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1. A Pergunta de Partida
2. A Exploração
RUPTURA As leituras As entrevistas
Questionamento
3. A Problemática
ATOS E ETAPAS
CONSTRUÇÃO
DO PROCEDIMENTO Argumentação 4. A Construção do Modelo de Análise
(Quivy e Campenhoudt)
5. A Observação
7. As Conclusões
Que se pretende?
❑ Um procedimento é uma forma de progredir em direção a um
objetivo.
❑ Visa compreender mais profundamente e interpretar mais
acertadamente fenómenos da vida coletiva;
❑ Conceber e pôr em prática um procedimento para a elucidação do
“real”.
➢ Quando um investigador, profissional ou principiante, sente grandes
dificuldades no seu trabalho, as razões são quase sempre de natureza
metodológica: “já não sei em que ponto estou”, “tenho a impressão de
já nem saber o que procuro”, “não faço a mínima ideia do que fazer
para continuar“, “tenho muitos dados, mas não sei o que fazer com
eles”…
Evitar:
a) um cientismo ingénuo que consiste em crer que é possível
estabelecer verdades definitivas e adotar um rigor análogo ao dos
físicos e biólogos;
b) ou um ceticismo que negaria a própria possibilidade de produção de
conhecimento científico.
O trabalho de investigação em
ciências sociais
➢ Compreender melhor os significados de um acontecimento ou de uma
conduta,
➢ Fazer inteligentemente o ponto da situação,
➢Captar com maior perspicácia as lógicas de funcionamento de uma
organização,
➢Refletir acertadamente sobre as implicações de uma decisão política,
➢Compreender com maior nitidez como determinadas pessoas apreendem
um problema e a tornar visíveis alguns dos fundamentos das suas
representações.
➢Em suma, estudar os fenómenos sociais com uma preocupação de
autenticidade, compreensão e rigor metodológico.
O procedimento: o caos original...
ou três maneiras de começar mal
❑ 1. Problemas de método
➢No início de uma investigação, sabemos vagamente que queremos
estudar tal ou tal problema, mas não sabemos como abordar a questão.
No entanto, este aparente caos original é marca de um espírito que
não se alimenta de simplismos e de certezas estabelecidas.
➢ O que não devemos fazer, mas fazemos com frequência, é a fuga para
a frente: a gula livresca ou estatística, a “passagem” às hipóteses e a
ênfase que obscurece.
Etapas
▪ Etapa 1 – A pergunta de partida
▪ Etapa 2 – A exploração: as leituras; as entrevistas exploratórias
▪ Etapa 3 – A problemática
▪ Etapa 4 – A construção do modelo de análise
▪ Etapa 5 – A observação
▪ Etapa 6 – A análise das informações
▪ Etapa 7 – As conclusões
Os três atos do procedimento
▪ A rutura (questionamento) – é o primeiro ato constitutivo do
procedimento científico. Consiste precisamente em romper com os
preconceitos e as falsas evidências, que somente nos dão a ilusão de
compreendermos as coisas.
▪ A construção (argumentação) – A rutura só pode ser efetuada a partir
de um referencial teórico e concetual organizado, suscetível de exprimir
a lógica que o investigador supõe estar na base do fenómeno. Esse
referencial é a base a partir da qual são formuladas proposições
interpretativas e explicativas do fenómeno a estudar, assim como o
plano de pesquisa a definir.
▪ A verificação (comprovação) – uma proposição só tem direito ao
estatuto científico na medida em que pode ser verificada pelos factos.
Etapa 1
A pergunta de partida
▪Não é fácil conseguir traduzir o que vulgarmente se apresenta como um
foco de interesse ou uma preocupação relativamente vaga num projeto
de investigação.
▪Uma investigação é algo que se procura, implicando hesitações, desvios
e incertezas. O investigador deve obrigar-se a escolher um fio condutor
tão claro quanto possível, para que o seu trabalho se estruture com
coerência.
▪ Enunciar o projeto de investigação na forma de uma pergunta de
partida, através da qual tenta exprimir o mais exatamente possível o que
procura saber, elucidar, compreender melhor.
Exemplos
➢ “A desigualdade de oportunidades em relação ao ensino tem
tendência a diminuir nas sociedades industriais?”
