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ORGANIZADO POR CP IURIS

ISBN 978-65-5701-025-9

DIREITO AMBIENTAL

3ª edição
Brasília
2022
SOBRE A AUTORA

DANIELA ADAMEK. Bacharela em Direito pela Universidade de Brasília (2017). Atualmente, é advogada e
ocupa o cargo de Consultora Legislativa, área Meio Ambiente, da Câmara Legislativa do Distrito Federal, no
qual foi aprovada em 1º lugar. Ocupou também, entre 2014 e 2019, o cargo de Técnico Judiciário, no
Supremo Tribunal Federal, onde atuou em Gabinete de Ministro e na Presidência da Corte.
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL ............................................................................................ 8

1. DEFINIÇÃO DE MEIO AMBIENTE ................................................................................................................................ 9


2. ESPÉCIES DE MEIO AMBIENTE ................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 2 - DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE .............................................................13


1. COMPETÊNCIA MATERIAL ......................................................................................................................................14
2. LEI COMPLEMENTAR N.º 140/2011 ........................................................................................................................14
3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS .................................................................................................................................16
4. ORDEM ECONÔMICA AMBIENTAL .............................................................................................................................16
5. MEIO AMBIENTE CULTURAL ....................................................................................................................................17
6. MEIO AMBIENTE NATURAL .....................................................................................................................................17
7. MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL ...................................................................................................................................22
7.1. Estatuto da Cidade .................................................................................................................................23
7.2. Instrumentos para executar a política urbana .........................................................................................23
7.3. Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança .................................................................................................24
7.4. IPTU progressivo no tempo .....................................................................................................................25
7.5. Usucapião coletiva .................................................................................................................................25
8. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ..............................................................................................................................26
9. JURISPRUDÊNCIA .................................................................................................................................................26
9.1. STF.........................................................................................................................................................26
CAPÍTULO 3 - PRINCÍPIOS AMBIENTAIS ...................................................................................................................35
1. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO .....................................................................................................................................36
2. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO .....................................................................................................................................36
3. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .........................................................................................................36
4. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR OU DA RESPONSABILIDADE .......................................................................................36
5. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR ...........................................................................................................................37
6. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR .......................................................................................................................37
7. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL OU EQUIDADE INTERGERACIONAL ..............................................................37
8. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA ...............................................................................................................37
9. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE ............................................................................................38
10. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO .................................................................................................................................38
11. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE COMUM, MAS DIFERENCIADA ....................................................................................38
12. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO ECOLÓGICO/EFEITO CLIQUET............................................................................38
13. JURISPRUDÊNCIA ...............................................................................................................................................38
13.1. STF .......................................................................................................................................................38
CAPÍTULO 4 - POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE ......................................................44
1. PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE ..............................................................................45
2. INSTRUMENTOS DE EXECUÇÃO DA PNMA .................................................................................................................46
2.1. Zoneamento ambiental ..........................................................................................................................46
2.2. Avaliação de impactos ambientais..........................................................................................................47
2.3. Instrumentos econômicos .......................................................................................................................47
3. COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIAS DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (SISNAMA) ...................................................48
3.1. Conselho de Governo..............................................................................................................................48
3.2. Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) .....................................................................................48
3.3. Ministério do Meio Ambiente .................................................................................................................49
3.4. Ibama e ICMBio......................................................................................................................................49
3.5. Órgãos Seccionais ..................................................................................................................................49
3.6. Órgãos locais .........................................................................................................................................50
4. JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................50
4.1. STF.........................................................................................................................................................50

CAPÍTULO 5 - PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS .........................................................55


1. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL ................................................................................................................................56
2. LICENCIAMENTO AMBIENTAL ..................................................................................................................................56
2.1. Natureza jurídica do licenciamento .........................................................................................................56
3. JURISPRUDÊNCIA .................................................................................................................................................62
3.1. STF.........................................................................................................................................................62
CAPÍTULO 6 - ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS .....................................................................67
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................................68
1.1. Espaços ambientais especialmente protegidos........................................................................................68
1.2. Princípios que informam o Novo Código Florestal (1º-A) .........................................................................68
1.3. Regimes jurídicos ...................................................................................................................................69
1.4. Obrigações de natureza real ...................................................................................................................69
1.5. Cadastro Ambiental Rural.......................................................................................................................69
1.6. Programas de Regularização Ambiental .................................................................................................70
2. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) .............................................................................................................71
2.1. Definição legal .......................................................................................................................................71
2.2. Rol exemplificativo de áreas de proteção permanente ............................................................................71
2.3. APP declaradas de interesse social..........................................................................................................73
2.4. Regime especial de proteção e exploração excepcional ...........................................................................73
2.5. Áreas consolidadas em APPs ..................................................................................................................75
2.6. Formas de recomposição ........................................................................................................................76
2.7. Desapropriação em APP e indenização ...................................................................................................77
3. RESERVA LEGAL...................................................................................................................................................77
3.1. Percentuais mínimos das áreas de reserva legal......................................................................................78
3.2. Cota de Reserva Ambiental.....................................................................................................................78
3.3. Definição da localização da reserva legal ................................................................................................78
3.4. Apicuns e salgados .................................................................................................................................80
3.5. Áreas de uso restrito ..............................................................................................................................81
3.6. Áreas verdes urbanas .............................................................................................................................81
4. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO .................................................................................................................................82
4.1. Introdução .............................................................................................................................................82
4.2. Estudos técnicos e consulta pública ........................................................................................................82
4.3. Órgãos responsáveis pela gestão do SNUC..............................................................................................82
4.4. Grupos de unidades de conservação .......................................................................................................82
4.5. Zonas de amortecimento ........................................................................................................................84
4.6. Corredores ecológicos ............................................................................................................................84
4.7. Mosaico .................................................................................................................................................84
4.8. Plano de manejo ....................................................................................................................................84
4.9. Limitações administrativas de caráter provisório ....................................................................................84
4.10. Compensação.......................................................................................................................................85
4.11. Reservas da biosfera.............................................................................................................................85
5. MATA ATLÂNTICA ...............................................................................................................................................86
5.1. Florestas e ecossistemas associados ao Bioma Mata Atlântica ................................................................86
5.2. Objetivos da Lei do Bioma Mata Atlântica ..............................................................................................86
5.3. Tutela legal do estágio da Mata Atlântica ..............................................................................................86
5.4. Corte e supressão de vegetação .............................................................................................................86
5.5. Exploração eventual ...............................................................................................................................88
5.6. Medida de compensação ambiental .......................................................................................................88
6. JURISPRUDÊNCIA .................................................................................................................................................89
6.1. STJ .........................................................................................................................................................89
6.2. STF.........................................................................................................................................................90
CAPÍTULO 7 - PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO ................................................................................................98

1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................................99
2. PLANO NACIONAL DE CULTURA, SISTEMA NACIONAL DE CULTURA, POLÍTICA NACIONAL DE CULTURA VIVA E INSTRUMENTOS DE
PROTEÇÃO ................................................................................................................................................................99
2.1. Plano Nacional de Cultura ......................................................................................................................99
2.2. Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais ..................................................................... 100
2.3. Sistema Nacional de Cultura ................................................................................................................. 101
2.4. Política Nacional de Cultura Viva .......................................................................................................... 101
2.5. Instrumentos de proteção..................................................................................................................... 102
3. JURISPRUDÊNCIA .......................................................................................................................................... 106
CAPÍTULO 8 - POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS .................................................................................109
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 109
1.1. Domínio dos recursos hídricos .............................................................................................................. 109
1.2. Bacia hidrográfica ................................................................................................................................ 109
2. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS ........................................................................................ 110
3. INSTRUMENTO DA PNRH .................................................................................................................................... 110
3.1. Planos de Recursos Hídricos.................................................................................................................. 110
3.2. Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água .................. 111
3.3. Outorga dos direitos de uso de Recursos Hídricos.................................................................................. 111
3.4. Cobrança pelo uso de recursos hídricos ................................................................................................. 113
3.5. Compensação a municípios .................................................................................................................. 113
3.6. Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (SIRH) ........................................................................ 113
4. SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS (SNGRH) .................................................................. 114
4.1. Conselho Nacional de Recursos Hídricos ............................................................................................... 114
4.2. Agência Nacional de Águas (ANA) ........................................................................................................ 115
4.3. Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal.......................................................... 116
4.4. Comitês de Bacia Hidrográfica .............................................................................................................. 116
4.5. Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do DF e municipais cujas competências se relacionem
com a gestão de recursos hídricos .................................................................................................................... 117
4.6. Agências de Água ................................................................................................................................. 118
4.7. Organizações Civis de Recursos Hídricos ............................................................................................... 118
5. PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA ......................................................................................................................... 119
5.1. Corpos d’água superficiais .................................................................................................................... 119
5.2. Águas destinadas à balneabilidade ....................................................................................................... 119
5.3. Águas subterrâneas ............................................................................................................................. 119
6. JURISPRUDÊNCIA .......................................................................................................................................... 120
6.1. STF....................................................................................................................................................... 120
CAPÍTULO 9 - RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS .......................................................................124
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 125
2. COMPETÊNCIA .................................................................................................................................................. 126
3. POLUIDOR ....................................................................................................................................................... 126
4. NEXO CAUSAL................................................................................................................................................... 127
5. RESPONSABILIDADE OBJETIVA AMBIENTAL ................................................................................................................ 127
6. DANOS AMBIENTAIS ........................................................................................................................................... 128
7. JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................... 128
7.1. STF....................................................................................................................................................... 129
7.2. STJ ....................................................................................................................................................... 129
CAPÍTULO 10 - INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS.................................................................................137

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 138


2. INFRAÇÃO AMBIENTAL DO ART. 70 DA LEI N.º 9.605/98 ............................................................................................ 138
3. JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................... 141
CAPÍTULO 11 - CRIMES AMBIENTAIS .....................................................................................................................147
1. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA ........................................................................................................ 148
1.1. Requisitos ............................................................................................................................................ 148
1.2. Dupla imputação .................................................................................................................................. 148
1.3. Pessoa jurídica de direito público .......................................................................................................... 148
1.4. Pessoa jurídica paciente em habeas corpus........................................................................................... 149
2. FIGURA DO GARANTIDOR ..................................................................................................................................... 149
3. COMPETÊNCIA .................................................................................................................................................. 149
4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ...................................................................................................... 150
5. DOSIMETRIA DAS SANÇÕES .................................................................................................................................. 150
6. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO APLICÁVEIS ÀS PESSOAS FÍSICAS ..................................................................................... 150
7. PENAS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS JURÍDICAS ................................................................................................................ 151
7.1. Restritivas de direitos ........................................................................................................................... 151
7.2. Prestação de serviços à comunidade..................................................................................................... 152
7.3. Suspensão de atividades parcial ou total .............................................................................................. 152
7.4. Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade ............................................................... 152
7.5. Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações ... 152
7.6. Apreensão dos produtos e dos instrumentos do crime ambiental .......................................................... 152
7.7. Liquidação forçada da pessoa jurídica .................................................................................................. 153
8. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES ......................................................................................................... 153
9. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA ....................................................................................................................... 154
10. INICIATIVA DA AÇÃO PENAL ................................................................................................................................ 154
11. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO ............................................................................................................... 154
12. PROPOSTA DE APLICAÇÃO DE PENA RESTRITIVA DE DIREITOS ........................................................................................ 155
13. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE .................................................................................................... 155
14. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ........................................................................................................ 155
15. JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................. 156
6.1. STF....................................................................................................................................................... 156
6.2. STJ ....................................................................................................................................................... 156
DANIELA ADAMEK MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL • 1

1 MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL

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1. DEFINIÇÃO DE MEIO AMBIENTE

O Direito Ambiental se trata de um ramo autônomo de direito público, por meio do qual são
sistematizadas regras (normas e princípios) voltadas à proteção do meio ambiente, a fim de garantir uma
sadia qualidade de vida para as presentes e para as futuras gerações.
Vemos, atualmente, uma crescente conscientização da população no que tange à necessidade de
proteger o meio ambiente. A verdade é que dependemos dos recursos naturais para sobrevivermos e nos
desenvolvermos, porém, muitas vezes, esquecemo-nos de que eles não são infinitos e, se não os
preservarmos, teremos sérios e irreversíveis problemas, muito em breve.
Nesse sentido, merece destaque a recente declaração dada pelo Conselho de Direitos Humanos da
ONU que reconheceu, pela primeira vez, o meio ambiente limpo, saudável e sustentável como um direito
humano. Trata-se de um marco histórico na evolução da justiça ambiental, já que irá orientar a atuação
governamental dos países membros no sentido desse reconhecimento e implementação do novo direito
humano.
Assim, o Direito Ambiental tem como escopo a proteção do meio ambiente, de forma a mantê-lo
ecologicamente equilibrado, a fim de preservar uma vida sadia para as presentes e para as futuras gerações.
A propósito, destaca-se o caput do artigo 225 da Constituição Federal:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Embora consagrada no Brasil, a expressão “meio ambiente”, para parcela da doutrina ambientalista,
é redundante, pois, de acordo com os autores, as palavras que formam a expressão possuem o mesmo
significado, cuja soma, portanto, totaliza um pleonasmo.
A definição legal da expressão, por sua vez, encontra-se positivada na Lei n.º 6.938/81 (Política
Nacional do Meio Ambiente), cujo artigo 3º, inciso I, dispõe:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

É interessante destacar, também, que o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) trouxe um
conceito de meio ambiente mais completo, no âmbito da Resolução n.º 306/2002:

Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,


química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas.

Verifica-se, por conseguinte, que o Conama adicionou os aspectos sociais, culturais e urbanísticos à
definição de meio ambiente. Isso porque é certo que o meio ambiente abarca não apenas o aspecto natural,
mas outros aspectos que serão abordados na sequência.

2. ESPÉCIES DE MEIO AMBIENTE

São quatro as classificações de meio ambiente que são majoritariamente aceitas pela doutrina e
assim reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na ADI n.º 3.540/MC-DF: meio ambiente cultural,
artificial, laboral e natural.
O meio ambiente cultural trata do conjunto de coisas tangíveis e de criações intangíveis do homem
sobre os elementos naturais. A título de exemplo, podemos citar uma casa tombada (integra, também, o
patrimônio cultural de uma determinada cidade) e formas de expressão de um grupo formador da sociedade
brasileira.

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Por sua vez, o meio ambiente artificial é fruto da criação humana, não integrando o ambiente
cultural (portanto, tampouco integra o patrimônio cultural), como o espaço urbano construído pelo homem,
constituído por edifícios urbanos e por espaços comunitários.
Já o meio ambiente laboral ou do trabalho é o ambiente em que o humano trabalha. Materializa-se
nas condições que buscam tutelar o exercício digno e seguro das atividades laborais, como EPIs
(Equipamentos de Proteção Individual). Há, no entanto, doutrina que restringe o meio ambiente laboral,
sustentando que ocorre quando as empresas cumprem as condições a que deve ser submetido o trabalhador.
Por fim, o meio ambiente natural é aquele formado pelos elementos da natureza, bióticos ou
abióticos, como ar, água, solo, atmosfera, fauna, flora etc.
É importante consignar que, nos termos da Política Nacional do Meio Ambiente, o meio ambiente é
considerado patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo
(art. 2º, I, Lei n.º 6.938/81).

QUESTÕES
1. CESPE/TJ-BA/Juiz Substituto/2019. De acordo com a jurisprudência do STF, o conceito de meio ambiente
inclui as noções de meio ambiente:
a) artificial, histórico, natural e do trabalho.
b) cultural, artificial, natural e do trabalho.
c) natural, histórico e biológico.
d) natural, histórico, artificial e do trabalho.
e) cultural, natural e biológico.

2. CESPE/Prefeitura de Fortaleza - CE/Procurador do Município/2017. De acordo com os princípios do


direito ambiental, julgue o item que se segue:
O conceito de meio ambiente que vem embutido na norma jurídica não abrange o conjunto de leis que rege
a vida em todas as suas formas.

3. CESPE/TRF-5ª Região/Juiz Federal/2013. O direito ao meio ambiente é um direito de interesse


a) individual homogêneo de grande relevância social.
b) coletivo.
c) difuso.
d) meramente individual.
e) exclusivo do poder público.

4. CESPE/TJ-CE/Juiz Substituto/2012. Considerando os diversos aspectos que envolvem o conceito de meio


ambiente, particularmente o cultural e o do trabalho, assinale a opção correta.
a) Considera-se meio ambiente cultural o ambiente integrado pelos equipamentos urbanos e edifícios
comunitários, como as bibliotecas, pinacotecas, museus e instalações científicas ou similares.
b) O meio ambiente é um bem público classificado pela CF como de uso comum do povo, razão pela qual não
se admite que o seu uso seja oneroso ou imponha a necessidade de qualquer contraprestação de ordem
pecuniária.
c) Ao estabelecer a tutela do meio ambiente, a CF dispõe que a proteção do meio ambiente, nele
compreendido o meio ambiente do trabalho, constitui um dos objetivos do Sistema Único de Saúde.
d) A todos os entes federativos compete a proteção de documentos, obras e outros bens de valor histórico,
artístico, cultural e paisagístico, mas a competência para legislar sobre esses temas pertence, privativamente,
à União.
e) A definição legal de recursos ambientais compreende a fauna e a flora, as águas superficiais e
subterrâneas, o solo e o subsolo, mas não o mar territorial e os demais elementos da biosfera.

5. CESPE/TRF-1ª Região/Juiz Federal/2011. Julgue a afirmativa:


A defesa do direito ao meio ambiente equilibrado nasceu a partir da Declaração de Estocolmo, em 1972, cujas
premissas são marcadamente biocêntricas.

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COMENTÁRIOS
1. Resposta: alternativa B.
A alternativa A está incorreta. Não há que se falar em meio ambiente histórico. Os bens materiais e imateriais
ligados ao patrimônio histórico fazem parte do meio ambiente cultural.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. O meio ambiente cultural é aquele formado pelos
bens materiais e imateriais que constituem o patrimônio artístico, paisagístico, arqueológico, histórico,
científico e turístico. Já o meio ambiente artificial compreende o espaço urbano construído pelo homem. Por
sua vez, o meio ambiente natural é aquele formado pelos recursos naturais bióticos (com vida) e abióticos
(sem vida), como o ar, a água, o solo, a fauna e a flora. Finalmente, o meio ambiente do trabalho se relaciona
com as condições de trabalho que tutelam o exercício digno e seguro das atividades laborais.
A alternativa C está incorreta. Não há que se falar em meio ambiente histórico, tampouco em meio ambiente
biológico. Os bens materiais e imateriais ligados ao patrimônio histórico fazem parte do meio ambiente
cultural. Os componentes biológicos dos ecossistemas, por sua vez, estão compreendidos dentro do meio
ambiente natural.
A alternativa D está incorreta. Não há que se falar em meio ambiente histórico, tampouco em meio ambiente
biológico. Os bens materiais e imateriais ligados ao patrimônio histórico fazem parte do meio ambiente
cultural.
A alternativa E está incorreta. Não há que se falar em meio ambiente biológico. Os componentes biológicos
dos ecossistemas estão compreendidos dentro do meio ambiente natural.

2. Resposta: Errada.
A assertiva está errada, pois, de acordo com o art. 3º, inciso I, da Lei 6.938/81 (Política Nacional do Meio
Ambiente), o meio ambiente compreende “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Importante lembrar que, até o advento da Lei n.º 6.938/81, não existia, uma definição legal do que seria
meio ambiente.

3. Resposta: letra C.
A alternativa A está incorreta. Os direitos coletivos em sentido lato podem ser classificados em i) direitos
difusos, ii) direitos coletivos em sentido estrito, e iii) direitos individuais homogêneos. Em síntese, os direitos
difusos (art. 81, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor – CDC) são, nada menos, do que aqueles direitos
cujos titulares são indeterminados ou indetermináveis (ex.: interessados no meio ambiente ecologicamente
equilibrado) e que sejam ligados por uma circunstância de fato. Os direitos coletivos em sentido estrito (art.
81, inciso II, CDC), por sua vez, são aqueles cuja titularidade é determinada por sujeitos unidos por uma
relação jurídica (ex.: membros de um sindicato). Já os direitos individuais homogêneos (art. 81, inciso III,
CDC), também chamados de direitos acidentalmente coletivos por Barbosa Moreira, são aqueles que
decorrem, assim como nos direitos difusos, de uma circunstância de fato, porém seus titulares são
determináveis (ex.: compradores interessados na reparação de carros de um mesmo lote, com o mesmo
defeito de fabricação).
A alternativa B está incorreta. O meio ambiente se trata de um direito coletivo lato sensu, e, dentro dessa
classificação, é um direito difuso.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Vimos que o direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado é um direito difuso e de terceira geração. Difuso porque sua titularidade abrange
indeterminadas pessoas, as quais estão ligadas por uma circunstância de fato.
A alternativa D está incorreta. O direito ao meio ambiente também é um direito individual, mas não
“meramente individual”, pois abarca interesse de toda a sociedade de proteger a natureza para as presentes
e futuras gerações.
A alternativa E está incorreta. Não é exclusivo do poder público. O direito ao meio ambiente também é um
interesse do poder público, na medida em que esse também deve atuar na sua preservação.

4. Resposta: letra C.
A alternativa A está incorreta. Lembre-se: os equipamentos urbanos e edifícios comunitários são
componentes do meio ambiente artificial.

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A alternativa B está incorreta. A alternativa está correta ao dizer que o meio ambiente é classificado como
bem de uso comum do povo, nos termos do que dispõe o caput do art. 225 da Constituição Federal. Mas
atenção: tome cuidado com essa classificação, pois o meio ambiente não é exatamente aquele bem de uso
comum que aprendemos no Direito Administrativo. O erro da questão está no fato de consignar que não se
admite o uso oneroso ou que se exija contraprestação pecuniária em detrimento de sua utilização. Isso
porque é permitido que se cobre pela utilização dos recursos naturais, até como forma de conscientização
da população quanto ao real valor desses bens, indispensáveis à sobrevivência humana. A título de exemplo,
cito o art. 5º, inciso IV, da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n.º 9.433/97) que prevê como
instrumento a “cobrança pelo uso dos recursos hídricos”. Já imaginou se não se cobrasse pelo uso da água?
Muito provavelmente, as pessoas não teriam a mesma consciência de racionalizar sua utilização.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do artigo 200, inciso VIII, da Constituição
Federal: “Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...] VIII –
colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.”.
A alternativa D está incorreta. Nos termos do artigo 23, inciso III, da CF, “É competência comum da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...] III - proteger os documentos, as obras e outros bens
de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos.” Vamos estudar sobre competências constitucionais nas próximas aulas, mas já adianto que
a competência comum está relacionada às competências materiais dos entes federados. Mas então a
assertiva está certa, não? Veja o que dispõe o art. 24, da CF: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao
Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural,
artístico, turístico e paisagístico.”. Ora, considerando que o patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico
e paisagístico abrange “os documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico, cultural e
paisagístico” a que alude o enunciado, então outros entes (Estados e Distrito Federal) podem legislar sobre
essa matéria. Sobre competências legislativas privativas da União, veja o art. 22 da CF.
A alternativa E está incorreta. De acordo com o art. 3º, inciso V, da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
n.º 6.938/81) – que será objeto específico de capítulo futuro – os recursos naturais compreendem “a
atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo,
os elementos da biosfera, a fauna e a flora”.

5. Resposta: Errada.
O item está errado, porquanto a Declaração de Estocolmo, de 1972, possui caráter marcadamente
antropocêntrico.

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DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O


2
MEIO AMBIENTE

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Inicialmente, cumpre destacar a existência de uma tendência mundial de tutela constitucional do


meio ambiente. São as chamadas pela doutrina de constituições verdes, como, por exemplo, a Constituição
Portuguesa de 1976 e a Constituição Espanhola de 1978, que fortemente influenciaram o texto constitucional
brasileiro, notadamente o art. 225 da Constituição Federal de 1988.
Nesse sentido, vamos tratar das disposições constitucionais concernentes ao Direito Ambiental.

1. COMPETÊNCIA MATERIAL

Inicialmente, cumpre destacar que a competência material ambiental é comum, ou seja, cabe a todas
as entidades políticas a proteção do meio ambiente. A propósito, merece destaque os indicados incisos do
art. 23 da CF/88, que especificadamente cuidam dessa temática:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
[...]
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens
de valor histórico, artístico ou cultural;
[...]
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservaras florestas, a fauna e a flora;

O parágrafo único do art. 23 da CF/88 determina que normas de cooperação entre a União, Estados,
Distrito Federal e Municípios serão fixadas mediante a edição de leis complementares. Na seara ambiental,
restou editada a Lei Complementar n.º 140/2011, que

fixa normas [...] para a cooperação entre [os entes federativos] nas ações administrativas
decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens
naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de
suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora.

Desse modo, verifica-se que os entes federativos, ou seja, União, Estados, Distrito Federal e
Municípios devem atuar de forma coordenada, mediante atos de cooperação, no sentido de evitar
desperdício de forças e recursos quando o assunto for proteção e preservação ambiental.

2. LEI COMPLEMENTAR N.º 140/2011

Nos termos do art. 3º da LC 140/2011, União, Estados, DF e Municípios devem observar os seguintes
objetivos fundamentais:

I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado,


promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio
ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a
redução das desigualdades sociais e regionais;
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação
entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação
administrativa eficiente;
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as
peculiaridades regionais e locais.

O art. 4º, por sua vez, elenca, para a proteção do meio ambiente, os instrumentos de cooperação
dos quais poderão se valer as entidades políticas, quais sejam:

I - consórcios públicos, nos termos da legislação em vigor;

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

II - convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares com órgãos


e entidades do Poder Público, respeitado o art. 241 da Constituição Federal;
III - Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão Bipartite do
Distrito Federal;
IV - fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos;
V - delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos
previstos nesta Lei Complementar;
VI - delegação da execução de ações administrativas de um ente federativo a outro,
respeitados os requisitos previstos nesta Lei Complementar.

Por oportuno, destaca-se que consórcios públicos são contratos administrativos celebrados entre
entidades políticas com a finalidade de realização de interesses comuns. É constituída uma associação pública
ou uma pessoa jurídica de direito privado que vai gerir o consórcio público.
Convênios são ajustes ou contratos firmados entre pessoas jurídicas de direito público ou entre
pessoas jurídicas de direito público e particulares. Os particulares e a administração pública devem ter
interesses convergentes. Os convênios, no entanto, não criam pessoas jurídicas autônomas, diferentemente
dos consórcios públicos.
Os acordos de cooperação poderão se dar por meio de fundos, públicos ou privados. Por exemplo,
podemos citar o Fundo Nacional do Meio Ambiente, que visa auferir recursos para projetos de ações
sustentáveis.
A lei complementar ainda dispõe que os convênios e os acordos de cooperação poderão ser firmados
com prazo indeterminado.
Ressalte-se que a delegação, mediante convênio, da execução de ações administrativas entre entes
federativos, possui dois requisitos a serem cumpridos: (i) que o ente destinatário tenha órgão ambiental
capacitado a executar as ações administrativas delegadas e (ii) que ele também tenha conselho de meio
ambiente. Veja-se o teor do art. 5º:

Art. 5º O ente federativo poderá delegar, mediante convênio, a execução de ações


administrativas a ele atribuídas nesta Lei Complementar, desde que o ente destinatário da
delegação disponha de órgão ambiental capacitado a executar as ações administrativas a
serem delegadas e de conselho de meio ambiente.

Por fim, merece destaque a criação, pela norma complementar, de comissões cuja organização e
funcionamento serão regulamentados pelos respectivos regimentos internos, e que têm por objetivo o
fomento e a gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes federativos:

• Comissão Tripartite Nacional: formada, paritariamente, por representantes dos Poderes


Executivos da União, dos Estados, do DF e dos Municípios.
Composição:
• 3 representantes da esfera federal
• 3 representantes da esfera estadual
• 3 representantes da esfera municipal
• Comissões Tripartites Estaduais: formadas, paritariamente, por representantes dos Poderes
Executivos da União, dos Estados e dos Municípios.
Composição:
• 2 representantes da esfera federal
• 2 representantes da esfera estadual
• 2 representantes da esfera municipal
• Comissão Bipartite do DF: formada, paritariamente, por representantes dos Poderes Executivos
da União e do DF
Composição:

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• 2 representantes da esfera federal


• 2 representantes da esfera distrital

Anote que a composição das comissões é sempre paritária.

3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

No âmbito do Direito Ambiental, a competência para legislar é concorrente, ou seja, cabe tanto à
União quanto aos Estados e ao Distrito Federal legislarem sobre matérias de cunho ambiental. É o que dispõe
o art. 24 da CF/88:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
[...]
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
[...]
§1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer
normas gerais.
§2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.
§3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual,
no que lhe for contrário.

Atente-se para o fato de que as competências legislativas, diferentemente das competências


materiais, sobre matérias de cunho ambiental, não abrangem os Municípios. Isso porque a competência
legislativa municipal decorre do art. 30, I da CF/88, competindo a esses entes federados legislar sobre
assuntos de interesse local ou suplementar a legislação federal ou estadual no que couber.
No caso da legislação sobre águas, energia, jazidas, minas e outros recursos minerais, bem como no
caso de atividades nucleares, a competência para legislar sobre o assunto é privativa da União, conforme
dispõe o art. 22 da CF.

4. ORDEM ECONÔMICA AMBIENTAL

Nos termos do art. 170, VI, da CF, que inaugura o capítulo constitucional que trata da Ordem
Econômica e Financeira, a defesa do meio ambiente é um dos princípios da ordem econômica.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
[...]
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;

Na decisão de políticas públicas, é preciso levar em conta a necessidade de proteção do meio


ambiente, inclusive por meio do tratamento diferenciado, conforme o impacto ambiental dos produtos,
serviços, processos de elaboração do produto ou do serviço. É o que a doutrina denomina de ordem
econômica ambiental.

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

5. MEIO AMBIENTE CULTURAL

O meio ambiente cultural, conforme anteriormente estudado, trata do conjunto de coisas tangíveis
e de criações intangíveis do homem sobre os elementos naturais. A título de exemplo, citamos uma casa
tombada (integra, também, o patrimônio cultural de uma determinada cidade) e formas de expressão de um
grupo formador da sociedade brasileira.
A CF/88 destinou o art. 216 aos cuidados dessa importante classe de meio ambiente:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira,
nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação
governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores
culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências
históricas dos antigos quilombos.
§ 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à
cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento
de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações
apoiados.

É importante destacar que o grau de restrição estabelecido pelo §1º quanto à promoção e à proteção
do patrimônio cultural brasileiro (meio ambiente cultural) é progressivo. Bens materiais podem ser tombados
ou desapropriados e bens imateriais devem ser registrados ou inventariados. Nesse sentido, emerge o
Decreto-Lei n.º 25/1937, que “organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional” e trata
especificadamente do instituto do tombamento.

6. MEIO AMBIENTE NATURAL

O meio ambiente natural, como visto, é aquele formado pelos elementos da natureza, bióticos ou
abióticos, como ar, água, solo, atmosfera, fauna, flora etc. Sua proteção está consagrada na Constituição
Federal pelo art. 225, artigo constitucional da disciplina ambiental. Porquanto sobremaneira importante,
destaca-se seu inteiro teor:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Algumas observações sobre o caput do art. 225 merecem ser destacadas:

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

• A expressão “todos”, constante do caput do art. 225, refere-se não apenas aos brasileiros, mas
também aos estrangeiros, residentes ou não, no Brasil.
• Há uma corrente minoritária que defende que essa expressão (“todos”) abrange também os
animais, com fundamentado na tutela animal da CF.
• “Meio ambiente ecologicamente equilibrado” é o meio ambiente sustentável, sem poluição,
capaz de conferir uma vida digna e salubre. Trata-se de um direito e um dever do Poder Público
e da coletividade, conforme afirmado pelo STF, constitui um direito fundamental de 3ª geração,
ou seja, trata-se de um direito difuso, cujos destinatários são indeterminados, porém ligados
por circunstâncias de fato. Cuida-se de direito e interesse transindividual, de natureza indivisível,
e prerrogativa jurídica de titularidade coletiva.

Assim, cabe ao Poder Público e à coletividade a defesa do meio ambiente ecologicamente


equilibrado, preservando-o para as presentes e para as futuras gerações. Nesse ponto, é importante ressaltar
que o Direito Ambiental se preocupa não apenas com a vida e os direitos das presentes gerações
(solidariedade sincrônica ou intrageracional), mas também tem como encargo garantir os direitos e
preservar o meio ambiente para as futuras gerações (solidariedade diacrônica ou intergeracional).
A mens legis da expressão “bem de uso comum do povo” se relaciona ao fato de que se trata de um
bem transindividual que merece especial atenção. Sua titularidade, conforme visto, é difusa/coletiva.
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é reconhecido pelo STF como direito
fundamental e como intimamente ligado ao direito fundamental à vida e à dignidade da pessoa humana.
O art. 225 cria um dever genérico para o Poder Público e para a coletividade no sentido da defesa e
da preservação do meio ambiente para as presentes e para as futuras gerações (solidariedade sincrônica e
diacrônica). Trata-se de obrigações de fazer e não fazer.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

Esse parágrafo enumera as obrigações para o Estado (Poder Público), no que tange à concretização
de um meio ambiente ecologicamente equilibrado:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das


espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a
serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora
de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que
se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias
que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco
sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade.

Seguem informações adicionais sobre os incisos do §1º do art. 225:


Inciso I — Manejo ecológico é a “intervenção humana sobre o meio ambiente e as espécies animais
e vegetais capaz de assegurar-lhes a sobrevivência e uma utilização capaz de assegurar bem-estar à
sociedade” (Paulo de Bessa Antunes). Em outras palavras, são técnicas utilizadas pelos homens na relação

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

com o meio ambiente que busquem minimizar a agressão/invasão, de forma a priorizar a manutenção da
integridade dos ecossistemas.
Atenção: preservar é diferente de restaurar, que têm significados distintos de conservar. Nos termos
da Lei n.º 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), preservação está ligada a um
conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem à proteção, a longo prazo, das espécies, habitats,
ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas
naturais.
Já a restauração é a restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais
próximo possível de sua condição original. Por fim, a conservação relaciona-se ao manejo do uso humano da
natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e
recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às
atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras,
garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral.
Inciso II — Patrimônio genético é a “informação de origem genética de espécies vegetais, animais,
microbianas ou espécies de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes seres
vivos” (Lei n.º 13.123/2015). Em outras palavras, é a informação genética do conjunto de seres vivos que
habitam o planeta. Essas informações são essenciais para a manutenção de um ecossistema equilibrado.
O termo “biopirataria” surgiu no âmbito da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), criada
durante a Eco-92. Cuida-se da exploração ou apropriação ilegal de recursos da fauna, da flora e do
conhecimento das comunidades tradicionais. Um caso emblemático de biopirataria envolvendo o nosso país
foi o patenteamento do açaí por uma empresa japonesa. No entanto, devido à pressão de ONGs e da mídia,
ele foi caçado pelo governo japonês. Outro caso ocorreu com o veneno da jararaca, cujo princípio ativo foi
descoberto por um brasileiro, mas registrado por uma empresa americana que, posteriormente, patenteou
a produção de um medicamento contra hipertensão.
Inciso III – Espaços territoriais especialmente protegidos podem ser criados por decreto ou lei. Sua
alteração ou supressão, no entanto, exigem a edição de lei específica. Trata-se de uma exceção ao princípio
da simetria (pelo qual a extinção de um instituto se dá pelo mesmo instrumento que o criou). Essa
determinação busca facilitar a criação de espaços que visem à proteção do meio ambiente e, ao mesmo
tempo, dificultar sua extinção ou retração.
O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que uma Medida Provisória, ainda que seja
convertida em lei, não pode alterar (no sentido de diminuir ou suprimir) espaços territoriais especialmente
protegidos que, no caso, eram unidades de conservação. Veja o importante julgado:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA N. 558/2012.


CONVERSÃO NA LEI N. 12.678/2012. INÉPCIA DA INICIAL E PREJUÍZO DA AÇÃO QUANTO AOS
ARTS. 6º E 11 DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 558/2012 E AO ART. 20 DA LEI N. 12.678/2012.
POSSIBILIDADE DE EXAME DOS REQUISITOS CONSTITUCIONAIS PARA O EXERCÍCIO DA
COMPETÊNCIA EXTRAORDINÁRIA NORMATIVA DO CHEFE DO EXECUTIVO. AUSÊNCIA DOS
PRESSUPOSTOS DE RELEVÂNCIA E URGÊNCIA. ALTERAÇÃO DA ÁREA DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO POR MEDIDA PROVISÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. CONFIGURADA OFENSA AO
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIOAMBIENTAL. AÇÃO PARCIALMENTE
CONHECIDA E, NESSA PARTE, JULGADA PROCEDENTE, SEM PRONÚNCIA DE NULIDADE. 1.
Este Supremo Tribunal manifestou-se pela possibilidade e análise dos requisitos
constitucionais para a edição de medida provisória após a sua conversão em lei. 2. A
jurisprudência deste Supremo Tribunal admite, em caráter excepcional, a declaração de
inconstitucionalidade de medida provisória quando se comprove abuso da competência
normativa do Chefe do Executivo, pela ausência dos requisitos constitucionais de relevância
e urgência. Na espécie, na exposição de motivos da medida provisória não se demonstrou,
de forma suficiente, os requisitos constitucionais de urgência do caso. 3. As medidas
provisórias não podem veicular norma que altere espaços territoriais especialmente
protegidos, sob pena de ofensa ao art. 225, inc. III, da Constituição da República. 4. As

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

alterações promovidas pela Lei n. 12.678/2012 importaram diminuição da proteção dos


ecossistemas abrangidos pelas unidades de conservação por ela atingidas, acarretando
ofensa ao princípio da proibição de retrocesso socioambiental, pois atingiram o núcleo
essencial do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado previsto
no art. 225 da Constituição da República. 5. Ação direta de inconstitucionalidade
parcialmente conhecida e, nessa parte, julgada procedente, sem pronúncia de nulidade.
[ADI n.º 4.717/DF, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe de 14/2/19]

Inciso IV – Estudo Prévio de Impacto Ambiental – EPIA é uma forma de Avaliação de Impacto
Ambiental (AIA), instrumento previsto na Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal n.º 6.938/81).
Trata-se de um estudo elaborado por uma equipe multidisciplinar, ou seja, por profissionais técnicos de
diversas áreas, com o objetivo de avaliar os impactos que certas atividades ou obras causarão no meio
ambiente. A depender dos resultados, o Poder Público poderá autorizar ou não a instalação da
atividade/empreendimento.
Em respeito ao princípio da informação, ao EPIA deverá ser conferida ampla publicidade, ressalvado
o sigilo industrial.
Atenção: a CF não menciona a elaboração de licenciamento ambiental, apenas a elaboração de
estudo prévio de impacto ambiental.
Nesse sentido, o STF entendeu que é inconstitucional a norma estadual ou municipal que dispensa a
realização de EPIA em situações de relevante impacto ambiental – ADI n.º 1.086/SC.
Inciso V – Trata-se do exercício do poder de polícia estatal, utilizado para fiscalizar e orientar os
particulares quanto aos limites da utilização do meio ambiente.
Inciso VI – A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n.º 9.795/99) cuida dos processos por meio
dos quais será efetivada a educação ambiental. Em regra, a educação ambiental como disciplina nos
currículos de ensino não é permitida como disciplina apartada. No entanto, a norma permite que em cursos
de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental seja
elencada como disciplina específica e separada das demais.
Inciso VII – Demonstra a preocupação que o legislador tem com a preservação de animais e plantas,
na medida em que proíbe práticas que coloquem em risco a perpetuação das espécies. Nesse sentido, vale
destacar que existem várias normas infraconstitucionais que cuidam dessa temática, como o Código Florestal
– Lei n.º 12.651/12, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC – Lei n.º 9.985/00, a Lei de
Crimes Ambientais – Lei n.º 9.605/98, Lei n.º 11.794/08 – estabelece procedimentos para o uso científico de
animais, Lei n.º 5.197/67 – proteção da fauna.
Com fundamento nesse inciso, o Supremo Tribunal Federal entendeu serem inconstitucionais as
práticas como “farra do boi”, “briga de galo” e “vaquejada”. A Corte entendeu que diante da colisão entre o
direito à manifestação cultural e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, este último
prevaleceria. O Tribunal entendeu que as práticas configuram violência e crueldade intrínsecas em face dos
animais, de forma que afrontam dispositivos constitucionais, em especial o inciso VII do § 1º do art. 225 da
CF. No entanto, em 2017, o Congresso Nacional aprovou e promulgou a Emenda Constitucional n.º 96/2017,
que acrescentou o § 7º ao artigo 225. Esse dispositivo determinou que práticas desportivas que utilizem
animais (como as que foram mencionadas) não são consideradas cruéis, desde que sejam manifestações
culturais registradas. Dessa forma, o rodeio e a vaquejada, que tinham sido erigidos à condição de
manifestações culturais por meio da edição da Lei n.º 13.364/2016, não mais se configurariam como cruéis
e, portanto, seriam consideradas constitucionais.
Esse fenômeno é chamado de Efeito Backlash. Em inglês, backlash significa um “sentimento forte
entre um grupo de pessoas em reação a uma mudança ou a um evento recente na sociedade ou na política”.
Entendemos o termo como uma forma de reação a uma decisão judicial marcada por forte teor político. No
caso, o Poder Legislativo reagiu à decisão do STF, que julgou inconstitucional a prática da vaquejada.

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

Em outra situação, o STF concluiu pela constitucionalidade de lei estadual que permite o sacrifício de
animais em cultos praticados por religiões de matriz africana. Por maioria, a Corte fixou a seguinte tese: "É
constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício
ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana" (RE 494.601).
Recentemente, o STF decidiu proibir o abate de animais silvestres ou domésticos apreendidos em
situações de maus tratos. Isso porque a Corte entendeu que o estabelecimento do abate como regra violaria
o art. 225, § 1º, VII, da Constituição Federal. Dessa forma, a interpretação da legislação federal como
proposta pelos órgãos administrativos e adotada pelas autoridades judiciais, possibilitando a prática, iria de
encontro aos princípios constitucionais ambientais (ADPF 640).

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na
forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-
Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da
lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto
ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei
federal, sem o que não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram
cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações
culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de
natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser
regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.

Por fim, salientamos informações relacionadas aos sobreditos parágrafos do art. 225:
• § 2º — Concretização dos princípios do poluidor-pagador, da reparação e da responsabilidade.
O minerador assumirá todas as consequências derivadas de eventual dano ambiental
decorrente de suas atividades. Isso porque se trata de uma atividade com alto potencial de
impactos ao meio ambiente.
• § 3º — Trata da tríplice responsabilização do poluidor, em decorrência de danos ambientais.
Dessa forma, poderá ser responsabilizado nas esferas penal, administrativa e civil.
• § 4º — Esse dispositivo busca conferir tutela especial aos biomas brasileiros, em virtude de suas
respectivas fragilidades (no entanto, o legislador se omitiu quanto ao Cerrado, à Caatinga e aos
Pampas Gaúchos).

O termo “patrimônio nacional” tem como escopo apenas conferir valor e importância aos biomas
elencados. O Supremo Tribunal Federal já assentou que essa expressão não designa se tratar de bens da
União. É importante destacar que há bens particulares inseridos dentro dos referidos biomas. O dispositivo
constitucional não transformou esses bens particulares em bens públicos. O que ocorre é a submissão dos
proprietários a regras especiais de utilização, com a finalidade de preservação do meio ambiente e de
manutenção de sua integridade.

• § 5º — São consideradas terras devolutas todas aquelas existentes no território brasileiro que
não foram legitimamente incorporadas ao domínio particular. Também são aquelas
incorporadas ao patrimônio público, mas sem afetação. Integram os bens dominicais.

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

Lembre-se das lições aprendidas em Direito Administrativo: os bens dominicais que não estejam
afetados a uma finalidade pública específica são alienáveis (disponíveis). Porém, essa regra não se aplica ao
direito ambiental!
O § 5º do art. 225 criou uma exceção à regra administrativista: as terras devolutas necessárias à
proteção do meio ambiente, em que pese serem bens dominicais, são indisponíveis. Em outras palavras,
essas terras devolutas (destinadas à proteção da natureza) são consideradas bens de uso especial, pois a
própria Constituição lhes conferiu uma destinação específica: proteção do meio ambiente.
As terras arrecadadas pelos Estados são as terras que, um dia, já foram devolutas, mas que
posteriormente foram agregadas ao patrimônio público.

• § 6º — A definição, por lei federal, da localização de usinas nucleares não desobriga o Poder
Público Federal da realização de licenciamento ambiental específico, bem como a elaboração de
Estudo Prévio de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório (EPIA/RIMA).

Recursos minerais são bens da União. Competência legislativa sobre atividades nucleares é privativa
da União. A atividade nuclear, por sua vez, também é monopólio da União. Desse modo, verifica-se que todas
as atividades nucleares, em território brasileiro, estão centralizadas nas mãos da União.

