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Direito Administrativo

Professor Leandro Pereira

1. ESTADO • Ditadura - governo de um líder reconhecido pela população


como repressor
Estado é uma instituição organizada políticamente, socialmente • Monarquia - governo baseado na herança nobiliárquica
e juridicamente, ocupando um território definido, normalmente • Oligarquia - governo de um pequeno grupo político que
onde a lei máxima é uma Constituição escrita, e dirigida por um compartilha interesse ou relações familiares.
governo que possui soberania reconhecida tanto interna como • Plutocracia - governo de pessoas ricas.
externamente. Um Estado soberano é sintetizado pela máxima • Teocracia - governo de um estado religioso ou orientado por
“Um governo, um povo, um território”. O Estado é responsável valores exclusivo de uma religião.
pela organização e pelo controle social, pois detém, segundo
Max Weber, o monopólio legítimo do uso da força (coerção, 3. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
especialmente a legal).
Estado, no sentido de subdivisão administrativa, é uma unidade A administração pública, segundo o autor Alexandre de Moraes,
autônoma (autogoverno, autolegislação e autoarrecadação) pode ser definida objetivamente como a atividade concreta e
dotada de governo próprio e constituição e que, com outros imediata que o Estado desenvolve para assegurar os interesses
estados, forma uma federação. Exemplos de países formados coletivos e subjetivamente como o conjunto de órgãos e de
pela união de estados federados são Brasil, Estados Unidos, pessoas jurídicas aos quais a Lei atribui o exercício da função
Alemanha e México. No Brasil, muitas pessoas se referem, administrativa do Estado.
erroneamente, ao Distrito Federal como sendo um estado, Sob o aspecto operacional, administração pública é o
embora este seja, como o nome sugere, um Distrito. desempenho perene e sistemático, legal e técnico dos serviços
próprios do Estado, em benefício da coletividade. A administração
2. GOVERNO pública pode ser direta, quando composta pelas suas entidades
estatais (União, Estados, Municípios e DF), que não possuem
O governo é “a organização, que é a autoridade governante de personalidade jurídica própria, ou indireta quando composta por
uma unidade política,” “o poder de regrar uma sociedade política,” entidades autárquicas, fundacionais.
e o aparato pelo qual o corpo governante funciona e exarce
autoridade. 3.1.  Fins da administração
Estados de tamanhos variados podem ter vários nívens de
governo: local, regional e nacional. Administração Pública tem como principal objetivo o interesse
O governo é usualmente utilizado para desiginar a instância público, seguindo os princípios constitucionais da legalidade,
máxima de administração executiva, geralmente reconhecida impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
como a liderança de um Estado ou uma nação. Normalmente A administração pública é conceituada com base nos seguintes
chama-se o governo ou gabinete ao conjunto dos dirigentes aspectos: orgânico, formal e material.
executivos do Estado, ou ministros (por isso, também se chama Segundo ensina Maria Sylvia Zanella Di Pietro o conceito de
Conselho de Ministros). Porem, existem países como o Reino Unido administração pública divide-se em dois sentidos:
que tem Chefe de Estado e Chefe de Governo respectivamente a
Rainha Elizabeth e o Primeiro Ministro. “Em sentido objetivo, material ou funcional, a administração
A forma ou regime de governo pode ser República ou pública pode ser definida como a atividade concreta e
Monarquia, e o sistema de governo pode ser Parlamentarismo, imediata que o Estado desenvolve, sob regime jurídico de
Presidencialismo, Constitucionalismo ou Absolutismo. Uma direito público, para a consecução dos interesses coletivos.
nação sem Governo é classificado como anárquico. Em sentido subjetivo, formal ou orgânico, pode-se definir
Pode-se dizer que forma de governo é um conceito que se Administração Pública, como sendo o conjunto de órgãos
refere à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da
como se dá a relação entre governantes e governados. função administrativa do Estado”.
Sistema de governo, por outro lado, não se confunde com a
forma de governo, pois este termo diz respeito ao modo como se Em sentido objetivo é a atividade administrativa executada
relacionam os poderes. pelo Estado, por seus órgãos e agente, com base em sua função
administrativa. É a gestão dos interesses públicos, por meio
2.1.  Tipos de governo de prestação de serviços públicos. É a administração da coisa
pública (res publica).
• Anarquismo - ausência ou falta de governo Já no sentido subjetivo é o conjunto de agentes, órgãos e
• Democracia - poder exercido pelo povo. Pode ser dividida entidades designados para executar atividades administrativas.
ainda em democracia representativa onde o povo delega seus Assim, administração pública em sentido material é administrar
poderes por meio de eleições; democracia direta onde o povo os interesses da coletividade e em sentido formal é o conjunto de
exerce diretamente o poder. entidade, órgãos e agentes que executam a função administrativa
• Despotismo - governo de um líder reconhecido pela do Estado.
população como salvador carismático. As atividades estritamente administrativas devem ser
exercidas pelo próprio Estado ou por seus agentes.

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3.2.  Administração Direta e Indireta c. regulamentar, controlar e fiscalizar atividades


econômicas (ANP);
Administração Direta é aquela composta por órgãos ligados d. exercer atividades típicas de estado (ANVS, ANVISA e
diretamente ao poder central, federal, estadual ou municipal. ANS).
São os próprios organismos dirigentes, seus ministérios e
secretarias. Agências executivas

Administração Indireta é aquela composta por entidades São pessoas jurídicas de direito público ou privado, ou até
com personalidade jurídica própria, que foram criadas para mesmo órgãos públicos, integrantes da Administração Pública
realizar atividades de Governo de forma descentralizada. São Direta ou Indireta, que podem celebrar contrato de gestão com
exemplos as Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e objetivo de reduzir custos, otimizar e aperfeiçoar a prestação
Sociedades de Economia Mista. de serviços públicos. Seu objetivo principal é a execução de
atividades administrativas. Nelas há uma autonomia financeira e
Autarquias: serviço autônomo, criado por lei específica, com administrativa ainda maior. São requisitos para transformar uma
personalidade jurídica de direito público, patrimônio e receitas autarquia ou fundação em uma agência executiva:
próprios, que requeiram, para seu melhor funcionamento,
gestão administrativa e financeira descentralizada; a. tenham planos estratégicos de reestruturação e de
desenvolvimento institucional em andamento;
Fundação pública: entidade dotada de personalidade jurídica b. tenham celebrado contrato de gestão com o ministério
de direito público ou privado, sem fins lucrativos, criada em supervisor.
virtude de lei autorizativa e registro em órgão competente,
com autonomia administrativa, patrimônio próprio e José dos Santos Carvalho Filho cita como agências executivas o
funcionamento custeado por recursos da União e de outras INMETRO (uma autarquia) e a ABIN.
fontes;
4. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Empresa pública: entidade dotada de personalidade jurídica (DE ACORDO COM A EMENDA CONSTITUCIONAL N.º 19/98)
de direito privado, com patrimônio próprio e capital exclusivo
da União, se federal, criada para exploração de atividade Primeiramente, cumpre distinguir o que é Administração Pública.
econômica que o Governo seja levado a exercer por força de Assim, MEIRELLES elabora o seu conceito:
contingência ou conveniência administrativa;
“Em sentido formal, a Administração Pública, é o conjunto
Sociedades de economia mista: entidade dotada de de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do
personalidade jurídica de direito privado, instituída mediante Governo; em sentido material, é o conjunto das funções
autorização legislativa e registro em órgão próprio para necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção
exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade operacional, é o desempenho perene e sistemático,
anônima, cujas ações com direito a voto pertençam, em sua legal e técnico, dos serviços do próprio Estado ou por ele
maioria, à União ou a entidade da Administração indireta. assumidos em benefício da coletividade. Numa visão global,
a Administração Pública é, pois, todo o aparelhamento do
3.3.  Agências reguladoras e executivas Estado preordenado à realização de seus serviços, visando
à satisfação das necessidades coletivas “.
As agências executivas e reguladoras fazem parte da
administração pública indireta, são pessoas jurídicas de direito A Constituição Federal, no art. 37, caput, trata dos princípios
público interno e consideradas como autarquias especiais. Sua inerentes à Administração Pública:
principal função é o controle de pessoas privadas incumbidas da
prestação de serviços públicos, sob o regime de concessão ou “Administração Pública direta e indireta de qualquer
permissão. dos Poderes da União dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade,
Agências reguladoras impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência “

Sua função é regular a prestação de serviços públicos e organizar Trata-se, portanto, de princípios incidentes não apenas sobre os
e fiscalizar esses serviços a serem prestados por concessionárias órgãos que integram a estrutura central do Estado, incluindo-se
ou permissionárias, com o objetivo garantir o direito do usuário aqui os pertencentes aos três Poderes (Poder Executivo, Poder
ao serviço público de qualidade. Não há muitas diferenças em Legislativo e Poder Judiciário), nas também de preceitos genéricos
relação à tradicional autarquia, a não ser uma maior autonomia igualmente dirigidos aos entes que em nosso país integram
financeira e administrativa, além de seus diretores serem eleitos a denominada Administração Indireta, ou seja, autarquias,
para mandato por tempo determinado. as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as
Essas entidades têm as seguintes finalidades básicas: fundações governamentais ou estatais.
Destarte, os princípios explicitados no caput do art. 37 são,
a. fiscalizar serviços públicos (ANEEL, ANTT, ANAC, ANTAC); portanto, os da legalidade, da impessoalidade, da moralidade,
b. fomentar e fiscalizar determinadas atividades privadas da publicidade e da eficiência. Todavia, há ainda outros princípios
(ANCINE); que estão no mesmo artigo só que de maneira implícita, como é

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o caso do princípio da supremacia do interesse público sobre o administrativo – a um quadro normativo que embargue
privado, o da finalidade, o da razoabilidade e proporcionalidade. favoritismos, perseguições ou desmandos. Pretende-se
Vejamos, agora, o significado de cada um dos precitados através da norma geral, abstrata e impessoal, a lei, editada
princípios constitucionais da Administração Pública. pelo Poder Legislativo – que é o colégio representativo de
todas as tendências (inclusive minoritárias) do corpo social
5. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS – garantir que a atuação do Executivo nada mais seja senão
a concretização da vontade geral”.
Caput Do Art. 37
De tudo isso podemos extrair uma importante conclusão.
Conforme mencionado anteriormente, os princípios Contrariamente ao que ocorre em outros ordenamentos jurídicos,
constitucionais explícitos são aqueles presentes no art. 37, da inexiste qualquer possibilidade de ser juridicamente aceita,
Constituição Federal, de maneira expressa. Assim, são eles: o entre nós, a edição dos denominados decretos ou regulamentos
princípio da legalidade, o princípio da impessoalidade, o princípio “autônomos ou independentes”. Como se sabe, tais decretos
da moralidade, o princípio da publicidade e o princípio da eficiência. ou regulamentos não passam de atos administrativos gerais e
Passemos, então, a estuda-los uniformemente. normativos baixados pelo chefe do Executivo, com o assumido
objetivo de disciplinar situações anteriormente não reguladas
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE em lei. E, sendo assim, sua prática encontra óbice intransponível
no modus constitucional pelo qual se fez consagrar o princípio da
Referido como um dos sustentáculos da concepção de Estado de legalidade em nossa Lei Maior.
Direito e do próprio regime jurídico-administrativo, o princípio Regulamento, em nosso país, portanto, haverá de ser sempre o
da legalidade vem definido no inciso II do art. 5.º da Constituição regulamento de uma lei, ou de dispositivos legais objetivamente
Federal quando nele se faz declarar que: existentes. Qualquer tentativa em contrário haverá de ser tida
como manifestamente inconstitucional.
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei”. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

Desses dizeres decorre a idéia de que apenas a lei, em regra, pode O princípio ou regra da impessoalidade da Administração Pública
introduzir inovações primárias, criando novos direitos e novos pode ser definido como aquele que determina que os atos
deveres na ordem jurídica como um todo considerada. realizados pela Administração Pública, ou por ela delegados,
No campo da administração Pública, como unanimemente devam ser sempre imputados ao ente ou órgão em nome do qual
reconhecem os constitucionalistas e os administrativistas, se realiza, e ainda destinados genericamente à coletividade,
afirma-se de modo radicalmente diferente a incidência do sem consideração, para fins de privilegiamento ou da imposição
princípio da legalidade. Aqui, na dimensão dada pela própria de situações restritivas, das características pessoais daqueles
indisponibilidade dos interesses públicos, diz-se que o a quem porventura se dirija. Em síntese, os atos e provimentos
administrador, em cumprimento ao princípio da legalidade, administrativos são imputáveis não ao funcionário que os pratica
“só pode atuar nos termos estabelecidos pela lei”. Não pode mas ao órgão ou entidade administrativa em nome do qual age o
este por atos administrativos de qualquer espécie (decreto, funcionário.
portaria, resolução, instrução, circular etc.) proibir ou impor A mera leitura dessa definição bem nos revela que esse
comportamento a terceiro, se ato legislativo não fornecer, em princípio pode ser decomposto em duas perspectivas diferentes:
boa dimensão jurídica, ampara a essa pretensão. A lei é seu único a impessoalidade do administrador quando da prática do ato e
e definitivo parâmetro. a impessoalidade do próprio administrado como destinatário
Temos, pois, que, enquanto no mundo privado se coloca como desse mesmo ato.
apropriada a afirmação de que o que não é proibido é permitido, Com efeito, de um lado, o princípio da impessoalidade busca
no mundo público assume-se como verdadeira a idéia de que assegurar que, diante dos administrados, as realizações
a Administração só pode fazer o que a lei antecipadamente administrativo-governamentais não sejam propriamente do
autoriza. funcionário ou da autoridade, mas exclusivamente da entidade
Deste modo, a afirmação de que a Administração Pública deve pública que a efetiva. Custeada com dinheiro público, a atividade
atender à legalidade em suas atividades implica a noção de que a da Administração Pública jamais poderá ser apropriada, para
atividade administrativa é a desenvolvida em nível imediatamente quaisquer fins, por aquele que, em decorrência do exercício
infralegal, dando cumprimento às disposições da lei. Em outras funcional, se viu na condição de executa-la. É, por excelência,
palavras, a função dos atos da Administração é a realização impessoal, unicamente imputável à estrutura administrativa ou
das disposições legais, não lhe sendo possível, portanto, a governamental incumbida de sua prática, para todos os fins que
inovação do ordenamento jurídico, mas tão-só a concretização de se fizerem de direito.
presságios genéricos e abstratos anteriormente firmados pelo Assim, como exemplos de violação a esse princípio, dentro
exercente da função legislativa. dessa particular acepção examinada, podemos mencionar a
Sobre o tema, vale trazer a ponto a seguinte preleção de MELLO: realização de publicidade ou propaganda pessoa do administrador
com verbas públicas ou ainda, a edição de atos normativos com o
“Para avaliar corretamente o princípio da legalidade e objetivo de conseguir benefícios pessoais.
captar-lhe o sentido profundo cumpre atentar para o fato No âmbito dessa particular dimensão do princípio da
de que ele é a tradução jurídica de um propósito político: impessoalidade, é que está o elemento diferenciador básico entre
o de submeter os exercentes do poder em concreto – esse princípio e o da isonomia. Ao vedar o tratamento desigual

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entre iguais, a regra isonômica não abarca, em seus direitos “nem tudo que é legal é honesto” (nort omne quod licet honestum
termos, a idéia da imputabilidade dos atos da Administração ao est).
ente ou órgão que a realiza, vedando, como decorrência direta de Hoje, por força da expressa inclusão do princípio da moralidade
seus próprios termos, e em toda a sua extensão, a possibilidade no caput do art. 37, a ninguém será dado sustentar, em boa razão,
de apropriação indevida desta por agentes públicos. Nisso, reside sua não incidência vinculante sobre todos os atos da Administração
a diferença jurídica entre ambos. Pública. Ao administrador público brasileiro, por conseguinte, não
Já, por outro ângulo de visão, o princípio da impessoalidade deve bastará cumprir os estritos termos da lei. Tem-se por necessário
ter sua ênfase não mais colocada na pessoa do administrador, que seus tos estejam verdadeiramente adequados à moralidade
mas na própria pessoa do administrado. Passa a afirmar- se como administrativa, ou seja, a padrões éticos de conduta que orientem
uma garantia de que este não pode e não deve ser favorecido ou e balizem sua realização. Se assim não for, inexoravelmente,
prejudicado, no exercício da atividade da Administração Pública, haverão de ser considerados não apenas como imorais, mas
por suas exclusivas condições e características. também como inválidos para todos os fins de direito.
Jamais poderá, por conseguinte, um ato do Poder Público, ao Isto posto, CARDOSO fornece uma definição desse princípio,
menos de modo adequado a esse princípio, vir a beneficiar ou hoje agasalhado na órbita jurídico-constitucional:
a impor sanção a alguém em decorrência de favoritismos ou
de perseguição pessoal. Todo e qualquer administrado deve “Entende-se por princípio da moralidade, a nosso ver,
sempre relacionar-se de forma impessoal com a Administração, aquele que determina que os atos da Administração Pública
ou com quem sem seu nome atue, sem que suas características devam estar inteiramente conformados aos padrões éticos
pessoais, sejam elas quais forem, possam ensejar predileções ou dominantes na sociedade para a gestão dos bens e interesses
discriminações de qualquer natureza. públicos, sob pena de invalidade jurídica”.
Será, portanto, tida como manifestadamente violadora
desse princípio, nessa dimensão, por exemplo, o favorecimento Admite o art. 5.º, LXXIII, da Constituição Federal que qualquer
de parentes e amigos (nepotismo), a tomada de decisões cidadão possa ser considerado parte legítima para a propositura
administrativas voltadas à satisfação da agremiação partidária de ação popular que tenha por objetivo anular atos entendidos
ou facção política a que se liga o administrador (partidarismo), como lesivos, entre outros, à própria moralidade administrativa.
ou ainda de atos restritivos ou sancionatórios que tenham por Por outra via, como forma de também fazer respeitar esse
objetivo a vingança pessoas ou a perseguição política pura e princípio, a nossa Lei Maior trata também da improbidade
simples (desvio de poder). administrativa.
Dessa perspectiva, o princípio da impessoalidade insere-se por A probidade administrativa é uma forma de moralidade
inteiro no âmbito do conteúdo jurídico do princípio da isonomia, administrativa que mereceu consideração especial pela
bem como no do próprio princípio da finalidade. Constituição, que pune o ímprobo com a suspensão de direitos
Perfilhando este entendimento, sustenta MELLO: políticos (art. 37, §4.º).
Deste modo, conceitua CAETANO:
“No princípio da impessoalidade se traduz a idéia de que
a Administração tem que tratar a todos os administrados “A probidade administrativa consiste no dever de o
sem discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem “funcionário servir a Administração com honestidade,
favoritismo nem perseguições são toleráveis. Simpatias procedendo no exercício das suas funções, sem aproveitar
ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não os poderes ou facilidades delas decorrentes em proveito
podem interferir na atuação administrativa e muito menos pessoal ou de outrem a quem queira favorecer”.
interesses sectários, de facções ou grupos de qualquer
espécie. O princípio em causa é senão o próprio princípio da A moralidade administrativa e assim também a probidade são
igualdade ou isonomia”. tuteladas pela ação popular, de modo a elevar a imoralidade a
causa de invalidade do ato administrativo. A improbidade é tratada
PRINCÍPIO DA MORALIDADE ainda com mais rigor, porque entra no ordenamento constitucional
como causa de suspensão dos direitos políticos do ímprobo
Já na Antiguidade se formulava a idéia de que as condições (art. 15, V), conforme estatui o art. 37, § 4.º, in verbis: “Os atos de
morais devem ser tidas como uma exigência impostergável improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
para o exercício das atividades de governo. Segundo informam políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens
os estudiosos, seria de Sólon a afirmação de que um “homem e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei,
desmoralizado não poderá governar”. sem prejuízo de outras sanções cabíveis, podendo vir a configurar
Todavia, foi neste século, pelos escritos de Hauriou, que o a prática de crime de responsabilidade (art. 85, V).
princípio da moralidade, de forma pioneira, se fez formular no Dessa forma, o desrespeito à moralidade, entre nós, não se
campo da ciência jurídica, capaz de fornecer, ao lado da noção de limita apenas a exigir a invalidação – por via administrativa ou
legalidade, o fundamento para a invalidação de seus atos pelo judicial – do ato administrativo violador, mas também a imposição
vício denominado desvio de poder. Essa moralidade jurídica, a seu de outras conseqüências sancionatórias rigorosas ao agente
ver, deveria ser entendida como um conjunto de regras de conduta público responsável por sua prática.
tiradas da disciplina interior da própria Administração, uma vez
que ao agente público caberia também distinguir o honesto do PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
desonesto, a exemplo do que faz entre o legal e o ilegal, o justo
e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o A publicidade sempre foi tida como um princípio administrativo,
inoportuno. Afinal, pondera, como já proclamavam os romanos porque se entende que o Poder Público, por seu público, deve

