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Direito das Obrigações

19. Gestão de negócios


18. Enriquecimento sem causa
20. a 20.4. Responsabilidade civil
FACTOS NÃO VOLUNTÁRIOS
constitutivos de obrigações

— Gestão de negócios
— Enriquecimento sem causa
— Responsabilidade civil

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19. Gestão de negócios
Prática, p. 104
1. Sem ter poderes para tal, mas conhecendo o interesse de Tomé na
aquisição de um livro raro de BD pertencente a Samuel, Rui,
igualmente interessado em banda desenhada e apesar do elevado
preço pedido, comprou-o em nome de Tomé. Poderá o vendedor
exigir o preço a Tomé? Em que termos deveria ter sido feito o
negócio para que Rui pudesse, eventualmente, ficar com o livro?
2. Maria, ao conduzir o seu automóvel, despistou-se ficando
hospitalizada e o veículo numa ravina. O dono de uma empresa de
reboques levou o veículo para a sua garagem, embora no decurso da
operação de rebocagem o veículo tivesse sofrido novos danos, em
virtude de se ter partido o cabo rebocador. O dono da empresa quer
ser pago das despesas de rebocagem e guarda do veículo,
enquanto a dona do mesmo pretende ser indemnizada dos danos
adicionais (Ac. do STJ, de 22 de Abril de 1986, anot. por BAPTISTA
MACHADO na RLJ, ano 121º, pp. 59 e ss.).

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19. Gestão de negócios

3. Na ausência de Luís, Artur comprou fruta para impedir que a fábrica


de sumos deixasse de laborar e as encomendas deixassem de ser
cumpridas. Luís regressa, não aprovando a gestão por considerar que
as frutas compradas não eram de boa qualidade. Quais os direitos
de Artur?

Este (Artur), contra a vontade presumível de Luís, embora sustentado


em preceito legal, mandou reparar a parede de um prédio de Luís,
que ameaçava ruir, e adquiriu um terreno contíguo à fábrica, por
suspeitar do interesse de Luís na sua aquisição. Será Artur
ressarcido das despesas de reparação? Quem deve pagar o
preço do terreno?

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19. Gestão de negócios

4. Abel, reformado da construção civil, sabendo que o seu amigo e


vizinho Camilo estava no hospital, em virtude de um atropelamento,
decidiu consertar o telhado da casa do seu amigo, após ter ocorrido
um pequeno ciclone. Para essa tarefa, Abel comprou a César 100
telhas e outros materiais necessários, não tendo, no entanto,
pago o preço da aquisição.

Restabelecido Camilo, Abel quer ser pago em função das horas


gastas no trabalho. Camilo reage a tal, alegando que Abel não tinha
qualquer dever de agir e que, pelo contrário, devia indemniza-lo pois
o arranjo do telhado foi feito de forma imperfeita. À margem deste
litígio, César não sabe a quem pedir o dinheiro dos materiais.

a) Com que base pretende Abel ser pago? b) Aprecie a dupla


defesa de Camilo. c) Quem deve pagar a César?

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19. Gestão de negócios

— 464º a 472º
— Noção: 464º
— 1) assunção de negócio alheio
— atos materiais ou jurídicos, de administração ou de
disposição
— 2) no interesse e por conta do dominus
— intenção de fazer deslocar para a esfera de outem os
resultados da intervenção
— 3) sem autorização

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19. Gestão de negócios
A) Relações entre o gestor e o dominus – 465º a 470º
— Obrigações do gestor – 465º
— conformação com o interesse e a vontade real ou presumível do
dono do negócio
— aviso
— prestação de contas
— prestação de informações
— entrega de tudo o que recebeu

— Responsabilidade do gestor por danos culposamente causados


– 466º
— no exercício da gestão
— com a injustificada interrupção (dever de continuação da gestão?
Direito de crédito do dominus?
— AV: sim; ML: não, apenas um específico dever de proteção)

