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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE GOIÂNIA/MG.

SANDOVAL ALVES JUNIOR EIRELI, empresa individual, inscrita no


CNPJ sob o nº 32.907.047/0001-20, com endereço na Avenida Deputado Jamel Cecílio, Qd.
B-26, Lt. 16/17, nº 2.690, sala 1911, SUBCOND.COM.TO.TOKIO-SAL, Jardim Goiás,
Goiânia/GO, CEP: 74.810-100; neste ato representado por seu administrador SANDOVAL
ALVES JUNIOR, brasileiro, solteiro, empresário, inscrito no CPF sob o nº 033.317.366-00,
residente e domiciliado na Rua 70, Qd. C13, Lt. 1/2/19/20, SN, Apto 1503, bairro Jardim
Goiás, Goiânia/GO, CEP 74.810-350, por intermédio de seu advogado e bastante procurador,
vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, amparado nos Arts. 186; 927 do
Código Civil, e demais dispositivos aplicáveis a espécie propor

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO com pedido de TUTELA


PROVISÓRIA DE URGÊNCIA EM CARATER INCIDENTAL

em face do SOCIEDADE RADIO CARIJOS LTDA, pessoa jurídica de direito


privado inscrita CNPJ sob o n. 19.714.070/0001-30, com sede na Cald Getúlio Vargas, nº 81,
1º andar, Centro, Conselheiro Lafaiete - MG, CEP: 36.400-082, rogando pelo acolhimento e
recebimento desta, nos termos a seguir expostos:

I – DOS FATOS

A autora não possui nenhum vínculo jurídico com a empresa ré.

No entanto, foi surpreendida com o seu nome envolvido em protesto de título que
não deve.

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Rua Saul Valadares Ribeiro, nº 195, bairro Copacabana – Patos de Minas/MG
Telefone (34) 3825-3100
Sendo ele, o Título DMI 1273 – Nº Título no Banco: 109-00004132-3, Valor:
R$ 2000,00. (Doc. Xx. j).

Ao obter informações sobre a origem deste protesto, foi informado de que se trata
de um boleto associado a uma nota fiscal, que teria sido emitida em razão do suposto
contratação do serviço de veiculação promocional de faixa musical.

No entanto, a Autora nunca celebrou nenhum contrato de prestação de serviço


com a Requerida, portanto não existe motivo para emissão de boleto, sendo os protestos
injustificados.

Observa-se, diante disso, que a Requerida não adota critérios sérios de controle
para suas cobranças, e muito menos se preocupa em protestar títulos baseados em títulos
exigíveis baseados em relações comerciais existentes, como assim fez com a Requerente.

Na tentativa de solucionar o problema, a Autora fez contato com a Ré, (Doc.


Xx. j), sem que obtivesse qualquer êxito, não tendo conseguido colocar fim ao impasse de
forma amigável.

Assim não restou outra alternativa senão a de socorrer-se do Poder Judiciário


para ver reconhecida a inexistência da dívida, bem como a baixa definitiva dos protestos
realizado indevidamente.

II – DO DIREITO

Jamais foi estabelecido relação comercial entre a Requerente e a empresa


requerida, sendo possível a interposição de ação declaratória com o fito de desconstituir
relação jurídica patrimonial, visto que há cobrança de débitos inexistentes.

Moacy Amaral Santos ao tratar sobre o tema, afirma que:

“O conflito entre as partes está na incerteza da relação jurídica, que a


ação visa a desfazer, tomando certo aquilo que é incerto, desfazendo a
dúvida em que se encontram as partes quanto a relação jurídica. A
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ação meramente declaratória nada mais visa do que a declaração da
existência ou inexistência de uma relação jurídica. Basta a declaração
da existência ou inexistência da relação jurídica para que a ação haja
atingido sua finalidade”.

No caso, a Requerente jamais realizou qualquer tipo de transação comercial


com a empresa Requerida, no sentido de promover a faixa musical “Para continuar – artista
Kleo Dibah”, sendo a mesma inteiramente responsável por sua conduta negligente, já que é
indevida toda e qualquer cobrança de valores.

A requerida além de não ter estabelecido com a Requerente qualquer relação


comercial, promoveu o protesto do supracitado boleto, que a Requerente não tem
conhecimento e cuja obrigação que não contraiu (doc. 04 e 05, j.).

