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ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Ética na Administração Pública

Com o fito de analisar o papel da Administração Pública face ao Estado Democrático de Direito, se
faz necessária pequena abordagem acerca da evolução do Estado de Direito, possibilitando a visuali-
zação de suas finalidades e seus princípios.

Evolução do Estado de Direito:

Por Estado de Direito entende-se a organização estatal onde todos, até mesmo os governantes, se
submetem ao império da lei.

Na origem, o Estado de Direito apresentava um conceito tipicamente liberal, daí falar-se em Estado
Liberal de Direito, cujas características básicas eram: submissão ao império da lei, divisão de poderes
e enunciado e garantia dos direitos individuais. Tais características até hoje constituem postulados
básicos do Estado de Direito.

Entretanto, o Estado Liberal de Direito, por ser extremamente neutro e formal, atuando essencial-
mente no plano político-jurídico, sem disciplinar a ordem socioeconômica, provocava imensas injusti-
ças sociais advindas de seu abstencionismo.

Visando à realização da justiça social, evolui-se para o Estado Social de Direito, mais atuante, ou
seja, um estado material de direito. O grande objetivo do Estado Social de Direito era promover a har-
monia entre as classes patronais e obreiras e restabelecer o equilíbrio entre o capital e o trabalho.

O problema é que a palavra social, por estar aberta a várias significações, faz com que cada ideolo-
gia venha a ter sua visão própria do que seja o social. Um exemplo disto é que o Marxismo, o Fas-
cismo, o Getulismo e até mesmo o Nazismo eram considerados Estados Sociais de Direito, embora
se possa questionar se eram Estados onde, efetivamente, estava presente a democracia.

Diante disto, resta claro que nem sempre o Estado Liberal e o Estado Social de Direito caracterizam
um Estado Democrático.

O Estado Democrático se funda no princípio da soberania popular e exige a participação efetiva e


operante do povo na coisa pública, indo além da simples formação de instituições representativas.

O Estado Democrático de Direito baseia-se em uma sociedade livre, justa e solidária, como afirma
nossa Constituição, onde o poder deve emanar do povo, sendo exercido em seu proveito, direta-
mente, ou por meio de representantes eleitos.

Deve ser um Estado promotor de justiça social, tendo a legalidade como princípio basilar. Porém, a lei
não deve ficar adstrita em uma esfera puramente normativa e abstrata, mas, sim, deve influir na reali-
dade social do povo.

A democracia deve ser participativa envolvendo a participação crescente da sociedade no processo


decisório e na formação dos atos do governo e deve ser pluralista, respeitando a pluralidade de
ideias. Deve-se visar a um processo de liberação da pessoa humana de todas as formas de opres-
são.

Os princípios que alicerçam o Estado Democrático de Direito são: princípio da constitucionalidade;


princípio democrático; sistema de direitos fundamentais; princípio da justiça social; igualdade; divisão
de poderes; legalidade; e segurança jurídica.

Administração Pública:

Segundo o mestre Hely Lopes Meirelles a Administração Pública pode ser entendida como:

“...o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo; em sentido material, é
o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o de-
sempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumi-
dos em benefício da coletividade. Numa visão global, a Administração é, pois, todo o aparelhamento
do Estado preordenado à realização de serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas.”[i]

E continua nosso ilustre doutrinador:

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“A Administração não pratica atos de governo; pratica, tão-somente, atos de execução, com maior ou
menor autonomia funcional, segundo a competência do órgão e de seus agentes. (...) O Governo co-
manda com responsabilidade constitucional e política, mas sem responsabilidade profissional pela
execução; a Administração executa sem responsabilidade constitucional ou política, mas com respon-
sabilidade técnica, e legal pela execução. A Administração é o instrumental de que dispõe o Estado
para pôr em prática as opções políticas do Governo”. [ii]

Diante dessas colocações resta evidente que é a Administração Pública que exterioriza a atividade do
Estado, colocando em prática as decisões políticas de seus governantes.

