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CIDADENIA
ÉTICA E CIDADANIA
INSTRODUÇÃO
A Ética platônica, por sua vez, incorpora a relação entre razão e virtude
de Sócrates, mas insere a questão da responsabilidade e questões políticas e
sociais. Platão defende quatro virtudes cardeais e relaciona cada virtude a um
grupo social em busca da ordem política ideal na polis grega. A primeira virtude
cardeal é a sabedoria que implica no desenvolvimento do lado racional da alma
e deve ser cultivada pelos dirigentes da polis (filósofos). A virtude seguinte é a
coragem adquirida a partir do lado espiritual da alma humana de sua força
moral e sua impulsividade. Esta, por sua vez, deve ser predominante nos
guardiões da polis. Em seguida encontra-se a temperança ou a moderação que
tem implicações sobre a questão dos desejos e dos instintos da alma humana
e deve ser cultivada pelos artesãos e agricultores. Por ultimo a virtude principal
e mais geral que é a justiça que diz respeito a toda alma humana e é cultivada
quando toda a polis esta em harmonia gerando a felicidade da sociedade e do
indivíduo. De maneira geral, Platão defendia que o indivíduo deve se livrar de
suas paixões para se submeter a um critério racional.
O terceiro grande filósofo clássico grego defende que a ética é o
empreendimento da busca da felicidade. Aristóteles concebe a virtude como
um saber pratico. O autor defende que a virtude é alcançada em um exercício
de buscar o meio-termo entre dois vícios: o excesso e a falta. Logo a coragem
seria uma virtude que se encontra no meio termo entre um vicio pelo excesso
(temeridade) e a falta (covardia) e da mesma forma ocorreria com as demais
virtudes. Aristóteles distingue as virtudes intelectuais (bom-senso e o saber)
das virtudes morais (justiça, coragem, amizade, temperança e etc). Nenhuma
virtude é inata e podemos alcançá-las através do aprendizado que se realiza
por meio do conhecimento ou da prática
Uma mudança considerável ocorre quando o mundo grego clássico se
desfaz com a invasão de Alexandre Magno. As teorias éticas se
redimensionam com a fusão da cultura grega e macedônica. A política se
afasta das preocupações éticas e a busca individual em viver bem se torna o
foco das discussões. Uma das teorias expressivas dessa época é o epicurismo
que se reveste de caráter empirista, hedonista finalista. Empirista por buscar no
mundo real as causas do bem e do mal. Hedonista ao ter como máxima a
busca do prazer e o afastamento da dor. No entanto, deve haver um
discernimento na análise
desse prazer pois não pode causar maiores dores no futuro. E finalista por
colocar o sentido e a finalidade da vida humana na busca por felicidade.
Outra teoria importante desse período é o estoicismo que pregava que o
indivíduo deveria viver de acordo com a lei da natureza. A razão era um
instrumento para se conhecer as leis do universo e o indivíduo deveria se
conformar com essas leis. Uma corrente radical que segue a mesma tendência
são os chamados cínicos. Estes interpretavam que viver segundo a natureza é
viver de maneira instintiva, primitiva e fugir das convenções sociais. E a ultima
concepção ética fundamental desse período são os chamados céticos que de
defendem que não há possibilidade de conhecimento concreto, logo todo
indivíduo deve esforçar-se em abster-se de julgar ou criar opiniões sobre
qualquer tipo de prática.
Durante a Idade Média as produções éticas se entrelaçaram com as
questões teológicas e cristãs. Os dois principais filósofos da época são
Agostinho e Tomás de Aquino que defendiam que a felicidade é alcançada a
partir da relação do homem com Deus recuperando a tradição clássica
platônica e aristotélica.
A partir do Renascimento e início da Idade Moderna há uma proliferação
de pensamentos variados sobre a questão e podem ser classificados a partir
de grandes correntes de pensamento. O Racionalismo com uma fé em
conhecer o mundo através da razão tenta negar todo o misticismo na
determinação da conduta humana. Um dos maiores autores racionalista, René
Descartes não consegue colocar parâmetros seguros para ação humana e se
resigna ao afirmar que o homem deve somente seguir o que dita as
convenções e normas vigentes. O Empirismo tenta se contrapor ao
racionalismo, buscando no mundo material a sua base de argumentação. John
Locke defendia que os homens nascem todos com os mesmos direitos e sua
teoria ética se baseia na respeitabilidade dos direitos inatos dos homens.
O Iluminismo por sua vez faz uma junção entre o racionalismo e o
empirismo de maneira a manter a fé na razão e na ciência com a busca de agir
no mundo. A partir daí surge toda a filosofia que dará suporte às revoluções
políticas na Europa. Dentre um grupo grande de filósofos e pensadores da
época destaca- se o nome de Immanuel Kant. Em sua filosofia moral, o autor
busca definir não o conteúdo das ações mas a forma de uma ação ética.