Sabe-se que o credor pode protestar dívidas. Contudo, se o protesto é indevido


pela inexistência de dívida, o credor é responsabilizado civilmente, sujeito à reparação.

No caso dos autos, a Autora jamais contratou qualquer serviço que possa
originar dívidas com a requerida. Com efeito, a ré, praticou ato abusivo em desacordo com os
princípios informadores de todo o ordenamento jurídico, fazendo jus a declaração da
inexistência de dívidas e com a consequente baixa dos protestos.

Nesse sentido é a jurisprudência:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA C/C INDENIZATÓRIA - RELAÇÃO
NEGOCIAL - TITULARIDADE NEGADA - ANOTAÇÃO RESTRITIVA
DE CRÉDITO - PROTESTO - FEIÇÃO IRREGULAR - DANOS MORAIS
- CABIMENTO - RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE -
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. 1 - Anotações restritivas de crédito
e protestos, pautados em contrato não firmado entre as partes e, por
conseguinte, em dívidas inexistentes, refletem negligência e atraem
reparação dos danos morais experimentados pela parte lesada, bem
como o deferimento da tutela de declaração de inexistência dos débitos e
de exclusão dos apontamentos 2 - Os danos morais, em situações dessa
natureza, emergem dos fatos em si e não demandam qualquer outra prova.
3 - A indenização por dano moral deve ser fixada segundo prudente arbítrio
do magistrado, e afasta ajuste quando quantificada segundo as circunstâncias
do caso concreto e em estrita observância aos princípios da razoabilidade e
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proporcionalidade. 4 - Os honorários advocatícios de sucumbência devem
ser mantidos quando fixados em observância aos parâmetros delineados nos
incisos do art. 85, § 2º, do NCPC.  (TJMG -  Apelação Cível
1.0106.18.003066-5/001, Relator(a): Des.(a) Octávio de Almeida Neves ,
12ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/08/2019, publicação da súmula
em 14/08/2019)

Ademais, é importante verificar que o título protestado se trata tão somente um


boleto. A existência de boleto, por si só, não garante a existência de dívida. Para dar lastro a
esses "boletos bancários", a empresa emissora, entretanto, deverá ter além da nota fiscal
emitida, o comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação do serviço.

Em se tratando de ação declaratória de inexistência de débito, a jurisprudência


pátria tem se manifestado no sentido de que o ônus da prova da existência da relação
contratual que deu origem à inscrição é do credor.

Isso porque não se pode exigir do devedor a comprovação de que não possui a
dívida impugnada, tendo em vista que se trata de demonstração de fato negativo.

Há que se ressaltar a existência de uma modalidade de prova em que a sua


produção se torna excessivamente difícil, ou até mesmo impossível de ser realizada, como nos
casos em que é necessário comprovar a inexistência de um fato.

A prova diabólica, como comumente conhecida, é aquela em que a veracidade das


alegações a respeito de um fato é extremamente difícil de ser demonstrada, inexistindo outro
meio capaz de ensejar sua evidência.

Para tentar resolver tal questão surgiu a teoria da distribuição dinâmica do ônus da
prova, em que o ônus probandi é distribuído para quem puder suportá-lo, tendo como
fundamento o princípio da igualdade, invertendo-se, desta forma, a teoria estática
anteriormente adotada pelo revogado Código Processo Civil.

A teoria dinâmica, tendo sido acolhida no Estatuto Processual, em seu artigo 373,
§ 1º.
Nesse sentido há julgado do Superior Tribunal de Justiça:

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4. Uma vez negado o fato que se alega, o sistema aceito
excepcionalmente é o da teoria da distribuição dinâmica do ônus da
prova, na qual o dever será atribuído a quem puder suportá-lo,
retirando o peso da carga da prova de quem se encontra em evidente
debilidade de suportar o ônus. Portanto, a distribuição será a posteriori,
segundo a razoabilidade, de tal maneira que se evite a diabolização da
prova - aquela entendida como impossível ou excessivamente difícil de
ser produzida - como a prova de fato negativo. 5. Sendo assim, a regra
geral é a de que, negada a existência do fato, o ônus probandi passa a ser de
quem alega. Ademais, a empresa concessionária, além de todos os dados
estatísticos acerca do regular consumo, ainda dispõe de seu corpo funcional,
que mês a mês verifica e inspeciona os equipamentos. É seu dever provar
que houve fraude no medidor. (REsp 1.605.703/SP, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/11/2016, DJe
17/11/2016).