Assim sendo, para que o Estado atinja suas finalidades e promova justiça social é essencial que toda
a máquina administrativa trabalhe com eficiência, ética e responsabilidade.

Agentes Públicos:

Para o Estado desempenhar suas atividades, utiliza-se dos agentes públicos que irão externar seus
atos de governo e executá-los, concretizando o bem comum a que se destina.

Segundo Henrique Savonitti Miranda:

“A expressão “agente público” é utilizada para designar todo aquele que se encontre no cumprimento
de uma função estatal, quer por representá-lo politicamente, por manter vínculo de natureza profissio-
nal com a Administração, por ter sido designado para desempenhar alguma atribuição ou, ainda, por
se tratar de delegatório de serviço público”.[iii]

Os agentes públicos, segundo nosso doutrinador Hely Lopes Meirelles, classificam-se em:

“- Agentes políticos: são os componentes do Governo nos seus primeiros escalões, investidos em
cargos, funções, mandatos ou comissões, por nomeação, eleição, designação ou delegação para o
exercício de atribuições constitucionais. Esses agentes atuam com plena liberdade funcional, desem-
penhando suas atribuições com prerrogativas e responsabilidades próprias, estabelecidas na Consti-
tuição e em leis especiais (...).

- Agentes administrativos: são todos aqueles que se vinculam ao Estado ou às suas entidades autár-
quicas e fundacionais por relações profissionais, sujeitos à hierarquia funcional e ao regime jurídico
determinado pela entidade estatal a que servem. São investidos a título de emprego e com retribuição
pecuniária, em regra por nomeação, e excepcionalmente por contrato de trabalho ou credenciamento.
(...) Os agentes administrativos não são membros de Poder de Estado, nem o representam, nem
exercem atribuições políticas ou governamentais; são unicamente servidores públicos, com maior ou
menor hierarquia, encargos e responsabilidades profissionais dentro do órgão ou da entidade a que
servem (...)

- Agentes honoríficos: são cidadãos convocados, designados ou nomeados para prestar, transitoria-
mente, determinados serviços ao Estado, em razão de sua condição cívica, de sua honorabilidade ou
de sua notória capacidade profissional, mas sem qualquer vínculo empregatício ou estatutário e, nor-
malmente, sem remuneração (...)

- Agentes delegados: são particulares que recebem a incumbência da execução de determinada ativi-
dade, obra ou serviço público e o realizam em nome próprio, por sua conta e risco, mas segundo as
normas do Estado e sob permanente fiscalização do delegante. (...)

- Agentes credenciados: são os que recebem a incumbência da Administração para representá-la em


determinado ato ou praticar certa atividade específica, mediante remuneração do Poder Público cre-
denciante”.[iv]

Atividade Administrativa:

A atividade administrativa, em sentido amplo, consubstancia-se em gerir bens próprios ou alheios.

Em se tratando de bens públicos, a atividade administrativa deve pautar-se nos estritos limites da mo-
ralidade administrativa, devendo, o agente público, agir de acordo com os princípios constitucionais

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insculpidos no artigo 37, quais sejam, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiên-
cia.

A Administração Pública E A Ética

Uma vez que é através das atividades desenvolvidas pela Administração Pública que o Estado al-
cança seus fins, seus agentes públicos são os responsáveis pelas decisões governamentais e pela
execução dessas decisões.

Para que tais atividades não desvirtuem as finalidades estatais a Administração Pública se submete
às normas constitucionais e às leis especiais. Todo esse aparato de normas objetiva a um comporta-
mento ético e moral por parte de todos os agentes públicos que servem ao Estado.

Definição de ética:

A palavra ética tem sua derivação do grego e encerra a idéia de conformidade com os costumes. Se-
gundo definição encontrada no dicionário da língua portuguesa, a palavra ética designa:

“Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana; conjunto
de princípios morais que devem ser respeitados no exercício de uma profissão.”[v]

Princípios constitucionais que balizam a atividade administrativa:

Devemos atentar para o fato de que a Administração deve pautar seus atos pelos princípios elenca-
dos na Constituição Federal, em seu art. 37 que prevê: “A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”.

