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Introdução ao Direito da Seguridade Social 

TEXTO DE SUPORTE 

EMENTA 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA. ASSISTENCIALISMO. MUTUALISMO. MODELO
BISMARCKIANO. MODELO  BEVEREDGEANO. SEGURO SOCIAL. SEGURIDADE
SOCIAL. 

Conteúdo: 

1. Proteção social – como se originou?

A ideia de se preocupar com o próximo, com o hipossuficiente, não é privilégio de uma


doutrina,  ideologia, denominação religiosa ou posicionamento político. É algo que se encontra
presente  em tempos remotos da Humanidade. 
O Código Hamurabi (Babilônia) – datado de 23 séculos antes de Cristo –, o Código de
Manu (Índia) – do Século XIII a.C. –, e a Lei das Doze Tábuas, 330 anos antes de Cristo,
continham em  seus textos a preocupação com as incertezas do futuro que poderiam acometer a
qualquer  pessoa, a falta de recursos materiais que lhes desse subsistência e dignidade. 
A humanidade sempre se deparou com as pessoas enfrentando condições de
miserabilidade e  falta de recursos e desta forma o assistencialismo foi o primeiro sistema de
proteção à esta  população. 
Garantir de forma legal a assistência aos necessitados não veio na mesma proporção da
referida  preocupação. As primeiras legislações que se destacaram é a Lei de Assistência aos
Pobres, de  1531, surgida na Inglaterra e embasada nas reflexões de Thomas More. E detalhe,
essa lei  consistia apenas em permitir (isso mesmo que você leu!) que os idosos e deficientes
pudessem  solicitar esmolas junto às paróquias. Em sequência, as “The Poor Laws” permitiram
que as casas religiosas levantassem recursos junto aos proprietários de terras para atenção aos
desassistidos,  surgindo as casas de trabalho . 
1

Em nosso país, as ações de cunho caritativo surgiram em sua predominância por ações
de  denominações religiosas, das quais se destacam a Igreja Católica com as instituições de
ensino e  as Santas Casas de Misericórdia (a primeira em nosso país foi criada em Santos-SP). 
Outra forma de proteção social, que alguns marcam como início nas sodalitates
romanas, outros  nas guildas da Idade Média, era a formação de grupos de pessoas visando a
proteção de seus  membros, onde havia a contribuição de recursos entre os membros visando a
proteção  recíproca. Esse sistema ficou conhecido como mutualismo. 
Durante a Revolução Industrial, e destacando-se as diversas condições de
vulnerabilidade e  exploração sofrida pelos trabalhadores, se iniciaram diversos levantes , 2

revoltas que, de forma  crescente e generalizada, passaram a preocupar os detentores do poder


econômico e político,  levando-se a primeira fase de intervencionismo estatal na proteção
social. 

2. O intervencionismo estatal a partir do modelo Bismarckiano (Seguro Social)


As convulsões sociais, que aconteciam em toda a Europa, também passaram a
preocupar o  Parlamento Alemão que convocou o seu chanceler em 1869 para resolver a
deflagração social e  desenvolver um projeto de proteção social à classe trabalhadora. 
Para atender esta demanda, Otto Von Bismarck propõe a criação de seguros sociais,
onde os  empregadores, empregados e Estado custeariam ações protetivas para os
trabalhadores,  surgindo assim, em 1883, a Lei do Seguro Doença, na Alemanha. Em 1984
3

surge o seguro por  acidentes de trabalho e em 1889, o seguro contra a velhice e a invalidez. 
TRÍPLICE CUSTEIO.
Este sistema de proteção se irradiou pela Europa, sendo copiado pela França e
Inglaterra . 
4

O Sistema criado por Bismarck é o sistema de seguro social, ou seja, para que o
indivíduo tenha  acesso às ações de saúde, de assistência e de previdência, o indivíduo precisa
ter qualidade de  segurado, ou seja, fazer sua contribuição, sob pena de não usufruir qualquer
benefício. 
1
Sobre estas casas de trabalho, recomendo a leitura da obra Oliver Twist, de Charles Dickens, ou então,
assistir o  filme feito em 2005, com o mesmo nome, dirigido por Roman Polanski. 
2
Ganham destaque a Greve de Operários de Nova York, ocorrida em 8 de março de 1857; a Comuna de
Paris em  1871 e o episódio conhecido como os “8 Mártires de Chicago”, em 1896. 
3
A maioria dos autores a consideram como um marco inicial da Previdência Social. 
4
Na Inglaterra, em 1907, diante das precárias condições de trabalho a que a classe trabalhadora era
submetida, o  empregador passou a ter responsabilidade objetiva sobre o acidente de trabalho, devendo
pagar a indenização  independentemente de culpa.