Para isso tem como principio o chamado “imperativo categórico” que consiste
na regra que todo ser racional deve seguir:
A noção ética de Kant diz que devemos agir com os outros da uma
maneira possamos agir com toda humanidade e da maneira como queremos
que os outros ajam com conosco. Esse imperativo tem bases na chamada
regra de ouro muito usada em várias tradições religiosas e prega que deves
fazer com os outros o que espera que os outros façam contigo.
Uma ultima concepção ética importante é o chamado utilitarismo que tem como
principais representantes Jeremy Betham e Stuart Mill. A regra moral dessa
filosofia parte do pressuposto de que o bem é aquilo que se mostra útil em
proporcionar o bem-estar para o maior numero de pessoas possível e o mal é o
seu contrario. A ética utilitarista tem relações fortes com a idade
contemporânea e toda ética do sistema econômico que se fixou no período
atual.
Observamos que durante toda a história da filosofia e da ciência o homem
se preocupou em tentar achar os critérios segundo os quais este poderia guiar
sua conduta no sentido do bem e criar normas gerais para as suas condutas
dos outros. Posteriormente o estudo das éticas também se dedicou em mostrar
como as regras éticas e morais podem servir para fins de dominação, à serviço
das classes burguesas (Karl Marx) ou a serviço dos fracos (Friedrich
Nietzsche). Outro tipo de ênfase tem tomado o estudo da ética principalmente
nas ciências humanas e sociais onde se enfatiza a pluralidade dos valores e a
busca do entendimento de cada um e não mais tentar estabelecer o valor
universal.
A Cidadania
A cidadania pode ser definida como uma visão do ser humano como
munidos de dignidade intrínseca que lhes garante direitos de natureza política,
civil e social. O noção de cidadania é uma herança da civilização grega
clássica, onde significava a ação política na polis. A democracia grega clássica
não era para todos os cidadãos e os grupos que podiam ser considerados
cidadãos acabavam tidos como superiores. A cidadania era uma espécie de
fonte de privilégios para um grupo de pessoas.
Em um processo histórico longo o conceito de cidadania foi reformulado
ampliado e tem relações diretas com a noção de Estado Democrático de
Direito. A noção de cidadania hoje se relaciona a um conjunto de liberdades e
obrigações civis, políticas, sociais e econômicas. O cidadão é um individuo que
tem as seguintes prerrogativas essenciais o direito à vida, à liberdade , ao
trabalho, à moradia, à educação, à saúde, à escolha de seus representantes, à
cobrança de ética por parte dos governantes e etc. Esses direitos devem ser
preservados tanto na relação entre os cidadãos quanto na relação entre Estado
e sociedade civil. O Estado mostra-se como o principal ator no processo de
garantia da cidadania e dos direitos dos cidadãos a partir da fixação de um
aparato de leis e normas.
A cidadania reflete os valores que são atribuídos aos homens que lhe
capacitam ter poderes políticos nas decisões no nível das diversas estâncias
do Estado. Deve-se ter cuidado em não simplificar a cidadania ao simples
direito de votar. A capacidade de ação política dos cidadãos se estende para
além do momento eleitoral. Um cidadão reconhece a si mesmo como um
membro de seu país e passa a ter a sua disposição uma série de canais para
participação, controle e influência das instituições político-sociais. Estes canais
vão do direito de votar ao direito de ser votado; da liberdade de expressão à
possibilidade de assumir cargos políticos. A cidadania tem um significado
político muito valioso, pois permite que os indivíduos tenham mecanismos para
melhorar sua situação através de vias pacíficas.
Na consolidação em nível internacional da valor do ser humano e da
cidadania, a Declaração de Direitos Humanos é considerada um grande
avanço. Formulada no ano de 1948, a Declaração representa a consagração
de um conjunto de valores produto de um processo histórico tortuoso que
levaram séculos para se definir e a obter um consenso alargado a nível
mundial. Hoje, estes valores fundamentam um conjunto de direitos nas
diversas nações e apesar de ser reconhecido o direito à diferença a cada
Estado, as diferenças nas suas legislações internas não podem contudo
contrariar o que está consignado na Declaração. Os valores gerais da
Declaração são os seguintes: a Pessoa Humana como valor maior, a dignidade
humana (integridade física e moral), a liberdade (pessoal, civil e política)
Igualdade (de direitos, econômica, política e cultural) e a Solidariedade.
Bibliografia
CHAUÍ, Marilena de Sousa. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática,
2005.
COVRE, Maria de Lourdes Manzini. O Que e cidadania. 3. ed. Sao Paulo:
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GALLO, Silvio,. Etica e cidadania: Caminhos da filosofia: elementos para o
ensino de filosofia. Campinas: Papirus, 1997.
KANT, Immanuel,. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros
escritos: texto integral. São Paulo: Martin Claret, 2003
SANCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Etica. Rio de janeiro: Civilização Brasileira,
1970