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agir com a maior transparência possível, a fim de que os ciência. Não importa. Ter-se-á cumprido o que de direito se
administrados tenham, a toda hora, conhecimento do que os exigia para a publicidade, ou seja, para a revelação do ato”.
administradores estão fazendo.
Além do mais, seria absurdo que um Estado como o brasileiro, Caberá à lei indicar, pois, em cada caso, a forma adequada
que, por disposição expressa de sua Constituição, afirma que de se dar a publicidade aos atos da Administração Pública.
todo poder nele constituído “emana do povo” (art. 1.º, parágrafo Normalmente, esse dever é satisfeito por meio da publicação
único, da CF), viesse a ocultar daqueles em nome do qual em órgão de imprensa oficial da Administração, entendendo-
esse mesmo poder é exercido informações e atos relativos à se com isso não apenas os Diários ou Boletins Oficiais das
gestão da res publicae as próprias linhas de direcionamento entidades públicas, mas também – para aquelas unidades
governamental. É por isso que se estabelece, como imposição da Federação que não possuírem tais periódicos – os jornais
jurídica para os agentes administrativos em geral, o dever de particulares especificamente contratados para o desempenho
publicidade para todos os seus atos. dessa função, ou outras excepcionais formas substitutivas, nos
Perfilhando esse entendimento, CARDOZO define este termos das normas legais e administrativas locais.
princípio: Observe-se, porém, ser descabido, para fins do atendimento
de tal dever jurídico, como bem registrou Hely Lopes Meirelles,
“Entende-se princípio da publicidade, assim, aquele que sua divulgação por meio de outros órgãos de imprensa não
exige, nas formas admitidas em Direito, e dentro dos escritos, como a televisão e o rádio, ainda que em horário oficial,
limites constitucionalmente estabelecidos, a obrigatória em decorrência da própria falta de segurança jurídica que tal
divulgação dos atos da Administração Pública, com o forma de divulgação propiciaria, seja em relação à existência,
objetivo de permitir seu conhecimento e controle pelos seja em relação ao próprio conteúdo de tais atos.
órgãos estatais competentes e por toda a sociedade”. Observe-se ainda que, inexistindo disposição normativa em
sentido oposto, tem-se entendido que os atos administrativos
A publicidade, contudo, não é um requisito de forma do ato de efeitos internos à Administração não necessitam ser
administrativo, “não é elemento formativo do ato; é requisito de publicados para que tenham por atendido seu dever de
eficácia e moralidade. Por isso mesmo os atos irregulares não publicidade. Nesses casos, seria admissível, em regra, a
se convalidam com a publicação, nem os regulares a dispensam comunicação aos destinatários. O dever de publicação recairia,
para sua exeqüibilidade, quando a lei ou o regulamento a exige”. assim, exclusivamente sobre os atos administrativos que
No que tange à forma de se dar publicidade aos atos da atingem a terceiros, ou seja, aos atos externos.
Administração, tem-se afirmado que ela poderá dar-se tanto por Temos, pois, que as formas pelas quais se pode dar
meio da publicação do ato, como por sua simples comunicação a publicidade aos atos administrativos, nos termos do princípio
seus destinatários. constitucional em exame, serão diferenciadas de acordo com o
É relevante observar, todavia, que também a publicação que reste expressamente estabelecido no Direito Positivo, e em
como a comunicação não implicam que o dever de publicidade sendo omisso este, conforme os parâmetros estabelecidos na
apenas possa vir a ser satisfeito pelo comprovado e efetivo teoria geral dos atos administrativos.
conhecimento de fato do ato administrativo por seus respectivos No que tange ao direito à publicidade dos atos administrativos,
destinatários. Deveras, basta que os requisitos exigidos ou mais especificamente, quanto ao direito de ter-se ciência da
para a publicidade se tenham dado, nos termos previstos na existência e do conteúdo desses atos, é de todo importante
ordem jurídica; e para o mundo do Direito não interessará observar-se que ele não se limita aos atos já publicados,
se na realidade fática o conhecimento da existência do ato e ou que estejam em fase de imediato aperfeiçoamento pela
de seu conteúdo tenha ou não chegado à pessoa atingida por sua publicação. Ele se estende, indistintamente, a todo o
seus efeitos. Feita a publicação ou a comunicação dentro das processo de formação do ato administrativo, inclusive quando
formalidades devidas, haverá sempre uma presunção absoluta a atos preparatórios de efeitos internos, como despachos
da ciência do destinatário, dando-se por satisfeita a exigência administrativos intermediários, manifestações e pareceres.
de publicidade. Salvo, naturalmente, se as normas vigentes É, assim que se costuma dizer que constituem desdobramentos
assim não determinarem. do princípio da publicidade o direito de receber dos órgãos
Assim, se a publicação feita no Diário Oficial foi lida ou não, se públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse
a comunicação protocolada na repartição competente chegou coletivo ou geral (art. 5.º, XXXIII, da CF) (29), o direito à obtenção
ou não às mãos de quem de direito, se o telegrama regularmente de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos
recebido na residência do destinatário chegou faticamente e esclarecimento de situações de interesse pessoal (art. 5.º,
a suas mãos ou se eventualmente foi extraviado por algum XXXIV, da CF), e, naturalmente, o direito de acesso dos usuários
familiar, isto pouco ou nada importa se as formalidades legais a registros administrativos e atos de governo (art. 37, § 3.º,
exigidas foram inteiramente cumpridas no caso. II) (30). Evidentemente, uma vez violados esses direitos pelo
Nesse sentido, afirma MELLO: Poder Público, poderão os prejudicados, desde que atendidos
os pressupostos constitucionais e legais exigidos para cada
“O conhecimento do ato é um plus em relação à publicidade, caso, valerem-se do habeas data (art. 5.º, LXXII, da CF) (31), do
sendo juridicamente desnecessário para que este se repute mandado de segurança (art. 5.º, LXX, da CF), ou mesmo das vias
como existente (...). Quando prevista a publicação do ato ordinárias.
(em Diário Oficial), na porta das repartições (por afixação É de ponderar, contudo, que os pareceres só se tornam
no local de costume), pode ocorrer que o destinatário não o públicos após sua aprovação final pela autoridade competente;
leia, não o veja ou, por qualquer razão, dele não tome efetiva enquanto em poder do parecerista ainda é uma simples opinião
que pode não se tornar definitiva. As certidões, contudo, não são

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elementos da publicidade administrativa, porque se destinam a implica medir os custos que a satisfação das necessidades
interesse particular do requerente; por isso a Constituição só públicas importam em relação ao grau de utilidade alcançado.
reco0nhece esse direito quando são requeridas para defesa de Assim, o princípio da eficiência, orienta a atividade administrativa
direitos e esclarecimentos de situações de interesse pessoal no sentido de conseguir os melhores resultados com os meios
(art. 5.º, XXXIV, b). escassos de que se dispõe e a menor custo. Rege-se, pois, pela
É forçoso reconhecer, todavia, a existência de limites regra de consecução do maior benefício com o menor custo
constitucionais ao princípio da publicidade. De acordo com nossa possível.
Lei Maior, ele jamais poderá vir a ser compreendido de modo a que Discorrendo sobre o tema, sumaria MEIRELLES:
propicie a violação da intimidade, da vida privada, da honra e da
imagem das pessoas (art. 5.º, X, c/c. art. 37, § 3.º, II (32), da CF), “Dever de eficiência é o que se impõe a todo agente público
do sigilo da fonte quando necessário ao exercício profissional (art. de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e
5.º, XIV, da CF), ou com violação de sigilo tido como imprescindível rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função
à segurança da sociedade e do Estado (art. 5.º, XXXIII, c/c. art. 37, administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada
§ 3.º, II, da CF). apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o
Para finalizar, faz-se de extrema importância, perceber-se serviço público e satisfatório atendimento das necessidades
que o problema da publicidade dos atos administrativos, nos da comunidade e de seus membros”.
termos do caput do art. 37 da Constituição da República, em nada
se confunde com o problema da divulgação ou propaganda dos De início, parece de todo natural reconhecer que a idéia de
atos e atividades do Poder Público pelos meios de comunicação eficiência jamais poderá ser atendida, na busca do bem comum
de massa, também chamadas – em má técnica– de “publicidade” imposto por nossa Lei Maior, se o poder Público não vier, em
pelo § 1.º desse mesmo artigo. Uma coisa é a publicidade jurídica padrões de razoabilidade, a aproveitar da melhor forma possível
necessária para o aperfeiçoamento dos atos, a se dar nos termos todos os recursos humanos, materiais, técnicose financeiros
definidos anteriormente. Outra bem diferente é a “publicidade” existentes e colocados a seu alcance, no exercício regular de suas
como propaganda dos atos de gestão administrativa e competências.
governamental. A primeira, como visto, é um dever constitucional Neste sentido, observa CARDOZO:
sem o qual, em regra, os atos não serão dotados de existência
jurídica. A segunda é mera faculdade da Administração Pública, a “Ser eficiente, portanto, exige primeiro da Administração
ser exercida apenas nos casos previstos na Constituição e dentro Pública o aproveitamento máximo de tudo aquilo que a
das expressas limitações constitucionais existentes. coletividade possui, em todos os níveis, ao longo da realização
Assim, afirma o § 1.º do art. 37: de suas atividades. Significa racionalidade e aproveitamento
máximo das potencialidades existentes. Mas não só. Em seu
“a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e sentido jurídico, a expressão, que consideramos correta,
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, também deve abarcar a idéia de eficácia da prestação, ou
informativo ou de orientação social, dela não podendo de resultados da atividade realizada. Uma atuação estatal
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem só será juridicamente eficiente quando seu resultado
promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos” quantitativo e qualitativo for satisfatório, levando-se em
conta o universo possível de atendimento das necessidades
Com isso, pretende esse dispositivo restringir de maneira clara existentes e os meios disponíveis”.
a ação da Administração Pública, direta e indireta, quanto à
divulgação de seus atos de gestão pelos meios de comunicação Tem-se, pois, que a idéia de eficiência administrativa não deve
de massa. Inexistindo, na propaganda governamental, o caráter ser apenas limitada ao razoável aproveitamento dos meios e
estritamente educativo, informativo ou de orientação social, ou recursos colocados à disposição dos agentes públicos. Deve
vindo dela constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem ser construída também pela adequação lógica desses meios
promoção de agentes públicos, sua veiculação se dará em razoavelmente utilizados aos resultados efetivamente obtidos, e
manifesta ruptura com a ordem jurídica vigente, dando ensejo à pela relação apropriada desses resultados com as necessidades
responsabilização daqueles que a propiciaram. públicas existentes.
Estará, portanto, uma Administração buscando agir de
PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA modo eficiente sempre que, exercendo as funções que lhe são
próprias, vier a aproveitar da forma mais adequada o que se
O princípio da eficiência, outrora implícito em nosso sistema encontra disponível (ação instrumental eficiente), visando chegar
constitucional, tornou-se expresso no caput do art. 37, em virtude ao melhor resultado possível em relação aos fins que almeja
de alteração introduzida pela Emenda Constitucional n. 19. alcançar (resultado final eficiente).
É evidente que um sistema balizado pelos princípios da Desse teor, o escólio de CARDOZO:
moralidade de um lado, e da finalidade, de outro, não poderia
admitir a ineficiência administrativa. Bem por isso, a Emenda n. “Desse modo, pode-se definir esse princípio como sendo
19, no ponto, não trouxe alterações no regime constitucional da aquele que determina aos órgãos e pessoas da Administração
Administração Pública, mas, como dito, só explicitou um comando Direta e Indireta que, na busca das finalidades estabelecidas
até então implícito. pela ordem jurídica, tenham uma ação instrumental
Eficiência não é um conceito jurídico, mas econômico. Não adequada, constituída pelo aproveitamento maximizado
qualifica normas, qualifica atividades. Numa idéia muito geral, e racional dos recursos humanos, materiais, técnicos e
eficiência significa fazer acontecer com racionalidade, o que financeiros disponíveis, de modo que possa alcançar o

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melhor resultado quantitativo e qualitativo possível, em face cingir-se não apenas à finalidade própria de todas as leis,
das necessidades públicas existentes”. que é o interesse público, mas também à finalidade específica
obrigada na lei a que esteja dando execução”.
Seguindo essa linha de orientação, temos que, como desdobramento
do princípio em estudo, a Constituição procurou igualmente Enfim, o princípio da finalidade é aquele que imprime à autoridade
reforçar o sentido valorativo do princípio da economicidade, que, administrativa o dever de praticar o ato administrativo com vistas
incorporado literalmente pelo art. 70 (38), caput, da Carta Federal, à realização da finalidade perseguida pela lei.
nada mais traduz do que o dever de eficiência do administrado na Evidentemente, nessa medida, que a prática de um ato
gestão do dinheiro público. administrativo in concreto com finalidade desviada do interesse
público, ou fora da finalidade específica da categoria tipológica a
6. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS IMPLÍCITOS que pertence, implica vício ensejador de sua nulidade. A esse vício,
como se sabe, denomina a doutrina: desvio de poder, ou desvio de
Além dos quatro citados princípios explicitamente abrigados pelo finalidade.
texto constitucional, existem outros implicitamente agregados ao Concluindo, essas considerações querem apenas mostrar que
regramento constitucional da Administração Pública. Vejamos. o princípio da finalidade não foi desconsiderado pelo legislador
constituinte, que o teve como manifestação do princípio da
PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO legalidade, sem que mereça censura por isso.
SOBRE O PRIVADO E PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE
A Administração Pública na prática de seus atos deve sempre
respeitar a lei e zelar para que o interesse público seja alcançado. Na medida em que o administrador público deva estrita obediência
Natural, assim, que sempre que constate que um ato administrativo à lei (princípio da legalidade) e tem como dever absoluto a busca da
foi expedido em desconformidade com a lei, ou que se encontra em satisfação dos interesses públicos (princípio da finalidade), há que
rota de colisão com os interesses públicos, tenham os agentes se pressupor que a prática de atos administrativos discricionários
públicos a prerrogativa administrativa de revê- los, como uma se processe dentro de padrões estritos de razoabilidade, ou seja,
natural decorrência do próprio princípio da legalidade. com base em parâmetros objetivamente racionais de atuação e
Desta maneira, discorre ARAUJO: sensatez.
Deveras, ao regular o agir da Administração Pública, não se pode
“O princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, supor que o desejo do legislador seria o de alcançar a satisfação do
coloca os interesses da Administração Pública em sobreposição interesse público pela imposição de condutas bizarras, descabidas,
aos interesses particulares que com os dela venham despropositadas ou incongruentes dentro dos padrões dominantes
eventualmente colidir. Com fundamento nesse princípio é que na sociedade e no momento histórico em que a atividade normativa
estabelece, por exemplo, a autotutela administrativa, vale se consuma. Ao revés, é de se supor que a lei tenha a coerência e
dizer, o poder da administração de anular os atos praticados a racionalidade de condutas como instrumentos próprios para a
em desrespeito à lei, bem como a prerrogativa administrativa obtenção de seus objetivos maiores.
de revogação de atos administrativos com base em juízo Dessa noção indiscutível, extrai-se o princípio da razoabilidade:
discricionário de conveniência e oportunidade”. Em boa definição, é o princípio que determina à Administração
Pública, no exercício de faculdades, o dever de atuar em plena
A respeito, deve ser lembrada a Súmula 473 do Supremo Tribunal conformidade com critérios racionais, sensatos e coerentes,
Federal, quando afirma que: fundamentados nas concepções sociais dominantes
Perfilhando este entendimento, sustenta MELLO:
“a administração pode anular os seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se “Enuncia-se com este princípio que a administração, ao
originam direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniência e atuar no exercício de discrição, terá de obedecer a critérios
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, aceitáveis do ponto de vista racional, em sintonia com o senso
em todos os casos, a apreciação judicial”. normal de pessoas equilibradas e respeitosas das finalidades
que presidam a outorga da competência exercida”.
PRINCÍPIO DA FINALIDADE
A nosso ver, dentro do campo desse princípio, deve ser colocada,
Foi visto no exame do princípio da legalidade que a Administração de que diante do exercício das atividades estatais, o “cidadão
Pública só pode agir de acordo e em consonância com aquilo tem o direito à menor desvantagem possível”. Com efeito,
que, expressa ou tacitamente, se encontra estabelecido em lei. havendo a possibilidade de ação discricionária entre diferentes
Inegável, portanto, que sempre tenha dever decorrente e implícito alternativas administrativas, a opção por aquela que venha a
dessa realidade jurídica o cumprimento das finalidades legalmente trazer conseqüências mais onerosas aos administrados é algo
estabelecidas para sua conduta. inteiramente irrazoável e descabido.
Disto deduz-se o denominado princípio da finalidade. Como bem Como desdobramento dessa idéia, afirma-se também o princípio
observa MELLO: da proporcionalidade, por alguns autores denominado princípio da
vedação de excessos. Assim, pondera MELLO:
“Esse princípio impõe que o administrador, ao manejar as
competências postas a seu encargo, atue com rigorosa “Trata-se da idéia de que as conseqüências administrativas só
obediência à finalidade de cada qual. Isto é, cumpre-lhe podem ser validamente exercidas na extensão e intensidades

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proporcionais ao que realmente seja demandado para ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
cumprimento da finalidade de interesse público a que estão ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
atreladas”.
• HIERARQUIA: Relação de coordenação e subordinação entre os
Em outras palavras: os meios utilizados ao longo do exercício da órgãos e entre os agentes.
atividade administrativa devem ser logicamente adequados aos
fins que se pretendem alcançar, com base em padrões aceitos pela • CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO: O serviço público não
sociedade e no que determina o caso concreto. pode ser interrompido. As necessidades da coletividade não
Segundo STUMM, esse princípio reclama a cerificação dos podem deixar de ser atendidas. Em conseqüência desse princípio
seguintes pressupostos: ocorrem a proibição de greve nos serviços públicos (atualmente
c. Conformidade ou adequação dos meios, ou seja, o ato já abrandada, de acordo com o artigo 37 VII da Constituição) e
administrativo deve ser adequado aos fins que pretende a impossibilidade, para o contratado, de invocar plenamente
realizar; a exceptio non adimpleti contractus contra a Administração
d. Necessidade, vale dizer, possuindo o agente público mais de pública.
um meio para atingir a mesma finalidade, deve optar pelo A exceptio non adimpleti contractus é a “exceção ao contrato
menos gravoso à esfera individual; não cumprido”, se refere à permissão dada a uma das partes em
e. Proporcionalidade estrita entre o resultado obtido e a carga um contrato privado para deixar de cumprir com seus deveres
empregada para a consecução desse resultado. assumidos, em função de a outra parte não ter honrado com a sua
contrapartida. Isso quer dizer que, ao contrário do que ocorre em
Por conseguinte, o administrador público não pode utilizar um contrato privado, nos contratos administrativos, ainda que
instrumentos que fiquem aquém ou se coloquem além do que seja a administração pública deixe de honrar com suas obrigações,
estritamente necessário para o fiel cumprimento da lei. não realizando os pagamentos devidos, o contratado não
Assim sendo, sempre que um agente público assumir conduta pode interromper imediatamente a prestação dos serviços. A
desproporcional ao que lhe é devido para o exercício regular de lei 8.666/93 estabelece que o contratado poderá suspender a
sua competência, tendo em vista as finalidades legais que tem por execução dos serviços após 90 dias de atraso de pagamento.
incumbência cumprir, poderá provocar situação ilícita passível de
originar futura responsabilidade administrativa, civil e, sendo o • MOTIVAÇÃO: Exige que a Administração Pública indique os
caso, até criminal (55). fundamentos de fato e de direito de suas decisões quando:
neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; imponham
• INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO: Sendo interesse ou agravem deveres, encargos ou sanções; decidam processos
qualificado como próprio da coletividade, não se encontra à administrativos de concurso ou seleção pública; dispensem ou
livre disposição de quem quer que seja, por ser inapropriável. declarem a inexigibilidade de procedimento licitatório; decidam
Os órgãos e agentes públicos não têm disponibilidade sobre os recursos administrativos; etc. A doutrina defende que todos os
interesses públicos confiados à sua guarda e realização. atos devem ser motivados, podendo haver, excepcionalmente,
ato que, por sua própria característica, dispense a necessidade
• PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE: Presume-se que todos os atos de motivação.
realizados pela Administração sejam verdadeiros e praticados
de forma legal. Essa presunção é relativa, presunção juris • INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JUDICIAL: Não se pode
tantum, vez que admitem prova em contrário. impedir o acesso de ninguém ao Poder Judiciário, logo, pode
haver o controle judicial sobre a Administração, vigorando
• ESPECIALIDADE: Quando a Administração pratica a aqui o sistema de jurisdição una. Em outros países existe o
descentralização, especializando a prestação de serviços sistema dual, onde atos privados são analisados pelo Poder
através da criação de autarquias. Maria Sylvia Zanella Di Pietro Judiciário e atos da Administração são analisados pela própria
defende que esse princípio se refere à descentralização para Administração, não cabendo verificação pelo Judiciário, fazendo
qualquer tipo de entidade da adm. indireta, de preferência coisa julgada, Contencioso Administrativo.
autarquia.
• ISONOMIA: Veda o tratamento desigual entre pessoas que
• TUTELA: Ou Controle, da administração direta sobre as estejam na mesma situação. “Tratar os iguais igualmente e os
entidades da administração indireta, a fim de garantir a desiguais desigualmente”.
observância de suas finalidades institucionais.
• AUTO-EXECUTORIEDADE: Possibilidade que tem a
• AUTOTUTELA: Controle da administração pública sobre seus Administração de, com os próprios meios, pôr em execução as
próprios atos, podendo anular os atos ilegais e revogar os suas decisões, sem precisar recorrer previamente ao Poder
atos que entender inconvenientes, independentemente do Judiciário, realizando diretamente uma execução forçada, após
Poder Judiciário. É a aplicação concreta da Súmula 473, do STF, decisão executória, usando, se necessário, de força pública
consoante verbis: para obrigar o administrado. Por exemplo, quando apreende
mercadorias, interdita estabelecimento... Nem todos os atos são
Súmula 473, do STF: autoexecutórios, pois é necessário que as medidas utilizadas
A Administração pode anular seus próprios atos, quando estejam expressamente autorizadas em lei.
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se
originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência

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7. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA “São todas as pessoas físicas incumbidas definitivamente ou


transitoriamente, do exercício de alguma função estatal”. (Hely)
7.1.  CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO:
8.1.  Características
Segundo Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo é o “conjunto
harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes • Profissionalidade. (profissão, categoria)
e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e • Definitividade (permanência no desempenho da função)
imediatamente os fins desejados pelo Estado”. • Hierarquia Administrativa
Maria Sylvia Zanella Di Pietro define o Direito Administrativo
como “ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, 9. CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES PÚBLICAS
agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a
Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que Cargo público é o lugar dentro da organização funcional da
exerce e os bens de que se utiliza para a consecução de seus fins, Administração Direta e de suas autarquias e fundações públicas
de natureza pública”. que, ocupado por servidor público, tem funções específicas e
O Direito Administrativo, em última análise, trata da organização remuneração fixada em lei ou diploma a ela equivalente.
da Administração Pública e da relação desta com os administrados.
Emprego público é a relação funcional dos trabalhadores
7.2.  Fontes de sociedades de economia mista, empresas públicas e suas
subsidiárias, regida pela CLT.
Diz-se fonte à origem, lugar de onde provém algo. No caso, de onde
emanam as regras do Direito Administrativo. Função é a atribuição ou conjunto de atribuições que a Administração
Quatro são as principais fontes: confere a cada categoria profissional ou comete a determinados
I. lei; servidores para a execução de serviços eventuais.
II. jurisprudência;
III. doutrina; 9.1.  Função – Modalidades:
IV. costumes.
a. Contratados por tempo determinado (art. 37, IX, CRFB/88)
Como fonte primária, principal, tem-se a lei, em seu sentido b. Funções de Confiança (art. 37, V, CRFB/88)
genérico (“latu sensu”), que inclui, além da Constituição Federal, as
leis ordinárias, complementares, delegadas, medidas provisórias, 9.2.  CLASSIFICAÇÃO DOS CARGOS
atos normativos com força de lei, e alguns decretos-lei ainda
vigentes no país etc. Em geral, é ela abstrata e impessoal. • Cargos Vitalícios (art. 95, I, CRFB/88)
Mais adiante, veremos o princípio da legalidade, de suma • Cargos Efetivos
importância no Direito Administrativo, quando ficará bem claro por • Cargos em Comissão (art. 37, V, CRFB/88)
que a lei é sua fonte primordial.
As outras três fontes são ditas secundárias. 10. NORMAS CONSTITUCIONAIS
Chama-se jurisprudência o conjunto de decisões do Poder
Judiciário na mesma linha, julgamentos no mesmo sentido. Então, 10.1.  Acessibilidade
pode-se tomar como parâmetro para decisões futuras, ainda que,
em geral, essas decisões não obriguem a Administração quando Brasileiros: preencham os requisitos
não é parte na ação. Diz-se em geral, pois, na CF/88, há previsão
de vinculação do Judiciário e do Executivo à decisão definitiva de Estrangeiros: na forma da lei.
mérito em Ação Declaratória de Constitucionalidade (art. 102, §2º).
A doutrina é a teoria desenvolvida pelos estudiosos do Direito, 10.2.  Condições para Ingresso: (art. 37, l, II a IV)
materializada em livros, artigos, pareceres, congressos etc. Assim,
como a jurisprudência, a doutrina também é fonte secundária e CRFB/1988:
influencia no surgimento de novas leis e na solução de dúvidas Art. 37 (...)
no cotidiano administrativo, além de complementar a legislação I. os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
existente, que muitas vezes é falha e de difícil interpretação. brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em
Por fim, os costumes, que hoje em dia têm pouca utilidade prática, lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
em face do citado princípio da legalidade, que exige obediência dos II. a investidura em cargo ou emprego público depende de
administradores aos comando legais. No entanto, em algumas aprovação prévia em concurso público de provas ou de
situações concretas, os costumes da repartição podem influir de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade
alguma forma nas ações estatais, inclusive ajudando a produção do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas
de novas normas. Diz-se costume à reiteração uniforme de as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de
determinado comportamento, que é visto como exigência legal. livre nomeação e exoneração;
III. o prazo de validade do concurso público será de ATÉ DOIS
8. AGENTES PÚBLICOS ANOS, prorrogável uma vez, por igual período;
IV. durante o prazo improrrogável previsto no edital de
“É toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas convocação, aquele aprovado em concurso público de
jurídicas da Administração indireta”. (Di Pietro) provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade

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sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, 12. INVESTIDURA


na carreira;
Investidura nada mais é do que alguém que, a partir de determinado
Funções de Confiança: exercidas exclusivamente por servidores momento e de acordo com determinadas condições, se torne um
efetivos. (art. 37, V, CRFB/1988) Agente Público. Ela pode ser:

Cargos em Comissão: serão preenchidos por servidores de carreira 1.  Investidura Política -> genericamente os agentes políticos são
nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei. investidos pelo caminho da eleição, com exceção é claro, dos
Juízes, dos Promotores e dos Conselheiros dos Tribunais de
10.3.  Direitos (art 37, VI e VII): Contas.

Livre Associação Sindical: norma auto-aplicável. A eleição pode ser direta (sufrágio universal) e indireta (colégio
eleitoral). A partir da Constituição de 88 não mais existe a eleição
• Direito de Greve: necessita de lei específica (?). indireta. De acordo com o texto Constitucional, somente algumas
• 42, §5º e 142, §3º, IV: Militares: Não! pessoas é que podem disputar eleição mas não há necessidade
de nível de escolaridade, basta que o indivíduo seja alfabetizado e
Provimento é o ato de preenchimento do cargo. esteja em pleno gozo dos seus direitos políticos (art. 14 da CF).
Esta investidura política pode proporcionar a oportunidade
11. OBSERVÂNCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS destes agentes serem selecionados para algumas atividades
de confiança. Por exemplo, o Presidente da República escolhe
• Observância obrigatória! um elenco de pessoas auxiliares de sua confiança tais como os
• Código mínimo de direitos e obrigações. Ministros e Secretários de Estado, os Ministros dos Tribunais
Superiores, o Procurador Geral da República e o Governador do DF).
11.1.  QUADRO, CLASSE, CARREIRA , LOTAÇÃO Esses agentes estão subordinados à legislação específica quanto
ao comportamento, podendo perder a investidura, ou seja, podendo
Quadro – É o conjunto de carreiras, cargos isolados e funções ser cassados pelos seus pares na falta de decoro parlamentar;
gratificadas de um mesmo órgão ou Poder. (P.Ex.: Policiais Civis)
2.  Investidura Administrativa -> é aquela que pode ocorrer por
Carreira – É o agrupamento de classes da mesma profissão ou admissão, designação, contratação, eleição administrativa e
atividade, escalonados segundo a hierarquia do serviço, para nomeação, sendo esta última a principal forma de investidura
acesso privativo dos titulares dos cargos que a integram. (P.Ex.: administrativa. A nomeação vincula o agente a cargo, função ou
Delegado de Polícia Civil do Estado do RJ) mandato administrativo.

Classe – É o agrupamento de cargos da mesma profissão, e com Essa investidura administrativa é amplamente utilizada nos Três
idênticas atribuição, responsabilidades e vencimentos. (P.Ex.: Poderes e nos serviços autárquicos e fundacionais.
Delegado de 1ª, de 2ª e de 3ª)
3.  Investidura Originária -> é a primeira vinculação de uma pessoa
Lotação - É o número de servidores que devem ter exercício em à cargo público. Este tipo de designação independe de qualquer
cada repartição ou serviço. vinculação anterior do provido com a Administração Pública.

11.2.  ACUMULAÇÃO DE CARGOS Vai depender da aprovação em concurso público de provas ou


de provas e títulos (art. 37, inc. II da CF). O concurso público foi
CRFB/1988: introduzido como um sinal de democratização dos serviços
XVI. é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, públicos.
exceto quando houver compatibilidade de horários, Exemplo: estamos diante de um caso de investidura originária
observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: quando determinada pessoa que nunca esteve ligada à
a. a de dois cargos de professor; Administração Pública, é designada para o cargo efetivo de médico
b. a de um cargo de professor com outro, técnico ou científico; ou para o cargo efetivo de procurador jurídico (Diógenes Gasparini,
c. a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de Direito Administrativo, pág. 135);
saúde, com profissões regulamentadas;
{Alínea “c” com redação dada pela Emenda Constitucional n° 34, 4.  Investidura Derivada -> pressupõe a investidura originária,
de 13 de dezembro de 2001.} isto é, vai depender obrigatoriamente de vinculação anterior
do provido com a Administração Pública. Vai representar uma
XVII. a proibição de acumular estende-se a empregos e movimentação do servidor dentro da Administração Pública. Ela
funções e abrange autarquias, fundações, empresas pode ser:
públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, a. por promoção -> significa mudar alguém de cargo com
e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo elevação de função e de vencimento. Suas atividades
poder público; passam a ser de maior responsabilidade e complexidade.
A promoção é uma espécie de investidura derivada que se faz
por antigüidade e por merecimento;

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b. por remoção ou transferência -> para muitos, remoção é Trata-se do cargo ocupado por alguém sem transitoriedade ou
sinônimo de transferência. Porém a primeira se dá quando adequado a uma ocupação permanente. Esta ocupação permanente
há interesse por parte do servidor e a segunda quando o não é absoluta nem adquirida de imediato. O titular de cargo efetivo
interesse é da Administração Pública. só alcança essa garantia de permanência após o decurso do prazo
Na transferência ocorre a mudança do funcionário de um cargo de 02 anos, chamado de estágio probatório, no qual se apurou sua
para outro sem elevação funcional. Por exemplo, os professores capacidade para a permanência.
podem se utilizar da remoção para sua movimentação, o Transpondo o estágio probatório, o titular de cargo de provimento
que vai levar em conta, como na promoção, a antigüidade e o efetivo adquire estabilidade (art. 41 da CF). Como no caso da
merecimento; vitaliciedade, a investidura efetiva pode ser quebrada por sentença
judicial ou por aposentadoria compulsória (após 70 anos) e também
c. por reintegração -> é a recondução do funcionário público por processo administrativo;
demitido injustamente por via administrativa ou judicial. A
demissão injusta pode ocorrer por cerceamento de função, 7.  Investidura em Comissão -> apresenta menor segurança de
por falha processual ou por determinação de autoridade permanência no cargo que a investidura vitalícia.
competente.
Na prática, uma ação ordinária com amplo espectro probatório Corresponde aos cargos em comissão reservados para os que
para se discutir este tipo de demissão injusta dura, em média, vão acessorar os agentes políticos ou os que já trabalham na
cerca de 08 a 10 anos, tendo o Governo que pagar, no final do Administração e que são deslocados para outros cargos.
processo, uma quantia muito alta de indenização ao funcionário São em comissão porque a característica desta investidura é
demitido. Daí a reintegração judicial ter sido muito utilizada a total insegurança. A pessoa está no cargo enquanto convier ao
antigamente; agente público.
Como ela é de natureza transitória para cargos ou funções de
d. por reversão -> é a recondução do funcionário público confiança, o agente poderá ser exonerável ad nutum, a qualquer
aposentado quando insubsistentes os motivos da sua tempo e independentemente de justificativa.
aposentadoria. A aposentadoria pode ser por tempo de Nesta modalidade de investidura o agente não adquire
serviço (após 30 anos para a mulher e após 35 anos para estabilidade no serviço público, nem as vantagens da função
o homem, com proventos integrais; após 25 anos para integram seu patrimônio, dada a precariedade de seu exercício. É
a mulher e após 30 anos para o homem, com proventos adequada para os agentes públicos de alta categoria, chamados a
proporcionais), por doença (invalidez) ou compulsória (após prestar serviços ao Estado, sem caráter profissional, e até mesmo
70 anos). de natureza honorífica e transitória.
Em todas estas hipóteses, se há um erro no processo de
aposentadoria, tem que haver reversão do mesmo e o funcionário 13. PODERES ADMINISTRATIVOS
tem que completar o tempo que falta. No caso de aposentadoria
por doença, se ficar comprovado que por qualquer motivo O Executivo é quem preferencialmente atua na área administrativa.
o funcionário ficou curado, ele deverá também retornar ao A Administração Pública é dotada de determinados poderes
trabalho para completar esse tempo que falta. para que alguém possa fazer o que nos não podemos, ou seja, são
No caso de aposentadoria fraudulenta, haverá anulação e instrumentos colocados à disposição da Administração para que ela
reversão do processo, inclusive com demissão do funcionário desenvolva atividades objetivando os interesses estatais previstos
público. na CF, cuja finalidade é o bem comum. O Executivo é essencialmente
a Administração Pública, embora o Judiciário e o Legislativo existam
5.  Investidura Vitalícia -> apresenta maior segurança de relativamente ao seu apoio de trabalho. A Administração Pública,
permanência no cargo que a investidura por comissão. dotada de supremacia sobre os particulares, é dotada também dos
seguintes poderes administrativos:
O termo vitalícia significava que era “para toda vida”. Historicamente
correspondia à situação dos catedráticos das escolas que 1.  Poder Vinculado (ou regrado) -> embora previsto na lei a ponto
detinham uma maior liberdade de pensamento. Posteriormente do administrador público ser uma espécie de robô para produção
esta vitaliciedade foi entregue aos magistrados, que além dela, deste poder, é só a Administração Pública que o detém. Se o
adquiriram também a inamovibilidade e a irredutibilidade de administrador público fugir à disciplina da lei, o ato será inválido.
vencimentos (tríplice garantia). Esse tipo de poder tem que ser exercido no estrito cumprimento
A partir da Constituição de 88 a vitaliciedade foi atribuída ao da lei. Exs.: o Poder Público pode desapropriar um bem particular
Ministério Público, que também é detentor da tríplice garantia. (isto está previsto na CF). No entanto, ele precisa enquadrar esta
A vitaliciedade pode ser adquirida por concurso público e pode ser desapropriação na lei. No DL 3365/41 está escrito que o Poder
quebrada através de sentença judicial, por ato grave do magistrado. Público pode desapropriar para corrigir as vias de circulação
E após os 70 anos de idade, pela aposentadoria compulsória; da cidade para revender aos particulares. Essa desapropriação
pode ser tanto por interesse social como nas hipótese da lei.
6.  Investidura Efetiva -> é aquela que confere segurança ao seu Quando o Poder Público aposenta um servidor, esse ato de
titular, em termos de permanência. É própria dos cargos do aposentar é feito através de um poder vinculado, poder este
quadro permanente da Administração, ocupados pela grande inteiramente previsto na lei. O particular que pretende edificar,
massa do funcionalismo, com provimento inicial por concurso, tem que ter a planta aprovada pelo arquiteto. Este age em
para o desempenho de atividades técnicas e administrativas do conformidade com a lei. E essa conformidade com a lei nada
Estado, com caráter de exercício profissional. mais é do que o exercício de um poder vinculado;

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2.  Poder Discricionário -> na prática do poder discricionário, Essa atividade discricionária partiu do agente competente, com
o Administrador vai exercer sua função com certa margem forma legal para atingir aquela finalidade pública.
de liberdade, diante de cada caso concreto e segundo O motivo e o objeto, embora presentes, não estavam previstos na
critérios subjetivos próprios, a fim de realizar os objetivos do lei, o que permitiu que o administrador pudesse refletir o que devia
ordenamento legal. ser feito.
O juiz não poderá mandar retirar a banca de frutas da praça,
Já no poder vinculado, como já vimos, vai exercê-lo inteiramente ainda que ele entenda que a Administração não foi feliz na adoção
regrado, inteiramente previsto na lei. No poder discricionário, a de tal critério. A Administração só sacrifica o bem particular se
própria lei vai oferecer certa margem de liberdade ao administrador. há interesse coletivo. Se há abuso de poder, ultrapassa-se da
São elementos do poder discricionário o agente competente, a discricionariedade para a arbitrariedade.
forma prevista em lei e a finalidade pública, tal como ocorre num Torna-se importante dizer que se a discricionariedade preencher
ato jurídico. todos os requisitos legais, nem mesmo o Poder Judiciário pode
No exercício do Poder Vinculado se produz ato administrativo revisar os atos ou substituir o critério do Administrador Público.
vinculado, onde o objeto é a mensagem jurídica, é o que altera a Existem algumas limitações quanto ao uso do poder discricionário.
ordem jurídica. Externamente, tais limitações localizam-se no ordenamento jurídico
Na demissão por abandono de cargo, o agente competente pode e internamente, nas exigências do bem comum e da moralidade
ser o Prefeito; a forma, é a demissão por decreto; a finalidade é que administrativa. Se a atividade se afastar dessas situações, gerando
a demissão é para o aperfeiçoamento do serviço público. Trata- atos com excesso de poder, a Administração pode revisar esses atos
se de um ato regrado produzido no exercício do poder vinculado. para conformizá-los com a lei ou serão anulados pelo Judiciário.
No poder discricionário, o agente, a forma e a finalidade estão O comportamento do administrador leva em consideração o bom
previstos na lei, menos o objeto e o motivo, que embora presentes, senso, o senso de justiça, a proporcionalidade e a razoabilidade.
não estão regrados, pois, nestes residem a margem de liberdade Se uma empresa, num dado momento, passa a produzir gêneros
do administrador, que fará uma reflexão de conveniência e alimentícios perecíveis que não são de boa qualidade, ela poderá
oportunidade para a produção de uma solução. ser lacrada ou essas mercadorias poderão simplesmente ser
Muitas vezes o administrador tem que avaliar o custo-benefício recolhidas. Mas, se era suficiente recolher e o administrador lacrou,
de uma situação para saber se deve ou não utilizar o poder não foi um ato razoável. No entanto, se o sistema de refrigeração da
discricionário. Se todos os atos fossem vinculados, seria difícil a empresa estava quebrado, a lacração foi apropriada.
existência do ordenamento jurídico.
3.  Poder Hierárquico -> a Administração Pública tem um modelo de
Três são os fundamentos do poder discricionário: estrutura hierarquizada, simbolizada por alguns como trapézio,
I. Intenção deliberada do legislador em dotar a Administração e por outros, como pirâmide, cuja base comporta um determinado
de certa liberdade para que possa decidir diante do caso número de integrantes que vai diminuindo até o vértice. Esta
concreto, tendo em conta a sua posição mais favorável estrutura representa os órgãos públicos, espalhados por toda a
para reconhecer diante da multiplicidade dos fatos Administração. Eles têm suas hierarquias.
administrativos, a melhor maneira de realização da
finalidade legal. É o legislador que intencionalmente Os Poderes Legislativo e Judiciário não apresentam hierarquias
reservou este campo de liberdade. Atende muito melhor o senão para o seu funcionamento. Esta hierarquia é própria da
interesse da coletividade do que a lei, em relação a realidade Administração.
local; Poder hierárquico é aquele utilizado pelo Executivo para
II. Impossibilidade material do legislador prever todas distribuir e escalonar as funções de seus órgãos e serviços, fixando
as situações fazendo com que a regulação seja mais relação de subordinação entre os seus servidores. Ex.: Prefeito ->
flexível para possibilitar a maior e melhor solução dos Secretário da Saúde -> Diretor de Saúde -> Coordenador de Saúde.
acontecimentos sociais; Esse poder hierárquico existe para que sejam atingidos
III. Inviabilidade jurídica de suprimir-se a discricionariedade no determinados objetivos que são:
regime de poder tripartido, porque o legislador para evitá-
la teria de afastar- se da abstração que é própria das leis e a. ordenação -> por esta se reparte e se escalonam as
acabaria invadindo o campo de individualização que não lhe funções entre os agentes do poder para maior eficiência no
é próprio por ser área administrativa. desempenho das funções;