3. O intervencionismo estatal a partir do modelo Beveridgeano (Seguridade Social) 

A proposta de proteção social através do seguro social foi sendo adotada por diversas
nações,  repercutindo em previsão constitucional deste sistema protetivo nas Constituições do
México (1917) e na de Weimar (1919). Com a criação da Organização Internacional do
Trabalho (OIT)  através do Tratado de Versalhes (1919), cada nação passou a instituir sua
Previdência Social,  seguindo o modelo bismarckiano. 
O mundo, porém, mesmo diante da prosperidade do capital que se vislumbrava
especialmente nos Estados Unidos da América, viu o inimaginável acontecer. A Bolsa de
Valores de Nova York ,  em 1929, consolidou uma crise financeira de grandes proporções que
5

colocou milhares de  famílias da noite para o dia em situação de miserabilidade. Empregos,
empresas, patrimônios se  liquefizeram, ruas e o Central Park viraram acampamento para
milhares de famílias desalojadas  e pessoas desempregadas .  6

Visando a recuperação econômica e compreendendo a fragilidade do sistema


capitalista,  Franklin Roosevelt, então presidente estadunidense à época implementa o New Deal
– um  plano de reestabelecimento do mercado, proteção contra a especulação financeira, e para
o  Estado ocupar-se da massa de desempregados, estabeleceu a realização de obras públicas,  
partindo da ideia de que com renda (ainda que mínima) o trabalhador seria inserido novamente 
na participação da roda da economia, através do consumo. 
Este plano, embasado na filosofia do Welfare State (Estado do Bem-Estar Social), tinha
como  proposta a inclusão de todo cidadão em um sistema de proteção contra riscos sociais,
buscando  uma qualidade de vida digna e independente de contribuição (o indivíduo era
registrado na  Seguridade Social desde o seu nascimento). 
A proposta de Seguridade Social que se inicia nos Estados Unidos tem por elemento
catalisador  as ideias lançadas por Lord Beveridge, o qual idealizou um sistema universal de
proteção social,  do berço ao túmulo. Esta proposta que ganhou muita força no mundo pós-
guerra de 1945,  passa a ser defendida de forma significativa pela Organização das Nações
Unidas, a qual inclui a  seguridade social como integrante do rol de direitos humanos no artigo
85 da Declaração  Universal .  7

5
Este link conta a história da quebra, com imagens do período:
https://historiaestudio.com.br/resenhas/crise-de 1929-resenha/post/274 
6
O episódio por lá é chamado de “Quinta-feira Negra, era 24 de outubro quando as ações despencaram a
níveis  nunca vistos. Com a quebra da Bolsa, veio a “Grande Depressão”. 
7
A Declaração Universal dos Direitos Humanos instituiu em seu artigo 85 que todos tem direito a “um
padrão de  vida capaz de assegurar a si e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação,
vestuário, habitação,  cuidados médicos, os serviços sociais indispensáveis, o direito à seguridade social
no caso de desemprego, doença,  invalidez, viuvez, velhice, ou outros casos de perda dos meios de
subsistência em circunstâncias fora de seu  controle”.

4. E qual modelo o Brasil adotou?

Nosso país que costuma ser um caso à parte em diversas questões da Ciência Jurídica,
não foge  à regra quando se trata de proteção social. 
Em nossa história político-normativa, tivemos assistencialismo, mutualismo e, por
muito tempo  seguiu o modelo bismarckiano de seguro social. Tanto é que tínhamos para o
acesso à saúde,  um sistema contributivo (INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica
da Previdência  Social). 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, o Brasil abraça o sistema
beveridgeano,  estruturando um modelo de proteção social universal, a Seguridade Social, a
partir de seu artigo  193 e seguintes. Porém, cuidado! Embora a assistência e a saúde sejam
braços de proteção  social do Estado Brasileiro que possuem como princípio a universalidade
(inerente da  Seguridade Social), o nosso sistema previdenciário ainda possui características do
seguro social. 
Isso se percebe quando observamos que para alguém receber um benefício
previdenciário, se  destaca a necessidade de possuir o indivíduo a qualidade de segurado, ou
seja, contribuinte da  Previdência Social. 
Assim, concluídos que os dois modelos de proteção social coexistem no Brasil. 