Este Tribunal já se posicionou no mesmo sentido:

APELAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO. INSCRIÇÃO NOS CADASTROS RESTRITIVOS DE
CRÉDITO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DEVER DE
INDENIZAR. DANO MORAL PURO. ARBITRAMENTO DO
QUANTUM. CRITÉRIO. Tendo sido o suposto credor responsável pela
inscrição indevida nos Cadastros de Restrição ao Crédito com base em uma
dívida que sequer foi contraída pelo suposto devedor, resta inconteste o
dever de indenizar. A prova da celebração do negócio jurídico subjacente
cabe tão somente àquele que se imputa credor, conclusão que se chega
sob o fundamento da teoria da carga dinâmica do ônus da prova e como
forma de afastar a exigência dirigida ao autor para produção de prova
diabólica ou com caráter negativo. "O dano moral decorre do próprio ato
lesivo de inscrição indevida nos cadastros de restrição ao crédito,
independentemente da prova objetiva do abalo à honra e à reputação sofrida
pelo autor, que se permite, na hipótese, facilmente presumir, gerando direito
a ressarcimento" (REsp n° 323.356/SC). O arbitramento econômico do dano
moral deve ser realizado com moderação, em atenção à realidade da vida e
às peculiaridades de cada caso, proporcionalmente ao grau de culpa e ao
porte econômico das partes. Ademais, não se pode olvidar, consoante parcela
da jurisprudência pátria, acolhedora da tese punitiva acerca da
responsabilidade civil, da necessidade de desestimular o ofensor a repetir o
ato. V.V.: Demonstrada a existência de relação jurídica entre as partes, não
há que se falar ausência de negócio jurídico que originou o débito.
Evidenciada a inadimplência, é lícito o encaminhamento do nome do
devedor ao registro de restrição ao crédito, tratando-se de exercício regular
de seu direito. (TJMG - Apelação Cível 1.0439.15.001051-0/001, Relator
(a): Des.(a) Cláudia Maia, 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
16/06/2016, publicação da súmula em 24/06/2016)

Portanto, incumbe ao requerido a demonstração dos fatos constitutivos de seu


direito, comprovando não apenas a relação jurídica que deu origem ao débito, mas também a
efetiva existência deste.
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Logo, inexistindo lastro para a cobrança, bem como para o protesto, não há
dúvidas de que assiste razão a Requerente, impondo-se a procedência de seu pedido.

II – DANO MORAL E QUANTUM INDENIZATÓRIO

Na lição de Yussef Said Cahali (Dano Moral. 3 ed. São Paulo: RT, 2005, p. 22), o
dano moral é conceituado:

"como a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo


na vida do homem e que são a paz, a tranqüilidade de espírito, a liberdade
individual, a integridade individual, a integridade física, a honra e os demais
sagrados afetos; classificando-se, desse modo, em dano que afeta a parte
social do patrimônio moral (honra reputação etc.) e dano que molesta a parte
afetiva do patrimônio moral (dor, tristeza, saudade etc.)".

Como cediço, o pressuposto para a indenização de danos morais não consiste na


prova do dano em si, por sua notória impossibilidade. O que deve restar demonstrado é o fato
que gerou o abalo no patrimônio moral do indivíduo, conforme preconiza a jurisprudência:

"AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL -


NÃO INDICAÇÃO DE OFENSA A DISPOSITIVO DE LEI FEDERAL
SUPOSTAMENTE VIOLADO CAPAZ DE EMBASAR A ALEGAÇÃO
RECURSAL. SÚMULA 284/STF. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. DANO MORAL. COMPROVAÇÃO DO
FATO QUE LHE DÁ ORIGEM. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO - IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA 7/STJ. 1.- Em sede de
recurso especial, não se podem acolher as alegações que não estejam
amparadas em indicação de ofensa dispositivo de lei federal pertinente ou
em dissídio jurisprudencial. Incidência da Súmula 284/STF. 2.- O
prequestionamento, entendido como a necessidade de o tema objeto do
recurso haver sido examinado pela decisão atacada, constitui exigência
inafastável da própria previsão constitucional, ao tratar do recurso especial,
impondo-se como um dos principais requisitos ao seu conhecimento. Nos
termos das Súmula 211/STJ, e 282 e 356/STF, não se admite o recurso
especial que suscita tema não prequestionado pelo Tribunal de origem. 3.-
De acordo com a jurisprudência desta Corte, "o dano moral não
depende de prova; acha-se in re ipsa" (REsp 296.634/RN, Rel.
Min.BARROS MONTEIRO, DJ 26.8.2002), pois "não há falar em prova
do dano moral, mas, sim, na prova do fato que gerou a dor, o
sofrimento, sentimentos íntimos que o ensejam" (REsp 86.271/SP, Rel.
Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJU 9.12.97). 4.- O
desconto realizado por instituição bancária em conta corrente do seu cliente
sem autorização expressa deste enseja danos morais. Precedentes. 5.- Agravo
Regimental a que se nega provimento." (AgRg no AREsp 510.041/SP, Rel.
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Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2014,
DJe 01/09/2014).

