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BIOPOLÍTICA E RACISMO DE ESTADO EM MICHEL FOUCAULT

André Felipe Delfino dos Reis Sabino


Rogério Anderson da Silva
Tarcísio Moreira de Queiroga Júnior1

Resumo​: O objetivo desse artigo é fazer uma análise dos conceitos de biopolítica e racismo
de Estado em Michel Foucault. A biopolítica nascida no século XVIII tem como função
primária a proteção sobre a vida da população, ou seja, a preservação do corpo-espécie que é
alvo desse novo poder. O racismo de Estado é um elemento fundamental para que o novo
poder emergido que visa à proteção da vida possa exercer a morte, um mecanismo que
permite tirar a vida de organismos que ofereçam alguma ameaça à população. Desta maneira
o racismo de Estado coloca o bem estar de uma população como justificativa para o genocídio
de outra que venha a apresentar risco biológico ao corpo-espécie, ou que ameace a pureza da
mesma.

Palavras-chave​: biopolítica, racismo de Estado, corpo-espécie, genocídio, população, Michel


Foucault.

Resumen​: El objetivo de este artículo es hacer un análisis de los conceptos de biopolítica y


racismo de Estado en Michel Foucault. La biopolítica nasció en el siglo XVIII con la función
primaria de proteger la vida de la población, o sea, la preservación del cuerpo-especie que es
el objetivo de este nuevo poder. El racismo de Estado es un elemento fundamental para que el
nuevo poder emergido que visa la protección de la vida pueda ejercer la muerte, un
mecanismo que permite sacar la vida de organismos que puedan ofrecer alguna amenaza a la
población. De esta manera el racismo de Estado coloca el bienestar de una población como
justificativa para el genocidio de otra que venga a plantear riesgo biológico al cuerpo-especie,
o que amenace la pureza de la misma.

Palabras-clave​: biopolítica, racismo de Estado, cuerpo-especie, genocidio, población, Michel


Foucault.

1
​Graduandos do curso de História pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana.
1. Introdução

Mostraremos através de estudiosos de Michel Foucault e das obras do referido autor,


como aflora a biopolítica que forma um dos braços do biopoder, sendo o outro braço a
disciplina. Biopoder esse que surge em meados do século XVII ligado ao aparecimento e
desenvolvimento de um novo Estado que emerge, juntamente com novos interesses, formando
e normalizando indivíduos em suas populações. Assim como essa forma de poder direcionada
positivamente, no sentido da preservação da vida e da segurança do corpo-espécie, se utiliza
do mecanismo do racismo de Estado para executar e legitimar a eliminação de sub-populações
dentro do próprio corpo-espécie, ou de inimigos externos a ele.

Portanto, observamos que o racismo de Estado é um dos mecanismos que sustentam


esse poder biopolítico e que esse direcionamento positivo em favor da vida é em realidade
destinado a uma determinada população privilegiada que constitui a raça dominante, é “o
racismo, portanto, que assegura a “função assassina do Estado” na economia do biopoder, ou
seja, é a condição para que um Estado que funciona nesse regime possa exercer o direito de
matar” (BERNARDES, 2005, p. 56) associada a uma ideia de pureza oriunda de uma raça
original ou verdadeira. Exporemos também as implicações dessa prática racista por parte do
Estado, qual se apoia nela para ações de política tanto externa como interna.

2. Biopolítica em Michel Foucault.

O biopoder surge em meados do século XVII tendo como função não mais causar a
morte como era durante o poder da soberania, neste sentido, o biopoder carrega consigo o
desejo de preservar a vida e se subdivide “em duas formas principais, que não são antitéticas e
constituem, ao contrário, dois pólos de desenvolvimento interligados por todo um feixe
intermediário de relações” (FOUCAULT, 1999, p. 131). O biopoder não surgiu do nada é
fruto de inúmeras transformações ao longo do tempo, de um poder já existente até atingir o
ponto de se tornar o gestor da vida através do Estado.
O primeiro pólo a ser formado é o da disciplina, no qual os dispositivos do poder se
sustentavam nas práticas disciplinares e se exerciam no corpo individual, transformando-o em
um corpo-máquina obediente, ou seja, a disciplina “fez do corpo humano algo como uma
máquina otimizável, passando a integrá-lo aos demais sistemas de controle de caráter político
e econômico” (BRANCO, 2004, p. 15). O poder da disciplina é centrado na fabricação de
corpos dóceis e hábeis, através do “seu adestramento, ampliação de suas aptidões, na extorsão
de suas forças, no crescimento paralelo de sua utilidade e docilidade, na sua integração em
sistemas de controle eficazes e econômicos”​ ​(FOUCAULT, 1999, p. 131).