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19. Gestão de negócios
— Relação entre dominus e gestor é legal, quase-
contratual
— a ingerência/intervenção/iniciativa do gestor cria uma relação
especial
— responsabilidade obrigacional, 798º, ss
— ónus da prova, 799º, nº 1 à presunção de culpa (inversão) à
é ao gestor que cabe provar que não teve culpa

— Culpa e critério de apreciação – 466º, nº 2


— 2 momentos: regularidade inicial da gestão; execução da
gestão
— apreciação da culpa em concreto (altruísmo) – A.V.
— e não em abstrato, de acordo com o 487º, nº 2 (799º, nº 2),
exceto se gestor profissional

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19. Gestão de negócios
— Obrigações do dominus
— se houver aprovação da gestão pelo dominus
— a aprovação exprime um juízo global (positivo) sobre a gestão
— 469º
à efeitos do 468º, nº 1 à dever de reembolsar o gestor das
despesas + juros
à renúncia do dominus ao direito de indemnização previsto no
466º, nº 1 e 2

— em caso de não aprovação da gestão pelo dominus


— as obrigações do dominus (e os direitos do gestor) dependem
de a gestão ter sido regular ou irregular
— 468º
— ónus da prova cabe ao gestor, 342º, nº 1

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19. Gestão de negócios
— gestão regular
— em conformidade com o interesse e a vontade real ou
presumível do dominus - 468º, nº 1
à Dever de reembolsar o gestor das despesas (fundadamente
consideradas indispensáveis – não têm de o ser...) + juros
à Dever de indemnizar o gestor do prejuízo sofrido

— gestão irregular
— não conforme ao interesse e à vontade real ou presumível
do dominus – 468º, nº 2
à Responsabilidade do dominus perante o gestor apenas
segundo as regras do enriquecimento sem causa (473º, ss)
à Responsabilidade do gestor perante o dominus pelos danos
causados – 466º, nº 1 e 2

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19. Gestão de negócios
B) Relações com terceiros com quem o gestor tenha
celebrado negócios jurídicos – 471º
— Atos materiais e atos jurídicos

— Gestão representativa, 471º, 1ª parte


— gestor atuou em nome do dominus
— 268º, representação sem poderes
— negócios celebrados pelo gestor só produzem efeitos na
esfera do dominus se forem ratificados por ele, 268º, nº 1
— ratificação pelo dominus (forma 262º, nº 2) à eficácia
retroativa, 268º, nº 2

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19. Gestão de negócios
— Não ratificação pelo dominus:
— Negócio não produz efeitos em relação ao dominus
— Negócio não produz efeito em relação ao gestor (atuou em nome de
outrem)
— à ineficácia absoluta
— Prestações já realizadas? à restituição
— invalidade, 289º
— enriquecimento sem causa, 473º, nº 2 (efeito que não se verificou)

— Problema: princípio da boa fé à pode haver aprovação da gestão e


não ratificação de concretos negócios celebrados pelo gestor com
terceiros? (G. TELLES, sim)
— J. GOMES:
— Recusa de ratificação abusiva (abuso do direito do dominus)?
— Responsabilidade pré-contratual do gestor perante o terceiro (não
informação ao terceiro da falta de poderes)?

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19. Gestão de negócios

— Gestão não representativa, 471º, nº 1, 2ª parte


— gestor atuou em nome próprio, mas no interesse e por conta
do dominus
— 1180º, mandato sem representação
— 1181º
— o gestor é parte no negócio à efeitos produzem-se na sua
esfera
à negócio é eficaz em relação ao gestor
— dever do gestor de retransmitir para o dominus os direitos e
as obrigações
— Se o dominus assume à retransferência
— Se o dominus não assume à o gestor permanece vinculado

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19. Gestão de negócios
464º - Requisitos da gestão de negócios: problemas
— 1) Gestão de negócio alheio julgado próprio, por erro ou
culpa do gestor à 472º
— Alienidade do negócio e do interesse (1 e 2)?
— se houver aprovação da gestão, aplicam-se as regras da
gestão de negócios, 472º, nº 1, 1ª parte à 469º
— se não houver aprovação da gestão, aplicam-se as regras do
enriquecimento sem causa, sem prejuízo..., 472º, nº 1, 2ª parte
à 473º, ss
— se não houver aprovação da gestão e ocorrer violação
culposa (e ilícita e danosa) de direitos absolutos do dominus,
aplicam-se as regras da responsabilidade civil (extracontratual),
472º, nº 2 à 483º, ss