Se o legislador tivesse que prever tudo pela lei, a lei não seria esta b. coordenação -> por esta se conjugam as funções, obtendo
norma abstrata. uma harmonia na sua efetivação, que resulta na perfeita
Como já vimos, a discricionariedade é uma marca do Executivo. execução dos serviços pertinentes a determinado órgão.
Os administradores, com certa margem de subjetivismo, vão dar a Ex: a Prefeitura representa a comunidade na defesa de
solução para cada caso concreto. Por exemplo, as ruas, avenidas , seus interesses. As suas funções são distribuídas nos seus
praças e calçadas são bens comuns que têm uma utilização comum órgãos (secretarias).
que é institucional. Estas têm determinadas funções no conjunto desta
O Poder Público, com discricionariedade, avaliando o interesse administração. É possível que esses órgãos possam
coletivo, num dado momento pode autorizar a colocação de uma desenvolver determinadas atividades de maneira
banca de frutas no meio da praça. Ele discricionariamente permite harmônica, como por exemplo, uma campanha de vacinação.
isso porque entendeu que naquele determinado momento era O Prefeito (superior hierárquico) tem a possibilidade de
importante para a coletividade que assim se fizesse acontecer. chamar os seus secretários e dizer: no dia tal eu pretendo

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vacinar toda a população de Jundiaí contra meningite do ordem superior acarreta violação disciplinar e até crime penal
tipo “C”. Assim, determina: a) ao Secretário da Educação (prevaricação, art. 319 do CP).
do Município que forneça os estabelecimentos de ensino Os prazos processuais também existem na Administração
como local para a vacinação; b) ao Secretário da Saúde do Pública. Se não cumpridos, ficam os responsáveis expostos as
Município que providencie as vacinas; c) ao Secretário dos sanções acima referidas.
Transportes do Município que providencie vários ônibus O poder hierárquico decorre para o superior hierárquico
para o transportes das pessoas até os locais de vacinação faculdades implícitas. Porque existe o poder hierárquico, os
etc.. Trata- se, portanto, de uma atividade coordenada; superiores em relação aos inferiores podem praticar determinados
atos. Assim temos:
c. controle -> permite o exato cumprimento das leis e Atos praticados por superiores hierárquicos:
instruções, inclusive do comportamento e da conduta de a. Dar ordens -> diante de cada caso concreto, os superiores
cada um deles; determinam aos subalternos a prática de ato específico e
também qual a sua conduta;
d. correção -> os erros administrativos são corrigidos pela b. Fiscalizar -> os superiores exercem vigilância dos atos dos
ação revisora dos superiores sobre os atos dos subalternos. subordinados, visando enquadrá-los nos padrões legais e
regulamentares. Eles podem delegar, ou seja, transmitir a
Conclusão: a hierarquia representa um instrumento de organização outro competência que originariamente lhe foi atribuída;
e aperfeiçoamento do serviço, agindo também como meio de c. Delegar -> é conferir a outrem atribuições que
responsabilização dos agentes administrativos e impondo-lhes o originariamente competiam ao delegante. As delegações
dever de obediência. dentro do mesmo poder são admissíveis, desde que o
delegado esteja em condições de exercê-las. Ex.: o agente
Considerações a respeito do dever de obediência: fiscal de rendas pode transferir a outra pessoa uma
competência que a lei lhe conferiu.
1) O subordinado não deve cumprir ordem manifestamente
ilegal. Ex.: o chefe de um serviço público determina ao seu O que não se admite, no nosso sistema constitucional, é a delegação
subordinado hierárquico que compre um buquê de rosas com de atribuições de um Poder a outro, como também não se permite
dinheiro público para presentear a sua namorada. Se este não delegação de atos de natureza política, como a do poder de tributar,
cumprir esta ordem, não será penalizado, pois trata-se de a sanção e o veto de lei.
ordem manifestamente ilegal; No âmbito administrativo as delegações são freqüentes, e, como
emanam do poder hierárquico, não podem ser recusadas pelo
2) Esse respeito hierárquico do inferior para com o superior não inferior, como também não podem ser subdelegadas sem expressa
pode suprimir o senso do legal e ilegal, do lícito e ilícito, do autorização do delegante. Outra restrição à delegação é a de
honesto e desonesto, porque ele seria nada mais do que um atribuição conferida pela lei especificamente a determinado órgão
cumpridor de ordens sem a devida sensibilidade de saber se ou agente. Delegáveis, portanto, são as atribuições genéricas, não
utilizar do senso subjetivo pessoal; individualizadas nem fixadas como privativas de certo executor.
Na Administração federal a delegação está regulamentada
3) A iniciativa própria do subalterno segundo a competência legal pelo Dec. 83.937/79. A delegação também está definida em lei
deve ser respeitada. A ordem deve ser dada em conformidade constitucional, em conformidade com o art. 68 da CF que diz: “As
com as atividades exercidas pela pessoa. Ex.: um topógrafo, leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que
ao receber ordens para executar um determinado serviço de deve solicitar delegação ao Congresso Nacional”.
topografia, não poderá descumpri-la. No entanto, não poderá
cumprir ordens para praticar serviços aos quais não tem d. Avocar -> significa chamar para si uma competência que
competência; foi atribuída a um subordinado. Só deve ser adotada pelo
superior hierárquico quando houver motivos relevantes
4) Não cabe ao subalterno a apreciação de conveniência e para tal substituição, isto porque a avocação de um ato
oportunidade das determinações dos superiores hierárquicos. sempre desprestigia o inferior, e não raro, desorganiza o
Ex.: o chefe do Posto de Saúde de determinada cidade, fazendo normal funcionamento do serviço. Delegação e avocação
uma perquirição a respeito de uma onda de mosquitos de competência têm que estar na lei e implicam em
transmissores da dengue sobre o Município, chega a conclusão transferência de competência, ou seja, substitui-se a
que será necessário fumegar os riachos, limpar os vasos de competência do inferior pela do superior hierárquico.
plantas das casas, retirar todos os pneus, latas e garrafas Observa-se que a avocação desonera o inferior de toda
velhas etc.. Dessa maneira, dá ordens aos seus subordinados responsabilidade pelo ato avocado pelo superior. Assim
para que iniciem esta campanha a partir das 06 horas da sendo, a responsabilidade é de quem pratica o ato.
manhã do dia seguinte (lembrem-se: o professor disse que
nesta hora os mosquitos serão pegos de surpresa, pois ainda Não pode ser avocada atribuição que a lei expressamente confere
estão dormindo!). A estes (aos subordinados), não cabe esta a determinado órgão ou agente, como por exemplo, a aprovação de
perquirição, ou seja, não poderão apreciar a conveniência e um ato por autoridade superior diversa da que deveria praticá-lo
oportunidade da ordem proferida pelo chefe do Posto de Saúde. originariamente por determinação legal;

Os inferiores hierárquicos devem cumprir as ordens em razão do e. Rever -> a revisão dos atos dos subordinados poderá ser
seu dever de obediência. O descumprimento ou retardamento de feita em todos os seus aspectos (competência, forma,

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finalidade, objeto, oportunidade, conveniência e justiça) em cada caso concreto (pena concretizada).
para mantê-los, corrigi-los ou invalidá-los. Isto poderá ser Assim, ao fixar a dosagem da sanção, estará utilizando de
feito espontaneamente pela Administração ou provocado discricionariedade.
por alguém. No campo administrativo, há um elenco muito pequeno de
sanções para um universo imenso de infrações, cabendo ao
A revisão é um regra geral nos atos da Administração. administrador avaliar as situações ocorridas, de acordo com o seu
prudente critério, aplicando a sanção que julgar cabível, oportuna
Exceções: e conveniente, dentre as que estiverem enumeradas em lei ou
1) quando o ato se torna definitivo para a Administração; regulamento para a generalidade das infrações administrativas.
2) quando houver a criação de direito subjetivo do particular, A lei 8112/90 surgiu para disciplinar as penalidades referentes as
oponível para Administração. Se, de acordo com o art. 5°, inc. infrações praticadas pelos servidores públicos.
XXXVI da CF, a lei não pode afrontar o ato jurídico perfeito, Entre as penalidades por ela elencadas, três são as mais
o direito adquirido e a coisa julgada, será impossível que um importantes: a advertência, a suspensão e a demissão.
simples ato administrativo altere tais circunstâncias; Assim, o administrador, discricionariamente, adverte, suspende
ou demite o servidor. Por outro lado, se a pena de demissão já é
4.  Poder Disciplinar -> é uma faculdade conferida ao Administrador prevista por lei, não se pode falar em discricionariedade. A demissão
Público para reprimir as infrações funcionais dos seus é, portanto, vinculada. Exemplos de algumas situações em que a
funcionários, assim como de outras pessoas ligadas aos órgãos demissão deve ser aplicada: abandono do cargo, insubordinação,
e serviços administrativos. improbidade administrativa, ofensa física, aplicação irregular do
dinheiro público etc..
Utilizando-se do poder disciplinar, a Administração vai verificar Existe no campo do D. Penal um elenco de delitos previstos
quais as infrações cometidas pelos diversos funcionários, sejam para o servidor público, além da legislação esparsa que tem
eles serventuários estatutários ou de caráter precário, podendo características das ações dos servidores passíveis de ação penal.
aplicar-lhes penas. Alguns autores chamam o poder disciplinar de poder-dever. Isto é
dito porque o Administrador Público, se for competente, não pode
O poder disciplinar nada tem a ver com o poder de punir (jus puniendi) deixar de sancionar o infrator; ou, se incompetente, deixar de
do Estado. O diretor de uma escola utiliza o poder disciplinar no comunicar a infração a autoridade competente.
sentido de organização, o que é diferente do poder disciplinar Trata-se de poder-dever porque a própria legislação penal previu
utilizado pela Administração. esta necessidade, através do art. 330 do CP (condescendência
O poder disciplinar se refere aos servidores públicos e as pessoas criminosa). Como já existe essa previsão em relação ao crime, o
ligadas à Administração, enquanto que o poder punitivo do Estado administrador terá que comunicar as infrações pertinentes a sua
alcança toda população, inclusive os servidores públicos. O poder Administração aos seus superiores hierárquicos, caso contrário,
disciplinar se refere as infrações no serviço público; o poder punitivo responderá por sanções administrativas. O administrador tem
do Estado se refere à repressão dos crimes e contravenções penais. que fazer sempre uma motivação toda vez que se utilizar do
O poder disciplinar se desenvolve internamente na Administração poder discricionário. Essa motivação da punição disciplinar é
Pública (por ex.: controlando as faltas dos funcionários e aplicando- imprescindível para a validade da pena. Não se pode admitir como
lhes sanções); o poder punitivo do Estado vai ser realizado através legal a punição desacompanhada de justificativa da autoridade que
do Poder Judiciário pelo seu braço criminal. a impõe.
O poder disciplinar tem uma finalidade pública de aperfeiçoamento O poder disciplinar está ligado ao poder discricionário.
do serviço público; o poder punitivo do Estado objetiva uma No campo do D. Administrativo, o servidor pode entrar com MS,
harmonia social, se as pessoas obedecerem as suas regras. Caso que é um remédio constitucional indicado para os casos de abuso
não obedeçam, o Estado puni os infratores através de sanções. de poder. A lei que faz a regulamentação do MS, em matéria de
As regras do poder disciplinar e do poder punitivo são diferentes. assunto disciplinar dos servidores, determina que ele só deve ser
No serviço público não há pena privativa de liberdade, somente utilizado contra ato de autoridade incompetente.
sanções administrativas. É possível que uma mesma infração Trata-se de uma via rápida, de um remédio heróico constitucional,
possa dar ensejo a punição disciplinar e criminal ao mesmo tempo, onde o juiz poderá ou não conceder uma liminar para o bom direito,
sem que com isto ocorra o “bis in idem”, pois, como já dissemos, as pois a solução poderá não ser definitiva.
suas penas são diferentes. O MS só cabe em matéria disciplinar nas hipóteses:
Assim, se um agente público leva para a sua casa um objeto a. contra ato disciplinar de autoridade incompetente (ex.: uma
pertencente a repartição onde trabalha, com o intuito de ficar com lei que é aplicada pelo secretário de obras quando o deveria
ele, está praticando crime de peculato (crime praticado por servidor ser pelo Prefeito, que é a autoridade competente);
público contra a Administração Pública, previsto no CP) e ao mesmo b. contra ato disciplinar ou inobservância de formalidade
tempo, uma infração administrativa (infração disciplinar). Será essencial (onde deve ser baixada uma portaria, com a
punido pelo Estado (pena privativa de liberdade) e também pela finalidade de notificar ao acusado qual é o limite da acusação
Administração (demissão). Sempre que a infração caracterizar um existente contra ele). Para outras hipóteses, usam-se ações
delito, haverá infração administrativa. ordinárias.
O exercício do poder disciplinar pela Administração vai
caracterizar o exercício de um outro poder: o do poder discricionário. Por outro lado, o Administrador Público, em matéria disciplinar, a
Por exemplo, no campo criminal, o juiz, ao aplicar uma pena, ele o despeito da autoridade de agir discricionariamente, tem que fazer
fará com base no que está previsto na lei (pena em abstrato). No uma motivação (explicação da aplicação da sanção), visto que esta
entanto, ele vai dosar a pena dentro de certos limites permitidos é o controle que o Poder Judiciário poderá fazer sobre o bom senso,

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a proporcionalidade e a racionabilidade da sanção por ele aplicada. Considerações:


Trata-se da explicação.
a. nem toda lei depende de regulamento (existem leis auto-
5.  Poder Regulamentar-> é a faculdade de explicitar a lei, para aplicáveis). Por ex., todo empregado ao sair de férias tem
a sua correta execução ou, de expedir decretos normativos direito a receber 1/3 a mais sobre o seu salário. Trata-se de
autônomos sobre matéria de sua competência, ainda não norma auto-aplicável;
regulada por lei. b. toda lei pode ser regulamentada, se o executivo julgar
conveniente;
Permite duas ações: c. o regulamento não pode contrariar, restringir ou ampliar a
lei - só pode explicitá-la;
a. existindo uma lei, a Administração tem o poder de explicitá- d. existem leis com determinação de serem regulamentadas.
la (torná-la exeqüível). As vezes, nesta determinação existe um prazo.

No Estado de S. Paulo, existe uma lei, de natureza tributária, que Fica fixada uma condição jurídica, onde a eficácia da lei fica
instituiu o ICMS, com 180 artigos. E para explicá-la, existe um decreto estabelecida em um regulamento.
regulamentar, que tem 800 artigos. Por ex., a saída de mercadoria Quando a própria lei fixa prazo para sua regulamentação,
de um determinado estabelecimento comercial, constituindo fato decorrido este sem a publicação do decreto regulamentar, os
gerador de ICMS, deve ser taxada em determinada cifra sobre o destinatários da norma legislativa podem invocar os seus preceitos
valor da mesma (no nosso Estado esta taxa é de 18%). e obter todas as vantagens deles decorrentes, desde que eles
Na prática, de acordo com o decreto regulamentar referente a possam ser obtidos sem o regulamento, visto que a omissão do
essa lei, o comerciante só estará obrigado a recolher esse imposto Executivo não tem o condão de invalidar os mandamentos legais
após apuração do balanço mensal referente a entrada e saída de do legislativo.
todas as mercadorias do seu estabelecimento; Há algum tempo atrás, quando o Executivo deixou de regulamentar
a lei, o Judiciário concedia esse direito de regulamentá-la, caso a
b. o regulamento pode ser também autônomo (a Administração caso. Hoje existe uma ação própria para isso, o chamado Mandado
Pública emite decretos para situações não previstas em lei). de Injunção (MI), que é uma novidade no direito brasileiro, não tendo
Ex.: os espaços como as piscinas, os teatros e os campos de sido regulamentado até agora (art. 5°, inc. LXXI da CF).
futebol, são áreas regulamentadas para o uso público, cuja Assim, se o regulamento é necessário mas ainda não foi feito,
utilização necessita de requerimento para essa finalidade. o beneficiário poderá valer-se do MI para obtenção de norma
regulamentadora. Alguns tribunais mandam transitar esse pedido
O regulamento explica aquilo que foi dito genericamente na lei e a de MI como se fosse um Mandado de Segurança (MS), recomendando
torna exeqüível. que o Executivo apenas regulamente tal matéria.
O Poder Regulamentar consiste em um poder inerente e privado do
chefe do executivo, e, por isso, indelegável a qualquer subordinado 6.  Poder de Polícia - a palavra polícia tem sua origem etimológica
(art. 84, inc. IV da CF). em politéia, que significava “o conjunto das atividades estatais”.
O regulamento decorrente desse Poder Regulamentar é o decreto O seu anterior sentido jurídico não se confunde com o atual, que
regulamentar, que é uma ordem dada para a Administração Pública. é o de “polícia administrativa”.
Esse decreto regulamentar é um decreto especial que contém,
portanto, esse poder, conhecido como regulamento, que se trata de Nos dias de hoje, a polícia pressupõe a existência de um ambiente
um ato administrativo geral e normativo, expedido privativamente em que a coletividade e os indivíduos tenham um grande elenco de
pelo chefe do executivo federal, estadual ou municipal, através de direitos, em pleno exercício, com influência direta do Estado sobre
decreto, com o fim de explicar o modo e forma de execução da lei ou todos.
prover situações não disciplinadas por ela. Na antigüidade, a composição social, formada pelo cidadão grego
Lei em sentido formal e material é a norma geral e abstrata de e estrangeiros ricos e pobres, estava subjugada pelo Estado, que
conduta, aprovada pelo legislativo e sancionada pelo executivo. interferia na vida das pessoas de maneira absolutista. As pessoas
Tanto o decreto quanto a lei são normas genéricas e abstratas. que estavam permanentemente à disposição do Estado, não tinham
O decreto é privativo do chefe do poder executivo e a lei tem que plenitude do exercício individual. Na polícia moderna, pressupõe-se
passar pela aprovação do legislativo. Formalmente, a lei é diferente a existência consolidada desta plenitude.
do decreto, mas no conteúdo é igual a ele. A lei pode ou não ser Em resumo, o moderno Estado brasileiro permite o exercício
regulamentada. individual dos direitos da coletividade, onde a polícia brasileira
Todo decreto regulamentar (regulamento) é hierarquicamente está distribuída sob um ângulo de competência legislativa e sob um
inferior a lei, devendo-lhe ser fiel, só podendo explicá-la. No ângulo de competência executiva.
entanto, o regulamento pode, em alguns casos, regrar uma situação
ainda não prevista pela norma. 6.1 CONCEITOS DE PODER DE POLÍCIA
Assemelha-se a lei pelo seu conteúdo e pelo seu poder normativo.
Nem toda lei depende de regulamento para ser executada, mas a. Otto Mayer-> “é a atividade do Estado que visa defender
toda e qualquer lei pode ser regulamentada se o executivo julgar pelos meios do poder da autoridade à boa ordem da
conveniente fazê-lo. Sendo ato inferior a lei, o regulamento não coisa pública, contra as perturbações que as realidades
pode contrariar, nem restringir ou ampliar suas disposições. Se as individuais possam trazer”;
leis trazem as recomendações de serem regulamentadas, não são b. Caio Tácito-> “é em suma, o conjunto de atribuições
inexeqüíveis de expedição do decreto regulamentar. concedidas à Administração para disciplinar e restringir em

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Direito Administrativo | Leandro Pereira

favor de interesse público adequado, direitos e liberdades 6.3 O OBJETO DO PODER DE POLÍCIA
individuais”;
c. Hely Lopes Meirelles-> “é a faculdade que dispõe a É o bem, direito ou atividade individual que afeta a coletividade
Administração Pública para condicionar e restringir o uso e ou põe em risco a segurança nacional, exigindo regulamentação,
gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício controle, contenção do Poder Público, que vai resultar em restrição
da coletividade e do próprio Estado”; ao uso do bem, condição para exercício de direito e limite à execução
d. Temístoles Brandão Cavalcante-> “é a disciplina das de atividade.
atividades individuais imposta pela coletividade, cujos Não só a pessoa física, mas também a pessoa jurídica pode
direitos devem ser respeitados pelos indivíduos”; cometer infrações no campo do poder de polícia.
e. “representa um freio colocado em favor da Administração
Pública, com o objetivo de conter os excessos individuais”. 6.4 FINALIDADE DO PODER DE POLÍCIA