• § 7º — Falamos da inserção desse dispositivo anteriormente. Ele foi incluído ao texto


constitucional após a decisão do STF que considerou inconstitucional a prática da vaquejada.
Assim, o Congresso Nacional, por meio da edição da Emenda Constitucional n.º 96/2017,
acrescentou o § 7º ao artigo 225, em clara reação à decisão judicial da Corte Constitucional.

A EC teve como objetivo determinar que as práticas desportivas que utilizam animais não sejam
consideradas cruéis e, portanto, sejam consideradas constitucionais. Para isso, o Congresso Nacional editou
a Lei n.º 13.364/16, por meio da qual se elevou o rodeio e a vaquejada à condição de manifestação cultural
nacional.
Esse fenômeno é chamado de Efeito Backlash. Em inglês, backlash significa um “sentimento forte
entre um grupo de pessoas em reação a uma mudança ou a um evento recente na sociedade ou na política”.
O Efeito Backlash nada mais é do que a tentativa de superação legislativa da jurisprudência (reversão
jurisprudencial). Cuida-se de manifestação do ativismo congressual.
A EC 96/2017 pode ser considerada inconstitucional? Tudo irá depender da interpretação que será
conferida pelo STF. Existem várias Ações Diretas de Inconstitucionalidade tramitando na Corte que
impugnam o referido dispositivo. No entanto, a Emenda Constitucional somente poderá ser considerada
inconstitucional se afrontar uma das hipóteses do artigo 60 e seus parágrafos (cláusulas pétreas e processo
legislativo). A grande questão está no seguinte questionamento: o inciso VII do § 1º do artigo 225 pode ser
considerado uma garantia individual (cláusula pétrea)?

7. MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL

É aquele constituído por obras do homem, fruto da ação humana. Tem caráter residual, pois será
meio ambiente artificial, desde que não componha o patrimônio cultural.
O principal instrumento relacionado ao meio ambiente artificial é o Estatuto da Cidade (Lei n.º
10.257/2001). Por sua vez, o instrumento básico para que se tenha um adequado meio ambiente artificial é
o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes.

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais
de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de
expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização
em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no
plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado,
subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros
legais.

7.1. Estatuto da Cidade

Regulamentando os arts. 182 e 183 da CF, o Estatuto da Cidade (Lei n.º 10.257/2001): estabelece
normas de ordem pública e interesse social sobre o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, ou
seja, para o cumprimento de sua função social. Nos termos do art. 41 desse diploma normativo:

Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:


I – com mais de vinte mil habitantes;
II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4o do
art. 182 da Constituição Federal;
IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;
V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo
impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.
VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou
hidrológicos correlatos.
§ 1º No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no inciso V do
caput, os recursos técnicos e financeiros para a elaboração do plano diretor estarão
inseridos entre as medidas de compensação adotadas.
§ 2º No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um
plano de transporte urbano integrado, compatível com o plano diretor ou nele inserido.
§ 3º As cidades de que trata o caput deste artigo devem elaborar plano de rotas acessíveis,
compatível com o plano diretor no qual está inserido, que disponha sobre os passeios
públicos a serem implantados ou reformados pelo poder público, com vistas a garantir
acessibilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida a todas as rotas e vias
existentes, inclusive as que concentrem os focos geradores de maior circulação de
pedestres, como os órgãos públicos e os locais de prestação de serviços públicos e privados
de saúde, educação, assistência social, esporte, cultura, correios e telégrafos, bancos, entre
outros, sempre que possível de maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo
de passageiros.

Destaca-se que o art. 40, § 3º do Estatuto dispõe que a lei que instituir o plano diretor deverá ser
revista, pelo menos, a cada dez anos.

7.2. Instrumentos para executar a política urbana

O art. 4º do Estatuto da Cidade elenca diversos e importantes instrumentos para a execução da


Política Urbana firmada, dentre os quais se destacam:

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

• Plano diretor;
• Parcelamento, uso e ocupação do solo;
• Zoneamento ambiental;
• Plano plurianual;
• IPTU;
• Contribuição de melhoria;
• Desapropriação;
• Servidão administrativa;
• Limitações administrativas;
• Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano;
• Instituição de unidades de conservação;
• Referendo popular e plebiscito;
• Estudo prévio de impacto ambiental (EIA);
• Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).

São também instrumentos de execução da política urbana previstos no Estatuto da Cidade:

• Direito de superfície: faculdade que o proprietário tem de conceder a outra pessoa o direito de
utilização do solo, subsolo ou espaço aéreo correspondente àquela propriedade. Registrado por
meio de escritura pública, trata-se de um direito real.
• Direito de preempção (preferência legal ou prelação): é a concessão de preferência ao poder
público municipal, podendo este adquirir o imóvel urbano, objeto de alienação onerosa entre
particulares, se houver previsão legal.
• Outorga onerosa do direito de construir: o Plano Diretor poderá fixar áreas nas quais o direito
de construir poderá ser exercido acima do coeficiente de aproveitamento básico. Por exemplo:
em tese o proprietário poderá construir até o 5º andar, mas, se quiser construir até o 7º, deverá
pagar contrapartida ao poder público municipal.
• Operações urbanas consorciadas: conjunto de intervenções coordenadas pelo poder público
municipal, em que há participação de proprietários, moradores, usuários permanentes ou de
investidores privados. Objetiva alcançar transformações em áreas urbanísticas estruturais.
• Transferência do direito de construir: autorização dada por lei específica para que o
proprietário de um imóvel urbano possa exercer o direito de construir em outro local, ou aliená-
lo mediante escritura pública.

7.3. Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança

Instrumento previsto no Estatuto da Cidade para a execução da política urbana, o EPIV busca analisar
os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade, especialmente quanto à qualidade de vida
da população residente na área e em suas proximidades, para fins de obtenção de licenças ou autorizações
de construção, ampliação ou funcionamento.
O EPIV analisa também questões relativas a adensamento populacional, equipamentos urbanos e
comunitários, uso e ocupação do solo, valorização imobiliária, geração de tráfego e demanda por transporte
público, ventilação e iluminação e, por fim, paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. A propósito,
veja o que dispõe o Estatuto da Cidade sobre esse importante instrumento:

Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em


área urbana que dependerão de EIV para obter as licenças ou autorizações de construção,
ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público municipal.

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

Art. 38. A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de estudo prévio de
impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental.

7.4. IPTU progressivo no tempo

Outro importante instrumento previsto na Constituição Federal, e no Estatuto da Cidade, é o imposto


sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo no tempo. A CF, por meio de seu art. 182,
§ 4º, II, previu a possibilidade de exigência de IPTU progressivo no tempo como instrumento a coibir a não
edificação, subutilização ou não utilização do solo urbano. Anote-se o que dispõe o Estatuto da Cidade sobre
esse instrumento:

Art. 7º Em caso de descumprimento do parcelamento, edificação ou utilização


compulsórios, o Município procederá à aplicação do IPTU progressivo no tempo, mediante
a majoração da alíquota pelo prazo de 5 anos consecutivos.
§1º O valor da alíquota a ser aplicado a cada ano será fixado na lei específica e não excederá
a 2 vezes o valor referente ao ano anterior, respeitada a alíquota máxima de 15%.
§2º Caso a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar não esteja atendida em 5 anos, o
Município manterá a cobrança pela alíquota máxima, até que se cumpra a referida
obrigação, garantida a prerrogativa de desapropriação sanção.
§3º É vedada a concessão de isenções ou de anistia relativas à tributação progressiva no
tempo.

7.5. Usucapião coletiva

Prevista na Constituição Federal, por meio do art. 183, a usucapião especial urbana exige, para a
aquisição do domínio da propriedade, a posse ininterrupta e sem oposição, de área urbana de até 250m²,
por cinco anos, utilizada para moradia, desde que o interessado não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural.

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural.

O Estatuto da Cidade, por sua vez, criou a chamada usucapião especial coletiva de imóvel urbano,
mediante a qual se instala um condomínio especial e indivisível entre os interessados:

Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja
área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a 250 metros quadrados por
possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores
não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua
posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
§ 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante
sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis.
§ 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor,
independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo
escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.
§ 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo
deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de
execução de urbanização posterior à constituição do condomínio.
§ 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por
maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes
ou ausentes.

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8. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

Como visto, o meio ambiente laboral ou do trabalho é o ambiente em que o humano trabalha.
Materializa-se nas condições que buscam tutelar o exercício digno e seguro das atividades laborais, como
EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). É importante salientar que essa espécie de meio ambiente
possui previsão constitucional explícita:

Art. 200 da CF/88. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei:
[...]
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

9. JURISPRUDÊNCIA

9.1. STF

1. É inconstitucional lei estadual que dispensa a obtenção de licença prévia, de


instalação e de operação no processo de licenciamento ambiental

O STF entendeu ser formal e materialmente inconstitucional lei estadual que criou a figura da licença
ambiental única – LA ou LAU e dispensou a necessidade de obtenção de licença prévia, de instalação e de
operação criadas por resolução do Conama. Concluiu pela ofensa à competência da União para editar normas
gerais sobre proteção do meio ambiente, desobediência ao princípio da prevenção e do dever de proteção
do meio ambiente ecologicamente equilibrado. (STF, ADI 5.475)

2. É constitucional lei municipal que proíbe o uso de fogos de artifício ruidosos

Não há que se falar em usurpação de competência legislativa da União, pois a lei municipal buscou
implementar medida de proteção à saúde e ao meio ambiente, temas os quais integram, respectivamente,
o conceito de interesse local (art. 30, I, da CF) e a competência legislativa suplementar municipal (art. 30, II,
da CF). Ademais, integram a competência material comum dos entes federativos (art. 23, II e VI, da CF). (STF,
ADPF 567)

3. Não é permitido o abate de animais apreendidos em situação de maus-tratos

A Corte entendeu pela inconstitucionalidade da interpretação da legislação federal que possibilite o


abate imediato de animais apreendidos em situações de maus-tratos. Dessa forma, a interpretação conjunta
do art. 225, § 1º, VII, da CF e do art. 25, § 1º, da Lei n.º 9.605/98, leva à conclusão de que os órgãos
responsáveis pelas apreensões de animais nessas situações deverão zelar pela manutenção dos animais em
condições adequadas de acondicionamento e transporte, garantindo-se seu bem-estar físico. (STF, ADPF 640
– Informativo 1.030)

4. É inconstitucional lei estadual que institua dispensa e licenciamento simplificado


ambiental para atividades de lavra a céu aberto

É inconstitucional norma estadual que estabelece hipóteses de dispensa e simplificação do


licenciamento ambiental para atividades de lavra a céu aberto por invadir a competência legislativa da União
para editar normas gerais sobre proteção do meio ambiente, nos termos previstos no art. 24, §§ 1º e 2º, da
Constituição Federal.

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Vale ressaltar também que o estabelecimento de procedimento de licenciamento ambiental estadual


que torne menos eficiente a proteção do meio ambiente equilibrado quanto às atividades de mineração
afronta o caput do art. 225 da Constituição por inobservar o princípio da prevenção. (STF, ADI 6650 –
Informativo 1.014)

5. A possibilidade de complementação da legislação federal para o atendimento de


interesse regional não permite que Estado-Membro simplifique o licenciamento
ambiental para atividades de lavra garimpeira

É inconstitucional a legislação estadual que, flexibilizando exigência legal para o desenvolvimento de


atividade potencialmente poluidora, cria modalidade mais simplificada de licenciamento ambiental.
É inconstitucional lei estadual que regulamenta aspectos da atividade garimpeira, nomeadamente,
ao estabelecer conceitos a ela relacionados, delimitar áreas para seu exercício e autorizar o uso de azougue
(mercúrio) em determinadas condições. (STF, ADI 6672 – Informativo 1.029)

6. Lei estadual não pode impor investimentos em preservação ambiental a


concessionárias de energia

A norma estadual que impõe à concessionária de geração de energia elétrica a promoção de


investimentos, com recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à
preservação de mananciais hídricos, é inconstitucional por configurar intervenção indevida do Estado no
contrato de concessão da exploração do aproveitamento energético dos cursos de água, atividade de
competência da União, conforme art. 21, XII, b, da Constituição Federal. (STF, RE 827.538 – Tema 774)

7. É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para testes de


produtos cosméticos; a lei estadual, contudo, não pode proibir a comercialização
de produtos que tenham sido desenvolvidos a partir de testes em animais.

Não havendo norma federal disciplinadora, é constitucional lei estadual que proíba a utilização de
animais para desenvolvimento, experimento e teste de produtos cosméticos, higiene pessoal, perfumes,
limpeza e seus componentes.
É inconstitucional norma estadual que vede a comercialização de produtos desenvolvidos a partir de
teste em animais, bem como a que determina que conste no rótulo informação acerca da não realização de
testes em animais. (STF, ADI 5995 – Informativo 1.019)

8. É inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e


das atividades com organismos geneticamente modificados (OGMs) à regência da
legislação federal

A competência para legislar sobre atividades que envolvam organismos geneticamente modificados
(OGMs) é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, CF/88). Assim, cabe à União estabelecer normas gerais e aos
Estados-membros suplementá-las (art. 24, §§ 1º e 2º, CF/88).
Portanto, não pode um Estado “renunciar” ao exercício da competência legislativa concorrente,
abrindo mão de sua competência suplementar, ao remeter o regramento de atividades relacionadas a OGMs
à legislação federal específica. (STF, ADI 2.303/RS – Informativo 914)

9. Municípios são competentes para legislar sobre meio ambiente em assuntos de


interesse local

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

O STF entendeu que Municípios têm competência para legislar sobre meio ambiente e controle da
poluição quando se tratar de interesse local. Assim, entendeu constitucional norma municipal que previa a
aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitiam fumaça acima dos padrões
considerados aceitáveis. (STF, RE 194.704/MG – Informativo 870)

10. Inconstitucionalidade de lei estadual que regulamenta a prática da vaquejada

Segundo o STF, lei estadual que regulamente a prática da vaquejada é inconstitucional, porquanto
os animais envolvidos sofrem tratamento cruel, contrariando o art. 225, § 1º, VII da CF/88. A obrigação de o
Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a valorização e a difusão das
manifestações, não prescinde da observância do disposto no inciso VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que veda
práticas que submetam os animais à crueldade. (STF, ADI 4.983/CE – Informativo 842)

11. Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana-de-açúcar

STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para
fins de limpeza e preparo do solo no município. Ponderou-se, de um lado, a proteção do meio ambiente
obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos
trabalhadores que atuam nesse setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos
empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico
e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana
mediante uso de fogo.
Ressaltou-se, ainda, que a legislação federal aponta para a necessidade de se traçar um planejamento
com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e facilitar o corte de
cana, conforme a Lei n.º 12.651/2012 e o Decreto 2.661/1998. (STF, RE 586.224/SP – Informativo 776)

12. Constitucionalidade de lei estadual que permite o sacrifício de animais em cultos


de religiões de matriz africana

O STF entendeu por resguardar a liberdade religiosa, permitindo o sacrifício ritual de animais em
cultos de religiões de matriz africana, sob o argumento de que os animais ali sacrificados são abatidos de
forma rápida, mediante degola, de sorte que sua realização não viola o art. 225, § 1º, VII, que proíbe práticas
cruéis com animais. (STF, RE 494.601/RS – Informativo 935)

13. Constitucionalidade de lei estadual que proíbe a utilização de animais para


desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de higiene
pessoal, perfumes e seus componentes

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos
e testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes.
A proteção da fauna é matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88).
A Lei federal n.º 11.794/2008 possui uma natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais
em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde que sejam observadas algumas condições relacionadas
aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou atenuar o sofrimento dos animais.
Mesmo o que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei estadual, isso não se mostra
inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas mais protetivas ao meio
ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse,
conforme o caso. (STF, ADI 5.996/AM, - Informativo 975)

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

14. Constitucionalidade de legislação estadual que dispõe sobre exposição de


produtos orgânicos nos estabelecimentos comerciais em espaços exclusivos de
modo a privilegiar o direito de informação do consumidor

“Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Lei estadual que dispõe sobre a exposição de produtos
orgânicos em estabelecimentos comerciais. 2. Repartição de competências. 3. Competência privativa da
União para legislar sobre direito comercial versus competência concorrente para legislar sobre direito do
consumidor. 4. Norma estadual que determina exposição de produtos orgânicos de modo a privilegiar o
direito de informação do consumidor. Possibilidade. 5. Inexistência de violação à livre iniciativa. 6. Ação direta
de inconstitucionalidade julgada improcedente.” (STF, ADI 5.166/SP, j. 04.11.2020)

QUESTÕES
1. FCC/TJ-GO/Juiz Substituto/2021. Na gestão da fauna silvestre, compete aos estados
a) exercer, de forma consorciada, o controle ambiental da pesca em âmbito regional.
b) controlar a apanha de espécimes, ovos e larvas destinadas à implantação de criadouros e à pesquisa
científica.
c) elaborar lista de espécies existentes em cada município para fins comerciais.
d) aprovar a liberação de exemplares de espécie exótica em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos.
e) proteger a fauna migratória.

2. FGV/TJ-PR/Juiz Substituto/2021. O Município Beta, em matéria de política pública de desenvolvimento


urbano, deseja adotar medidas que tenham por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Assim, de acordo com o que dispõe a Constituição
da República de 1988, o Município Beta, com base no Estatuto da Cidade e em lei específica para área incluída
em seu plano diretor, pode exigir do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado,
que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
a) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; parcelamento ou
edificação compulsórios; desapropriação sanção, sem direito à prévia indenização;
b) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; parcelamento ou
edificação compulsórios; desapropriação sanção, com direito à ulterior indenização, após processo judicial,
mediante pagamento com títulos da dívida pública municipal;
c) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; parcelamento ou
edificação compulsórios; desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública municipal, com
prazo de resgate de até cinco anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais;
d) parcelamento ou edificação compulsórios; imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressivo no tempo; desapropriação com pagamento mediante sistema de precatório, após o trânsito em
julgado de ação judicial, assegurados o valor real da indenização e os juros legais;
e) parcelamento ou edificação compulsórios; imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressivo no tempo; desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais
e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

3. CESPE/MPE-CE/Promotor de Justiça Substituto/2020. Com relação ao tratamento constitucional dado à


questão ambiental, é correto afirmar que a Constituição Federal de 1988
a) prevê a preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado como dever apenas de parte da
coletividade e obrigação do poder público.
b) confere juridicidade ao valor ético da alteridade, objetivando uma pretensão universal de solidariedade
social, ao tratar das gerações futuras e dos animais como sujeitos de direito.
c) estabelece que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é não só um direito, mas também um dever
de toda a coletividade e do poder público.
d) reconhece o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, um direito fundamental de segunda
geração, segundo a jurisprudência do STF.

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

e) estabelece que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado corresponde ao princípio do


desenvolvimento sustentável, com suas facetas cultural, social e econômica.

4. CESPE/TRF-1ª Região/Juiz Federal/2011.


Em razão do tratamento dispensado ao meio ambiente pelo texto constitucional, depreende-se que é exigido
dos cidadãos, predominantemente, um non facere em relação ao meio ambiente.

5. CESPE/TJ-ES/Juiz Substituto/2011. Com relação ao conceito de meio ambiente e dano ambiental, assinale
a opção correta.
a) Conforme o Protocolo de Cartagena, dano ambiental é o prejuízo causado ao ambiente, que é definido,
segundo o referido acordo, como conjunto dinâmico e interativo que compreende a cultura, a natureza e as
construções humanas.
b) Dano ambiental é todo impacto causado ao ambiente, que é caracterizado como o conjunto de elementos
bióticos e abióticos que interagem e mutuamente influenciam a dinâmica dos sistemas autopoiéticos.
c) Meio ambiente é definido como o conjunto de interações, condições, leis e influências físicas e bioquímicas
que origina e mantém a vida em todas as suas formas, e dano ambiental, como o prejuízo transgeracional,
de acordo com a PNMA.
d) A definição legal de meio ambiente encontra-se no próprio texto constitucional, que se refere ao ambiente
cultural, natural, artificial e do trabalho; o conceito legal de dano ambiental, fundado na teoria do risco,
materializa-se no conceito de ecocídio: sendo o direito ao ambiente ecologicamente equilibrado direito
fundamental do ser humano, as condutas lesivas ao ambiente devem ser consideradas crimes contra a
humanidade.
e) Meio ambiente é definido como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; a definição de dano ambiental
infere-se a partir dos conceitos legais de poluição e degradação.

6. FCC/TJ-MS/Juiz Substituto/2010. Os tratados internacionais sobre matéria ambiental


a) são fontes de direito ambiental interno e, se aprovados pelo Congresso Nacional, sobrepõem-se às leis.
b) são fontes de direito ambiental interno, desde que aprovados pelo Congresso Nacional em dois turnos,
por 3/5 dos membros de cada uma de suas casas.
c) desde o momento em que assinados, são fontes de direito ambiental interno e internacional.
d) apenas serão fonte de direito internacional ambiental se aprovados e ratificados por todos os Estados que
os assinaram.
e) são fontes escritas de direito internacional ambiental, ao lado de outras normas oriundas de organizações
internacionais.

7. VUNESP/PGE-SP/Procurador do Estado/2018. Sobre a evolução da legislação ambiental no Brasil e os seus


marcos históricos, assinale a alternativa correta.
a) A Constituição Federal de 1988 consolidou a proteção ao meio ambiente, porém o regime jurídico de
proteção ambiental foi primeiramente abordado e disciplinado de forma sistemática na Constituição de
1967, mantido pela Emenda Constitucional n° 1/1969, o que deu espaço para edição da Lei n° 6.938/1981.
b) Embora a Lei n° 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública) seja um importante instrumento na proteção de
direitos difusos e coletivos, não foi originalmente editada para tutelar o meio ambiente, tendo sido alterada
somente na década de 1990 para passar a prever, em diversas disposições, a responsabilização por danos
causados ao meio ambiente.
c) Embora a Lei n° 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, tenha inaugurado a
proteção ambiental de forma sistemática e organizada no Brasil, somente com a Constituição Federal de
1988 os Estados e Municípios foram inseridos no sistema de proteção ambiental.
d) Dois marcos da Lei n° 6.938/1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, são a
descentralização administrativa, a partir da noção de um sistema de proteção ambiental, e a mudança no
paradigma de proteção ambiental no Brasil.
e) Até a edição da Constituição Federal de 1988 as normas de proteção ao meio ambiente eram fragmentadas
e esparsas, sendo preocupação central a proteção de recursos naturais sob o viés econômico.

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8. CPCON/UEPB/Advogado/2017. Observe os ensinamentos abaixo e em seguida responda o que se pede.


“Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 as normas de proteção ambiental
são alçadas à categoria de normas constitucionais com a elaboração de capítulo especialmente dedicado à proteção do
meio ambiente, tema que permeia todo o texto constitucional. A constitucionalização do meio ambiente no Brasil
proporcionou um verdadeiro salto qualitativo em relação às normas de proteção ambiental. Os grandes princípios
ambientais são içados ao patamar constitucional, assumindo um posto eminente, ao lado das grandes liberdades
públicas e dos direitos fundamentais. A Carta Magna de 1988 inova, portanto, em relação às Constituições anteriores,
que apenas abordavam os recursos naturais sob o enfoque utilitarista, e nunca protecionista.” (SILVA, ROMEU
FARIATHOMÉ. Manual de Direito Ambiental. Salvador: JUSPODIVM, 2015).
Considerando-se os múltiplos aspectos que balizam o conceito de meio ambiente, nos moldes
preconizados na Constituição Federal de 1988, nas legislações de tutela ambiental e nos apontamentos
doutrinários que disciplinam o assunto, assinale a alternativa CORRETA.
a) Ao fixar as diretrizes regentes da tutela ambiental, a Constituição Federal de 1988 dispõe que a proteção
do meio ambiente, nele compreendido o meio ambiente do trabalho, constitui uma das competências do
Sistema Único de Saúde.
b) Em razão do tratamento dispensado ao meio ambiente pelo texto constitucional, depreende-se que é
exigido dos cidadãos, predominantemente, um non facere em relação ao meio ambiente.
c) O meio ambiente é um bem público, classificado pela Constituição Federal de 1988 como bem de uso
comum do povo. Em razão de tal ordem classificatória, torna-se inadmissível que o seu uso seja oneroso ou
mediante a imposição de qualquer contraprestação pecuniária.
d) A definição normativa de recursos ambientais compreende a fauna e a flora, as águas superficiais e
subterrâneas, mas não se inclui o mar territorial e elementos que constituem a biosfera.
e) Todos os entes federativos permanecem obrigados à proteção do patrimônio artístico, cultural,
documental, das obras e outros bens de valor histórico; no entanto, a competência para legislar sobre estes
temas pertence, privativamente, à União.

COMENTÁRIOS
1. Resposta: letra B.
A letra A está incorreta, pois, nos termos do art. 7º, XXII, da LC 140/2011, são ações administrativas da União,
exercer o controle ambiental da pesca em âmbito nacional ou regional.
A letra B está correta, conforme dispõe o art. 8º da LC 140/2011, que trata das ações administrativas dos
Estados. Veja o registra o inciso XVIII: “controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas
destinadas à implantação de criadouros e à pesquisa científica, ressalvado o disposto no inciso XX do art. 7º”.
A letra C está incorreta, pois inexiste a referida previsão.
A letra D está incorreta. O inciso XVII do art. 7º da LC 140/2011, que trata das ações administrativas da União,
define como competência desse ente federativo “aprovar a liberação de exemplares de espécie exótica da
fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos”.
A letra E está incorreta, porquanto, no mesmo sentido, o art. 7º, XXI, da LC 140/2011, estabelece ser
competência da União “proteger a fauna migratória e as espécies inseridas na relação prevista no inciso XVI”.

2. Respota: Letra E.
O gabarito da questão é a letra E, nos termos do que dispõe o art. 182, §4º, da CF, “É facultado ao Poder
Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal,
do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada
pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais.”
No mesmo sentido, citem-se os arts. 5º, 6º, 7º e 8º do Estatuto da Cidade (Lei n.º 10.257/2001).

3. Resposta: letra C.

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A letra A está incorreta, pois, nos termos do art. 225 da CF/88, “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.” Ou seja, o dever não é apenas da coletividade, mas também do Poder Público.
A letra B está incorreta, uma vez que a CF/88 infelizmente não reconhece os animais como sujeitos de direito,
embora sejam juridicamente protegidos, na medida em que é vedada, na forma da lei específica (Lei de
Crimes Ambientais), “as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade” (art. 225, § 1º, VII, CF/88).
A letra C está correta, nos exatos termos do que dispõe o caput do art. 225 da CF/88.
A letra D está incorreta, porque o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito
fundamental da terceira geração ou dimensão.
A letra E está incorreta, porquanto o desenvolvimento sustentável compreende três faces, entre as quais
não se insere a cultural. São elas: econômica, social e ambiental.

4. Resposta: Errado.
O item está errado, uma vez que não há prevalência de uma obrigação em detrimento das demais. Todos
têm o dever de proteger o meio ambiente, por meio de condutas comissivas (obrigações de fazer) e omissivas
(obrigações de não fazer).

5. Resposta: letra E.
A letra A está incorreta, pois, o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, da Convenção sobre
Diversidade Biológica, promulgado pelo Decreto n.º 5.705/06, não traz as definições de dano ambiental,
tampouco de meio ambiente.
A letra B está incorreta, uma vez que a questão traz o conceito de ecossistema.
A letra C está incorreta, pois não há definição para dano ambiental na PNMA. Ademais, o conceito de meio
ambiente trazido pelo item também está incorreto, nos termos do art. 3º, inciso I, da PNMA.
A letra D está incorreta, porque a definição de meio ambiente não encontra previsão constitucional, mas
apenas infraconstitucional, na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n.º 6.938/81).
A letra E está correta, pois descreve o que foi previsto no art. 3º da PNMA. A propósito:
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio
ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta
ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

6. Resposta: letra E.
A alternativa A está incorreta, pois, de acordo com a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal,
os tratados internacionais que versam sobre direitos humanos (e o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado é uma de suas espécies), se aprovados pelo Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos, são equivalentes às emendas constitucionais. No entanto, os tratados internacionais sobre direitos
humanos incorporados ao ordenamento jurídico anteriores à Emenda Constitucional n.º 45/2004 (que incluiu
o §3º do art. 5º da CF/88), e que não foram submetidos à votação para aprovação por três quintos dos
membros do Poder Legislativo, possuem status de norma supralegal, ou seja, estão acima das leis, mas abaixo

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

da Constituição. Dessa forma, independentemente de aprovação pelo Congresso Nacional, os tratados


internacionais sobre matéria ambiental possuem caráter supralegal.
Lembre-se que os demais tratados possuem natureza jurídica de lei ordinária!
A alternativa B está incorreta, uma vez que, ainda que não sejam aprovados pelo Congresso Nacional, serão
considerados fontes internas de direito ambiental, bem como terão caráter supralegal.
A alternativa C está incorreta, pois os tratados internacionais passam a ser fontes de direito ambiental
interno somente após sua incorporação ao ordenamento jurídico. Deverá ser submetido ao procedimento
de incorporação de tratados internacionais, que envolve o Poder Executivo e o Poder Legislativo.
A alternativa D está incorreta, porquanto não há necessidade de que todos os países ratifiquem os tratados
para que eles se tornem fontes de direito internacional ambiental.
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão. São fontes escritas do direito internacional ambiental
ao lado de outros documentos como: Declaração do Rio, Agenda 21, Convenção sobre Diversidade Biológica,
Declaração de Joanesburgo etc.

7. Resposta: letra D.
A alternativa A está incorreta, pois a primeira Constituição brasileira a abordar a proteção o meio ambiente
de forma sistematizada foi de Carta Cidadã de 1988. Antes disso, a temática ostentava apenas caráter
infraconstitucional.
A alternativa B está incorreta, porque a Lei da Ação Civil Pública (Lei n.º 7.347/85) já previu o meio ambiente
como uma das hipóteses de cabimento da referida ação em seu texto original (art. 1º, inciso I).
A alternativa C está incorreta. Os Estados e Municípios foram inseridos no sistema de proteção ambiental
muito antes da promulgação da Constituição Federal de 1988. Sua inserção se deu com a Política Nacional
do Meio Ambiente (Lei n.º 6.938/81).
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. A Política Nacional do Meio Ambiente é a norma que
inaugura a fase holística da proteção ao meio ambiente no Brasil. No que tange à descentralização
administrativa, por sua vez, a PNMA criou o SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente, que será objeto
da aula relacionada à Lei n.º 6.938/81.
A alternativa E está incorreta. Antes da promulgação da CF/1988 já existiam normas voltadas à preocupação
ambiental sob o viés inaugurado pela Conferência de Estocolmo (1972), no sentido de reconhecer o meio
ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental, bem como de promover o
desenvolvimento aliado à proteção do meio ambiente (conceito de desenvolvimento sustentável).

8. Resposta: letra A.
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do art. 200, inciso VIII, da CF/1988, o meio
ambiente do trabalho está incluído entre as competências do Sistema Único de Saúde – SUS.
A alternativa B está incorreta, pois o direito ao meio ambiente possui caráter bifronte. Assim pode-se afirmar
que se reveste de características prestacionais (facere, non facere e dare) e de defesa. Nesse sentido, não há
que se falar em predominância de nenhum deles.
A alternativa C está incorreta, pois não há qualquer impedimento de que se exija contraprestação pecuniária
pela utilização do meio ambiente. A cobrança pelo uso de recursos naturais é utilizada até mesmo como
forma de conscientização da população quanto ao real valor desses bens, indispensáveis à sobrevivência
humana. A título de exemplo, cito o art. 5º, inciso IV, da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei n.º
9.433/97) que prevê como instrumento a “cobrança pelo uso dos recursos hídricos”.
A alternativa D está incorreta. A exegese do inciso V, do art. 3º, da Política Nacional do Meio Ambiente é
clara: “V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o
mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”. Portanto, estão incluídos tanto
o mar territorial quanto os elementos da biosfera.
A alternativa E está incorreta. Nos termos do artigo 23, inciso III, da CF, “É competência comum da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...] III - proteger os documentos, as obras e outros bens
de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos.” A competência comum está relacionada às competências materiais dos entes federados. No
entanto, veja o que dispõe o art. 24, da CF: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal

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DANIELA ADAMEK DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE • 2

legislar concorrentemente sobre: [...] VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico.”. Ora, considerando que o patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico
abrange “os documentos, obras e outros bens de valor histórico, artístico, cultural e paisagístico” a que alude
o enunciado, então outros entes (Estados e Distrito Federal) podem legislar sobre essa matéria. Sobre
competências legislativas privativas da União, veja o art. 22 da CF.

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DANIELA ADAMEK PRINCÍPIOS AMBIENTAIS • 3

3 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS

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1. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO

O princípio da prevenção pressupõe certeza científica quanto aos impactos negativos causados por
determinada atividade sobre o meio ambiente. Dessa forma, torna-se necessária a adoção de medidas
preventivas a impedir ou mitigar possíveis danos ambientais já que o bem ambiental não permite o retorno
ao status quo. Portanto, o empreendedor deve observar condicionantes para a obtenção de licenciamento
ambiental.

2. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO

O princípio da precaução, segundo a Declaração do Rio (ECO 92 – princípio 15), preceitua que:

Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza


científica não poderá servir de razão para postergar medidas eficazes e economicamente
viáveis para precaver a degradação ambiental.

Verifica-se, pois, que o princípio da precaução se relaciona a circunstâncias em que haja incerteza
científica quanto aos possíveis efeitos das atividades sobre o meio ambiente. Dessa forma, milita em favor
do meio ambiente, revestindo-se da máxima in dubio pro natura.
O princípio da precaução fundamenta a inversão do ônus da prova nas ações ambientais: não é o
Estado que deve provar que o empreendimento é causador potencial de dano ambiental, mas o
empreendedor/poluidor que deve provar que a sua atividade não é perigosa nem poluidora, ou que não
desrespeita as normas ambientais.
Segundo enunciado editado pelo STJ:

O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, competindo a quem


supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a
substância lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva.

3. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O conceito de desenvolvimento sustentável pode ser extraído do Relatório Brundtland (Nosso


Futuro Comum), elaborado pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987.
Nesse sentido, podemos entender o desenvolvimento sustentável como

[...] o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a


capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.

O princípio do desenvolvimento sustentável tem como pilar a harmonização de três aspectos:


crescimento econômico, preservação ambiental e equidade social.

4. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR OU DA RESPONSABILIDADE

Esse princípio determina que o poluidor deve responder pelos custos sociais da poluição ou da
degradação que causa por meio de suas atividades.
O que se busca aqui é a internalização dos prejuízos ambientais. Quem internaliza o lucro, deve
internalizar os prejuízos que causa. Evita-se a privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.
O princípio do poluidor-pagador também tem natureza sancionatória. Assim, a poluição, mesmo que
amparada em licença, não desonera o poluidor de arcar com os danos ambientais que causar.
Por oportuno, destaca-se o seguinte enunciado, retirado da publicação “Jurisprudência em Teses” do
STJ, que trata de matéria ambiental:

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DANIELA ADAMEK PRINCÍPIOS AMBIENTAIS • 3

Não há direito adquirido a poluir ou degradar o meio ambiente, não existindo permissão ao
proprietário ou posseiro para a continuidade de práticas vedadas pelo legislador.

5. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR

Diferentemente do princípio do poluidor-pagador, o princípio do usuário-pagador não tem caráter


sancionatório. Isso porque a utilização de recursos naturais pelos seres humanos deve ser remunerada, ainda
que não haja comercialização. Trata-se, em última instância, de uma forma de conscientização sobre a forma
como utilizamos e enxergamos os recursos naturais, bens de uso comum do povo.

6. PRINCÍPIO DO PROTETOR-RECEBEDOR

O protetor, diferentemente do poluidor, deverá ser beneficiado pelos atos que pratica em prol do
meio ambiente. É a outra face da moeda do princípio do poluidor-pagador. Criam-se benefícios àqueles que
protegem o meio ambiente, a fim de fomentar ou premiar iniciativas de proteção ambiental.
A título de exemplo, citamos a compensação financeira ao proprietário rural que mantém, além da
reserva florestal legal, outra área de proteção de reserva, acima do mínimo fixado pelo Código Florestal.
Também podemos apontar para os créditos subsidiados, redução dos juros cobrados, redução das bases de
cálculo das alíquotas tributárias e isenções tributárias, tais como o IPTU verde.
Vale citar, outrossim, a recente Lei n.º 14.119/2021 que instituiu a Política Nacional de Pagamento
por Serviços Ambientais, ou seja, o pagamento pela execução de atividades que favoreçam a manutenção, a
recuperação ou a melhoria dos serviços ecossistêmicos.

7. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL OU EQUIDADE


INTERGERACIONAL

Esse princípio tem estreita relação com o princípio do desenvolvimento sustentável, pois visa
assegurar que as gerações futuras tenham à sua disposição os recursos ambientais. Também é reconhecido
como solidariedade diacrônica, visto que as presentes gerações devem observar a preservação do meio
ambiente, adotando políticas ambientais que permitam às presentes e às futuras gerações a utilização do
meio ambiente, não podendo utilizar recursos ambientais de forma a privar seus descendentes desses
recursos.
O princípio do desenvolvimento sustentável, portanto, busca a realização do princípio da equidade
geracional e vice-versa.

8. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA

O princípio da participação comunitária visa estimular a participação social nos processos decisórios
ligados ao meio ambiente, na medida em que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito de
todos. Assim, há uma imposição de que a sociedade atue na defesa ambiental, com fundamento também no
princípio democrático.
A participação democrática tem lugar em três esferas, quais sejam: legislativa, por meio de
plebiscitos, referendos e iniciativa popular; administrativa, por meio do direito de informação, direito de
petição e estudo prévio de impacto ambiental (EPIA), por meio de audiências públicas, e processual, por
meio da ação popular e da ação civil pública.

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DANIELA ADAMEK PRINCÍPIOS AMBIENTAIS • 3

9. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

Um dos requisitos da propriedade para cumprir sua função social é o respeito à legislação ambiental,
como o Código Florestal, quando o imóvel for rural, ou o Plano Diretor, quando for urbano. A propósito:

Código Civil. Art. 1.228 (...)


§1º. O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as finalidades
econômicas, sociais e de modo que sejam preservados a fauna, flora, belezas naturais,
equilíbrio ecológico, patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas.

Art. 183 da CF/88. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

Art. 186 da CF/88. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

10. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

O princípio da informação mantém íntima relação com o princípio da participação comunitária, já


que o direito à participação pressupõe o acesso às informações ambientais. O conhecimento se torna
imprescindível ao bom funcionamento das instituições e à formação do convencimento da população, a fim
de participar ativamente das decisões políticas ambientais.

11. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE COMUM, MAS DIFERENCIADA

Esse princípio tem feição internacional, fruto do Protocolo de Kyoto (acordo internacional entre os
países integrantes da ONU, firmado com o objetivo de se reduzir a emissão de gases causadores do efeito
estufa e o consequente aquecimento global).
Todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição, pela busca da sustentabilidade, mas os
países que são os maiores poluidores deverão adotar medidas mais drásticas para fins de preservação
ambiental, pois são os responsáveis pelos maiores danos à biosfera (art. 4º, item I, do Protocolo).

12. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO ECOLÓGICO/EFEITO CLIQUET

Considerando o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito fundamental de 3ª


geração, as garantias de proteção ambiental conquistadas não podem retroagir. Torna-se, portanto,
inadmissível que os níveis de proteção ambiental alcançados sejam diminuídos, exceto em casos excepcionais
nos quais haja profunda alteração das circunstâncias de fato.

13. JURISPRUDÊNCIA

13.1. STF

1. Período de defeso e proibição de retrocesso ambiental

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DANIELA ADAMEK PRINCÍPIOS AMBIENTAIS • 3

O STF entendeu constitucional Decreto Legislativo que susta efeitos de Portaria Interministerial a
qual suspende períodos de defeso da pesca de algumas espécies por prazo determinado. No caso, o ato do
Poder Legislativo restabeleceu os períodos originais de defeso. Na hipótese, o STF concluiu que o ato do
Poder Executivo deixou de observar o princípio da precaução, na medida em que cria risco ao meio ambiente
equilibrado, à fauna, à segurança alimentar da população e à preservação de grupos vulneráveis que se
dedicam à pesca. (STF, ADI 5447).

2. É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio


ambiente sem que ela seja substituída ou atualizada por outra que também
garanta proteção

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da


pessoa humana.
A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao
cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta comprometer a
observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. (STF, ADPF 748
– Informativo 1.000)

3. É possível a edição de medidas provisórias sobre matéria ambiental

O STF entendeu pela possibilidade de edição de medidas provisórias tratando sobre direito
ambiental, desde que veicule normas favoráveis ao meio ambiente. Isso porque a proteção do meio
ambiente é um limite material implícito à edição de MP, ainda que não conste expressamente das limitações
previstas no art. 62, § 1º da CF/88. (STF, ADI 4.717/DF – Informativo 896)

4. Exposição da população a campos eletromagnéticos e princípio da precaução

No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos nocivos da
exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados
por sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros
propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme estabelece a Lei n.º 11.934/2009. (STF, RE
627.189/SP – Informativo 829)

5. Status normativo das Resoluções do Conama e princípio da proibição de


retrocesso ecológico

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da


pessoa humana. A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis
necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta
comprometer a observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais.
(STF, ADPF 747 MC-Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF – Informativo 1000).

QUESTÕES
1. (CESPE/PGE-PB/Procurador do Estado/2021). Considere as seguintes assertivas.
I - A incerteza de conhecimentos científicos, longe de desculpar deveria incitar a mais prudência.
II - A ignorância não pode ser um pretexto para ser imprudente.
III - Na dúvida, opta-se pela solução que proteja imediatamente o ser humano.
As assertivas I, II e III invocam o conteúdo do seguinte princípio geral do direito ambiental:
a) princípio da reparação.

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DANIELA ADAMEK PRINCÍPIOS AMBIENTAIS • 3

b) princípio da informação.
c) princípio do poluidor-pagador.
d) princípio da precaução.
e) princípio da cooperação.

2. (INSTITUTO MAIS/SETEC CAMPINAS/Procurador/2021). A respeito dos princípios do Direito Ambiental,


assinale a alternativa correta.
a) A aplicação do princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, sendo da competência
do suposto agente causador do dano ambiental a comprovação de que não o causou ou de que não é
potencialmente lesiva a substância lançada no ambiente.
b) Na Constituição Federal não há referência ao princípio da obrigatoriedade de atuação (intervenção)
estatal.
c) O princípio do usuário-pagador se configura como uma espécie de sanção, de punição.
d) O princípio da precaução se fundamenta na certeza científica do impacto ambiental que será causado
por uma determinada atividade humana.
3. (CESPE/MPE-AP/Promotor de Justiça Substituto/2021). Assinale a opção que indica o princípio do direito
ambiental segundo o qual os cidadãos têm o direito de participar da elaboração de políticas públicas
ambientais e de obter de órgãos públicos informações referentes à defesa do meio ambiente.
a) princípio da prevenção
b) princípio do equilíbrio
c) princípio da responsabilidade
d) princípio democrático
e) princípio do poluidor pagador.
4. (CESPE/TC-DF/Procurador/2021). A respeito de responsabilidade ambiental, de áreas de preservação
permanente e de servidão ambiental, julgue o item a seguir.
Embora seja objetiva a responsabilidade civil do poluidor-pagador por danos ambientais causados pela
exploração de atividade comercial, o dever de indenizar requer a prova do dano e do nexo causal.

5. (IBEG/Prefeitura de Teixeira de Freiras-BA/Procurador do Município/2016). Acerca dos princípios do


Direito Ambiental, analise as proposições e indique a alternativa correta:
I – O Meio Ambiente, bem de uso comum do povo, consistente no equilíbrio ecológico e na higidez do meio
e dos recursos naturais, é bem comum, geral, difuso, indissociável da qualidade dos seus constitutivos, e, por
conseguinte, divisível, disponível e impenhorável.
II – Pelo princípio da prevenção, procura-se evitar que o dano ambiental ocorra, através de mecanismos
extrajudiciais e judiciais. É, portanto, a atuação antecipada para evitar danos, que, em regra, são irreversíveis.
III – O princípio da precaução vai ser aplicado toda vez que houver incerteza científica se determinado ato
possa prejudicar os bens ambientais ou o ser humano.
IV – O conceito normativo de meio ambiente abrange o conjunto de condições, leis, influências e interações
de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas suas formas, não incluindo
o patrimônio edificado.
a) apenas as assertivas I e III são verdadeiras.
b) apenas as assertivas I, II e IV são verdadeiras.
c) apenas as assertivas II e III são verdadeiras.
d) apenas as assertivas III e IV são verdadeiras.
e) todas as assertivas são verdadeiras.
6. (CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-CE/2020). Ao avaliar um pedido de autorização do uso de
determinado agrotóxico, o órgão ambiental competente, pautado em estudos científicos, autorizou o uso do
produto. Para decidir, considerou que, no atual estágio do conhecimento científico, inexiste comprovação de
efeitos nocivos à saúde humana decorrentes da exposição ao referido agrotóxico, conforme parâmetros
propostos pela Organização Mundial de Saúde.