➢ “A luta estudantil (em França) é apenas uma agitação em que se
manifesta a crise da universidade, ou contém em si um movimento
social capaz de lutar em nome de objetivos gerais contra uma
dominação social?”
➢ “O que predispõe algumas pessoas a frequentarem os museus, ao
contrário da grande maioria das que os não frequentam?”
Critérios de uma boa pergunta de partida
A formulação da pergunta de partida obriga o investigador a uma
clarificação das suas intenções e perspetivas espontâneas, pois uma das
dimensões essenciais do processo científico é a rutura com os
preconceitos e as noções prévias.
❑ As qualidades de clareza – dizem respeito à precisão e à concisão
do modo de formular a pergunta de partida; a pergunta não deve ser
vaga, mas precisa.
➢As interpretações devem convergir e o sentido não deve suscitar
confusões.
➢Não deve cobrir um campo de análise demasiado vasto. Deve permitir
saber aonde nos dirigimos e comunicá-lo aos outros.
➢Uma boa pergunta de partida terá de ser unívoca e tão concisa quanto
possível.
❑ As qualidades de exequibilidade
➢ Estas qualidades estão ligadas ao carácter realista ou irrealista do
trabalho que a pergunta deixa entrever.
➢ Uma boa pergunta de partida deve ser realista, isto é, adequada aos
recursos pessoais, materiais e técnicos, em cuja necessidade podemos
imediatamente pensar e com que podemos razoavelmente contar.
❑ As qualidades de pertinência
Dizem respeito ao registo (explicativo, normativo, preditivo...) em que
se enquadra a pergunta de partida.
Exemplo: “A forma como o fisco está organizado no nosso país é
socialmente justa?” – esta pergunta pretende um julgamento moral,
que não diz respeito às ciências sociais. A confusão entre a análise e o
juízo de valor é muito usual e nem sempre é fácil de detetar.
➢Uma pergunta é moralizadora quando a resposta que lhe damos só
tem sentido em relação ao sistema de valores de quem a formula.
Em síntese
➢ Uma boa pergunta de partida não deve procurar julgar, mas
compreender. O seu objetivo deve ser o do conhecimento, não o de
demonstração. Por isso, devem poder ser encaradas a priori várias
respostas diferentes, não havendo a certeza de uma resposta
preconcebida.
➢ Deve abordar o estudo do que existe ou existiu, e não o daquilo que
ainda não existe. Não visa prever o futuro, mas captar um campo de
constrangimentos e de possibilidades, bem como os desafios que esse
campo define.
➢Deve visar um melhor conhecimento dos fenómenos estudados e não
apenas a sua descrição.
Etapa 2 - A exploração
As leituras e as entrevistas exploratórias
▪Formulada a pergunta de partida, como proceder para conseguir
informação adequada e de qualidade? Como explorar o terreno para
conceber uma problemática de investigação?
Mimética
Em debates recentes a mimética tem sido tratada como um princípio geral que define
a nossa compreensão da realidade e do texto:
O indivíduo “assimila-se” a si próprio à realidade, pela via do processo mimético.
A mimética possibilita aos indivíduos saírem para fora de si, puxar o mundo exterior
para o seu mundo interior e dar expressão à sua própria interioridade. Gera uma
proximidade dos objetos que é inatingível por qualquer outra via, sendo, por isso, uma
condição necessária da compreensão (Gebauer e Wulf, 1995)
Objeto de pesquisa / teoria
Aquilo que os objetos de pesquisa são depende da forma como
eles são construídos pelos diferentes discursos, ou seja, pelas
diferentes teorias.
A maneira de construir o objeto de pesquisa, portanto, não é
neutra, pois a forma como o pesquisador olha a realidade é
influenciada por esses discursos (e também por suas crenças e
valores).
A opção por uma e não outra teoria tem as suas consequências
metodológicas. Admitir essa possibilidade de olhar a sala de aula
e o processo de ensino-aprendizagem através de diferentes
teorias significa também admitir que sejam construídas salas de
aula e processos de ensino-aprendizagem diferentes”.
O critério da “refutabilidade” da hipótese
➢Uma hipótese pode ser testada quando existe uma
possibilidade de decidir, a partir da análise dos dados, em que
medida é verdadeira ou falsa.