O modelo de seguro social também se encontra presente nas modalidades


complementares de  saúde (planos) e de previdência (instituições privadas), bem como ainda se
destacam a  existência do assistencialismo (entidades beneficentes) e do mutualismo
(categorias  profissionais, possuem suas Caixas de Assistência e seus mútuos). 

TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de Direito da Seguridade Social. 2ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2008. 

CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de Direito da
Seguridade Social.  5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
Bibliografia complementar: 

BERNARDINO, Cássia Fernanda da Silva. Aspectos históricos da Seguridade Social. REJU –


Revista  Jurídica, v. 4, n 1, 2017. Disponível em: http://oapecsuperior.com.br/revista
cientifica/index.php/REJU/article/view/56

Tópico: 
Origem da Seguridade Social no Brasil 
TEXTO DE SUPORTE 
EMENTA 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL. DE SEGURO SOCIAL

PARA SEGURIDADE SOCIAL. Conteúdo: 

1. Evolução da Proteção Social no Brasil – 1ª fase 

Nosso território foi organizado inicialmente para ser uma fonte de recursos da
metrópole  portuguesa, e a preocupação com a proteção social nos primórdios de nossa nação
ficava a  cargo de eventuais atividades caritativas entre os povos, ou de ações filantrópicas de
instituições religiosas, predominantemente católicas dado ao fato de ser a religião oficial à 
época. 
Com a vinda da Família Real para o Brasil em 1808, houve preocupação na
organização  administrativa, especialmente do funcionalismo público. Com a Constituição
Imperial de 1824, fica prevista a possibilidade do Imperador atuar com “socorros públicos”
aqueles que lhes  procurassem (notem que não era qualquer um que teria acesso a ele, certo?) 
Ainda, se cria um regime mutualista através do MONGERAL, um Montépio Geral para
Servidores  Públicos do Estado. E era essa a situação de proteção social no Brasil desta época:
dirigida a  seletos grupos através do mutualismo e aos demais lhes restava o assistencialismo
religioso. 
Com o advento da República e a nova Constituição, em 1891, diante de um governo
classista  (militar), a inovação surge para a criação de uma “aposentadoria” por invalidez a
serviço da  Nação.