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Considerando-se que, nessa situação hipotética, o risco de exposição ao agrotóxico possa ser mensurado, é
correto afirmar, com base na jurisprudência do STF, que a decisão do órgão ambiental está pautada no
princípio
da precaução.
da prevenção.
do limite.
da equidade.
do usuário-pagador.

7. IESES/Prefeitura de São José-SC/Procurador Municipal/2019


É correto afirmar:
a) No Direito Ambiental, é aplicável somente o princípio da precaução, não o da prevenção.
b) O princípio da função social da propriedade somente se aplica aos imóveis rurais, não aos imóveis
situados nas cidades.
c) A responsabilidade ambiental é tríplice, ou seja, uma única conduta pode ser alvo de ação de reparação
na esfera cível e sancionamento nas esferas administrativa e criminal.
d) O princípio do poluidor pagador significa que é possível a alguém pagar para poluir.
8. (VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRO/2019). Determinada indústria química elimina seus rejeitos no
rio que abastece uma cidade, alterando as características do meio ambiente e prejudicando a segurança e o
bem-estar da população. Nesse caso, o princípio ambiental que visa à internalização das externalidades
ambientais negativas e busca impedir a socialização dos custos ambientais é o princípio

a) do poluidor-pagador.
b) da participação social.
c) da ubiquidade.
d) da precaução.
e) do usuário-pagador.

9. (FCC/Promotor de Justiça Substituto/MPE-MT/2019). No Direito Ambiental, o dever de recompor o meio


ambiente lesado ou de indenizar pelos danos causados refere-se ao princípio

a) do poluidor-pagador.
b) do desenvolvimento sustentável.
c) do equilíbrio.
d) do limite.
e) da prevenção.

COMENTÁRIOS
1. Resposta: letra D.
O princípio da precaução é a prudência ou cautela na atuação em situações em que ainda não se conheça as
consequências para o meio ambiente e para a saúde humana. Tem lugar especialmente diante de incertezas
científicas. Nesse sentido, o gabarito da questão é a letra D.

2. Comentários
A letra A está correta e é o gabarito da questão. Com efeito, a possibilidade de inversão do ônus da prova
em demandas ambientais é amparada justamente pelo princípio da precaução. Nesses casos, caberá ao réu
(suposto poluidor) a obrigação de provar que a sua atividade não é perigosa nem poluidora.
A letra B está incorreta, uma vez que o princípio da obrigatoriedade de atuação (intervenção) estatal tem
amparado no art. 225, caput, da CF. A propósito: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se

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ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Nesse sentido, o § 1º do art. 225 elenca situações em que o Poder Público deverá atuar para assegurar a
efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
A letra C está incorreta, pois o princípio do usuário-pagador não tem caráter sancionatório, diferentemente
do princípio do poluidor-pagador. Isso porque a utilização de recursos naturais pelos usuários deverá ser
remunerada até mesmo como forma de conscientização e racionalização.
A letra D está incorreta, pois trata, em verdade, do princípio da prevenção, situações em que existe uma base
científica sobre os impactos ambientais negativos de determinada atividade.

3. Conforme ensina Romeu Thomé, o princípio democrático “decorre do direito de todos ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e do regime jurídico do ambiente como bem de uso comum do povo, impondo a
toda a sociedade o dever de atuar na sua defesa”. Assim, atribui-se aos cidadãos o direito à informação e à
participação na formulação de políticas públicas, por meio de audiências públicas, ação popular, ação civil
pública, órgãos colegiados etc. Portanto, o gabarito da questão é a letra D.

4. O item está correto, conforme decidiu o STJ, no REsp 1.374.284/MG, Tema n.º 707, “a) a responsabilidade
por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator
aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa
responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de
indenizar”. A demonstração do dano e do nexo de causalidade é pressuposto da responsabilidade civil,
qualquer que seja a teoria adotada. Nesse sentido, é farta a jurisprudência da Corte: 4. Em que pese a
responsabilidade por dano ambiental seja objetiva (e lastreada pela teoria do risco integral), faz-se
imprescindível, para a configuração do dever de indenizar, a demonstração da existência de nexo de
causalidade apto a vincular o resultado lesivo efetivamente verificado ao comportamento (comissivo ou
omissivo) daquele a quem se repute a condição de agente causador. (STJ, REsp 1596081/PR, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/10/2017, DJe 22/11/2017)
5. A assertiva I é falsa, pois o meio ambiente é um bem indivisível e indisponível. Podem-se citar, também,
outras características do meio ambiente apontadas pela doutrina majoritária:
• Bem de uso comum do povo;
• Transindividual;
• Difuso;
• Indivisível;
• Indisponível;
• Irrenunciável;
• Inalienável;
• Impenhorável;
• Essencial à qualidade de vida humana;
• Sem valor pecuniário.

A alternativa II é verdadeira. O princípio da prevenção está intrinsecamente ligado à necessidade de


proteção do meio ambiente. Dessa forma, busca-se o estabelecimento de medidas para prevenir e evitar os
danos ambientais, seja na esfera extrajudicial, seja na judicial.
A alternativa III é verdadeira. O princípio da precaução está ligado à ideia de incerteza científica. Aplica-se
quando a insuficiência de informações possa causar algum dano ambiental.
A alternativa IV é falsa. A noção de meio ambiente abrange quatro diferentes esferas: natural, artificial,
cultural e do trabalho. Dessa forma, temos que o patrimônio edificado está abrangido pela noção de meio
ambiente artificial ou cultural (quando fizer parte do patrimônio cultural).
Portanto, a resposta correta é a alternativa C.

6. Considerando que o risco de exposição pode ser mensurado, como consigna o enunciado da questão,
estamos diante do princípio da prevenção. O princípio da precaução aplica-se ao risco desconhecido, o que,
nos termos do exercício, não é o caso. Portanto, a alternativa correta é a letra B.

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DANIELA ADAMEK PRINCÍPIOS AMBIENTAIS • 3

7. Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o princípio da prevenção, como visto neste capítulo, trata-se de princípio
aplicável ao Direito Ambiental.
A alternativa B está incorreta, pois a função social da propriedade, nos termos do art. 5º, XXIII, da CF, é
aplicável tanto à propriedade rural, como a urbana. A propósito, anote-se o conteúdo do art. 182, § 2º, da
CF: § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão, nos termos do que dispõe o § 3º do art. 225 da CF.
A alternativa D está incorreta, pois o princípio do poluidor-pagador não pode ser interpretado como uma
autorização à degradação do meio ambiente, mas sim que, aquele que causar danos ao ambiente, deverá
repará-lo, internalizando os custos de sua conduta.

8. De acordo com princípio do poluidor-pagador, o poluidor deve responder pelos custos sociais da poluição
ou da degradação que causa através de suas atividades. O que se busca é a internalização dos prejuízos
ambientais. Portanto, a resposta correta está no item A.

9. O princípio do poluidor-pagador não pode ser interpretado como uma autorização à degradação do meio
ambiente, mas sim que, aquele que causar danos ao ambiente, deverá repará-lo, internalizando os custos de
sua conduta. Portanto, a alternativa correta é a letra A.

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POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO


4
MEIO AMBIENTE

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A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) foi instituída por meio da Lei n.º 6.938/81 e é uma
norma geral de direito ambiental recepcionada pela Constituição Federal de 1988. Essa política estabelece
princípios, objetivos e instrumentos para a implementação da preservação ambiental do país, bem como
institui o Sistema Nacional do Meio Ambiente.
Veja-se que a mais relevante norma infraconstitucional ambiental completou, neste ano de 2021, 40
anos de vigência. Mais do que recepcionada pela Constituição Federal de 1988, ela foi grande fonte de
inspiração do texto constitucional em vigor, uma vez que traçou as diretrizes políticas ambientais nacionais
e afirmou o Direito Ambiental no plano nacional.

1. PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

O objetivo geral da PNMA se cinge à recuperação, à preservação e à melhoria da qualidade


ambiental, conforme preceitua seu art. 2º, o qual também estabelece os princípios da referida norma:

Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições
ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção
da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio
ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido,
tendo em vista o uso coletivo;
II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a
proteção dos recursos ambientais;
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

A PNMA elenca, outrossim, objetivos específicos a serem perseguidos na formulação das políticas
ambientais brasileiras, vide art. 4º:

Art. 4º. A Política Nacional do Meio Ambiente visará:


I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da
qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao
equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios;
III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas
relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso
racional de recursos ambientais;
V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e
informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional
e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico
propício à vida;
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os
danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com
fins econômicos.

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2. INSTRUMENTOS DE EXECUÇÃO DA PNMA

A PNMA também criou instrumentos hábeis a contribuir com a efetivação dos princípios e objetivos
por ela estabelecidos, bem como auxiliar na promoção da proteção do meio ambiente. São eles:

Art. 9º. São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:


I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;
IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de
tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;
VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e as de
relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal;
VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal,
estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse
ecológico e reservas extrativistas;
VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;
IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.
X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Ibama;
XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o
Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras
dos recursos ambientais;
XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro
ambiental e outros.

2.1. Zoneamento ambiental

Trata-se de um instrumento da PNMA e de exploração de determinado território, também


denominado “Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE)”, por meio do qual o Estado intervém no território,
dividindo-o em zonas, de acordo com o interesse de preservação ambiental.
O zoneamento ambiental tem por objetivo possibilitar o uso sustentável dos recursos ambientais,
mediante a harmonização entre o desenvolvimento econômico e a manutenção da qualidade ambiental.
No zoneamento ambiental, que deve ser aprovado mediante lei, são estabelecidos padrões de
proteção ambiental, os quais variam em cada zona em que é feita a divisão do território, segundo a
necessidade de preservação.
A divisão deve se dar da seguinte forma:

• Zona de uso estritamente industrial: atividade industrial.


• Zona de uso predominantemente industrial: atividade industrial e outras atividades não
industriais, mas sem causar prejuízo à população no tocante ao meio ambiente.
• Zona de uso diversificado: poderá haver indústrias, comércios, moradia, dentre outras
atividades.
• Zona de reserva ambiental: em razão de características culturais, paisagísticas, de proteção de
mananciais etc., ficará vedada a localização de estabelecimentos industriais.

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2.2. Avaliação de impactos ambientais

Para serem exercidas, as atividades que causem potencial impacto ambiental devem se submeter à
prévia avaliação de impactos ambientais (AIA). Cuida-se de uma avaliação prévia, cujos resultados
subsidiarão a tomada de decisões dos órgãos responsáveis pela emissão de licenças e autorizações.
Lembre-se que “avaliação de impactos ambientais” é gênero do qual derivam diversas espécies,
como Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA), planos de manejo, relatórios ambientais, plano de
recuperação de área degradada (PRAD), etc.

2.3. Instrumentos econômicos

Ante a dificuldade de implementação e de execução de fiscalização e de controle de atividades


potencialmente poluidoras, torna-se necessária a criação de instrumentos complementares que incentivem
a adoção de atitudes e gestões ecológicas. Surgem, então, os instrumentos econômicos voltados à proteção
e à preservação do meio ambiente.
Inicialmente, frisamos que o rol positivado pela PNMA é meramente exemplificativo, podendo haver
outros, como a instituição de tributos que favoreçam a proteção ambiental, prazo prolongado para pagar
créditos, concessão de créditos com juros baixos etc.

2.3.1. Concessão florestal

A ideia da concessão florestal é basicamente a mesma da concessão administrativa. Trata-se de


contrato oneroso de concessão, precedido de licitação na modalidade concorrência, celebrado por entidade
política com pessoa jurídica, que poderá ser consorciada ou não. O concessionário vencedor do
procedimento licitatório terá direito à exploração sustentável dos recursos ambientais por prazo
determinado.
A Lei n.º 11.284/2006 regulamentou esse instrumento como uma das modalidades de gestão das
florestas públicas, mediante o qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem, mediante
licitação, conceder à pessoa jurídica o direito de manejar, de forma sustentável e mediante pagamento,
florestas de domínio público com vistas à obtenção de produtos e serviços.
Nos termos dessa norma, o prazo para concessão será estabelecido de acordo com o ciclo de colheita
ou exploração, quando tiver como objeto a obtenção de produtos. No entanto, é importante destacar que o
prazo mínimo será de um ciclo, e o máximo de 40 anos. Se a concessão tiver como objeto serviços ambientais,
como turismo florestal, o lapso temporal deverá estar compreendido entre 5 e 20 anos.

2.3.2. Servidão ambiental

A servidão ambiental é uma espécie de servidão administrativa. Trata-se de um direito real sobre
coisa alheia, instituído mediante contrato, firmado perante órgão do SISNAMA, e deve ser registrado em
Cartório de Registro de Imóveis.
O proprietário ou possuidor de um imóvel renuncia, de forma temporária ou permanente, total ou
parcialmente, o uso, a exploração, a supressão de recursos naturais da sua propriedade, por, no mínimo, 15
anos. O regime de proteção da área deverá ser, pelo menos, o mesmo regime de proteção da reserva legal.
É vedada a instituição de servidão ambiental nas Áreas de Proteção Permanente (APP) e nas áreas
de reserva legal, pois nessas áreas já existe a obrigação de proteção.

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2.3.3. Seguro ambiental

O seguro ambiental tem por objetivo facilitar a reparação de eventuais danos ao meio ambiente que
venham a ocorrer com determinado empreendimento ou atividade. Nesse sentido, a Lei da Política Nacional
dos Resíduos Sólidos (Lei n.º 12.305/10) trouxe importante previsão sobre o seguro ambiental. Veja:

Art. 40. No licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades que operem com


resíduos perigosos, o órgão licenciador do SISNAMA pode exigir a contratação de seguro de
responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente ou à saúde pública.

3. COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIAS DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO


AMBIENTE (SISNAMA)

A competência para implementação da PNMA foi atribuída aos órgãos e às entidades que compõem
o SISNAMA, conforme preconizado pela própria PNAM. Assim, o SISNAMA é composto por:

• Órgão superior: Conselho de Governo;


• Órgão consultivo e deliberativo: Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama);
• Órgão central: Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, nos termos da norma.
No entanto, esse órgão foi substituído pelo Ministério do Meio Ambiente;
• Órgãos executores: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
— Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio;
• Órgãos Seccionais: órgãos ou entidades estaduais;
• Órgãos Locais: órgãos ou entidades municipais.

3.1. Conselho de Governo

O Conselho de Governo tem a função de assessorar o presidente da República na formulação da


política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais.
Composto por todos os ministros de Estado e pelo titular do gabinete pessoal do presidente da
República.

3.2. Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama)

O Conselho Nacional do Meio Ambiente é um órgão consultivo e deliberativo. Por conta disso, o
Conama tem poder normativo. Ademais, tem por objetivo assessorar, estudar e propor ao Conselho de
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e recursos naturais e deliberar, no
âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.
As competências do órgão foram elencadas pela PNMA, em seu art. 8º:

Art. 8º Compete ao Conama:


I - estabelecer, mediante proposta do Ibama, normas e critérios para o licenciamento de
atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e
supervisionado pelo Ibama;
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das
possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos
órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações
indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios,
no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas
áreas consideradas patrimônio nacional;
III –(Revogado pela Lei n.º 11.941/2009)

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 4

IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação


de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO);
V - determinar, mediante representação do Ibama, a perda ou restrição de benefícios fiscais
concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de
participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito;
VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por
veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios
competentes;
VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da
qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais,
principalmente os hídricos.

Ressalte-se que a presidência do Conama é ocupada pelo Ministro do Meio Ambiente.


Com efeito, o órgão, nos termos do Decreto n.º 99.274/, é composto por:

Art. 4º O Conama compõe-se de:


I - Plenário;
II - (Revogado pelo Decreto n.º 9.806, de 2019)
III - Comitê de Integração de Políticas Ambientais;
IV - Câmaras Técnicas;
V - Grupos de Trabalho; e
VI - Grupos Assessores.

A participação dos membros do Conama é considerada serviço de natureza relevante e não é


remunerada.
O Plenário do Conama reúne-se, ordinariamente, a cada 3 meses, no Distrito Federal.
Extraordinariamente, será reunido por convocação de seu presidente, por iniciativa própria ou a
requerimento de pelo menos 2/3 de seus membros.

3.3. Ministério do Meio Ambiente

O Ministério do Meio Ambiente é órgão central do SISNAMA, que planeja, coordena, supervisiona e
controla, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio
ambiente.

3.4. Ibama e ICMBio

O Ibama e o ICMBio são órgãos executores do meio ambiente, cuja finalidade é executar e fazer
executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as
respectivas competências.
O Ibama é uma autarquia federal em regime especial, tem poder de polícia ambiental, atua na
esfera federal e, supletivamente, nas esferas estadual e municipal.
Por sua vez, o ICMBio, que também é uma autarquia federal em regime especial, tem por função
atuar na conservação ambiental por meio da gestão de unidades de conservação.

3.5. Órgãos Seccionais

Órgãos Seccionais são os órgãos estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo
controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental.
Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas
supletivas e complementares e estabelecerão padrões relacionados com o meio ambiente, observados os
que forem estabelecidos pelo Conama.

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 4

3.6. Órgãos locais

Órgãos locais são os responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas
jurisdições, dentre os quais se destacam as secretarias municipais do meio ambiente.
Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar
as normas na esfera de suas competências e nas respectivas áreas de jurisdição.

4. JURISPRUDÊNCIA

4.1. STF

1. Cabimento de Ação Direta de Inconstitucionalidade em face de resoluções do


Conama

O STF entendeu que as resoluções do Conama têm função normativa, não se confundindo com a
função regulamentar. Nesse sentido, os atos editados no exercício da competência outorgada ao Conama
pelo art. 8º, I, da Lei n.º 6.938/81 (PNMA), dotados de caráter geral e primário, são passíveis de impugnação
pela via do controle concentrado de constitucionalidade. (STF, ADI 5547).

2. É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio


ambiente sem que ela seja substituída ou atualizada por outra que também
garanta proteção

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da


pessoa humana.
A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao
cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta comprometer a
observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. (STF, ADPF 747-
MC-Ref, Informativo 1.000).

QUESTÕES
1. (FUNDATEC/PGE-RS/Procurador do Estado/2021). Quanto à política nacional do meio ambiente, assinale
a alternativa correta.
a) O licenciamento ambiental é o procedimento administrativo destinado à autorização de quaisquer
empreendimentos, inclusive de atividades potencial ou efetivamente poluidoras.
b) O princípio do poluidor-pagador se destina a que a poluição seja avaliada, quantificada e precificada por
meio de procedimento administrativo, sendo o prévio pagamento condição para liberar o direito de
poluir.
c) As pessoas jurídicas não podem ser processadas criminalmente em razão de delitos ambientais,
respondendo apenas pela indenização civil.
d) O Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental são documentos de caráter não
sigiloso, salvo as restrições legais (propriedade intelectual, sigilo industrial etc.).
e) Em vista das competências comuns estatuídas pela Lei Complementar Federal n.º 140/2011, a União
centraliza as atividades de licenciamento, sendo que Estados e Municípios nelas atuam em cumprimento
ao princípio do federalismo cooperativo.
2. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Um cidadão, por descuido, iniciou um incêndio
em sua propriedade, situada em área rural coberta pelo bioma campos, o que resultou na destruição da
vegetação nativa de outras duas propriedades vizinhas.
A respeito da situação hipotética apresentada e de aspectos legais a ela relacionados, julgue o próximo item.

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 4

A Fundação do Meio Ambiente (FATMA), como órgão central do SISNAMA, poderá multar o cidadão e
embargar a sua propriedade, considerando a falta de autorização para queimadas.

3. (VUNESP/Prefeitura de São José dos Campos-SP/Procurador do Município/2017). Para fins da Política


Nacional do Meio Ambiente, considera-se:
a) Poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente
lancem materiais ou energia em desacordo com os padrões sanitários estabelecidos pela lei da Política
Nacional do Meio Ambiente.
b) Poluidor, a pessoa física ou jurídica de direito privado, responsável diretamente por ato causador de
degradação ambiental que implique perda da biodiversidade.
c) Recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o
solo, excluídos os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
d) Degradação do meio ambiente, a alteração propícia dos componentes do meio ambiente.
e) Meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
4. (TRF-4ª Região/Juiz Federal/2009). Na evolução do direito ambiental brasileiro, invoca-se, observada a
ordem cronológica, os seguintes marcos históricos: a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente; a Declaração
da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo; a Lei da Ação Civil Pública; a Constituição Federal em vigor;
a Declaração da Conferência das Nações Unidas do Rio de Janeiro e a Lei dos Crimes e Infrações
Administrativas Ambientais.

5. (FCC/Juiz de Direito Substituto/TJMS/2020). O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) de determinado


estado da federação foi produzido pela área técnica da Secretaria do Meio Ambiente e por renomados
professores da respectiva universidade estadual, sendo, portanto,
a) inválido, diante da ausência de ampla participação democrática.
b) válido pela qualificada discussão presente na sua elaboração.
c) válido como fundamento para a elaboração de planos diretores municipais.
d) válido como fundamento para compensação de reserva legal.
e) inválido, diante da ausência de participação de uma universidade federal presente no território do
estado.
6. (CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2019). O Conama faz parte do SISNAMA. Considerando-se a
composição do SISNAMA e as suas atribuições, é correto afirmar que o Conama:
a) tem como finalidade deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com
o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.
b) tem a função de assessorar o presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes
governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais.
c) tem a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional
e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente.
d) é órgão federal que detém a responsabilidade de fazer executar a política e as diretrizes governamentais
fixadas para o meio ambiente.
e) é órgão interestadual que detém a responsabilidade de executar programas e projetos e controlar e
fiscalizar atividades capazes de provocar degradação ambiental.
7. (FCC/Promotor de Justiça Substituto/MPE-MT/2019). Segundo prevê o art. 225 da Constituição Federal
“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações”. Nesse caso,
a) degradação ambiental e poluição são expressões que se equivalem.
b) como cabe ao Poder Público o dever de defender o meio ambiente, jamais poderá ser responsabilizado
por sua degradação.

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 4

c) o poluidor será sempre a pessoa física ou jurídica de direito privado, responsável, direta ou
indiretamente, pela degradação ambiental.
d) o poluidor será a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.
e) a poluição será sempre ilícita.
8. (CESPE/Procurador Municipal de Campo Grande - MS/2019). Considerando os aspectos constitucionais
relacionados ao direito ambiental, a Lei n.º 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, a Lei n.º 12.651/2012, que estabelece prescrições acerca do Código Florestal e as resoluções do
Conama, julgue o item a seguir.
São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente o licenciamento, o zoneamento, a instituição de
relatório de qualidade do meio ambiente e a concessão florestal.

9. (CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-RR/2017). O possuidor de um imóvel rural instituiu servidão


ambiental perpétua, gratuitamente, por instrumento particular, limitando o uso de parte da propriedade,
com o objetivo de conservar recursos ambientais existentes. Na situação apresentada, a servidão instituída
consiste em instrumento
a) técnico da PNAMA, mas deveria ter sido instituída pelo prazo determinado de, no mínimo, quinze anos.
b) econômico da PNAMA e não se aplica à área de preservação permanente nem à reserva legal mínima
exigida.
c) técnico da PNAMA, mas deveria ter sido instituída pelo proprietário do imóvel.
d) econômico da PNAMA e não poderia ter sido instituída por instrumento particular.

COMENTÁRIOS
1. Comentários
A letra A está incorreta, na medida em que o licenciamento ambiental não é autorização exigida de quaisquer
empreendimentos. A Resolução Conama n.º 237 estabelece que o licenciamento ambiental será exigido
apenas para as atividades efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma,
possam causar degradação ambiental (art. 1º, I).
A letra B está errada, pois inexiste direito subjetivo de poluir. O princípio do poluidor-pagador preconiza que
os custos decorrentes da prevenção da poluição e do controle do uso dos recursos naturais, assim como os
custos da reparação dos danos ambientais não evitados (“custos da poluição”) sejam suportados
integralmente pelo condutor da atividade econômica potencial ou efetivamente degradadora. Trata-se,
portanto, da exigência de que os custos da poluição sejam internalizados pelo poluidor e não externalizado
para o Estado e para a sociedade.
A letra C está incorreta, já que a Lei de Crimes Ambientais (Lei n.º 9.605/1998), em seu art. 3º, prevê a
possibilidade de responsabilidade penal das pessoas jurídicas em se tratando da prática de crimes
ambientais.
A letra D está correta e é o gabarito da questão. A regra estampada no art. 225, § 1º, IV, é clara no sentido
de que se dará publicidade ao estudo prévio de impacto ambiental. No mesmo sentido, confira-se o art. 11
da Resolução Conama 01/87.
A letra E está incorreta, porquanto a LC 140/2011 buscou descentralizar as competências comuns
ambientais, notadamente a competência para o licenciamento de atividades e empreendimentos que
utilizam recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes de causar degradação
ambiental. O art. 7º, XIV, define as hipóteses em que a competência para o licenciamento ambiental será da
União. Por sua vez, o art. 8º, XIV e XV, elenca as situações em que o licenciamento será conduzido pelos
Estado. E, por fim, o art. 9º, XIII, indica quando a atribuição para licenciar ou autorizar será dos Municípios.

2. Nos termos do art. 6º, III, da PNMA, o órgão central do SISNAMA seria a “Secretaria do Meio Ambiente da
Presidência da República”. Ocorre, contudo, que o órgão foi substituído pelo Ministério do Meio Ambiente,
portanto, atual órgão central do SISNAMA. Nesse sentido, o item está errado. A FATMA é um órgão estadual
de Santa Catarina e, portanto, nos termos do art. 6º, V, da PNMA, trata-se de um órgão seccional.

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 4

3. Veja o que dispõe o artigo 3º da Lei n.º 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente):
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio
ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta
ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Dessa forma, a alternativa correta é a letra E.

4. O item está errado, pois a Declaração da Conferência das Nações Unidas de Estocolmo, de 1972, precede
a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n.º 6.938/81). A Lei da ACP, por sua vez, data de
1985. A CF, de 1988. A Declaração do Rio, de 1992 e, por fim, a Lei de Crimes Ambientais, de 1998.

5. O zoneamento ambiental, ou zoneamento ecológico-econômico, trata-se de um dos instrumentos para a


efetivação da PNMA, conforme prevê seu art. 9º, II, e é regulamentado pelo Decreto n.º 6.938/81. O referido
Decreto, nos artigos 4º e 6º, prevê a participação da sociedade civil na elaboração do referido instrumento.
Portanto, conforme colocado pelo enunciado, o ZEE revela-se inválido, porquanto ausente a participação
democrática. Gabarito é o item A.

6. Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. A PNMA, em seu art. 6º, estabelece que o Conama é
um órgão consultivo e deliberativo, “com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de
Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no
âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida”.
A alternativa B está incorreta. Nos termos do art. 6º, I, a referida competência é do Conselho de Governo,
órgão superior do SISNAMA.
A alternativa C está incorreta. A referida competência é do órgão central do SISNAMA que, conforme art. 6º,
III, da PNMA, é a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República.
A alternativa D está incorreta. Trata-se de competências dos órgãos executores do SISNAMA, quais sejam,
Ibama e Instituto Chico Mendes, conforme art. 6º, IV, da PNMA.
A alternativa E está incorreta e faz alusão aos órgãos seccionais, nos termos do art. 6º, V, da PNMA.

7. O item D está correto nos termos do art. 3º da PNMA:


Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio
ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL E SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE • 4

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;


IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta
ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

8. O item está certo, conforme incisos II, IV, X e XIII do art. 9º da PNMA.

9. Comentários
A alternativa A está incorreta. A servidão não é um instrumento técnico e pode ser vitalícia.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. Nos termos do art. 9º, XIII, da PNMA, a servidão
ambiental é um instrumento econômico. Pode ser temporária (ao menos 15 anos) ou vitalícia e não se aplica
às áreas de preservação permanente e de reserva legal.
A alternativa C está incorreta. Não é um instrumento técnico e pode ser instituída sobre a posse.
A alternativa D está incorreta, pois a servidão pode ser instituída por instrumento particular com registro
em cartório de imóveis.

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PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E


5
ESTUDOS AMBIENTAIS

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1. PODER DE POLÍCIA AMBIENTAL

O poder de polícia ambiental se trata de uma competência administrativa (material), portanto, é


comum entre os entes federativos. Nesse sentido, conforme determinado pelo parágrafo único do art. 23 da
CF/88, surgiu a Lei Complementar n. 140/2011, que regulamenta o exercício dessas competências pelos
Municípios, Estados, Distrito Federal e União.
Em regra, o poder de polícia tem caráter discricionário. Todavia, no âmbito ambiental, a doutrina
afirma que o poder de polícia tem natureza vinculada, visto que o poder público tem o dever de preservar
o meio ambiente.
Com efeito, o licenciamento ambiental é uma das expressões do exercício do poder de polícia, porém
o exercício dessa competência por um ente federativo não impede que outro ente realize a fiscalização do
empreendimento licenciado. Para ilustrar essa situação, podemos citar um caso hipotético em que o
licenciamento ambiental fora concedido por órgão estadual. Nessa situação, poderá o Ibama (órgão federal)
fiscalizar as atividades do empreendimento, sem que haja usurpação da competência do ente estadual:

Lei Complementar n.º 140/2011


Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o
caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar
processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.
[...]
§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da
atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades
efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação
ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

2. LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O licenciamento ambiental é um dos instrumentos da PNMA e uma forma de manifestação do poder


de polícia ambiental.

Art. 10 da Lei 6.938/81 (PNMA). A construção, instalação, ampliação e funcionamento de


estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental dependerão de PRÉVIO licenciamento ambiental (grifo nosso).

2.1. Natureza jurídica do licenciamento

Nos termos da LC 140/2011, o licenciamento ambiental pode ser conceituado da seguinte maneira:

Art. 2º, I, da LC 140: Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:


I - licenciamento ambiental: procedimento administrativo destinado a licenciar atividades
ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental.

Trata-se, portanto, de um procedimento administrativo que, como tal, deve cumprir um conjunto de
formalidades e etapas definidas nas normas ambientais, notadamente na Resolução n.º 237/1997 do
Conama. Ao fim do procedimento, a Administração expedirá a licença ambiental, ato administrativo pelo
qual se definem as condições, as restrições e as medidas de controle ambiental a serem observadas pelo
interessado.

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

2.1.1. Competência (LC 140/11)

Existem dois principais critérios para definir a competência material para promover o licenciamento:

Critério da extensão do dano/impacto ambiental

Segundo esse critério, a competência para a promoção do licenciamento será municipal, nas
hipóteses em que o impacto não ultrapasse as fronteiras municipais. Caso ultrapasse, a competência será
estadual, nos casos em que o impacto não se estenda para além das fronteiras estaduais. Por fim, a
competência será do Ibama quando o impacto for regional ou nacional.
Segundo a Resolução n.º 001/1986 do Conama, impacto ambiental é:

Artigo 1º Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração
das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer
forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.

Critério da dominialidade do bem público afetável

Além desses critérios, a LC 140/2011 também utiliza como critério residual o critério da atuação
supletiva: quando o órgão ambiental do ente federado de menor extensão territorial não puder licenciar,
não tiver estrutura ou condições para licenciar, o órgão de maior abrangência territorial promoverá o
licenciamento:

Art. 2º Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:


[...]
II - atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo
originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar;
III - atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das
atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo
originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar.
[...]

Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados,


ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições
estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.
§ 1º Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável
pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e
procedimentos do licenciamento ambiental.
§ 2º A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo
ente federativo licenciador.
§ 3º Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem
guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado
pelo ente federativo.

2.1.2. Licenças ambientais

No procedimento administrativo do licenciamento ambiental, caso o empreendimento seja


aprovado, será expedida uma licença ambiental (ato administrativo). Nesse ato administrativo, o órgão

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

competente irá estabelecer as condições, as restrições, as medidas de controle ambiental que devem ser
obedecidas pelo empreendedor.
Diferentemente do Direito Administrativo, a licença ambiental é ato discricionário e o ato é precário.
O fundamento desse entendimento está na Res. 237 do Conama:

Resolução 237 do Conama


Art. 19. O órgão ambiental poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e
adequação da licença ambiental, suspender ou cancelar uma licença ambiental expedida,
quando ocorrer:
I - Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais.
II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da
licença.
III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde

Existem três espécies de licença ambiental, quais sejam:


• Licença prévia (LP): aprova o projeto, atestando a sua viabilidade ambiental. Estabelece os
requisitos básicos para a próxima fase. Prazo de validade: até 5 anos.
• Licença de instalação (LI): autoriza a instalação do empreendimento. Prazo de validade: até 6
anos.
• Licença de operação (LO): permite o início das atividades. Prazo de validade: entre 4 e 10 anos.

Fique atento: a licença de operação pode ser renovada. A renovação deve ser requerida com
antecedência mínima de 120 dias do seu vencimento. Caso o órgão licenciante não tenha se manifestado
dentro do prazo de 120 dias, ficará automaticamente renovada a licença de operação até que o órgão se
manifeste.
Não confunda renovação da licença com concessão da licença. O decurso dos prazos de
licenciamento sem a emissão da licença ambiental não implica emissão tácita.
O desenvolvimento de atividades poluidoras se sujeita ao licenciamento ambiental (licença de
operação).
O exercício de atividade sem que haja licença de operação implica crime ambiental (art. 60 da Lei
9.605/98).
Destaque-se que se a atividade não traz impacto ambiental considerável, em vez de se exigirem as 3
licenças, pode-se adotar o licenciamento unifásico.
Ainda, nos termos do art. 14 da Resolução 237 do Conama, o prazo máximo para que o ente
ambiental análise licença prévia, licença de instalação e licença de operação é de até 6 meses. Esse prazo
será majorado para 12 meses se forem exigidos audiência pública ou estudo de impacto ambiental.
Se o Poder Executivo, por meio do órgão competente, entender que o projeto não tem viabilidade
ambiental, vedando determinado empreendimento pelo poluidor, o Judiciário não poderá autorizar o
licenciamento, por força do princípio da separação dos poderes.
Somente poderá o Poder Judiciário analisar se houve observância da legalidade, não podendo
substituir a administração pública para autorizar procedimento não autorizado por ela, haja vista se tratar
de um ato discricionário.

2.1.3. Estudos ambientais (avaliação de impactos ambientais)

Segundo a Resolução n.º 001/1986 do Conama, impacto ambiental é:

Artigo 1º Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração
das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer
forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam:

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.

Assim, a avaliação de impactos ambientais é gênero do qual é espécie, por exemplo, o Estudo de
Impacto Ambiental (e consequente Relatório de Impacto Ambiental – RIMA).
O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA) é a modalidade mais complexa. Cabe ao poder público
exigir, para as obras potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente, o EPIA, ao
qual se dará publicidade, nos termos que define a CF/88.
O EPIA é um estudo ambiental, instrumento da PNMA, que materializa os princípios da precaução
e da prevenção.

Presunção de significativa degradação ambiental

Existem alguns casos em que a legislação presume a significativa degradação ambiental, exigindo
o EPIA, conforme lista exemplificativa do art. 2º da Resolução 1/86 do Conama:
Artigo 2º. Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório
de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual
competente, e do Ibama em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras
do meio ambiente, tais como:
I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;
II - Ferrovias;
III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;
IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso I, artigo 48, do Decreto-Lei n.º 32, de
18.11.66;
V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos
sanitários;
VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV;
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins
hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para
navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e
embocaduras, transposição de bacias, diques;
VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão);
IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração;
X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos;
XI - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima
de 10MW;
XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos,
cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos);
XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou
menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do
ponto de vista ambiental;
XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante
interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes;
XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez toneladas
por dia.

Conteúdo mínimo do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)

O conteúdo mínimo do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) está definido na Resolução 1/86 do
Conama:

Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes


atividades técnicas:

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise dos


recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação
ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:
a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a
topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime hidrológico, as correntes
marinhas, as correntes atmosféricas;
b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as espécies
indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de
extinção e as áreas de preservação permanente;
c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-economia,
destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as
relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial
utilização futura desses recursos.
II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de
identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis
impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e
adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e
permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a
distribuição dos ônus e benefícios sociais.
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de
cada uma delas.
IV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos
positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.

Diretrizes do EIA

São diretrizes que devem ser observadas para o EIA, nos termos da Resolução 1/86:

Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial os


princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá
às seguintes diretrizes gerais:
I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-
as com a hipótese de não execução do projeto;
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de
implantação e operação da atividade;
III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos
impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a
bacia hidrográfica na qual se localiza;
IV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área
de influência do projeto, e sua compatibilidade.

Elaboração do EIA

O Estudo de Impacto Ambiental será realizado por equipe multidisciplinar habilitada, não
dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto e que será responsável tecnicamente pelos
resultados apresentados.
Essa equipe será custeada pelo empreendedor, que também deverá custear todas as despesas do
projeto e todos os custos referentes à realização do estudo de impacto ambiental.
O órgão ambiental não está sujeito às decisões da equipe multidisciplinar, podendo decidir de forma
diversa, desde que justificadamente.

Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

Após a elaboração do EIA, será elaborado o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Nesse relatório,
devem constar as conclusões do estudo de impacto ambiental, devendo este apresentar linguagem objetiva,
adequada à compreensão da população, permitindo o acesso à informação.
Além disso, o RIMA deve ser de acessibilidade pública, ressalvado o sigilo industrial.
A Resolução 1/86 do Conama também elenca os elementos obrigatórios que devem constar do RIMA:

Artigo 9º. O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do estudo de


impacto ambiental e conterá, no mínimo:
I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas
setoriais, planos e programas governamentais;
II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para
cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias primas,
e mão-de-obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis
efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;
III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência
do projeto;
IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade,
considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos
impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação,
quantificação e interpretação;
V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as
diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese
de sua não realização;
VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos
impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de
alteração esperado;
VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de
ordem geral).
Parágrafo único. O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua
compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por
mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se
possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
conseqüências ambientais de sua implementação.

Com relação ao RIMA, o STF já se posicionou no sentido de que viola o princípio da separação dos
poderes a Constituição Estadual que determina que o RIMA seja submetido à aprovação do Poder Legislativo
estadual.

Audiência pública (princípio da participação comunitária)

Se o órgão licenciador entender necessário, poderá realizar, no bojo dos estudos de impactos
ambientais, audiências públicas. Trata-se, porém, de uma faculdade do órgão licenciador.
A audiência pública torna-se obrigatória no caso de EIA, quando há:

• Solicitação de sua realização por entidade civil,


• Solicitação de sua realização pelo MP,
• Solicitação de sua realização por no mínimo 50 cidadãos.

Aquilo que for colhido na audiência pública não vincula o órgão licenciador, mas deve ser por ele
levado em consideração.

61
DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

3. JURISPRUDÊNCIA

3.1. STF

1. É inconstitucional lei estadual que dispensa a obtenção de licenças prévia, de


instalação e de operação no processo de licenciamento ambiental

O STF entendeu ser formal e materialmente inconstitucional lei estadual que criou a figura da licença
ambiental única – LA ou LAU e dispensou a necessidade de obtenção de licença prévia, de instalação e de
operação criadas por resolução do Conama. Concluiu pela ofensa à competência da União para editar normas
gerais sobre proteção do meio ambiente, desobediência ao princípio da prevenção e do dever de proteção
do meio ambiente ecologicamente equilibrado. (STF, ADI 5.475)

2. Viola o princípio da capacidade contributiva, na dimensão do custo/benefício, a


instituição de taxa de polícia ambiental que exceda flagrante e
desproporcionalmente os custos da atividade estatal de fiscalização

O STF entendeu, inicialmente, que a competência político-administrativa comum para a proteção do


meio ambiente legitima a criação de tributo na modalidade taxa para remunera a atividade de fiscalização
dos Estados, notadamente tendo como fato gerador a exploração de energia elétrica. (STF, ADI 5489)

3. Cabimento de ação direta de inconstitucionalidade contra ato de Conselho


Estadual de Meio Ambiente. Viola o princípio da proibição de retrocesso em matéria
socioambiental a dispensa de licenciamento ambiental para atividades
impactantes e degradadoras do meio ambiente

O STF concluiu pela possibilidade de controle concentrado de constitucionalidade, pela via da ação
direta de inconstitucionalidade, de atos normativos primários, autônomos, abstratos, gerais e técnicos, ainda
que editados por Conselho Estadual de Meio Ambiente.
Nesse sentido, entendeu materialmente inconstitucional dispositivo daquele ato estadual que
dispensou o licenciamento ambiental para atividades impactantes e degradadoras do meio ambiente, na
medida em que afronta não apenas o art. 225 da CF, mas também o princípio da proibição de retrocesso em
matéria socioambiental e dos princípios da prevenção e da precaução. (STF, ADI 6288)

4. É inconstitucional norma que exige a submissão e autorização por parte da


Assembleia Legislativa com relação à licença ambiental para a construção de
centrais hidrelétricas e termelétricas

A matéria já possuía jurisprudência consolidada no STF desde o julgamento da ADI 1505, em que
restou consignado o entendimento de que “a concessão de autorização para desenvolvimento de atividade
potencialmente danosa ao meio ambiente consubstancia ato do Poder de Polícia – ato da Administração
Pública – entenda-se ato do Poder Executivo”.
Assim, as autorizações ambientais são atividades típicas do Poder Executivo, conforme disciplinado
pela Lei n.º 6.938/81. Condicionar a aprovação de licenciamento ambiental à prévia autorização da
Assembleia Legislativa implica indevida interferência do Poder Legislativo na atuação do Poder Executivo.
(STF, ADI 6350)

5. Os Estados-Membros podem complementar a legislação federal em matéria de


licenciamento ambiental, mormente no que se refere a procedimentos ambientais

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

simplificados para atividades e empreendimentos de pequeno potencial de


impacto ambiental (STF, RE 1.264.738/AgR-SC)

QUESTÕES
1. (FCC/PGE-GO/Procurador do Estado Substituto/2021). Foram submetidos ao licenciamento ambiental
conduzido pelo Estado de Goiás cinco empreendimentos com absoluta sinergia entre eles e que serão
instalados em áreas limítrofes. Neste cenário, o órgão licenciador
a) poderá realizar um único licenciamento, desde que haja a instituição de uma Sociedade de Propósito
Específico (SPE) para garantir o cumprimento das obrigações ambientais.
b) deverá conduzir um licenciamento para cada empreendimento e, ao final, emitir uma única licença para
todos os empreendimentos com a instituição de solidariedade em relação às obrigações ambientais.
c) poderá conduzir um único licenciamento considerando o conjunto de empreendimentos.
d) está obrigado a abrir um processo de licenciamento para cada empreendimento isoladamente
considerado, ainda que haja sinergia entre eles.
e) está obrigado a abrir um processo de licenciamento para cada empreendimento, mas deverá considerar
a sinergia existente entre eles.
2. (CESPE/PGE-PB/Procurador do Estado/2021). No que se refere ao licenciamento ambiental, julgue os
itens a seguir.
I - Licenciamento ambiental é o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente
licencia a localização, a instalação, a ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras
de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer
forma, possam causar degradação ambiental, considerando-se as disposições legais e regulamentares e as
normas técnicas aplicáveis ao caso.
II - Todo empreendimento é passível de licenciamento ambiental.
III - É possível o licenciamento ambiental tácito quando o órgão ambiental competente permanece inerte
quanto à expedição da licença.
Assinale a opção correta.
a) Apenas o item I está certo.
b) Apenas o item II está certo.
c) Apenas o item III está certo.
d) Apenas os itens I e II estão certos.
e) Apenas os itens II e III estão certos.
3. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Uma empresa pretende instalar, em determinado
município, uma indústria que trabalhará com extração de cerâmica e produção de telhas. Para tanto, ela
solicitou o licenciamento ambiental ao órgão de meio ambiente do estado.
A respeito da situação hipotética apresentada e dos aspectos legais a ela relacionados, julgue o item a seguir.
Para que seja viável o licenciamento da atividade em questão, a prefeitura do município deverá declarar,
mediante certidão, que o local e o tipo de empreendimento estão em conformidade com a legislação
aplicável ao uso e à ocupação do solo.

4. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Uma empresa pretende instalar, em determinado


município, uma indústria que trabalhará com extração de cerâmica e produção de telhas. Para tanto, ela
solicitou o licenciamento ambiental ao órgão de meio ambiente do estado.
A respeito da situação hipotética apresentada e dos aspectos legais a ela relacionados, julgue o item a seguir.
O órgão estadual de meio ambiente deverá expedir licença de instalação caso conclua pela viabilidade
ambiental do empreendimento.

5. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Uma empresa pretende instalar, em determinado


município, uma indústria que trabalhará com extração de cerâmica e produção de telhas. Para tanto, ela
solicitou o licenciamento ambiental ao órgão de meio ambiente do estado.
A respeito da situação hipotética apresentada e dos aspectos legais a ela relacionados, julgue o item a seguir.

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

Para conseguir o licenciamento do referido empreendimento, a empresa necessariamente deverá estar


inscrita no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos
Ambientais (CTF).

6. (CESPE/Analista Ministerial – Engenharia Civil/MPE-CE/2020). Durante o procedimento de licenciamento


ambiental de uma atividade ou empreendimento, é obrigatória a realização de audiência pública, de acordo
com a regulamentação pertinente.