Vale a ressalva que o adestramento dos corpos tinha um viés econômico, os corpos
dóceis e hábeis deveriam atender às demandas do mercado de trabalho que estava vinculado
ao surgimento de um sistema mercantilista carente de mão-de-obra e consumidores. O poder
disciplinar se utiliza de vários mecanismos para tentar normalizar o corpo, entre eles podemos
destacar: escolas, colégios, ateliês, entre outros. As disciplinas possuíam um conglomerado de
técnicas que buscavam inserir cada corpo em um lugar específico da sociedade, aperfeiçoado
para as atividades que viria a desenvolver.

O segundo pólo emergiu um pouco mais tarde no ocidente, a partir da segunda metade
do século XVIII, causando uma transformação profunda nos dispositivos de poder, a qual
constitui o “corpo transpassado pela mecânica do ser vivo e como suporte dos processos
biológicos: a proliferação, os nascimentos e a mortalidade, o nível de saúde, a duração da
vida, a longevidade, com todas as condições que podem fazê-los variar” (FOUCAULT, 1999,
p. 131), esses novos mecanismos fazem parte da biopolítica que acabara de emergir no
cenário ocidental. A biopolítica por sua vez terá como efeito a realocação das políticas de
Estado, suas intervenções e regulações que passam a destinarem-se a todo o corpo-espécie,
não mais ao indivíduo. Em decorrência, o corpo-espécie passa a servir de matriz das
disciplinas e princípio das regulações. Desta forma “a disciplina do corpo é agora
acompanhado também da regulação da vida” (CANDIOTTO; D’ESPÍDULA, 2012, p. 29).

Após uma breve diferenciação entre os dois pólos do biopoder, disciplina e


biopolítica, nosso enfoque estará voltado para a biopolítica e como ela contribui para a
implantação do racismo de Estado. Destacamos os mecanismos de controle biológico,
utilizados pela sociedade biopolítica, que contribuíram para a aplicação de normas e
regulações dentro de uma sociedade.
É na biopolítica que os fenômenos próprios da vida do corpo-espécie passam a ser
considerados, se tornam objetos das técnicas políticas. Sendo que nesse período surgiram as
preocupações com a saúde pública, habitação e migração, que demostravam claramente que o
poder biopolítico visa uma gestão calculista da vida da população de forma geral. É nesse
momento que o ser humano como espécie passa a fazer parte das estratégias políticas, houve a
proliferação de novas tecnologias que visavam o corpo-espécie, buscando assegurar sua
existência e continuidade.
Faz-se necessário mencionar o contexto no qual estava inserida a Europa, onde a
industrialização provocou a migração em massa das populações rurais para os centros
urbanos. Esse aumento significativo da população urbana obriga o poder a criar mecanismos
mais complexos para organizar um espaço urbano mais homogêneo, coerente e bem
regulamentado. Dito isso, a população homogênea e regulamentada biologicamente deve ser
protegida de qualquer ameaça externa ou interna que possa oferecer algum risco ao corpo
social, pois este é responsável pela produção e o consumo.
Para Michel Foucault o adestramento e a “docilização” dos corpos promovidas
pelo biopoder através da disciplina e da biopolítica tiveram um importante papel na
consolidação do capitalismo, isso fica evidenciado no texto ​A História da Sexualidade I A
vontade do Saber onde o autor destaca que “este biopoder, sem menor dúvida, foi elemento
indispensável ao desenvolvimento do capitalismo, que só pôde ser garantido à custa da
inserção controlada dos corpos no aparelho de produção e por meio do ajustamento dos
fenômenos de população aos processos econômicos” (FOUCAULT, 1999, p 132).
O poder biopolítico tem a medicina como um de seus mecanismos mais
importantes, já que, ela usou de suas técnicas para assegurar a preservação e a continuidade
do corpo-espécie. Com a vida do corpo-espécie estando no centro do poder, a saúde da
população passa a ser um objeto de preocupação e avaliação para os Estados emergentes na
Europa. Isso indica que uma população saudável é capaz de produzir mais, se tornando mais
rentável ao capitalismo, como acima mencionado, à mesma população que produz é
responsável pelo consumo, então a biopolítica através da medicina procura prolongar ao
máximo a vida dos indivíduos que fazem parte dessa população.
Ademais o biopoder contou com a contribuição de um saber que ascendeu no
mesmo período, as estatísticas. Através das estatísticas o poder biopolítico obtém dados
precisos de uma população, informações mais precisas de como estão os índices de
natalidade, fecundidade, mortalidade, vacinação, violência, etc. permitindo que haja
intervenção de forma mais precisa dos mecanismos de controle do corpo social utilizados pela
biopolítica. Candiotto e D´Espíndula (2013, p. 30) acreditam que as primeiras medições
demográficas e as primeiras estatísticas viabilizaram mais tarde o surgimento de esquemas de
intervenção mais complexos e elaborados. As estatísticas junto com a medicina permitiram ao
poder biopolítico aperfeiçoar o corpo social tanto no que tange a regulamentação e
normalização, quanto no que diz respeito ao biológico. Para Castelo Branco:

Na biopolítica, o alvo de uma ‘regulação’ racional da sociedade pode ser


qualquer grupo, coletividade, povo, e pode continuamente ser transformado,
retrabalhado e aperfeiçoado o seu objeto de intervenção. Basta ser um
cidadão, integrar a sociedade, para ser um potencial alvo de intervenção e
eliminação (BRANCO, 2014, p. 7).

Com a normalização, a regulação e o aperfeiçoamento biológico continuado, a


biopolítica chegou “próximo a uma população adequada aos padrões de consumo desejáveis e
controlados pelas instituições sociais e iniciativas políticas” (BRANCO, 2004, p. 136). É
justamente pelo aperfeiçoamento e a continuidade da espécie humana que surge a necessidade
de protegê-la dos perigos advindo de elementos que possam causar danos ao corpo-espécie.
Neste aspecto o poder biopolítico “estimula a censura num domínio biológico, ao permitir
fragmentar a espécie em subgrupos” (CANDIOTTO; D’ESPÍDULA, 2012, p. 33), entretanto,
como subgrupos podemos entender parte da espécie humana que não apresente pureza
biológica ou não faz parte da população detentora da norma. Em nome da saúde e
continuidade do corpo-espécie, ou ainda a raça tida como verdadeira e única.
É no intuito de proteger a raça pura biologicamente, ou a raça portadora da norma
que a biopolítica demonstra sua dualidade, ao mesmo tempo em que tem como função
proteger a vida, ela se coloca no direito de dizimar a vida da outra população. Nesse contexto
Castelo Branco (2004, p. 136) menciona que para os países pobres o cenário não é favorável,
pois estes oferecem riscos para a civilização dos países ocidentais, que são os portadores da
norma. Mas, como o biopoder que tem como finalidade proteger à vida poderá causar a
morte? É a implantação do mecanismo do racismo de Estado que permite ao biopoder dizimar
uma população por completa ou parte dela em nome da vida e continuidade do corpo-espécie.
No tópico seguinte iremos explanar sobre como o racismo de Estado é utilizado
para eliminar ameaças que possam comprometer o corpo social de uma população.

3. Racismo de Estado em Michel Foucault​.

Segundo Michel Foucault (2005, p. 72) o discurso de luta das raças começou a
funcionar no século XVII, um instrumento de lutas para campos descentralizados que passa a
centralizar-se e torna-se justamente o discurso do poder. Esse discurso propaga “um combate
que deve ser travado não entre duas raças, mas a partir de uma raça considerada a verdadeira e
a única” (FOUCAULT, 2005, p. 72), ou seja, a raça titular, portadora da norma tem o direito
de exercer seu poder contra os anormais. O poder exercido pela raça detentora das normas
nada mais é que o poder soberano de fazer morrer ou deixar viver com uma nova roupagem
dentro da biopolítica. Essa guerra de raças para Foucault (2005, p. 73) dá origem ao racismo
de Estado a partir do início do século XX.