2. O início da Previdência Social – 2ª fase 

Anos se passaram, a política brasileira focava em expansão e modernização do


escoamento da  produção e, naturalmente, uma das principais atividades estatal para o
desenvolvimento da  economia era a construção e manutenção das linhas férreas. Em um ano
marcado pela criação  da primeira rádio do Brasil, a divulgação de ideias e dos reclamos das
classes trabalhadoras  ganha certa importância. 
Então, para atender a este setor de desenvolvimento nacional, o Governo Federal emite
o  Decreto Legislativo n. 4.682 em 1923, conhecido como Lei Eloy Chaves. Esta normativa dá
aos  ferroviários a estabilidade àquele que tivesse 10 ou mais anos de serviço e institui a Caixa
de  Pensão dos Ferroviários, de âmbito nacional, que entraria mediante contribuição, a pensão
por  morte, assistência médica, a aposentadoria por invalidez e a aposentadoria ordinária
(similar à de tempo por serviço que conhecemos). 
Este modelo de Caixa de Assistência e Pensões foi adotado por outros empregados
(portuários,  marítimos, etc) e, é importante ressaltar que quem organizava era a empresa. 
Em 1933, houve a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos e,
através  deste, a organização e estruturação por empresa acaba, passando a ser com base na
categoria  profissional (comerciários, bancários, industriários etc.)
3. A adoção do modelo Bismarckiano (Seguro Social) para valer! – 3ª fase 
Com Getúlio Vargas no poder, se produz uma nova Constituição, a de 1934, a qual
introduz no  Brasil a forma tríplice de custeio, considerando-a obrigatória para quem exercesse
atividade  laboral. Aqui, as ideias de Bismarck são implementadas de forma conclusiva, onde o
modelo de  seguro social passa a ser o oficial, embora a norma constitucional chame o sistema
apenas de  “Previdência”. 
Esta nomenclatura é corrigida em 1937, trocando-se o termo Previdência por Seguro
Social e,  em 1946, nova constituição adota então a nomenclatura “Previdência Social”, mas
ainda  estávamos sobre o modelo bismarckiano. 
Considerando que cada categoria tinha o seu Instituto, que era difícil para o Estado
Brasileiro  fazer o controle, fiscalização e organização orçamentária para a sua parcela do
custeio, o  governo federal resolve unificar os Institutos em 1960, através da Lei Orgânica da
Previdência  Social (LOPS) e, em sequência, em 1966, cria-se o Instituto Nacional de
Previdência Social, o  INPS.
Diante desta modificação, não se importava mais qual a categoria profissional que o
trabalhador  pertencia. Para ser atendido pela previdência social bastava sê-lo e contribuir para o
INPS. Muita  gente que estava ainda à margem desta proteção social entrou para o rol de
usuários.  
E, como em muitas situações da política nacional, o que era para ser política de Estado,
as vezes  era tratada como política de governo, para puxar benefícios que favorecessem A ou B,
mas que  pelo comando constitucional da igualdade, se estendia a todos. Em razão disso, e para
evitar  desperdício de dinheiro e descontrole orçamentário, com o advento da Constituição de
1967,  adotou-se a precedência do custeio para a criação de novos benefícios. 
4. O chamado de redemocratização e a necessidade de ampliar a proteção social – 4ª fase 
No início dos anos 1970, o Brasil viveu o milagre econômico, e alguns setores da