7. (FCC/Juiz de Direito Substituto/TJMS/2020). A audiência pública no processo de licenciamento ambiental


a) é obrigatória, independentemente do grau de impacto do empreendimento ou da atividade licenciada.
b) deve ser realizada no início do processo de licenciamento ambiental para colheita de críticas e sugestões
e, ao final do processo, para a respectiva devolutiva.
c) será realizada na sede do órgão ambiental responsável pelo licenciamento ambiental.
d) não obriga o órgão responsável pelo licenciamento ambiental a acolher as contribuições dela
decorrentes, desde que apresente justificativa.
e) ocorre em momento anterior à elaboração do EIA-RIMA.

8. (CESPE/Prefeitura de Campo Grande - MS/Procurador Municipal/2019). Considerando os aspectos


constitucionais relacionados ao direito ambiental, a Lei n.º 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, a Lei n.º 12.651/2012, que estabelece prescrições acerca do Código Florestal e as
resoluções do Conama, julgue o item a seguir.
O estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental são documentos ambientais
obrigatórios para a realização do procedimento administrativo de licenciamento ambiental.

9. FCC/Juiz de Direito Substituto/TJMS/2020


O Ministério Público ajuizou uma ação civil pública visando à declaração de nulidade de licenciamento
ambiental conduzido por estudo ambiental diverso do Estudo de Impacto Ambiental e Respectivo Relatório
(EIA-RIMA). O Magistrado deverá
a) julgar, de forma antecipada, a ação procedente, uma vez que o EIA-RIMA é obrigatório no licenciamento
ambiental.
b) julgar, de forma antecipada, a ação improcedente, diante da presunção de legalidade do ato
administrativo.
c) determinar a produção de prova pericial para aferir a necessidade de elaboração do EIA-RIMA no
licenciamento ambiental.
d) determinar a produção de prova testemunhal para aferir a necessidade de elaboração do EIA-RIMA.
e) extinguir o processo, sem resolução de mérito, por verificar a ausência de interesse processual.
10. VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRO/2019
A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de
recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento ambiental. Acerca do tema, pode-se afirmar que
a) as atividades que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local são licenciadas pelo
Ibama.
b) compete ao Município licenciar atividades localizadas em Áreas de Proteção Ambiental (APAS) instituídas
pelo Município.
c) o decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, implica sua emissão tácita
e autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra.
d) a União é competente para promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades
localizados em terras indígenas.
e) a licença de localização caracteriza a fase preliminar do processo de licenciamento, da qual se segue a
licença de operação.

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

11. (FCC/Juiz de Direito Substituto/TJSC/2017). Os apontamentos levantados em audiência pública


a) não vinculam o órgão licenciador, que tem o dever, por outro lado, de justificar tecnicamente o não
acolhimento das sugestões.
b) vinculam o órgão licenciador, que tem o dever, portanto, de acolher as sugestões.
c) são votados e vinculam o órgão licenciador os que obtiverem maioria simples.
d) são votados e vinculam o órgão licenciador os que obtiverem maioria absoluta.
e) são votados e vinculam o órgão licenciador os que obtiverem quórum de 2/3.

COMENTÁRIOS
1. Nos termos do art. 12, § 2º, da Resolução Conama 237 “§ 2º - Poderá ser admitido um único processo de
licenciamento ambiental para pequenos empreendimentos e atividades similares e vizinhos ou para aqueles
integrantes de planos de desenvolvimento aprovados, previamente, pelo órgão governamental competente,
desde que definida a responsabilidade legal pelo conjunto de empreendimentos ou atividades”. Portanto, o
item correto revela-se a letra C.

2. Comentários
O item I define exatamente o conceito de licenciamento ambiental constante do art. 1º da Resolução Conama
237/1997. Está, portanto, correto.
Por sua vez, o item II está incorreta, na medida em que nem todos os empreendimentos serão objeto de
licenciamento. Apenas aqueles que ofereçam efetiva ou potencial capacidade poluidora ou degradadora do
meio ambiente é que se submeterão ao prévio procedimento de licenciamento ambiental.
O item III está errado. O art. 14, § 3º, da LC 140/2011 é claro ao estabelecer que “o decurso dos prazos de
licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato
que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva referida no art. 15”.

3. O item está certo. A referida exigência encontra-se positivada no art. 10, § 1º, da Resolução Conama
237/1997. Veja-se: § 1º No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar, obrigatoriamente, a
certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em
conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para
supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos competentes.

4. Comentários
A Resolução Conama 237/1997 criou três diferentes tipos de licenças, concedidas no curso do procedimento
de licenciamento ambiental. São elas:
Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade
aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos
básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as
especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle
ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do
efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e
condicionantes determinados para a operação.
Portanto, verifica-se que, na fase preliminar, de planejamento, quando o órgão ambiental conclui pela
viabilidade ambiental do empreendimento, deverá ser concedida licença prévia, assim o item está errado.

5. O item está certo. O registro no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou
Utilizadoras de Recursos Ambientais é obrigatório para pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a
atividades potencialmente poluidoras ou à extração, produção, transporte e comercialização de produtos
potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora. Eis os
termos do que dispõe o art. 17 da PNMA.

6. Nos termos do art. 10, V, da Resolução Conama 237/1997:

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DANIELA ADAMEK PODER DE POLÍCIA, LICENCIAMENTO E ESTUDOS AMBIENTAIS • 5

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:


[...]
V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;

Portanto, o item está errado.


7. Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a realização de audiência pública não é obrigatória. Depende de decisão
do órgão licenciador ou, nos termos da Resolução Conama 9/1987, art. 2º, de solicitação de entidade civil,
Ministério Público ou 50 (cinquenta) ou mais cidadãos.
A alternativa B está incorreta, pois a audiência pública é realizada após o recebimento do Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA), conforme art. 2º, § 1º da Resolução Conama 9/1987.
A alternativa C está incorreta, na medida em que, nos termos do § 4º do art. 2º da Resolução Conama
9/1987, ela deverá ocorrer “em local acessível aos interessados”.
A alternativa D, por sua vez, está correta e é o gabarito da questão.
Por fim, a alternativa E está incorreta, conforme art. 2º, § 1º da Resolução Conama 9/1987.

8. O item está errado. A Constituição Federal bem como a Resolução Conama 237/97 determinam que a
realização de prévio estudo de impacto ambiental e seu respectivo relatório será obrigatória para
licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades considerados efetiva ou potencialmente
causadores de significativa degradação ambiental, apenas nesses casos. Nos demais casos, a decisão será do
órgão licenciador.

9. Somente quando o empreendimento ou a atividade forem potencialmente causadores de significativa


degradação ambiental será imprescindível a realização de estudo prévio de impacto ambiental, sob pena de
nulidade da licença ambiental, nos termos do art. 225, inciso IV, da Constituição Federal. Para tanto, a
necessidade de elaboração do EIA-RIMA no licenciamento ambiental será aferida por intermédio da prova
pericial. A resposta, portanto, está no item C.

10. Comentários
A alternativa A está incorreta, pois as atividades que causam impacto local devem ser licenciadas pelo órgão
ambiental do Município. (art. 9º, XIV, a, da LC 140/2011).
A alternativa B está incorreta, pois, em que pese a LC 140/2011 prever a regra do ente instituidor da unidade
de conservação para licenciamento de atividades dentro desses locais, a norma estabelece justamente como
exceção as APAs (art. 9º, XIV, b, da LC 140/2011).
A alternativa C está incorreta, porquanto não há emissão tácita de licenciamento ambiental, conforme art.
14, § 3º, da LC 140/2011:
§ 3º O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não
implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas
instaura a competência supletiva referida no art. 15.

A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 7º, XIV, c, da LC 140/2011.
A alternativa E está incorreta. Conforme estabelece a Resolução Conama 237/1997, as licenças expedidas
pelo Poder Público são licença prévia (LP), licença de instalação (LI) e licença de operação (LO).

11. A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. Embora haja a obrigatoriedade de realização de
audiências públicas em determinadas hipóteses de licenciamento ambiental (art. 2º da Res. Conama n.º
9/1987 - Art. 2º - Sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério
Público, ou por 50 (cinquenta) ou mais cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente promoverá a realização de
audiência pública.), ela não tem caráter vinculante, mas apenas persuasivo, sobre a decisão do órgão
ambiental.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE


6
PROTEGIDOS

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

1. INTRODUÇÃO

O fundamento dos espaços territoriais especialmente protegidos (ETEP), que será objeto do presente
capítulo, encontra-se na Constituição Federal, notadamente no art. 225, §1º, III. Anote-se:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a
serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;

Com efeito, a instituição de ETEP pode se dar por meio de lei ou ato infralegal (ex.: decreto). No
entanto, a alteração ou supressão de ETEP só pode ocorrer por meio de lei, conforme determina a
Constituição Federal.
Trata-se de um procedimento formulado a fim de facilitar a criação desses espaços, importantes na
proteção e preservação do meio ambiente, e capaz, ao mesmo tempo, de dificultar a sua alteração ou
supressão.
Nesse sentido, convém destacar que o STF entendeu que Medida Provisória não poderá ser editada
com o fim de diminuir área de preservação ainda que posteriormente seja convertida em lei a ser apreciada
pelo Poder Legislativo.

1.1. Espaços ambientais especialmente protegidos

O Novo Código Florestal, Lei n.º 12.651/2012, cria os seguintes ETEPs:

• Áreas de preservação permanente


• Apicuns e salgados
• Reserva legal
• Unidades de conservação
• Áreas verdes urbanas
• Áreas de uso restrito

Novo Código Florestal (Lei n.º 12.651/2012)

A norma estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, nas áreas de preservação
permanente e de reserva legal. Dispõe, outrossim, sobre a exploração florestal, o controle da origem dos
produtos florestais e o controle e a prevenção de incêndios florestais, e a previsão de instrumentos
financeiros para o alcance dos objetivos do Código Florestal.

1.2. Princípios que informam o Novo Código Florestal (1º-A)

O Código Florestal delimitou, em seus arts. 1º-A e 2º alguns princípios que deverão ser
obrigatoriamente observados:

Art. 1º-A [...]


Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá
aos seguintes princípios:

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas florestas e


demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos
hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem estar das gerações presentes e
futuras;
II - reafirmação da importância da função estratégica da atividade agropecuária e do papel
das florestas e demais formas de vegetação nativa na sustentabilidade, no crescimento
econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do País
nos mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia;
III - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas, consagrando o
compromisso do País com a compatibilização e harmonização entre o uso produtivo da terra
e a preservação da água, do solo e da vegetação;
IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em
colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e restauração
da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais;
V - fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o uso sustentável
do solo e da água, a recuperação e a preservação das florestas e demais formas de
vegetação nativa;
VI - criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a
recuperação da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de atividades
produtivas sustentáveis.

Art. 2º As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação


nativa, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a
todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que
a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem.

1.3. Regimes jurídicos

O Código Florestal adota dois regimes jurídicos:

• Regime de tolerância de condutas lesivas ao meio ambiente e que ocorreram até 22/07/2008.
• Regime de condutas lesivas após 22/07/2008.

Isso porque no dia 23/07/2008, foi publicado o Decreto 6.514, marco temporal no que tange à
imposição de infrações e sanções administrativas em relação ao meio ambiente.

1.4. Obrigações de natureza real

As obrigações previstas no Código Florestal têm natureza real e propter rem (transmitidas ao
sucessor da propriedade).

1.5. Cadastro Ambiental Rural

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) se trata de inovação do Código Florestal. Cuida-se de um registro
público eletrônico, de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais e que tem por finalidade
integrar as informações ambientais das propriedades rurais brasileiras.
Com os dados oferecidos pelos proprietários rurais, no âmbito do CAR, é possível:

• realizar o controle das propriedades rurais;


• desenvolver planejamento ambiental e econômico;
• combater o desmatamento.

O CAR deve ser feito preferencialmente por órgão ambiental municipal ou estadual, pois os órgãos
locais ou regionais têm maior possibilidade de controle e conhecimento das áreas da região.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

Uma forma de obrigar e coagir, legalmente, o proprietário a promover o registro de sua propriedade
rural definida pelo Código Florestal pode ser verificada no bojo do art. 78-A:

Art. 78-A. Após 31 de dezembro de 2017, as instituições financeiras só concederão crédito


agrícola, em qualquer de suas modalidades, para proprietários de imóveis rurais que
estejam inscritos no CAR.

1.6. Programas de Regularização Ambiental

O Código Florestal previu a instituição pelas entidades públicas, com exceção dos municípios, dos
chamados Programas de Regularização Ambiental ( PRA) de posses e propriedades rurais:

Art. 59. A União, os Estados e o Distrito Federal deverão implantar Programas de


Regularização Ambiental (PRAs) de posses e propriedades rurais, com o objetivo de adequá-
las aos termos deste Capítulo.
§ 1º Na regulamentação dos PRAs, a União estabelecerá normas de caráter geral, e os
Estados e o Distrito Federal ficarão incumbidos do seu detalhamento por meio da edição de
normas de caráter específico, em razão de suas peculiaridades territoriais, climáticas,
históricas, culturais, econômicas e sociais, conforme preceitua o art. 24 da Constituição
Federal.
§ 2º A inscrição do imóvel rural no CAR é condição obrigatória para a adesão ao PRA, que
deve ser requerida em até 2 (dois) anos, observado o disposto no § 4º do art. 29 desta Lei.
§ 3º Com base no requerimento de adesão ao PRA, o órgão competente integrante do
Sisnama convocará o proprietário ou possuidor para assinar o termo de compromisso, que
constituirá título executivo extrajudicial.
§ 4º No período entre a publicação desta Lei e a implantação do PRA em cada Estado e no
Distrito Federal, bem como após a adesão do interessado ao PRA e enquanto estiver sendo
cumprido o termo de compromisso, o proprietário ou possuidor não poderá ser autuado
por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de
vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.
§ 5º A partir da assinatura do termo de compromisso, serão suspensas as sanções
decorrentes das infrações mencionadas no § 4º deste artigo e, cumpridas as obrigações
estabelecidas no PRA ou no termo de compromisso para a regularização ambiental das
exigências desta Lei, nos prazos e condições neles estabelecidos, as multas referidas neste
artigo serão consideradas como convertidas em serviços de preservação, melhoria e
recuperação da qualidade do meio ambiente, regularizando o uso de áreas rurais
consolidadas conforme definido no PRA.
§ 6º (VETADO)
§ 7º Caso os Estados e o Distrito Federal não implantem o PRA até 31 de dezembro de 2020,
o proprietário ou possuidor de imóvel rural poderá aderir ao PRA implantado pela União,
observado o disposto no § 2º deste artigo.

Verifica-se, portanto, que o programa é concretizado por meio de um termo de compromisso (TC) e,
a partir de sua assinatura, suspende-se as sanções decorrentes das infrações mencionadas no § 4º. Tem-se,
pois, que o programa repercute nas esferas administrativa, penal e civil (§ 5º).
Cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou no TC para a regularização ambiental das
exigências desta Lei, nos prazos e condições neles estabelecidos, as multas serão consideradas como
convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente,
regularizando o uso de áreas rurais consolidadas conforme definido no PRA.

Art. 60. A assinatura de termo de compromisso para regularização de imóvel ou posse rural
perante o órgão ambiental competente, mencionado no art. 59, suspenderá a punibilidade
dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998,
enquanto o termo estiver sendo cumprido.
§ 1º A prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão
punitiva.
§ 2º Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização prevista nesta Lei.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

2. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP)

2.1. Definição legal

Áreas de preservação permanente visam à garantia de bens ambientais essenciais, como os recursos
hídricos, o solo e a biodiversidade. A propósito, veja a conceituação trazida pelo Código Florestal:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação
nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger
o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;

2.2. Rol exemplificativo de áreas de proteção permanente

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para


os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os
efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta)
metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte)
hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou
represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do
empreendimento;
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua
situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45º, equivalente a 100% (cem
por cento) na linha de maior declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca
inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem)
metros e inclinação média maior que 25º, as áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base,
sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água
adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a
vegetação;
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50
(cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.
§ 1º Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de reservatórios
artificiais de água que não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água
naturais.

Mata ciliar são as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos
os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:

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• 30 m, para os cursos d’água de menos de 10 m de largura;


• 50 m, para os cursos d’água que tenham de 10 a 50m de largura;
• 100 m, para os cursos d’água que tenham de 50 a 200 m de largura;
• 200 m, para os cursos d’água que tenham de 200 a 600 m de largura;
• 500 m, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 m;

A mata ciliar tem por objetivos: evitar o assoreamento (acúmulo de sedimentos pelo depósito de
terra, areia, detritos etc.) dos cursos d’águas e resguardar a segurança das pessoas contra enchentes. A
distância delimitada pelo Código Florestal permite a absorção da água pela terra.
Ressalte-se que a lei não exige matas ciliares para cursos d’água efêmeros.
Com efeito, rio efêmero é um curso d’água que possui escoamento artificial e apenas durante, ou
imediatamente após, períodos de precipitação.
Nos termos do entendimento fixado pelo Superior Tribunal de Justiça, a proteção legal das APPs não
se resume às margens de rios, referindo-se também aos cursos d’água, o que abrange riachos, lagos,
córregos, brejos.
No que tange às APPs nos entornos de lagos e lagoas naturais, tem-se que a largura mínima da faixa
tida como de preservação permanente:
• 100 metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 hectares de superfície, cuja
faixa marginal será de 50 metros;
• 30 metros, em zonas urbanas;

Nas áreas de entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou


represamento de cursos d’água naturais, a APP deverá estar localizada na faixa definida na licença ambiental
do empreendimento. Por fim, nos entornos das nascentes e dos olhos d’água perenes, a APP deverá ter raio
mínimo de 50 metros;

Art. 4º [...]
§ 4º Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare,
fica dispensada a reserva da faixa de proteção prevista nos incisos II e III do caput, vedada
nova supressão de áreas de vegetação nativa, salvo autorização do órgão ambiental
competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama.

Ressalte-se que nascentes são afloramentos naturais do lençol freático, apresentando perenidade e
que dão início aos cursos d’água.
Por sua vez, olho d’água é o afloramento natural do lençol freático, mas pode ser intermitente e não
necessariamente dá início ao curso d’água.
Merece destaque que o STF decidiu por dar interpretação conforme à Constituição, nas ADIs que
tratam da constitucionalidade de dispositivos do Código Florestal, para fixar a interpretação de que os
entornos e nascentes e olhos d’água intermitentes também são consideradas áreas de preservação
permanente.
Com efeito, em encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, as APPs serão equivalentes
a 100% na linha de maior declive.
Por sua vez, consideram-se APPs as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de
mangues. São áreas paralelas à linha costeira, produzidas por processo de sedimentação e constituem
depósitos arenosos.
São também consideradas APPs os manguezais, em toda a sua extensão, que são ecossistemas
litorâneos que ocorrem em terrenos baixos, sujeito às ações das marés. Formado por “vazas lodosas”, cuja
vegetação é denominada de mangues.
Bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100
metros em projeções horizontais, nos termos do Código Florestal, também são áreas de preservação

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permanente. São paisagens de topografia planava, cuja declividade, se existir, é inferior a 10%. No entanto,
essa superfície plana termina de forma abrupta em escarpa. Desse modo, as bordas dos tabuleiros ou
chapadas, até a linha da ruptura, numa faixa nunca inferior a 100 metros, são consideradas APPs.
Ainda, são APPs, os topos de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 metros
e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 da
altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado
por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo
da elevação. Trata-se de uma forma de atenuar a erosão do solo, que também servirá como corredor
ecológico dos ecossistemas elevados. Essa proteção também facilita a dispersão de sementes e recarrega os
aquíferos, pois a água deságua sem provocar erosão.
Áreas em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação, também são
consideradas de preservação permanente pelo Código Florestal e, por fim, nas veredas, espécie de formação
vegetal típica do Cerrado, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 metros, a
partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado;
Destaca-se o §1º do art. 4º, cujo teor desobriga entornos de reservatórios artificiais de água que não
decorram de barramento ou represamento de cursos d’água naturais (represas) de constituição de APPs.

2.3. APP declaradas de interesse social

É possível que o poder público institua outras APPs (as áreas elencadas no art. 4º têm caráter
meramente exemplificativo). É o que dispõe o art. 6º do Código:

Art. 6º Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse


social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras
formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:
I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares.
IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de importância internacional.

Nesses casos, exige-se a edição de decreto assinado pelo Chefe do Poder Executivo (Prefeito,
Governador ou Presidente da República). A extinção, todavia, exige a edição de lei específica.

2.4. Regime especial de proteção e exploração excepcional

Em regra, não é possível a supressão de vegetação em APP. Contudo, excepcionalmente, o Código


Florestal autoriza a supressão de vegetação, em área de preservação permanente, nas hipóteses de utilidade
pública, interesse social e baixo impacto ambiental.

2.4.1. Utilidade pública

São hipóteses de utilidade pública, nos termos do Código Florestal:

Art. 3º [...]
VIII - utilidade pública:
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;

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b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de


transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano
aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações,
radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais,
nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de
areia, argila, saibro e cascalho;
c) atividades e obras de defesa civil;
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções
ambientais referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento
administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao
empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;

O STF entendeu, no bojo da ADC n.º 2 e da ADI n.º 4.903, pela inconstitucionalidade das expressões
“gestão de resíduos” e “instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais
ou internacionais”. Entendeu a Corte que não se pode aceitar que um Estado,

ao qual é imposta constitucionalmente a defesa e preservação do meio ambiente, conceba


a gestão de resíduos (construção de aterros sanitários) e o lazer como hipóteses de
intervenção e supressão de vegetação em áreas de preservação permanente e em áreas de
uso restrito.

Não se mostra compatível com o art. 225 da CF/88 a autorização da relativização da proteção da
vegetação nativa protetora de nascentes, por exemplo, para a “gestão de resíduos” ou para a realização de
competições esportivas.

2.4.2. Interesse social

São hipóteses de interesse social, para fins de supressão de APP, nos termos do Código Florestal:

Art. 3º [...]
IX - interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como
prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e
proteção de plantios com espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural
familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura
vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades
educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as
condições estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por
população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições
estabelecidas na Lei n.º 11.977, de 7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes
tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da
atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela
autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento
administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade
proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;

O STF também consolidou entendimento no sentido de conferir interpretação conforme a


Constituição aos incisos VIII e IX, do art. 3º, que cuidam das hipóteses de utilidade pública e interesse social
para fins de supressão de vegetação nativa. Entendeu a Corte que os dispositivos devem ser interpretados

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de modo a se condicionar a intervenção excepcional na APP, por interesse social ou utilidade pública, à
inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta.

2.4.3. Atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental

São hipóteses de atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental, de acordo com o Código
Florestal:

Art. 3º [...]
X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental:
a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando
necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção
de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal
sustentável;
b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes
tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber;
c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;
d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;
e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades
quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o
abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores;
f) construção e manutenção de cercas na propriedade;
g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos previstos
na legislação aplicável;
h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas,
como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação específica de acesso a recursos
genéticos;
i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros
produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação existente nem
prejudique a função ambiental da área;
j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo
a extração de produtos florestais não madeireiros, desde que não descaracterizem a
cobertura vegetal nativa existente nem prejudiquem a função ambiental da área;
k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto
ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama ou dos Conselhos
Estaduais de Meio Ambiente;

Ressalte-se que o Código Florestal dispensou a autorização do órgão ambiental competente para
execução, em caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil,
destinadas à prevenção ou mitigação de acidentes em áreas urbanas.
Isto é, via de regra, para explorar APP, ainda que se trate de interesse público, social ou baixo
impacto ambiental, será necessária autorização do órgão competente.

2.5. Áreas consolidadas em APPs

Nos termos do próprio Código Florestal, área rural consolidada é “área de imóvel rural com ocupação
antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris,
admitida, neste último caso, a adoção de regime de pousio” (art. 3º, IV).

Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a


continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas
rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.

Desse modo, as áreas rurais consolidadas serão monitoradas pelo CAR ( Cadastro Ambiental Rural) e
nelas devem ser adotadas medidas de mitigação dos impactos ambientais, com o objetivo de conservação
do solo e das águas, pelo proprietário ou possuidor do imóvel rural.

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O Código Florestal veda, nesses locais, a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo, ou
seja, vedam-se novos desmatamentos.
No caso de uma intervenção consolidada em mata ciliar, na hipótese de residência e de infraestrutura
relacionada às atividades agrossilvipastoris, será admitida a manutenção, independentemente da
recomposição da área desflorestada (desmatada), desde que não haja agravamento dos processos erosivos
e de inundações, e que não haja risco para as pessoas.

2.6. Formas de recomposição

Formas de recomposição parcial das áreas desmatadas devem ser adotadas pelo proprietário ou
possuidor do imóvel rural que tenha sua situação consolidada até dia 22 de julho de 2008. No entanto, a
tolerância não isenta o proprietário ou possuidor de adotar medidas para recompor os danos ambientais
causados.
Em matas ciliares, se houver áreas consolidadas, sem riscos de erosão ou de danos às pessoas, é
possível que não haja essa recomposição, nos termos do § 12 do art. 61-A.
Nas demais áreas de matas ciliares, exige-se a recomposição. Os possuidores ou proprietários rurais
deverão recompor as faixas marginais, desde a borda do leito regular, variando a dimensão dessa
recomposição de acordo com o tamanho do imóvel:

Art. 61-A. [...]


§ 1º Para os imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal que possuam áreas
consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será
obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados
da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.
§ 2º Para os imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois)
módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao
longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas
marginais em 8 (oito) metros, contados da borda da calha do leito regular,
independentemente da largura do curso d´água.
§ 3º Para os imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro)
módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao
longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas
marginais em 15 (quinze) metros, contados da borda da calha do leito regular,
independentemente da largura do curso d’água.
§ 4º Para os imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais que possuam
áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água
naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais:
I - (VETADO);
II - nos demais casos, conforme determinação do PRA, observado o mínimo de 20 (vinte) e
o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do leito regular.
§ 5º Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no
entorno de nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a manutenção de atividades
agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do
raio mínimo de 15 (quinze) metros.
§ 6º Para os imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação
Permanente no entorno de lagos e lagoas naturais, será admitida a manutenção de
atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a
recomposição de faixa marginal com largura mínima de:
I - 5 (cinco) metros, para imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal;
II - 8 (oito) metros, para imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2
(dois) módulos fiscais;
III - 15 (quinze) metros, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e
de até 4 (quatro) módulos fiscais; e
IV - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais.

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§ 7º Nos casos de áreas rurais consolidadas em veredas, será obrigatória a recomposição


das faixas marginais, em projeção horizontal, delimitadas a partir do espaço brejoso e
encharcado, de largura mínima de:
I - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área de até 4 (quatro) módulos fiscais; e
II - 50 (cinquenta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos
fiscais.

Em todos os casos, a recomposição consistirá na adoção de métodos, que poderão ser adotados
isolada ou cumulativamente:

• Condução de regeneração natural de espécies nativas;


• Plantio de espécies nativas;
• Plantio de espécies nativas conjugado com a condução da regeneração natural de espécies
nativas;
• Plantio intercalado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, exóticas com nativas de
ocorrência regional, em até 50% da área total a ser recomposta, no caso dos imóveis de
pequenas propriedades rurais ou pequenas posses rurais.

Nos casos de regularização fundiária, sejam eles de interesse específico ou de interesse social,
havendo hipótese de regularização fundiária em área urbana consolidada e que ocupa APP não identificada
como área de risco, a regularização ambiental será admitida por meio de um simples projeto de regularização
fundiária.

2.7. Desapropriação em APP e indenização

Em caso de desapropriação de imóvel, por utilidade pública ou por interesse social, há discussão se
a APP deve ser contabilizada para fins de indenização. Nesses casos, o STF entende que a área de APP deverá
ser computada e o sujeito deve ser indenizado por sua perda:

A área de cobertura vegetal sujeita à limitação legal e, consequentemente à vedação de


atividade extrativista não elimina o valor econômico das matas protegidas. Agravo
regimental a que se nega provimento. (AI 677647 AgR/ AP- 2008 – Min. Eros Grau)

3. RESERVA LEGAL

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


[...]
III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada
nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável
dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos
ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção
de fauna silvestre e da flora nativa;

Anote-se, que a reserva legal é parte de imóvel rural que está sendo protegida. Com efeito, mesmo
que posteriormente a propriedade venha a ocupar perímetro urbano, o proprietário continuará obrigado a
manter a área de reserva legal:

Art. 19. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal
não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só
será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanos
aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que
trata o § 1º do art. 182 da Constituição Federal.

O sujeito só ficará desobrigado da área de reserva legal quando houver registro do parcelamento do
solo para fins urbanos aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor.

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Por ser genérica e decorrer diretamente da lei, a reserva legal consiste em uma limitação ao direito
de propriedade, não sendo cabível indenização ao particular.

3.1. Percentuais mínimos das áreas de reserva legal

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de
Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação
Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel,
excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

Art. 68. Os proprietários de imóveis rurais que realizaram supressão de vegetação nativa
respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos pela legislação em vigor à época em
que ocorreu a supressão são dispensados de promover a recomposição para os percentuais
exigidos nesta Lei.

Verifica-se, portanto, que a regra de manutenção de área de reserva legal das propriedades rurais
está relacionada à localização do imóvel: dentro ou fora da Amazônia Legal. Nesse sentido, convém salientar
que a Amazônia Legal se trata de uma área legalmente instituída que engloba nove Estados brasileiros.
Atenção: a Amazônia Legal não necessariamente corresponde à área da Floresta Amazônica!
A legislação informa que compõem a Amazônia Legal os seguintes entes federativos: Acre, Amapá,
Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos
Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão.

3.2. Cota de Reserva Ambiental

A Cota de Reserva Ambiental (CRA), instituto que consagra o princípio do protetor-recebedor, trata-
se de um título nominativo que representa área com vegetação nativa, existente ou em recuperação. Desse
modo, o proprietário ou possuidor do imóvel com reserva legal conservada e inscrita no Cadastro Ambiental
Rural (CAR), cuja área ultrapasse o mínimo estabelecido no Código Florestal, poderá se valer do excedente
para instituir servidão ambiental e para instituir a cota de reserva ambiental.
Assim, a titularidade da CRA poderá ser adquirida mediante transmissão gratuita ou onerosa e seu
titular poderá utilizá-la para compensar a reserva legal de imóvel situado no mesmo bioma da área ao qual
o título está vinculado, desde que haja identidade ecológica. Esse foi o entendimento do STF na ADI ajuizada
em face de dispositivos do Código Florestal.
Cada título representativo de CRA corresponde a 1 hectare.

3.3. Definição da localização da reserva legal

A localização da reserva legal dentro de uma propriedade rural será definida casuisticamente pelo
órgão estadual ambiental, integrante do SISNAMA, ou por instituição por ele habilitada, após sua inclusão no
Cadastro Ambiental Rural (CAR). A propósito:

Art. 14. A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em consideração
os seguintes estudos e critérios:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o Zoneamento Ecológico-Econômico;

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de
Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente
protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.
§ 1º O órgão estadual integrante do Sisnama ou instituição por ele habilitada deverá aprovar
a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no CAR, conforme o art. 29 desta
Lei.
§ 2º Protocolada a documentação exigida para a análise da localização da área de Reserva
Legal, ao proprietário ou possuidor rural não poderá ser imputada sanção administrativa,
inclusive restrição a direitos, por qualquer órgão ambiental competente integrante do
Sisnama, em razão da não formalização da área de Reserva Legal.

O Código Florestal permite, ainda, que as APPs existentes na propriedade rural sejam levadas em
consideração quando do cálculo da área a ser legalmente protegida a título de reserva legal, desde que
cumpridos certos requisitos:

Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do
percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:
I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso
alternativo do solo;
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme
comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental
Rural - CAR, nos termos desta Lei.

Assim, se 5% do imóvel seja área de preservação permanente, o proprietário deverá preservar mais
15%, para alcançar os 20% exigidos para as áreas que se localizam fora da Amazônia Legal.
Vale ressaltar, ainda, que o Código Florestal exonera determinados empreendimentos da
manutenção de área destinada à reserva legal.

Art. 12. [...]


§ 6º Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto não
estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.
§ 7º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por
detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de energia
hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica,
subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica.
§ 8º Não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas com o
objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias.

A legislação também obriga que os proprietários registrem a área de reserva legal no CAR,
exonerando-os, nesses casos, da promovê-lo no registro de imóveis. No que tange às pequenas propriedades
ou posses rurais, a inscrição da reserva legal é obrigatória, porém gratuita.
Na área de reserva legal será proibido o corte raso da vegetação, todavia é possível o manejo
sustentável:

Art. 17. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo
proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado.
§ 1º Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal mediante manejo sustentável,
previamente aprovado pelo órgão competente do Sisnama, de acordo com as modalidades
previstas no art. 20.
§ 2º Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade ou posse rural familiar,
os órgãos integrantes do Sisnama deverão estabelecer procedimentos simplificados de
elaboração, análise e aprovação de tais planos de manejo.
§ 3º É obrigatória a suspensão imediata das atividades em área de Reserva Legal desmatada
irregularmente após 22 de julho de 2008.

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§ 4º Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, deverá ser iniciado,
nas áreas de que trata o § 3º deste artigo, o processo de recomposição da Reserva Legal em
até 2 (dois) anos contados a partir da data da publicação desta Lei, devendo tal processo
ser concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa de Regularização Ambiental - PRA,
de que trata o art. 59.

Para a pequena propriedade ou posse rural familiar admite-se o manejo sustentável da reserva legal
para a exploração de atividades de caráter eventual, sem propósito comercial, direto ou indireto, e voltadas
ao consumo próprio, independentemente de autorização de órgão competente.
Importante destacar que a legislação tributária, notadamente a Lei n.º 9.393/1996, que dispõe sobre
o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR)excluiu as APPs e áreas de reserva legal da área
tributável pelo ITR.
Por fim, o Código Florestal dispõe que os proprietários e os possuidores rurais que detinham até 22
de julho de 2008 área de reserva legal em extensão inferior ao disposto naquela norma poderão regularizar
a sua situação, independentemente do Programa de Regularização Ambiental.
Nesse caso, para recomposição e adequação, poderão adotar as seguintes alternativas,
cumulativamente ou alternativamente:

• Recomposição da Reserva Legal, que deverá ser concluída em até 20 anos. A cada 2 anos, pelo
menos 10% dessa recomposição deve ter sido concluída.
• Regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal. Caso a perícia conclua que, diante
da paralisação da exploração a vegetação naturalmente se regenerará, então bastará essa
obrigação de não fazer.
• Compensação da Reserva Legal, que pode ser efetuada através da aquisição de cota da reserva
ambiental, arrendamento de área sobre servidão ambiental ou de reserva legal etc.

No caso das propriedades rurais, com no máximo 4 módulos ficais, que até 22/07/08 possuíam um
remanescente de vegetação nativa, não há obrigatoriedade de recomposição. Todavia, ficará vedada nova
conversão para uso alternativo do solo.

3.4. Apicuns e salgados

Apicuns são áreas de solo hipersalinos, situadas em regiões de marés superiores, que são inundadas
pelas marés e apresentam uma salinidade superior a 150 partes por 1.000. Há aqui uma espécie de brejo de
água salgada próximo ao mar. Salgados, por sua vez, são áreas situadas em regiões que sofrem inundações
intermediárias entre as marés. Nesses locais, o solo terá uma salinidade variável entre 100 a 150 partes por
1.000.
Tanto apicuns quanto salgados podem ser utilizados para atividades de carcinicultura e salinas.
Carcinicultura se trata de técnica de criação de camarões em cativeiros. Já salinas são áreas de produção de
sal marinho pela evaporação da água do mar ou de lagos de água salgada.
Permite-se a utilização de apicuns e salgados para carcinicultura e salinas, desde que observados os
seguintes requisitos:

Art. 11-A. [...]


§ 1º Os apicuns e salgados podem ser utilizados em atividades de carcinicultura e salinas,
desde que observados os seguintes requisitos:
I - área total ocupada em cada Estado não superior a 10% (dez por cento) dessa modalidade
de fitofisionomia no bioma amazônico e a 35% (trinta e cinco por cento) no restante do País,
excluídas as ocupações consolidadas que atendam ao disposto no § 6º deste artigo;
II - salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos
ecológicos essenciais a eles associados, bem como da sua produtividade biológica e
condição de berçário de recursos pesqueiros;

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

III - licenciamento da atividade e das instalações pelo órgão ambiental estadual,


cientificado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
Ibama e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da União, realizada
regularização prévia da titulação perante a União;
IV - recolhimento, tratamento e disposição adequados dos efluentes e resíduos;
V - garantia da manutenção da qualidade da água e do solo, respeitadas as Áreas de
Preservação Permanente; e
VI - respeito às atividades tradicionais de sobrevivência das comunidades locais.

3.5. Áreas de uso restrito

As áreas de uso restrito são uma das inovações do Código Florestal. Elas têm como objetivo proteger
o desenvolvimento do Pantanal e das planícies pantaneiras do Brasil.
Lembre-se que o Pantanal, que se estende pelos territórios do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, é
considerado patrimônio nacional pela CF/88.
Assim, o Código Florestal permitiu, nos pantanais e nas planícies pantaneiras, a exploração desde
que ecologicamente sustentável:

Art. 10. Nos pantanais e planícies pantaneiras, é permitida a exploração ecologicamente


sustentável, devendo-se considerar as recomendações técnicas dos órgãos oficiais de
pesquisa, ficando novas supressões de vegetação nativa para uso alternativo do solo
condicionadas à autorização do órgão estadual do meio ambiente, com base nas
recomendações mencionadas neste artigo.

Art. 11. Em áreas de inclinação entre 25º e 45º, serão permitidos o manejo florestal
sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como a manutenção da
infraestrutura física associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas práticas
agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de
utilidade pública e interesse social.

3.6. Áreas verdes urbanas

Nos termos da legislação florestal, são consideradas áreas verdes urbanas:

Art. 3º [...]
XX - área verde urbana: espaços, públicos ou privados, com predomínio de vegetação,
preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de
Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para construção de
moradias, destinados aos propósitos de recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental
urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de
bens e manifestações culturais;

A gestão das áreas verdes urbanas fica a cargo dos Municípios, que, de acordo com o Código Florestal,
contarão com instrumentos para o seu estabelecimento:

Art. 25. O poder público municipal contará, para o estabelecimento de áreas verdes
urbanas, com os seguintes instrumentos:
I - o exercício do direito de preempção para aquisição de remanescentes florestais
relevantes, conforme dispõe a Lei n.º 10.257, de 10 de julho de 2001;
II - a transformação das Reservas Legais em áreas verdes nas expansões urbanas;
III - o estabelecimento de exigência de áreas verdes nos loteamentos, empreendimentos
comerciais e na implantação de infraestrutura; e
IV - aplicação em áreas verdes de recursos oriundos da compensação ambiental.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

4. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

4.1. Introdução

Unidades de conservação são espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção. Foram regulamentados pela Lei Federal n.º 9.985/2000, a qual instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Essa norma previu 12 modalidades de unidades de conservação, que são divididas em Unidades de
Conservação de Proteção Integral e Unidades de Conservação de Uso Sustentável.
Podem ser criadas por lei ou por outro ato infralegal, no entanto, supressão ou alteração desses
espaços devem necessariamente ser precedidos por lei.

4.2. Estudos técnicos e consulta pública

A Lei n.º 9.985/2000 determina que a criação de uma Unidade de Conservação (UC) demanda a
elaboração de estudos técnicos e consulta pública. Excetua, contudo, as estações ecológicas e reservas
biológicas da realização de consultas públicas.
A realização de estudos técnicos e consultas públicas visa verificar o interesse de estabelecimento de
maiores níveis de proteção às áreas, bem como verificar a existência de interesse público na instituição da
unidade de conservação. A instituição de estações ecológicas e reservas biológicas, todavia, tem interesse
público presumido, por isso torna-se dispensável apenas a realização de consulta pública.
O STF já decidiu que a consulta pública não tem caráter vinculante, mas é de realização obrigatória,
sob pena de macular o ato de criação da unidade de conservação.

4.3. Órgãos responsáveis pela gestão do SNUC

O SNUC é constituído pelo conjunto das UC, que poderão ser federais, estaduais, distritais e
municipais (lembre-se que a proteção do meio ambiente é competência comum).
Assim, são órgãos responsáveis pela gestão do SNUC:

• Órgão consultivo e deliberativo: Conama.


• Órgão central: Ministério do Meio Ambiente;
• Órgãos executores: ICMBio, Ibama, em caráter supletivo, e os órgãos estaduais, distritais e
municipais.

4.4. Grupos de unidades de conservação

As unidades de conservação se dividem em dois grandes grupos:

• Unidades de conservação de proteção integral;


• Unidades de conservação de uso sustentável.

Unidades de conservação de proteção integral

Nessas unidades, admite-se apenas o uso indireto dos atributos naturais. Ou seja, os usos que não
envolvam consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais, como turismo ecológico e visitação,
por exemplo.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

Integram as unidades de conservação de proteção integral:

• Estação Ecológica: destina-se a realização de pesquisas científicas, sendo de posse de domínio


públicos.
• Reserva Biológica: tem por objetivo a preservação e proteção integral da biota. É de posse e
domínio públicos.
• Parque Nacional: objetiva a preservação de ecossistemas naturais e de grande relevância
ecológica ou beleza cênica. Admite a realização de pesquisas científicas, o desenvolvimento de
atividades de educação e interpretação ambiental, recreação e turismo ecológico. É de posse e
domínio públicos.
• Monumento Natural: visa a preservação de sítios naturais raros ou de grande beleza cênica.
Pode ser público ou particular.
• Refúgio da Vida Silvestre: busca proteger ambientes naturais, típicos de reprodução de espécies
ou comunidades da flora local ou da fauna, seja essa fauna residente ou migratória. Pode ser
público ou particular.

Unidades de conservação de uso sustentável

Essa modalidade de espaço territorial especialmente protegido permite o uso direto, o qual envolve
a coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais. Trata-se, portanto, de exploração sustentável da
área.
Tem por finalidade compatibilizar a exploração da natureza com a necessidade de assegurar a
perenidade dos recursos naturais.
São consideradas unidades de uso sustentável:

• Área de Proteção Ambiental (APA): é uma área em geral extensa, com certo grau de ocupação
humana, dotada de atributos importantes para a qualidade de vida e bem-estar das populações
humanas, visando a proteção do meio ambiente. Pode ser instituída em áreas públicas ou
particulares.
• Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE): cuida-se de área em geral de pequena extensão,
com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que
abriga espécies raras. Visa a manutenção de ecossistemas naturais de importância regional ou
local. Pode ocorrer em áreas públicas ou particulares.
• Floresta Nacional (FLONA): área pública com cobertura florestal predominantemente ocupada
por vegetação nativa, cujo objetivo básico relaciona-se ao uso múltiplo sustentável dos recursos
florestais e à pesquisa científica.
• Reserva Extrativista (RESEX): propriedade pública, utilizada por populações extrativistas
tradicionais que se valem dela para sua sobrevivência. Nesse local, é proibida a exploração de
recursos minerais e a caça, amadorista ou profissional. Tem por objetivos básicos a proteção dos
meios de vida e da cultura dessas populações, bem como assegurar o uso sustentável dos
recursos naturais.
• Reserva de Fauna: propriedade pública. Área com populações animais de espécies nativas, onde
se permite a exploração de recursos faunísticos (como, por exemplo, a extração de leite animal),
mas é proibida a caça, amadora ou profissional.
• Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS): propriedade pública, que se baseia em
sistemas sustentáveis de exploração, herdados de gerações anteriores. As populações que
ocupam a RDS têm direito à posse e ao uso da reserva, nos termos dispostos em contrato
firmado com o poder público.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

• Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN): propriedade particular, gravada com


perpetuidade. Objetiva conservar a diversidade biológica apenas sendo permitida a pesquisa e
visitação.

4.5. Zonas de amortecimento

Zona de amortecimento é o entorno de uma UC, onde as atividades humanas estão sujeitas a
normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade. A
zona de amortecimento, uma vez definida formalmente, não pode ser transformada em zona urbana.
Todas as unidades de conservação terão zonas de amortecimento, exceto áreas de proteção
ambiental e reservas particulares do patrimônio nacional.

4.6. Corredores ecológicos

São porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que


possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a
recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua
sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais.
Ficam dispensadas da criação de corredores ecológicos as áreas de proteção ambiental e as reservas
naturais do patrimônio natural. Nas demais unidades de conservação, haverá corredores ecológicos quando
se mostrar conveniente.

4.7. Mosaico

Dá-se quando existir um conjunto de UC de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou


sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas.
No caso do mosaico, a gestão deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se
os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a
valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional.

4.8. Plano de manejo

Plano de manejo pode ser conceituado como um documento técnico, mediante o qual se estabelece
o zoneamento da UC e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais,
inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.
O SNUC determina que todas as unidades de conservação devem dispor de um plano de manejo,
que abrangerá toda a área da UC, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas
com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.
O Plano de Manejo de uma UC deve ser elaborado no prazo de 5 anos a partir da data de sua criação.

