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Direito das Obrigações

Contrato (continuação)
16.7. Princípio da eficácia interna
16.7.1. Contrato a favor de terceiro
16.7.2. Contrato para pessoa a nomear
16.8. Extinção do contrato
17. Negócio jurídico unilateral
Contrato. Princípio da eficácia interna
— Princípio da eficácia interna = princípio da
relatividade
— O contrato vale apenas na relação entre as partes
— 406º, nº 2:
— Em relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos
casos e termos especialmente previstos na lei

— No entanto, os terceiros “devem respeitar” os


contratos(e os direitos) existentes à dever genérico de
respeito
— Significado deste dever de respeito, em situações de
interferência de terceiros, cúmplices ou não do obrigado
(parte no contrato), causadora de violação do contrato?

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Contrato. Princípio da eficácia interna
Divergências na doutrina:
— Doutrina da eficácia externa? G. TELLES, M. CORDEIRO
— o terceiro responde extracontratualmente perante o contraente
lesado, 483º, pela violação da obrigação pelo devedor
— 483º, ilicitude = violação de direitos absolutos e de direitos de
crédito
— 483º e 798º
— NÃO
— Abuso da liberdade contratual (334º), exercício disfuncional:
interferência de terceiros (cúmplices ou não do obrigado) na
relação obrigacional = alguma oponibilidade dos créditos
perante terceiros
— Posição intermédia - jurisprudência
— Ver: M.LEITÃO (relatividade, pp. 98, ss)

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Contrato. Princípio da eficácia interna.
— “exceções” ao princípio da eficácia interna:
— i) o contrato pode gerar efeitos favoráveis em relação a
(para) terceiros:
— diretos, ex., contrato a favor de terceiro
— indiretos reflexos, ex., contrato com eficácia de proteção para
terceiros

— ii) o contrato pode produzir efeitos desfavoráveis para


terceiros (ou dano para terceiro)
— diretos, ex., alienação de bens ou direitos em prejuízo dos
credores
— indiretos, ex., contrato promessa com eficácia real, 413º, pacto de
preferência com eficácia real, acordo de exclusividade, pacto de
não concorrência

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Contrato a favor de terceiro

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Contrato a favor de terceiro
— 443º a 451º, CC
— Noção, 443º, nº 1 e 2,
— aquele em que um dos contraentes (promitente) se obriga
perante o outro (promissário ou estipulante) a atribuir certa
vantagem a uma pessoa estranha ao negócio (terceiro,
beneficiário ou destinatário)
— o interesse do promissário na promessa tem de ser digno de
proteção legal, podendo traduzir-se:
— na intenção direta de beneficiar um terceiro à direito a uma
prestação (em regra), 443º, nº 1
— num dos atos previstos no 443º, nº 2 à remissão de dívidas,
cedência de créditos ou constituição, modificação ou extinção de
direitos reais
— o terceiro não é parte no contrato, mas adquire um direito
contra o promitente, em virtude do compromisso do promitente
para com o promissário

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Contrato a favor de terceiro
— Distinguir:
— Contrato com eficácia de proteção para terceiros
— terceiros no círculo de proteção de um contrato (de que não
são parte)
— contrato não atribui aos terceiros o direito a qualquer
prestação contratual
— mas legitima um pedido indemnizatório, com base no
contrato, no caso de o devedor violar deveres laterais de
cuidado ou de proteção
— Responsabilidade contratual, 798º, ss (e não apenas
extracontratual, 483º, ss)

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Contrato a favor de terceiro
— Contrato com prestação de facto de terceiro
— o promitente obriga-se a conseguir uma determinada
prestação de facto de um terceiro
— “promessa de port-fort”
— De ratificação: o promitente obriga-se a conseguir que o terceiro
ratifique um contrato
— De execução: o promitente obriga-se a conseguir que o terceiro
cumpra um determinado contrato
— à obrigação de resultado (a conduta do terceiro) à garantia
àresponsabilidade do promitente
— Não apenas uma mera “promessa de bons offices”: obrigação
de meios (diligenciar para...)