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19. Gestão de negócios
— 2) Gestão mista
— Alienidade do interesse (2)
— verificam-se os 3 pressupostos do 464º
— Mas há também interesse do próprio interventor, por
ex., se o gestor é um gestor profissional
— à há gestão de negócios
— Mas regime de responsabilidade do gestor mais exigente
à apreciação da culpa em abstrato, nos termos gerais,
799º, nº 2 e 487º, nº 2
— E remuneração do gestor, 470º

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19. Gestão de negócios
— 3) Gestão imprópria ou falsa gestão
— Alienidade do interesse (2)
— intervenção em negócio alheio, sabendo que é alheio
— Mas no interesse exclusivo do próprio gestor
— fim doloso de beneficiar da intromissão em esfera alheia
— à não há gestão de negócios
— à responsabilidade civil, 483º, ss
— solução paralela à do 472º, nº 2
— relevante na medida em que o dano indemnizável pode
exceder os limites do benefício (enriquecimento) obtido pelo
interventor

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19. Gestão de negócios
464º - Requisitos da gestão de negócios: problemas
— falta de autorização
— 1) Ato de auxílio ou de salvamento pelo gestor
— Dever geral de auxílio – omissão penalizada pelo art.
200º, C. Penal
— Intervenção autorizada ou não autorizada?
— B. PROENÇA e M. LEITÃO à intervenção não autorizada
— dever legal (de auxílio) é um dever geral
— Pelo contrário, a relação entre gestor e dominus é especial
— a atuação do gestor é espontânea e não há autorização
à Há gestão de negócios

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19. Gestão de negócios

— Cuidado: se o interventor o fizer ao abrigo de um específico


dever de auxílio (ex. médico que assiste um acidentado
inconsciente) à B. PROENÇA: há autorização, logo não há
gestão de negócios

— 2) intervenção em estado de necessidade


— se o interventor, na intervenção, causa danos a terceiro (ex.
patrimoniais) à 339º
— Diferentemente: condutor que se desvia para não atropelar o
peão e bate num muro ou árvore à 464º, gestão de negócios
(exceto se o próprio interventor “criou a situação)

— 3) consentimento (hipotético) do lesado


— se o interventor, na intervenção causa danos (necessários) ao
próprio “socorrido” à 340º, nº 3

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18. Enriquecimento sem causa

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18. Enriquecimento sem causa
— 473º a 482º, CC
— Proibição do enriquecimento injustificado – 473º
— Princípio geral em forma de norma
— Cláusula geral: pressupostos tão amplos e tão genéricos que
cria riscos à aplicação de outros institutos e normas positivados

— Regime: princípio da subsidiariedade – 474º, está vedado


o recurso às regras do enriquecimento sem causa:
— se existir outro fundamento para a restituição (ex. nulidade,
anulabilidade ou resolução)
— se a lei quiser proteger a aquisição à custa de outrem, ex. por
razões de segurança jurídica: usucapião ou prescrição
— Se a lei atribuir outros efeitos ao enriquecimento, ex.,
modificação do contrato, por alteração de circunstâncias, 437º,
ou por usura, 283º

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18. Enriquecimento sem causa
— Exceções à subsidiariedade, M. LEITÃO:
— enriquecimento sem causa pode concorrer com a
responsabilidade civil, se os dois institutos no caso concreto não
atribuírem proteção similar, paralela ou sobreponível
— 472º, permite a opção

— CUIDADO:
— necessária articulação entre enriquecimento sem causa e
responsabilidade civil no que respeita à prescrição – 498º, nº 4
(dualidade prescricional)
— 482º e 498º, nº 4 (autonomia)
— Ponderação do enriquecimento no conjunto de circunstâncias
valoradas no âmbito do 494º (“cláusula redutora”)