Neste diapasão, se deve apreciar as peculiaridades do caso vertente em ordem de


se constatar a existência de fato idôneo à caracterização de efetiva lesão a direito de
personalidade da Requerente.

No caso em comento, o fato em questão consiste no protesto indevido de título,


cuja emissão é desassociada de causa jurídica válida, posto que não há comprovação da
celebração de contrato de prestação de serviço ou a sua efetiva realização, restando evidente a
caracterização do dano moral em razão do abalo à honra objetiva da parte recorrida, que
consiste em pessoa jurídica.

A suscetibilidade de a pessoa jurídica sofrer danos de ordem moral está


consolidada na jurisprudência, entendimento este objeto da Súmula 227 do STJ, cujo
enunciado se reproduz:

SÚMULA 227 STJ. A PESSOA JURÍDICA PODE SOFRER


DANO MORAL

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça orienta-se no sentido de que o


protesto indevido de título consiste em circunstância apta, por si só, a caracterizar o dano
moral, prescindindo, pois, de qualquer outra comprovação, ainda que o lesado seja pessoa
jurídica, conforme se destaca:

"AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROTESTO INDEVIDO.
PESSOA JURÍDICA. DANO MORAL IN RE IPSA. 1. Recurso especial
interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil
de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Nos casos de
protesto indevido ou inscrição irregular em cadastro de inadimplentes, o
dano moral se configura in re ipsa, mesmo que o ato tenha prejudicado
pessoa jurídica. Precedente. 3. Agravo interno não provido." (AgInt nos
EDcl no AREsp 1584856/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/08/2020, DJe 31/08/2020).

"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL POR INCLUSÃO INDEVIDA EM
CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. DANOS MORAIS.
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Telefone (34) 3825-3100
CONFIGURAÇÃO DE DANO IN RE IPSA EM RELAÇÃO À
PESSOA JURÍDICA. OCORRÊNCIA. PRECEDENTES.
VIOLAÇÃO À COLEGIALIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
REVISÃO DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. NÃO
OCORRÊNCIA. AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. Cuidando-se de protesto indevido de título ou
inscrição irregular em cadastro de inadimplentes, conforme
expressamente reconhecido pelo Tribunal a quo, o dano moral,
ainda que a prejudicada seja pessoa jurídica, configura-se in re
ipsa, prescindindo, portanto, de prova. Precedentes. 2. O relator
está autorizado a decidir monocraticamente recurso que for contrário a
jurisprudência dominante (Súmula 568/STJ). Além disso, eventual
nulidade da decisão singular fica superada com a apreciação da
matéria pelo órgão colegiado por ocasião do agravo interno. 3. A
obtenção das circunstâncias necessárias ao conhecimento do recurso a
partir do delineamento fático do acórdão recorrido não implica
reexame fático-probatório vedado pela Súmula 7/STJ. 4. Agravo
interno a que se nega provimento." (AgInt no REsp 1828271/RS, Rel.
Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
18/02/2020, DJe 12/03/2020).

No presente caso, é possível verificar sérios transtornos ao sócio e clientes,


pois passaram meses amargando uma dificuldade enorme em conseguir crédito, prejudicando
a imagem da empresa no cumprimento de seus prazos e no perfeito atendimento.

Assim, não há dúvidas de que é assegurada a indenização à Pessoa Jurídica que


foi compelido a tolerar diariamente o descaso da Ré, com danos à sua imagem, devendo ser
indenizada.