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Contrato a favor de terceiro
— Contrato autorizativo de prestação a terceiro
— o terceiro é um simples destinatário da prestação
— o terceiro não adquire o direito à prestação, nem qualquer
direito de crédito ou direito real

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Contrato a favor de terceiro

— Contrato a favor de terceiro, exemplos:


— A celebra com B (segurador) um contrato de seguro a
favor de C
— A doa a B um prédio com o encargo de B efetuar uma
determinada prestação (pintar a fachada e interiores) em
proveito de C
— A contrata com B (devedor de A) que B deve pagar uma
determinada quantia a C; com a finalidade de ele próprio
A se exonerar de uma dívida que tem para com C

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Contrato a favor de terceiro

B (promitente) A (promissário)

C (terceiro)

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Contrato a favor de terceiro
Contrato a favor de terceiro: situação jurídica complexa à
estrutura triangular = tríade de relações jurídicas
— 1) entre promitente e promissário: relação de cobertura ou
de provisão (fundamental para definir a posição do
promitente, 449º)
— 2) entre promissário e terceiro beneficiário: relação de
valuta ou de atribuição (relação preexistente ou que se
constitui através do próprio contrato a favor de terceiro, ex.,
liberalidade)
— 3) entre promitente e terceiro beneficiário: relação de
execução (prestação do promitente ao terceiro à uma
atribuição patrimonial indireta do promissário em relação ao
terceiro)

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Contrato a favor de terceiro
— Regime normal:
— O contrato faz nascer na esfera do terceiro um direito
que se constitui independentemente de aceitação, 444º,
nº 1 (exceção ao 406º, nº 2)
— se a modalidade for uma das previstas no 443º, nº 2, a
constituição, modificação ou extinção do direito real,
bem como a liberação do devedor ou a transmissão do
crédito, verificam-se independentemente da aceitação
do terceiro
— O terceiro pode:
— rejeitar a promessa, 447º, nº 1 e 2
— aderir à promessa, 447º, nº 3

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Contrato a favor de terceiro
— O terceiro pode rejeitar a promessa mediante declaração ao
promitente (que a deve comunicar ao promissário), 447º, nº 1 e
2 à extingue-se o direito adquirido pelo terceiro
— O terceiro pode aderir à promessa, 447º, nº 3
— Adesão, 217º, 219º, 224º
— Função da adesão:
— não é constituir o direito
— é consolidar o direito do terceiro à 448º, nº 1 e 2, torna a
promessa irrevogável pelo promissário
— depois da adesão só pode haver revogação nas hipóteses do
448º, nº1, parte final + 451º e do 450º, nº 2 (e 970º)
— Depois da adesão o terceiro não se torna contraente, mas
apenas titular definitivo do direito que o contrato lhe conferiu

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Contrato a favor de terceiro

— O terceiro é titular de um direito de crédito à fica


legitimado para exigir do promitente o cumprimento da
promessa, 444º, nº 1
— o promissário também pode exigir (reclamar) do
promitente o cumprimento da obrigação, 444º, nº 2 (pq
tem interesse jurídico no cumprimento pelo promitente)
— 446º, nº 1 e 450º, nº 1 (diminuição do património do
promissário, gerada pela atribuição ao terceiro, não
permitida pela lei
— Colação, 2104º
— Imputação e redução das doações, 2114º e 2168º, ss
— Impugnação pauliana, 610º, ss

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Contrato a favor de terceiro
— Meios de defesa oponíveis pelo promitente, 449º
— o promitente pode opor ao terceiro, que exija o
cumprimento da obrigação, todos os meios de defesa
derivados do próprio contrato a favor de terceiro
— Meios de defesa derivados da relação de cobertura ou de
provisão, entre promitente e promissário, ex. nulidade ou
anulabilidade do contrato, exceção de não cumprimento
— não pode opor meios de defesa originados em outras
relações entre promitente e promissário (estranhas ao
contrato)
— também não pode invocar meios de defesa derivados da
relação de valuta entre o promissário e o terceiro beneficiário
(A. VARELA)