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18. Enriquecimento sem causa
— 473º, cláusula geral à subsunção difícil
— Tipologia (modalidades principais):
— Enriquecimento por prestação (em sentido lato)
— alguém efetua uma prestação a outrem, sem causa – 476º, nº 1
(repetição do indevido) e 473º, nº 2 (extinção posterior do direito
a prestação recebida, ex., seguro contra roubo e o veículo
aparece depois
— Enriquecimento por intervenção
— Ingerência não autorizada no património alheio; uso, consumo,
fruição ou disposição de bens alheios
— Ingerência em direitos absolutos: reais ou da propriedade
intelectual ou industrial à 1305º; tb aproveitamento de direitos
de personalidade (M. LEITÃO e A. VARELA)
— Pode abranger também posições jurídicas não absolutas
à Teoria do conteúdo de destinação

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18. Enriquecimento sem causa

— Enriquecimento por despesas realizadas em benefício


de outrem (ou por poupança de despesas)
— Incremento no valor de coisas alheias
— Pagamento de dívidas alheias (terceiro cumpre uma
obrigação alheia sem interesse próprio)
— Por vezes, enriquecimento imposto ou forçado (ex., gestão de
negócios irregular)

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18. Enriquecimento sem causa

473º, nº 1 – Pressupostos:

— 1) enriquecimento
— vantagem de caráter patrimonial (suscetível de avaliação
pecuniária)
— Excluídos benefícios de ordem meramente moral ou
espiritual; mas 398º, nº 2 à o que pode ser objeto de
prestação pode ser objeto de restituição; prestação indevida
(sem valor patrimonial), mas que foi realizada
— Conceção: patrimonial-global à cálculo aritmético
referido ao património do recetor (sempre?)
— Concreta aquisição injusta; vantagem patrimonial concreta?

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18. Enriquecimento sem causa

— 2) à custa de outrem
— não: o empobrecimento de outrem, nem o dano sofrido na
esfera de outrem, nem efetiva deslocação de valores
entre patrimónios
à Função do instituto é reprimir o enriquecimento
injustificado e não compensar os danos sofridos
— Requisito: conexão causal, o nexo de imputação:
— Imputação do enriquecimento à esfera de outra pessoa,
sendo essa imputação que justifica que alguém tenha de
restituir o enriquecimento que se gerou no seu património
— Heterogeneidade de situações...

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18. Enriquecimento sem causa

— 3) sem causa justificativa


— Segundo os princípios do sistema jurídico não há razão
para o enriquecimento

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18. Enriquecimento sem causa

Distinção:
— Enriquecimento (empobrecimento) real
— valor corrente, valor objetivo e autónomo (de
mercado); vantagem considerada objetiva e isoladamente

— Enriquecimento (empobrecimento) patrimonial ou


efetivo
— projeção concreta do ato na situação patrimonial do
enriquecido (ou do empobrecido)
à diferença entre a situação em que se encontra e a situação
em se encontraria o enriquecido (empobrecido)

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18. Enriquecimento sem causa
Ex:

A ocupa por determinado tempo a casa de B, que está


desabitada. O valor de mercado de arrendamento da casa
é de 1.000; no entanto, A apenas estaria disposto a pagar
500, pois podia ter arrendado outra casa por esse valor; e
B não tencionava arrendá-la, fosse qual fosse o preço.
— enriquecimento real = empobrecimento real = 1.000
— enriquecimento patrimonial ou efetivo (atual) = 500
— empobrecimento patrimonial ou efetivo (atual) = 0

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18. Enriquecimento sem causa

— 479º, nº 1 – obrigação de restituir


— objeto: restituição da posse, de dinheiro cobrado
indevidamente, de frutos recebidos, retransmissão de
um crédito...
— duplo limite (ponto de partida legal):
— ganho obtido pelo enriquecido ou empobrecimento sofrido
pelo empobrecido à avaliados em termos patrimoniais
— enriquecimento patrimonial ou efetivo e atual ou
empobrecimento patrimonial ou efetivo
— o menor dos dois valores

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18. Enriquecimento sem causa

— Problemas:
— há enriquecimento, mas não há efetivo
empobrecimento (ex. padeiro que continua a fazer e a
vender o pão)
— bens consumidos de má fé
— enriquecimento por intervenção (ex. anterior, casa de B
desabitada e B não ponderava arrendá-la)
à Mais justa a restituição em função do enriquecimento
real?
à Restituição = valor objetivo do uso, acrescido do eventual
dano causado?