No Brasil, como o poder de polícia também cuida da cobrança de É a proteção ao interesse público em sentido amplo, que deve ser
taxas, tem que estar escrito em uma lei tributária que, quando interpretada, além do campo material, também no campo moral
alguém pratica uma determinada ação, o Estado tem o direito de e espiritual (proteção à propriedade, às tradições, aos heróis
cobrar de quem a praticou. A lei tributária 5.172/66, no seu art. 78 nacionais, ao folclore etc.).
contém um conceito legal de poder de polícia.
6.5 EXTENSÃO DO PODER DE POLÍCIA
PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A POLÍCIA ADMINISTRATIVA E
A POLÍCIA JUDICIÁRIA E DE MANUTENÇÃO DA ORDEM PÚBLICA: Abrange tudo: proteção à moral e bons costumes, propriedade,
segurança nacional, construções, transportes, proteção ao meio
a. Polícia Administrativa - age sobre bens, direito e atividade; ambiente etc. A cada um desses campos acaba surgindo uma polícia
encontra-se espalhada sobre toda Administração; rege-se administrativa (polícia sanitária, das profissões, do comércio, dos
por normas administrativas; é prevalentemente preventiva, costumes etc.). As autoridades têm que ter a sensibilidade daquilo
podendo ser repressiva; que se deve proteger, levando-se em conta o momento social.
b. Polícia Judiciária e de Manutenção da Ordem Pública
- atua sobre pessoas, individual ou coletivamente; é 6.6 LIMITE DO PODER DE POLÍCIA
concentrada em determinados órgãos ou corporações;
rege-se por normas processuais penais e regulamentos; é É a conciliação entre o interesse social e os direitos fundamentais do
prevalentemente repressiva, podendo ser preventiva. indivíduo. Como o Estado cuida dos direitos coletivos num ambiente
de plenitude de direitos individuais, na medida que vamos exercê-
6.2 FUNDAMENTO DO PODER DE POLÍCIA los, nos deparamos com outras pessoas que também pretendem
exercer esses mesmos direitos e o Estado tem que achar esse
É a supremacia do Executivo sobre os particulares, que se revela ponto de equilíbrio.
nos mandamentos constitucionais e nas normas de Poder Público.
Na estruturação do Estado, ao lhe entregamos esse poder para 6.7 ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA
cuidar dos interesses coletivos, ele passa a interferir sobre cada
um de nós, para satisfazer os interesses de todos. Essa supremacia O poder de polícia enseja a produção de atos administrativos que
não é invenção da doutrina, está consagrada no ordenamento têm determinadas qualificações, que lhe são atributos. Diante de
jurídico vigente, está dentro do texto constitucional. um ato e com a verificação do seu usufruto, podemos dizer se é ou
Quando o art. 5º da CF diz que a propriedade atenderá a função não ato de poder de polícia administrativa. Esses atributos são os
social, contraria aquele antigo conceito de que o proprietário era seguintes:
o senhor absoluto das terras. Nos dias atuais não se pode deixar a
propriedade ociosa, ela tem que exercer a sua função social, que é a a. Discricionariedade - utilizando-se do poder discricionário,
de gerar empregos. Além disso, o Poder Público pode desapropriá- o Administrador Público, diante de um caso concreto, vai
la para utilização pública, se esse benefício for realmente útil, agir com certa margem de liberdade, fazendo a perquirição
necessário para a coletividade. da conveniência e oportunidade de praticar ou não
De acordo com o inc. XII do art. 5°, qualquer profissão pode ser determinado ato.
exercida por qualquer pessoa, desde que em conformidade com as
disposições legais. As pessoas podem exercer as profissões que Como não há possibilidade de um manual para se elencar todas as
desejarem, mas o Estado impõe sob quais condições. O art. 170 da providências a serem tomadas pela Administração em virtude de
CF diz que a ordem econômica tem por fim assegurar a todos uma haver uma porção de situações fáticas que não estão previstas na
existência digna. Admite-se a livre iniciativa para comerciar, exercer lei, o Administrador Público soluciona certos casos utilizando-se
determinadas profissões etc., desde que tudo isso seja fiscalizado do poder de polícia, conjugado com o poder discricionário. Os atos
pelo Estado, que tem a supremacia sobre os particulares. Certas do poder de polícia são também, na generalidade, atos do poder
leis municipais que disciplinam as construções urbanas, como discricionário. Essa discricionariedade não é arbitrariedade- é a
por ex., o Código das Águas, o Código Florestal, o Código de Caça eficiência e rapidez do Administrador Público.
e Pesca, são leis infraconstitucionais que submetem as pessoas a
esta supremacia estatal. b. Autoexecutoriedade - é a faculdade da Administração
Pública decidir e executar diretamente a sua decisão por
seus próprios meios, sem a intervenção do Judiciário.

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Isto significa que a Administração Pública, no campo do poder de 6.9 USO E ABUSO DO PODER
polícia decide as questões e age, sem ter que consultar o Poder
Judiciário. Vimos que os elementos do poder vinculado são o agente competente,
Há uma exceção: quando a Administração Pública tem que receber a forma prevista em lei, a finalidade pública, o motivo e o objeto e
seus créditos decorrentes de multas aplicadas aos particulares, que no poder discricionário, o agente, a forma e a finalidade estão
pois, para recebê-los, é necessário a demorada e onerosa previstos na lei, menos o motivo e o objeto, que não estão regrados,
tramitação de um processo administrativo. É por isso que na prática, pois, nestes reside a margem de liberdade do administrador, que
milhares de multas não são cobradas. diante de um caso concreto, fará uma reflexão de conveniência e
Torna-se importante dizer que a autoexecutoriedade do poder oportunidade antes da produção de determinado ato.
de polícia não deve ser confundida com punição sumária pois, as Mesmo não estando na lei, há uma condição de legitimidade em
punições, previstas na lei, são decididas pelo Judiciário. relação a produção do ato discricionário, através do bom senso,
razoabilidade, proporcionalidade e de justiça.
c. Coercibilidade (imperatividade) - esse atributo representa Quando o administrador, ao praticar atos vinculados ou
uma imposição coativa das medidas adotadas pela discricionários, fugir do cumprimento da lei ou do cumprimento da
Administração. legitimidade, abusa do poder.
A teoria do abuso de poder, que teve a sua origem na França, no
Os atos administrativos, além de discricionários e munidos de Brasil foi aperfeiçoada e desdobrada em:
executoriedade, podem ser também imperativos, ou seja, de
cumprimento obrigatório. Essa coercibilidade não significa violência a. excesso de poder - a autoridade que pratica o ato é
desnecessária ou desproporcional. competente, mas excede a sua competência legal, tornando
Por exemplo, quando um fiscal multa um determinado açougue o ato arbitrário, ilícito e nulo.
que está vendendo carne contaminada, pratica um ato de Por ex., o Prefeito tem a competência de autorizar certa despesa,
coercibilidade. Praticaria violência desnecessária, se agredisse mesmo que não exista saldo na verba orçamentária. Porém,
o açougueiro ou, violência desproporcional, se lacrasse o seu se ele autorizar qualquer despesa sem a existência de verba,
estabelecimento, ao invés de, simplesmente multá-lo. excede a sua competência, pratica uma violação frontal a lei, ou
seja, pratica ato com excesso de poder;
6.8 MEIOS DE ATUAÇÃO DO PODER DE POLÍCIA
b. desvio de poder (ou de finalidade) - ocorre quando a
No exercício do poder de polícia, a Administração é autoridade é competente e pratica o ato por motivo ou com
prevalentemente preventiva. Nessa atuação são produzidas regras fim diverso do objetivado pela lei ou exigido pelo interesse
de comportamento em várias áreas (sanitária, de trânsito, de público, havendo, portanto, uma violação moral da lei.
comércio, de construção etc.) com um elenco de normas punitivas Por ex., através do DL 3365/41, o Prefeito pode desapropriar
antecipadamente preparadas pelo poder executivo competente, determinada área para urbanização ou mesmo para a construção
para que todos tenham conhecimento delas e de suas sanções. Isto de casas populares. Quando faz isso, ele usa do poder, ou seja,
significa atuar de maneira preventiva. simplesmente cumpre a lei. Entretanto, se usa desse poder para
Aquele que pretende praticar uma determinada atividade deve desapropriar uma área sobre a qual em que não existe nenhuma
dirigir-se à Administração competente, dizendo o que vai fazer. A utilidade, à pedido de um amigo, por exemplo, há um desvio de
Administração, verificando o preenchimento das condições, vai poder, ou seja, a finalidade não foi legal.
manifestar-se sobre esse assunto. Ao deferir o pedido, documenta
isso, expedindo um alvará, que é um instrumento de licença ou 14. REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
de autorização para a prática de ato, realização de atividade ou
exercício de direito, dependente de polícia administrativa. Para o excesso de poder, temos, de acordo com o inc. LXIX do art. 5°
Assim, temos dois tipos de alvará: da CF, o Mandado de Segurança, que é um remédio heróico contra
atos ilegais praticados por autoridade pública ou assemelhados,
a. Alvará de licença envoltos de abuso de poder, o qual é regulado pela LF 1533/51.
Para o desvio de finalidade, temos a Ação Popular, prevista
Tem um caráter de definitividade, sendo vinculante para a no inc. LIII do art. 5° da CF e regrada pela LF 4717/65, que pode ser
Administração Pública, quando expedido diante de um direito impetrada por qualquer cidadão, contra atos lesivos praticados
subjetivo com satisfação das normas administrativas. contra o patrimônio público ou entidade em que o Estado participe,
relacionados à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
Exs.: licenciamento de veículo, licença para edificação etc.; patrimônio histórico e cultural.
A Ação Popular faz com que o ato lesivo praticado seja anulado,
b. Alvará de autorização ficando os infratores e seus beneficiários obrigados a devolverem o
dinheiro aos cofres públicos.
Tem o caráter de ser precário. Ele contém discricionariedade e
representa uma liberalidade da Administração, sem qualquer 15. ATO ADMINISTRATIVO
obstáculo legal. Por ex., a Administração Municipal ao autorizar
a colocação de uma banca de revistas numa praça pública, pode, 15.1.  Considerações gerais
a qualquer tempo, retirá-la de lá; da mesma forma, a autoridade
policial que autoriza o cidadão a portar arma, pode desfazer esta De acordo com a moderna interpretação da teoria de Montesquieu,
autorização a qualquer tempo. os Poderes do Estado não são estanques, isto é, cada um deles

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pratica funções ou atividades estatais que são a legislativa, a pessoa. O Estado tem que ter a supremacia sobre os particulares,
judiciária e a executiva. do contrário, o ato será comum. O Estado tem que estar com
O Poder Legislativo, por exemplo, prevalentemente pratica atos essa prerrogativa de Poder Público. Os atos administrativos são
legislativos, mas também pratica atos do Executivo ou do Judiciário. passíveis de verificação pelo Poder Judiciário, com exceção dos atos
Há um tipo de ato pouco lembrado, praticado por todos os discricionários.
Poderes: o ato político.
No campo administrativo, é conhecido por ato discricionário, que 15.2.  Ato e fato administrativo
é aquele que deve ser praticado com certa margem de liberdade,
diante de cada caso concreto e segundo critérios subjetivos Todo ato administrativo acarreta um reflexo no mundo jurídico.
próprios, a fim de realizar os objetivos do ordenamento legal. Entretanto, o fato administrativo é uma atuação excepcional da
Segundo o art. 49 da CF, é de competência exclusiva do Congresso Administração, desprovido de qualquer interesse para o mundo
Nacional autorizar o Presidente da República a declarar guerra. Ao jurídico. Ele decorre sempre de uma produção anterior de um ato
praticar esse ato, há uma decisão que visa o interesse da maioria, administrativo.
mas o seu julgamento é pessoal, é político. No campo do Judiciário, Em regra, não produz efeitos no mundo jurídico, mas podem ser
a LICC traz uma mensagem: na aplicação da lei, o juiz atenderá os encontradas algumas exceções.
fins sociais a que ela se dirige e as exigências do bem comum. Há um Exs.:
interesse público, mas cabe ao juiz decidir- é uma decisão política. a. um paciente, ao ser operado em um hospital público, vem
Da mesma forma, o Presidente, de acordo com o art. 66 da CF, decide a falecer, por diversas conseqüências decorrentes de falha
politicamente, quando veta lei inconstitucional. da estrutura hospitalar. E a família aciona o Estado. Trata-
O ato administrativo é uma espécie de ato jurídico. se de um fato administrativo com repercussão no mundo
De acordo com o art. 81 do CC, todo ato lícito que tenha por fim jurídico;
imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir b. um aluno de um estabelecimento de ensino público é ferido
direitos, é ato jurídico. O ato jurídico tem, portanto, um reflexo na quando praticava experiência num laboratório de química,
ordem jurídica. e aciona o Estado. É fato administrativo com repercussão
O ato jurídico é gênero, do qual ato administrativo é espécie. O ato jurídica.
administrativo é ato jurídico praticado pela Administração Pública e
precisa ter finalidade pública (o bem comum). 15.3.  Elementos do ato administrativo
Hely Lopes Meirelles, aproveitando o art. 81 do CC, dá um conceito
ao ato administrativo: “ato administrativo é toda manifestação Ato administrativo é ato jurídico sempre com a finalidade pública.
unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo Como já vimos, o ato jurídico tem como elementos o agente
nessa qualidade, tenha por fim adquirir, resguardar, transferir, capaz, a forma e o objeto lícito. Só pratica ato administrativo quem
modificar, extinguir e declarar direitos ou impor obrigações aos for agente público (exerce uma função pública), e para ser agente
administrados ou a si próprio”. público tem que ser competente (tem que ser capaz). E esse ato por
Diz que essa é uma definição ou conceito em sentido estrito do ele praticado tem que ter finalidade (a finalidade é o bem comum),
ato administrativo, porque ele está definindo o que chama de ato forma (é a expressão material do ato) e objeto (é o conteúdo do ato).
administrativo típico. Neste último, está contida a modificação ou mesmo a extinção de
Hely disse que se a palavra unilateral for retirada, o conceito se um direito.
amplia para os contratos administrativos. Para a prática de um ato No Direito brasileiro, podemos conformizar o que está escrito
administrativo típico, a Administração não requer a manifestação na doutrina com o Direito positivo brasileiro. O art. 5º, inc. LXXIII
de outra pessoa. Seja em sentido estrito ou amplo: agindo nesta da CF/88, que trata da Ação Popular, disciplinado pela LF 4717/65,
qualidade, a Administração Pública está agindo com supremacia constitui um remédio jurídico constitucional para proteção do
sobre os particulares. Se ela sai desta qualidade, aí pratica atos patrimônio público. Essa lei, no seu artigo 2º traz certas normas
comuns. processuais como legislação complementar do CPC. Diz ela que são
Assim, se o Poder Público precisa de um determinado imóvel nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no
para a abertura de um museu, ele pode negociar com o proprietário artigo anterior (União, Estados Membros, Municípios, autarquias e
e fazer um contrato de locação do mesmo, ou, simplesmente, sociedades paraestatais) nos casos de: a) incompetência; b) vício de
desapropriá-lo. No primeiro caso, a Administração pratica ato forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência de motivo; e) desvio
comum, não está agindo como Administração Pública; já no segundo, da finalidade.
pratica efetivamente um ato administrativo, porque está usando a
sua supremacia sobre os particulares. São elementos do ato administrativo:
Celso Antônio Bandeira de Mello também dá um conceito de
ato administrativo: “o ato administrativo é uma declaração do a. Agente competente
Estado ou de quem lhe faça as vezes campo para exercer uma
concessionária de serviço público no exercício de prerrogativas No ato administrativo, o agente competente é um elemento
públicas manifestada mediante comandos complementares relacionado ao sujeito ativo do ato. A primeira coisa que deve ser
da lei a título de lhes dar cumprimento e sujeitos a controle de verificada no exame de um ato administrativo é se o mesmo foi
legitimidade por órgão jurisdicional”. Diz que esse conceito é em elaborado por agente competente.
sentido amplo e que pode se tornar em sentido estrito, se depois Essa competência é distribuída pela Administração aos seus
da palavra “declaração” colocarmos a palavra unilateral e depois agentes públicos, por quantidade e qualidade.
de “comandos”, a palavra concretos. O ato administrativo vai Por ex., nos Municípios, os prefeitos têm competência maior que
concretizar aquilo que está abstrato, ligando-se a determinada a dos seus secretários (competência quantitativa); um arquiteto

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ou um advogado, ambos funcionários públicos, têm competência motivo de fato é quando temos uma situação de fato, que sempre
qualitativa. atende a proporcionalidade, a conveniência e a oportunidade.
Seja por quantidade ou por qualidade, o agente da Administração
está atuando com seu poder funcional (que depende da função que Teoria dos motivos determinantes - é o motivo que enseja a
ele está exercendo). Pode haver um deslocamento de competência, prática do ato.
em se tratando da avocação (quando um superior hierárquico chama No motivo legal, há uma situação de direito, prevista em lei,
para si uma competência) e da delegação (quando um superior sobre a qual o administrador vai fazer a motivação do que está
hierárquico entrega a competência dele para alguém realizar o ato). acontecendo. Nele, o que existe é um tipo de ato vinculado que
Tanto a competência quanto o seu deslocamento, têm que estar enseja uma previdência legal (motivação).
previstos na lei, seja em ato vinculado quanto discricionário; No motivo de fato, há um desdobramento. Nele, o legislador
deixou para o administrador, uma liberdade para praticar o
b. Forma ato, sem precisar motivar. Havia uma categoria dos servidores
admitidos a título precário, prevista na CF (art. 37, inc. IX), que
É o revestimento material do ato. No Direito privado, o ato jurídico pela nova ordem constitucional, deixou de existir. Atualmente, os
tem a forma prevista ou não proibida na lei, ou seja, existe uma servidores públicos devem ser estatutários (regime jurídico único).
certa liberdade quanto a sua forma. Entretanto, a CF admite outro tipo de servidor a título precário, de
Por ex., no casamento, os noivos têm que expressar formalmente permanência também transitória, regulamentada pela LE 500/74,
o seu desejo. cuja admissão não lhe dá nenhum direito frente à Administração.
Outros atos não exigem essa forma legal. Hoje a Administração permite contratar por esse regime.
No Direito público não existe essa possibilidade, a forma está Data a temporariedade, as pessoas não adquirem direitos,
sempre prevista na lei. Por ex., com base na Lei 3365/41, o chefe do podendo o admitido em caráter temporário, ser demitido “ad
Poder Executivo pode desapropriar determinado imóvel que teve nutum”, ou seja, a Administração, sem nenhuma justificativa, demite
declarada a sua utilidade pública. A forma legal utilizada para esta o funcionário. Isto significa que o administrador pode se utilizar do
desapropriação é feita através de um decreto- sem ele, o ato será motivo de fato, ou seja, através de discricionariedade e dentro da
inválido. lei, não precisará fazer motivação, não precisará fazer justificativa
A forma sendo legal, admite-se a ocorrência de pequenos erros, para demitir. Só se for por motivo legal, é que terá que apresentar
que ao serem constatados, podem ser devidamente corrigidos. motivo. Por outro lado, se o administrador motivar a demissão de
Mesmo em havendo erros, o ato é válido, começando, portanto, a um servidor que poderia ser demitido sem motivação, ficará preso
gerar efeitos jurídicos. a ela, ou seja, ficará preso ao ato. E, se esta motivação não for
Se o erro é de medida e pequeno, pode ser corrigido, publicando- verdadeira, o ato será nulo.
se o decreto retificador. Na Administração, os atos são por regra, Na motivação legal (ato vinculado), o legislador demonstra que
escritos. Entretanto, há exceções, previstas na lei. naquele momento, o ato está previsto na lei. Na motivação fática,
Por ex., o guarda de trânsito pode determinar a parada de um não está previsto, não precisa motivar, apenas o pratica, pois está
veículo através de um gesto; um delegado de polícia pode autorizar no exercício do poder discricionário.
que o policial entre no domicílio através de ordem verbal. A mesma
forma deve ser exigida quando se produz um ato e se pretende e. Objeto
eliminá-lo ou modificá-lo. Por ex., uma portaria só pode ser
modificada por outra portaria; uma lei, só por outra lei; Envolve a criação, a modificação ou a comprovação de uma situação
jurídica referente a pessoas, coisas e atividades sujeitas a ação do
c. Finalidade Poder Público.
O objeto do ato é o conteúdo do ato. Utiliza-se da decomposição
Há quem entende que a impessoalidade da Constituição é finalidade. para se fazer o exame da validade do ato administrativo.
A finalidade é um princípio básico da Administração Pública. Os
atos têm que obedecer uma finalidade pública, que é o bem da Ato vinculado - o ato de demissão de um servidor, é um exemplo
coletividade, o bem comum. de ato vinculado. Nele, o agente competente para demitir é o
Se não houver finalidade pública, o ato da Administração estará Presidente da República; a forma é um decreto; a finalidade é o
inviabilizado. aperfeiçoamento do Serviço Público; o motivo são as 30 faltas
No campo do ato privado jurídico, não se questiona esta dadas pelo servidor; o objeto é a ruptura do vínculo jurídico entre a
finalidade. Na maior parte das vezes, essa finalidade está escrita na Administração e o servidor.
lei. Se não estiver, idealmente tem que atingir a finalidade pública.
O Administrador tem que cumprir esta finalidade. Se ele tiver várias Ato discricionário - se uma fábrica lança ao ar partículas poluentes,
competências, pode punir, transferir etc., mas não poderá substituir a Administração, diante desta situação fática, pode, através de uma
a finalidade legal. portaria, determinar o fechamento da fábrica. Nesta hipótese, o
A finalidade é um elemento sempre previsto na lei, seja para ato agente competente é o Prefeito; a forma é a portaria; a finalidade é a
vinculado ou discricionário. salubridade pública; o motivo é o lançamento de resíduos sólidos no
ar; o objeto é o fechamento da fábrica (mudança da situação jurídica
d. Motivo da fábrica).