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Contrato a favor de terceiro
— Aspetos especiais de regime
— 445º, o beneficiário pode ser um conjunto
indeterminado de pessoas ou pode o benefício ser
estabelecido no interesse público
— Legitimidade difusa para “exigir” a realização da prestação
(promissário, herdeiros e entidades competentes)
— e 446º, nº 1, herdeiros e entidades não podem dispor do
direito à prestação à não possuem propriamente um direito
de crédito à prestação do promitente, mas apenas um mero
direito a reclamar a prestação do promitente para o fim
estabelecido (à semelhança do direito do promissário previsto
no 444º, nº 2)

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Contrato a favor de terceiro
— Falso contrato a favor de terceiro ou contrato a favor
de terceiro impróprio:
— Promessa de liberação de dívida, 444º, nº 3
— Promitente e promissário acordam numa obrigação de
resultado: a de que o promitente obterá a extinção de
uma dívida que o promissário tem para com terceiro:
— O promitente não se obriga a realizar qualquer prestação a
terceiro, mas apenas a conseguir obter a liberação da dívida
de que é devedor o promissário;
— No entanto, para conseguir a liberação do promissário
perante o terceiro, o promitente terá de efetuar uma
prestação a esse terceiro à essa prestação é meramente
instrumental em relação à obrigação do promitente (que é a
de obter a liberação do promissário)

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Contrato a favor de terceiro
à pelo que:
— a lei considera que as partes não visaram atribuir ao terceiro
qualquer direito de crédito;
— por isso, só o promissário (e não o terceiro) pode exigir do
promitente o cumprimento da promessa
— Não há qualquer direito atribuído ao terceiro à não
estamos perante um verdadeiro contrato a favor de
terceiro.

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Prática

(sumários, p. 91)
1. Abel e Carlos celebraram um contrato em consequência do qual
Carlos ficou vinculado a conseguir que Rui pagasse a Abel 500€. No
dia seguinte, os mesmos Abel e Carlos acordaram no sentido de o
segundo ficar obrigado a entregar uma certa quantia a Tomé, em
“pagamento” de serviços prestados gratuitamente a Abel pelo último.

Quid juris se Carlos não cumprir o primeiro contrato? E se Carlos não


cumprir o segundo alegando que Abel está em dívida para com ele
em virtude de um contrato de fornecimento não pago?

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Prática
Quid juris se Carlos não cumprir o primeiro contrato?
— “Carlos ficou vinculado a conseguir que Rui pagasse a Abel
500€”
— Contrato com prestação de facto de terceiro
— o promitente, Carlos, obrigou-se a conseguir uma determinada
prestação de facto de um terceiro, Rui
— Promessa de “port-fort” de execução: o promitente obriga-se a
conseguir que o terceiro cumpra um determinado contrato
— Carlos assumiu uma obrigação de resultado, a conduta do
terceiro, conseguir que Rui realizasse a prestação de entrega
de uma determinada quantia em dinheiro a Abel
à Carlos assume a garantia desse resultado
à e responde perante Abel pela não obtenção do resultado

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Prática
E se Carlos não cumprir o segundo alegando que Abel está em dívida
para com ele em virtude de um contrato de fornecimento não pago?
— Contrato a favor de terceiro, 443º, nº 1
— um dos contraentes (promitente) obriga-se perante o outro
(promissário ou estipulante) a atribuir certa vantagem a uma
pessoa estranha ao negócio (terceiro, beneficiário ou
destinatário)
— Carlos é o promitente, Abel é o promissário e Tomé é o terceiro
beneficiário (tríade de relações):
— Relação de cobertura ou provisão, Abel ßà Carlos;
— Relação de valuta ou de atribuição, Abel ßà Tomé
— Relação de execução, Carlos ßà Tomé
— Tomé (terceiro) adquire o direito à prestação,
independentemente de aceitação, 444º, nº 1 à torna-se credor
de Carlos (promitente)