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18. Enriquecimento sem causa

à Teoria do conteúdo de destinação


— PEREIRA COELHO, M. LEITÃO
— “o enriquecimento de A é feito à custa de B quando se
apresenta como realização do valor económico que,
segundo o teor de destinação do direito de B, lhe
pertencia ou lhe estava reservado para ele”
— à o valor económico do bem (valor de uso, valor dos bens
consumidos ou alienados), valor económico reservado ou
destinado pela lei/ordem jurídica ao empobrecido,
constitui um dos limites da obrigação de restituir...

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18. Enriquecimento sem causa
— Questão: lucro de intervenção
— o interventor (enriquecido) tem de restituir todo o ganho
que conseguiu obter?
— o lucro resultante da ingerência ou intervenção também tem
de ser restituído?
— Ex. se o interventor consegue um ganho superior ao valor
económico, objetivo, de mercado?
à Não (P: COELHO, M. LEITÃO, B. PROENÇA)
— A. VARELA – SIM, excecionalmente, nos casos em que o
interventor tenha agido de má fé – punitivo à o empobrecido
tem direito ao lucro de intervenção obtido pelo interventor,
descontado do que tenha resultado do trabalho, experiência,
espírito de iniciativa ou perícia do mesmo (atribuível a
qualidades próprias do beneficiado)

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18. Enriquecimento sem causa
NOTA:

— Destino do lucro obtido (por ingerência ou intromissão)


— Não tem resposta no âmbito do enriquecimento sem
causa
— Mesmo que haja culpa, a responsabilidade civil também
não é apta a removê-lo (finalidade reparadora e não
punitiva)
— A não ser por ponderação no juízo de equidade estabelecido
pelo 496º
— No entanto, há previsão legal excecional, em domínios
específicos, v.g. propriedade intelectual ou industrial,
CSC, responsabilidade disciplinar dos profissionais

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18. Enriquecimento sem causa

— Agravamento da obrigação de restituir – 480º


— Conduta culposa
— Pressupostos:
— o enriquecido ter sido citado judicialmente para a restituição
— ou ter conhecimento da falta de causa do seu enriquecimento
ou da falta do efeito que se pretendia obter com a prestação

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20. Responsabilidade civil

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20. Responsabilidade civil
— Finalidade (principal): reparação do dano
— Deslocação de um dano da esfera do lesado (em que o dano
ocorreu) para a esfera do lesante (sempre que este tenha
praticado um facto responsabilizante)

— Responsabilidade civil: responsabilidade extracontratual e


responsabilidade contratual
— Responsabilidade extracontratual (tríade clássica) –
fundamentos/critérios de imputação do dano ao lesante:
— 1) Responsabilidade subjetiva – 483º, nº 1, cláusula geral
— 2) Responsabilidade objetiva/pelo risco – 483º, nº 2 à só nos
casos especificados na lei
— à No CC, 500º a 510º; fora do CC, em legislação avulsa
— 3) Responsabilidade por factos lícitos (pelo sacrifício)

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20. Responsabilidade civil
— Características dominantes:
— Sistema dualista – critérios da culpa e do risco
— com prevalência da responsabilidade subjetiva – 483º, nº 2
— Zonas de extensão
— Responsabilidade profissional (profissionais liberais e não
liberais)
— Necessidade de tutela de bens/ direito ligados ao ambiente, à
saúde, à sociedade da informação, aos dados pessoais, à
dignidade da pessoa (não discriminação), à concorrência, ao
consumo, à especial perigosidade de alguns maquinismos
à Falta de unidade do critério assente no risco
à Coexistência por vezes desordenada entre diferentes fontes
(acidente de viação e simultaneamente de trabalho)

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20. Responsabilidade civil

— Tratamento tendencialmente igualitário entre lesante e


lesado
— com algumas exceções (ver à frente)
— Sistema fracamente sancionatório – papel do 494º
— Crescente socialização indireta à seguros obrigatórios
— Despersonalização da responsabilidade

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20. Responsabilidade civil
Questões: outros critérios responsabilizantes?