Pode ser legal (de direito) ou de fato. Motivo legal é quando temos Mérito do ato administrativo
um ato vinculado (todos os elementos estão previstos na lei); No campo processual, trata-se de uma questão fulcral de um
processo.

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O mérito não é elemento do ato administrativo mas está impessoalidade é em relação ao administrador ou em relação a ele
intimamente ligado com os elementos motivo e objeto. Se a eles mesmo).
está ligado, tem a ver com a validade do ato administrativo. Esta Diante deles, todos acreditam que seus atos são legítimos.
ligação encontra-se principalmente no campo do ato discricionário. Como a Administração só cumpre a lei, genericamente se acredita
É uma situação que não está prevista na lei, por isso ele, o que seus atos são legítimos. Não é uma certeza, é até prova em
administrador, vai fazer um exame de conveniência e oportunidade. contrário. É um atributo do ato administrativo.
Assim, no exemplo anterior, se fechar a fábrica, poderá prejudicar
o Município. Conseqüências ao se acreditar que o ato é legítimo:
Trata-se de uma perquirição de conveniência e oportunidade.
O mérito tem ligação com estas duas atividades. O mérito do ato a. a produção de atos com grande celeridade;
administrativo significa o motivo e o objeto do ato administrativo. b. a Administração os executa, os concretiza, até mesmo os
O juiz não pode substituir o critério do ato administrativo, que é que não são legítimos, devido a grande rapidez que ela os
essa perquirição de conveniência e oportunidade. faz;
Ele pode fiscalizar tão somente a legalidade, o bom senso, a c. ocorrência de uma inversão do ônus da prova (é a pessoa
razoabilidade e a proporcionalidade. É por isso que muitos dizem: que tem que provar que o ato não é legítimo).
“Ao judiciário não cabe apreciar o mérito do ato administrativo” (o
motivo e o objeto do ato administrativo). 15.5.2.  Imperatividade (coercibilidade)

Ementas sobre o mérito do ato administrativo - “Não cabe ao O ato administrativo tem força para fazer com que as pessoas
Poder Judiciário apreciar o mérito dos atos administrativos”; “Ao atendam o comando que está implícito no ato administrativo. A lei
Judiciário não cabe apreciar o mérito do ato administrativo, mas tem essa coercibilidade.
apenas a sua legalidade”. O ato administrativo é a concretização da lei. Ele também tem
imperatividade, as pessoas são obrigadas a cumpri-lo.
15.4.  Seqüência de atos administrativos: Quando o agente administrativo, no exercício da fiscalização de
uma publicidade, diz que tem que ser retirada uma faixa que está
15.4.1.  Procedimento administrativo infringindo as regras de publicidade (poluição visual), o comerciante
acredita, por presumir ser o ato legítimo e por ele ser coercitivo;
Juridicamente, trata-se da maneira do desenvolvimento de um
processo, ou seja, o rito processual. 15.5.3.  Auto executoriedade
No processo administrativo, é uma sucessão ordenada de
operações que propicia a formação de um ato final objetivado pela Significa a possibilidade que a Administração tem de auto executar
Administração (concurso público e licitação). A Administração tem os seus atos.
que praticar esse procedimento. Significa não precisar do consentimento ou de ordem de outro
Por exemplo, para nomear pessoas, tem que fazer procedimento Poder. Significa decidir algo e executar (lembrar das jacas caindo no
administrativo que se chama concurso público. Na licitação, temos telhado do vizinho).
a carta convite, a tomada de preços, a concorrência etc.. Embora a Administração Pública possa se utilizar quando quiser,
No procedimento, a técnica é fazer a fiscalização de atos e quando da a auto executoriedade, freqüentemente solicita suporte ao
ela aconteça, deve ser atacada. Nele, as fases são estanques, se Judiciário, principalmente para impedir invasões de áreas públicas
não cumprem o formalismo, o ato será nulo no final. por grande número de pessoas.

15.4.2.  Ato complexo 15.6.  Classificação dos atos administrativos


(segundo o Prof. Nelson Schiesari)
É aquele em que ocorre a intervenção de dois ou mais órgãos
administrativos para obtenção do ato final. a. quanto ao objeto - pode ser:
Há uma sucessão de atos, que são praticados por órgãos criador,
administrativos diferentes. Não é um procedimento, mas sim um modificador,
ato complexo. conservador e
extintivo de direito;
15.4.3.  Ato composto
b. quanto ao grau de liberdade do administrador - pode ser:
É aquele formado por um ato principal e um ato complementar vinculado,
que o ratifica ou aprova. Se na repartição administrativa, se faz discricionário e
um pedido de certidão, relativo a um imóvel de um servidor, essa arbitrário;
certidão contem uma pessoa que certifica e outra que a ratifica.
c. quanto a fonte de vontade expressa nos atos - pode ser:
15.5.  Atributos do ato administrativo em geral: simples (manifestação de um órgão público) e
complexo (manifestação de dois ou mais órgãos públicos);
15.5.1.  Presunção de legitimidade
d. quanto a Pessoa Jurídica de D. Público - pode ser:
A Administração Pública deve praticar atos segundo a lei, ato federal,
a moralidade administrativa, com impessoalidade (esta estadual e municipal;

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e. quanto as relações que interligam os atos entre si - pode O ato tem aparência de ato administrativo, mas jamais chega a
ser: existir. Esse tipo de ato não pode absolutamente ser saneado,
preparatório (a portaria é ato preparatório utilizada para demitir corrigido.
um funcionário público), Ele não produz efeito jurídico, mas pode haver possibilidade de
principal, acarretar conseqüência penal.
complementar (ratifica o ato composto) e Ocorre quando determinada pessoa, que não pertence a
de execução (exclusão de um participante fraudulento em Administração, produz esse tipo de ato (usurpação - art. 328 do CP).
licitação); Ex.: venda de carteira de habilitação de motorista.

f. quanto a qualidade que o estado se apresenta - pode ser: Na Administração Pública, o agente tem que ser capaz, segundo a
ato simples ou lei. Uma pessoa, sem plena capacidade mental (Ex.: um indivíduo
ato de império obnubilado), poderá produzir atos inexistentes. Isto constitui, de
certa forma, uma defesa para a Administração Pública;
Será ato de império quando houver supremacia sobre os
particulares. Ex. recolhimento de tributos pelo Poder Público; b. Ato administrativo nulo - este tem um “sopro de vida”
muito curto, que vai desaparecer em razão de grave vício de
g. quanto as hipóteses que abrange - o ato pode ser: legitimidade que contém, relacionado com os requisitos de
particular ou validade ou, com seus elementos integrantes (do ato).
geral.
O ato nulo entra no mundo jurídico, mas não produz o efeito de
O primeiro é aquele que tem RG e CPF, ou seja, é um ato que envolve direito correspondente.
uma relação do particular com a Administração. Aqui também, ele pode acarretar responsabilidade das pessoas.
O segundo (ato geral) é quando não se sabe quem vai ser abrangido O ato nulo também é incorrigível. Como a deficiência é de algum de
por ele. Ex.: o Presidente pode conceder indulto e comutar penas. seus elementos, aqui o ato é de um agente capaz, mas que não é
O indulto é concedido através de um decreto que não identifica competente para produzi-lo.
o condenado, é ato geral; a comutaço de pena é ato particular, Exs.: se alguém praticar um ato que é da competência de outro,
específica para aquele que preenche determinadas condições; produz ato nulo; se o ato foi praticado por uma lei, quando deveria
ter sido por decreto, também é nulo;
h. quanto a forma que se apresentam - a forma é
a corporificação de uma vontade, para efeito de c. Ato administrativo anulável - neste, a vontade do agente é
exteriorização do ato, ou seja, é o revestimento material maculada por erro, dolo, coação ou simulação.
do ato. A emenda constitucional, a lei complementar, a lei
ordinária, a lei delegada, a medida provisória, a resolução O ato não é perfeito, dadas estas imperfeições, porém sua
legislativa, o decreto legislativo, o decreto regulamentar, invalidade é relativa, caracterizando a anulabilidade, que é a
a instrução, a deliberação, a portaria, o aviso, o despacho, possibilidade de anulação pela provocação de qualquer interessado.
a circular etc., são formas através das quais, existe uma Trata-se de um vício relativo.
manifestação de vontade corporificada. As vezes, certos O ato tem existência jurídica, até a decretação da nulidade,
atos administrativos são produzidos com defeitos. ou seja, o ato anulável produz efeitos até a sua anulação. O ato
anulável pode ser corrido ou saneado.
15.7.  ESPÉCIES DE ATOS (Conforme Hely Lopes Meirelles): Ex. um alvará de licença, concedido no lugar de um alvará de
autorização, decorrente de uma má informação da Administração;
• NORMATIVOS: Dispõem normas concretas ou abstratas do
Poder Executivo: Decreto, Regulamento, Resolução, Regimento, d. Ato administrativo irregular - é o ato de menor vício desta
Deliberação, Instrução Normativa. escala.

• ORDINATÓRIOS: Ordenam o funcionamento da administração: Nele falta algum requisito não essencial, quase sempre relativo
Instrução, Circular, Aviso, Portaria, Ofício, Despacho. a formalidade de ordem procedimental. Produz efeito jurídico e é
corrigível por ato retificador, em tempo hábil.
• NEGOCIAIS: Se referem à gestão administrativa: Licença, Ex.: decreto de desapropriação no qual houve um pequeno
Autorização, Permissão, Aprovação, Admissão, Visto, engano de identificação do objeto a ser desapropriado (mudança do
Homologação. n° do prédio a ser desapropriado).

• ENUNCIATIVOS: Certidão, Atestado, Parecer, Apostila. 15.7.2.  Desfazimento dos atos administrativos

• PUNITIVOS: Multa, Interdição, Embargo Esse desfazimento está ligado a um duplo aspecto: a Administração
produz um ato que satisfaz o interesse da coletividade, e que mais
15.7.1.  Vícios dos atos administrativos (em tarde, por não mais satisfazer esse interesse, ela vai alterá-lo.
escala decrescente de grandeza) Ela também pode alterar os atos por considerá- los ilegais. Se
o desfazimento é em relação ao mérito do ato, ele deve ser feito
a. Ato administrativo inexistente - é aquele que contém vicio pela Administração, através da revogação; se o desfazimento
essencial e por isso não chega ter existência jurídica. é por ilegitimidade, ele deve ser feito pelo Judiciário, através de

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anulação. Esse sistema é considerado como um controle interno da A prescrição não se confunde com decadência (caducidade), que é
Administração e um controle externo do Judiciário. a morte do direito pelo seu não exercício no prazo estabelecido em
lei.
1. Revogação - consiste na eliminação de um ato administrativo A prescrição mata o direito de ação; a decadência mata o próprio
legítimo e eficaz realizada pela Administração e só por ela, por direito, não admitindo as hipóteses de suspensão ou interrupção.
não mais convir nem ser oportuna a sua existência. A prescrição das ações que alcancem a Fazenda Pública rege-
No momento que não for conveniente e oportuno, a se tanto pelos princípios do C. Civil quanto pelos do C. Comercial,
Administração manda retirá-lo (ex.: retirada de uma banca de especialmente nos contratos, mas também obedece regras
frutas que a Administração autorizou que fosse instalada na especiais de algumas leis excepcionais.
praça). Assim temos que:
a. as ações pessoais (aquelas que envolvem direito
Fundamento da revogação - é o próprio poder discricionário da personalíssimo) contra o Poder Público têm prazo
Administração. Constitui-se num meio da Administração avaliar prescricional de 5 anos, cuja previsão especial está contida
oportunidade, conveniência e razoabilidade dos seus próprios em dois decretos-lei: o DL 2.091/32 e o DL 4.597/42;
atos, para mantê-los ou desfazê- los, no sentido de atender ao b. as ações reais contra a Fazenda Pública (ações reais são
interesse público. aquelas que envolvem imóveis ou direitos pertinentes à
imóveis) têm prescrição de 10 ou 15 anos, segundo as regras
Limitação da revogação - em regra, todo ato administrativo do C. Civil e da jurisprudência;
é revogável, só encontrando obstáculo na estabilidade das c. as ações pessoais (personalíssimas) prescrevem em 5
relações jurídicas e no respeito ao direito adquirido por anos. Torna-se importante ressaltar que há um tratamento
particulares. especial para direitos que se concretizam em prestações
periódicas.
Efeitos da revogação - consideram-se válidos os efeitos do
ato revogado até a revogação, ou seja, a revogação opera-se Isto envolve os servidores públicos, que têm uma série de direitos
daquela data em diante. Trata-se de um efeito “ex-nunc”. que se concretizam mensalmente. Essas prestações periódicas
têm pela jurisprudência, um tratamento especial que foge à esta
Indenização - a revogação do ato inconveniente ou inoportuno regra geral.
precário que não tenha gerado direito subjetivo para o particular Assim, se um servidor com 15 anos de trabalho público ingressar
ou para o destinatário, independe de indenização. Por outro lado, na magistratura e, somente 6 anos após esse ingresso ele se lembrar
a revogação daquele tipo de ato com caráter de definitividade, de solicitar os 3 adicionais de 5% a que tem direito, pela regra das
exige indenização. ações personalíssimas, a prescrição teria ocorrido (5 anos).
Entretanto, por ter tratamento especial, ele só perderá o que for
2. Anulação - consiste na eliminação de um ato administrativo retroativo aos 5 anos anteriores à data do seu ingresso.
ilegítimo pela Administração ou pelo Poder Judiciário. A Administração Pública também está sujeita à prescrição quando,
por ex., precisa receber os seus créditos. O Código Tributário
Fundamento da anulação - a anulação encontra fundamento na Nacional (Lei 5.172/66) disciplina, respectivamente, através do
legitimidade e na legalidade. A extensão para a anulação não é seus arts. 173 e 174, o prazo de 5 anos para a decadência e de 5 anos
só a ilegalidade, mas também a ilegitimidade. para a prescrição. Assim, se o contribuinte não fizer o pagamento
do ICMS, a partir do momento do seu fato gerador começará a
Efeitos da anulação - a anulação dos atos administrativos fluir um prazo para o Poder Público cobrar esse tributo (a Fazenda
retroage às suas origens, invalida as conseqüências passadas, Pública tem um prazo prescricional de 5 anos para apurar o quanto
presentes e futuras, e, não admite convalidação. A anulação lhe é devido). Supondo que essa cobrança tenha sido feita dentro
opera-se desde o nascimento do ato, desfaz todos os vínculos do prazo e o contribuinte não pagou, a partir da expedição de uma
entre as partes e as coloca no mesmo estado anterior (efeito certidão da dívida ativa, o Poder Público terá um prazo decadencial
“ex-tunc”). de 5 anos para ingressar com uma ação judicial para cobrança do
Excepcionalmente, na anulação se salvam os terceiros de boa-fé crédito. Antes do Código Tributário Nacional, havia uma legislação
alcançados pelos efeitos incidentes do ato anulado, que estão sobre a Previdência, de 1960. Esta, sem cogitar as legislações
amparados pela presunção de legitimidade. Os prejudicados anteriores, consignava uma prescrição de 30 anos para os créditos
devem ir ao Judiciário, utilizando-se das vias constitucionais, previdenciários.
tais como o MS e a AP ou de outros remédios que poderão ser Mas, com o aparecimento do C. Tributário, apareceu uma
encontrados na legislação infraconstitucional, tais como a Ação discussão: seriam esses créditos de natureza tributária ou
Ordinária Declaratória, a Ação Ordinária com efeito de Ação previdenciária? O que prevaleceu foi que os créditos previdenciários
Anulatória de ato administrativo, ou ainda a Ação de Repetição estão disciplinados pelo C. Tributário, não valendo a regra anterior.
de Indébito (esta última é utilizada para que a Administração Recentemente, entretanto, a Lei Federal 6.830/80 voltou a falar em
devolva dinheiro pago indevidamente). prescrição de 30 anos para esses créditos previdenciários. Como
a jurisprudência está vacilante, os resultados sobre cada caso
15.7.3.  Prescrição do Ato Administrativo concreto estão na dependência dos tribunais;

1. Prescrição judicial - é o perecimento da ação judicial em virtude 2. Prescrição Administrativa - significa término do prazo para
do decurso do prazo legal para sua interposição ou, em razão do recorrer de decisão administrativa, apreciar direitos e obrigações
abandono da causa durante a tramitação do processo.

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dos particulares frente ao Poder Público e aplicar penalidades A responsabilidade civil, como descrito acima, é de cunho
administrativas. patrimonial, sendo assim, com a possibilidade de responsabilização
do Estado, a pessoa tem assegurada a certeza de que todo dano a
Existe uma enormidade de leis municipais oriundas de cerca de direito seu causado pela ação ou omissão de qualquer funcionário
5500 Municípios brasileiros, onde não há uma regra geral, havendo público, no desempenho de suas atividades, será ressarcido por
somente uma legislação que disciplina vários assuntos em cada um esse.
deles, ou seja, os prazos são estabelecidos pelo próprio Município. Há quem defenda que o termo responsabilidade civil do Estado
Torna-se importante ressaltar que a prescrição administrativa é equivocada, pois o Estado é uma pessoa jurídica, portanto não
não interfere na prescrição judicial. Se houve a prescrição tem personalidade jurídica, ou seja, não é titular de obrigações e
administrativa, a Administração não pode mais aplicar a sanção. direitos no âmbito civil. Maria Sylvia Zanella Di Pietro³, é uma das
Como não há um Código, é uma situação trabalhosa para o advogado, que defendem esta corrente, afirmando ser correta à expressão
pois cada Município tem as suas regras administrativas próprias. Responsabilidade Extracontratual do Estado, ficando excluída a
Os prazos de prescrição administrativa são sempre menores que modalidade de responsabilidade contratual. Sendo assim,
os da prescrição judicial. Na maioria das vezes ocorre a prescrição A responsabilidade extracontratual do Estado corresponde à
administrativa sem ocorrer a prescrição judicial. Assim, os prazos obrigação de reparar danos causados a terceiros em decorrência de
administrativos não obstaculizam as ações judiciais, desde que comportamentos comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos,
nestas não tenha ocorrido a prescrição. lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos.
Em resumo, a prescrição administrativa nada mais é do que o Esta responsabilidade recai sobre os três tipos de poderes do
término dos prazos para se: Estado, seja ele Legislativo, Executivo ou Judiciário, podendo ser
(1) recorrer de decisão administrativa; estudada sob três diferentes prismas. No entanto, este trabalho
(2) apreciar direitos e obrigações dos particulares frente ao enfocará apenas a primeira espécie, ressaltando a responsabilidade
Poder Público; resultante de comportamentos da Administração Pública.
(3) aplicar penalidades administrativas.
16.2.  TEORIAS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Tudo isso pode ser resumido nas seguintes hipóteses:
a. o perecimento do direito de pleitear do servidor e do Falar sobre as teorias que tratam da Responsabilidade Civil Estatal
particular; é, fazer um estudo da evolução histórica deste instituto. Pode-se
b. o perecimento do direito de punir da Administração Pública. definir como sendo três as suas principais teorias, quais sejam:
teoria da irresponsabilidade; teorias civilistas, que se desdobram
Assim, quando o servidor faz o pedido de algum direito para em teoria dos atos de império e de gestão e em teoria da culpa
a Administração e, tenha havido prescrição deste direito, ela civil; e teoria publicistas, que se divide em teoria da culpa da
benevolentemente poderá atendê-lo. Isto pode ser visto, por ex., no responsabilidade subjetiva e teoria da responsabilidade objetiva.
caso do inspetor de alunos que esqueceu de requerer férias dentro
do prazo ou do funcionário público que perdeu o prazo requerer o 16.2.1.  TEORIA DA IRRESPONSABILIDADE
pagamento do salário família.
Esta teoria parte do princípio de que o Estado e a sua autoridade são
16. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO incontestáveis. Esta teoria surgiu no período do Estado Absolutista
e se baseava na idéia de que o rei não poderia errar e a quod principi
16.1.  ASPECTOS GERAIS placuide habet legis vigorem. No entanto, logo esta teoria passou
a ser contestada pelos cidadãos que estavam sobre sua égide,
A vida em sociedade pressupõe um complexo de relações ensejadas pois sua injustiça era gritante. O Estado era elevado a um status
por interesses de toda ordem. Quando um interesse protegido de intangibilidade jurídica quando da pratica de atos lesivos a
pelo Direito é injustamente lesionado, é necessário que haja o seu terceiros, ainda mais sendo ele guardião do Direito, nunca poderia
ressarcimento por quem o feriu. O Código Civil Brasileiro trata da deixar de responder por ações ou omissões causadoras de danos a
matéria em seus artigos 186, 187 e 927 a 987. terceiros.
Um grande avanço no instituto da Responsabilidade Civil está Os cidadãos, no entanto, não estavam totalmente desprotegidos
na consagração da responsabilidade civil do Estado, que visa a em face do Estado soberano, pois era admitida a responsabilização
defesa do indivíduo em face do Poder Público. Dessa forma pode- quando leis específicas a previssem explicitamente, como era
se conceituar Responsabilidade Civil do Estado como sendo o o caso, na França, de danos oriundos de obras públicas, por
“dever do Estado de responder pelos danos causados por órgãos, disposição da Lei 28 pluvioso do Ano VIII, bem como pela admissão
independentemente da intenção destes”. da responsabilidade do funcionário, quando o ato lesivo partiu de
Ainda segundo Celso Antonio Bandeira de Mello, responsabilidade um comportamento pessoal, seu.
civil do Estado é:
16.2.2.  TEORIAS CIVILISTAS
“A obrigação que lhe incumbe de reparar economicamente os
danos lesivos à esfera juridicamente garantida de outrem e A teoria da irresponsabilidade ficou finalmente superada no século
que lhe sejam imputáveis em decorrência de comportamentos XIX, a partir daí começou-se a admitir a responsabilidade do Estado
unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos, enquanto agente causador de danos, sendo criadas várias teorias a
materiais ou jurídicos”. este respeito. Tais teorias receberam o nome de civilistas devido a
adotarem os ensinamentos do Direito Civil, que prega que o agente
causador de danos deve ser responsabilizado.