Quanto aos citados princípios constitucionais, o entendimento do doutrinador pátrio Hely Lopes Mei-
relles é o seguinte:

“- Legalidade - A legalidade, como princípio da administração (CF, art. 37, caput), significa que o ad-
ministrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exi-
gências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e
expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. (...)

- Impessoalidade – O princípio da impessoalidade, (...), nada mais é que o clássico princípio da finali-
dade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é
unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de
forma impessoal. Esse princípio também deve ser entendido para excluir a promoção pessoal de au-
toridades ou servidores públicos sobre suas realizações administrativas (...)

- Moralidade – A moralidade administrativa constitui, hoje em dia, pressuposto de validade de todo


ato da Administração Pública (...).

Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito – da moral comum, mas sim de uma mo-
ral jurídica, entendida como “o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Adminis-
tração” (...)

- Publicidade - Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus
efeitos externos.

(...) O princípio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de assegurar seus efeitos
externos, visa a propiciar seu conhecimento e controle pelos interessados diretos e pelo povo em ge-
ral, através dos meios constitucionais (...)

- Eficiência – O princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com pres-
teza, perfeição e rendimento funcional.

É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada
apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendi-
mento das necessidades da comunidade e de seus membros. (...).”[vi]

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Controle da atuação da Administração Pública:

Visando a assegurar que a Administração Pública atue sempre em consonância com os princípios
normativos que lhe são impostos, faz-se necessário que se sujeite ao controle por parte dos Poderes
Legislativo e Judiciário, além de, ela própria, exercer controle sobre seus atos.

Ressalte-se que todos os Poderes estão sujeitos ao mesmo controle, desde que os atos emanados
deem-se no exercício de função tipicamente administrativa.

Através de instrumentos de ação outorgados pela Constituição, também os administrados podem pro-
vocar o procedimento de controle, visando não só à defesa de interesses individuais como de interes-
ses coletivos, embora tal controle seja atribuição estatal.

A Emenda Constitucional número 19/98, inseriu o § 3º no artigo 37,[vii] prevendo formas de participa-
ção dos administrados na Administração Pública, necessitando, porém, da edição de lei que regula-
mente o dispositivo constitucional, o que ainda não foi observado pelo legislador pátrio.

Por outro lado, o Ministério Público desempenha importante papel no controle dos atos administrati-
vos, sendo, hoje, o órgão mais bem estruturado para tal finalidade, devido às funções que lhe foram
atribuídas pelo artigo 129 da Carta Magna, onde, além da função de denunciar autoridades públicas
por crimes praticados no exercício de suas funções, tem ainda competência para realizar o inquérito
civil, requisitar diligências investigatórias e atuar como autor da ação civil pública, objetivando a repri-
mir atos de improbidade administrativa e resguardar interesses coletivos e difusos.

O poder-dever que a lei atribui aos órgãos públicos de controlar os atos emanados pela Administra-
ção não pode ser renunciado sob pena de responsabilização de quem se omitiu, sendo que tal con-
trole abrange a fiscalização e a correção dos atos ilegais, bem como, dos inoportunos ou inconveni-
entes para o interesse público.

“[...] pode-se definir o controle da Administração Pública como o poder de fiscalização e correção que
sobre ela exercem os órgãos dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, com o objetivo de ga-
rantir a conformidade de sua atuação com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurí-
dico.”[viii]

O controle da atuação administrativa e financeira e do cumprimento dos deveres funcionais do Poder


Judiciário e do Ministério Público, após a edição da Emenda Constitucional 45/2004, passou a ser
exercida pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Conselho Nacional do Ministério Público, respecti-
vamente, competindo-lhes zelar pela aplicação das leis relativas ao Judiciário e ao Ministério Público.