Entretanto há críticas a essa datação sobre o surgimento do racismo, como podemos


ver pela argumentação de Ramón Grosfoguel: ​“El racismo estatal no es un fenómeno
posterior al siglo XVIII, sino un fenómeno que surgió desde la conquista del continente
americano en el siglo XVI.” (GROSFOGUEL, 2013, p. 45). Para esse argumento ele
evidencia que o debate sobre a existência de alma nos índios com vistas à legitimidade da
escravização desses povos que habitavam o continente americano, ensejado por clérigos e
outros teóricos, é o primeiro debate racista da história, apesar de ainda não se utilizar a
palavra raça como conceito e sim como defende o autor, o olhar do debate que muito se
assemelha à conotação utilizada nos debates cientificistas do século XIX.

Ademais, o racismo de Estado é um mecanismo fundamental dentro da biopolítica, é


ele quem se incumbira de preservar o poder soberano de matar ou de deixar viver, se pode
dizer que essa lógica foi invertida, sendo que o poder opera no “deixar morrer ou fazer viver”,
em defesa da sociedade, não mais em nome do soberano. Poder esse que permite a uma
população extinguir outra, ou parte dela mesma, em nome de sua continuidade. O discurso
que emerge dirá que “temos que defender a sociedade contra todos os perigos biológicos
dessa outra raça, dessa sub-raça, dessa contra-raça que estamos, sem querer, constituindo”
(FOUCAULT, 2005, p.73).

Desde que o biopoder emergiu no ocidente o racismo de Estado é um mecanismo


comum a todos os Estados modernos, por ser para Célia Regina Ody Bernardes (2005, p. 54)
“um mecanismo fundamental e constitutivo do modo moderno de poder que introduziu o
domínio da vida no campo político, indicando quem deve viver e quem deve morrer para o
fortalecimento biológico da própria raça”. Assim, o racismo de Estado determina quem ficará
mais exposto à morte, ou efetivamente será eliminado e para que isso ocorra, ele “exerce uma
dupla função: primeira, “subdividir a espécie de que ele se incumbiu em subgrupos que serão,
precisamente, raças”, ou seja, “fragmentar, fazer cesuras no interior desse contínuo biológico
a que se dirige o biopoder”; segunda função, estabelecer uma “relação guerreira”
(CARDOSO, 2008, p. 182), onde é produzida e alimentada a imagem do inimigo e como
ressalta Bernardes, “faz atuar a antiga relação guerreira (se você quiser viver, é preciso que o
outro morra”)” (2005, p. 55). Desta maneira a relação guerreira promove a higienização da
raça eliminando todos os considerados anormais, as espécies inferiores, para que haja menos
degenerados em relação à espécie e mais eu, ou seja, ao eliminar o outro eu fortaleço a
espécie tornando-a mais segura e mais saudável.

É no perigo, no risco biológico que possa ameaçar a existência ​da população portadora
da norma que se justifica a ocorrência do genocídio. Essa situação alarmante faz com que
dentro do corpo social a luta de raças sirva ao propósito de eliminação das ameaças,
segregação da própria população e finalmente da normalização da sociedade. Têm-se ainda,
que a “outra raça não é aquela que veio de outro lugar, nem é aquela que por algum tempo
triunfou e dominou, mas aquela que se infiltra no corpo social de forma contínua e
permanente” (FOUCAULT, 2005, p. 72).

Esse genocídio por parte do Estado expõe a função de morte como política pública,
entretanto se esse Estado está regido pela biopolítica que opera de maneira positiva sobre a
vida, a indagação que fica é a de como é possível a existência dessa função homicida se ela
contradiz o funcionamento da biopolítica?