— “Falta de precaução” é fundamento responsabilizante?


— Na falta de lesado
— Na falta de dano efetivo

— ”Terceira via” na responsabilidade civil (a agregar


responsabilidade pré e pós-contratual, eficácia de proteção
para terceiros, relação corrente de negócios...)?

— “Responsabilidade pela confiança” (frustração de


expectativas criadas)... “Quarto trilho” na responsabilidade
civil, entre o contrato e o delito (M. CARNEIRO DA FRADA)
ao lado da “terceira via”...?

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20. Responsabilidade civil

— Responsabilidade contratual ou obrigacional\


— Facto omissivo ilícito culposo
— Ilicitude:
— incumprimento de direitos de crédito, de deveres (primários
ou secundários) de prestação
— violação de deveres laterais
— Prevalência do critério da culpa, 798º - 808º
— Modelação convencional, 809º, ss, e 800º, nº 2

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20. Responsabilidade civil
— Responsabilidade extracontratual (ou extra
obrigacional ou delitual ou aquiliana) e
responsabilidade contratual (ou obrigacional)
— autonomia ou um continuum?
— desejável aproximação de regimes
— Diferenças (principais) de regime:
— 1) Pluralidade de responsáveis:
— responsabilidade extracontratual é solidária, 497º, 507º e
513º
— responsabilidade obrigacional é, em regra, conjunta, 513º
(exceto se a obrigação violada tinha ela própria natureza
solidária, ex. obrigações comerciais)

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20. Responsabilidade civil
— 2) Ónus da prova
— da culpa – na responsabilidade extracontratual, cabe ao
lesado, 487º, nº 1
— Prova dos restantes pressuposto compete também ao lesado,
342º, nº 1 (regras gerais)
— da culpa – na responsabilidade contratual, o ónus da prova
está invertido, por presunção de culpa do devedor-lesante,
799º, nº 1
— Prova dos restantes pressupostos cabe ao credor-lesado
— 3) Possibilidade de graduação equitativa da
indemnização, em caso de mera culpa, 494º, apenas
previsto para a responsabilidade extracontratual (baseada
na culpa ou no risco, 499ºà 494º
— aplicável na responsabilidade obrigacional? duvidoso

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20. Responsabilidade civil
— 4) Prazos de prescrição:
— responsabilidade extracontratual, 3 anos, 498º
— responsabilidade obrigacional, prazos gerais, no limite, 20
anos, 309º
— 5) responsabilidade por facto de terceiro:
— extracontratual, 500º (pressuposto a existência de uma
relação de comissão)
— contratual, 800º, nº 1 (dispensa relação de subordinação ou
dependência entre o devedor e o auxiliar)

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20. Responsabilidade civil
— Concurso de responsabilidades (contratual e
extracontratual) - aparente
— Sistema do cúmulo ou do não cúmulo?
— não cúmulo – ALMEIDA COSTA (e jurisprudência)
à prevalece a responsabilidade contratual (fundamento
especial)
— cúmulo – PINTO MONTEIRO, RUI ALARCÃO, A.
VARELA (maioritária na doutrina)
à Na variante da opção ou da ação híbrida à o lesado pode
escolher e combinar as regras mais vantajosas (em concreto)
dos dois regimes (com as limitações eventualmente impostas
pela lei)

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20. Responsabilidade civil

— Funções da responsabilidade civil


— Função reparadora – principal
— Função preventiva/repressiva – secundária
— Não danos punitivos
— Mas:
— Primazia da culpa
— 494º, proporcionalidade entre grandeza da culpa e medida da
indemnização
— 496º, agravamento da compensação por danos não patrimoniais

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