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Administração pública
Interesse público
É o fim prosseguido pela administração pública para satisfação das necessidades de uma
sociedade politicamente organizada, que o legislador qualifica como indispensáveis. São
interesses gerais ou coletivos identificados pelos órgãos político-legislativos,
essencialmente através da função legislativa e pelos órgãos administrativos da
comunidade, sendo definido por lei.
Segundo o princípio da prossecução do interesse público, este tem de ser prosseguido
pela administração pública, uma vez que caso este não existisse, também não existiria
a necessidade de administração pública; este princípio é definido por lei no artigo 4º
CPA.
Segundo o princípio da legalidade os órgãos da administração pública, na prossecução
do interesse público, devem atuar em conformidade com a lei e com o direito (artigo 3º
CPA) respeitando os direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos (artigo 3º
CPA).
Traduz-se no complexo de atos típicos principais através dos quais a administração atua
juridicamente, sendo esses atos considerados os mais fortes e significativos meios
próprios utilizados para a prossecução do interesse público. Estes atos consubstanciam
o modo de agir próprio e típico da administração pública enquanto poder executivo,
desempenhando um papel idêntico ao que a lei e a sentença desempenham enquanto
atos próprios e típico, resultantes do poder legislativo e judicial.
A atividade administrativa é levada a cabo por regulamentos, atos e contratos
administrativos.
Atos administrativos são atos sem carácter normativo, existindo para um caso concreto
e único, esgotando-se neste os seus efeitos jurídicos. Trata-se de decisões
administrativas unilaterais que se impõem aos seus destinatários, circunscrevendo os
seus efeitos a situações concretas.
Regulamentos administrativos são normas jurídicas emitidas pela administração.
Contratos administrativos são acordos de vontade celebrados entre a administração e
um particular, preordenados à prossecução de um interesse público, cuja formação e
execução são regidas pelo direito administrativo.
Administração estadual direta
É constituída por autoridades criadas por lei para prosseguirem interesses estaduais,
não tendo em alguns casos de personalidade jurídica própria, mas dispondo de poderes
regulatórios intensos.
O que caracteriza este subnível de administração estadual é o facto de não responderem
os seus órgãos dirigentes perante o Governo, pela sua atividade e pelo exercício dos
seus poderes, não estando sujeitos a ordens ou instruções de qualquer instância
superior, nem a poderes de mera orientação ou controlo do Governo.
Administração autónoma
É aquela que prossegue interesses públicos próprios das pessoas que a constituem e por
isso se dirige a si mesma, definindo com independência a orientação das suas atividades,
sem sujeição a hierarquia ou superintendência do Governo. O único poder que
constitucionalmente o Governo pode exercer sobre esta é o poder de tutela. São
exemplos de administração autónoma as associações públicas, as autarquias locais e as
Regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
Territorial: é formada por entes autónomos com uma base geográfica que coincide com
determinada parcela do território do Estado. É o caso das autarquias locais e das Regiões
Autónomas. São pessoas coletivas que têm por substrato um conjunto de pessoas que,
por habitarem numa determinada área contígua têm entre si laços de vizinhança
geradores de interesses comuns múltiplos e que se autoadministram, elegendo os
titulares dos órgãos de topo dos respetivos entes.
Autarquias locais
Poder de superintendência
Poder de tutela
Tutela anulatória: é o poder que o órgão tutelante tem de aplicar sanções ao órgão
tutelado, dentro dos limites da lei. É aceite entre nós, em regra, após a tutela inspetiva.
Tutela revogatória: é o poder que o órgão tutelante tem de revogar os atos praticados
pelo órgão tutelado, uma vez que a revogação tem por base critérios de mérito, esta
espécie de tutela não é aceite no nosso ordenamento jurídico.
Desconcentração personalizada
Descentralização
As pessoas coletivas públicas existem para prosseguir determinados fins, aos quais
chamamos de atribuições, que são os fins ou interesses públicos que a lei incumbe as
pessoas coletivas de prosseguir e realizar. Para esse efeito, as pessoas coletivas dispõem
de órgãos que detêm poderes funcionais, poderes esses que se designam de
competências.
Assim, as competências são o conjunto de poderes funcionais que a lei confere aos
órgãos administrativos da pessoa coletiva pública em que estão inseridos, enquanto as
atribuições são os fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas coletivas de realizar.
No caso de os órgãos da administração praticarem atos estranhos às atribuições das
pessoas coletivas públicas os atos são nulos (artigo 161º/2/b CPA). Caso pratiquem atos
fora da competência do órgão que os deve praticar os atos são anuláveis (artigo 163º/1
CPA).
Segundo este princípio a administração pública só pode atuar quando a lei o permitir,
segundo uma lei habilitante. O princípio da legalidade da administração no que respeita
à atividade da administração de gestão pública desdobra-se em três subprincípios, o
princípio do primado de lei, da precedência de lei e da reserva de lei.
Segundo o princípio do primado da lei, não pode a atividade da administração contrariar
a lei, e, no caso de existir contrariedade entre o ato administrativo e a lei, prevalece
esta, com a consequente invalidade do ato, regulamento ou contrato administrativo que
a contrarie.
Segundo o princípio da precedência de lei o poder administrativo tem de estar fixado
previamente na lei em matéria de normas, competências e fins, ou seja, os entes
públicos só podem atuar quando a lei o permite e é necessário. A atividade da
administração tem de ser conforme à lei, não bastando não a contrariar, como afirma o
artigo 3º CPA, quando diz “dentro dos limites dos poderes conferidos e em
conformidade com o fim”.
Segundo o princípio de reserva de lei exige-se que nas matérias cuja regulação a
Constituição reserve à lei não pode o próprio legislador atribuir à administração.