economia em expansão, especialmente a de construção (em razão das obras) e o do comércio
(em razão do  aumento do consumo), alavancavam o número de trabalhadores inscritos e
contribuintes do  INPS. Se fez necessário organizar a estrutura de proteção social, e a
centralização do poder e  controle administrativo anteriormente adotados dava sinais de
esgotamento.  
Desta forma, para promover a desconcentração administrativa, em 1977, através da Lei
n.  6.439, criou-se o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS). 
Para a arrecadação, administração e fiscalização criou-se o IAPAS; para o
processamento dos  dados de contribuintes/contribuições e benefícios/beneficiários, o
DATAPREV; para aperfeiçoar a distribuição de medicamentos entre beneficiários pelo país
todo, a CEME; para a atenção ao  menor carente, a FUNABEM (hoje FEBEM); para assistir ao
hipossuficiente, a LBA; para dar assistência médica  ao segurado, o INAMPS, e para pagar os
benefícios, mantinha-se o INPS. 
D ataPrev

I APS

F UNABEM

O SINPAS era I NPS

C EME

I NAMPS

L BA

5. Enfim a Seguridade Social – 5ª fase 


A nação com o advento do processo de redemocratização e de com nova Constituição
Federal,  procurou seguir os ideais mais modernos de proteção social. Embora já se falasse de
Welfare  State (desde a década de 30 do século passado) e Seguridade Social desde o pós-guerra
de 1988,  o país ainda não tinha um sistema protetivo universalizado. 
Através de movimentos sociais, da participação dos diversos setores da sociedade da 
pluralidade política que contagiou os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, a
proposta  de justiça e solidariedade imperou na formulação do novo modelo constitucional de
proteção  social. 
A partir da Constituição Federal de 1988, aparece pela primeira vez o termo
“Seguridade Social”,  e fundando a sociedade no primado do trabalho (art. 193, CF),
estabeleceu o norte do bem estar e justiça sociais, consolidando uma saúde e uma assistência
social, universais. Para todos. 
Apenas a Previdência continuou como a roupagem de seguro social, mas se insere
dentro da Seguridade Social por um duas condições elementais: todos contribuímos
indiretamente para  ela dada a pluralidade de custeio (financiamento) e, ainda, a todos é
permitido a sua inscrição e  contribuição (segurados facultativos). 
Diante do novo texto constitucional, se fazia necessário novas normativas
infraconstitucionais, dada a nova ordem social estabelecida. Com a Lei 8.029 de 1990, o IAPAS
e o INPS são  unificados, criando-se o Instituto Nacional do Seguro Social – o conhecido
INSS. 
Ainda em 1990, um marco para a saúde brasileira, agora universal e para todos, cria-se
com a  Lei 8.080, o Sistema Único de Saúde – SUS. 
Com o INSS reestruturado, em 1991 surgem as principais leis de previdência do país, a
Lei 8.212,  que trata do custeio, e a Lei 8.213, que dispõe sobre os benefícios. 
Em 1993, foi a vez da Assistência Social ter Lei Orgânica própria – a Lei 8.742. Anos
depois, em  2011, através da Lei 12.435, é criado o Sistema Único de Assistência Social – o
SUAS. 
Ganha-se destaque também que em 2007, as atividades de fiscalização e arrecadação
das  contribuições previdenciárias ficaram a cargo da nova Secretaria da Receita Federal do
Brasil. 