Não obstante ao constrangimento ilegítimo, as reiteradas tentativas de resolver


a necessidade do Autor ultrapassa a esfera dos aborrecimentos aceitáveis do cotidiano, uma
vez que foi obrigada a buscar informações e ferramentas para resolver um problema
causado pela Requerida e seus funcionários, tendo de despender energia e tempo do
sócio no sentido de levantar a causa do problema.

Assim, no presente caso não se pode analisar isoladamente o constrangimento


sofrido, mas a conjuntura de fatores que obrigaram a Requerente buscar a via judicial. Ou
seja, deve-se considerar o grande desgaste da Autora, nas pessoas de seus sócios e
funcionários, nas reiteradas tentativas de solucionar o ocorrido sem êxito, gerando o dever de
indenizar, o abalo moral sofrido.
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No que tange ao a quantificação do dano, embora não possua critérios fixos e
determinados, deve pautar-se no prudente arbítrio do Julgador, com a observância dos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, sempre buscando alcançar os objetivos do
instituto do dano moral, quais sejam, reparar os danos causados à vítima, punir o agente pela
conduta já adotada e inibi-lo na reiteração do ilícito.

Tratando da questão da fixação do valor, leciona Caio Mário da Silva Pereira que
dois são os aspectos a serem observados:

"a) De um lado, a idéia de punição ao infrator, que não pode ofender em vão
a esfera jurídica alheia... ; b) De outro lado proporcionar a vítima uma
compensação pelo dano suportado, pondo-lhe o ofensor nas mãos uma soma
que não é pretium doloris, porém uma ensancha de reparação da afronta..."
Instituções de Direito Civil, V. II, Ed. Forense, 16ª ed., 1.998, pag. 242.

De qualquer forma, doutrina e jurisprudência são pacíficas no sentido de que a


fixação deve se dar com prudente arbítrio, para que não haja enriquecimento à custa do
empobrecimento alheio, mas também para que o valor não seja irrisório.

O valor da indenização pelos danos morais deve ser capaz de reparar a abalo
sofrido pelo ofendido, de compensá-lo pelo sofrimento suportado em razão da conduta
inadequada do agressor.

Como dispunha o art. 948, do Código Civil de 1916, cuja essência ainda se aplica
atualmente, nas indenizações por fato ilícito prevalecerá o valor mais favorável ao lesado, ou
seja, o valor adequado da indenização será aquele capaz de reduzir, na medida do possível, o
impacto suportado pelo ofendido em razão da conduta gravosa de outrem, objetivo este que
não será alcançado se a indenização for fixada em valores módicos.

Clayton Reis, ao lecionar acerca do efeito compensatório da indenização por


danos morais, disserta:

(...). Dessa forma, o efeito compensatório não possui função de reparação no


sentido lato da palavra, mas apenas e tão-somente de conferir à vítima um
estado d'alma que lhe outorgue a sensação de um retorno do seu 'animus'
ferido à situação anterior, à semelhança do que ocorre no caso de
ressarcimento dos danos patrimoniais. É patente que a sensação aflitiva
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vivenciada pela vítima, decorrente das lesões sofridas, não se recompõe
mediante o pagamento de uma determinada indenização, mas apenas sofre
um efeito de mera compensação ou satisfação.
O efeito "analgésico" desse pagamento poderá amenizar ou até mesmo
aplacar a dor sentida pela vítima, caso seja adequada e compatível com a
extensão da sua dor.
Assim, não sendo possível eliminar as causas da dor, senão anestesiar ou
aplacar os efeitos dela decorrentes, o 'quantum' compensatório desempenha
uma valiosa função de defesa da integridade psíquica das pessoas. (...). (Os
Novos Rumos da Indenização do Dano Moral, Forense: Rio de Janeiro,
2002, pág. 186.).

Nesse contexto, a função compensatória da indenização por danos morais


constitui uma satisfação que atenue a ofensa causada, proporcionando uma vantagem ao
ofendido, que poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender às satisfações
materiais ou ideais que repute convenientes, diminuindo assim, em parte, seu sofrimento.

Assim, o quantum indenizatório não pode ser irrisório, tendo em vista a


necessidade de se compensar a vítima pela conduta injusta, ilícita, do ofensor. De fato, em se
tratando de danos morais, nunca se chegará a um valor que equivalha de forma certa ao
sofrimento suportado pela vítima, todavia deve-se arbitrar quantia que, no máximo possível,
possa de alguma forma atenuar o prejuízo sofrido, compensando todo o desgaste advindo do
fato ilícito.

