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DILEMAS ÉTICOS NA PRÁTICA

DOCENTE
Prof. Dr. Antonio Sales
Prof. Me. Clodoaldo A. Santos
24/03/2020
• Por que estamos tratando dessa questão aqui com vocês?
• Temos percebido que há, por parte de um certo número dos
Professores, uma vontade muito grande de se afastar da sala
de aula, uma forte desmotivação. O nosso entendimento é
que vários fatores contribuem para isso. Um deles é a questão
salarial, muito reclamada, outro é ausência da família o outro
ainda é a gestão escolar, o próprio sistema tão denunciado e
assim por diante.
• Mas há um fator que, no nosso entender, tem um peso muito
grande também, só que ele não é identificado. Ele faz com que
as pessoas sintam uma dor não identificada e ficam
procurando fatores conhecidos para responsabilizar por essa
dor. O que vamos falar não tem nada a ver com esses fatores
conhecidos. Vamos tratar aqui da questão ética no exercício da
profissão. Mais especificamente dos dilemas éticos.
• Para isso precisamos fazer uma breve introdução falando um
pouco de ética e de moral para depois entrarmos na questão
propriamente dita. Esperamos que vocês gostem, que seja útil
para vocês.
O que diferencia a Ética da Mora?
• O que pensam?
• Ética e moral podem ser confundidas? Quando?
• Proposta: discutir sobre os dilemas éticos do fazer docente.
• Um pouco sobre ética e moral para facilitar a compreensão do
que vai ser dito.
• Há um artigo da pesquisadora portuguesa Ana Paula Pedro em
que ela afirma que a associação sinonímica entre moral é
ética contém ambiguidades.
• Para essa autora, a moral está relacionada com algo normativo,
a regras, a obediência ou desobediência do que está
estabelecido.
• Evidentemente que se a nossa abordagem for genérica então
ética e moral pode se confundir como, normalmente, se
confundem quando abordados genericamente, casa com lar.
Sabe-se, no entanto, que casa e lar são conceitos distintos.
• Aqui queremos trabalhar os conceitos distintamente. Por isso,
para nós, moral tem relação com norma, com o cumprimento
de leis e de deveres, enquanto ética se refere à interioridade
dos seres humanos.
• Ética tem relação com o caráter, modo de ser de uma pessoa.
• Se recorrermos à terminologia de Piaget diremos que a prática da
moral está relacionada com a heteronomia e a vida ética, com a
autonomia.
• O americano Kidder é bem claro. Para ele uma decisão entre o
certo e o errado está no campo da moral e uma decisão entre o
certo e o certo, no campo da ética. A decisão entre o errado e o
errado também se encaixa nessa categoria de dilema ético, porque
o certo e o errado, quando não definidos, por vezes, é apenas
uma questão de ângulo.
• Exemplificando: se o responsável pela direção de um carro está
indeciso entre beber e não beber, ele está com um conflito moral,
porque o certo e o errado está definido em lei.
• Se um motorista está indeciso se deve parar ou não para
atender alguém que pede socorro à beira de uma estrada
deserta, ele está com um dilema ético porque parar ou não
parar, nessas circunstâncias, podem ter consequências
indesejáveis.
• Se não parar pode deixar de socorrer quem realmente
necessita de socorro urgente; se parar, pode ser vítima de uma
emboscada.
• Como e vê: o certo e o errado não está definido, nesse caso.
Qualquer decisão pode ser a melhor ou a pior.
• Tendo feito essa introdução, esperamos ter esclarecido o que é um
dilema ético. Trata-se de tomar uma decisão numa situação de
penumbra, onde a ação a ser praticada pode estar certa ou pode
estar errada e o desfecho é imprevisível.
• Kidder, o autor citado fala que há três possibilidades de agir
erroneamente:
1) violar uma lei conscientemente (assim age o violento, o caluniador,
quem atrasa injustificadamente a um compromisso);
2) distanciar-se da verdade (procurar desculpas, justificar erros,
transferir a culpa para o outro, ser protetor dos que erram);
3) desviar-se da retidão moral (não denunciar violação de direitos,
acobertar violência contra vulneráveis, tirar proveito da fraqueza
do outro, exploração sob a aparência de bondade)(KIDDER, 2007).
• Sobre esse item, desviar-se da retidão moral como sendo a
exploração sob a aparência de bondade, Oscar Wilde, no seu
livro, “a alma do homem sob o socialismo” escreveu:
• “ A democracia, por sua vez, gera grandes esperanças; mas
descobriu-se que ela significa simplesmente o esmagamento
do povo, pelo povo e para o povo.” Colocando, com essas
palavras, a forma de governo, como um dilema ético. Mais
adiante ele diz que quando a autoridade é “usada com certa
dose de amabilidade e acompanhada de prêmios e
recompensas torna-se assustadoramente desmoralizante”.
• Aqui está o desvio da retidão moral sob a aparência de
bondade.
• Qualquer semelhança com o cenário político brasileiro pode
não ser mera coincidência.
• Mas voltemos aos dilemas éticos. Kidder, o autor já citado,
classifica-os em quatro paradigmas:
• 1) VERDADE versus LEALDADE
• 2)JUSTIÇA versus COMPAIXÃO;
• 3)CURTO PRAZO versus LONGO PRAZO;
• 4)INDIVÍDUO versus COMUNIDADE
• Vamos aos exemplos, na prática docente.
VERDADE versus LEALDADE
• Os alunos não foram bem este ano, na sua disciplina. Você
sabe que eles não aprenderam.
• Você vai dizer a Verdade reprovando todos que não
alcançaram a média ou vai ser Leal à gestão que pede para não
arruinar “a estatística” da escola, do município, etc. ?
JUSTIÇA versus COMPAIXÃO
• Você como professor da turma passou um trabalho para ser
entregue em determinado dia. Na data todos entregam. Menos um
aluno que, no dia seguinte, comparece com o trabalho
apresentando algumas razões que você tem dúvidas, mas que não
são fáceis de serem verificadas no curto prazo. E ele não é um mau
aluno.
• Você segue os parâmetros da justiça para não abrir precedente, ou
apela para a compaixão correndo o risco de ser considerado como
sem palavra, como aquele que beneficia um aluno seu
apadrinhado?
CURTO PRAZO versus LONGO PRAZO
(AGORA X DEPOIS)
• Dizemos que o aluno estuda para a prova e não para a vida. E isso
parece ser verdade na maioria dos casos.
• Mas sabemos que o estudo para a vida demanda mais tempo,
compreensão dos conceitos, aplicação à vida, muita reflexão.
• A prova não espera por todo esse tempo, ela é imediata com uma
quantidade relativamente grande de conteúdos. Se o aluno não se
sair bem na prova ele não prossegue nos estudos.
• Como você conduz o seu trabalho: pensando no curto prazo da
prova ou no preparo para a vida?
• Depende mais do você do que do aluno. A chave está na sua mão.
INDIVÍDUO versus COMUNIDADE