1. Seguridade Social e Constituição 


Com o advento Constitucional de 1988, a data de 5 de outubro daquele ano
representa uma  grande mudança no cenário da proteção social no Brasil. Ao eleger o primado
do trabalho como  base da nova ordem social, segue o ideal de que todos os cidadãos devem
exercer a atividade  que melhor lhes aprouver para a obtenção da própria renda (lícita, é claro!). 
Nesta esteira que vemos o direito fundamental ao livre exercício do trabalho (inciso
XIII, do art.  5º, da CF) e somados a este comando, o da dignidade da pessoa humana, os dos
valores sociais  do trabalho e da livre iniciativa (art. 1º, incisos III e IV, CF), reforçando a
devida interpretação  sistêmica da Constituição com o texto lançado no artigo 193.  
O constituinte foi além do mero lançamento de normas programáticas de princípio
institutivo (ao estabelecer a universalidade e princípios a regerem a saúde e assistência), mas
também  lança importante comando de planejamento e participação social, no corpo do
parágrafo único  do art. 193, trazido pela Emenda Constitucional n. 108, de 2020: 
O Estado exercerá a função de planejamento das políticas sociais, assegurada, na
forma da lei, a  participação da sociedade nos processos de formulação, de monitoramento, de
controle e de  avaliação dessas políticas (BRASIL, 1998/2020)
Deste texto inovador, a participação da sociedade na Seguridade Social é
obrigatória e  necessária. 
2. Fazer Políticas Públicas na Seguridade Social 
O Brasil, com a Constituição de 88 supera o sistema tradicionalista da democracia 
representativa, onde as decisões políticas perpassam única e exclusivamente pelo crivo dos 
eleitos pelo povo para integrarem as fileiras dos Executivos e Legislativos da União, Estado, 
Distrito Federal e Municípios. 
O artigo 193, parágrafo único, em consonância com outros dispositivos
constitucionais, assegura  a democracia participativa como modelo de fazer Estado e Políticas
Públicas no país,  estabelecendo-se inclusive como norte de construção das políticas sociais. 
É importante, portanto, que abordemos como funciona a formulação destas
políticas públicas,  para que compreendamos a construção daquelas voltadas à Seguridade
Social. 
Primeiramente, cabe ao gestor ou outro integrante dos Poderes Públicos, ou mesmo
da  Sociedade, identificar um problema público para a construção de um agir político.
Lembrando se que a solução do problema observado deve atender ao interesse público e não ao
de  particulares, estabelece-se um caminhar lógico de resolução onde temos: 
a) Planejamento das reuniões e observações técnicas do problema público, b)
Formulação de uma conduta estatal que vise a solução ao problema, 
c) Implementação e execução das condutas estatais para atender ao público
assistido pela  ação governamental, 
d) Fiscalização, monitoramento e controle na implementação e execução da
política  formulada, 
e) Avaliação, atitudinal dos atores envolvidos, dos beneficiados, de forma quali-
quantitativa e  de forma interdisciplinar, para identificar se a política pública construída e
implementada  atingiu os seus objetivos, se o problema público deixou de existir, foi agravada
ou  minimizado, reiniciando o processo de planejamento para os ajustes que se entenderem 
necessários. 
Este processo (que passa necessariamente pela construção, implementação e
avaliação dos atos  governamentais) deve, por força do artigo constitucional supramencionado,
ter atuação da  Sociedade. 
É imprescindível portanto que a sociedade esteja presente em todas as fases de
formulação de  uma política social de saúde, assistência ou previdência. Desde a decisão para
ampliar  atendimento de saúde, de construção de novas unidades, hospitalares ou não, bem
como a concessão de benefícios de ordem assistencial ou previdenciária, devem passar pelo
processo  aqui narrado. 
3. Definição Constitucional de Seguridade Social 
Os textos constitucionais anteriores à Constituição de 1988 não definiam de forma
clara as  atividades de proteção social a serem desenvolvidas pelo Estado Brasileiro, muitas
vezes, apenas se limitando a inclusão de normas programáticas, mas que não organizavam a
proposta  de Política de Estado (assim, estas matérias passavam a ser encaradas como políticas
de  governo e, por conseguinte, a população sofria com as mudanças e agitações do cenário 
político). 
A proposta da Assembleia Nacional Constituinte era reduzir as chances da
sociedade brasileira  ser vítima de arroubos de quem quer que ocupasse os cargos do Executivo
Nacional, Estadual,  Distrital e Municipal, estabelecendo um sistema coeso, institucionalizado,
focado na construção  da sociedade brasileira com a roupagem constitucional então definida – e
que temos como  norte todos os objetivos fundamentais da República (art. 3º, CF/88).1 
Desta forma, o artigo 194, da nossa Lex Magna estabelece que a Seguridade Social
“compreende  um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a  assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social”. Esta é a definição  constitucional da Seguridade Social! 
Ao estabelecer que é um conjunto integrado de ações, destaca que na formulação
das políticas  sociais de que tratamos no item anterior, deve ocorrer uma comunicação eficiente
e proativa de  todos os entes da Federação, ou seja, da União, dos Estados-Membros, do Distrito
Federal e dos  Municípios. Não há espaço, conforme o texto constitucional, para ações isoladas
e dissociadas,  onde um gestor decide fazer de um jeito e outro, de outro, por mero capricho ou 
posicionamentos ideológicos. Posturas como estas vão em confronto com o texto 
constitucional. 
Pelo Princípio da Supremacia da Constituição, é bom recordar que praticamente a
nossa lei  maior está mandando que que haja programação, planejamento, comunicação,
integração entre  os Entes Federados.2 