A resposta pode ser obtida reportando-nos a Eduardo Mendieta:

El racismo hace de la guerra la condición permanente de la sociedad,


mientras que al mismo tiempo enmascara sus armas de tortura y muerte.
Como escribí en algún otro lado, el racismo banaliza el genocidio haciendo
cotidiano el linchamiento de amenazas sospechosas a la salud del cuerpo
social. El racismo hace del asesinato del otro, de otros, un acontecimiento
cotidiano al interiorizar y normalizar la guerra de la sociedad contra sus
enemigos.​ (MENDIETA, 2007, p. 12).

Logo, vemos que é no velamento de suas armas que o racismo instaura a eliminação
das sub-raças, e também, “a raça, o racismo é a condição de aceitabilidade de tirar a vida
numa sociedade de normalização (FOUCAULT, 2005, p. 306), ou seja, é nessa construção de
um estado de aceitação que esse genocídio se concretiza.

Então há dois âmbitos de agência desse racismo de Estado: tanto como política externa
como política interna, ambas se baseando na ideia de guerra para se legitimar. Uma
característica que evidencia o racismo de Estado na política externa é a intensificação das
guerras:

[...] o confronto entre as nações, o confronto dos interesses econômicos dos


países, a partir do século XX, passou a produzir guerras cada vez mais
sanguinárias, nas quais os combatentes passaram a ser eliminados em escalas
nunca antes imaginadas (BRANCO, 2009, p. 31).

Esse racismo de Estado se baseia na pureza das raças, pureza que engloba a parte
biológica, as normas e as regulações, permitindo que boa parte da população mundial viva sob
um regime de austeridade severa, enquanto, a sociedade ocidental portadora da norma possa
usufruir de seu direito a vida sem que outras sociedades manifestem-se contra a mesma. Nesse
contexto “os países pobres ou não-ocidentais, de acordo com o quadro desenhado pela análise
de Foucault, são vistos com (sic) perigosos para o mundo civilizado” (BRANCO, 2004, p.
136), sendo assim o mundo apresenta-se seguro para algumas populações, mas isso não é
privilégio de todas.

Já na política interna esse dispositivo genocida se expressa nas grandes chacinas


produzidas pelo aparato estatal, que além de pela ausência comprometer as sub-populações
desviantes expondo-as mais à morte, também age diretamente sobre sua população, como no
caso de regimes totalitários como o fascismo e o nazismo, “guardadas todas as proporções, até
então, os regimes nunca tinham praticado tais holocaustos sobre sua própria população”
(BRANCO, 2009, p. 31). Foucault destaca que a ação do racismo de Estado com relação à
população interna será; “[...] um racismo que uma sociedade vai exercer sobre ela mesma,
sobre os seus próprios elementos, sobre os seus próprios produtos; um racismo interno, o da
purificação permanente, que será uma das dimensões fundamentais da normalização social”
(FOUCAULT, 2005, p. 73).

4. Considerações finais

É evidente a necessidade de combater o racismo no plano institucional no âmbito do


Estado moderno (constituinte da sociedade biopolítica), com suas manifestações nas esferas
normativas (jurídicas, médicas, escolares, de segurança etc.), quanto na vida social dos
indivíduos componentes do corpo-espécie vinculados a esse regime, uma vez que a
hierarquização já está incorporada na própria população, tendo em conta que a divisão de
sub-grupos ou raças encontrou aceitação no ​modus operandi ​dessa sociedade, juntamente com
a construção de inimigos do coletivo.

Como foi exposta, essa ideia de um coletivo que representa todo o corpo social é um
pretexto para que o grupo dominante portador da norma, que representa o ocidente, e que se
auto conclama superior aos demais siga orientando a norma social, entendida como um ideal a
ser buscado e que se serve do discurso da manutenção e controle da vida como meio de se
legitimar. Assim, segue acontecendo genocídios, privações de direitos fundamentais,
encarceramentos e até mesmo condenações à morte em nome da salvação dessa raça branca e
dominante.
Referências Bibliográficas

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problema do Racismo de Estado a partir da crítica da razão governamental de Michel
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MENDIETA​, E. Hacer Vivir y Dejar Morrir: Foucault y la Genealogia del Racismo. ​Tabula
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