4.9. Limitações administrativas de caráter provisório

Antes da criação da UC é preciso que haja limitações administrativas de caráter provisório,


vigorando durante o trâmite de estudos técnicos.
As limitações administrativas têm caráter temporário, com prazo máximo improrrogável de 7 meses.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

4.10. Compensação

No caso de atividade em UC que gere significativo impacto ambiental, é necessário que o poluidor
tenha licenciamento, devendo apoiar a manutenção de uma unidade de proteção integral, por meio de
indenização ou compensação pelo impacto ambiental. Cuida-se de materialização do princípio do usuário-
pagador.
Anteriormente, a lei consignava que o percentual a ser investido pelo empreendedor seria calculado
a partir do investimento realizado. No entanto, o STF decidiu ser inconstitucional a fixação de percentual
sobre os custos, uma vez que não se pode afirmar que o custo do investimento necessariamente tem relação
com impacto gerado.
Assim, a Corte fixou o entendimento de que o valor da indenização deve ser proporcional ao dano
que se dará pela exploração da UC, cabendo ao órgão ambiental licenciador da atividade definir quais serão
as UC beneficiadas com a compensação.
Quando o empreendimento afetar uma UC específica ou zona de amortecimento de uma UC
específica, o licenciamento só poderá ser concedido com autorização do órgão responsável por esta UC.
Nesse caso, a UC afetada, deverá ser uma das beneficiadas pela compensação, mesmo que não
pertencente ao grupo de unidades de conservação de proteção integral. Lembrando que a Lei determina que
as unidades de proteção integral serão as destinatárias do instituto da compensação.

4.11. Reservas da biosfera

A Reserva da Biosfera é um modelo internacional da UNESCO de gestão integrada, participativa e


sustentável dos recursos naturais, sendo reconhecida pelo Programa Intergovernamental "O Homem e a
Biosfera – MAB".
São constituídas por áreas de domínio público ou privado e têm como objetivos básicos a preservação
da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a
educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações.
No Brasil, a UNESCO já reconheceu como reserva da biosfera:

• Mata Atlântica;
• Cerrado;
• Cinturão Verde da Cidade de São Paulo;
• Pantanal Mato-Grossense;
• Caatinga;
• Amazônia Central;
• Serra do Espinhaço.

Art. 41. [...]


§ 1º A Reserva da Biosfera é constituída por:
I - uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza;
II - uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades que não
resultem em dano para as áreas-núcleo; e
III - uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o
manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em
bases sustentáveis.
§ 2º A Reserva da Biosfera é constituída por áreas de domínio público ou privado.
§ 3º A Reserva da Biosfera pode ser integrada por unidades de conservação já criadas pelo
Poder Público, respeitadas as normas legais que disciplinam o manejo de cada categoria
específica.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

§ 4º A Reserva da Biosfera é gerida por um Conselho Deliberativo, formado por


representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade civil e da população
residente, conforme se dispuser em regulamento e no ato de constituição da unidade.
§ 5º A Reserva da Biosfera é reconhecida pelo Programa Intergovernamental "O Homem e
a Biosfera – MAB", estabelecido pela Unesco, organização da qual o Brasil é membro.

5. MATA ATLÂNTICA

A Constituição Federal reconhece o bioma Mata Atlântica como patrimônio nacional, nos termos de
seu art. 225, § 4º. Assim, foi editada a Lei Federal n.º 11.428/2006, que dispõe sobre a utilização e proteção
da vegetação nativa desse bioma.

5.1. Florestas e ecossistemas associados ao Bioma Mata Atlântica

A Lei n.º 11.428/2006 elenca as formações florestais que integram a Mata Atlântica:

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se integrantes do Bioma Mata Atlântica as
seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados, com as respectivas
delimitações estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,
conforme regulamento: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também
denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional
Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as vegetações de
restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste.
Parágrafo único. Somente os remanescentes de vegetação nativa no estágio primário e nos
estágios secundário inicial, médio e avançado de regeneração na área de abrangência
definida no caput deste artigo terão seu uso e conservação regulados por esta Lei.

5.2. Objetivos da Lei do Bioma Mata Atlântica

Conforme preconiza o art. 6º da norma, a proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por
objetivo geral o desenvolvimento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da biodiversidade,
da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social.
Tem-se, portanto, que a mens legis da norma é conservar o que ainda existe de Mata Atlântica: pouco
mais de 8% da sua formação original.

5.3. Tutela legal do estágio da Mata Atlântica

A tutela legal do bioma variará de acordo com o estágio da vegetação da Mata Atlântica, que é
classificada pelo Conama como:

• Vegetação primária;
• Vegetação secundária em estágio avançado de regeneração;
• Vegetação secundária em estágio médio de regeneração;
• Vegetação secundária em estágio inicial de regeneração.

Ressalte-se que a classificação será mantida se houver incêndio, desmatamento ou qualquer tipo de
intervenção não autorizada ou não licenciada. Assim, realizada a classificação da área, não é possível que um
indivíduo a queime para desclassificá-la.

5.4. Corte e supressão de vegetação

Art. 11. O corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de
regeneração do Bioma Mata Atlântica ficam vedados quando:

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

I - a vegetação:
a) abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em território
nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas pela União ou pelos Estados, e a
intervenção ou o parcelamento puserem em risco a sobrevivência dessas espécies;
b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão;
c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em estágio
avançado de regeneração;
d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou
e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos competentes
do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA;
II - o proprietário ou posseiro não cumprir os dispositivos da legislação ambiental, em
especial as exigências da Lei n.º 4.771, de 15 de setembro de 1965, no que respeita às Áreas
de Preservação Permanente e à Reserva Legal.
Parágrafo único. Verificada a ocorrência do previsto na alínea a do inciso I deste artigo, os
órgãos competentes do Poder Executivo adotarão as medidas necessárias para proteger as
espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção caso existam fatores que o
exijam, ou fomentarão e apoiarão as ações e os proprietários de áreas que estejam
mantendo ou sustentando a sobrevivência dessas espécies.

Art. 14. A supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de


regeneração somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a
vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de
utilidade pública e interesse social, em todos os casos devidamente caracterizados e
motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto, ressalvado o disposto no inciso I do art. 30 e nos
§§ 1º e 2º do art. 31 desta Lei.
§ 1º A supressão de que trata o caput deste artigo dependerá de autorização do órgão
ambiental estadual competente, com anuência prévia, quando couber, do órgão federal ou
municipal de meio ambiente, ressalvado o disposto no § 2º deste artigo.
§ 2º A supressão de vegetação no estágio médio de regeneração situada em área urbana
dependerá de autorização do órgão ambiental municipal competente, desde que o
município possua conselho de meio ambiente, com caráter deliberativo e plano diretor,
mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual competente fundamentada em
parecer técnico.
§ 3º Na proposta de declaração de utilidade pública disposta na alínea b do inciso VII do art.
3º desta Lei, caberá ao proponente indicar de forma detalhada a alta relevância e o
interesse nacional.

Art. 23. O corte, a supressão e a exploração da vegetação secundária em estágio médio de


regeneração do Bioma Mata Atlântica somente serão autorizados:
I - em caráter excepcional, quando necessários à execução de obras, atividades ou projetos
de utilidade pública ou de interesse social, pesquisa científica e práticas preservacionistas;
II - (VETADO)
III - quando necessários ao pequeno produtor rural e populações tradicionais para o
exercício de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais imprescindíveis à sua
subsistência e de sua família, ressalvadas as áreas de preservação permanente e, quando
for o caso, após averbação da reserva legal, nos termos da Lei n.º 4.771, de 15 de setembro
de 1965 ;
IV - nos casos previstos nos §§ 1º e 2º do art. 31 desta Lei.

Art. 30. É vedada a supressão de vegetação primária do Bioma Mata Atlântica, para fins
de loteamento ou edificação, nas regiões metropolitanas e áreas urbanas consideradas
como tal em lei específica, aplicando-se à supressão da vegetação secundária em estágio
avançado de regeneração as seguintes restrições:
I - nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei, a supressão
de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração dependerá de prévia
autorização do órgão estadual competente e somente será admitida, para fins de
loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de
vegetação nativa em estágio avançado de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por

87
DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

cento) da área total coberta por esta vegetação, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17
desta Lei e atendido o disposto no Plano Diretor do Município e demais normas urbanísticas
e ambientais aplicáveis;
II - nos perímetros urbanos aprovados após a data de início de vigência desta Lei, é vedada
a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração do Bioma Mata
Atlântica para fins de loteamento ou edificação.

Art. 31. Nas regiões metropolitanas e áreas urbanas, assim consideradas em lei, o
parcelamento do solo para fins de loteamento ou qualquer edificação em área de
vegetação secundária, em estágio médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, devem
obedecer ao disposto no Plano Diretor do Município e demais normas aplicáveis, e
dependerão de prévia autorização do órgão estadual competente, ressalvado o disposto
nos arts. 11, 12 e 17 desta Lei.
§ 1º Nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei, a
supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração somente será
admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que
garantam a preservação de vegetação nativa em estágio médio de regeneração em no
mínimo 30% (trinta por cento) da área total coberta por esta vegetação.
§ 2º Nos perímetros urbanos delimitados após a data de início de vigência desta Lei, a
supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração fica condicionada à
manutenção de vegetação em estágio médio de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta
por cento) da área total coberta por esta vegetação.

Portanto, a supressão de vegetação primária para fins de loteamento ou edificação, em áreas


urbanas ou regiões metropolitanas, fica proibida.
Em síntese:

• Área de vegetação primária: proibida a supressão para loteamento e edificação;


• Área de vegetação secundária:
I. Estágio médio:
i. Perímetro urbano aprovado antes da Lei: pode suprimir, deixando 30%;
ii. Perímetro urbano delimitado após a Lei: pode suprimir, deixando 50%;
II. Estágio avançado:
i. Perímetro urbano aprovado antes da Lei: pode suprimir, deixando 50% (art. 30, I);
ii. Perímetro urbano delimitado após a Lei: proibida a supressão.

5.5. Exploração eventual

Exploração eventual, ou seja, consumo sem finalidade comercial, de recursos naturais provenientes
do bioma Mata Atlântica, por populações tradicionais ou pequenos produtores rurais, independe de
autorização dos órgãos ambientais:
Art. 9º A exploração eventual, sem propósito comercial direto ou indireto, de espécies da flora nativa,
para consumo nas propriedades ou posses das populações tradicionais ou de pequenos produtores rurais,
independe de autorização dos órgãos competentes, conforme regulamento.
Contudo, frise-se que, mesmo nesses casos, a exploração eventual não será admitida se estivermos
diante de espécies ameaçadas de extinção.

5.6. Medida de compensação ambiental

A compensação ambiental consiste na destinação de área equivalente à extensão da área desmatada,


que tenha as mesmas características ecológicas, que esteja na mesma bacia hidrográfica e, sempre que
possível, na mesma microbacia hidrográfica, e, nos casos previstos nos arts. 30 e 31, ambos da Lei, em áreas
localizadas no mesmo Município ou região metropolitana.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

Art. 17. O corte ou a supressão de vegetação primária ou secundária nos estágios médio ou
avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica, autorizados por esta Lei, ficam
condicionados à compensação ambiental, na forma da destinação de área equivalente à
extensão da área desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia
hidrográfica, sempre que possível na mesma microbacia hidrográfica, e, nos casos previstos
nos arts. 30 e 31, ambos desta Lei, em áreas localizadas no mesmo Município ou região
metropolitana.

A compensação ambiental prevista para o corte ou supressão de vegetação será indispensável para
concessão do licenciamento.
Assim, é necessário que o empreendedor:

• Destine uma área equivalente à área que será desmatada;


• A área deverá ter características ecológicas semelhantes à área desmatada;
• A área deve estar na mesma bacia hidrográfica;
• Se possível, localizar-se na mesma microbacia hidrográfica.

Se não for possível a compensação ambiental, o empreendedor deve promover a reposição florestal
com espécies nativas, em área equivalente à desmatada, na mesma bacia hidrográfica e, sempre que possível
na mesma microbacia hidrográfica.

6. JURISPRUDÊNCIA

6.1. STJ

1. O art. 15 do Código Florestal não se aplica para situações consolidadas antes de


sua vigência

O art. 15 da Lei n.º 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente no
cálculo do percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar situações
consolidadas antes de sua vigência.
Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a
aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental. (STJ,
REsp 1.646.193 – Informativo 673).

2. Código Florestal define faixa não edificável a partir de curso d’água em áreas
urbanas, não se aplicando os limites menores previstos na Lei do Parcelamento do
Solo Urbano

Na vigência do novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012), a extensão não edificável nas Áreas de
Preservação Permanente de qualquer curso d'água, perene ou intermitente, em trechos caracterizados como
área urbana consolidada, deve respeitar o que disciplinado pelo seu art. 4º, caput, inciso I, alíneas a, b, c, d e
e, a fim de assegurar a mais ampla garantia ambiental a esses espaços territoriais especialmente protegidos
e, por conseguinte, à coletividade. (STJ, REsp 1.770.760, Tema 1010, Informativo 694)

3. A legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal


dos cursos d'água, em toda sua extensão, fixado pelo Código Florestal

A norma federal conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal apenas intensificar
o grau de proteção às margens dos cursos d'água, ou quando muito, manter o patamar de proteção (jamais
reduzir a proteção ambiental).

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(STJ. 2ª Turma. AREsp 1312435-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 07/02/2019 - Informativo
643).

4. O art. 15 da Lei n.º 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação


permanente no cálculo do percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não
retroage para alcançar situações consolidadas antes de sua vigência

Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a
aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental.
(STJ. 1ª Turma. REsp 1646193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de
Faria, julgado em 12/05/2020 - Informativo 673).

6.2. STF

1. Possibilidade de ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros por


meio de decreto presidencial. Desnecessidade de realização de audiências públicas
em todos os Municípios envolvidos

A criação/aumento de unidades de conservação deverá ser precedida de estudos técnicos e de


consulta pública que possam permitir a identificação da localização, dimensão e os limites da unidade nos
termos dos §§ 2º, 3º e 6º do art. 22 da Lei n.º 9.985/2000.
O STF tem entendimento no sentido de que, apesar da não realização de audiência pública em todos os
municípios envolvidos, mas desde que haja a devida publicidade, bem como o cumprimento das disposições
legais das normas que regem a questão, não há que se falar na existência de ilegalidade. (STF, MS 35.232)

2. É inconstitucional a redução ou supressão de unidade de conservação por meio


de medida provisória

O STF entendeu ser inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente


protegidos, como as unidades de conservação, por meio de medida provisória, por violar o art. 225, § 1º, III,
da CF/88. Desse modo, tem-se que a redução ou a supressão desses espaços somente é permitida mediante
lei em sentido estrito. (STF, ADI 4.717/DF – Informativo 896)

3. Constitucionalidade do Novo Código Florestal (Lei n.º 12.651/2012)

O STF decidiu:

1. declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias


à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”, contidas no art.
3º, VIII, b, do novo Código Florestal;
2. dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, de modo a se condicionar a
intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública, à inexistência de
alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta;
3. dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para fixar a
interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes configuram
área de preservação permanente;
4. declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no art. 3º,
parágrafo único;

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

5. dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir compensação apenas
entre áreas com identidade ecológica;
6. dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a afastar, no decurso
da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de regularização ambiental,
o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais praticados antes de 22.7.2008,
seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se extensivamente o disposto no § 1º do art. 60
da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a prescrição ficará interrompida durante o período de
suspensão da pretensão punitiva”;
7. que todos os demais dispositivos do novo Código Florestal são constitucionais.

(STF, ADC 42/DF, ADI 4.901/DF. ADI 4.902/DF, ADI 4.903/DF e ADI 4.937/DF – Informativo 892)

QUESTÕES
1. (VUNESP/TJ-SP/Juiz de Direito Substituto/2021). Considerando, de um lado, a necessidade de garantia
da melhor e mais eficaz preservação do meio ambiente natural e do meio ambiente artificial, e, de outro, a
superveniência da Lei n.º 13.913/2019, que suprimiu a expressão “... salvo maiores exigências da legislação
específica”, concluiu-se que

a) pode ser dito que há conflito entre o direito de propriedade e a proteção jurídica do meio ambiente,
atentando para a compreensão sistemática dos institutos, o que deve ser resolvido de modo a causar o
mínimo prejuízo ao particular.
b) o novo código florestal, ao prever medidas mínimas superiores para as faixas marginais de qualquer curso
d’agua natural perene e intermitente, não pode reger a proteção das APPs ciliares ou ripárias em áreas
urbanas consolidadas, espaços territoriais especialmente protegidos (artigo 225, III, da CF/1988), que
não se condicionam a fronteiras entre os meios rural e o urbano.
c) as alterações que importam diminuição da proteção dos ecossistemas abrangidos pelas unidades de
conservação não implicam possibilidade de reconhecimento de retrocesso ambiental, pois não atingem
o núcleo essencial do direito fundamental ao meio ambiente equilibrado.
d) na vigência do novo código florestal, a extensão não edificável nas áreas de preservação permanente de
qualquer curso d’agua, perene ou intermitente, em trechos caracterizados como área urbana
consolidada, deve respeitar o disciplinado no seu artigo 4º, caput, inciso I, alíneas a, b, c, d e e, a fim de
assegurar a mais ampla garantia ambiental a esses espaços territoriais especialmente protegidos e,
consequentemente, a toda sociedade.

2. (MPE-RS/MPE-RS/Promotor de Justiça/2021). Assinale a assertiva INCORRETA.

a) Para os imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno
de lagos e lagoas naturais, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo
ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição de faixa marginal, de acordo com as metragens
definidas em lei.
b) A lei admite a regularização fundiária de interesse social dos núcleos urbanos informais que ocupam
Áreas de Preservação Permanente, desde que haja aprovação do projeto de regularização fundiária, que
deverá incluir estudo técnico que demonstre a melhoria das condições ambientais em relação à situação
anterior com a adoção das medidas nele preconizadas.
c) Configuram Área de Preservação Permanente as áreas no entorno das nascentes e olhos d’água perenes,
em um raio de, no mínimo, cinquenta metros, não sendo consideradas Área de Preservação Permanente
aquelas situadas no entorno de nascentes e olhos d’água intermitentes.
d) Configuram Área de Preservação Permanente as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais,
decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença
ambiental do empreendimento.

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e) É admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal
do imóvel, desde que não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo, a área a
ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação e o proprietário ou possuidor tenha
requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural.

3. (MPE-RS/MPE-RS/Promotor de Justiça/2021). Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as seguintes


afirmações.
( ) O objetivo básico das Unidades de Conservação de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo
admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, ao passo que o objetivo básico das Unidades de
Conservação de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de
parcela dos seus recursos naturais.
( ) Os Parques Nacionais são Unidades de Conservação de Proteção Integral, de posse e domínio público,
que permitem a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e
interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.
( ) A Área de Proteção Ambiental é Unidade de Conservação de Uso Sustentável situada exclusivamente em
área pública, que permite certo grau de ocupação humana e tem como objetivos básicos proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos
naturais.
( ) A Reserva Particular do Patrimônio Natural é Unidade de Conservação de Uso Sustentável situada em área
privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica, na qual só poderá
ser permitida a pesquisa científica e a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.
( ) As áreas de Reserva Legal são Unidades de Conservação de Uso Sustentável localizadas no interior de uma
propriedade ou posse rural, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos
naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a
conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – V – F – V – F.
b) V – V – V – F – F.
c) F – F – V – V – V.
d) F – V – F – F – V.
e) F – F – V – V – F.

4. (CESPE/TC-DF/Procurador/2021). A respeito de responsabilidade ambiental, de áreas de preservação


permanente e de servidão ambiental, julgue o item a seguir.
A restrição à utilização da propriedade referente a área de preservação permanente em parte de imóvel
urbano afasta a incidência do imposto predial e territorial urbano (IPTU).

5. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Um cidadão, por descuido, iniciou um incêndio


em sua propriedade, situada em área rural coberta pelo bioma campos, o que resultou na destruição da
vegetação nativa de outras duas propriedades vizinhas.
A respeito da situação hipotética apresentada e de aspectos legais a ela relacionados, julgue o próximo item.
O cidadão deverá recompor 20% da vegetação nativa da área destruída pelo incêndio, a título de área de
preservação permanente (APP).

6. (CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-CE/2020). Considerando que haja interesse do poder público


em permitir uma atividade de recuperação de áreas contaminadas dentro da Estação Ecológica do Pecém,
unidade de conservação do estado do Ceará localizada nos municípios de São Gonçalo do Amarante e
Caucaia, assinale a opção correta.

a) Eventual licenciamento ambiental deverá ser solicitado ao Ibama, por se tratar de uma estação ecológica.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

b) A atividade de recuperação de áreas contaminadas está dispensada de licenciamento ambiental,


segundo resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente.
c) A estação ecológica é uma unidade de conservação com o objetivo de preservação da natureza e de
visitação pública, de modo que a descontaminação da área possibilitará a cobrança de tarifa dos
visitantes.
d) A estação ecológica é uma espécie de unidade de conservação de proteção integral, sendo exigido
licenciamento ambiental para a atividade de recuperação.
e) A estação ecológica é uma área de preservação permanente, de uso restrito, por isso a atividade de
recuperação dispensa licenciamento ambiental.

7. (IESES/Prefeitura de São José-SC/Procurador Municipal/2019). Assinale a alternativa correta:

a) Unidades de Conservação da Natureza são sempre de proteção integral.


b) Áreas de preservação permanente independem de sua função ecológica para serem caracterizadas como
tais e admitem intervenção em qualquer caso.
c) A reserva legal só se aplica aos imóveis urbanos.
d) O Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV é um instrumento da política urbana previsto na Lei n.
10.257/01.

8. (CESPE/Prefeitura de Campo Grande - MS/Procurador Municipal/2019). Acerca de tutela processual do


meio ambiente, de crimes ambientais e de espaços territoriais especialmente protegidos, julgue o item que
se segue:
As populações tradicionais residentes em unidades de conservação deverão ser, obrigatoriamente,
realocadas pelo poder público e, por conseguinte, indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes
no local onde habitavam.

9. (FUNDEP/Promotor de Justiça Substituto/MPE-MG/2019). Assinale a alternativa incorreta:


a) É condição de validade dos contratos que tenham por objeto a prestação de serviços públicos de
saneamento básico a existência de plano de saneamento básico.
b) A área de uma unidade de conservação é considerada zona rural, para os efeitos legais, e sua zona de
amortecimento, uma vez definida formalmente, não pode ser transformada em zona urbana.
c) Os Municípios que pretendam ampliar o seu perímetro urbano deverão elaborar projeto específico que
contenha, entre outras exigências, a definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus
e benefícios decorrentes do processo de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação
para a coletividade da valorização imobiliária resultante da ação do poder público.
d) A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal não desobriga o
proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só será extinta
concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanos aprovado segundo a
legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor.
10. (FCC/SANASA/Procurador Jurídico/2019). Segundo a legislação federal vigente, as unidades de
conservação integrantes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza dividem-se em dois
grupos com características específicas. Um desses grupos é composto por Unidades de

a) Regeneração de Ecossistema, na qual se incluem o Refúgio de Vida Silvestre, a Reserva Particular do


Patrimônio Natural e o Parque Nacional.
b) Proteção da Biodiversidade, no qual se incluem o Monumento Natural, o Refúgio de Vida Silvestre e a
Reserva de Fauna.
c) Proteção Integral, no qual se incluem a Estação Ecológica, a Reserva Particular do Patrimônio Natural e
o Santuário Ecológico.
d) Uso Sustentável, no qual se incluem a Floresta Nacional, a Reserva de Fauna e a Reserva de
Desenvolvimento Sustentável.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

e) Manejo Restrito, no qual se incluem a Área de Proteção Ambiental, a Área de Relevante Interesse
Ecológico e a Reserva Extrativista.

11. (VUNESP/Prefeitura de São Roque - SP/Advogado/2020). Segundo a Lei n° 12.651/2012, as faixas


marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da
calha do leito regular, em largura mínima de 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez)
metros de largura, em zonas rurais ou urbanas, são consideradas áreas de

a) reserva biológica.
b) preservação permanente.
c) manejo sustentável.
d) reserva legal.
e) conservação ambiental.

12. (CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2019). Rafael é proprietário de um imóvel rural com vegetação
de floresta no estado do Pará. Esse imóvel deixou de ter área de reserva legal porque o proprietário anterior
a suprimiu. Nessa situação, Rafael

a) não tem obrigação de reflorestar a referida área, porque não foi ele quem causou a degradação.
b) deve reflorestar 50% de sua propriedade.
c) deve reflorestar 30% de sua propriedade.
d) deve reflorestar 80% de sua propriedade.
e) deve reflorestar 20% de sua propriedade.

13. (VUNESP/Câmara de Mauá/Procurador Legislativo/2019). Nos termos da Lei no 12.651/2012, assinale


a alternativa correta.

a) As restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues, são consideradas Área de


Preservação Permanente.
b) É vedada a intervenção ou a supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente, ainda que
nas hipóteses de interesse social ou de baixo impacto ambiental.
c) É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução regular de atividade de
segurança nacional e obras de interesse da defesa civil.
d) A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal desobriga o proprietário
ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal.
e) O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial independe de
autorização do órgão competente.

COMENTÁRIOS
1. A Lei n.º 13.913/2019 alterou a Lei n.º 6.766/1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano,
alterando regras da faixa não edificável para permitir a regularização fundiária em locais até então proibidos
à regularização de moradias. Não alterou, no entanto, a faixa não edificável ao longo das águas correntes e
dormentes e da faixa de domínio das ferrovias, mantendo-se a obrigatoriedade de reserva de 15 metros de
cada lado.
Nesse sentido, a Primeira Seção do STJ, em 2021, ao julgar o Tema 1.010, nos autos do REsp 1.770.760/SC,
consolidou a tese de que “Na vigência do novo Código Florestal (Lei n.º 12.651/2012), a extensão não
edificável nas Áreas de Preservação Permanente de qualquer curso d'água, perene ou intermitente, em
trechos caracterizados como área urbana consolidada, deve respeitar o que disciplinado pelo seu art. 4º,
caput, inciso I, alíneas a, b, c, d e e, a fim de assegurar a mais ampla garantia ambiental a esses espaços
territoriais especialmente protegidos e, por conseguinte, à coletividade”.
Portanto, o gabarito da questão é a letra D.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

2. Comentários
A letra A está correta, nos termos do art. 61-A, § 5º, do Código Florestal.
A letra B está certa, conforme § 1º do art. 64 do Código Florestal.
A letra C está incorreta e é o gabarito da questão. A primeira da parte do enunciado revela a regra insculpida
no art. 4º, IV, do Código Florestal, no sentido de que se considera área de preservação permanente o raio
mínimo de 50m ao redor de nascentes e olhos d’água perenes. No entanto, a segunda parte da assertiva, ao
dispor que as áreas situadas ao redor de nascentes e olhos d’água intermitentes não são consideradas áreas
de preservação permanente, incorre em erro, já que destoa do entendimento conferido pelo STF ao referido
inciso IV do art. 4º no julgamento das ADC 42/DF, ADI 4.901/DF, ADI 4.902/DF, ADI 4.903/DF e ADI 4.937/DF.
A letra D está correta e reproduz o inciso III do art. 4º do Código Florestal.
A letra E está correta e expõe o que positivado no art. 15, I, II e III, do Código Florestal.

3. Comentários
O item I está correto e reflete o conteúdo do art. 2º, VI; art. 7º, §§1º e 2º, do SNUC, que definem os objetivos
básicos das unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável.
O item II está certo, já que reproduz o art. 11 do SNUC que trata da unidade de conservação de proteção
integral consubstanciada em parque nacional.
O item III está errado já que as APAs podem ser instituídas em terras públicas ou privadas, conforme dispõe
o art. 15 do SNUC.
O item IV está certo conforme estabelece o art. 21 do SNUC, sobre Reservas Particulares do Patrimônio
Natural.
O item V está errado, pois a reserva legal não é unidade de conservação, embora seja um espaço territorial
especialmente protegido. Trata-se do percentual mínimo de preservação de propriedades ou posses rurais
com vegetação nativa.
Portanto, o gabarito da questão é a letra A.

4. O art. 41, II, c, do Código Florestal, permite a dedução das Áreas de Preservação Permanentes, de Reserva
Legal e de uso restrito da base de cálculo do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR). Para tanto,
nos termos do art. 10, §1º, II, “a”, da Lei n.º 9.393/96, exige-se a prévia averbação da área de reserva legal
no registro do imóvel, conforme decidido pelo STJ (Informativo 533).
Com relação à incidência de Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU), o STJ entendeu
que “a restrição à utilização da propriedade referente a área de preservação permanente em parte de imóvel
urbano (loteamento) não afasta a incidência do Imposto Predial e Territorial Urbano, uma vez que o fato
gerador da exação permanece íntegro, qual seja, a propriedade localizada na zona urbana do município”
(REsp 1.128.981/SP).
Portanto, o item está errado.

5. O item está errado, porquanto o Código Florestal define percentuais de manutenção de área com
cobertura de vegetação nativa a título de reserva legal, conforme art. 12.

6. Comentários
A alternativa A está errada. A competência para licenciamento ambiental de unidade de conservação, em
regra, cabe ao órgão ambiental do ente federativo que a instituiu. A exceção, nos termos da LC n.º 140/2011,
está apenas nas APAs.
A alternativa B está incorreta, pois a Resolução Conama 237/97 elenca, em seu Anexo I, que a recuperação
de áreas contaminadas ou degradadas tem o licenciamento ambiental como obrigatório, como serviço de
utilidade.
A alternativa C está errada, porquanto a estação ecológica não tem como objetivo a visitação pública, mas a
realização de pesquisas científicas, conforme art. 9º do SNUC.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão.

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

A alternativa E está errada, pois a estação ecológica não é, necessariamente, uma APP (conforme
conceituado no Código Florestal). A APP é definida conforme sua localização, nos termos da Lei n.º
12.651/2012.

7. Comentários
A alternativa A está incorreta. As unidades de conservação podem ser de proteção integral ou de uso
sustentável.
A alternativa B está incorreta, pois as áreas de preservação permanente, conforme art. 3º, II, do Código
Florestal (Lei n.º 12.651/2012), são áreas que possuem função ambiental e a intervenção nesses locais está
sujeita à observância das limitações impostas pela legislação.
A alternativa C está incorreta, uma vez que a reserva legal se aplica somente aos imóveis rurais, conforme
art. 3º, III, do Código Florestal.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 4º da Lei n.º 10.257/2001 (Estatuto das
Cidades).

8. O item está errado. Veja o teor do art. 42 do SNUC:


Art. 42. As populações tradicionais residentes em unidades de conservação nas quais sua
permanência não seja permitida serão indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias
existentes e devidamente realocadas pelo Poder Público, em local e condições acordados
entre as partes.

A lei determina que as populações tradicionais só serão realocadas caso sua presença não seja possível no
local. Ou seja, não se trata de realocação obrigatória, como faz crer o enunciado.

9. A alternativa A está correta, conforme art. 11 da Lei 11.445/2007:


Art. 11. São condições de validade dos contratos que tenham por objeto a prestação de
serviços públicos de saneamento básico:
I - a existência de plano de saneamento básico;

A alternativa B está incorreta e é o gabarito da questão, conforme art. 49 da Lei n.º 9.985/2000:
Art. 49. A área de uma unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral é considerada
zona rural, para os efeitos legais.
Parágrafo único. A zona de amortecimento das unidades de conservação de que trata este
artigo, uma vez definida formalmente, não pode ser transformada em zona urbana.

A alternativa C está correta, conforme art. 42-B, VII, da Lei n.º 10.257/2001:
Art. 42-B. Os Municípios que pretendam ampliar o seu perímetro urbano após a data de
publicação desta Lei deverão elaborar projeto específico que contenha, no mínimo:
[...]
VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios
decorrentes do processo de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação
para a coletividade da valorização imobiliária resultante da ação do poder público.

A alternativa D está correta, conforme art. 19 da Lei n.º 12.651/2012:


Art. 19. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal
não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só
será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanos
aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que
trata o § 1º do art. 182 da Constituição Federal.

10. O SNUC determina que as unidades de conservação são divididas em unidades de proteção integral
(monumento natural, refúgio da vida silvestre, estação ecológica, parque nacional e reserva biológica) e
unidades de uso sustentável (área de proteção ambiental, floresta nacional, área de relevante interesse

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DANIELA ADAMEK ESPAÇOS TERRITORIAS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS • 6

ecológico, reserva extrativista, reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentável e reserva particular
do patrimônio natural). Assim, a alternativa correta é a letra D.

11. Definição trazida pelo art. 4º do Código Florestal, o qual conceitua as áreas de preservação permanente.
Portanto, o gabarito da questão está na letra B.

12. Inicialmente, tem-se que o Estado do Pará está localizado na Amazônia Legal, conforme art. 3º, I, do
Código Florestal. Portanto, a área de reserva legal obrigatória deverá observar o teor do art. 12, I, da norma,
que determina que, nos imóveis localizados na Amazônia Legal, a reserva legal deverá compreender:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
Logo, considerando que o enunciado estabelece que a propriedade está em situada em área de floresta, a
resposta está na alternativa D.

13. A alternativa A está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 4º, VII, do Código Florestal:
Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os
efeitos desta Lei:
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

A alternativa B está incorreta, já que o Código Florestal, em seu art. 8º, permite a intervenção em APP nas
hipóteses de interesse social, baixo impacto ambiental e utilidade pública.
A alternativa C está errada, pois o § 3º do art. 7º, do Código Florestal, determina que a dispensa ocorre
apenas em casos de urgência e não para a execução regular:
§ 3º É dispensada a autorização do órgão ambiental competente para a execução, em
caráter de urgência, de atividades de segurança nacional e obras de interesse da defesa civil
destinadas à prevenção e mitigação de acidentes em áreas urbanas.

A alternativa D está errada, pois não há essa desobrigação, conforme art. 19 do Código Florestal:
Art. 19. A inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal
não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só
será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanos
aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor de que
trata o § 1º do art. 182 da Constituição Federal.

A alternativa E está incorreta, pois o manejo florestal depende de autorização do órgão competente. A
propósito, veja o teor do art. 22 do Código Florestal:

Art. 22. O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito
comercial depende de autorização do órgão competente e deverá atender as seguintes
diretrizes e orientações: [...]

97
DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

7 PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO

98
DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

1. INTRODUÇÃO

O art. 216 da CF/88 consigna que constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
Os incisos do art. 216 trazem alguns exemplos daquilo que é considerado patrimônio cultural
brasileiro:

I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.

Tratando-se do gênero meio ambiente, a competência para a proteção do patrimônio cultural é


comum dos entes federados, nos termos do art. 23 da CF/88:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
[...]
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens
de valor histórico, artístico ou cultural;
[...]
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

Aos Estados e ao DF é facultado vincular um fundo estadual ao fomento da cultura até 0,5% da
receita tributária líquida, conforme §6º do art. 216, incluído pela EC 42/03, para o financiamento de
programas e projetos culturais. Nesse caso, fica vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:

• despesas com pessoal e encargos sociais;


• serviço da dívida;
• qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações
apoiados.

2. PLANO NACIONAL DE CULTURA, SISTEMA NACIONAL DE CULTURA,


POLÍTICA NACIONAL DE CULTURA VIVA E INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO

2.1. Plano Nacional de Cultura

A EC 48/05 inseriu o §3º ao art. 215 da CF, instituindo o chamado Plano Nacional de Cultura. Esse
plano deve ser estabelecido por lei, tendo como objetivos a defesa e valorização do patrimônio cultural
brasileiro; a produção, promoção e difusão de bens culturais; a formação de pessoal qualificado para a gestão
da cultura em suas múltiplas dimensões; a democratização do acesso aos bens de cultura, e a valorização da
diversidade étnica e regional.
Nesse sentido, a Lei n.º 12.343/2010 foi editada para instituir o referido Plano Nacional de Cultura
(PNC). Essa lei também criou o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais.
Alteração recente, promovida pela Lei 14.156/2021, determinou que o Plano Nacional de Cultura, o
qual, pela redação anterior tinha validade decenal (10 anos), tenha, agora, validade de 12 anos. Ele tem
como princípios e objetivos:

99
DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

Art. 1º Fica aprovado o Plano Nacional de Cultura (PNC), em conformidade com o § 3º do


art. 215 da Constituição Federal, constante do Anexo desta Lei, com duração de 12 (doze)
anos e regido pelos seguintes princípios:
I - liberdade de expressão, criação e fruição;
II - diversidade cultural;
III - respeito aos direitos humanos;
IV - direito de todos à arte e à cultura;
V - direito à informação, à comunicação e à crítica cultural;
VI - direito à memória e às tradições;
VII - responsabilidade socioambiental;
VIII - valorização da cultura como vetor do desenvolvimento sustentável;
IX - democratização das instâncias de formulação das políticas culturais;
X - responsabilidade dos agentes públicos pela implementação das políticas culturais;
XI - colaboração entre agentes públicos e privados para o desenvolvimento da economia da
cultura;
XII - participação e controle social na formulação e acompanhamento das políticas culturais.

Art. 2º São objetivos do Plano Nacional de Cultura:


I - reconhecer e valorizar a diversidade cultural, étnica e regional brasileira;
II - proteger e promover o patrimônio histórico e artístico, material e imaterial;
III - valorizar e difundir as criações artísticas e os bens culturais;
IV - promover o direito à memória por meio dos museus, arquivos e coleções;
V - universalizar o acesso à arte e à cultura;
VI - estimular a presença da arte e da cultura no ambiente educacional;
VII - estimular o pensamento crítico e reflexivo em torno dos valores simbólicos;
VIII - estimular a sustentabilidade socioambiental;
IX - desenvolver a economia da cultura, o mercado interno, o consumo cultural e a
exportação de bens, serviços e conteúdos culturais;
X - reconhecer os saberes, conhecimentos e expressões tradicionais e os direitos de seus
detentores;
XI - qualificar a gestão na área cultural nos setores público e privado;
XII - profissionalizar e especializar os agentes e gestores culturais;
XIII - descentralizar a implementação das políticas públicas de cultura;
XIV - consolidar processos de consulta e participação da sociedade na formulação das
políticas culturais;
XV - ampliar a presença e o intercâmbio da cultura brasileira no mundo contemporâneo;
XVI - articular e integrar sistemas de gestão cultural.
XVII - monitorar, acompanhar e avaliar atividades, programas e políticas culturais
relacionados à ocorrência de estado de calamidade pública de alcance nacional. (Incluído
pela Lei n.º 14.156, de 2021)

2.2. Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais

A Lei n.º 12.343/10, em seu art. 9º, criou o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais
– SNIIC.
Os objetivos desse sistema são:

I - coletar, sistematizar e interpretar dados, fornecer metodologias e estabelecer


parâmetros à mensuração da atividade do campo cultural e das necessidades sociais por
cultura, que permitam a formulação, monitoramento, gestão e avaliação das políticas
públicas de cultura e das políticas culturais em geral, verificando e racionalizando a
implementação do PNC e sua revisão nos prazos previstos;
II - disponibilizar estatísticas, indicadores e outras informações relevantes para a
caracterização da demanda e oferta de bens culturais, para a construção de modelos de
economia e sustentabilidade da cultura, para a adoção de mecanismos de indução e
regulação da atividade econômica no campo cultural, dando apoio aos gestores culturais
públicos e privados;

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DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

III - exercer e facilitar o monitoramento e avaliação das políticas públicas de cultura e das
políticas culturais em geral, assegurando ao poder público e à sociedade civil o
acompanhamento do desempenho do PNC.

2.3. Sistema Nacional de Cultura

A EC 71/12 inseriu o art. 216-A na Constituição Federal, que prevê o Sistema Nacional de Cultura, o
qual deve ser disciplinada por lei federal.
De acordo com o art. 216-A, o Sistema Nacional de Cultura deve ser organizado em regime de
colaboração, de forma descentralizada e participativa, instituindo um processo de gestão e promoção
conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas e permanentes, mediante pacto entre os entes da
Federação e a sociedade.
O objetivo do Sistema Nacional de Cultura é promover o desenvolvimento humano, social e
econômico com pleno exercício dos direitos culturais.
O Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se na Política Nacional de Cultura, devendo observar os
seguintes princípios:

§ 1º [...]
I - diversidade das expressões culturais;
II - universalização do acesso aos bens e serviços culturais;
III - fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento e bens culturais;
IV - cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e privados atuantes na área
cultural;
V - integração e interação na execução das políticas, programas, projetos e ações
desenvolvidas;
VI - complementaridade nos papéis dos agentes culturais;
VII - transversalidade das políticas culturais;
VIII - autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil;
IX - transparência e compartilhamento das informações;
X - democratização dos processos decisórios com participação e controle social;
XI - descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações;
XII - ampliação progressiva dos recursos contidos nos orçamentos públicos para a cultura.

2.4. Política Nacional de Cultura Viva

Posteriormente, foi editada a Lei n.º 13.018/2014 que aprovou a Política Nacional de Cultura Viva.
Trata-se de uma parceria entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios com a sociedade civil, no
campo da cultura, e tem como objetivo a ampliação do acesso da população brasileira às condições de
exercício dos direitos culturais.
Os objetivos trazidos pela lei para a Política Nacional de Cultura Viva são:

Art. 2º: [...]


I - garantir o pleno exercício dos direitos culturais aos cidadãos brasileiros, dispondo-lhes os
meios e insumos necessários para produzir, registrar, gerir e difundir iniciativas culturais;
II - estimular o protagonismo social na elaboração e na gestão das políticas públicas da
cultura;
III - promover uma gestão pública compartilhada e participativa, amparada em mecanismos
democráticos de diálogo com a sociedade civil;
IV - consolidar os princípios da participação social nas políticas culturais;
V - garantir o respeito à cultura como direito de cidadania e à diversidade cultural como
expressão simbólica e como atividade econômica;
VI - estimular iniciativas culturais já existentes, por meio de apoio e fomento da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
VII - promover o acesso aos meios de fruição, produção e difusão cultural;

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DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

VIII - potencializar iniciativas culturais, visando à construção de novos valores de


cooperação e solidariedade, e ampliar instrumentos de educação com educação;
IX - estimular a exploração, o uso e a apropriação dos códigos, linguagens artísticas e
espaços públicos e privados disponibilizados para a ação cultural.

A Política Nacional de Cultura Viva tem como beneficiária a sociedade e, prioritariamente, os povos,
grupos, comunidades e populações em situação de vulnerabilidade social. Esses grupos são aqueles com
reduzido acesso aos meios de produção, registro, fruição e difusão cultural, que requeiram maior
reconhecimento de seus direitos humanos, sociais e culturais ou quando estiver caracterizada ameaça a sua
identidade cultural.
São instrumentos da Política Nacional de Cultura Viva:

Art. 4º [...]:
I - pontos de cultura: entidades jurídicas de direito privado sem fins lucrativos, grupos ou
coletivos sem constituição jurídica, de natureza ou finalidade cultural, que desenvolvam e
articulem atividades culturais em suas comunidades;
II - pontões de cultura: entidades com constituição jurídica, de natureza/finalidade cultural
e/ou educativa, que desenvolvam, acompanhem e articulem atividades culturais, em
parceria com as redes regionais, identitárias e temáticas de pontos de cultura e outras redes
temáticas, que se destinam à mobilização, à troca de experiências, ao desenvolvimento de
ações conjuntas com governos locais e à articulação entre os diferentes pontos de cultura
que poderão se agrupar em nível estadual e/ou regional ou por áreas temáticas de interesse
comum, visando à capacitação, ao mapeamento e a ações conjuntas;
III - Cadastro Nacional de Pontos e Pontões de Cultura: integrado pelos grupos, coletivos e
pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que desenvolvam ações culturais e
que possuam certificação simplificada concedida pelo Ministério da Cultura.

Os pontos e pontões de cultura constituem elos entre a sociedade e o Estado, com o objetivo de
desenvolver ações culturais sustentadas pelos princípios da autonomia, do protagonismo e da capacitação
social das comunidades locais. Poderão estabelecer parceria e intercâmbio com as escolas e instituições da
rede de educação básica, do ensino fundamental, médio e superior, do ensino técnico e com entidades de
pesquisa e extensão. Para recebimento de recursos públicos, os pontos e pontões de cultura serão
selecionados por edital público. A ideia é estimular as manifestações culturais de cada sociedade.

2.5. Instrumentos de proteção

Na esfera federal foi criado o IPHAN, que é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Trata-se de autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, que tem como competência a proteção,
fiscalização, promoção e estudo do patrimônio cultural brasileiro.
A CF, em seu art. 216, §1º, traz um rol exemplificativo de defesa do patrimônio cultural brasileiro,
que se dará por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação.
Basicamente, inventariar é listar, sendo o inventário uma espécie de listas dos bens culturais que
temos.
Vigilância, por sua vez, cuida-se do ato de vigiar, mediante a contratação de pessoas para prevenir a
pichação em prédios tombados.
A desapropriação, a seu turno, é uma modalidade supressiva de intervenção do Estado na
propriedade. É uma medida extrema de proteção do bem cultural. Nesses casos, o fundamento é a utilidade
pública, devendo o sujeito receber a indenização em dinheiro.
Por fim, o registro e o tombamento são os mais utilizados, motivo pelo qual serão tratados
individualmente.