Deve-se ressaltar que não se trata de controle externo, uma vez que os referidos Conselhos integram
a instituição controlada, não prejudicando o controle externo exercido pelos Tribunais de Contas, limi-
tando-se, o controle dos citados órgãos, aos atos e a atividade administrativa do Judiciário e do Minis-
tério Público, não abrangendo os atos jurisdicionais ou judiciais propriamente ditos.

A referida Emenda Constitucional 45/2004, criou ainda, as ouvidorias, objetivando provocar a atuação
dos Conselhos Nacionais de Justiça e do Ministério Público, através de reclamações e denúncias de
quaisquer interessados.

Temos ainda o controle legislativo ou parlamentar, trata-se de controle eminentemente político e fi-
nanceiro, objetivando a proteção dos interesses do Estado e da Comunidade, exercido pelos órgãos
legislativos, (Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores) ou por Co-
missões Parlamentares, analisando a legalidade e a conveniência pública de determinados atos do
Executivo.

Este controle é exercido dentro da expressa previsão constitucional de forma a evitar a interferência
de um Poder sobre outro, preponderando o equilíbrio entre os Poderes, no chamado sistema de pe-
sos e contrapesos, que impõe o controle dos atos de um Poder por outro, como por exemplo, na
aprovação do orçamento e na fiscalização de sua execução.

O controle legislativo manifesta-se ainda, através do disposto no artigo 50,[ix] que trata da possibili-
dade de convocação de autoridades e pedidos de informações por escrito e no § 3º do artigo 58,[x] da

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Constituição Federal, que regula as atividades desempenhadas pelas Comissões Parlamentares de


Inquérito.

Em relação à fiscalização financeira, orçamentária e contábil, o Poder Legislativo conta com o auxílio
do Tribunal de Contas.

“(...) ao Poder Legislativo compete a fiscalização financeira, orçamentária, contábil, operacional e pa-
trimonial dos demais Poderes, instituições e órgãos encarregados da administração de receitas e
despesas públicas. Essa função conta com o auxílio do Tribunal de Contas.”[xi]

A sociedade dispõe ainda do controle judicial que é o controle exercido privativamente pelo Poder
Judiciário sobre os atos da Administração, com vistas a preservar a legalidade dos referidos atos. Tal
controle abrange os atos do Poder Executivo, do Legislativo e do próprio Judiciário quando configu-
ram atos de natureza administrativa.

Sendo a legalidade do ato administrativo a condição primeira para a sua validade, importante se faz o
controle de tais atos para garantir sua adequação com as normas pertinentes (princípio da legali-
dade), com a moral da instituição (princípio da moralidade), com a destinação pública (principio da
finalidade), com a divulgação necessária (princípio da publicidade) e com o rendimento funcional e
presteza (princípio da eficiência). Ao desviar-se ou contrariar qualquer desses princípios, a Adminis-
tração edita ato viciado de ilegalidade, o que o torna passível de anulação, pelo Poder Judiciário, se
provocado, ou pela própria Administração.

Para requerer a reparação de danos advindos de atos públicos ilegais, os particulares dispõem de
ações específicas, como, o Mandado de Segurança,[xii] a Ação Popular,[xiii] a Ação Civil Pú-
blica,[xiv] o habeas corpus,[xv] o habeas data[xvi] e as ações de controle concentrado de constitucio-
nalidade,[xvii] exceto a ação declaratória de constitucionalidade, além das vias judiciais comuns.

É pacífica, em nossa doutrina, a possibilidade de anulação dos atos ilegais tanto pela própria Admi-
nistração quanto pelo Poder Judiciário.

“Anulação é a declaração de invalidação de um ato administrativo ilegítimo ou ilegal, feita pela própria
Administração ou pelo Poder Judiciário...