Ou seja, enquanto o papel jurisdicional não fixar condenações que sirvam


igualmente ao desestímulo e inibição de novas práticas lesivas, situações como estas
seguirão se repetindo e tumultuando o judiciário.

Portanto, cabível a indenização por danos morais, E nesse sentido, a indenização


por dano moral deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma
forma o abalo sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta para que não volte a repetir o
ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos transtornos causados

Levando em consideração a gravidade do ocorrido, a indenização deve ser


equivalente a 35 (trinta e cinco) salários-mínimos, nesta data correspondente a R$ 38.500,00
(trinta e oito mil e quinhentos reais), ou então, em valor que esse D. Juízo fixar, pelos seus

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próprios critérios analíticos e jurídico. O referido valor é suficiente para permitir a
indenização, sem, contudo, gerar enriquecimento sem causa. A quantia estabelecida está em
consonância com os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, de modo que não há
motivo imaginar outro valor.

III - DA TUTELA DE URGÊNCIA EM CARATER INCIDENTAL

Diante nos termos dos artigos 294, 295 e 300 do Código de Processo Civil,
pleiteia-se a tutela de urgência em caráter incidental a fim de que seja determinada a sustação
do protesto ou a suspensão dos efeitos do protesto apontados.

Quanto a probabilidade do Direito para a concessão da tutela de urgência, esta já


foi exaustivamente comprovada no item anterior pela consolidada jurisprudência e
fundamentação legal, especialmente porque, no caso dos autos, a Autora jamais contratou
qualquer serviço ou adquiriu produtos que possam originar dívidas com a Requerida.

Nesses termos é a o entendimento jurisprudencial:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DECLARATÓRIA


DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO - TUTELA DE
URGÊNCIA - SUSTAÇÃO DE PROTESTO - REQUISITOS PRESENTES
- DEFERIMENTO - MULTA DIÁRIA - CABIMENTO - APLICAÇÃO DE
MULTA DIÁRIA - POSSIBILIDADE - VALOR - RAZOABILIDADE. -
Presentes os requisitos do art. 300 do Código de Processo Civil, uma vez
que a parte autora negou a existência de dívida que ensejou a
negativação, deve ser deferida a tutela de urgência para determinar a
sustação do protesto. - É cabível a fixação de multa cominatória com a
finalidade de garantir a eficácia da decisão de cunho mandamental, que
determina obrigação de fazer. - Embora as 'astreintes' possam ser fixadas em
valores altos, não pode o Julgador se distanciar do princípio constitucional
da razoabilidade e proporcionalidade, devendo, ainda, evitar possível
enriquecimento da parte que vier a se tornar credora. (TJMG - Agravo de
Instrumento-Cv 1.0000.21.008599-9/001, Relator(a): Des.(a) Valdez Leite
Machado , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/07/2021, publicação da
súmula em 09/07/2021)

No que concerne ao perigo de dano, apesar da Autora constituir-se em Empresa de


Pequeno Porte com movimentação financeira modesta, necessita a mesma de manter
incólume sua higidez financeira pois atua no ramo do Comercio e Varejo de automóveis e

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celebra negócios com diversos fornecedores, razão pela qual o protesto do título apontado lhe
causará sérios prejuízos, já que tem experimentado dificuldade em obter crédito, bem como
sua credibilidade. A demora na solução da situação tem prejudicado a empresa no
cumprimento de seus prazos e no seu perfeito atendimento.

No caso dos autos, verifica-se que a Autora nunca celebrou negócio com a com a
Ré, sendo inexistentes as dívidas que geraram o protesto, impondo, pois, preservar a
reputação da empresa, até que a existência da dívida que ensejou a negativação seja
efetivamente comprovada.

Ademais, vale lembrar que a duplicata mercantil é título causal, ou seja, depende
de prova da realização do negócio jurídico subjacente. Assim, para que seja reputada válida a
duplicata, imperiosa a prova do serviço prestado ou da entrega da mercadoria, o que não será
possível, já que não houve negócios entre as partes.

Não é possível exigir que a autora faça prova negativa de fato que não está em sua
seara, cabendo ao réu demonstrar a existência e licitude da dívida, já que são as detentoras das
informações imprescindíveis ao caso concreto.