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DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

2.5.1. Registro

Registro é instrumento de proteção de bens culturais imateriais, ao contrário do tombamento, que


é de bens culturais materiais.
Na esfera federal, conforme Decreto 3.551/00, foram criados quatro livros de registro, sendo este
rol exemplificativo:

• Livro de Registro dos Saberes: onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados
no cotidiano das comunidades;
• Livro de Registro das Celebrações: onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência
coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social;
• Livro de Registro das Formas de Expressão: onde serão inscritas manifestações literárias,
musicais, plásticas, cênicas e lúdicas;
• Livro de Registro dos Lugares: onde serão inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais
espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas.

O processo de registro será levado à apreciação do IPHAN, que emitirá parecer acerca da proposta e
posteriormente submetido à decisão do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Em caso de decisão
favorável do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, o bem será inscrito no livro correspondente e
receberá o título de "Patrimônio Cultural do Brasil".
Ressalte-se, ainda, que o IPHAN fará a reavaliação dos bens culturais registrados, pelo menos a cada
10 anos, e a encaminhará ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural para decidir sobre a revalidação do
título de "Patrimônio Cultural do Brasil".

2.5.2. Tombamento

O tombamento é um instrumento de proteção de bens culturais materiais e encontra disciplina no


Decreto-Lei n.º 25/1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e foi
recepcionado pela ordem constitucional vigente. O tombamento pode ser definido em duas acepções:

• Tombamento em sentido amplo:

Nesse sentido, o tombamento é um procedimento administrativo que veicula uma modalidade não
supressiva de intervenção concreta do Estado na propriedade. Esta propriedade poderá ser pública ou
privada.
O tombamento tem índole declaratória, pois reconhece o bem como patrimônio cultural. Além disso,
tem o condão de limitar o uso, o gozo e a disposição do bem.
Em regra, o tombamento é gratuito, pois o proprietário de um bem tombamento não tem direito à
indenização. No entanto, é possível que o proprietário do bem tombado comprove que experimentou
prejuízos efetivos. Neste caso, caberá a indenização, conforme entendeu o STJ.
Ainda, o tombamento tem caráter permanente e é indelegável, destinado à preservação do
patrimônio cultural material.
O tombamento pode se dar sobre bens móveis ou imóveis, e poderá recair sobre monumentos
naturais, sítios e paisagens de feição notável.

• Tombamento em sentido estrito:

Nessa acepção, o tombamento é ato administrativo, sendo o ato de inscrição de um bem material
em um dos Livros do Tombo.

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DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

Com efeito, existe divergência sobre a natureza jurídica do tombamento, havendo três correntes
doutrinárias:

1. É uma limitação administrativa ao direito de propriedade.


2. É uma servidão administrativa.
3. É uma modalidade autônoma de intervenção.

Prevalece o entendimento de que se trata de uma limitação administrativa ao direito de


propriedade.
A competência para proteger o bem tombado é uma competência comum, de forma que o
tombamento pode ser realizado por qualquer dos entes federativos. É possível ainda que haja o
tombamento de um determinado bem por mais de uma entidade política. Assim, um mesmo bem poderá
ser tombado pela União e posteriormente por um Município.
Cabe ressaltar, ainda, que o tombamento poderá ser voluntário ou compulsório:

• Tombamento voluntário ocorre quando é consentido pelo proprietário.


• Tombamento compulsório, a seu turno, ocorre quando não é consentido pelo proprietário.

O tombamento também poderá se dar em relação a bens públicos. Nesse caso, o tombamento é
denominado de tombamento de ofício. Inclusive, é possível que haja o tombamento de um bem da União
por um Município.
O STJ admitiu o tombamento de um bem federal por Município, ainda que a União não tenha
concordado. Para tanto, fundamentou-se no fato de que a União continuou sendo a proprietária do bem,
sendo certo que a competência para a promoção do tombamento é comum entre os entes federados.
No mesmo sentido, singra a recente jurisprudência do STF firmada nos autos da ACO 1.208, em que
o Ministro Gilmar Mendes ressaltou que

a legislação federal veda a desapropriação dos bens da União pelos Estados, segundo o
Decreto-Lei 3.365/1941, mas não há referência a tal restrição quanto ao tombamento,
disciplinado no Decreto-Lei 25/1937. A lei do tombamento apenas indica ser aplicável a
bens pertencentes a pessoas física e pessoa jurídicas de direito privado e de direito público
interno.

Ainda, é prevista uma cautelar denominada tombamento provisório. Trata-se de uma medida
cautelar que tem por objetivo proteger o bem até que haja o tombamento definitivo. O tombamento
provisório surte efeitos desde o momento em que o proprietário é notificado até o momento em que haja
o tombamento definitivo.
Na esfera federal, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possui 4 Livros do Tombo,
conforme Decreto 25/37:

• Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: as coisas pertencentes às categorias


de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular.
• Livro do Tombo Histórico: as coisas de interesse histórico e as obras de arte histórica;
• Livro do Tombo das Belas Artes: as coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira;
• Livro do Tombo das Artes Aplicadas: as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas,
nacionais ou estrangeiras.

É importante mencionar que o registro em cartório apenas dá a publicidade ao tombamento. Isso


significa dizer que o registro cartorário não constitui o tombamento. O tombamento tem eficácia desde a
notificação do proprietário, quando se tratar de tombamento provisório, ou desde a inscrição do bem no
Livro do Tombo, quando se tratar de tombamento definitivo.

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DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

Se o bem for imóvel, deve-se fazer o registro do tombamento no Cartório de Registro de Imóveis.
Se o bem for móvel, o registro será no Cartório de Registro de Títulos e Documentos.
As coisas tombadas não podem ser destruídas ou demolidas, ou mutiladas de forma alguma. No caso
de necessidade de restauração ou pintura do bem, o proprietário deverá pedir autorização prévia do órgão
ambiental.
Os bens que estão próximos ao bem tombado, sem prévia autorização, também não poderão fazer
uma construção que impeça ou que afete a visibilidade do bem tombado. Além disso, os bens da vizinhança
não poderão colocar cartazes ou anúncios sem a autorização do órgão competente, no tocante ao bem
tombado. Caso o façam, estarão sujeitos a pena de multa.
Cabe ao proprietário arcar com a manutenção do bem tombado ou com a reparação do bem
tombado. Caso não tenha recursos para custear a restauração ou manutenção do bem, deverá requerer ao
Poder Público para que arque com essas despesas.
É ainda previsto o direito de preferência (preempção) na aquisição de bens privados que foram
tombados pelo Poder Público. Isto significa dizer que, se o proprietário quiser vender o bem pelo mesmo
preço, o Poder Público tem a preferência em adquiri-lo.
Os bens públicos tombados passam a ser inalienáveis aos particulares, deixando de ser considerados
bens dominiais, pois passam a estar afetados à preservação ambiental.
Prevalece na doutrina que a instituição do tombamento pode se dar por meio de lei, mas também
é possível a instituição de tombamento pela via judicial, mediante a propositura de Ação Civil Pública (Lei n.º
7.347/1985), que busca tutelar, dentre outros, “bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico”.
Todavia, existe precedente do STF no sentido de que o tombamento por lei é inadmissível, pois
violaria o princípio da separação dos poderes. Isso porque, o ato de tombar seria um ato próprio do Poder
Executivo, não cabendo ao Poder Legislativo fazê-lo, sob pena de violação à separação dos poderes. Mais
recentemente, no entanto, a Corte, nos autos da ACO 1.208, o Plenário entendeu pela possibilidade de lei
do Estado do Mato Grosso do Sul tombar bem público da União. Ressalte-se, contudo, que a edição da lei
tem efeito meramente declaratório, sendo certo que a implementação do tombamento deverá se dar por
atos praticados pelo Poder Executivo. Veja-se a ementa do acórdão, publicado em 2017:

Agravo em ação cível originária. 2. Administrativo e Constitucional. 3. Tombamento de bem


público da União por Estado. Conflito Federativo. Competência desta Corte. 4. Hierarquia
verticalizada, prevista na Lei de Desapropriação (Decreto-Lei 3.365/41). Inaplicabilidade no
tombamento. Regramento específico. Decreto-Lei 25/1937 (arts. 2º, 5º e 11). Interpretação
histórica, teleológica, sistemática e/ou literal. Possibilidade de o Estado tombar bem da
União. Doutrina. 5. Lei do Estado de Mato Grosso do Sul 1.526/1994. Devido processo
legal observado. 6. Competências concorrentes material (art. 23, III e IV, c/c art. 216, § 1º,
da CF) e legislativa (art. 24, VII, da CF). Ausência de previsão expressa na Constituição
Estadual quanto à competência legislativa. Desnecessidade. Rol exemplificativo do art. 62
da CE. Proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico
regional. Interesse estadual. 7. Ilegalidade. Vício de procedimento por ser implementado
apenas por ato administrativo. Rejeição. Possibilidade de lei realizar tombamento de
bem. Fase provisória. Efeito meramente declaratório. Necessidade de implementação de
procedimentos ulteriores pelo Poder Executivo. 8. Notificação prévia. Tombamento de
ofício (art. 5º do Decreto-Lei 25/1937). Cientificação do proprietário postergada para a fase
definitiva. Condição de eficácia e não de validade. Doutrina. 9. Ausência de argumentos
capazes de infirmar a decisão agravada. 10. Agravo desprovido. 11. Honorários advocatícios
majorados para 20% do valor atualizado da causa à época de decisão recorrida (§ 11 do art.
85 do CPC).
Destaque-se que há tombamento feito diretamente pela Constituição Federal, o qual incide
sobre documentos e sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

Por fim, é possível que haja o destombamento, nas seguintes hipóteses:

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DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

• Quando houver equívoco na valoração cultural do bem: o bem não deveria ser tombado;
• Quando houver um vício que anule o processo administrativo de tombamento;
• Quando houver omissão do Poder público com relação à restauração das obras do bem tomado,
diante da falta de recursos do proprietário para arcar com as obras: o art. 19, §2º, do Decreto-
Lei n.º 25/37 admite expressamente o destombamento, estabelecendo que o cancelamento do
tombamento é possível quando o poder público não arcar com as obras da restauração na
hipótese de o proprietário não ter recursos para arcar com essas obras.

3. JURISPRUDÊNCIA

É possível o tombamento por ato legislativo e o Estado pode tombar bem da União

O princípio da hierarquia verticalizada, previsto no Decreto-Lei 3.365/1941, não se aplica ao


tombamento, disciplinado no Decreto-Lei 25/1937.
A lei de tombamento apenas indica ser aplicável a bens pertencentes a pessoas físicas e pessoas
jurídicas de direito privado e de direito público interno.
Ademais, o tombamento feito por ato legislativo possui caráter provisório, ficando o tombamento
permanente, este sim, restrito a ato do Executivo.
Por fim, o tombamento provisório por ato legislativo não precisa ser precedido de notificação prévia
da União, exigência restrita ao procedimento definitivo promovido pelo Executivo estadual. (STF, ACO 1208)

Municípios podem tombar bens culturais de propriedade dos Estados e da União

O Município, por competência constitucional comum – art. 23, III –, deve proteger os documentos,
as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis
e os sítios arqueológicos. Como o tombamento não implica em transferência da propriedade, inexiste a
limitação constante no art. 1º, § 2º, do DL 3.365/1941, que proíbe o Município de desapropriar bem do
Estado. (STJ, RMS 18.952)

QUESTÕES
1. (FADESP/Câmara de Marabá/PA/Advogado/2021). Sobre a desapropriação por utilidade pública
regulamentada pelo Decreto-Lei n. 3.365, de 21 de junho de 1941, pode-se afirmar que
a) a desapropriação por utilidade pública somente pode ser realizada pela União, Estados e Distrito Federal.
Os Municípios precisam de autorização do Estado onde estejam localizados.
b) não pode ser considerado caso de utilidade pública para fins de desapropriação, o aproveitamento
industrial das minas e das jazidas minerais, das águas e da energia hidráulica.
c) a declaração de utilidade pública far-se-á por Decreto Legislativo do Congresso Nacional, Assembleia
Legislativa, Câmara Legislativa ou Câmara de Vereadores, conforme o ente federativo que esteja em
questão.
d) o Poder Judiciário pode, em processo de desapropriação, decidir se se verificam ou não os casos de
utilidade pública.
e) a declaração de utilidade pública far-se-á por decreto do Presidente da República, Governador ou
Prefeito.
2. (INSTITUTO MAIS/Prefeitura de Mairiporã-SP/Guarda Civil Municipal/2019). Constitui o patrimônio
histórico e artístico nacional, nos termos do Decreto-Lei n.º 25/1937, o conjunto dos bens
a) móveis e imóveis existentes no país, inclusive de origem estrangeira, e cuja conservação seja de interesse
público, por sua vinculação a fatos memoráveis da história mundial, ou por seu excepcional valor
bibliográfico e artístico.

106
DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

b) materiais e imateriais existentes no país, cuja conservação seja de interesse público ou privado, que
sejam trazidas do exterior para exposições comemorativas, educativas ou comerciais.
c) móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação
a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico.
d) materiais e imateriais existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, e não pertença as
pessoas naturais ou pessoas jurídicas de direito privado.
3. (FGV/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2008 - Adaptado). Julgue o item seguinte:
A proteção do meio ambiente, o combate à poluição e a preservação das florestas, da fauna e da
flora são de competência comum da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.

4. (PGR/Procurador da República/2015). Lei estadual conferia a proteção, guarda e responsabilidade pelos


sítios arqueológicos e seus acervos aos municípios em que se localizassem.
a) Essa lei foi declarada inconstitucional porque a competência comum para proteger os sítios
arqueológicos não pode ser afastada do Estado e da União.
b) Essa lei foi declarada inconstitucional porque a competência legislativa sobre responsabilidade por dano
a bens de valor histórico e paisagístico é privativa da União.
c) Essa lei foi considerada constitucional porque o Estado possui competência legislativa suplementar
exclusiva para cuidar da proteção ao patrimônio histórico-cultural.
d) Essa lei foi considerada constitucional porque se trata de competência dos municípios para legislar sobre
assuntos de interesse local.
5. (FCC/Juiz de Direito Substituto/TJCE/2014). O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de determinado
Município estudou uma dança folclórica típica do local, pretendendo preservá-la. Para tanto,
a) não poderá proteger a dança, por se tratar de patrimônio imaterial.
b) encaminhará o estudo à Secretaria de Cultura do Estado, diante da incompetência municipal para a
preservação do patrimônio cultural.
c) poderá registrar tal dança folclórica por se tratar de patrimônio imaterial.
d) encaminhará o estudo ao IPHAN, uma vez que os Municípios não possuem competência para a tutela do
patrimônio cultural.
e) efetivará o tombamento da citada dança folclórica.

6. (CESPE/Juiz Federal Substituto/TRF da 5ª Região/2007 - Adaptado). Com relação ao meio ambiente


cultural, julgue o item que se segue:
Os modos de criar e de fazer enraizados no cotidiano de comunidades, tais como técnicas tradicionais
de construção naval, integram o patrimônio cultural brasileiro, sendo meio idôneo para a sua proteção o
registro.

7. (CESPE/Juiz Federal Substituto/TRF da 5ª Região/2007 - Adaptado). Julgue o item que se segue:


Por ser comum a competência material para proteção do patrimônio cultural, a União, o estado e o município
podem, simultaneamente, instituir tombamento sobre um mesmo bem, desde que haja relevância histórico-
cultural de âmbito local, regional ou nacional.

COMENTÁRIOS
1. Comentários
A letra A está incorreta, pois, nos termos do art. 2º do Decreto-Lei 3365/1941, todos os bens poderão ser
desapropriados por todos os entes federativos, mediante declaração de utilidade pública. Não há a exigência
de autorização.
A letra B está incorreta. Nos termos do art. 5º, f, o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais,
das águas e da energia hidráulica é considerada situação de utilidade pública.

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DANIELA ADAMEK PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO • 7

A letra C está incorreta, já que, conforme dispõe o art. 6º do DL 3365/1941, a declaração de utilidade pública
far-se-á por decreto do Presidente da República, Governador, Interventor ou Prefeito.
A letra D está errada, pois o art. 9º do normativo veda a atuação do Poder Judiciário na hipótese.
A letra E está correta e é o gabarito da questão, nos exatos termos do art. 6º da norma sob comento.

2. Comentários
A letra A está incorreta, pois o art. 3º do DL 25/37 exclui do patrimônio histórico e artístico nacional as obras
de origem estrangeira.
A letra B está incorreta. Os bens imateriais integrantes do patrimônio cultural brasileiro são regulados pelo
Decreto n.º 3.551/2000 e não estão sujeitos às disposições do DL 25/37.
A letra C está correta e é o gabarito da questão, nos termos do art. 1º do DL 25/37.
A letra D está errada, pois os bens imateriais integrantes do patrimônio cultural brasileiro são regulados pelo
Decreto n.º 3.551/2000 e não estão sujeitos às disposições do DL 25/37.

3. O item está correto, nos moldes do que dispõe o art. 23, III e IV, da CF/88.

4. A alternativa correta está na letra A, na medida em que a CF/88, em seu art. 23, III e IV, determina ser
competência comum da União, dos Estados, do DF e dos Municípios. Referido encargo, nos termos da
jurisprudência do STF (vide ADI 2.544), não comporta demissão unilateral.

5. Conforme art. 216 da CF, o registro é previsto como forma de tutela de bens culturais imateriais, já que o
tombamento não é compatível com a proteção de bens intangíveis. Dessa forma, uma dança folclórica, como
bem intangível, deverá ser objeto de registro. Portanto, o item correto está na letra C.

6. O item está correto. Veja o que dispõe o art. 1º do Decreto n.º 3.551/2000, que instituiu o registro de bens
culturais de natureza imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro:

Art. 1º Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem
patrimônio cultural brasileiro.
§ 1º Esse registro se fará em um dos seguintes livros:
I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer
enraizados no cotidiano das comunidades;

Verifica-se, pois, que o registro é a forma adequada para a tutela de patrimônio imaterial, como
técnicas tradicionais de construção naval.

7. O item está correto. Lembre-se que a referida competência está elencada no art. 23, III e IV, da CF/88.
Nesse sentido, a jurisprudência do STF admite o tombamento de um mesmo bem por mais de uma entidade
política, bem como tombamento de bem da União por meio de lei estadual (vide ACO 1208).

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8 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS


1. INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi instituída pela Lei Federal n.º 9.433/1997,
regulamentando, também, o inciso XIX do art. 21 da CF/88, que trata da competência privativa da União para
instituir o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorgar de direitos
de seu uso.
O art. 1º da PNRH estabelece seus fundamentos:

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:


I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano
e a dessedentação de animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do
Poder Público, dos usuários e das comunidades.

1.1. Domínio dos recursos hídricos

Nos termos dos arts. 20 e 26 da CF/88, os corpos hídricos jamais serão de propriedade particular,
sendo, portanto, bem da União ou do Estado, em caráter residual:

Art. 20. São bens da União:


[...]
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias
fluviais;
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas;
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios,
exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as
referidas no art. 26, II;
[...]
VI - o mar territorial;
[...]
VIII - os potenciais de energia hidráulica;

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:


I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas,
neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;

1.2. Bacia hidrográfica

A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da PNRH e atuação do Sistema


Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Trata-se da área que em que corre a drenagem das águas
destinadas a um curso de água.
No Brasil, as principais bacias hidrográficas são:

• Bacia do Amazonas;
• Bacia Tocantins-Araguaia;

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

• Bacia do Rio Paraíba;


• Bacia do Rio São Francisco;
• Bacia do Rio Paraná;
• Bacia do Rio Paraguai;
• Bacia do Rio Paraíba do Sul;
• Bacia do Rio Uruguai.

Com a finalidade de orientar e implementar o PNRH, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos


(CNRH) editou a Resolução 32/03, que instituiu 12 regiões hidrográficas. Região hidrográfica, portanto, é um
espaço territorial compreendido por uma bacia hidrográfica, conjunto de bacias ou mesmo por microbacias
hidrográficas contíguas, que tenham características naturais, sociais, econômicas homogêneas, ou
características similares. Tem por escopo orientar o planejamento e o gerenciamento dos recursos hídricos
nessas regiões hidrográficas.
Nos termos da PNRH, a gestão dos recursos hídricos será descentralizada e tripartite:

1. poder público;
2. usuários; e
3. as comunidades abrangidas pelas bacias hidrográficas.

2. OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:


I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões
de qualidade adequados aos respectivos usos;
II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte
aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou
decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.
IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais.

3. INSTRUMENTO DA PNRH

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:


I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da
água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

3.1. Planos de Recursos Hídricos

Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam a fundamentar e orientar a
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos.
Importante destacar que esses planos serão elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o
País.
A norma estabelece como conteúdo mínimo dos planos o seguinte:

Art. 7º Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de
planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e
terão o seguinte conteúdo mínimo:
I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;

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II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades


produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;
III - balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos em quantidade
e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;
IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos
recursos hídricos disponíveis;
V - medidas a serem tomadas para o atendimento das metas previstas;
VI - (VETADO)
VII - (VETADO)
VIII - prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;
IX - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
X - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos
recursos hídricos.

3.2. Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos


preponderantes da água

Art. 9º O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes


da água, visa a:
I - assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem
destinadas;
II - diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas
permanentes.

3.3. Outorga dos direitos de uso de Recursos Hídricos

O fundamento para exigência de outorga dos direitos de uso de recursos hídricos está em assegurar
o controle quantitativo e qualitativo do uso da água. Desse modo, a outorga é efetivada por ato da
autoridade competente do Poder Executivo Federal, Estadual ou Distrital.
O Poder Executivo Federal poderá delegar aos Estados e ao DF a competência para conceder
outorga de direito de uso de recurso hídrico de domínio da União. No entanto, Municípios não outorgam
uso de águas.

Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de
recursos hídricos:
I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo
final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo
produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em
um corpo de água.
§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em regulamento:
I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos
populacionais, distribuídos no meio rural;
II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;
III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

Tem-se, portanto, que, em regra a utilização da água irá exigir a outorga. Todavia, ela não implicará
alienação parcial das águas (que são inalienáveis), mas apenas direito de uso.
Não poderá ter prazo superior a 35 anos, sendo, no entanto, renovável. É onerosa, materializando o
princípio do usuário-pagador.

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

A outorga do direito de uso de recursos hídricos para concessionária e para autorizadas dos serviços
públicos, bem como de geradora de energia elétrica, terá um prazo de duração que coincidirá com o prazo
de concessão firmado com a Administração Pública, ou com o prazo da autorização concedida.
Poderá sofrer suspensão, total ou parcialmente, temporária ou definitivamente, nas seguintes
situações:

I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;


II - ausência de uso por três anos consecutivos;
III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as
decorrentes de condições climáticas adversas;
IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;
V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não
se disponha de fontes alternativas;
VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.

A outorga é ato precário, tendo natureza de autorização administrativa, já que a qualquer momento
pode ser suspensa.
A Resolução n.º 16/2001 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos estabeleceu critérios gerais para
a outorga de direito de uso de recursos hídricos. Sobre sua extinção, sem direito à indenização, dispôs que:

Art. 25. A outorga de direito de uso de recursos hídricos extingue-se, sem qualquer direito
de indenização ao usuário, nas seguintes circunstâncias:
I - morte do usuário - pessoa física;
II - liquidação judicial ou extrajudicial do usuário - pessoa jurídica; e
III - término do prazo de validade de outorga sem que tenha havido tempestivo
pedido de renovação.
Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, os herdeiros ou inventariantes do usuário
outorgado, se interessados em prosseguir com a utilização da outorga, deverão solicitar em
até cento e oitenta dias da data do óbito, a retificação do ato administrativo da portaria,
que manterá seu prazo e condições originais, quando da definição do(s) legítimo(s)
herdeiro(s), sendo emitida nova portaria, em nome deste(s).

A Agência Nacional de Águas (ANA), a seu turno, poderá emitir outorgas preventivas, ou seja, antes
da exploração, conforme preconizado na Lei n.º 9.984/2000 que dispõe sobre a criação da ANA, entidade
federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A propósito:

Art. 6º A ANA poderá emitir outorgas preventivas de uso de recursos hídricos, com a
finalidade de declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos, observado o
disposto no art. 13 da Lei no 9.433, de 1997.
§ 1º A outorga preventiva não confere direito de uso de recursos hídricos e se destina a
reservar a vazão passível de outorga, possibilitando, aos investidores, o planejamento de
empreendimentos que necessitem desses recursos.
§ 2º O prazo de validade da outorga preventiva será fixado levando-se em conta a
complexidade do planejamento do empreendimento, limitando-se ao máximo de três
anos, findo o qual será considerado o disposto nos incisos I e II do art. 5º.

Vale lembrar, ainda, que a concessão de outorga não dispensa o licenciamento ambiental prévio e
é pressuposto para a concessão de instalação e de operação daquele empreendimento que exerça atividade
com recursos hídricos acima dos limites.
Desse modo, o órgão do SISNAMA responsável pelo licenciamento ambiental, deverá exigir a outorga
da água antes de conceder as licenças de instalação e de operação.

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3.3.1. Exploração de recursos hídricos em terras indígenas

CF/88:
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos
e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;

3.4. Cobrança pelo uso de recursos hídricos

A cobrança pelo uso de recursos hídricos é mais um instrumento da Política Nacional de Recursos
Hídricos (Lei n. 9.433/1997).

Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:


I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real
valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções
contemplados nos planos de recursos hídricos.

Art. 20. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos termos do art.
12 desta Lei.

Art. 21. Na fixação dos valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos devem ser
observados, dentre outros:
I - nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime de
variação;
II - nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e
seu regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e de toxidade do
afluente.

Art. 22. Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão
aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados e serão utilizados:
I - no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídos nos Planos de
Recursos Hídricos;
II - no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
§ 1º A aplicação nas despesas previstas no inciso II deste artigo é limitada a sete e meio por
cento do total arrecadado.
§ 2º Os valores previstos no caput deste artigo poderão ser aplicados a fundo perdido em
projetos e obras que alterem, de modo considerado benéfico à coletividade, a qualidade, a
quantidade e o regime de vazão de um corpo de água.

Saliente-se, por fim, que o STJ firmou entendimento no sentido de que o faturamento de serviço de
fornecimento de água com base na tarifa progressiva é legítimo, atendendo ao interesse público, pois
estimula o uso racional da água.

3.5. Compensação a municípios

Esse instrumento ainda não foi regulamentado, uma vez que o artigo da PNRH que tratava do assunto
foi vetado pelo Presidente da República.

3.6. Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (SIRH)

SIRH tem como objetivo a coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre
recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão.

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Os dados gerados pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos


Hídricos serão incorporados ao Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.
São princípios básicos para o funcionamento do Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos:

Art. 26. [...]


I - descentralização da obtenção e produção de dados e informações;
II – coordenação unificada do sistema;
III - acesso aos dados e informações garantido à toda a sociedade.

Por sua vez, são objetivos do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos:

Art. 27 [...]
I - reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e
quantitativa dos recursos hídricos no Brasil;
II - atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de
recursos hídricos em todo o território nacional;
III - fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

4. SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS


(SNGRH)

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos é composto por:

Art. 33 [...]
I – o Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
I-A. – a Agência Nacional de Águas;
II – os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal;
III – os Comitês de Bacia Hidrográfica;
IV – os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas
competências se relacionem coma gestão de recursos hídricos;
V – as Agências de Água.

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos tem os seguintes objetivos:

Art. 32. [...]


I - coordenar a gestão integrada das águas;
II - arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;
III - implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos;
IV - planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;
V - promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

4.1. Conselho Nacional de Recursos Hídricos

Integrante do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o Conselho Nacional de


Recursos Hídricos tem como Presidente o Ministro de Estado do Desenvolvimento Regional e um Secretário-
Executivo, que será o titular do órgão integrante do Ministério do Desenvolvimento Regional.

Art. 34. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é composto por:


I - representantes dos Ministérios e Secretarias da Presidência da República com atuação
no gerenciamento ou no uso de recursos hídricos;
II - representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;
III - representantes dos usuários dos recursos hídricos;
IV - representantes das organizações civis de recursos hídricos.

O órgão tem competência para:

Art. 35. [...]

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

I - promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos


nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;
II - arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos;
III - deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões
extrapolem o âmbito dos Estados em que serão implantados;
IV - deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;
V - analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à Política
Nacional de Recursos Hídricos;
VI - estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VII - aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer
critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;
VIII - (VETADO)
IX - acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar
as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
X - estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para
a cobrança por seu uso.
XI - zelar pela implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB);
XII - estabelecer diretrizes para implementação da PNSB, aplicação de seus instrumentos
e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB);
XIII - apreciar o Relatório de Segurança de Barragens, fazendo, se necessário,
recomendações para melhoria da segurança das obras, bem como encaminhá-lo ao
Congresso Nacional.

Ressalte-se, por fim, que também cabe ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos estabelecer os
valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos de domínio da União.

4.2. Agência Nacional de Águas (ANA)

É uma autarquia federal em regime especial, responsável pela normatização regulatória do setor,
vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, e responsável pela implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos.
A Lei n.º 9.984/2000, que dispõe sobre a criação dessa autarquia, estabelece como suas
competências específicas:

Art. 4º A atuação da ANA obedecerá aos fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos


da Política Nacional de Recursos Hídricos e será desenvolvida em articulação com órgãos e
entidades públicas e privadas integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, cabendo-lhe:
I – supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades decorrentes do cumprimento da
legislação federal pertinente aos recursos hídricos;
II – disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e a
avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos;
III – (VETADO)
IV – outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em
corpos de água de domínio da União, observado o disposto nos arts. 5º, 6º, 7º e 8º;
V – fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União;
VI – elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio
da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos Comitês de Bacia
Hidrográfica, na forma do inciso VI do art. 38 da Lei n.º 9.433, de 1997;
VII – estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia
Hidrográfica;
VIII – implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo
uso de recursos hídricos de domínio da União;

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

IX – arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso
de recursos hídricos de domínio da União, na forma do disposto no art. 22 da Lei n.º 9.433,
de 1997;
X – planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e
inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em
articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil, em apoio aos Estados
e Municípios;
XI – promover a elaboração de estudos para subsidiar a aplicação de recursos financeiros
da União em obras e serviços de regularização de cursos de água, de alocação e distribuição
de água, e de controle da poluição hídrica, em consonância com o estabelecido nos planos
de recursos hídricos;
XII – definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos e
privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, conforme estabelecido
nos planos de recursos hídricos das respectivas bacias hidrográficas;
XIII – promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da rede
hidrometeorológica nacional, em articulação com órgãos e entidades públicas ou privadas
que a integram, ou que dela sejam usuárias;
XIV – organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos
Hídricos;
XV – estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos
hídricos;
XVI – prestar apoio aos Estados na criação de órgãos gestores de recursos hídricos;
XVII – propor ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos o estabelecimento de incentivos,
inclusive financeiros, à conservação qualitativa e quantitativa de recursos hídricos.
XVIII – participar da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e supervisionar a
sua implementação.
XIX – regular e fiscalizar, quando envolverem corpos d'água de domínio da União, a
prestação dos serviços públicos de irrigação, se em regime de concessão, e adução de água
bruta, cabendo-lhe, inclusive, a disciplina, em caráter normativo, da prestação desses
serviços, bem como a fixação de padrões de eficiência e o estabelecimento de tarifa,
quando cabíveis, e a gestão e auditagem de todos os aspectos dos respectivos contratos de
concessão, quando existentes.
XX – organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens (SNISB);
XXI – promover a articulação entre os órgãos fiscalizadores de barragens;
XXII – coordenar a elaboração do Relatório de Segurança de Barragens e encaminhá-lo,
anualmente, ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), de forma consolidada;
XXIII – declarar a situação crítica de escassez quantitativa ou qualitativa de recursos hídricos
nos corpos hídricos que impacte o atendimento aos usos múltiplos localizados em rios de
domínio da União, por prazo determinado, com base em estudos e dados de
monitoramento, observados os critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Recursos
Hídricos, quando houver; e
XXIV – estabelecer e fiscalizar o cumprimento de regras de uso da água, a fim de assegurar
os usos múltiplos durante a vigência da declaração de situação crítica de escassez de
recursos hídricos a que se refere o inciso XXIII do caput deste artigo.

4.3. Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal

Terão competências simétricas.

4.4. Comitês de Bacia Hidrográfica

São órgãos colegiados, que têm atribuições deliberativa, normativa e consultiva. Essas atribuições
são exercidas na bacia hidrográfica de sua jurisdição.
Os Comitês de Bacia Hidrográfica são vinculados ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos ou ao
Conselho Estadual ou Distrital, a depender da entidade pública titular da bacia hidrográfica. Lei 9.433/97:

116
DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

Art. 37. Os Comitês de Bacia Hidrográfica terão como área de atuação:


I - a totalidade de uma bacia hidrográfica;
II - sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de tributário
desse tributário; ou
III - grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.
Parágrafo único. A instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica em rios de domínio da
União será efetivada por ato do Presidente da República.

Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação:

I - promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação


das entidades intervenientes;
II - arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos
hídricos;
III - aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;
IV - acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia e sugerir as
providências necessárias ao cumprimento de suas metas;
V - propor ao Conselho Nacional e aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos as
acumulações, derivações, captações e lançamentos de pouca expressão, para efeito de
isenção da obrigatoriedade de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, de acordo
com os domínios destes;
VI - estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os
valores a serem cobrados;
VII - (VETADO)
VIII - (VETADO)
IX - estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de
interesse comum ou coletivo.
Parágrafo único. Das decisões dos Comitês de Bacia Hidrográfica caberá recurso ao
Conselho Nacional ou aos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com sua
esfera de competência.

A composição dos Comitês se dará mediante representantes:

I - da União;
II - dos Estados e do Distrito Federal cujos territórios se situem, ainda que parcialmente, em suas
respectivas áreas de atuação;
III - dos Municípios situados, no todo ou em parte, em sua área de atuação;
IV - dos usuários das águas de sua área de atuação;
V - das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.
§ 1º O número de representantes de cada setor mencionado neste artigo, bem como os
critérios para sua indicação, serão estabelecidos nos regimentos dos comitês, limitada a
representação dos poderes executivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios à
metade do total de membros.
§ 2º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias de rios fronteiriços e transfronteiriços de
gestão compartilhada, a representação da União deverá incluir um representante do
Ministério das Relações Exteriores.
§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos territórios abranjam terras indígenas
devem ser incluídos representantes:
I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação da União;
II - das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.

4.5. Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do DF e municipais cujas


competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos

A lei não tratou expressamente sobre o tema.

117
DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

4.6. Agências de Água

Exercem a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica,


conforme determinam os arts. 41 e seguintes da PNRH.
Dessa forma a existência de uma agência de água pressupõe a existência de um comitê de bacia
hidrográfica, que será assessorado por ela, e, por consequência, a sua área de atuação será a mesma do
Comitê ou dos Comitês aos quais estiver vinculada.

Art. 42. As Agências de Água terão a mesma área de atuação de um ou mais Comitês de
Bacia Hidrográfica.
Parágrafo único. A criação das Agências de Água será autorizada pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos mediante solicitação
de um ou mais Comitês de Bacia Hidrográfica.

Art. 43. A criação de uma Agência de Água é condicionada ao atendimento dos seguintes
requisitos:
I - prévia existência do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;
II - viabilidade financeira assegurada pela cobrança do uso dos recursos hídricos em sua
área de atuação.

Art. 44. Compete às Agências de Água, no âmbito de sua área de atuação:


I - manter balanço atualizado da disponibilidade de recursos hídricos em sua área de
atuação;
II - manter o cadastro de usuários de recursos hídricos;
III - efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos
gerados pela cobrança pelo uso de Recursos Hídricos e encaminhá-los à instituição
financeira responsável pela administração desses recursos;
V - acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo
uso de recursos hídricos em sua área de atuação;
VI - gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação;
VII - celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas
competências;
VIII - elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação do respectivo ou
respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica;
IX - promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua área de
atuação;
X - elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia
Hidrográfica;
XI - propor ao respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica:
a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao
respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com
o domínio destes;
b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos;
c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos
hídricos;
d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

4.7. Organizações Civis de Recursos Hídricos

A PNRH determina que determinadas organizações civis de recursos hídricos legalmente constituídas
também poderão integrar o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. São elas:

Art. 47. [...]


I - consórcios e associações intermunicipais de bacias hidrográficas;
II - associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos;
III - organizações técnicas e de ensino e pesquisa com interesse na área de recursos hídricos;

118
DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

IV - organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e


coletivos da sociedade;
V - outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos Estaduais
de Recursos Hídricos.

5. PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA

O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional


do Meio Ambiente (art. 9º da PNMA). A Lei n.º 6.938/81 determina que cabe ao Conama instituir normas e
padrões relativos ao controle e qualidade do meio ambiente:

Art. 8º Compete ao Conama:


[...]
VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da
qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais,
principalmente os hídricos.

Esse instrumento tem por escopo permitir o uso racional dos recursos ambientais, com destaque
para os recursos hídricos, na medida em que no processo de estabelecimento de padrões de qualidade
ambiental busca-se enquadrar os recursos hídricos de acordo com níveis ou graus de qualidade, expressos,
normalmente, em termos numéricos que atendam a determinadas funções.

5.1. Corpos d’água superficiais

O Conama, por meio da Resolução 357/2005, classificou as águas em doces, salobras ou salinas.
Assim, o enquadramento dos corpos d’água superficiais se dá seguinte forma:

• Águas doces: com salinidade de até 0,5%;


• Águas salobras: com salinidade de 0,5% a 30%;
• Águas salinas: com salinidade superior a 30%;

Essa classificação tem por objetivo estabelecer o uso preponderante do corpo hídrico. Com base nela,
os órgãos ambientais conferirão destino ao uso dessa água.
Ressalte-se que o lançamento de efluentes provenientes de fontes poluidoras nesses corpos d’água
somente poderá se dar após tratamento.

5.2. Águas destinadas à balneabilidade

A Resolução 274/2000 do Conama define os padrões de qualidade das águas destinadas ao banho.
Desse modo, elas se classificarão em:
• Águas próprias: são águas excelentes, muito boas ou satisfatórias para o contato primário.
• Águas impróprias: neste caso, não poderá a água ser utilizada para o contato primário. Se água
for imprópria será necessário interditar o local, ainda que se trate de praia.

5.3. Águas subterrâneas

Por sua vez, a Resolução 396/2008 do Conama disciplina as águas subterrâneas, ou seja, cujos cursos
ocorrem no subsolo, seja natural ou artificialmente.
Essas águas são bens dos Estados-membros e do DF e são classificadas de acordo com seus padrões
de qualidade.

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DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

6. JURISPRUDÊNCIA

6.1. STF

1. É inconstitucional lei estadual que define critérios de outorga dos direitos de uso
dos recursos hídricos e isenta de cobrança o uso da água em atividades
agropecuárias, agroindustriais e rurais, sob as condições que define

Lei estadual que define critérios de outorga de direitos de uso de recursos hídricos usurpa a
competência privativa da União (art. 22, IV, da CF), que fixa a competência para dispor sobre águas. Ademais,
ao isentar a cobrança do uso de água em atividades específicas contraria o disposto na Política Nacional de
Recursos Hídricos (Lei n.º 9.433/97), na medida em que subverte um dos objetivos do regime de outorga de
direitos de uso de recursos hídricos, que são os controles quantitativa e qualitativo do uso da água,
considerando a grande expressividade da atividade agropecuária, que demanda grande volume desses
recursos. (STF, ADI 5.025)

QUESTÕES
1. (FCC/TJ-GO/Juiz de Direito Substituto/2021). Diante de uma crise hídrica, o setor energético propõe uma
gestão mais austera de seus reservatórios de água para garantir o abastecimento de energia elétrica. Nesse
cenário,

a) o uso do reservatório será compartilhado, de forma equânime e exclusiva, entre a produção energética
e o consumo humano.
b) deve ser garantido o uso múltiplo e igualitário dos reservatórios sem que haja qualquer grau de
prioridade.
c) deve ser assegurado o uso prioritário dos recursos hídricos para o consumo humano e para a
dessedentação de animais.
d) é obrigação do Poder Público buscar alternativas para o consumo humano diante da prioridade do setor
energético no uso de seus reservatórios de água.
e) a prioridade de uso dos reservatórios de água será do setor energético, que deverá, diante da ausência
de alternativa viável, ceder até dez por cento do reservatório para consumo exclusivo humano.

2. (FCC/Juiz de Direito Substituto/TJAL/2019). A política nacional de recursos hídricos instituída pela Lei n°
9.433/1997, estabelece, como um de seus instrumentos,

a possibilidade de cobrança pelo uso de recursos hídricos sujeitos a outorga, o que não se confunde com
taxa ou tarifa cobrada pelo fornecimento domiciliar de água tratada e coleta de esgoto.
a outorga onerosa dos direitos de uso dos recursos hídricos, conferida exclusivamente para geração de
energia por pequenas centrais hidrelétricas, com potencial de geração de até 30 MW.
os planos de recursos hídricos, elaborados de forma centralizada pela Agência Nacional de Águas (ANA)
e de aplicação compulsória pelos Estados e Municípios que integrem a correspondente Bacia Hidrográfica.
o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos, órgão do Ministério de Minas e Energia
responsável pelo licenciamento ambiental de hidrelétricas e outros empreendimentos que impactem de
forma relevante as reservas hídricas disponíveis.
a classificação indicativa de cursos de água, com o enquadramento dos rios e afluentes de todo o
território nacional nas categorias “A”, “B” ou “C”, conforme a prioridade, respectivamente, para consumo
humano, dessedentação de animais ou geração de energia elétrica.

3. (VUNESP/SAAE de Barretos-SP/Engenheiro Civil/2018). Conforme a Lei Federal de Recursos Hídricos, Lei


n° 9.433/1997, o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivos assegurar o

120
DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.
Contudo, independe de outorga pelo Poder Público

a) o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais,
distribuídos no meio rural.
b) a captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive
abastecimento público, ou insumo de processo produtivo.
c) extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo.
d) lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com
o fim de sua diluição, transporte ou disposição final.
e) aproveitamento dos potenciais hidrelétricos.

4. (VUNESP/AresPCJ-SP/Procurador Jurídico/2018) Tendo em vista os fundamentos da Política Nacional de


Recursos Hídricos, conforme disciplinado na Lei n° 9.433/1997, é correto afirmar que
a) a água é um bem de domínio público ou privado.
b) a água é um recurso natural limitado, sem valor econômico.
c) em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos se destina exclusivamente ao consumo
humano.
d) a gestão dos recursos hídricos deve ser centralizada e contar com a participação do Poder Público, dos
usuários e das comunidades.
e) a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas.
5. (VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRS/2018). No tocante às águas, nos termos da Constituição Federal
e da Lei das Águas, assinale a alternativa correta.
a) Toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não inferior a vinte e cinco anos,
renovável.
b) Os planos de Recursos Hídricos são elaborados por bacia hidrográfica, por Município e por Estado.
c) São bens da União todas as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito.
d) Os valores arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos serão aplicados exclusivamente na
bacia hidrográfica em que foram gerados.
e) A União tem competência privativa para legislar sobre águas.
6. (CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJAM/2016). Com relação aos recursos hídricos, assinale a opção
correta.

a) Compete ao Comitê Nacional de Recursos Hídricos organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de
Informações sobre Segurança de Barragens.
b) Além do representante da FUNAI, os comitês de bacias hidrográficas de rios que abranjam terras
indígenas incluirão representante das comunidades indígenas.
c) Conforme a localização dos corpos d’água, seu domínio divide-se entre a União, os estados (e, por
analogia, o DF) e os municípios.
d) As competências dos comitês de bacias hidrográficas incluem o exercício do poder de polícia.
e) Cabe à Agência Nacional de Águas, outorgar, mediante permissão, o direito de uso de recursos hídricos
em corpos de água de domínio da União, dos estados e do DF.

COMENTÁRIOS
1. Um dos fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, insculpido no inciso III do art. 1º da norma,
consubstancia-se no fato de que, em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos deve ser
voltado para o consumo humano e a dessedentação de animais, portanto o gabarito da questão é a letra C.

2. Comentários
Nos termos do art. 5º da Lei n.º 9.433/1997, Política Nacional de Recursos Hídricos, são seus instrumentos:

121
DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:


I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da
água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

Por sua vez, quanto aos objetivos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, dispõe o art. 19 da norma:
Art. 19. A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva:
I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real
valor;
II - incentivar a racionalização do uso da água;
III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções
contemplados nos planos de recursos hídricos.

Por fim, o art. 20 determina que:


Art. 20. Serão cobrados os usos de recursos hídricos sujeitos a outorga, nos termos do art.
12 desta Lei.

Assim, há previsão da cobrança pelo uso da água pela PNRS, cujos objetivos estão elencados no art. 19.
Ressalte-se que a cobrança pela utilização não se confunde com impostos ou tarifas cobradas pelas
distribuidoras de água pela cidade, mas sim uma remuneração pelo uso de um bem público. Portanto, a
resposta correta está na letra A.

