma administração que utiliza controle de desempenho e indicadores de resultados,
promovendo uma visão completa dos processos e identificando pontos fracos e oportunidades
que possam ser aproveitadas.
No conjunto de órgãos e entidades do poder executivo federal, listados como unidadesa
adotarem as práticas relacionadas à gestão de riscos, aos controles internos, e à governança,
estão as Universidades Federais do Nordeste brasileiro. É possível encontrar 11 Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e 20 Universidades Federais na Região Nordeste
Desde 2016, as IFES, por meio da Instrução Normativa Conjunta MP/CGU N°01/2016,
que dispõe sobre controles internos, gestão de riscos e governança no âmbito do Poder
Executivo federal, vem trabalhando para desenvolverem suas políticas de gestão de riscose as
estruturas necessárias para executarem ações que possam atender as exigências da Instrução
Normativa e adaptar a metodologia às práticas de gestão e governança de suas instituições.
Nesse sentido, o Fórum de Pró-Reitores de Planejamento e Administração das
Instituições Federais de Ensino Superior (FORPLAD), que tem caráter permanente e reúne os
pró-reitores de planejamento, de administração e ocupantes de cargos equivalentes destas
instituições, vem trabalhando para auxiliar as IFES na implementação da gestão de riscos.
Um dos principais produtos do FORPLAD, entre capacitações e cursos, foi a entregado
Sistema de Gerenciamento ForRisco, que é um software livre e pode ser utilizado por todas
as IFES para cadastramento da estrutura organizacional, processos, riscos e controles. O sistema
permite que as instituições tenham um painel de gerenciamento e relatórios gerenciais para
tomada de decisão.
Assim sendo, as IFES possuem um caminho repleto de desafios administrativos e
acadêmicos no processo de implementação da gestão de riscos, sendo necessário um
monitoramento constante e análise de maturidade para apontar as melhorias prioritárias e
estabelecer vínculos com outras universidades e institutos com o objetivo e evoluírem.
De modo que o objetivo geral deste trabalho foi analisar o estágio de formalização de
estruturas em gestão de riscos nas universidades federais do Nordeste brasileiro.
Para tal intento, foi realizada fundamentação teórica sobre o tema de gestão de risco no
setor público para foi realizado levantamento documental e estrutural quanto a implementação
de práticas de gestão de riscos nas IFES estudadas, e à final proposição de melhorias para
amadurecimento da gestão de riscos nas IFES. E como base fundamente do trabalho foi
estruturada o referencial teórico que segue no próximo item.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico está estruturado numa abordagem inicial sobre o conceito de
governança corportativa, advindo inicialmente do setor privado e adapatado a realidade e
objetivos do setor público. E posteriormente uma abordagem sobre a gestão de risco no setor
público.
A discussão e estudos sobre governança corporativa, assim como sua aplicação tiveram
como protagonista os Estados Unidos (EUA), em função das grandes fraudes financeiras e atos
de corrupção em organizações americanas, deixando clara a necessidade de fortalecimento do
controle interno e mecanismos de gestão para combater, reduzir e prevenir prejuízos (BORGES
e SERRÃO, 2005).
Em função dos prejuízos e necessidade de fortalecimento da gestão para possibilitar
mais segurança para todas as partes interessadas das organizações, a governança corporativa
surge relacionada a gestão da organização e com seus stakeholders. Os estudos para
desenvolvimento da governança corporativa foram estruturados a partir dos anos 1980 nos
EUA. Os esforços ganharam apoio dos grandes investidores que passaram a valorizar
organizações com uma gestão correta e sólida e mobilizando-se contra corporações com gestões
irregulares. O movimento pela governança corporativa expandiu-se para a Europa e chegou ao
Brasil nos anos 1990 e 2000 (BORGES e SERRÃO, 2005).
A governança corporativa, então, surge devido a uma forte necessidade de controlar e
trazer racionalidade para conflitos de interesse existentes entre os stakeholders da estrutura
organizacional e corporativa. A teoria da agência aborda os conflitos de interesse como
problemas de agência (GILLAN e STARKS, 2003).
Diversos autores e obras irão fornecer conceitos e aplicações para governança
corporativa (BORGES e SERRÃO, 2005). O conceito de governança corporativa está
relacionado com o modo como as empresas são dirigidas e controladas, englobando as
diferentes formas e esferas de seu exercício e diversos interesses. (MARQUES, 2007). A
governança irá estabelecer as formas de interação entre os proprietários, investidores, gestores
e partes interessadas (Stakeholders) (VIEIRA, TAVARES e BARRETO, 2019).
Para o bom funcionamento da governança e aplicação de suas diretrizes, é necessário
um conjunto de estruturas que possibilitem limites para o sistema operacional da organização.
O conjunto de estruturas é composto por fatores como atividades corporativas, como gerentes,
trabalhadores e fornecedores de capital (GILLAN e STARKS, 2003).
A regulação de interações e relacionamento entre as partes interessadas é de extrema
importância visando reduzir conflitos de interesse e promovendo um alinhamento
organizacional para alcance de objetivos e resultados. Os conflitos de interesse são
considerados os problemas de agência, que podem ocorrer entre acionistas, que possuem a
propriedade e os agentes, que tem o controle administrativo da organização (BORGES e
SERRÃO, 2005)
A teoria da agência aborda os diversos problemas e custos que podem existir em uma
relação conflituosa entre acionistas e administradores na busca por interesses e objetivos
divergentes, onde o bem-estar de uma parte depende das decisões da outra. O grande problema
ocorre quando uma das partes passa a colocar em primeiro lugar interesses particulares de
ganho, vantagens, estilo de vida, retorno e riqueza e assim gerando falta de controle, falhas de
transparência, fraudes e corrupção (BORGES e SERRÃO, 2005).
