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AULA DIREITO CIVIL – DIREITOS REAIS

A POSSE

Remonta a uma grande discussão acerca da natureza da posse.


Antigamente era entendida como mero apêndice da propriedade,
assim, a posse pertencia ao proprietário.

Até que Savigny criou a denominada teoria da posse, pela qual


esta é autônoma em relação à propriedade, possuindo natureza
jurídica própria, sendo que a posse é formada pela soma de dois
elementos:

 Corpus: contato físico, apreensão;


 Animus rem sibi habendi: vontade de ter a coisa como sua.

Esta foi denominada de teoria subjetiva, pois concentrava sua


força em um elemento subjetivo, qual seja a vontade de ter a
coisa. A crítica disparada foi imediata, pois, se de um lado,
merecia elogios, em virtude da autonomia conferida à posse, por
outro concentrava toda importância em um elemento subjetivo,
que nem sempre era necessário, ou estava presente. Dois
exemplos marcavam a crítica: locação e comodato.

Assim, Rudolf Von Ihering, discípulo de Savigny, criou a


denominada teoria objetiva, ou simplificada da posse. Aqui é
apontado um elemento único para caracterizar a posse:

 corpus

O art. 1196 do código civil consagra a teoria objetiva de


Ihering, afirmando que considera-se possuidor quem pode
exercitar qualquer prerrogativa da propriedade, conforme art.
1.228. Contudo, nosso código faz concessões à teoria
subjetiva, como ocorre no caso de usucapião.

Em decorrência da teoria objetiva, qualquer pessoa e até ente


despersonalizado podem exercer posse, que também pode ser
adquirida por ato de terceiro.

O STJ vem lapidando o conceito de posse para dizer que a posse


não é necessariamente apreensão física, mas poder físico sobre a
coisa (REsp 1.158.992/MG)
Importante: a posse é autônoma e independente em relação à
propriedade. Nesse sentido, o enunciado 492, CJF.

O CPC de 2015, inclusive, determina que a ação possessória será


julgada a favor do melhor possuidor, independentemente da
propriedade.

A posse será sempre relacionada a poder físico, enquanto a


propriedade pode ser até imaterial.

A DETENÇÃO

Aqui a teoria objetiva de Ihering é desqualificada, pois quem


exerce poder físico sobre a coisa não é possuidor. Assim a
detenção é uma desqualificação da posse.

Em certas hipóteses, o ordenamento (lei) tira a qualidade de


possuidor de quem exerce poder físico sobre a coisa, e a trata
como mera detentora, o que impede a usucapião e aos direitos
decorrentes da realização de benfeitorias ou acessões. (REsp
1.183.266/PR)

Os detentores para o Código Civil são:

 Fâmulo da posse (caseiro, capataz, veterinário, adestrador,


gestor da posse): art. 1.198;
 Atos de tolerância ou permissão: (art. 1.208) é a “posse
precária”, assim a posse precária não se convalesce;
 Posse clandestina ou violenta, antes do convalescimento:
art. 1.208, segunda parte.

Obs.: enunciado 301 do CJF (interversão da posse). Ocorre a


alteração da posse precária quando ela deixa de ser precária e
passa a ser violenta ou clandestina. Mutação da natureza.

O direito administrativo acrescenta mais duas hipóteses:

 Permissão ou concessão de bem público de uso comum ou


especial. (REsp 1.003.708/PR);
 Ocupação irregular de áreas públicas. (REsp 556.721/DF).

Conforme o CPC anterior, o mero detentor demandado em


ação possessória era obrigado a nomear à autoria; o atual CPC
eliminou a nomeação à autoria das intervenções de terceiros.
Agora, conforme disposto no art. 337, XI do NCPC, o mero
detentor deverá alegar, em sede preliminar de contestação, sua
ilegitimidade passiva, abrindo -se prazo de 15 dias para o autor
indicar o réu, na forma do art. 338. Contudo, o art. 339 impõe que
o réu indique o sujeito passivo, quando souber quem vem a sê-lo,
sobe pena de perdas e danos.

ATENÇÃO: e quando a ação for possessória, ou que discuta seus


efeitos, e for dirigida ao possuidor? Aí este é parte legítima,
resguardado a este o direito de regresso quanto ao proprietário,
cabendo, inclusive a denunciação da lide.

OBJETO DA POSSE

Somente bens corpóreos podem ser objeto de posse, pois somente


estes são materializáveis. Nesse passo, os incorpóreos são
insuscetíveis de posse.

Não cabe tutela possessória em defesa de bens incorpóreos,


portanto. Nesse sentido a súmula 228 do STJ. A defesa de bens
incorpóreos, conforme artigos 497 e 500 do NCPC, se dará por
meio de tutela específica e ação indenizatória.

Desse modo, os bens incorpóreos não podem ser usucapidos.

COMPOSSE (coposse/compossessão)

A composse no NCPC vem tratada no art. 73, § 2º.

É o exercício simultâneo da posse por duas ou mais pessoas.

Os requisitos da composse são:


 Indivisibilidade/unicidade da coisa;
 Pluralidade de sujeitos.

Sob o ponto de vista material, cada um dos co-possuidores


exercem direito sobre o todo e podem defender a coisa como um
todo, independentemente de sua cota/fração ideal, inclusive, uns
contra os outros. (REsp 537.363/RS)

Ordinariamente, não pode haver usucapião entre os co-


possuidores. O STJ abriu exceção no REsp 10.978/RJ (leading
case), quando um dos co-possuidores exercer posse com
exclusividade, alijando os demais.

O efeito processual da composse vem do art. 73 do CPC, que exige


o consentimento do outro consorte somente para ações reais
imobiliárias, sendo certo que posse não é direito real, o que
dispensa o consentimento do consorte, bem como a citação deste
para formar litisconsórcio passivo. O § 2º exige a participação do
cônjuge ou companheiro (§ 3º) do réu, somente em caso de
composse.

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