Função administrativa e função política
A função política corresponde à prática de atos que exprimem as grandes opções sobre
a definição e prossecução dos interesses essenciais da coletividade.
Quanto ao fim, a finalidade da administração política é a definição dos interesses gerais
da comunidade, enquanto a finalidade da função administrativa é a realização, em
concreto, desses mesmos interesses.
Quanto ao objeto, constituem objeto da função política as prioridades a fixar para um
determinado país, em contrapartida, o objeto da função administrativa traduz-se na
satisfação regular e contínua das necessidades coletivas.
Por fim, quanto à natureza, a função política é criadora e plenamente inovadora, sendo,
portanto, uma função livre e uma função primária. Já a função administrativa é uma
função com natureza executiva e condicionada à lei, sendo, desse modo, uma função
secundária.
A função judicial é a que corre mais risco de se confundir com a função administrativa,
uma vez que são ambas funções derivadas ou secundárias, subordinadas ao direito.
Trata-se de duas funções secundárias, uma vez que se traduzem na execução da lei. A
função jurisdicional visa aplicar o direito aos casos concretos dependendo os direitos e
os interesses legalmente protegidos dos particulares. Já a função administrativa visa
prosseguir interesses públicos relativos à coletividade.
Por outro lado, a função judicial tem uma atividade essencialmente jurídica de
interpretação e aplicação do direito a conflitos concretos. Em contrapartida, a função
administrativa, embora também tenha essa função de atividade jurídica, vai mais longe
realizando também operações materiais no âmbito da prossecução do interesse público.
A função judicial apresenta como características a sua independência, uma vez que os
seus órgãos, os tribunais, são órgãos soberanos do Estado independentes dos outros
órgãos; passividade, o que significa que os Tribunais não andam à procura dos conflitos,
tendo de ser os particulares a se dirigir aos Tribunais; e a sua imparcialidade.
Por outro lado, a função administrativa, caracteriza-se pela sua dependência; iniciativa,
uma vez que sempre que surge um interesse público a acautelar a administração pública
vai atuar; e a sua parcialidade, pois está sempre do lado do interesse público.
Delegação de poderes
Espécies de delegação
Ampla ou restrita, conforme o delegante resolva delegar uma grande parte dos seus
poderes ou apenas uma pequena parcela deles.
Quanto ao objeto pode ser específica e genérica. É específica quando abrange a prática
de um ato isolado, sendo que uma vez praticado o ato delegado a delegação caduca.
É genérica quando abrange a prática de uma pluralidade de atos, sendo que uma vez
praticado o ato delegado, o delegado continua indefinidamente a dispor da
competência, a qual exercerá sempre que tal se torne necessário.
Requisitos
Sistema em que todos os interesses públicos a prosseguir pelo Estado, ou pelas pessoas
coletivas de população e território, são postos por lei a cargo das próprias pessoas
coletivas a que pertencem.
Devolução de poderes
Juízos de prognose: estes juízos têm base num raciocínio de uma probabilidade de que
venha a acontecer um determinado facto ou um determinado efeito, procedendo a
administração desde logo a uma atuação tendente a afastar a ocorrência de tal facto ou
efeito, conferindo a lei à administração o direito de atuar previamente.
Vinculação e discricionariedade
A administração é constituída por pessoas coletivas que são figuras abstratas detentoras
de poderes, direitos e deveres, sendo ss pessoas coletivas o conjunto que designa a
administração pública, as pessoas de direito público.
As pessoas coletivas de direito público caracterizam-se por serem dotadas de
personalidade jurídica própria, podendo, nessa medida, atuar por si próprias na sua
capacidade jurídica, sendo sujeitos de relações jurídicas.
Estas pessoas coletivas distinguem-se das demais uma vez que a lei lhes atribui a
prossecução direta e imediata do interesse público. Atuam sob a égide do direito
administrativo, no uso da sua capacidade jurídica especial, que é constituída por
poderes funcionais que integram as suas competências.
O órgão trata-se do elemento da pessoa coletiva, consistindo num centro
institucionalizado de poderes funcionais a exercer pelo indivíduo ou pelo conjunto de
indivíduos que nele estiverem providos com o objetivo de exprimir a vontade
juridicamente imputável a essa pessoa coletiva. Deste modo, pode concluir-se que é
através dos órgãos que se forma a vontade da pessoa coletiva, que esta atua e se
manifesta, interagindo com os demais sujeitos de direito.
Os órgãos são, portanto, meios indispensáveis para as pessoas coletivas públicas
atingirem os seus fins e cumprirem as tarefas que lhes foram encarregues, tendo como
função tomar decisões e manifestar uma vontade que será imputada à pessoa coletiva
ou sujeito a que pertencem.
Sistemas de administração pública
Sistema britânico ou judicial: este sistema caracteriza-se por ser um sistema fortemente
descentralizado, o que significa que para além do Estado, existem muitas outras
entidades que exercem igualmente a atividade administrativa. Neste modelo, as
decisões administrativas só podem ser executadas através da intervenção de um
Tribunal, o que revela uma grande força jurídica das decisões administrativas. É de
destacar que neste modelo não havia direito administrativo.
Sistema francês ou executivo: este modelo caracteriza-se por uma forte centralização
do poder, o que significa que é o Estado quem, maioritariamente exerce a atividade
administrativa. No que respeita a força jurídica das decisões administrativas, neste
modelo as decisões administrativas têm força jurídica própria, podendo ser executadas
pela administração, independentemente do recurso a um Tribunal. Ao contrário do
sistema britânico, neste sistema já há a presença de direito administrativo.