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Prática
— Meios de defesa oponíveis pelo promitente (contra o
terceiro), 449º
— Todos os derivados do próprio contrato (a favor de terceiro)
— Mas não os que advenham de outra relação entre promitente
e promissário
— Quando Carlos se recusa a cumprir alegando que Abel está em
dívida para com ele em virtude de um contrato de fornecimento
não pago, Carlos está a invocar um meio de defesa que diz
respeito a uma relação contratual estranha ao contrato a favor
de terceiro
à a recusa não é legítima
à 444º, nº 1 e nº 2

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Prática
4. Em 2018, Carlos cedeu gratuitamente a Luís uma pequena fábrica,
tendo ficado combinado entre ambos que Luís daria uma certa quantia
aos pais dos bebés nascidos na localidade durante o ano de 2019. Quid
juris?
— contrato a favor de terceiro com regime especial
— 495º, prestação estipulada em benefício de um conjunto
indeterminado de pessoas ou no interesse público
— Promitente, Luís, promissário, Carlos, “terceiro beneficiário”, pais
dos bebés nascidos na localidade durante o ano de 2019
— Não há um terceiro beneficiário determinado
— o direito de reclamar a prestação a que Luís, promitente, se
obrigou pertence ao promissário, Carlos, e aos seus herdeiros (e
eventual legitimidade difusa de entidades competentes)
— e 446º, nº 1, herdeiros e entidades não podem dispor do direito à
prestação à não possuem propriamente um direito de crédito à
prestação, mas apenas um mero direito a reclamar a prestação do
promitente para o fim estabelecido

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Contrato para pessoa a nomear

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Contrato para pessoa a nomear
— 452º a 456º, CC
— Noção: contrato em que uma das partes se reserva a
faculdade de indicar (ulteriormente) um terceiro que
“adquira os direitos e assuma as obrigações provenientes
desse contrato”, 452º, nº 1
— Contrato celebrado em nome próprio
— Mas pro amico electo (para outra pessoa)
— Dissociação subjetiva entre a pessoa que celebra o contrato e
aquela em cuja esfera vão repercutir-se os efeitos jurídicos
próprios desse contrato
— 452º, nº 2 – a reserva de nomeação não é possível nos casos
em que não é admitida a representação ou em que é
indispensável a determinação dos contraentes

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Contrato para pessoa a nomear
— Tipo contratual que se associa a outros, ex., contrato de compra
e venda para pessoa a nomear (comprador reserva-se o direito
de nomear outra pessoa), contrato de empreitada para pessoa a
nomear
— responde a necessidades práticas:
— Não existência de procuração no momento da celebração do
contrato
— Evitar dupla transmissão e os eventuais encargos fiscais
— Ocultar a identidade do verdadeiro interessado
— Não há desvio ao princípio da eficácia relativa dos contratos
— Os efeitos do contrato celebrado são apenas entre os
contraentes, enquanto não se verifica a designação do nomeado
— Depois da designação o contraente passa a ser –
retroativamente – não o outorgante mas a pessoa designada,
455º, nº 1

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Contrato para pessoa a nomear
— finalidade representativa..., mas não há representação:
— Na representação com poderes, o contrato é celebrado pelo
representante em nome e por conta do representado e os
efeitos produzem-se imediatamente na esfera do representado
— Na representação sem poderes, o contrato é celebrado em
nome próprio pelo representante, mas no interesse e por
conta do representado; nos negócios translativos, tem de
ocorrer uma retransmissão ulterior do representante para o
representado, para que os efeitos se produzam na esfera do
representado
— No contrato para pessoa a nomear, o contrato é celebrado em
nome próprio por aquele que se reserva a faculdade de
nomeação de outra pessoa, os efeitos começam por se produzir
em relação ao interveniente no negócio e podem vir a produzir-
se direta e retroativamente na esfera de outra pessoa