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16.2.2.1.  TEORIA DOS ATOS DE IMPÉRIO E DE GESTÃO 16.3.  TEORIAS PUBLICISTAS

A doutrina civilista que baseava para fins de responsabilidade O fim do pensamento civilista se deu através de uma jurisprudência
estatal a distinção entre a natureza dos atos de império e dos atos francesa, do famoso caso Blanco8. Deste ponto se iniciou a
de gestão, estabelecendo que apenas os de gestão, praticados pelo junção da questão da Responsabilidade Estatal aos princípios de
poder público, seriam passiveis de controle da responsabilidade Direito Público, surgindo às chamadas teorias publicistas, que se
jurídica. baseavam nas idéias de responsabilidade subjetiva, que é baseada
É necessário observar que a base da responsabilidade civil do na culpa, e da responsabilidade objetiva, que é baseada no simples
Estado é edificada ao final do século XIX, advindo da Revolução fato gerador e no efeito que este produziu.
Industrial, donde se originou a figura do Estado empresário.
Separou-se, então, a atividade do Estado em atos de império e 16.3.1.  TEORIA DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
atos de gestão, para obrigá-lo a reparar os danos causados no
desempenho destes últimos em relação aos serviços públicos, por A evolução da responsabilidade do Estado foi longa até aqui,
se entender que nestes casos a sua atuação assemelhava-se a de desenvolvendo-se até chegar ao ponto de poder acionar o Estado
qualquer cidadão. como se acionaria uma outra pessoa qualquer.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro distingue bem os atos de império A responsabilidade subjetiva quer significar o dever imposto a
dos atos de gestão, dizendo que: alguém de indenizar outrem, por ter agido, o primeiro, de modo a
confrontar o ordenamento jurídico, agir este que pode ser doloso ou
“Os primeiros seriam os praticados pela Administração com culposo, causando, ao segundo, um dano material ou jurídico, tendo
todas as prerrogativas e privilégios de autoridade e impostos em vista a prática de um ato comissivo ou omissivo.
unilateral e coercitivamente ao particular independentemente A responsabilidade subjetiva é conceituada por Celso Antonio
de autorização judicial, sendo regidos por um direito especial, Bandeira de Mello, como “a obrigação de indenizar que incumbe a
exorbitante do direito comum, porque os particulares não alguém em razão de um procedimento contrário ao direito – culposo
podem praticar atos semelhante; os segundos seriam ou doloso – consistente em causar um dano a outrem ou em deixar
praticados pela Administração em situação de igualdade com de impedi-lo quando obrigado a isto”. Hely Lopes Meirelles, a
os particulares, para a conservação e desenvolvimento do respeito do assunto afirma que:
patrimônio público e para a gestão de seus serviços”;
“A teoria da culpa administrativa representa o primeiro
Esta distinção é de grande importância, pois como dito estágio da transição entre a doutrina subjetiva da culpa civil
anteriormente, ela veio abrandar a idéia da irresponsabilidade do e a tese objetiva do risco administrativo, pois leva em conta
Estado, que agora responde por atos de gestão, ou seja, faz uma a falta do serviço para dela inferir a culpa da Administração.
diferenciação entre os atos praticados pela pessoa do Estado e a É o estabelecimento do binômio falta do serviço - culpa da
pessoa do Rei, pois este pratica os atos de império, os quais não Administração. Já aqui não se perquire da culpa subjetiva do
abrangem, ainda, a responsabilidade. agente administrativo, mas perquire-se a falta do serviço em
Entretanto, tal teoria foi sofrendo várias críticas pela si mesmo, como gerador da obrigação de indenizar o dano
impossibilidade de divisão da responsabilidade, bem como pela causado a terceiro. Exige-se, também, uma culpa, mas uma
dificuldade de açambarcar todos os atos da administração pública culpa especial da Administração, a que se convencionou
dentro dos atos de gestão. chamar culpa administrativa”.

16.2.2.2.  TEORIA DA CULPA CIVIL Para a teoria da responsabilidade subjetiva do Estado não se faz
necessária a individualização do agente que agiu culposamente
Depois que a teoria dos atos de império e de gestão foi superada para a deflagração do dever de indenizar pelo Estado, basta a idéia
alguns doutrinadores deram seqüência às idéias dos civilistas. trazida pela doutrina francesa de faute du service, ou seja, “culpa
Acreditavam que para a imputação da responsabilidade pelos atos do serviço”.
da pessoa política bastava a noção de culpa, latu sensu, no ato da A noção, então, desvincula-se da idéia de culpa do agente ou
Administração através de seus agentes ou prepostos. delegado de serviços públicos para passar a significar falta, culpa
Pode-se dizer que ao aferir a responsabilidade do Estado do serviço, ou seja, o serviço público deixa de funcionar, funciona
verificava-se se ele funcionou, e se funcionou se estava atrasado, incorretamente ou indevidamente ou, ainda, funciona tardiamente.
ou ainda se funcionou mal. Estes três itens são independentes de É dizer: a consecução do serviço público que encerre uma das
culpa do agente público. Na aplicação da teoria subjetiva, teria de hipóteses da denominada tríplice modalidade– omissão, funcionou
se analisar o Estado quanto os fatores apresentados, não havendo defeituosa ou tardiamente-, é motivo suficiente para que se faculte
culpa do Estado, é responsabilizado agente da Administra. ao administrado o pleiteio, perante os órgãos competentes, a
Com a evolução do Direito o pensamento civilista foi sendo reparação do dano daí decorrente.
substituído pelas normas e princípios de Direito Público que Comprovando o Estado que no seu agir, o fez diligentemente,
passaram a atuar nas diversas relações existentes entre o próprio estará este isento da obrigação de reparar o dano o que, em caso de
Estado e seus administrados regendo também a questão da objetividade da conduta, restaria impossível.
responsabilidade civil do Estado. Por isso é que entende Celso Antônio Bandeira de Mello que havia
responsabilidade subjetiva quando:

“A conduta geradora de dano revele deliberação na prática do


comportamento proibido ou desatendimento indesejado dos

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padrões de empenho, atenção ou habilidade normais (culpa) assim, somente quando o Estado se omitir diante do dever legal de
legalmente exigíveis, de tal sorte que o direito em uma ou impedir a ocorrência do dano é que será responsável civilmente e
outra hipótese resulta transgredido”. obrigado a repará-lo.
Neste mesmo sentido Celso Antônio Bandeira de Mello afirma que
Diante destes argumentos parece irrefutável a noção de que a “não bastará, então, para confirmar-se responsabilidade estatal,
teoria da faute du service enquadre-se perfeitamente na chamada a simples relação entre ausência do serviço (omissão estatal) e o
responsabilidade subjetiva do Estado para as suas condutas dano sofrido”. Sendo assim, é necessário que a omissão estatal fira
omissivas. o cumprimento de um dever legal, ou seja, quando o Estado tem a
obrigação de agir e não age.
16.3.2.  TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA O princípio maior que rege os atos administrativos praticados
pelo Estado, é o princípio da legalidade. Tal princípio nos revela que
A teoria objetiva também é chamada de teoria do risco, pois tem a Administração Pública somente poderá fazer ou deixar de fazer
como ponto inicial a idéia de que a atuação estatal envolve um risco algo que esteja descrito por lei. No entanto, em sua grande maioria
de dano. os atos administrativos são atos vinculados, sendo que nos atos
Sendo que nesta teoria a responsabilidade independe do elemento discricionários também pesa tal princípio, visto que a liberdade
culpa sendo levado em consideração apenas o nexo causal entre o de decisão que a norma prescreve ao agente possui, sempre, um
ato público e dano causado ao administrado. limite, posto pela própria lei.
A professora Maria Silvia Zanella Di Pietro nos ensina que: Na responsabilidade do Estado por conduta omissiva, o agente
tem o dever de agir, estabelecido em lei, mas, desobedecendo-a,
“Essa doutrina baseia-se no princípio da igualdade do ônus não age. Por não ter agido, causou um dano ao particular. Portanto,
e encargos sociais: assim como os benefícios decorrentes trata-se de uma conduta ilícita, isto é, contrária à lei. Logo, feriu-se
da atuação estatal repartem-se por todos, também os o princípio da legalidade.
prejuízos sofridos por alguns membros da sociedade devem Assim sendo, a Responsabilidade Civil do Estado só ocorrerá
ser repartidos. Quando uma pessoa sofre um ônus maior do quando, se tratar de omissão, a partir do momento em que estejam
que o suportado pelas demais, rompe-se o equilíbrio que presentes os elementos que caracterizam a culpa. Neste diapasão
necessariamente tem de haver entre os encargos sociais; José dos Santos Carvalho Filho afirma que:
para estabelecer esse equilíbrio o Estado deve indenizar o
prejudicado, utilizando recursos do erário público”. “A culpa origina-se, na espécie, de descumprimento do dever
legal, atribuído ao Poder Público, de impedir a consumação do
Encontra-se suporte jurídico, quanto ao assunto, na Constituição da dano. Resulta, por conseguinte, que, nas omissões estatais,
República, que determina: a teoria da responsabilidade objetiva não tem perfeita
aplicabilidade, como ocorre nas condutas comissivas”.
“Art. 37 - [...][...]
§ 6° - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito Quando se fala no dever jurídico da atuação do Estado no
privado prestadoras de serviço público responderão pelos sentido de prevenir certo evento danoso e este não o faz, para
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, a sua responsabilização se faz mister a averiguação de que o
assegurando o direito de regresso contra o responsável nos Estado agiu com imprudência, imperícia, negligência ou ainda
casos de dolo ou culpa”. dolo, caracterizando seu agir ilícito e, portanto, passível de
responsabilidade com fundamento na teoria subjetiva.
Sendo assim, basta que haja relação de causalidade entre o A maioria da doutrina entende que a regra do artigo 37,
comportamento comissivo ou omissivo do Estado para que §6º da Constituição Federal é uma regra objetiva, no entanto
seja caracterizada esta teoria. Portanto, tem-se então para a a jurisprudência pátria já vem aceitando, em alguns casos,
configuração da teoria objetiva da responsabilidade que ter uma a responsabilidade civil do Estado por atos omissivos com
ação do Estado lícita ou ilícita, que cause dano à esfera juridicamente fundamento na teoria subjetiva, conforme se vê do julgado do
protegida de outrem e que haja um nexo de causalidade entre o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:
comportamento do Estado e o dano.
“INDENIZAÇÃO – PEDESTRE – BUEIRO – QUEDA – LESÕES
16.4.  RESPONSABILIDADE POR ATOS OMISSIVOS INDELÉVEIS NA PELE – RESPONSABILIDADE DO ESTADO –
SUBJETIVA – OMISSÃO – PRESTAÇÃO DE SERVIÇO PÚBLICO
O Estado causa danos a terceiros por ação e por omissão. Quando DEFICIENTE – AUSÊNCIA DE FISCALIZAÇÃO E VIGILÂNCIA –
o fato gerador do dano é omissivo, estes podem ser através de PROCEDENCIA DA POSTULAÇÃO.
uma conduta culposa ou não. A responsabilidade do Estado se É devida a indenização a pedestre que, ao passar por cima de um
verificará pela presença dos seus pressupostos, quais sejam: o bueiro, localizado em uma calçada, vem a cair e sofrer lesões
fato administrativo, que segundo Helly Lopes Meirelles “é toda indeléveis na pele, posto que a responsabilidade do Estado,
realização material da Administração em cumprimento de alguma nesta hipótese é subjetiva, decorrente da omissão em prestar
decisão administrativa”, o dano, que seria o prejuízo sofrido por serviço eficiente, o qual, ao contrário, apresentou-se deficiente
terceiro, e o nexo causal. e carecedor da indispensável fiscalização e vigilância.” (Ac. 6ª
Quando se tratar de uma conduta omissiva do Estado, será Câm. Civ. Do TJMG, na Ap. Cív. 1.0000.00.240659-3, DJ 10-12-02).
preciso distinguir se a omissão constitui ou não fato gerador da
responsabilidade civil do Estado, pois nem toda a conduta omissiva Podemos dizer então, que a Administração Pública responde sim,
retrata um descaso do Estado em cumprir um dever legal. Sendo pelos atos e serviços omissivos que venham a lesionar particulares,

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tendo estes que provar a culpa pelo dano causado, caracterizando devem ser aplicados na estrita identificação com o princípio
assim, a responsabilidade subjetiva da Administração. da legalidade.

16.5.  CONCLUSÃO (CESPE_MPE_TO_PROMOTOR DE JUSTIÇA ) Acerca dos princípios


do direito administrativo, julgue os itens seguintes.
A responsabilidade civil do Estado está prescrita em nossa
Constituição Federal, através de seu artigo 37, § 6º, que estabelece 6.( ) Apesar do princípio da publicidade e do direito de acesso do
que: cidadão a dados a seu respeito, nem toda informação pode
ser transmitida ao interessado, mesmo que se relacione
“Art. 37 [...], [...] § 6º: As pessoas jurídicas de direito público com sua pessoa.
e as de direito privado]prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, 7.( ) Os princípios do direito administrativo são monovalentes,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra isto é, aplicam-se exclusivamente a esse ramo do direito.
o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
8.( ) A despeito do princípio da supremacia do interesse público,
O referido artigo não diferenciou as condutas comissivas e nem sempre o interesse público secundário deverá
omissivas, colocando o vocábulo causarem com o sentido de prevalecer sobre o direito de um cidadão individualmente
“causarem por ação ou omissão”, pois caso contrário o legislador considerado.
teria estabelecido apenas a responsabilidade objetiva para os
casos de conduta comissiva, o que é inaceitável, perante os avanços (CESPE_STJ_ANALISTA JUDICIÁRIO ) Com relação à administração
em outras matérias constitucionais. pública, à estrutura, à organização, às atividades administrativas e
O dispositivo legal deixou abertura para a aplicação da aos atos e poderes administrativos, julgue os itens que se seguem.
teoria subjetiva, que acontece quando os danos causados pela
Administração Pública se dá por uma omissão Estatal. Esta 9.( ) O pedido de reconsideração e o recurso hierárquico se
possibilidade de responsabilização veio assegurar o direito da conformam em vias judiciais, as quais intentam a supressão
pessoa de ser indenizado caso o Estado tenha o dever legal de agir de ilegalidade de determinada decisão administrativa.
e não o faz.
Como foi demonstrado, grande foi à evolução deste instituto no (CESPE_STJ_ANALISTA JUDICIÁRIO ) Acerca das figuras da
Direito pátrio, sendo de grande importância a sua aplicação não só organização administrativa, julgue os itens subseqüentes.
no sentido de ressarcir danos causados, mais também, no sentido
de prevenir abusos por parte da Administração Pública. 10.( )
As autarquias podem ser controladas por meio da
legitimidade ou do mérito, sendo que neste último se
EXERCÍCIOS verifica a conveniência ou a oportunidade.

(CESPE_PROMOTOR DE JUSTIÇA AM ) Acerca da principiologia do 11.( ) As empresas estatais não estão submetidas à
direito administrativo, julgue os itens. responsabilização objetiva, pois adotam critérios próprios
em virtude da condição de prestadoras de serviço público.
1.( ) Explícita ou implicitamente, os princípios do direito
administrativo que informam a atividade da administração 12.( ) Tanto as empresas públicas quanto as sociedades de
pública devem ser extraídos da CF. economia mista prestadoras de serviço estão submetidas
ao processo falimentar, sendo que as ações relativas a elas
2.( ) Os princípios que regem a atividade da administração são de competência da justiça federal.
pública e que estão expressamente previstos na CF são
os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e 13.( ) Diferentemente das empresas públicas, as sociedades de
publicidade. economia mista devem se inscrever obrigatoriamente na
modalidade de sociedade anônima.
3.( ) A lei que trata dos processos administrativos no
âmbito federal previu outros princípios norteadores da (CESPE_TRE/MA_ANALISTA JUDICIÁRIO ) Comparativamente,
administração pública. Tal previsão extrapolou o âmbito podemos dizer que o governo comanda com responsabilidade
constitucional, o que gerou a inconstitucionalidade da constitucional e política, mas sem responsabilidade profissional
referida norma. pela execução. Isto não quer dizer que a administração não tenha
poder de decisão, mas tem somente na área de suas atribuições e
4.( ) O princípio da legalidade no âmbito da administração nos limites legais de sua competência executiva.
pública identifica-se com a formulação genérica, fundada Hely Lopes Meirelles. Direito administrativo brasileiro.
em ideais liberais, segundo a qual ninguém é obrigado a São Paulo: Malheiros, 2000, p. 65 (com adaptações).
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei. Acerca do tema organização administrativa e seus princípios,
julgue os itens.
5.( ) Os princípios da moralidade e da eficiência da administração
pública, por serem dotados de alta carga de abstração, 14.( )
Os órgãos públicos integram a estrutura do Estado e das
carecem de densidade normativa. Assim, tais princípios demais pessoas jurídicas como partes desses corpos vivos.

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Os órgãos públicos possuem personalidade jurídica própria (CESPE_PROCURADOR DO ESTADO DO CEARÁ) Julgue os itens
e mantêm relações funcionais entre si com terceiros, das abaixo, relativos à organização administrativa.
quais resultam efeitos jurídicos internos e externos, na
forma legal ou regulamentar. 26.( )
Os bens e as rendas das autarquias são patrimônio público,
porém com uma destinação especial e sob administração da
15.( ) A eficácia de toda atividade administrativa pública está entidade à qual foram incorporados.
condicionada ao atendimento da lei, do direito, da moral e
dos bons costumes de uma sociedade. 27.( )
A criação de subsidiárias de sociedades de economia mista
depende de autorização legislativa.
16.( ) A moralidade do ato administrativo juntamente com sua
legalidade e finalidade, além da sua adequação aos demais 28.( )
Cabe à lei complementar definir as áreas de atuação das
princípios, constituem pressupostos de validade sem os fundações.
quais toda atividade pública será ilegítima.
(CESPE_TRE/PA_ANALISTA JUDICIÁRIO) Com relação à
17.( ) A publicidade, como princípio de administração pública, descentralização e à desconcentração na administração pública,
abrange toda atuação estatal e não-estatal, não só sob o julgue os itens.
aspecto de divulgação oficial de seus atos como também
de propiciação de conhecimento da conduta interna de seus 29.( )
A descentralização é a distribuição interna de competências
agentes, tais como pareceres, processos em andamento, com o objetivo de tirar do centro da direção da administração
despachos intermediários e finais. pública um volume grande de atribuições, para permitir
o mais adequado e racional desempenho de uma pessoa
(CESPE_PROCURADOR DO ESTADO DO CEARÁ ) Com referência aos jurídica.
poderes da administração, julgue os itens.
30.( )
A descentralização possui como característica o fato de
18.( )
Os poderes administrativos são instrumentais, sendo que as atribuições, exercidas pelos entes descentralizados,
utilizados pela administração pública para cumprir suas só têm valor jurídico quando decorrentes da lei maior, a
finalidades. Constituição Federal.