...O conceito de ilegalidade ou ilegitimidade, para fins de anulação do ato administrativo, não se res-
tringe somente à violação frontal da lei. Abrange não só a clara infringência do texto legal como, tam-
bém, o abuso, por excesso ou desvio de poder, ou por relegação dos princípios gerais do Direito, es-
pecialmente os princípios do regime jurídico administrativo”.[xviii]

O Poder Judiciário, ao exercer o controle judicial, pode anular os atos ilegais editados pela Adminis-
tração, sempre que levados à sua apreciação pelos meios processuais cabíveis, sendo que a revisão
é ampla, ou seja, a única restrição é quanto ao objeto do julgamento que se restringe ao exame da
legalidade ou da lesividade ao patrimônio público, não podendo adentrar no mérito de conveniência e
oportunidade para a edição do ato pela Administração.

Importante se faz, ainda, atentar para as restrições colocadas ao Judiciário, quando do conhecimento
de atos políticos, assim entendidos aqueles praticados por agentes do Governo, no uso de competên-
cia constitucional, os quais destinam-se à condução dos negócios públicos e fundam-se em ampla
liberdade de apreciação de conveniência e oportunidade, devendo, o controle judicial, dar-se apenas
sobre a apreciação quanto a lesividade a direito individual ou ao patrimônio público, não adentrando
nos fundamentos políticos do ato.

A Gestão Pública Na Busca De Uma Atividade Administrativa Ética

Com a vigência da Carta Constitucional de 1988, a Administração Pública em nosso país passou a
buscar uma gestão mais eficaz e moralmente comprometida com o bem comum, ou seja, uma gestão
ajustada aos princípios constitucionais insculpidos no artigo 37 da Carta Magna.

Para isso a Administração Pública vem implementando políticas públicas com enfoque em uma ges-
tão mais austera, com revisão de métodos e estruturas burocráticas de governabilidade.

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Aliado a isto, temos presenciado uma nova gestão preocupada com a preparação dos agentes públi-
cos para uma prestação de serviços eficientes que atendam ao interesse público, o que engloba uma
postura governamental com tomada de decisões políticas responsáveis e práticas profissionais res-
ponsáveis por parte de todo o funcionalismo público.

Neste sentido, Cristina Seijo Suárez e Noel Añez Tellería, em artigo publicado pela URBE, descrevem
os princípios da ética pública, que, conforme afirmam, devem ser positivos e capazes de atrair ao ser-
viço público, pessoas capazes de desempenhar uma gestão voltada ao coletivo. São os seguintes os
princípios apresentados pelas autoras:

“- Os processos seletivos para o ingresso na função pública devem estar ancorados no princípio do
mérito e da capacidade, e não só o ingresso como carreira no âmbito da função pública;

- A formação continuada que se deve proporcionar aos funcionários públicos deve ser dirigida, entre
outras coisas, para transmitir a idéia de que o trabalho a serviço do setor público deve realizar-se com
perfeição, sobretudo porque se trata de trabalho realizado em benefícios de “outros”;

- A chamada gestão de pessoal e as relações humanas na Administração Pública devem estar presi-
didas pelo bom propósito e uma educação esmerada. O clima e o ambiente laboral devem ser positi-
vos e os funcionários devem se esforçar para viver no cotidiano esse espírito de serviço para a coleti-
vidade que justifica a própria existência da Administração Pública;

- A atitude de serviço e interesse visando ao coletivo deve ser o elemento mais importante da cultura
administrativa. A mentalidade e o talento se encontram na raiz de todas as considerações sobre a
ética pública e explicam, por si mesmos, a importância do trabalho administrativo;

- Constitui um importante valor deontológico potencializar o orgulho são que provoca a identificação
do funcionário com os fins do organismo público no qual trabalha. Trata-se da lealdade institucional, a
qual constitui um elemento capital e uma obrigação central para uma gestão pública que aspira à ma-
nutenção de comportamentos éticos;