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Contrato para pessoa a nomear
à há alternatividade potencial de sujeitos: 455º, nº 1 e nº 2
— efetuada (e ratificada) a nomeação, um dos outorgantes no
contrato perde a qualidade de contraente, deixa de ser parte
da relação contratual, e o terceiro nomeado passa a figurar
como contraente “a partir da celebração” do contrato
— se não houver nomeação ou se a mesma for ineficaz, os
efeitos jurídicos consolidam-se na titularidade do contraente
(que se tinha reservado a faculdade de nomeação)

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Contrato para pessoa a nomear
— Aspetos formais relativos à nomeação e ao assentimento
= “declaração de nomeação feita nos termos do 453º”
— declaração de nomeação (pelo contraente originário ao outro
contraente):
— Prazo: nos 5 dias subsequentes à celebração do contrato
(supletivo) ou no prazo convencionada
— Forma: documento escrito, 453º, nº 1
— ou maior exigência formal se o contrato tiver sido celebrado por
meio de documento de maior força probatória, 454º, nº 2
— acompanhada de instrumento de ratificação do contrato ou de
procuração anterior; documento escrito ou mais exigente se...,
454º, nº 1 e nº 2

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Contrato para pessoa a nomear
— Efeitos da declaração de nomeação
— Nomeação regular (nomeação + ratificação ou procuração
anterior)
à Os efeitos do negócio processam-se como se a pessoa
nomeada fosse o contraente originário, “adquirindo” todos os
direitos e obrigações com eficácia retroativa, 455º, nº 1
— Falta de nomeação ou nomeação irregular = “ilegal”= que
não observa os requisitos do 453º (e 454º)
à Os efeitos do negócio consolidam-se na titularidade do
contraente originário, salvo convenção das partes em contrário,
455º, nº 2

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Contrato para pessoa a nomear
— Contratos sujeitos a registo, 456º
— Ex., contrato de compra e venda de um imóvel para pessoa a
nomear
— o registo pode ser realizado em nome do contraente
originário, com indicação da reserva de nomeação, e
subsequentemente, em caso de nomeação regular, são
feitos os averbamentos

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Contrato para pessoa a nomear
— Problema: A e B celebram contrato de compra e venda de um
imóvel, com reserva de nomeação pelo comprador (B); o próprio
contraente originário (B) regista a cláusula, a seguir vende a C e
só depois nomeia X
— Depois do registo à ineficácia dos atos de alienação praticados por B
— A.VARELA: a cláusula de reserva de nomeação (registada) pode ser oposta a
terceiros que tenham adquirido direitos do contraente originário e tenham
registado depois
— No entanto, se o registo provisório se tiver convertido em definitivo, por
falta de nomeação ou nomeação irregular no prazo fixado à eficácia
dos atos de alienação ulteriores
— Se compra e venda de um bem móvel não sujeito a registo à os
direitos posteriormente constituídos pelo estipulante a favor de
terceiro (por ato transmissivo) são eficazes perante o nomeado
à os direitos de terceiro (com eficácia real) não são prejudicados pela
nomeação = oponibilidade ao nomeado dos atos transmissivos efetuados
antes da nomeação

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Contrato para pessoa a nomear

— contrato promessa com cláusula de reserva da


faculdade de nomeação
— vale apenas em relação ao contrato promessa
(circunscrita às pessoas dos promitentes)?
— pode valer também para o contrato prometido?

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16.8. Extinção do contrato
Cessação do contrato (causas):

— Resolução – unilateral, fundamentada (subjetiva ou


objetivamente), direito potestativo extintivo;
— mas direito de livre resolução nos contratos de consumo
— Cláusula resolutiva expressa – fundamento de resolução
convencionado pelas partes (liberdade contratual)
— à eficácia ex tunc
— Denúncia – unilateral, em regra livre/discricionária, com
pré-aviso
— à eficácia ex nunc

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16.8. Extinção do contrato
— Revogação – mútuo acordo/ bilateral , 406º, nº 1
— Pode ser unilateral, e em regra discricionária, para
declarações negociais de eficácia contida
— à eficácia ex nunc