Ademais, ainda que posteriormente seja averiguada a legitimidade do suposto


débito, é circunstância absolutamente reversível, podendo a ré cobrar o que lhe é devido.
Todavia, para a autora, ser considerada inadimplente, quando se está discutindo justamente a
existência de crédito, é situação que enseja prejuízos.

Diante desse contexto, não há como manter o protesto até que a parte ré,
comprove suas alegações.

Infere-se, portanto, presentes os requisitos que autorizam a concessão da Tutela de


Urgência Incidental nos presentes autos.

IV – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, REQUER a Vossa Excelência:


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Rua Saul Valadares Ribeiro, nº 195, bairro Copacabana – Patos de Minas/MG
Telefone (34) 3825-3100
a) Em razão da verossimilhança dos fatos ora narrados, CONCEDER,
LIMINARMENTE, TUTELA DE URGÊNCIA INCIDENTAL, de forma “initio
littis” e “inaudita altera pars”, para determinando-se a sustação do protesto ou a
suspensão dos efeitos dos protestos, Título DMI 1273 – Nº Título no Banco: 109-
00004132-3, Valor: R$ 2000,00, Vencimento 16/12/2019 – Portador BANCO
ITAU S/A, até o julgamento do pedido principal a ser deduzido, mediante a expedição
de ofício ao 2º Tabelionato de Protestos de Títulos de Registro civil de Pessoas
Jurídicas e Registro de Título e documentos de Goiânia, situado Rua 6, nº225, Setor
Central, Goiânia – GO, até o julgamento do mérito do pedido.
b) Ordenar a CITAÇÃO da REQUERIDA no endereço inicialmente indicado,
quanto à presente ação, e sobre a decisão proferida em sede liminar, para que,
perante esse Juízo, apresente a defesa que tiver, dentro do prazo legal, sob pena de
confissão quanto à matéria de fato ou pena de revelia.
c) Seja designada data para audiência de conciliação a critério do D. Juízo;
d) Ao final requer seja julgada PROCEDENTE a presente Ação, declarando a
inexistência do débito, tornando definitivos os efeitos da tutela, obrigando, de
imediato, a tomar as providências administrativas necessárias, para cancelamentos
dos , Título DMI 1273 – Nº Título no Banco: 109-00004132-3, Valor: R$ 2000,00,
Vencimento 16/12/2019 – Portador BANCO ITAU S/A, até o julgamento do
pedido principal a ser deduzido, mediante a expedição de ofício ao 2º Tabelionato de
Protestos de Títulos de Registro civil de Pessoas Jurídicas e Registro de Título e
documentos de Goiânia, situado Rua 6, nº225, Setor Central, Goiânia – GO
assinalando-se prazo para cumprimento da ordem, com a fixação de multa por dia de
atraso, com base no art. 644, cc. Art. 461, ambos do CPC, sendo ainda condenada
nos seguintes termos:
I - Ao pagamento de uma indenização, de cunho compensatório e
punitivo, pelos danos morais causados a Autora, em valor pecuniário
justo e condizente com o caso apresentado em tela, qual, amparado em
pacificada jurisprudência, deve ser equivalente a 35 (trinta e cinco)
salários-mínimos, nesta data correspondente a R$ 38.500,00 (trinta e
oito mil e quinhentos reais), ou então, em valor que esse D. Juízo fixar,
pelos seus próprios critérios analíticos e jurídico.
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Rua Saul Valadares Ribeiro, nº 195, bairro Copacabana – Patos de Minas/MG
Telefone (34) 3825-3100
II - Condenar a Ré ao pagamento indenização por danos materiais no
patamar de R$5.000,00 reais, em razão das despeças impontas ao
Requerente,
III - incluir na esperada condenação da Ré, a incidência juros e
correção monetária na forma da lei em vigor, desde sua citação.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas e


cabíveis à espécie.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas e


cabíveis à espécie.

Dá-se à causa o valor de R$

De Patos de Minas, 08 de outubro de 2021.

ALBERTO DE MAGALHÃES FRANCO FILHO


OAB/MG 97.979

DOCUMENTOS ANEXADOS

1. Procuração;
2. Última Alteração Contratual da Autora;
3. Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral da Autora;
4. Certidão Simplificada – Junta Comercial
5. Certidão Positiva – Tabelionato de Protestos de Goiânia.
6. Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral da Requerida.

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Rua Saul Valadares Ribeiro, nº 195, bairro Copacabana – Patos de Minas/MG
Telefone (34) 3825-3100

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