E o Constituinte foi além. Ele traça que estas ações a serem integradas, são de
iniciativa dos  Poderes Públicos. Perceba aqui, que não está se limitando ao Poder Executivo
como muitos  imaginam. 
A iniciativa deve partir de todos os Poderes Públicos. Estamos falando não apenas
da  Administração Pública Direta e Indireta, mas também dos Poderes Legislativos de cada Ente
e do  Poder Judiciário. 
Naturalmente, que diante do Princípio da Inércia da Jurisdição, não é possível que
a iniciativa  seja pessoal, de ofício do corpo jurisdicional brasileiro. Essa iniciativa deve ser
provocada pela  parte interessada. Destaca-se, portanto, o Ministério Público como importante
ator sócio político neste cenário de composição destas ações (ele participa das formulações e
fiscalização  das políticas públicas) e das intervenções judiciais (através do cumprimento de
suas funções institucionais3). 
Importa asseverar que o MP não é o único ator social neste cenário que pode
provocar o Poder  Judiciário para a garantia destas ações integradas, mas também as
Defensorias Públicas da  União e dos Estados, as organizações civis que possuam em seus atos
constitutivos as  finalidades protetivas, os partidos políticos, a Ordem dos Advogados do Brasil,
dentre outros. 
Também vale esclarecer que dentre os diversos instrumentos processuais para a
provocação  jurisdicional para garantir tais ações figuram – conforme o proponente – as ações
diretas de  inconstitucionalidade por omissão, a ação popular, o mandado de segurança e o
mandado de  injunção. 
Por fim, reforçando o princípio da democracia participativa, a constituição ressalta
que as ações integradas para resguardar os direitos à saúde, assistência e previdência podem ser
de iniciativa  da própria sociedade, a qual é deslocada do mero papel de destinatária das
políticas sociais, de  figurante no cenário sócio-político, para agente de transformações no
mesmo. 
Essa postura não se observa somente quando alguém faz parte de órgãos,
associações,  sindicatos, partidos políticos ou agremiações que participam das ações coletivas
ou das  provocações acima mencionadas ao Poder Judiciário. Mas também se inclui o conhecer
e  participar das audiências públicas, comitês e conselhos que debatam as políticas sociais, as
ações a serem desenvolvidas na Seguridade Social. 
E, naturalmente, o Poder Público deve estimular a participação da sociedade. Não
somente  garantindo a composição dos comitês e conselhos com integrantes da mesma, mas
divulgando a  agenda de reuniões, as pautas, as audiências públicas a serem realizadas, ou seja,
dando a  melhor publicidade possível às atividades desenvolvidas e suas decisões (ainda mais
que hoje  temos uma profusão de mecanismos que vão além do Diário Oficial e dos meios
tradicionais de  comunicação como o rádio, a televisão e o jornal impresso – utilizando-se então
as redes sociais,  mecanismos de mensagens automáticas, e-mails etc.
4. Princípios Constitucionais da Seguridade Social 
No parágrafo único do artigo 194 da Constituição Federal, foram relacionados os
objetivos  (princípios) que regem a Seguridade Social, sua estrutura, políticas e ações. 
a) Universalidade da cobertura e do atendimento; 
Este princípio representa a ideia de que todos aqueles que necessitem da seguridade
devem  ser atendidos, e as ações do Estado devem ser no sentido de alcançar todo o território 
nacional e toda a população que aqui reside. Ainda, as ações da Seguridade Social devem  
abranger, atender, o máximo de situações de risco social possível para garantir a dita 
universalidade. 
b) Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais; 
Aqui identificamos a preocupação do contribuinte de, ao mesmo tempo em que ele
pretende estender de forma plural e igualitária a proteção social, tanto à população que  vive nos
centros urbanos como nas áreas rurais, também se vislumbra que este público  último possui
particularidades em razão da natureza de suas atividades.  
O constituinte, por este princípio lembra ao Estado, em primeiro lugar, que a
equidade deve  ser a referência para as eventuais proteções sociais que venham a serem distintas
uma das  outras em razão do público-alvo. E ainda, reforça que estas distinções devem ser fruto
da  justiça social e do bem-estar de todos, sendo política de Estado e não de governo (intenta 
evitar que o governante atenda caprichos ao invés do interesse público nacional. 
Há aí um trabalho de Estado inegavelmente importante: o de acabar com a enorme 
diferença de tratamento que antes havia entre o trabalhador urbano e rural, promovendo 
identidade de tratamento, benefício e valores. 
c) Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; 
Identificando os problemas públicos e ao formular as políticas sociais, o Estado
deve  selecionar benefícios e beneficiados, de forma a atender quem tem maior necessidade, 
distribuindo os recursos de acordo com as exigências sociais. 
A doutrina utiliza muito a expressão “riscos e contingências sociais”, que são os
fatos que  ensejam proteção social. Através deste princípio obriga-se os Poderes Públicos a
adotarem  critérios e requisitos para o acesso à Seguridade Social, quais ações serão necessárias,
aquem serão destinadas, de forma a alcançar estes riscos e contingências de forma o mais  plural
e eficaz possível. 
Assim, não basta apenas criar a política social e a prestação de serviço/benefício
com vistas  a atender os riscos sociais, mas igualmente restringir o recebimento destes de forma
a  atingir ao público que realmente precise, sem desperdício econômico (aperfeiçoando assim  a
universalidade de cobertura e atendimento)4. Leia-se: eficiência administrativa e social.
d) Irredutibilidade dos valores dos benefícios; 
A primeira ideia deste princípio é impedir que o segurado da previdência, o
assistido pela  LOAS/SUAS ou o destinatário da Saúde (SUS) tenha em algum momento e de
forma  repentina, reduzido o benefício/atendimento recebido. 
Não somente é vedada a redução como também é necessário, em especial no que