3. O art. 12, § 1º estabelece as atividades que independem de outorga para utilização da água:
§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em regulamento:
I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos
populacionais, distribuídos no meio rural;
II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;
III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

Dessa forma, a resposta está contida no item A.

4. Veja o que dispõe o artigo inicial da PNRS:


Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;
II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano
e a dessedentação de animais;
IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;
V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do
Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Portanto, a resposta da questão está no item E.

5. Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a PNRS determina que o prazo máximo de outorga de direitos de uso de
recursos hídricos não será superior a 35 (trinta e cinco) anos (art. 16).
A alternativa B está incorreta, porquanto os planos de recursos hídricos são elaborados por bacia
hidrográfica, por Estado e para o país. Não há previsão de elaboração por Município (art. 8º).
A alternativa C está incorreta, pois as águas superficiais, subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,
nos termos do art. 26, I, da CF/88, são bens estaduais.

122
DANIELA ADAMEK POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS • 8

A alternativa D está incorreta, na medida em que o art. 22 da PNRS prevê a aplicação prioritária, e não
exclusiva, desses recursos na bacia hidrográfica em que foram gerados.
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 22, IV, da CF/88.

6. Comentários
A alternativa A está incorreta, pois, a referida competência encontra-se no rol do art. 4º da Lei n.º
9.984/2000, que elenca as atribuições da Agência Nacional de Águas.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 39, § 3º, I e II, da PNRS:
§ 3º Nos Comitês de Bacia Hidrográfica de bacias cujos territórios abranjam terras indígenas
devem ser incluídos representantes:
I - da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, como parte da representação da União;
II - das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.

A alternativa C está incorreta, pois não há corpos hídricos cujo domínio seja municipal, conforme estabelece
a Constituição Federal.
A alternativa D está incorreta, na medida em que não há inclusão do poder de polícia entre as competências
dos comitês de bacias hidrográficas.
A alternativa E está incorreta, porquanto a competência da ANA resume-se à outorga em corpos de água de
domínio da União.

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DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS


9
AMBIENTAIS

124
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

1. INTRODUÇÃO

Existem três facetas da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente:

• Preventiva: adoção de medidas preventivas, como a exigência de licenciamentos ambientais e


publicação de EIA/RIMA. Cuida-se da essência do direito ambiental.
• Repressiva: administrativa e penal. Trata-se da sanção aplicada após o dano ter se efetivado.
• Reparadora: responsabilidade civil, na modalidade objetiva.

O art. 14, § 1º, da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), dispõe que:

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente.

Assim, no âmbito do direito ambiental, existem duas teorias que explicam a responsabilidade civil
objetiva preconizada pela PNMA e recepcionada pela CF/88, pois, segundo o art. 225, §3º, da CF, as condutas
e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Este dispositivo consagra as três responsabilidades a respeito da violação ao meio ambiente:
responsabilização nas esferas penal, administrativa e civil.
São teorias que explicam a responsabilização na esfera civil:

1. Teoria do Risco Integral (adotada no Brasil): para essa teoria, há dever de indenizar inclusive
nos casos de culpa exclusiva da vítima, caso fortuito (evento causado pela ação humana de
terceiros) ou força maior (evento causado pela natureza). A doutrina majoritária entende que o
art. 225, § 3º, da CF, recepcionou o art. 14, § 1º, da PNMA. Isso porque o dispositivo da PNMA
não admite a interpretação de que hipóteses de caso fortuito ou força maior sejam capazes de
excluir a responsabilização civil.
2. Teoria do Risco Criado ou Risco Proveito: para essa teoria, há possibilidade de exclusão ou
diminuição do dever de indenizar nos casos de culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força
maior.

Já no que tange à responsabilização do Estado quanto à ocorrência de danos ambientais, em regra,


nos termos do art. 37, § 6º, da CF, ela será OBJETIVA. No entanto, nos casos em que o dano tenha sido
causado em decorrência da omissão do poder público no exercício do poder de polícia, a responsabilização
será SUBJETIVA. A propósito, veja o enunciado aprovado pelo STJ, em edição do “Jurisprudência em Teses”
sobre direito ambiental:

Em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado quando a omissão


de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar for determinante para a concretização
ou o agravamento do dano causado.

Em alguns casos, a legislação ambiental determina que não é preciso demonstrar o nexo de
causalidade entre a ação/omissão e o dano. São os casos em que a responsabilidade pelo dano ambiental é
propter rem, ou seja, segue a coisa. A título de exemplo, pode-se citar a hipótese da alienação de uma
propriedade cuja área de reserva legal esteja em desacordo com a legislação florestal. Nesse caso, o novo
proprietário deverá restaurar a área independentemente de ser sido ou não o responsável pelo dano
causado.

125
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

Já com relação à reparação nos casos de condenação por responsabilidade civil, tem-se que os danos
ambientais poderão ser reparados mediante restauração natural (recuperação do local degradado),
compensação ecológica (quando não for possível a restauração natural, mediante a recuperação de outra
área semelhante) ou, em último caso, por meio de indenização pecuniária (quando não for possível nem a
restauração natural, nem a compensação ecológica).
Assim, podemos resumir a responsabilização ambiental da seguinte forma:

RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS


RESPONSABILIDADE RESPONSABILIDADE RESPONSABILIDADE PENAL
CIVIL ADMINISTRATIVA
Objetiva Subjetiva Subjetiva
Art. 14, § 1º, da Lei n.º Art. 14, caput, da Lei n.º 6.938/81. É vedada a responsabilização penal
6.938/81. objetiva.

Destaque-se que o entendimento de que a responsabilidade administrativa é subjetiva foi pacificado


recentemente pelo STJ. A responsabilidade administrativa ambiental será de natureza subjetiva, porquanto
a aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível
para a reparação de danos causados, mas, sim, à sistemática da teoria da culpabilidade. Assim, a conduta do
transgressor deve ser demonstrada a partir de seu elemento subjetivo, com demonstração do nexo causal
entre a conduta e o dano.

2. COMPETÊNCIA

A competência para legislar sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente é concorrente entre
a União, Estados e Distrito Federal.
Os Municípios, a seu turno, poderão legislar de acordo com o interesse local, além de poderem
suplementar a legislação federal e estadual, no que couber.

3. POLUIDOR

O poluidor é o responsável pela reparação dos danos ambientais. Segundo a lei, é a pessoa física ou
jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, pela atividade de degradação
ambiental.
Degradação ambiental, por sua vez, é qualquer alteração adversa das características do meio
ambiente. Já poluição se relaciona à degradação da qualidade ambiental causada pelo homem que
prejudique a saúde, segurança, bem-estar da população, que criem condições adversas das atividades sociais
e atividades econômicas, que afetem desfavoravelmente a biota, que afetem as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente e que lancem matérias ou energias em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.
Veja, então, que é possível uma poluição lícita, tolerável, feita inclusive com base em licença. É
importante ressaltar que mesmo a poluição licenciada não exclui a responsabilidade civil por dano
ambiental. Não tem caráter sancionatório, sendo fruto do princípio do usuário-pagador.
Além disso, a concessão de uma licença ambiental não dá alvará para o sujeito destruir o meio
ambiente.
Atente-se que, se a licença ambiental foi concedida de modo irregular e culminar na degradação
ambiental, o sujeito irá responder pela degradação, assim como também responderá o Poder Público na
qualidade de poluidor indireto. Isto é, o Poder Público, em situação irregular, concedeu licença para o sujeito
que não teria a mínima condição de obtê-la, motivo pelo qual será considerado o poluidor indireto.

126
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

O STJ entendeu que, neste caso, há uma responsabilidade objetiva do Estado por danos ambientais,
mesmo em se tratando de omissão na fiscalização ambiental. Sabe-se que, em matéria de omissão, a
responsabilidade do Estado é subjetiva. E em matéria de ação, a responsabilidade é objetiva. Todavia, em
matéria ambiental, o STJ entende que a responsabilidade é objetiva, ainda que se trate de hipótese omissiva.
Segundo o STJ, sem prejuízo da responsabilidade solidária, deve o Estado, que não provocou
diretamente o dano, buscar o ressarcimento dos valores despendidos do responsável direto. Ou seja, se o
Estado concedeu uma licença irregular, deverá pagar. No entanto, tendo o Estado efetuado o pagamento,
caberá a ele exercer o direito de regresso contra o poluidor direto.
Por conta disso, o STJ também passou a admitir a inversão do ônus da prova nas ações de
reparações de danos ambientais. Primeiro, porque há interesse público na questão. Segundo, porque o
princípio da precaução autoriza. Na incerteza científica, deve-se proteger o meio ambiente, recaindo o ônus
para o poluidor.
Outro instrumento utilizado é a desconsideração da personalidade jurídica para fins ambientais.
Segundo o art. 4º da Lei de Crimes Ambientais, Lei n.º 9.605/1998, aplica-se a teoria menor, nesses casos.
Ou seja, não se exige o abuso da personalidade jurídica para que ela seja desconsiderada. Basta que, para a
reparação do dano, o patrimônio da pessoa jurídica não seja suficiente, podendo o sócio pagar a indenização.
Ainda de acordo com o art. 4º da Lei 9.605/98, poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre
que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

4. NEXO CAUSAL

Para se falar em responsabilidade, é necessário que entre a conduta e o resultado haja um nexo de
causalidade.
Nexo causal é o vínculo entre a conduta ambiental e o resultado da degradação ambiental. É
pressuposto para que se possa falar em responsabilização civil.
Há precedentes do STJ que excepcionalmente admitiram responsabilidade civil ambiental sem nexo
de causalidade. Isso porque, nesses casos, o STJ reputou que a obrigação seria propter rem, que é a
responsabilização do adquirente do imóvel já danificado pelo antigo proprietário. Veja-se que nesse caso não
há nexo causal, pois o adquirente não foi o causador do dano.
No entanto, por se tratar de uma obrigação da própria coisa, o sujeito que adquiriu deverá arcar com
a restauração ou reparação do dano.
É o que dispõe o seguinte enunciado, aprovado na edição “Jurisprudência em Teses” do STJ sobre
direito ambiental:

A obrigação de recuperar a degradação ambiental é do titular da propriedade do imóvel,


mesmo que não tenha contribuído para a deflagração do dano, tendo em conta sua
natureza propter rem.

5. RESPONSABILIDADE OBJETIVA AMBIENTAL

Lembrando que a responsabilidade civil ambiental é objetiva. Isso é pacífico e está expresso na Lei
da Política Nacional do Meio Ambiente.
Segundo o art. 14, §1º, da Lei 6.938, sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo,
é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados
ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.
Os Tribunais Superiores e a doutrina entendem que se adota a Teoria do Risco Integral. Portanto,
não se admite excludentes da responsabilidade, devendo o sujeito responder a despeito de fato de terceiro,
caso fortuito ou força maior.

127
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

A pretensão reparatória ambiental e material será, conforme o STJ, perpétua. Ou seja, a pretensão
de reparação ambiental é imprescritível. O fundamento é de que o direito ao pedido de reparação de danos
ambientais está protegido pelo manto da imprescritibilidade, pois se trata de um direito à vida, um direito
fundamental à essencial afirmação dos povos, além de ser um direito à existência. Dessa forma, se não
cuidarmos do meio ambiente, não haverá vida, saúde, trabalho, lazer etc. O STJ diz que o dano ambiental se
inclui dentre os direitos fundamentais e, portanto, a ação que visa reparar o dano ambiental é imprescritível.
Lembre-se que o direito ao meio ambiente é um direito fundamental de 3ª dimensão.

6. DANOS AMBIENTAIS

O dano ambiental é normalmente irreparável in natura, não tendo como retornar ao status quo
anterior. Dessa forma, busca-se plantar algo semelhante, de forma a permitir a regeneração local.
Uma vez impossibilitada a reparação ou restauração em espécie, que é a prioridade, evidentemente,
deve-se partir para uma compensação ambiental.
Caso não seja possível a compensação ambiental, passa-se a falar em indenização em pecúnia. A
última hipótese é a indenização, sendo certo que a preferência é a reparação ou restauração.
Segundo o STJ, é plenamente possível a obrigação de reparar o dano ambiental com a indenização
pecuniária, cumulativamente. Isso porque a cumulação de obrigação de fazer, não fazer e de pagar não
configura bis in idem, pois a indenização não é para o dano especificamente já reparado, eis que efetivamente
ele já foi reparado.
A indenização refere-se aos efeitos remanescentes, reflexos e transitórios, como é o dano que a
comunidade experimentou em razão da privação, ainda que temporária da fruição do bem de uso comum.
A indenização se justifica para que haja o retorno ao patrimônio público de benefícios ilegalmente
auferidos.
Nesse sentido, foram aprovados os seguintes enunciados, pelo STJ, na publicação “Jurisprudência em
Teses”:

Admite-se a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de não fazer e


de indenizar na reparação integral do meio ambiente.

O pescador profissional é parte legítima para postular indenização por dano ambiental que
acarretou a redução da pesca na área atingida, podendo utilizar-se do registro profissional,
ainda que concedido posteriormente ao sinistro, e de outros meios de prova que sejam
suficientes ao convencimento do juiz acerca do exercício dessa atividade.

É devida a indenização por dano moral patente o sofrimento intenso do pescador


profissional artesanal, causado pela privação das condições de trabalho, em consequência
do dano ambiental.

Além disso, o STJ vem admitindo a chamada condenação por dano moral coletivo do poluidor.
Presume-se que haverá dano moral coletivo sempre que estivermos diante de uma presunção de danos às
presentes gerações como às futuras gerações.
Conforme o STJ, o dano moral coletivo ambiental atinge direitos da personalidade do grupo
massificado. Então, torna-se possível a condenação por danos morais coletivos.

7. JURISPRUDÊNCIA

Atente-se para os seguintes enunciados aprovados pelo STJ e que foram publicados no
“Jurisprudência em Teses”, disponível no sítio eletrônico da Corte:

128
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

7.1. STF

1. A reparação do dano ao meio ambiente é direito fundamental indisponível, sendo


imperativo o reconhecimento da imprescritibilidade no que toca à recomposição
dos danos ambientais

Tema 999 da Repercussão Geral do STF: É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano
ambiental.

7.2. STJ

1. A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do


RISCO INTEGRAL. Não são admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o
caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou culpa exclusiva da vítima. (STJ, Tema
Repetitivo 681, REsp 1.354.536)

2. O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de terceiro capaz


de interromper o nexo causal na reparação por lesão ao meio ambiente

Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade
econômica ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável
pelos danos vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato
exclusivo de terceiro ou força maior.
No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área ambiental protegida.
Mesmo tendo havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso não é causa
excludente da responsabilidade do proprietário do estabelecimento.
Mesmo que se considere que a instalação do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão
de erro na concessão da licença ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do
empreendedor, que gera o risco concretizado no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de
eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada. (STJ, REsp 1.612.887, Informativo 671)

3. Inaplicabilidade do fato consumado

Súmula 613/STJ: Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito
Ambiental.

4. Aplicação da inversão do ônus da prova em ações de degradação ambiental

Súmula 618/STJ: A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.

5. Obrigações ambientais possuem caráter propter rem

Súmula 623/STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-
las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

6. Possibilidade de cumulação de obrigação de fazer ou obrigação de não fazer com


obrigação de indenizar

Súmula 629/STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer
ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.

129
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

7. Prazo prescricional para a Administração promover execução de multa


ambiental

Súmula 467/STJ: Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a


pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.
Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade
econômica ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável
pelos danos vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato
exclusivo de terceiro ou força maior.
No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área ambiental protegida.
Mesmo tendo havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso não é causa
excludente da responsabilidade do proprietário do estabelecimento.
Mesmo que se considere que a instalação do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão
de erro na concessão da licença ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do
empreendedor, que gera o risco concretizado no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de
eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada. (STJ, REsp 1612887/PR, Informativo 671).

8. Danos aos pescadores profissionais por vazamento de amônia em rio

Considerando que a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco
integral, não se admitem excludentes de responsabilidade, como caso fortuito, força maior, fato de terceiro
ou culpa exclusiva da vítima.
Assim, tendo a empresa causado dano ambiental que privou pescadores profissionais da pesca por
determinado período, há configuração de dano moral. No entanto, o valor a ser arbitrado não deverá incluir
um caráter punitivo, pois é inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter
punitivo imediato, já que a punição é função do direito penal e administrativo. Portanto, não há que se falar
em danos punitivos (punitive damages) no caso de danos ambientais.
Desse modo, tem-se que o STJ entende pelo cabimento de indenização por danos morais a
pescadores que tiveram sua atividade impedida ou gravemente prejudicada em decorrência de poluição
causada por acidente ambiental. (STJ, REsp 1.354.536 – Informativo 538)

9. Construção de hidrelétrica e prejuízo aos pescadores artesanais locais

O STJ entendeu que não há que se falar em danos morais devidos a pescadores artesanais locais que
foram prejudicados pela construção de uma hidrelétrica, devido à redução ou desaparecimento de peixes de
espécies comercialmente lucrativas. Isso porque a indenização por danos morais decorrentes de dano
ambiental tem por escopo evitar ou eliminar fatores que possam causar riscos intoleráveis. No entanto, no
caso concreto o risco era permitido porque a atividade desenvolvida pela concessionária (construção de
hidrelétrica) foi lícita e de interesse público.
No que tange aos danos materiais, a Corte entende por sua configuração, na medida em que houve
dano patrimonial, ainda que a atividade praticada seja lícita. Isso porque se deve indenizar o sacrifício que
uma ou algumas pessoas suportaram a fim de que o Estado pudesse realizar atividade legítima de interesse
público. Assim, o pescador artesanal terá o direito de ser indenizado, pela concessionária de serviço público
responsável, em razão dos prejuízos materiais experimentados. (STJ, REsp 1.371.834/PR – Informativo 574)

10. Responsabilidade do particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno

130
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

Responde objetivamente o particular que deposita resíduos tóxicos, a céu aberto, em local de fácil
acesso, ainda que existam cercas e placas de sinalização informando a presença de material orgânico, no
caso de danos sofridos por pessoa que, ao entrar na propriedade, por conduta não dolosa, tenha sofrido
graves queimaduras decorrentes de contato com os resíduos. (STJ, REsp 1.373.788/SP – Informativo 544)

11. Cabimento de dano moral coletivo no direito ambiental

É possível a condenação cumulativa de obrigação de fazer (recomposição do meio ambiente


degradado) com obrigação de pagar quantia certa a título de compensação por dano moral ambiental, em
ação civil pública proposta em razão de dano ambiental. (STJ, REsp 1.328.753/MG – Informativo 526)

12. Jurisprudência em Teses (STJ)

Os responsáveis pela degradação ambiental são co-obrigados solidários, formando-se, em regra, nas
ações civis públicas ou coletivas litisconsórcio facultativo.
A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o
nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo
descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade
civil para afastar sua obrigação de indenizar.
Causa inequívoco dano ecológico quem desmata, ocupa, explora ou impede a regeneração de Área
de Preservação Permanente - APP, fazendo emergir a obrigação propter rem de restaurar plenamente e de
indenizar o meio ambiente degradado e terceiros afetados, sob o regime de responsabilidade civil objetiva.
O reconhecimento da responsabilidade objetiva por dano ambiental não dispensa a demonstração
do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado.
A alegação de culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como excludente de
responsabilidade, deve ser afastada, ante a incidência da teoria do risco integral e da responsabilidade
objetiva ínsita ao dano ambiental (art. 225, § 3º, da CF e do art. 14, § 1º, da Lei n.º 6.938/81),
responsabilizando o degradador em decorrência do princípio do poluidor-pagador.
É imprescritível a pretensão reparatória de danos ao meio ambiente.
O termo inicial da incidência dos juros moratórios é a data do evento danoso nas hipóteses de
reparação de danos morais e materiais decorrentes de acidente ambiental.
A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.
Não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente.

QUESTÕES
1. (CESPE/PGE-PB/Procurador do Estado/2021). A marinha brasileira tornou pública a conclusão de que o
óleo que apareceu em praias de todos os estados do Nordeste e em dois do Sudeste em 2019 foi derramado
por três navios-tanques. O relatório final da investigação foi entregue à Polícia Federal e ao Ministério Público
Federal (MPF) em agosto de 2020, mas o sigilo do documento terminou apenas em maio de 2021.
O vazamento foi classificado como crime ambiental. Seus primeiros registros apareceram na Paraíba, em 30
de agosto de 2019, nas praias de Jacumã e Gramame, no Conde, e também nas praias Bela, Tambaba e Acaú,
em Pitimbu. Também foram atingidas as praias de Camboinha, Poço, Intermares e Formosa, em Cabedelo, e
Cabo Branco e Tambaú, em João Pessoa, no dia 1.º de setembro de 2019.
Jornal da Paraíba, 10/5/2021 (com adaptações).
Acerca da responsabilidade civil por dano ambiental em situações como a apresentada pela notícia, assinale
a opção correta.
a) A pretensão reparatória contra as empresas proprietárias dos navios prescreve em 5 anos contados do
término do processo administrativo de apuração do dano.

131
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

b) É devida indenização por danos morais ao pescador profissional artesanal, dada a privação das condições
de trabalho em consequência do dano ambiental.
c) O estado da Paraíba deve ser responsabilizado solidariamente às empresas proprietárias dos navios, por
falha no dever de fiscalizar.
d) Os responsáveis pela degradação ambiental são coobrigados solidários, devendo ser demandados em
ações coletivas em litisconsórcio necessário.
e) A responsabilidade por dano ambiental é objetiva e informada pela teoria do risco integral, admitindo-se
apenas o caso fortuito e a força maior como excludentes de responsabilidade.
2. (CESPE/MPE-AP/Promotor de Justiça Substituto/2021). À luz do entendimento do STF, assinale a opção
correta, referente a dano civil ambiental.
a) No ordenamento jurídico brasileiro, a regra é a prescrição da pretensão reparatória, em qualquer
hipótese.
b) Havendo inércia dos entes legitimados, deve prevalecer o princípio da segurança jurídica em favor do
autor do dano ambiental.
c) A reparação do dano ao meio ambiente é direito fundamental indisponível, dado o reconhecimento da
imprescritibilidade relativa à recomposição dos danos ambientais.
d) A CF dispõe, expressamente, acerca da imprescritibilidade dos danos civis ambientais.
e) A tutela constitucional a determinados valores não pode ser sobreposta ao reconhecimento de
pretensões imprescritíveis.
3. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Um cidadão, por descuido, iniciou um incêndio
em sua propriedade, situada em área rural coberta pelo bioma campos, o que resultou na destruição da
vegetação nativa de outras duas propriedades vizinhas.
A respeito da situação hipotética apresentada e de aspectos legais a ela relacionados, julgue o próximo item.
Caso o cidadão venda a sua propriedade, o novo proprietário deverá responder por eventuais obrigações
ambientais ainda pendentes de cumprimento, haja vista a sua natureza real.

4. (FGV/TJ-PR/Juiz Substituto/2021). João construiu uma suntuosa mansão de veraneio ao lado do leito de
um rio e em Área de Preservação Permanente (APP), com considerável supressão de vegetação. Constando
a ocorrência de graves danos ambientais e de ilegal atividade causadora de impacto ambiental, o Ministério
Público ajuizou ação civil pública, pleiteando a demolição da edificação ilegal e o reflorestamento da área
degradada. Na contestação, João alegou que, inobstante não tenha obtido prévia licença para a construção,
o Município tinha ciência da construção de sua casa, eis que fiscais de meio ambiente estiveram no local e
não lavraram auto de infração. Assim, argumenta o réu que o poder público quedou-se inerte, devendo ser
aplicada a teoria do fato consumado, pois a construção já ocorreu há dez anos. Consoante jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, a tese defensiva:
a) merece prosperar, eis que, diante do lapso temporal transcorrido, apesar de não ter ocorrido prescrição,
já houve consolidação da situação fática no tempo pelo fato de o poder público ter tolerado a construção em
APP;
b) merece prosperar, eis que, diante do lapso temporal transcorrido e da inércia do poder público que
tolerou a construção em APP, aplica-se a estabilização dos efeitos do ato administrativo omissivo;
c) merece prosperar, eis que os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade informam que o direito
de propriedade deve prevalecer em razão da inércia do Município, mas João deve ser condenado a
compensar os danos ambientais provocados;
d) não merece prosperar, pois não se aplica ao caso concreto a teoria do fato consumado, eis que não
preenchido o requisito temporal, ou seja, ainda não se passaram vinte anos da conduta que deu causa aos
danos ambientais;
e) não merece prosperar, pois não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito
Ambiental, que equivaleria a perpetuar e perenizar um suposto direito de poluir que vai de encontro ao
postulado do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

132
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

5. (CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2019). Com base na jurisprudência do STJ, é correto afirmar que,
em matéria de proteção ambiental em que se verifiquem omissão no cumprimento de fiscalizar, por falta de
recursos, e, em consequência, o agravamento do dano causado, o Estado
a) poderá ser civilmente responsabilizado, em razão da sua omissão no dever de fiscalizar.
b) não poderá ser responsabilizado, pois quem deve ser responsabilizado pelo dano é quem o causou.
c) poderá ser criminalmente responsabilizado, em razão da sua omissão no dever de fiscalizar.
d) poderá ser administrativamente responsabilizado, em razão da sua omissão.
e) não poderá ser responsabilizado, pois ao caso se aplica o princípio da reserva do possível.

6. (CESPE/Juiz de Direito Substituto/TJPA/2019). A respeito da responsabilização por danos ambientais,


assinale a opção correta.
a) O Ibama tem competência para propor denúncia criminal na justiça federal para a responsabilização
ambiental criminal.
b) Órgão estadual de meio ambiente tem competência para propor ação civil pública na justiça federal para
a responsabilização ambiental administrativa.
c) O Ministério Público Federal tem competência para lavrar auto de infração, com vistas à responsabilização
ambiental administrativa, e para apreender produtos e instrumentos usados em infração ambiental.
d) Órgão estadual de meio ambiente tem competência para lavrar auto de infração, com vistas à
responsabilização ambiental administrativa, e para apreender produtos e instrumentos usados em infração
ambiental.
e) O Ministério Público estadual tem competência para propor denúncia criminal na justiça federal para a
responsabilização ambiental administrativa.
7. (VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRO/2019). Segundo o artigo 225, § 3°, da Constituição Federal, as
condutas e atividades consideradas lesivas ao Meio Ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados. Acerca da tríplice responsabilidade ambiental, assinale a alternativa correta.
A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolidou o entendimento de que a
responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva.
A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolidou o entendimento de que a
responsabilidade administrativa ambiental é objetiva.
A responsabilidade civil não admite a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de
não fazer e de indenizar na reparação integral do meio ambiente.
Segundo o entendimento atualizado do STF, a responsabilidade penal da pessoa jurídica por crimes
ambientais é condicionada à simultânea persecução penal da pessoa física, em tese, responsável no âmbito
da empresa.
Os responsáveis pela degradação ambiental são coobrigados solidários, formando-se, em regra, nas
ações civis públicas ou coletivas, litisconsórcio necessário.
8. (FCC/Juiz de Direito Substituto/TJAL/2019). Considerando a natureza e as peculiaridades do dano
ambiental, seu regime jurídico e o entendimento jurisprudencial e doutrinário acerca da sua apuração,
reparabilidade e responsabilização, considere as assertivas abaixo:
I. A responsabilidade civil em caso de dano ambiental causado em decorrência do exercício de atividade com
potencial de degradação ambiental é de natureza objetiva e independe, portanto, de comprovação de dolo
ou culpa.
II. A reparação do dano ambiental deve ocorrer, preferencialmente, de forma indireta, com o pagamento de
indenização e aplicação de sanções pecuniárias de cunho inibitório.
III. O dano ambiental é de caráter coletivo ou difuso, podendo, contudo, impactar também direitos
individuais, materializando-se assim o denominado efeito ricochete na forma de dano reflexo.
IV. Inexiste a figura do dano moral ambiental, havendo a obrigação de reparar apenas danos patrimoniais,
ainda que causados a bens imateriais (ou incorpóreos), como o equilíbrio ambiental e a qualidade de vida da
população.
Está correto o que se afirma APENAS em

133
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

a) I e IV.
b) I e III.
c) III e IV.
d) I e II.
e) II e IV.
9. (VUNESP/Prefeitura de Valinhos-SP/Procurador/2019). Assinale a alternativa que traz o conteúdo correto
de uma das Súmulas do STJ que tratam sobre Direitos Metaindividuais.
a) É admitida a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.
b) A inversão do ônus da prova não se aplica às ações de degradação ambiental.
c) As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou
possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
d) Quanto ao dano ambiental, não é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer
cumulada com a de indenizar, devendo ser requerida em ações separadas.
e) O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos e coletivos, exceto
aos individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.

COMENTÁRIO
1. Comentários
A letra A está errada. O dano ambiental é imprescritível (Tema 999 da RG do STF), o que prescreve em 5 anos
é pretensão de a Administração promover a execução de multa por infração ambiental (Súmula 467/STJ).
A letra B está certa e é o gabarito da questão. O STJ pacificou entendimento de que “a privação das condições
de trabalho em decorrência de dano ambiental configura dano moral” (RESp 1.346.430/PR). No mesmo
sentido, veja-se o REsp 1.354.536 – Informativo 538, que tratou de situação de dano moral aos pescadores
profissionais em decorrência de vazamento de amônia no rio onde laboravam.
A letra C está equivocada, pois a responsabilidade, na situação de omissão do poder público no dever de
fiscalização, é subjetiva.
A letra D está errada. No caso, como a responsabilidade é solidária o litisconsórcio será facultativo.
A letra E está errada. O Brasil adota a teoria do risco integral, na qual não se admitem excludentes de
responsabilidade.

2. Comentários
A letra A está incorreta, pois, embora a regra, de fato, seja a prescrição da pretensão reparatória, uma das
exceções está justamente na imprescritibilidade da reparação do dano ambiental.
A letra B está errada, na medida em que na ponderação entre a segurança jurídica e a proteção ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado prevalece o último. Por esse motivo considera-se imprescritível o dano
ambiental.
A letra C está certa e é o gabarito da questão.
A letra D está equivocada, pois a imprescritibilidade dos danos civis ambientais não encontra previsão
expressa na CF. Trata-se de consolidação de entendimento jurisprudencial, fundamentado pela lógica
hermenêutica de que, tratando-se de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos,
estará protegido pelo manto da imprescritibilidade.
A letra E está errada. O dano ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os
poucos acobertados pelo manto da imprescritibilidade da ação que visa reparar o dano ambiental.

3. O item está correto. Isso porque é pacífico o entendimento de que a obrigação civil de reparar o dano
ambiental é do tipo propter rem, ou seja, segue a coisa. Veja-se o que dispõe a Súmula 623/STJ: As obrigações
ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual
e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

4. Conforme preconiza a Súmula 613/STJ: Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema
de Direito Ambiental. Portanto, a resposta correta encontra-se na letra E.

134
DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

5. Conforme entendimento sedimentado pelo STJ:


14. No caso de omissão de dever de controle de fiscalização, a responsabilidade ambiental solidária da administração é
de execução subsidiária (ou com ordem de preferência). 15. A responsabilidade solidária e de execução subsidiária
significa que o Estado integra o título executivo sob a condição de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a
dívida se o degradador original, direto ou material (= devedor principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento
patrimonial ou insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação
judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso, com a desconsideração da personalidade jurídica.
(REsp n.º 1.071.741-SP)

No mesmo sentido, veja a tese positivada na 30ª Edição do Jurisprudência em Teses do STJ:
8) Em matéria de proteção ambiental, há responsabilidade civil do Estado quando a omissão de cumprimento adequado
do seu dever de fiscalizar for determinante para a concretização ou o agravamento do dano causado. (Informativo n.º
427)

Portanto, a resposta está no item A.

6. Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a competência para propor denúncia criminal é do Ministério Público,
titular da ação penal, conforme art. 26 da Lei n.º 9.605/98.
A alternativa B está incorreta, porquanto a responsabilidade administrativa ambiental se dá mediante
lavratura de auto de infração e respectivo procedimento administrativo, prescindindo de procedimento
judicial.
A alternativa C está incorreta, na medida em que, conforme ensina o art. 15 da LC 140/2011, a competência
para lavratura de auto de infração é do órgão ambiental responsável pelo licenciamento ou autorização do
empreendimento ou atividade.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 15 da LC 140/2011.
A alternativa E está incorreta, porque a competência para a proposição de denúncia criminal na esfera
federal é do Ministério Público Federal, bem como a responsabilização não seria administrativa, mas criminal.

7. Comentários
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão, conforme entendimento mais recente do STJ,
sedimentado e consignado no Informativo n.º 650/STJ.
A alternativa B está incorreta, conforme Informativo n.º 650/STJ, em que se consignou que a
responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva.
A alternativa C está incorreta, na medida em que a condenação simultânea e cumulativa é permitida no
âmbito da responsabilidade civil ambiental, conforme Súmula 629 do STJ: Quanto ao dano ambiental, é
admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar
A alternativa D está incorreta, pois não mais se adota a teoria da “dupla imputação”, que exigia a
responsabilização concomitante da pessoa física para a condenação da pessoa jurídica por crimes ambientais.
A alternativa E está incorreta. Veja o teor do enunciado 7 da Jurisprudência em Teses do STJ: “7) Os
responsáveis pela degradação ambiental são coobrigados solidários, formando-se, em regra, nas ações civis
públicas ou coletivas litisconsórcio facultativo.”.

8. Comentários
O item I está correto, conforme teor do art. 14, § 1º da Lei 6.938/81: Sem obstar a aplicação das penalidades
previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público
da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos
causados ao meio ambiente. Trata-se da responsabilidade civil objetiva por danos ao meio ambiente.
O item II está incorreto, pois a preferência será sempre pela recuperação do meio ambiente de forma direta.
Somente quando não for possível, haverá a reparação de forma indireta.
O item III está correto. O meio ambiente sadio pertence à categoria de direito fundamental de terceira
geração, possuindo natureza transindividual e difusa. Entretanto, os danos ao meio ambiente podem
também impactar na esfera individual (ex.: pescadores impossibilitados de exercer sua atividade).

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DANIELA ADAMEK RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS • 9

O item IV está incorreto. É entendimento consolidado da doutrina e jurisprudência que é cabível condenação
por danos morais em razão de danos causados ao meio ambiental, inclusive danos morais coletivos.
[...] 4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendo desnecessária a
demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. [...] (REsp
1269494/MG, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 24/09/2013)

9. Comentários:
A alternativa A está incorreta, conforme dispõe a Súmula 613 do STJ: Não se admite a aplicação da teoria do
fato consumado em tema de Direito Ambiental.
A alternativa B está incorreta, conforme dispõe a Súmula 618 do STJ: A inversão do ônus da prova aplica-se
às ações de degradação ambiental.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. Veja o teor da Súmula 623 do STJ: As obrigações
ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual
e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
A alternativa D está incorreta, conforme dispõe a Súmula 629 do STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida
a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.
A alternativa E está incorreta, na medida em que o MP possui legitimidade para a defesa de direito individual
indisponível mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada.

136
DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

10 INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS

137
DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

1. INTRODUÇÃO

Em regra, a competência material ambiental relacionada à proteção do meio ambiente é comum.


Isso quer dizer que cada entidade política terá atribuição para instituir suas próprias infrações
administrativas ambientais, inclusive por meio de lei, pois, nesse caso, exercerão o poder de polícia, o qual
todas as entidades políticas possuem.
Dessa forma, é possível que os órgãos ambientais que não licenciaram determinado
empreendimento exerçam o poder de polícia e inclusive autuem o empreendimento.
Assim, o empreendimento que foi licenciado por um órgão federal poderá ser autuado por órgão
municipal. Todavia, a LC 140/11, em seu art. 17, §3º, estabelece que prevalece o auto de infração lavrado
pelo órgão que tenha atribuição para o licenciamento. Confira:

Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o


caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar
processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.
[...]
§ 3º O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da
atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades
efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação
ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o caput.

Se o empreendimento ou a atividade infringiram norma ambiental e o órgão que licenciou está


omisso, outro órgão, de outra entidade política, poderá lavrar auto de infração, que será plenamente cabível.
Por outro lado, se os dois autuam o empreendimento em razão da mesma infração, prevalecerá o auto de
infração do órgão competente para licenciar.

2. INFRAÇÃO AMBIENTAL DO ART. 70 DA LEI N.º 9.605/98

No âmbito federal, as infrações administrativas são tratadas de maneira genérica pela Lei n.º
9.605/98, também conhecida por “Lei de Crimes Ambientais”.
Segundo o art. 70, considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as
regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. Veja que o art. 70 não
determina que deva ocorrer dano ambiental para que haja infração administrativa ambiental. Portanto, há a
consagração do princípio da prevenção.
Em outras palavras, basta que haja a desobediência da regra ambiental para que o sujeito responda
pela infração administrativa ambiental.
Polêmica é a questão sobre a definição da natureza jurídica da responsabilidade administrativa
ambiental: é possível que haja a responsabilização administrativa ambiental objetiva, ou seria necessária a
demonstração de culpa para que houvesse incidência da responsabilidade ambiental administrativa?
No STJ, apesar de certa oscilação e de a doutrina não entender dessa forma, prevalece o
entendimento de que a responsabilização administrativa ambiental é subjetiva. Isso porque, em matéria
de responsabilidade administrativa, há aplicação de sanção ao infrator. Nesse caso, é preciso observar a
teoria da culpabilidade, de forma que a responsabilidade administrativa ambiental não poderia ser
objetiva, e sim subjetiva.
Nos termos do § 1º do art. 70 da Lei n.º 9.605/98, as autoridades competentes para lavrar auto de
infração ambiental e instaurar processo administrativo são:

• Funcionários de órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, designados para as atividades de


fiscalização;

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DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

• Agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.

Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir representação a essas autoridades,
para efeito do exercício do seu poder de polícia.
A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a sua
apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de a omissão gerar
corresponsabilidade.
O STJ entende que a Lei n.º 9.605/98 confere a todos os funcionários de órgãos ambientais do
SISNAMA o poder para lavrar auto de infração, desde que esses funcionários tenham sido designados
previamente para atividades de fiscalização.
Isso significa dizer que se o integrante do órgão do SISNAMA lavra auto de infração sem estar
designado para a fiscalização ambiental, este ato praticado deve ser anulado, por falta de atribuição para a
prática do ato.
Com relação à imputação administrativa pelo Ibama, merecem destaque os seguintes enunciados,
editados pelo STJ, constante da publicação “Jurisprudência em Teses”:

É vedado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –


Ibama – impor sanções administrativas sem expressa previsão legal.
É defeso ao Ibama impor penalidade decorrente de ato tipificado como crime ou
contravenção, cabendo ao Poder Judiciário referida medida.

O art. 72 elenca as sanções administrativas:

1. Advertência

A advertência será aplicada pela inobservância das disposições da Lei n.º 9.605/98 ou de preceitos
regulamentares, sem prejuízo das demais sanções.

2. Multa simples

A multa simples, que poderá ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação do
meio ambiente, será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo:

a. Não sanar irregularidade praticada, após ser advertido, ou deixar de sanar essas
irregularidades no prazo assinalado por órgão ambiental do SINAMA ou pela Capitania dos
Portos, do Ministério da Marinha;
b. Embaraçar fiscalização do órgão ambiental do SINAMA ou da Capitania dos Portos, do
Ministério da Marinha.

Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão revertidos ao Fundo
Nacional do Meio Ambiente, Fundo Naval, fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos,
conforme dispuser o órgão arrecadador.
O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a
multa federal na mesma hipótese de incidência. Atente-se que a interpretação deve ser dada no sentido de
que a substituição deve se dar na medida em que compensa. A título de exemplo, se o município impôs multa
de 10 mil reais e a União impôs multa de 15 mil reais. Nesse caso, o sujeito deverá pagar 10 mil reais ao
município, mas a diferença de 5 mil reais poderá ser cobrada pela União.

3. Multa diária

A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo.

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DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

4. Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos,


equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração

Segundo a norma, verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-
se os respectivos autos.
Nesse caso, os animais serão prioritariamente libertados em seu habitat ou, sendo inviável ou não
recomendável, serão entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas.
Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua descaracterização
por meio da reciclagem.

5. Destruição ou inutilização do produto

Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições


científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.

6. Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a instituições


científicas, culturais ou educacionais. Suspensão de venda e fabricação do produto
7. Embargo de obra ou atividade
8. Demolição de obra
9. Suspensão parcial ou total de atividades

As sanções de suspensão de venda e fabricação do produto, embargo de obra ou atividade,


demolição de obra e suspensão parcial ou total de atividades serão aplicadas quando o produto, a obra, a
atividade ou o estabelecimento não estiverem obedecendo às prescrições legais ou regulamentares.

10. Restritiva de direitos

As sanções restritivas de direito são:

a. Suspensão de registro, licença ou autorização;


b. Cancelamento de registro, licença ou autorização;
c. Perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais;
d. Perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos
oficiais de crédito;
e. Proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até 3 anos.

Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, deverão ser aplicadas,


cumulativamente, as sanções a elas cominadas.
A pena deverá ser fixada com base no art. 6º da Lei n.º 9.605/98. Em outras palavras, para imposição
e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:

I. Gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a


saúde pública e para o meio ambiente;
II. Antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;
III. Situação econômica do infrator, no caso de multa.

Com relação à prescrição para a imposição de penalidades administrativas impostas pelo Poder
Público federal, deve-se observar a Lei n.º 9.873/1999, que determina que prescreve em 5 anos a ação
punitiva da Administração Pública Federal no exercício do poder de polícia.
No entanto, quando o fato constituir crime, a prescrição administrativa não será de 5 anos, mas sim
o mesmo prazo prescricional previsto na legislação penal.

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DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

Ainda, é possível a chamada prescrição intercorrente, quando o processo administrativo ficar


paralisado por mais de 3 anos, pendente de julgamento ou de despacho.
A Lei n.º 9.873/1999 consigna, em seu art. 1º-A, que, uma vez constituído definitivamente o crédito
não tributário e encerrado o regular do processo administrativo, prescreve em 5 anos a ação de execução da
administração pública federal relativa a crédito decorrente da aplicação de multa por infração à legislação
em vigor.
Por conta disso, foi editada a Súmula 467 do STJ, estabelecendo que prescreve em 5 anos, contados
do término do processo administrativo, a pretensão da administração pública de promover a execução da
multa por infração ambiental.
As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de
ampla defesa e o contraditório. Esse processo administrativo deve observar os seguintes prazos máximos,
conforme determina o art. 71 da Lei n.º 9.605/1998:

• 20 dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de infração, contados da
data da ciência da autuação;
• 30 dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da data da sua
lavratura, apresentada ou não a defesa ou impugnação;
• 20 dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior do SISNAMA, ou à
Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação;
• 5 dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da notificação.

Lembre-se que essas regras são válidas apenas na esfera federal. Assim, cada ente federativo poderá
estabelecer suas regras e procedimentos próprios, no que tange aos processos administrativos locais.

3. JURISPRUDÊNCIA

1. Para que haja a apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental


não é necessário que se comprove que o bem era utilizado de forma específica,
exclusiva ou habitual na prática de ilícitos ambientais

A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada no § 5º do art. 25 da Lei n.º


9.605/98, independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional.
Os arts. 25 e 72, IV, da Lei n.º 9.605/98 estabelecem como efeito imediato da infração a apreensão
dos bens e instrumentos utilizados na prática do ilícito ambiental.
A exigência de que o bem/instrumento fosse utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual para
a prática de infrações não é um requisito que esteja expressamente previsto na legislação. Tal exigência
compromete a eficácia dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva da teoria
econômica do crime, às condutas lesivas ao meio ambiente. (STJ, Tema Repetitivo 1.036, REsp 1.814.944,
Informativo 685)

2. O proprietário do veículo apreendido em razão de infração de transporte irregular


de madeira não titulariza direito público subjetivo de ser nomeado fiel depositário
do bem

O proprietário do veículo apreendido em razão de infração de transporte irregular de madeira não


titulariza direito público subjetivo de ser nomeado fiel depositário do bem (STJ, Tema Repetitivo 1.043, REsp
1.805.706)

3. Responsabilidade administrativa ambiental possui natureza subjetiva

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DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

Fixado o entendimento, pelo STJ, de que a aplicação de penalidades administrativas obedece à


sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo sujeito, com demonstração
do elemento subjetivo e nexo causal entre a conduta e o dano. (STJ, EREsp 1.318.051, Informativo 650)

4. Posse irregular de animais silvestre por longo período de tempo

Pode permanecer na posse dos animais (duas aves silvestres) o particular que, por mais de vinte
anos, manteve-o adequadamente, sem indício de maus-tratos. (STJ, REsp 1.425.943, Informativo 550)

5. Apreensão de instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer


natureza utilizados na infração ambiental

Não há necessidade de comprovação de que o bem era utilizado de forma reiterada ou


rotineiramente na prática de ilícitos ambientais, porquanto referida exigência por parte da autoridade
ambiental caracterizaria verdadeira prova diabólica, tornando letra morta a legislação que ampara a
atividade fiscalizatória. (STJ, AREsp 1.084.396, Informativo 659)

6. Possibilidade de apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental


mesmo que seja alugado

Ainda que se trate de bem local ao real infrator, a apreensão do bem é possível. Não se pode dizer
que houve injusta restrição ao proprietário (que não deu casa à infração ambiental), já que, ao local o veículo,
o locador assume o risco decorrente da exploração da atividade econômica por ele exercida. Contudo, a
autoridade administrativa deverá notificar o locador para oportunizar que comprove a sua boa-fé antes de
decidir sobre a destinação do bem apreendido pela prática de infração ambiental. (STJ, AREsp 1.084.396,
Informativo 659)

7. Transporte irregular de madeira legitima a apreensão de toda a mercadoria,


ainda que parte dela seja regular

A gravidade da conduta do transportador de madeira em descompasso com a guia de autorização


compromete a eficácia de todo o sistema de proteção ambiental. Logo, ainda que parte da carga seja regular,
a medida de apreensão deverá compreender sua totalidade. (STJ, REsp 1.784.755, Informativo 658)

QUESTÕES
1. (CESPE/TC-DF/Procurador/2021). Determinado servidor público, por desconhecer norma aplicável,
concedeu licença em desacordo com a legislação ambiental para que uma sociedade empresarial praticasse
atividade sujeita à prévia autorização do poder público. Após a concessão da licença, supostamente foram
praticados crimes ambientais e causados danos pela empresa ou por seus representantes.
Acerca dessa situação hipotética e considerando os aspectos legais a ela relacionados, julgue o item a seguir.
Mesmo que aparente o dano ambiental, o órgão encarregado do poder de polícia não poderá estabelecer
um depósito prévio do valor estimado dos danos como condição para o recebimento da defesa na esfera
administrativa.