- A formação em ética deve ser um ingrediente imprescindível nos planos de formação dos funcioná-
rios públicos. Ademais se devem buscar fórmulas educativas que tornem possível que está disciplina
se incorpore nos programas docentes prévios ao acesso à função pública. Embora, deva estar pre-
sente na formação contínua do funcionário. No ensino da ética pública deve-se ter presente que os
conhecimentos teóricos de nada servem se não se interiorizam na práxis do servidor público;

- O comportamento ético deve levar o funcionário público à busca das fórmulas mais eficientes e eco-
nômicas para levar a cabo sua tarefa;

- A atuação pública deve estar guiada pelos princípios da igualdade e não discriminação. Ademais a
atuação de acordo com o interesse público deve ser o “normal” sem que seja moral receber retribui-
ções diferentes da oficial que se recebe no organismo em que se trabalha;

- O funcionário deve atuar sempre como servidor público e não deve transmitir informação privilegi-
ada ou confidencial. O funcionário, como qualquer outro profissional, deve guardar o sigilo de ofício;

- O interesse coletivo no Estado social e democrático de Direito existe para ofertar aos cidadãos um
conjunto de condições que torne possível seu aperfeiçoamento integral e lhes permita um exercício
efetivo de todos os seus direitos fundamentais. Para tanto, os funcionários devem ser conscientes de
sua função promocional dos poderes públicos e atuar em consequência disto. (tradução livre).”[xix]

Por outro lado, a nova gestão pública procura colocar à disposição do cidadão instrumentos eficientes
para possibilitar uma fiscalização dos serviços prestados e das decisões tomadas pelos governantes.
As ouvidorias instituídas nos Órgãos da Administração Pública direta e indireta, bem como junto aos
Tribunais de Contas e os sistemas de transparência pública que visam a prestar informações aos ci-
dadãos sobre a gestão pública são exemplos desses instrumentos fiscalizatórios.

Tais instrumentos têm possibilitado aos Órgãos Públicos responsáveis pela fiscalização e tutela da
ética na Administração apresentar resultados positivos no desempenho de suas funções, cobrando
atitudes coadunadas com a moralidade pública por parte dos agentes públicos. Ressaltando-se que,

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no sistema de controle atual, a sociedade tem acesso às informações acerca da má gestão por parte
de alguns agentes públicos ímprobos.

Entretanto, para que o sistema funcione de forma eficaz é necessário despertar no cidadão uma
consciência política alavancada pelo conhecimento de seus direitos e a busca da ampla democracia.

Tal objetivo somente será possível através de uma profunda mudança na educação, onde os princí-
pios de democracia e as noções de ética e de cidadania sejam despertados desde a infância, antes
mesmo de o cidadão estar apto a assumir qualquer função pública ou atingir a plenitude de seus di-
reitos políticos.

Pode-se dizer que a atual Administração Pública está despertando para essa realidade, uma vez que
tem investido fortemente na preparação e aperfeiçoamento de seus agentes públicos para que os
mesmos atuem dentro de princípios éticos e condizentes com o interesse social.

Além, dos investimentos em aprimoramento dos agentes públicos, a Administração Pública passou a
instituir códigos de ética para balizar a atuação de seus agentes. Dessa forma, a cobrança de um
comportamento condizente com a moralidade administrativa é mais eficaz e facilitada.

Outra forma eficiente de moralizar a atividade administrativa tem sido a aplicação da Lei de Improbi-
dade Administrativa (Lei nº 8.429/92) e da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº
101/00) pelo Poder Judiciário, onde o agente público que desvia sua atividade dos princípios constitu-
cionais a que está obrigado responde pelos seus atos, possibilitando à sociedade resgatar uma ges-
tão sem vícios e voltada ao seu objetivo maior que é o interesse social.

Assim sendo, pode-se dizer que a atual Administração Pública está caminhando no rumo de quebrar
velhos paradigmas consubstanciados em uma burocracia viciosa eivada de corrupção e desvio de fi-
nalidade. Atualmente se está avançando para uma gestão pública comprometida com a ética e a efi-
ciência.