19.( ) A inexistência de vinculação absoluta permite à 31.( ) O ente decorrente da desconcentração age por outorga
administração pública apreciar aspectos de conveniência, do serviço ou atividade ou por delegação de sua execução,
interesse público e de forma, quando no uso do seu poder sempre em nome do Estado, detentor do poder da
vinculado. administração pública.

20.( )
A discricionariedade da administração pública aplica-se 32.( )
Como decorrência do processo de descentralização, surgem
apenas aos aspectos de conteúdo e de oportunidade do ato as entidades estatais e paraestatais tais como o Banco
administrativo. Central do Brasil, o Ministério da Fazenda, a EMBRAPA, o
SERPRO, entre outras.
21.( ) Com o uso do poder hierárquico, é sempre possível a
invalidação, pela autoridade superior, dos atos praticados (CESPE_ANALISTA JUDICIARIO_TRE_MA) Ocorre a chamada
por seus subordinados. descentralização administrativa quando o Estado desempenha
sua função indiretamente, por meio de outras entidades. A
22.( )
Caso o Poder Executivo exorbite na utilização de seu poder descentralização requer, assim, duas pessoas jurídicas distintas:
regulamentar, o Poder Legislativo poderá anular o ato o Estado, como titular da atividade, e a entidade que executará
normativo editado. o serviço por ter recebido essa atribuição. A doutrina indica
duas maneiras para que o Estado efetive a descentralização
(CESPE_PROCURADOR DO ESTADO DO CEARÁ) Com relação à administrativa: outorga e delegação. Julgue os itens a respeito
organização administrativa, julgue os itens. desse tema.

23.( )
No direito brasileiro, as agências reguladoras são 33.( )
Descentralização é o mesmo que desconcentração.
autarquias sob regime especial, o qual se caracteriza pela
independência administrativa, pela autonomia financeira e 34.( )
Nos contratos de concessão de serviço público, verifica-se
pelo poder normativo dessas agências. a descentralização por outorga.

24.( )
A instituição de autarquias ocorre por meio de decreto, 35.( )
A descentralização é efetivada por meio de outorga
o qual aprova o regulamento ou estatuto da entidade e quando o Estado transfere, por contrato ou ato unilateral,
transfere os bens que compõem seu patrimônio inicial. unicamente a execução de um serviço para que o ente o
preste ao público em seu nome e por sua conta e risco.
25.( )
As sociedades de economia mista e as empresas públicas
têm em comum a sua criação por lei. 36.( )
Quando o Estado cria uma autarquia e a ela transfere certa
atividade administrativa, ocorre a descentralização por
delegação.

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37.( )
A descentralização deve ser efetivada por outorga quando agentes públicos. Há divergências de nomenclatura e de extensão
o Estado cria uma entidade e a ela transfere, por lei, a do rol de cada classificador. Alguns discriminam cinco espécies de
execução de determinado serviço público. agentes públicos, outros, recorrendo a rótulos diversos, reduzem o
elenco ou, mesmo mantendo o número de espécies, atribuem-lhes
(CESPE_ANALISTA JUDICIARIO_TRE_MA) De acordo com Hely Lopes novas referências — talvez por sinceras questões metodológicas e
Meirelles (Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, científicas ou, quem sabe, pela vaidade do ineditismo. Internet:
2004, p. 85), a natureza da administração pública é a de um múnus <www.universojuridico.com.br>.
público para quem a exerce, isto é, a de um encargo de defesa,
conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses Embora existam várias categorias doutrinárias de agentes públicos
da coletividade. Nesse sentido, julgue os itens acerca do tema não- coincidentes, é possível identificar algumas nomenclaturas e
administração direta e indireta, centralizada e descentralizada. classificações de uso muito comum no direito administrativo. Com
base nessas categorias, julgue os itens acerca das espécies de
38.( )
Quando o poder público presta um serviço por seus próprios agentes públicos.
órgãos em seu nome e sob a sua exclusiva responsabilidade,
tal serviço é caracterizado como centralizado. 47.( )
Agentes políticos são os que prestam serviços públicos
obrigatórios, sem remuneração, mediante mandato, mas
39.( )
Se o Estado cria uma entidade e a ela transfere, por lei, com prévia submissão a concurso público.
determinado serviço público ou de utilidade pública, então
o Estado está descentralizando seu poder via outorga. 48.( )
Os particulares em colaboração com a administração
GABARITO: pública se submetem a eleição e recebem remuneração que
não deriva da fonte do serviço por eles realizado.
40.( )
Há delegação quando o Estado transfere, por contrato de
concessão ou ato unilateral via permissão ou autorização, 49.( )
Agentes honoríficos são os titulares dos cargos estruturais
unicamente a execução do serviço para que um delegado o à organização política do país, ou seja, ocupantes que
preste ao público em seu nome e por sua conta e risco, nas integram o arcabouço constitucional do Estado.
condições regulamentares e sob controle estatal.
50.( )
Agente público é uma expressão que engloba toda e
41.( )
A autarquia é uma forma de descentralização administrativa qualquer pessoa que, de qualquer maneira e a qualquer
para a qual foram outorgados serviços públicos típicos título, exerce uma função pública, ou seja, pratica atos
ou as atividades industriais ou econômicas que sejam imputáveis ao poder público, tendo sido investido de
exclusivamente de interesse coletivo. competência para isso.

42.( )
A descentralização pode ser territorial ou geográfica, (CESPE_AGU_PROCURADOR FEDERAL) Julgue os itens que se
quando se estende a descentralização da União aos seguem, relativos à discricionariedade dos atos da administração.
estados-membros e destes aos municípios, ou institucional,
quando há transferência do serviço ou da sua execução da 51.( ) A reserva do possível pode ser sempre invocada pelo Estado
entidade estatal para suas autarquias e fundações. com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas
obrigações constitucionais que impliquem custo financeiro.
(CESPE_TJ/RR_OFICIAL DE JUSTIÇA) Na organização administrativa
da União podem ser encontradas figuras jurídicas como órgãos, 52.( )
As dúvidas sobre a margem de discricionariedade
entidades e autoridades. Julgue os itens acerca dessas figuras. administrativa devem ser dirimidas pela própria
administração, jamais pelo Poder Judiciário.
43.( )
Entidades são centros internos de competência, integrados
por pessoas administrativas, com a finalidade de melhor 53.( )
O ato disciplinar é vinculado, deixando a lei pequenas
organizar a atuação dessas pessoas. GABARITO: margens de discricionariedade à administração, que não
pode demitir ou aplicar quaisquer penalidades contrárias à
44.( )
A mais notável característica dos órgãos é o fato de serem lei, ou em desconformidade com suas disposições.
dotados de personalidade jurídica própria.
(CESPE_PROCURADOR DO ESTADO DO CEARÁ) Com relação aos
45.( )
Entidades não detêm personalidade judiciária, ou seja, não atos administrativos, julgue os itens.
têm a capacidade de assumir a condição de parte em uma
lide processual. 54.( )
É sempre possível à administração pública revogar atos
administrativos contrários ao interesse público, desde que
46.( )
A noção de autoridade tem mais de um sentido, pode não tenha ocorrido a preclusão ou a prescrição.
comportar o conceito de sujeito, um servidor dotado
de poder de decisão, e pode ter o sentido de poder 55.( )
Em todos os atos administrativos discricionários, o requisito
administrativo. GABARITO: objeto relaciona-se com o mérito administrativo.

(CESPE_TJ/RR_OFICIAL DE JUSTIÇA) Deitando a atenção sobre 56.( )


Embora intransferível, a competência para a prática de um
lições de direito administrativo, constata-se que há uma vasta ato administrativo sempre poderá ser objeto de delegação
elaboração doutrinária acerca da classificação dos chamados ou avocação.

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Direito Administrativo | Leandro Pereira

57.( )
A auto-executoriedade é atributo de todos os atos ter aplicado, de ofício, a pena de advertência, desde que
administrativos, uma vez que eles têm p o r finalidade a houvesse dado ao agente chance para que apresentasse
realização do bem comum. GABARITO: sua defesa.

(CESPE_TJDFT_ANALISTA JUDICIÁRIO) Acerca da discricionariedade 65.( )


A punição administrativa do referido agente de segurança
e do controle judicial dos atos da administração pública, julgue os não afastaria a possibilidade de sua punição nos planos
itens subseqüentes. penal e civil, com relação ao mesmo ato.

58.( )
Mesmo nos atos discricionários, não há margem para que (CESPE_TSE_TÉCNICO JUDICIÁRIO) De acordo com o princípio
o administrador atue com excessos ou desvio de poder, administrativo da autotutela, julgue os itens.
competindo ao Poder Judiciário o controle cabível.
66.( )
Os atos administrativos são auto- executórios.
59.( )
A possibilidade da análise de mérito dos atos administrativos,
ainda que tenha por base os princípios constitucionais da 67.( )
A administração pública pode anular, de ofício, seus próprios
administração pública, ofende o princípio da separação dos atos, quando ilegais.
poderes e o estado democrático de direito.
(CESPE_DEFENSOR PÚBLICO_AC) Acerca dos atos administrativos
60.( )
O Poder Judiciário poderá exercer amplo controle e de sua abordagem pela doutrina, julgue os itens:
sobre os atos administrativos discricionários quando o
administrador, ao utilizar-se indevidamente dos critérios 68.( )
São atributos dos atos administrativos: a imperatividade,
de conveniência e oportunidade, desviar-se da finalidade de a auto-executoriedade e a presunção de legitimidade ou
persecução do interesse público. veracidade.

(CESPE_TST_TÉCNICO JUDICIÁRIO_) Uma autoridade administrativa 69.( )


Todo ato administrativo discricionário deve ter,
do TST, no exercício de sua competência, editou ato administrativo necessariamente, um motivo ou uma motivação.
que determinava a instalação de detectores de metais nas entradas
da sede do Tribunal e estabelecia que todas as pessoas deveriam (CESPE_PREF. MUNICIPAL PROCURADOR JURÍDICO_RIO BRANCO)
submeter- se ao detector e que somente poderiam ingressar no Acerca do princípio da autotutela, dos atos administrativos, da Lei
edifício ou sair dele caso apresentassem aos agentes da segurança n.º 9.784/1999 e da responsabilidade civil do Estado, julgue os itens
todos os pertences de metal. Porém, seis meses depois da instalação seguintes.
dos detectores, as reclamações dirigidas à administração do TST
fizeram com que a autoridade editasse ato anulando a referida 70.( )
O poder que tem a administração de anular qualquer ato
determinação, por considerar que ela não alcançou devidamente os administrativo ilegal está subordinado, no âmbito federal,
seus objetivos. a prazo decadencial de 5 anos.

Acerca da situação hipotética descrita no texto, julgue os itens a 71.( ) No âmbito da responsabilidade civil do Estado, a Constituição
seguir. Federal de 1988 adotou a teoria do risco administrativo.
Dessa forma, a responsabilidade objetiva será afastada se
61.( ) O ato que determinou a instalação dos detectores de metais o Estado comprovar, como matéria de defesa, a ausência
é um ato administrativo discricionário. do nexo causal entre o dano e a ação do Estado, como, por
exemplo, a culpa exclusiva da vítima ou de terceiro ou,
62.( )
Os motivos alegados pela referida autoridade para ainda, força maior ou caso fortuito.
invalidar o ato deveriam conduzir à sua revogação, e não, à
sua anulação. (CESPE_TRE/MA_ANALISTA JUDICIÁRIO) No que se refere a atos
administrativos, julgue os itens.
Considere que, ao avaliar a execução das determinações descritas
no texto, o chefe da divisão de segurança tenha observado que um 72.( )
Não há violação do requisito finalidade na hipótese de
dos agentes de segurança a ele subordinados atuava com racismo remoção de ofício de servidor, como forma de punição.
e preconceito, fazendo verificação cuidadosa de determinadas
pessoas e, sistematicamente, deixando outras pessoas passarem 73.( )
Na hipótese de desapropriação pelo Estado de propriedade
sem qualquer tipo de verificação. Em função disso, o chefe tomou as de desafeto do chefe do Poder Executivo, com o fim de
providências cabíveis para possibilitar a instauração de sindicância prejudicá-lo, não há desvio de finalidade.
que apurasse a referida situação. Tendo em vista essa situação
hipotética, julgue os itens abaixo. 74.( )
O requisito da competência, quando é exercida além dos
limites estabelecidos na lei, dá lugar a uma das modalidades
63.( )
O referido agente de segurança atuou em desconformidade de abuso de poder, denominada desvio de poder.
com os princípios constitucionais da administração pública
e praticou infração administrativa disciplinar. 75.( )
Mesmo diante da margem de liberdade de escolha da
conveniência e oportunidade concedida à administração,
64.( )
O chefe da divisão de segurança tem poder disciplinar é necessária a adequada motivação, explícita, clara e
sobre o referido agente de segurança e, portanto, poderia

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congruente, do ato discricionário que nega, limita ou afeta 86.( )


No exercício do poder de polícia, a administração pública
direitos ou interesses dos administrados. está autorizada a tomar medidas preventivas e não apenas
repressivas.
76.( )
Os atos discricionários não estão sujeitos à apreciação
judicial em hipótese alguma. 87.( )
Do objeto do poder de polícia exige-se tão- somente a
licitude. A discussão acerca da proporcionalidade do ato de
(CESPE_TRF 5ª REGIÃO_JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO) Julgue os itens poder de polícia é matéria que escapa à apreciação de sua
que se seguem, acerca do controle dos atos administrativos e da legalidade.
improbidade administrativa, bem como dos precedentes do STF.
88.( )
Programa de restrição ao trânsito de veículos automotores,
77.( )
O servidor público não pode sofrer a pena de perda do em esquema conhecido como rodízio de carros, é ato que
cargo público, em face de improbidade administrativa, em se insere na conceituação de poder de polícia, visto ser
decorrência exclusiva de decisão administrativa proferida uma atividade realizada pelo Estado com vistas a coibir
em sede de processo administrativo disciplinar. ou limitar o exercício dos direitos individuais em prol do
interesse público.
(CESPE_AGU_ADVOGADO DA UNIÃO) Com relação aos atos
administrativos, julgue os itens seguintes. (CESPE_TSE_TÉCNICO JUDICIÁRIO) No tocante ao que caracteriza
exercício de poder de polícia administrativa, julgue os itens.
78.( )
Nos atos discricionários, cabe à administração pública
a valoração dos motivos e do objeto quanto à sua 89.( )
A aplicação de uma penalidade de suspensão a servidor que
oportunidade, conveniência, eficiência e justiça. infringiu reiteradamente deveres funcionais caracteriza
exercício de poder de polícia administrativa.
79.( )
Segundo os defensores da teoria monista das nulidades
dos atos administrativos, todo ato administrativo ilegal 90.( )
A realização de uma sindicância para apurar a culpa de
é nulo, não existindo a hipótese, no âmbito do direito um servidor, acerca de dano causado ao patrimônio da
administrativo, de o ato administrativo ser anulável, uma repartição em que ele trabalha caracteriza exercício de
vez que isso implicaria, no caso de sua não-anulação, a poder de polícia administrativa.
manutenção da validade de atos ilegais.
91.( )
A aplicação de uma multa a restaurante que infringiu
80.( )
No plano federal, a lei admite a convalidação de atos normas ligadas à proteção da saúde pública caracteriza
inexistentes, desde que se evidencie que não acarretam exercício de poder de polícia administrativa.
lesão a interesse público nem prejuízo a terceiros.
92.( )
A apreciação de um recurso contra decisão que indeferiu
81.( )
Considere a seguinte situação hipotética. Em 2004, pedido de concessão de licença para tratar de interesses
revisando, por meio de processo administrativo instaurado particulares caracteriza exercício de poder de polícia
por comissão constituída para essa finalidade, atos de administrativa.
anistia e readmissão no serviço público, praticados em
dezembro de 1998, a administração constatou a readmissão (TÉCNICO JUDICIÁRIO) Um servidor do Tribunal Superior Eleitoral
irregular de um servidor que não fazia jus ao benefício. (TSE) determinou a seus subordinados que eles deveriam tomar
Nessa situação, ainda que comprovada a boa-fé do servidor mais cuidado com o horário e que atrasos superiores a dez minutos
e desde que assegurados os direitos ao contraditório e não seriam tolerados. Julgue os itens.
à ampla defesa, a administração pode anular o ato de
readmissão com base no seu poder de autotutela. 93.( )
Tal determinação constitui exercício de poder disciplinar.

(CESPE_PROCURADOR DO ESTADO CE) Com relação aos atos 94.( )


Tal determinação constitui exercício de poder hierárquico.
administrativos, julguem os itens.
95.( )
Tal determinação constitui exercício de poder de polícia.
82.( )
A revogação do ato administrativo incide sobre ato inválido.
96.( )
Tal determinação constitui exercício de poder regulamentar.
83.( )
A revogação do ato administrativo tem efeitos ex tunc.
(CESPE_TSE_TÉCNICO JUDICIÁRIO) Acerca da destituição de
84.( )
Somente a administração pública possui competência para servidor público ocupante de cargo comissionado que conta com
revogar os atos administrativos por ela praticados. quatro anos de efetivo exercício, julgue os itens.

85.( )
O ato administrativo discricionário é insuscetível de exame 97.( )
Constitui exercício de poder disciplinar.
pelo Poder Judiciário.
98.( )
Constitui exercício de poder de polícia.
(CESPE_TJDFT_ANALISTA JUDICIÁRIO) Acerca do poder de polícia,
julgue os itens que se seguem. 99.( )
Constitui exercício de poder hierárquico.

100.( ) Constitui abuso de poder.

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Direito Administrativo | Leandro Pereira

(CESPE_ ANALISTA JUDICIÁRIO TRT 9ª REGIÃO) Com relação (CESPE_TRE/MA_ANALISTA JUDICIÁRIO) De acordo com a doutrina
aos princípios básicos da administração pública e dos poderes nacional e jurisprudência dominante no STF, julgue os itens.
administrativos, julgue os seguintes itens.
112.( )
Tratando-se de ato omissivo do poder público, a
101.( )
Com base no princípio da segurança jurídica, uma nova responsabilidade civil por tal ato é objetiva.
interpretação dada pela administração acerca de
determinado tema não pode ter eficácia retroativa. 113.( )
A reparação do dano causado a terceiro não pode ser feita no
âmbito administrativo, ainda que a administração reconheça
102.( ) Pelo atributo da coercibilidade, o poder de polícia tem desde logo a sua responsabilidade e haja entendimento
execução imediata, sem dependência de ordem judicial. entre as partes quanto ao valor da indenização.

(CESPE_TRE/MA_ANALISTA JUDICIÁRIO) O poder de polícia pode


ser descrito como a faculdade de que dispõe a administração
pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades
e direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio
Estado. Quanto ao poder de polícia, julgue os itens subseqüentes.

103.( ) O princípio da proporcionalidade, entendido como a


necessidade de adequação entre a restrição imposta pela
administração e o benefício coletivo que se tem em vista
com a medida, também consubstancia um limite inarredável
do poder de polícia administrativo. GABARITO:

104.( ) A administração exerce o poder de polícia quando dissolve


uma passeata, por comportamento violento, destruidor de
bens e agressivo à incolumidade física dos transeuntes.

105.( ) Ao interromper um espetáculo público, pela prática de


atos obscenos, de natureza criminosa, a administração atua
no exercício do poder de polícia.

106.( ) Toda coação que exceda o estritamente necessário à


obtenção do efeito jurídico licitamente desejado pelo poder
público é injurídica. Portanto, o emprego de violência para
dissolver uma reunião não-autorizada, porém pacífica,
configura abuso da administração.

107.( ) O habeas corpus e o mandado de segurança são meios


especialmente eficazes para defesa do particular nos casos
em que a administração, no exercício do poder de polícia,
atua de modo irregular, desmedido e afrontoso à legalidade.

(CESPE_PROCURADOR DO ESTADO DO CEARÁ) Julgue os itens com


relação ao poder de polícia da administração.

108.( ) O poder de polícia administrativo incide sobre bens,


direitos, atividades e pessoas. GABARITO:

109.( ) A vinculação é, na maioria dos casos, um dos atributos do


poder de polícia administrativo, uma vez que, no uso desse
poder, a administração pública atua nos estritos limites da
lei e dos direitos fundamentais previstos na Constituição
Federal.

110.( )
A previsão legal confere o atributo de auto- executoriedade
às multas aplicadas com o uso do poder de polícia
administrativo.

111.( )
A exigibilidade está presente em todos os atos praticados
no exercício do poder de polícia.

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