— Caducidade – automática, decurso do tempo


(contratos a termo) ou outra circunstância objetiva
— à eficácia ex nunc

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16.8. Extinção do contrato
Cessação do contrato à fase pós contratual
— Fase liquidatória
— Resolução à efeito restitutivo das prestações realizadas,
433º (289º)
— Levantamento de benfeitorias, restituição da coisa locada,
desocupação do imóvel, 1045º, 1081º, 1087º
— Subsistem deveres laterais
— cuja violação pode gerar responsabilidade pós-contratual
— Fundamento legal genérico: 239º? 762º, nº 2?
— ou específico: por ex., 1103º, nº 5 e 9, DL 178/86 (contrato de
agência), 8º
— ou a partir da matriz do P. da boa fé

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17. Negócio jurídico unilateral

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17. Negócio jurídico unilateral
— Negócio jurídico unilateral – 457º a 463º
— Fonte autónoma de obrigações?
— consagração em termos restritivos – 457ºà Princípio da
tipicidade
— a promessa unilateral de uma prestação só obriga nos casos
previstos na lei
à “Princípio do contrato” – A. VARELA; não é razoável manter
alguém obrigado (vínculo) perante outrem com base numa
simples declaração unilateral de vontade

— Promessa pública, 459º a 462º


— anúncio público (publicidade e expectativas) à vincula o
promitente, mesmo na hipótese do 459º, nº 2
— Revogável, 461º
— Concurso público, 463º
— anúncio público - validade, 463º, nº 1

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17. Negócio jurídico unilateral
Nota 1: distinguir promessa pública, 459º, de oferta ao
público, 230º, nº 3 (proposta negocial que visa um contrato
em formação; precisa de aceitação)

Nota 2: distinguir negócio jurídico unilateral de


manifestações unilaterais de vontade (simples atos ou
declarações) com eficácia constitutiva ou extintiva , ex.,
— ratificação do ato/negócio de gestão pelo dominus, 471º e
268º, nº 2
— interpelação do devedor, 805º, nº 1
— adesão do terceiro, 447º, nº 3
— declaração de resolução do contrato, 436º
— declaração de compensação, 848º, nº 1

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17. Negócio jurídico unilateral
— A promessa de cumprimento e o reconhecimento de
dívida, 458º, nº 1 e 2
— Não quebram o “princípio do contrato”
— simples condutas declarativas
— não estão em causa negócios abstratos, mas simples atos
jurídicos (não negócios jurídicos)
— não geram obrigações
— criam apenas a presunção de existência de uma fonte
causal para a declaração em causa (a relação subjacente ou
fundamental)
— de natureza contratual, ex., um mútuo
— ou extracontratual, ex., o reconhecimento de culpa num acidente

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17. Negócio jurídico unilateral
— 458º, nº 1, a existência presumida de uma causa
debendi, uma fonte causal, dispensa o credor de a
provar
— inversão do ónus da prova
— cabe ao declarante-devedor (ou aos seus herdeiros) o ónus
de provar a inexistência, invalidade, extinção ou carência de
fundamentos da relação subjacente ou fundamental
— por ex., devedor prova o cumprimento da dívida, o devedor prova
que o negócio subjacente é nulo, o promitente prova que não foi
afinal o autor do dano, o lesante-devedor prova a culpa exclusiva
do lesado-credor

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Prática

1. Artur, na posse de uma declaração escrita e assinada


por Filipe em que este admite dever-lhe 600€, veio exigir
judicialmente o respetivo pagamento. Filipe defendeu-se
alegando que Artur não chegou a prestar os serviços de
que os 600€ representariam a contrapartida. Quid juris?
2. Em Em dezembro de 2017, Carlos, empresário local,
confidenciou ao seu amigo Luís que daria 3.000€ aos pais
dos bebés nascidos na localidade durante o ano de 2018.
Nesse ano nasceram três crianças. Quid juris?

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