Para isso, deve-se levar em conta os ensinamentos de Andrés Sanz Mulas que em artigo publicado
pela Escuela de Relaciones Laborales da Espanha, descreve algumas tarefas importantes que de-
vem ser desenvolvidas para se possa atingir ética nas Administrações.

“Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário realizar as seguintes tarefas, entre
outras:

- Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra a legitimidade social;

- Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e quais valores é preciso incorporar para
alcançá-lo;

- Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu conjunto e os membros que a compõem
para incorporar esses valores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acertadamente
em relação à meta eleita;

- Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que se está imerso;

- Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às pessoas.” (tradução livre).[xx]

Após ter-se discorrido acerca do tema proposto, observou-se que na atual Administração Pública já
não há mais lugar para uma gestão destoante dos fins sociais do Estado Democrático de Direito.

Resta claro que a gestão pública deve estar fundada nos princípios constitucionais que regem a Ad-
ministração Pública, ficando, os agentes públicos, sujeitos ao controle administrativo, judicial e social
em todas as suas decisões e atividades administrativas desenvolvidas no âmbito público.

Enfatizou-se ainda, que para a real implementação da ética na gestão pública é necessário a consci-
entização da sociedade como um todo, de modo que todos os cidadãos passem a atuar concreta-
mente na fiscalização e cobrança de uma governabilidade eficaz e moralmente correta.

Para que se possa mudar o comportamento de toda a sociedade com vistas a atingir o objetivo maior
de obtermos uma Administração Pública totalmente ética, atuando com economia, eficiência e acima

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de tudo dentro dos princípios democráticos, é necessário mudar a forma de pensar e de sentir do ci-
dadão em geral. E, neste sentido, pode-se observar que nosso país está começando a dar os primei-
ros passos, embora muito ainda esteja por fazer.

Assim sendo, é evidente que a nova Administração Pública deve, cada vez mais, investir em prepara-
ção e atualização de seus agentes públicos para proporcionar-lhes condições de conhecer as melho-
res técnicas e os melhores meios de atingir um serviço público voltado ao interesse geral da socie-
dade.

Deve ainda, implementar e aperfeiçoar instrumentos capazes de permitir ao cidadão um acompanha-


mento de toda a atividade administrativa com possibilidade de denunciar maus gestores da coisa pú-
blica e opinar sobre possibilidades de melhoria da coisa pública.

Por outro lado, deve-se ressaltar ainda, a importância da mudança de comportamento de todo agente
público no sentido de identificar-se com o fim social da Administração Pública e lutar para a obtenção
de todas as finalidades almejadas pelo Estado Democrático de Direito.

Para finalizar, apontamos a necessidade de a Administração realizar, constantemente, o controle so-


bre os atos editados, visando a preservar os direitos dos cidadãos e resguardar a moralidade pública.

Nesse diapasão está o ensinamento do mestre Juan de Dios Pineda Guadarrama:

“(...) Se a ética tem a ver com a melhora das pessoas, também tem a ver com a melhora das institui-
ções. Daí que devem ser institucionalmente muito valorados os mecanismos que ajudem aos admi-
nistradores a comportar-se eticamente, tais como os códigos de comportamento, a aplicação das nor-
mas de controle e os conselhos cidadãos de vigilância. A liderança, para tanto, está indissoluvel-
mente unida ao comportamento ético. Daí a importância que os tomadores de decisões na gestão go-
vernamental possuam um sentido de serviço. As pessoas são capazes dos maiores esforços e sacrifí-
cios se encontram sentido no que fazem. Transmitir esse sentido é a missão da liderança, pois uma
das condições de ser líder é sua capacidade de influência. A principal missão do líder é desenvolver
líderes ao seu redor. Líderes dispostos a defender e difundir os valores morais que sustentam a ação
empreendida na gestão pública e na ética.” (tradução livre).[xxi]

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