Sendo assim, a teoria da agência contribui em termos teóricos para não somente a
compreensão dos conflitos existentes, mas sobre as relações existentes no sistema onde a
propriedade da organização e o controle estabelecido serão designados a pessoas diferentes
(ARRUDA, MADRUGA e JUNIOR, 2008).
A governança corporativa vem para promover a construção de uma estrutura
envolvendo gestão, estratégia, liderança e controle dentro das organizações e assim dar
sustentabilidade para os objetivos organizacionais, possibilitar maior segurança e controle para
acionistas, proteger os direitos dos administradores e assegurar a satisfação das necessidades
dos clientes finais.
A governança é uma temática que está sendo cada vez mais debatida e implementada
nos setores público e privado atualmente, principalmente após os anos 2000, em função das
fraudes no mercado norte-americano e assim servido de exemplo de boa prática para países em
crescimento como o Brasil. O setor público tem buscado adotar tais práticas como meios para
combater a corrupção e buscar garantir um uso eficiente dos recursos públicos. (SILVEIRA,
2004)
Um dos principais fatores trabalhados na governança para combater a corrupção é o
controle interno, visando promover transparência e alcance dos objetivos previstos no
planejamento estratégico. Uma das ferramentas utilizadas pelo controle interno atualmente é a
gestão de riscos, atuando como uma fonte de identificação de possíveis eventos de riscos e
trabalhando em ações de controle preventivo e contingencial, ponto que será explorado no
próximo item.
Gráfico 1
A política de gestão de riscos da instituição está
elaborada eaprovada?
Gráfico 2
Existem planos de gestão de riscos instituídos? Planos
setoriais ou plano institucional para implementação da
política de gestão de riscos.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Gráfico 3
A instituição possui Comitê de Governança, Riscos e Controle ou
órgão equivalente para tomada de decisão sobre gestão de riscos
na IFES?
19
20
10
Não Sim
Fonte: Pesquisa realizada com IFES do FORPLAD.
Gráfico 4
O processo de gestão de riscos está sendo executado em todos os
níveis organizacionais?
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Gráfico 6
A instituição faz uso de planilhas ou sistemas de informação para
cadastramento e registro dos riscos, oportunidades e posterior
tratamento?
Sistema informatizado
Planilhas 13
10 12 14
A utilização de planilhas leva a uma gestão de riscos com menos tempo de resposta às
mudanças, devido a uma análise de cenários, números e dados demorada em função de uma
geração de relatórios manual, mecanizada e cansativa para o gestor. Os sistemas informatizados
permitem gerar relatórios em poucos segundos, realizar cruzamentos de variáveis, visualizar
cenários, integrar processos e objetivos estratégicos, assim como facilita a inserção de dados
para alimentação e atualização do gerenciamento de riscos.
O monitoramento torna-se ágil a medida que o gestor insere dados, informações e toma
providências práticas na operacionalização dos controles. Outro fator relevante dos sistemas
informatizados é a possibilidade de integrar a comunicação do gerenciamento de riscos de
vários setores, onde é possível apontar quais setores e processos estão relacionados ao
gerenciamento de riscos setorial.
É possível perceber o reflexo do atual estágio iniciante ou intermediário de várias IFES
e outros órgãos públicos ao estarem implantando estruturas de gestão de riscos e realizando as
adaptações estruturais necessárias, assim como testando metodologias e ferramentas que
melhor se adequem ou preparando-se internamente para terem condições básicas para
implantação e utilização de sistemas informatizados.
O gráfico 7 apresenta uma possível relação e influência do trabalho das auditorias
internas no fortalecimento das linhas de defesa das IFES e atividades de orientação e
recomendação para implementação da gestão de riscos nas universidades, demonstrando um
número de 18 universidades com unidades de auditoria interna, mesmo número de IFES com
políticas de gestão de riscos aprovadas ou em elaboração.
Gráfico 7
A instituição possui unidade de Auditoria Interna?
20 18
15
10
Não Sim
Quadro 2: Análise comparativa das políticas de gestão de riscos das IFES pesquisadas
Itens estruturais básicos para gestão de riscos no Número de IFES da amostra que
setor público de acordo com a IN Conjunta MP-CGU Nº atendem ao item em sua política
01/2016
Princípios e objetivos organizacionais 6 IFES
Como a gestão de riscos será integrada ao planejamento 1 IFES
estratégico, aos processos e às políticas da organização
Como e com qual periodicidade serão identificados, 1 IFES
avaliados, tratados e monitorados os riscos
Como será medido o desempenho da gestão de riscos 3 IFES
Como serão integradas as instâncias do órgão ou entidade 8 IFES
responsáveis pela gestão de riscos
A utilização de metodologia e ferramentas para o apoio à 8 IFES
gestão de riscos
O desenvolvimento contínuo dos agentes públicos em 8 IFES
gestão de riscos
Competências e responsabilidades para a efetivação da 8 IFES
gestão de riscos no âmbito do órgão ou entidade
Tipologias de riscos 8 IFES
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
ABNT NBR ISO 31000. Gestão de riscos - Princípios e diretrizes. Risk management –
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