toca aos  benefícios assistenciais e previdenciários, a revisão de seus valores, mantendo o seu
real  valor inalterado no transcurso do tempo, evitando perda de poder aquisitivo. É o que  
vemos, por exemplo, no reajuste anual dos benefícios. 
É importante fazer a ressalva que isso não impede a redução do valor inicial de um
benefício para futuros destinatários5. 
Outrossim, a interpretação de atualização com base no salário mínimo é
equivocada,  considerando que a Constituição veda a vinculação (art. 7º, inciso IV, CF). A
atualização com  base nos salários mínimos ocorreu no período de abril/89 a dezembro/91. A
partir das leis  reguladoras do Plano de Custeio (8.212) e de Benefícios (8.213) a situação se
modifica,  consolidando o reajustamento na forma da Lei. 8.213, em conformidade com o
parágrafo 4º do artigo 201, da Constituição Federal. 
e) Equidade na forma de participação do custeio; 
A doutrina explica esse princípio com a afirmação de que esta equidade é a
distribuição do  custo social (da Seguridade, portanto) de maneira de que seja suportado de
forma a atender  a isonomia entre os contribuintes. Aqui, guarda-se pretensão análoga ao do
princípio da  capacidade contributiva disposto no artigo 150, inciso II, da Constituição Federal. 
f) Diversidade na base de financiamento; 
Podemos afirmar aqui que o Constituinte saiu do lugar comum do custeio tripartite
para a  Seguridade Social. Ainda se mantém o custeio pelos empregados, empregadores e
Estado.  Mas a forma como cada um destes contribui, se distingue e a sociedade participação da 
sociedade na composição do financiamento social se dá de diversas formas além da 
contribuição fiscal tradicional. O melhor exemplo que temos disto é a destinação de parte   da
arrecadação dos concursos de prognósticos serem destinados à Seguridade Social. 
Ainda, a diversidade também se vislumbra nos diversos instrumentos utilizados
pelo Estado  para a cobrança de contribuições (folha remuneratória, lucro, faturamento etc). 
g) Caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite,  com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do
Governo nos  órgãos colegiados. 
5. Da Saúde (art. 196 a 200, da CF) 
Além do conhecimento do conteúdo da Lei 8080/1990, que criou o Sistema Único
de Saúde,  destaco aqui os textos do artigo 196 e 200, da CF: 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e  econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e  igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei: 
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a
saúde e  participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos,
hemoderivados e  outros insumos; 
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de
saúde do  trabalhador; 
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; 
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento
básico; 
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e
tecnológico e a inovação;  (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) 
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor
nutricional, bem  como bebidas e águas para consumo humano; 
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e
utilização de  substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; 
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. 
6. Da Assistência Social (art. 203 e 204, da CF) 
Além de conhecermos o conteúdo da Lei 8.742/1993, que instituiu a Lei Orgânica
da Previdência  Social (LOPS) e a Lei 12.435/2011, que instituiu o Sistema Único de
Assistência Social (SUAS),  destaco o texto do artigo 203, da Constituição Federal:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de  contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: 
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; 
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; 
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; 
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção
de sua  integração à vida comunitária; 
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao  idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de
tê-la provida por  sua família, conforme dispuser a lei. 
VI - a redução da vulnerabilidade socioeconômica de famílias em situação de
pobreza ou de  extrema pobreza.
7. Da Previdência Social (art. 201 e 202, da CF) 
Estudaremos em especial o contido nas Leis Federais 8.212 e 8.213, ambas de
1991, mas  importa destacar o texto do artigo 201 da Constituição Federal: 
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de
Previdência Social,  de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio  financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: 
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o
trabalho e idade  avançada; 
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; 
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; 
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda; 
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro
e  dependentes, observado o disposto no § 2º. 
(...) 
§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do
trabalho do  segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo. 
A Constituição define o Regime Geral de Previdência Social, destinado a todos
aqueles que  exercem atividade remunerada, podendo ser alcançado – pelo critério da
universalidade,  qualquer um que queira contribuir6.  
Nos é natural que os militares e servidores públicos, detentores de um sistema de
proteção  social em que detinham a possibilidade de aposentação com vencimentos integrais,
não  desejarem integrar o RGPS, onde seu benefício é limitado ao teto do INSS. 
Portanto mantiveram-se estes dentro de um Regime Próprio de Previdência. 
No Regime Geral, onde se insere o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
temos duas  modalidades básicas de segurados, o obrigatório e o facultativo – o que será tratado
no próximo  encontro.

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