• Normalmente se diz que a família não se faz presente e que esta é


uma forte razão para a pouca produtividade docente.
• A família não se faz presente por algumas possíveis razões:
• 1) Descuido, falta de compromisso;
• 2) Outra razão pode ser a sobrecarga de compromisso para
conseguir o sustento próprio;
• 3) Outra pode ser a desilusão com o processo educativo que não
contribui para que o seu filho melhore como pessoa. Professores
muito preocupados com cumprir a ementa e outros preocupados
em defender ideologias, não educam. Não pensam na comunidade.
• 4) A família vem à escola, ouve queixas sobre seu filho, mas
nenhuma sugestão de como fazer. Descobre que a forma como
foi educada e tenta educar não está dando certo, mas nenhum
professor discute com ela alternativas ou procura empoderar
esses pais que estão desalentados por terem sido mal
instruídos com relação aos direitos dos filhos, direitos do pais,
etc.
• O que fazer: cuidar de si culpabilizando os outros ou
compartilhar vivências, conhecimento s e experiências com
esses pais?
• Estudar somente a sua disciplina para dar aulas ou ir além e
pensar na comunidade?
Algumas questões para debate
• Quais os dilemas éticos vividos por você na sua prática
docente?
• Quanto esses dilemas o(a) afetam? Quanto você sofre por eles
ou nunca pensou nisso?

• Só existem dilemas na escola ou estão presentes na família e


na sociedade também? Enumero-os
• Meta: identificar quais os dilemas que enfrentou durante o
mês e como reagiu
Referências
• KIDDER, R.M. Como tomar decisões difíceis ou escolher na
vida entre o certo e o certo. São Paulo: Gente, 2007.
• PEDRO, A.P. Ética, Moral, Axiologia e Valores:
confusões e ambiguidades em torno de
um conceito comum. KRITERION, Belo Horizonte, nº 130,
Dez./2014, p. 483-498.
• WILDE, O. A alma do homem sob o socialismo. Porto Alegre:
L&PM, 2017, p. 38.

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