2. (FGV/TJ-PR/Juiz Substituto/2021). João, motorista da sociedade empresária Beta, transportava, em


caminhão alugado, madeira oriunda de desmatamento de vegetação nativa, sem licença válida e sem nota
fiscal. Fiscais do meio ambiente abordaram João e, constatada a ilegalidade ambiental, no exercício de sua
competência, apreenderam a madeira e o veículo utilizado para a prática da infração ambiental.
Inconformada, a sociedade empresária locadora do caminhão utilizado por João impetrou mandado de
segurança, alegando e comprovando que o veículo é de sua propriedade e apenas estava alugado para a

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DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

sociedade empresária Beta, que foi a responsável pelo ilícito, razão pela qual pleiteou liminar com imediata
restituição do caminhão. À luz da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a liminar deve ser:
a) deferida, pois o princípio da intranscendência subjetiva das sanções impede que a sociedade empresária
locadora seja penalizada por infração administrativa ou crime ambiental praticado por terceiro;
b) deferida, pois o poder público não comprovou que o caminhão instrumento do ilícito era utilizado de
forma específica, exclusiva ou habitual para a prática de infrações ambientais;
c) deferida, pois não é razoável se exigir daquele que realiza a atividade de locação de veículos a adoção de
garantias para a prevenção e o ressarcimento dos danos causados pelo locatário
d) indeferida, pois, seja em razão do conceito legal de poluidor, seja em função do princípio da solidariedade
que rege o direito ambiental, a responsabilidade administrativa pelo ilícito recai sobre quem, de qualquer
forma, contribuiu para a prática da infração ambiental, por ação ou omissão;
e) indeferida, pois não se aplica a responsabilidade administrativa ou civil objetiva em matéria ambiental e,
mesmo não tendo a locadora agido com culpa ou dolo, deve ser responsabilizada de forma solidária com
a sociedade empresária Beta.
3. (FCC/Juiz de Direito Substituto/TJMS/2020). Em mandado de segurança impetrado contra ato de fiscal
ambiental que apreendeu animal silvestre (papagaio-verdadeiro) adquirido irregularmente, o impetrante
confessa a origem ilícita da ave, mas alega que a adquiriu para sua filha pequena há 01 (um) ano, sendo a
ave um verdadeiro membro da família. Alega, por fim, que a menina sente muita falta do papagaio. A ordem
deverá ser
a) negada, diante da origem ilícita do animal silvestre.
b) concedida, tendo em vista a adaptabilidade do animal ao convívio humano.
c) concedida em parte para permitir visitas da família ao cativeiro do animal.
d) concedida em parte para permitir a permanência do animal com a família por mais 02 (dois) anos.
e) negada com fundamento no princípio da pessoalidade da sanção.
4. (VUNESP/FITO/Advogado/2020). A produtora de petróleo X contratou a empresa de transportes
marítimos Y para transportar barris de petróleo do Ceará até o Porto de Santos, no Estado de São Paulo.
Durante o transporte, o navio da transportadora Y teve o casco quebrado, que resultou no derramamento
de óleo por toda a costa litorânea do país. Diante da situação hipotética, e considerando o previsto na
legislação, bem como o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça, assinale a alternativa correta no
que diz respeito à responsabilização civil, administrativa e penal ambiental, da produtora X, respectivamente.
a) Subjetiva, objetiva e objetiva.
b) Subjetiva, subjetiva e subjetiva.
c) Objetiva, objetiva e objetiva.
d) Objetiva, subjetiva e subjetiva.
e) Objetiva, objetiva e subjetiva.
5. (CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-CE/2020). Roberto cometeu infração ambiental ao construir
sua casa em área de mangue e, por isso, foi autuado, em janeiro de 2011, por fiscal ambiental estadual.
Roberto deixou transcorrer todos os prazos, pois se negava a receber a notificação, mas, em 2015, foi
surpreendido com uma ação de cobrança da infração, na qual constava a sua citação por edital em 2013.
Nessa situação hipotética, de acordo com a jurisprudência do STJ, Roberto está
a) desobrigado do pagamento da multa, pois o crédito está prescrito, visto que não se admite no âmbito
administrativo a citação por edital.
b) desobrigado do pagamento da multa, pois, em se tratando de multa administrativa, a prescrição da ação
de cobrança somente tem início com a notificação, quando se torna inadimplente o administrado
infrator.
c) obrigado ao pagamento da multa, pois é de dez anos o prazo decadencial para se constituir o crédito
decorrente de infração à legislação administrativa.
d) obrigado ao pagamento da multa, pois o prazo decadencial para a constituição do crédito decorrente de
infração à legislação administrativa foi suspenso com a citação de Roberto por meio de edital.

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DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

e) obrigado ao pagamento da multa, pois o prazo decadencial para a constituição do crédito decorrente de
infração à legislação administrativa foi interrompido com a citação de Roberto por meio de edital.
6. (VUNESP/Prefeitura de Ribeirão Preto - SP/Procurador do Município). Em relação às Súmulas dos
Tribunais Superiores, em matéria ambiental, afirma-se que
a) as obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou
detentor, à escolha do Ibama.
b) quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer
cumulada com a de indenizar.
c) admite-se a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.
d) a inversão do ônus da prova não se aplica às ações de degradação ambiental.
e) prescreve em 2 anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração
Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.

7. (VUNESP/Prefeitura de Ribeirão Preto - SP/Procurador do Município). Para atender ao princípio da


responsabilização integral na seara ambiental, a imposição de responsabilidade pelo dano ao meio ambiente
abrange, de forma concomitante, tanto a área civil quanto a administrativa e a penal. Acerca do tema, é
correto afirmar que
a) o empreendedor que licenciou a obra e observa os padrões de qualidade ambiental não poderá ser
responsabilizado civilmente por dano ambiental.
b) as pessoas jurídicas serão responsabilizadas penalmente, nos casos em que a infração seja cometida por
ato exclusivo de seu representante contratual ou comum, em benefício próprio e da entidade.
c) a natureza da responsabilidade administrativa ambiental é subjetiva, segundo atual entendimento
consolidado no STJ.
d) atualmente, tanto o STF como o STJ consideram a necessidade de dupla imputação, tanto da pessoa
física, que praticou o ato, como da pessoa jurídica, em crimes ambientais praticados por pessoas
jurídicas.
e) a responsabilidade civil ambiental é subjetiva, integral e solidária, pois todos aqueles que concorrem para
o dano, de forma direta ou indireta, são responsáveis pela reparação.

COMENTÁRIOS
1. É pacífico o entendimento de que a exigência de depósito ou arrolamento prévio de bens e direitos como
condição de admissibilidade de recurso administrativo constitui obstáculo intransponível ao exercício do
direito de petição (CF/1988, art. 5º, XXXIV), além de caracterizar ofensa ao princípio do contraditório
(CF/1988, art. 5º, LV).
Por tal razão, o STF editou a Súmula Vinculante n.º 21, segundo a qual “É inconstitucional a exigência de
depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.”
Portanto, o item está certo.

2. Para que haja a apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental não é necessário que se
comprove que o bem era utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual na prática de ilícitos ambientais.
A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada no § 5º do art. 25 da Lei n.º 9.605/98,
independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional. Os arts. 25 e 72, IV, da Lei
n.º 9.605/98 estabelecem como efeito imediato da infração a apreensão dos bens e instrumentos utilizados
na prática do ilícito ambiental. A exigência de que o bem/instrumento fosse utilizado de forma específica,
exclusiva ou habitual para a prática de infrações não é um requisito que esteja expressamente previsto na
legislação. Tal exigência compromete a eficácia dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob
a perspectiva da teoria econômica do crime, às condutas lesivas ao meio ambiente. (STJ, Tema Repetitivo
1.036, REsp 1.814.944, Informativo 685)
Portanto, a resposta da questão encontra-se na letra D.

3. A jurisprudência do STJ consigna que o tempo de convívio com o animal no ambiente doméstico deve ser
considerado como circunstância para o órgão ambiental não apreender o animal. Veja:

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Não é razoável a conduta do órgão ambiental que apreende uma ave (ex: papagaio) que já
estava sendo criada por longo período de tempo em ambiente doméstico, sem qualquer
indício de maus-tratos ou risco de extinção. Em casos como esse, não se mostra plausível
que a apreensão do animal ocorra exclusivamente sobre a ótica da estrita legalidade. É
preciso se examinar as peculiaridades do caso sob a luz da finalidade da Lei Ambiental que,
sabidamente, é voltada à melhor proteção do animal. Desse modo, com base nas
peculiaridades do caso concreto, e em atenção ao princípio da razoabilidade, é possível
autorizar que a ave permaneça no ambiente doméstico do qual jamais se afastou por longos
anos.STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1457447/CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
16/12/2014. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1389418/PB, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
21/09/2017.

A banca considerou correto o item A, ou seja, entendeu que o período de 1 ano não é um “longo
período de tempo” a dispensar a apreensão da ave.

4. Conforme vimos nos capítulos anteriores, a responsabilidade civil é sempre objetiva. A administrativa, por
sua vez, conforme entendimento do STJ, é subjetiva. Por fim, a responsabilidade penal é sempre subjetiva,
dependendo da demonstração do nexo causal. A alternativa certa, portanto, é o item D.

5. Comentários
A resposta encontra-se na conjugação dos entendimentos sufragados em duas teses firmadas em sede de
recursos repetitivos, pelo STJ. Anote-se:
Tema 324: É de cinco anos o prazo decadencial para se constituir o crédito decorrente de infração à legislação
administrativa. (REsp n.º 1.115.078/RS)
Tema 327: Interrompe-se o prazo decadencial para a constituição do crédito decorrente de infração à
legislação administrativa: a) pela notificação ou citação do indiciado ou executado, inclusive por meio de
edital; b) por qualquer ato inequívoco, que importe apuração do fato; pela decisão condenatória recorrível;
por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação expressa de tentativa de solução conciliatória no
âmbito interno da administração pública federal. (REsp n.º 1.115.078/RS)
Portanto, o item correto é a letra E.

6. Comentários
A alternativa A está incorreta, conforme dispõe a Súmula 623 do STJ: As obrigações ambientais possuem
natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à
escolha do credor.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão, conforme a Súmula 629 do STJ: Quanto ao dano
ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de
indenizar.
A alternativa C está incorreta, conforme estabelece a Súmula n.º 613 STJ: Não se admite a Teoria do Fato
consumado em tema de direito ambiental.
A alternativa D está incorreta, nos termos do que consigna a Súmula n º 618 do STJ: A inversão do ônus da
prova aplica-se às ações de degradação ambiental.
A alternativa E está incorreta. A propósito, veja o teor da Súmula n.º 467 do STJ: Prescreve em cinco anos,
contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a
execução da multa por infração ambiental.

7. Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a responsabilização civil na esfera ambiental é objetiva. Portanto, se
houver dano ao meio ambiente, mesmo que o empreendedor esteja observando os padrões de qualidade
ambiental, haverá responsabilidade civil.
A alternativa B está incorreta, na medida em que o art. 3º da Lei de Crimes Ambientais determina que a
responsabilidade das pessoas jurídicas ocorrerá quando a infração for cometida por decisão de seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da entidade, não em
benefício próprio.
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão, conforme entendimento esposado no Informativo n.º
650 do STJ.

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DANIELA ADAMEK INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS • 10

A alternativa D está incorreta, porquanto não mais se exige a dupla imputação para a responsabilização da
pessoa jurídica.
A alternativa E está incorreta, porque, conforme estudamos, a responsabilidade civil é objetiva.

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DANIELA ADAMEK CRIMES AMBIENTAIS • 11

11 CRIMES AMBIENTAIS

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DANIELA ADAMEK CRIMES AMBIENTAIS • 11

Inicialmente, registre-se que a grande maioria dos crimes ambientais é de menor potencial ofensivo,
ou seja, admite a aplicação da Lei n.º 9.099/95, porquanto a pena máxima não é superior a 2 anos.
Ademais, o sujeito passivo dessa espécie criminal será sempre a coletividade, considerada sua
característica difusa, ainda que secundariamente tenha sido atingido um terceiro.

1. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

O art. 3º da Lei n.º 9.605/98 dispõe que as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa,
civil e penalmente, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou por decisão de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
O parágrafo único, por sua vez, determina que a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a
das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.
Veja, portanto, que há previsão expressa sobre a possibilidade de responsabilidade penal da pessoa
jurídica pela prática de crimes ambientais.

1.1. Requisitos

Perceba que a lei elenca basicamente dois requisitos para que se caracterize a responsabilidade penal
da pessoa jurídica:

• Crime praticado por decisão do representante legal, representante contratual ou por decisão do
órgão colegiado da pessoa jurídica;
• Decisão deve ter sido tomada em benefício ou no interesse da pessoa jurídica.

1.2. Dupla imputação

O parágrafo único dispõe que o fato de a pessoa jurídica responder pela infração penal, não torna
não punível a pessoa física. Dessa forma, a pessoa física também responderá pelo crime.
Assim, não é mais adotada a teoria da dupla imputação, que determinava a necessidade de denúncia
simultânea da pessoa física com a pessoa jurídica. Portanto, atualmente o STJ entende que a pessoa jurídica
poderá ser responsabilizada penalmente independentemente da pessoa física.

1.3. Pessoa jurídica de direito público

Há polêmica quanto à possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica de direito público.


Duas são as correntes existentes acerca do tema:

• Paulo Affonso Leme Machado entende que é possível a responsabilização penal da pessoa
jurídica de direito público, pois a CF/88 não impôs restrição;
• Já Frederico Amado não admite que a pessoa jurídica de direito público cometa crime ambiental.
Isso porque, para que a pessoa jurídica cometa crime, é necessário que ela cometa por meio de
seu representante e no interesse da pessoa jurídica. No entanto, o interesse de uma pessoa
jurídica de direito público deve ser o interesse público, pautado pela legalidade. Dessa forma,
se o representante da pessoa jurídica de direito público decidir cometer um crime, estaria indo
contra o interesse da própria pessoa jurídica, motivo pelo qual não estaria preenchido o outro
requisito para responsabilização da pessoa jurídica (decisão tomada em benefício ou no
interesse da pessoa jurídica).

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DANIELA ADAMEK CRIMES AMBIENTAIS • 11

Nesse sentido, torna-se irrazoável imaginar que a pessoa jurídica de direito público cometa um crime,
situação em que o povo será afetado pela pena. Isso porque, em última instância, quem pagará a sanção será
o povo.

1.4. Pessoa jurídica paciente em habeas corpus

Da mesma forma, há duas correntes sobre a possibilidade de pessoa jurídica figurar como paciente
em habeas corpus.
O STF entende pela impossibilidade, considerando o instrumento constitucional tutelar a liberdade
de locomoção, característica incompatível com pessoas jurídicas. Com efeito, a Corte Suprema entende que,
mesmo nos casos em que a pessoa jurídica seja acusada da prática de crime ambiental, não poderá figurar
como beneficiária de habeas corpus. Isso porque o writ constitucional tutela a liberdade de ir e vir.
Por sua vez, o STJ vem entendendo pela possibilidade de que a pessoa jurídica seja paciente em
habeas corpus nos casos em que ela seja acusada de crime ambiental e se o writ tiver sido proposto também
em favor das pessoas físicas, corrés na ação penal.

2. FIGURA DO GARANTIDOR

Segundo o art. 2º da Lei de Crimes Ambientais:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei,
incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor,
o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o
preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem,
deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

Trata-se da figura do garantidor, ou também garante, figura do Direito Penal que é obrigada, pela
ordem jurídica, a impedir um resultado danoso. Esse grupo tem o dever de agir, impedindo a ocorrência de
um dano. Cuida-se de um crime omissivo impróprio.

3. COMPETÊNCIA

Via de regra, a competência para julgar crimes ambientais é da Justiça Estadual, salvo se houver
aplicabilidade uma das situações do art. 109 da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


[...]
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Verifica-se, portanto, que nos casos de prática de contravenções penais, independentemente de elas
serem praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, serão sempre julgadas pela Justiça
Estadual. A única hipótese de contravenção penal ser julgada e processada pela Justiça Federal ocorre
quando a conduta for praticada por autoridade com foro por prerrogativa de função perante essa justiça
especializada.
Há, ainda, algumas situações específicas, reconhecidas pelos Tribunais Superiores, em que a
competência para processar e julgar crimes ambientais será da Justiça Federal, anote-se:

• Crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de


extinção e espécies exóticas ou protegidas por Tratados e Convenções internacionais (STF, RE
835.558/SP).

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DANIELA ADAMEK CRIMES AMBIENTAIS • 11

• Pesca predatória no mar territorial ou no entorno de unidades de conservação da natureza (STJ,


CC 115.282/RS);
• Crime contra a fauna praticado em parques nacionais, reservas ecológicas ou áreas sujeitas ao
domínio eminente da Nação;
• Conduta que ultrapasse os limites de um único estado ou as fronteiras do país (STJ, CC
34.689/SP);
• Crime de liberação ilegal de organismos geneticamente modificados (OGM) no meio ambiente
(STJ, CC 41.301/RS).

4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A superação episódica do véu da personalidade jurídica encontra previsão no art. 4º da Lei n.º
9.605/98, não valendo para as figuras criminosas. Isso porque em matéria de crime fala-se em
responsabilidade subjetiva, e não objetiva, conforme anteriormente relatado.
Segundo o STJ, é desnecessária a citação do sócio para compor a lide na qual o autor pediu a aplicação
da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. É suficiente a intimação do sócio.

5. DOSIMETRIA DAS SANÇÕES

No tocante às sanções por crimes ambientais, aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Penal
e o Código Penal. Isso porque existem regras especiais na Lei n.º 9.605/98 que estão somadas ao art. 59, que
trata das circunstâncias judiciais.
De acordo com o art. 6º da Lei de Crimes Ambientais, para imposição e gradação da penalidade, a
autoridade competente observará:

I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências para a


saúde pública e para o meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse
ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

6. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO APLICÁVEIS ÀS PESSOAS FÍSICAS

A Lei de Crimes Ambientais inova em duas penas restritivas de direito, inexistentes no Código Penal,
quais sejam: suspensão total ou parcial das atividades e recolhimento domiciliar.
Por outro lado, a Lei Ambiental não prevê a limitação de final de semana nem a perda de bens e
valores.
Segundo o art. 8º da Lei n.º 9.605/98, são penas restritivas de direito aplicáveis às pessoas físicas:

Prestação de serviços à comunidade

A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto


a parques e jardins públicos e unidades de conservação.
No caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, a prestação de serviços à comunidade
consistirá em sua restauração, se possível.
Como se vê, a prestação de serviços à comunidade tem por escopo a conscientização do infrator com
relação ao meio ambiente.

Interdição temporária de direitos

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DANIELA ADAMEK CRIMES AMBIENTAIS • 11

O art. 10 consigna as penas de interdição temporária de direito, que são: a proibição de o condenado
contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de
participar de licitações pelo prazo de 5 anos no caso de crimes dolosos, e de três anos no caso de crimes
culposos.

Suspensão parcial ou total de atividades

O art. 11 dispõe que a suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às prescrições legais. Portanto, se o indivíduo cometeu um crime ambiental, mas está
cumprindo as prescrições legais, não haverá a suspensão de suas atividades.

Prestação pecuniária

Por sua vez, o art. 12 determina que a prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à
vítima ou à entidade pública ou privada com fim social.
Essa prestação pecuniária não poderá ser inferior a um salário mínimo nem superior a 360 salários
mínimos.
O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator.

Recolhimento domiciliar

É muito semelhante ao regime aberto domiciliar. Segundo o art. 13, o recolhimento domiciliar
baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância,
trabalhar, frequentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários
de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na
sentença condenatória.
Assim, anote-se que o sujeito não estará sob vigilância, porém nos momentos de folga do trabalho,
curso ou atividade autorizada, deverá permanecer recolhido em casa.

7. PENAS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS JURÍDICAS

De acordo com a Lei de Crimes Ambientais são penas aplicáveis às pessoas jurídicas, isolada,
cumulativa ou alternadamente:

Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas,


de acordo com o disposto no art. 3º, são:
I - multa;
II - restritivas de direitos;
III - prestação de serviços à comunidade.

Perceba que não se está falando de penas com caráter substitutivo, mas da pena principal.

7.1. Restritivas de direitos

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:


I - suspensão parcial ou total de atividades;
II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações.
§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às
disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente.

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DANIELA ADAMEK CRIMES AMBIENTAIS • 11

§ 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver


funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação
de disposição legal ou regulamentar.
§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou
doações não poderá exceder o prazo de dez anos.

Cumpre destacar que, com relação às penas restritivas de direito e à pena de prestação de serviços
à comunidade, não há previsão temporal expressa na norma. No entanto, tem-se que nenhuma dessas duas
penas poderá ser considerada perpétua.
Como não há um prazo legal máximo positivado na lei, a doutrina entende que o máximo de período
que poderá ser cumprido como pena restritiva de direito e pena de prestação de serviços à comunidade é
equivalente à maior pena privativa de liberdade aplicada à pessoa física nas mesmas circunstâncias.

7.2. Prestação de serviços à comunidade

As prestações de serviços à comunidade pela pessoa jurídica, nos casos de infrações ambientais,
estão relacionadas ao meio ambiente.

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:
I - custeio de programas e de projetos ambientais;
II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
III - manutenção de espaços públicos;
IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

Anote-se que, em verdade, os incisos I e IV não contemplam propriamente a prestação de serviços à


comunidade, visto que o custeio e contribuições são simplesmente pagamentos em pecúnia para
programas, projetos ou entidades ambientais.

7.3. Suspensão de atividades parcial ou total

Será aplicada quando essas atividades não estiverem obedecendo às disposições legais ou
regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. Se o sujeito cometeu um crime ambiental, mas, a
despeito disso, as atividades observam as normas ambientais, não se poderá aplicar as penas de suspensão
de atividades.

7.4. Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade

Será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida
autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. Se
está funcionando ou se está sendo realizada a atividade irregularmente, haverá interdição.

7.5. Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter
subsídios, subvenções ou doações

A aplicação da penalidade não poderá exceder o prazo de 10 anos.

7.6. Apreensão dos produtos e dos instrumentos do crime ambiental

Todos os instrumentos utilizados para a prática de crime contra o meio ambiente serão alvo de
perdimento.

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Ressalte-se que, para o Código Penal, haverá perdimento dos instrumentos cujo fabrico, alienação,
uso, porte, detenção constituam fato ilícito. Já na seara ambiental, não; todos os produtos utilizados para a
consecução do crime, mesmo que lícitos, serão objeto de perdimento.

7.7. Liquidação forçada da pessoa jurídica

Nos termos do que dispõe o art. 24 da Lei de Crimes Ambientais, a pessoa jurídica utilizada ou
constituída para a prática criminal terá sua liquidação forçada:

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de


permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua
liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal
perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.

Parcela da doutrina estabelece, no entanto, que se trata de previsão de “pena de morte”, motivo
pelo qual, para parcela da doutrina, tal liquidação seria inconstitucional. A despeito disso, hoje é o dispositivo
é considerado constitucional pela doutrina majoritária.

8. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES

São circunstâncias que atenuam a pena, nos termos do art. 14 da Lei Ambiental:

I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;


II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou
limitação significativa da degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.

Em relação às agravantes:

Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
II - ter o agente cometido a infração:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração;
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público,
a regime especial de uso;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou
beneficiada por incentivos fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades
competentes;
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

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Saliente-se que, embora o inciso I preveja como circunstância agravante a reincidência em crimes de
natureza ambiental, também haverá agravante nos casos de reincidência em crimes que não sejam de
natureza ambiental, porquanto incidirá, nesse caso, o Código Penal.

9. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA

Conforme determina o Código Penal, a suspensão condicional da pena se dá quando o sujeito é


condenado a pena não superior a 2 anos de privação de liberdade, em regra. Por outro lado, o art. 16 da Lei
de Crimes Ambientais consigna que, nos crimes ali previstos, a suspensão condicional da pena pode ser
aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a 3 anos.

10. INICIATIVA DA AÇÃO PENAL

Todos os crimes previstos na Lei n.º 9.605/98 são de ação penal pública incondicionada, conforme
expressa seu art. 26.

11. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Segundo o art. 28 da norma criminal ambiental, as disposições relativas à suspensão condicional do


processo, constantes do art. 89 da Lei n.º 9.099/95, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo ali
definidos, com algumas modificações.
A doutrina lê o art. 28, caput, ignorando a expressão “crimes de menor potencial ofensivo”. Assim,
para a doutrina, cabe suspensão condicional do processo para todos os crimes ambientais com pena mínima
não superior a um ano. Ou seja, na Lei Ambiental, a suspensão condicional do processo segue a regra geral
do art. 89 da Lei 9.099/1995.
Na suspensão condicional do processo da Lei n.º 9.099/1995, cumprido o prazo sem que tenha
havido revogação, o juiz declara extinta a punibilidade. Na Lei Ambiental, por sua vez, a extinção da
punibilidade só pode ser declarada se houver prova pericial de que o infrator reparou os danos ambientais
ou adotou todas as providências possíveis para fazê-lo. A comprovação dessa reparação ou dessa tentativa
de reparação, como visto, é feita mediante “laudo de reparação de dano ambiental”.
Encerrado o prazo da suspensão condicional do processo, o juiz determina a realização do primeiro
laudo de reparação de dano ambiental. Se a perícia concluir que não houve reparação integral, o juiz fará a
primeira prorrogação da suspensão por mais 5 anos (4 anos, acrescidos de mais 1 ano) e suspende-se a
prescrição.
Findo o prazo de 5 anos, o juiz determina a realização do segundo laudo de reparação de dano
ambiental. Se o laudo indicar que ainda não houve reparação integral do dano ambiental, o juiz poderá fazer
a segunda prorrogação da suspensão por mais 5 anos (4 anos, acrescidos de mais 1 ano). Nesse caso, a
suspensão da prescrição não ocorrerá, por falta de previsão legal.
Durante a primeira e segunda prorrogações, o acusado não fica mais sujeito às condições da
suspensão condicional do processo previstas no art. 89 da Lei n.º 9.099/1995. Ou seja, o prazo somente é
exasperado para que o indivíduo possa cumprir as exigências de reparação ambiental.
Encerrada a segunda prorrogação, o juiz determina a realização de um terceiro laudo de reparação
de dano ambiental. Se o laudo indicar que não foi reparado o dano e não foram tomadas as providências
para reparar, o juiz revoga a suspensão condicional do processo e o processo segue.
Por outro lado, se o laudo indicar que foi reparado o dano ou foram tomadas as providências para
reparar, embora não tenha sido possível a reparação, o juiz declara extinta a punibilidade.

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12. PROPOSTA DE APLICAÇÃO DE PENA RESTRITIVA DE DIREITOS

A Lei Criminal Ambiental prevê a possibilidade de transação penal para os crimes ambientais de
menor potencial ofensivo, ou seja, para aqueles cuja pena máxima não ultrapasse os 2 anos:

Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação
imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei n.º 9.099, de 26
de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia
composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de
comprovada impossibilidade.

Dessa forma, a proposta de transação, que é a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multa, somente poderá ser formulada desde que preenchido o requisito de comprovação de prévia
composição do dano ambiental, salvo nos casos em que for constatada a impossibilidade de reparar o dano.
A transação penal depende da celebração do acordo de como será reparado o dano.

13. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

Segundo o art. 7º, as penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade quando:

I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro
anos;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem
como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente
para efeitos de reprovação e prevenção do crime.
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma
duração da pena privativa de liberdade substituída.

Verifica-se, portanto, que nos casos de crimes dolosos com pena privativa de liberdade inferior a 4
anos também será cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Diferentemente do Código Penal, em que se converte a pena privativa de liberdade em restritiva de
direitos quando a pena não é superior a 4 anos (art. 44, I, do CP), aqui a pena deve ser inferior a quatro anos.
Ou seja, o condenado à pena de exatos 4 anos não fará jus à substituição, quando se tratar de crime
ambiental.
Observe que as penas restritivas de direitos são aplicáveis apenas às pessoas físicas, pois substituem
penas privativas de liberdade, inaplicáveis às pessoas jurídicas.
Atente-se que, diferentemente do Código Penal, a Lei n.º 9.605/98 não exige que o crime tenha sido
cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa para autorizar a substituição. Outro ponto é que a Lei n.º
9.605/98 não coloca como pressuposto negativo que o sujeito não seja reincidente.

14. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Apesar de certa controvérsia, o STF e o STJ têm aplicado o princípio da insignificância aos crimes
ambientais, ainda que com toda a cautela possível.
Não obstante possível aplicação do princípio da insignificância, o STJ entende que a aplicação deve
se dar com extrema cautela, por conta da fundamentalidade do direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, que é inerente às futuras e presentes gerações.
Cumpre destacar que o próprio STF já aplicou o princípio da insignificância em crimes ambientais,
sempre observando os seguintes requisitos:

1. mínima ofensividade da conduta do agente;

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2. nenhuma periculosidade social da ação;


3. reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
4. inexpressividade de lesão jurídica provocada.

15. JURISPRUDÊNCIA

1. STF

1. Competência da Justiça Federal para julgar crimes ambientais envolvendo


animais silvestres, em extinção, exóticos ou protegidos por compromissos
internacionais

O Plenário do STF entendeu que compete à Justiça Federal processar e julgar crimes ambientais de
caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou
protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. (STF, RE 835.558/SP – Informativo 853)

2. STJ

1. Assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) não impede a instauração


de ação penal

A Corte Especial do STJ fixou entendimento de que a assinatura de TAC com órgão ambiental não
impede a instauração de ação penal, porquanto vigora, em nosso ordenamento jurídico, o princípio da
independência das instâncias penal e administrativa. (STJ, APn 888/DF – Informativo 625)

QUESTÕES
1. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Um cidadão, por descuido, iniciou um incêndio
em sua propriedade, situada em área rural coberta pelo bioma campos, o que resultou na destruição da
vegetação nativa de outras duas propriedades vizinhas. A respeito da situação hipotética apresentada e de
aspectos legais a ela relacionados, julgue o próximo item.
Provocar incêndio é crime ambiental passível de responsabilização, mesmo que praticado na modalidade
culposa.

2. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Com relação a uma casa hipotética situada em um


centro histórico municipal que constitui área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), julgue o item subsequente, com base nas disposições legais relacionadas ao tema e na
jurisprudência do STJ.
Eventual conduta de pichar o referido imóvel configurará crime ambiental penalizado com detenção, de seis
meses a um ano, e multa.

3. (CESPE/MPE-SC/Promotor de Justiça Substituto/2021). Considerando a legislação especial, julgue o item


a seguir. A conduta de armazenar lixo industrial que resulte em poluição ambiental é de natureza
instantânea, com efeitos permanentes, sendo o momento consumativo do delito definido com a notificação
da autoridade ambiental competente.

4. FCC/TJ-GO/Juiz de Direito Substituto/2021


José Bento, que cursou até a terceira série do ensino fundamental, foi denunciado por adentrar, sem
autorização, um Refúgio da Vida Silvestre portando um facão. Confessou que sabia da ilegalidade da conduta,
mas sua intenção era colher sementes para confecção de artesanato. A ação penal deverá ser julgada
a) procedente com circunstância atenuante.
b) procedente com aplicação do perdão judicial.
c) improcedente pela atipicidade formal do fato.

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d) improcedente pela ausência de dolo.


e) procedente com aplicação da pena dentro do balizamento trazido pelo tipo penal, sem circunstâncias
agravantes ou atenuantes.
5. (INSTITUTO MAIS/SETEC Campinas/Procurador/2021) .Suponha que Carlos praticou maus-tratos contra
um animal doméstico. De acordo com a Lei de Crimes contra o meio ambiente, é correto afirmar que,
hipoteticamente, Carlos cometeu crime
a) sujeito à pena de detenção, de três meses a um ano, e multa, e a pena será aumentada de um sexto a
um terço, se ocorre morte do animal.
b) sujeito à ação penal pública condicionada à representação.
c) punido com pena de reclusão e caso sua conduta criminosa tenha sido realizada em sábados ou domingos
tal circunstância agravará a pena.
d) punido com pena de detenção, sujeito à ação penal privada e caso ele tenha baixo grau de instrução, tal
circunstância agravará a pena.

6. (VUNESP/Juiz de Direito Substituto/TJRJ/2019). Acerca da responsabilidade em matéria ambiental, é


correto afirmar que:
a) é inexistente a responsabilidade solidária entre o atual proprietário do imóvel e o antigo proprietário
pelos danos ambientais causados na propriedade, independentemente de ter sido ele ou o dono anterior
o causador dos danos.
b) o dano não pode decorrer de atividade lícita, pois o empreendedor, ainda que em situação regular
quanto ao licenciamento, por exemplo, não tem responsabilidade em caso de dano provocado por sua
atividade.
c) as sanções penais aplicáveis às pessoas jurídicas serão multa e prestação de serviços à comunidade.
d) o STF reconhece a possibilidade de se processar penalmente a pessoa jurídica, mesmo não havendo ação
penal em curso contra pessoa física com relação ao crime ambiental praticado.
e) a ação penal para o caso de crimes contra o meio ambiente é pública incondicionada, não cabendo a
aplicação das disposições do juizado especial criminal para os crimes ambientais caracterizados como de
menor potencial ofensivo.

7. (CESPE/CGE-CE/Auditor de Controle Interno/2019). Segundo a Constituição Federal de 1988, condutas e


atividades lesivas ao meio ambiente sujeitam os infratores a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Acerca da responsabilidade dos infratores
em situações de condutas ou atividades lesivas ao meio ambiente, assinale a opção correta.

a) A responsabilidade das pessoas jurídicas é unicamente administrativa, uma vez que a esfera penal ocupa-
se de ações estritamente humanas.
b) A responsabilidade administrativa, por se consubstanciar também em uma sanção, afasta a
responsabilidade penal da pessoa jurídica.
c) A responsabilidade penal da pessoa jurídica exclui a das pessoas físicas, coautoras ou partícipes de um
mesmo fato.
d) A responsabilidade penal da pessoa jurídica está condicionada à persecução penal do administrador ou
do representante legal quando agem em concurso de pessoas.
e) A responsabilidade penal da pessoa jurídica possibilita a aplicação da pena restritiva de direitos cumulada
com a pena de prestação de serviços à comunidade.

8. (CESPE/Promotor de Justiça Substituto/MPE-PI/2019). Por ordem exclusiva do representante legal de


uma empresa madeireira, foram extraídas e vendidas pela empresa diversas toras de madeira de uma
estação ecológica que havia sido criada por decreto federal. Em razão disso, foi proposta ação penal contra
a pessoa jurídica e a pessoa física. Durante o curso da ação, a segunda foi excluída da lide.
Nessa situação hipotética, a ação penal

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DANIELA ADAMEK CRIMES AMBIENTAIS • 11

a) não poderá prosseguir sem a presença da pessoa física, sendo da justiça federal a competência para o
julgamento.
b) poderá prosseguir sem a presença da pessoa física, sendo da justiça federal a competência para o
julgamento.
c) prosseguirá, desde que a pessoa física seja novamente incluída no polo passivo, independentemente do
foro.
d) poderá prosseguir sem a presença da pessoa física, sendo da justiça comum a competência para o
julgamento.
e) não poderá prosseguir sem a presença da pessoa física, sendo da justiça comum a competência para o
julgamento.

9. (FCC/SEMAR-PI/Auditor Fiscal Ambiental/2018). No tocante à responsabilidade penal da pessoa jurídica


em matéria ambiental,

a) poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
b) a proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá
exceder o prazo de vinte anos.
c) a responsabilidade das pessoas jurídicas exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do
mesmo fato.
d) não obstante a sua previsão no art. 225 da Constituição Federal de 1988, a responsabilidade penal da
pessoa jurídica não foi regulamentada pela Lei n° 9.605/1998 (Lei dos Crimes e Infrações Administrativas
Ambientais).
e) a prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em suspensão parcial ou total de
atividades e interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade.

10. (CESPE/Delegado de Polícia/PC-SE/2018). Renato e Gabriel fundaram, em 2015, a empresa Camarões do


Mangue Ltda., que visava à exploração da carcinicultura — criação de crustáceos — exclusivamente em área
rural de manguezais de um estado federado. No referido ano, eles instalaram viveiros de grande porte e
passaram a exercer atividade econômica muito lucrativa. Após três anos de atividade, os sócios perceberam
que não detinham licença ambiental para o exercício da atividade.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue:
A empresa Camarões do Mangue Ltda. não será responsabilizada penalmente pela atividade ilegal de
carcinicultura em manguezais caso os sócios tenham desviado todos os lucros da empresa, não gerando, com
isso, nenhum benefício à entidade.

11. (CESPE/Juiz Substituto/TJSC/2019). Joana, moradora de uma comunidade quilombola, tem baixo grau
de instrução e trabalha na principal atividade de subsistência da sua comunidade, que é a pesca. Durante
uma pescaria, feita sempre aos domingos, no período noturno, ela capturou dois filhotes de baleia-franca,
espécie inserida na lista local de espécies ameaçadas de extinção. Depois desse dia, Joana passou a fazer da
pesca dessa espécie animal uma atividade econômica, com a venda para o comércio da região. Somente após
ter praticado reiteradamente a atividade criminosa, ela descobriu que essa espécie de baleia era ameaçada
de extinção. Arrependida, Joana dirigiu-se a uma delegacia de polícia e informou, com antecedência, à
autoridade policial todos os locais em que havia instalado armadilhas de pesca. Além disso, passou a
trabalhar em um projeto social para reparar o dano causado e a colaborar com os agentes encarregados da
vigilância e do controle ambiental.
Conforme as disposições da Lei n.º 9.605/1998, assinale a opção que indica circunstâncias atenuantes de
eventual pena criminal que possa ser imputada a Joana.
a) o baixo grau de instrução de Joana e o seu pertencimento a uma comunidade quilombola
b) o arrependimento de Joana, sua pretensão de reparar o dano e a periodicidade das pescas (sempre aos
domingos)

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c) a comunicação prévia de Joana do perigo iminente de degradação ambiental, em razão das armadilhas
de pesca instaladas, e a periodicidade das pescas (sempre aos domingos)
d) o baixo grau de instrução de Joana e sua colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do
controle ambiental
e) o pertencimento de Joana a uma comunidade quilombola e a sua desistência voluntária.

COMENTÁRIOS
1. O item está certo, na medida em que a Lei de Crimes Ambientais admite o tipo penal na modalidade dolosa
e culposa. A propósito:
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa.

2. O item está certo. Nos termos do art. 65, §1º da Lei de Crimes Ambientais (Lei n.º 9.605/98):
Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico
ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.

3. O item está errado, pois se trata de um crime permanente, ou seja, não há só um momento para a sua
prática. O ilícito é praticado desde o início do armazenamento se protraindo no tempo até quando sequer
mais existe o armazenamento. Portanto, não há um momento consumativo específico.

4. Nos termos do art. 52 da Lei de Crimes ambientais, a conduta praticada por José Bento é crime apenado
com detenção de seis meses a um ano e multa. No entanto, considerado o baixo grau de instrução ou
escolaridade do agente, a pena deverá ser atenuada, por se tratar de circunstância que atenua a pena,
conforme dispõe o art. 14 da referida lei. Portanto, a resposta encontra-se na letra A.

5. Alteração recente do art. 32 da Lei de Crimes Ambientais, que trata do crime de maus-tratos, alterou a
pena quando a infração for cometida contra cães ou gatos. A propósito, vale a transcrição do artigo na
íntegra:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados,
nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para
fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo será de
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda. (Incluído pela Lei n.º 14.064, de 2020)
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

6. O enunciado da questão refere-se à animal doméstico. O teor do §1º-A não se aplica a todos os animais
domésticos, mas apenas a cães e gatos. Tome cuidado.
Assim, a letra A está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 32, caput e § 2º, acima reproduzido.
A letra B está incorreta, pois todos os crimes da lei de crimes ambientais são de ação penal pública
incondicionada (art. 26).
A letra C está errada, o crime é punido com pena de detenção.
A letra D está errada, não se trata de ação penal privada, mas sim de ação penal pública incondicionada (art.
26).

7. Gabarito:
A alternativa A está incorreta. A Lei de Crimes Ambientais, em seu art. 3º, permite a responsabilização
administrativa, civil e penal das pessoas jurídicas.
A alternativa B está incorreta, pois a responsabilização, nas três esferas (civil, administrativa e penal), é
independente e podem ser aplicadas de forma concomitante.

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A alternativa C está incorreta, conforme preconiza o parágrafo único do art. 3º da Lei de Crimes Ambientais.
A alternativa D está incorreta, na medida em que não mais se adota a teoria da dupla imputação.
A alternativa E está correta e é o gabarito da questão, conforme estabelece o art. 21 da Lei de Crimes
Ambientais.

8. A alternativa B está correta e é o gabarito da questão, pois conforme amplamente consignado, não mais
se aplica a teoria da dupla imputação. Dessa forma, é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica
por danos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em
seu nome. Ademais, conforme entendimento pacificado pelo STJ (CC n.º 142.016/SP), a Justiça Federal é
competente para julgar crime cometido em unidade de conservação federal, pois há interesse federal na
manutenção e preservação da região.

9. Comentários:
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão, conforme art. 4º da Lei de Crimes Ambientais prevê.
A alternativa B está incorreta, pois a o prazo estabelecido pela Lei de Crimes Ambientais, no art. 22, § 3º, é
de dez anos.
A alternativa C está incorreta, vide parágrafo único do art. 3º da Lei de Crimes Ambientais.
A alternativa D está incorreta, pois a Lei de Crimes Ambientais regulamenta a responsabilidade penal da
pessoa jurídica.
A alternativa E está incorreta. A propósito, veja o teor do art. 9º da Lei de Crimes Ambientais:
Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques
e jardins públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração
desta, se possível.

10. O item está certo. Veja o que dispõe o art. 3º da Lei de Crimes Ambientais:
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei,
nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou
partícipes do mesmo fato.

Verifica-se que a responsabilidade da pessoa jurídica exige que a infração seja cometida no interesse ou em
benefício da entidade. No caso do enunciado, a infração, porque não gerou nenhum benefício à entidade,
foi cometida no interesse dos sócios. Assim, não há que se falar em responsabilidade da pessoa jurídica, mas
das pessoas físicas que agiram em contrariedade às normas legais.

11. Nos termos do artigo 14 da Lei n.º 9.605/98:


Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:
I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da
degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.

Desse modo, a alternativa A está incorreta, pois não há previsão de “pertencimento a comunidades
quilombolas” como circunstância que atenue a pena. No mesmo sentido, a alternativas B e C estão erradas,
pois a “periodicidade das pescas aos domingos” é uma circunstância agravante da pena, e não atenuante,
conforme dispõe o art. 15 da Lei de Crimes Ambientais. A alternativa D está correta e é o gabarito da
questão, conforme consigna o referido artigo 14. Por fim, a alternativa E está incorreta, porquanto,
conforme colocado, o “pertencimento a comunidades quilombolas” e “desistência voluntária” não estão
previstos como circunstâncias atenuantes no artigo 14.

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DANIELA ADAMEK REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS •

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMADO, Frederico. Curso de Direito e Prática Ambiental. Salvador: Ed. JusPodivm, 2018.

CAVALCANTE, Márcio. Buscador Dizer o Direito. Disponível em:


<https://www.buscadordizerodireito.com.br/>.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2018.

SILVA, Romeu Faria Thomé da. Manual de Direito Ambiental. Salvador: Ed. JusPodivm, 2018.

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