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Retroatividade

• A regra no Direito Fiscal é que a LN só se aplica para o futuro, sendo proibida a sua
aplicação a factos passados 103.º, nº3, CRP

Esta regra diz respeito às denominadas ‘normas fiscais oneradoras’ -> Proibição da
Retroatividade.

 E caso se trate de Normas Fiscais Substantivas?

É necessário distinguir entre:


Imposto de Obrigação Única: o facto tributário nasce e extingue-se num único
momento – v.g. Eu compro um café.
Imposto de Obrigação Periódica: o facto tributário nasce no primeiro dia do início
do ano civil ou no período fiscal e apenas concluído no final v.g. IRS, IRC

Como se aplica isto aos vários Tributos?

IVA: tenham sempre em conta que o sujeito passivo não coincide com o consumidor final,
uma vez que:
▪ Consumidor Final: é um facto tributário de formação única (ex.: a pessoa que
compra e bebe o café)
▪ Sujeito Passivo: é um facto tributário de formação sucessiva (ex.: o dono do café)

Ou seja, o tributo é suportado pelo consumidor final (ex.: quando paga o IVA de
23%) consideramos então que 1 LN no tempo não pode pôr em causa o imposto já
pago pelo consumidor final. Logo, um aumento do IVA é tido como uma norma
oneradora logo só pode ser aplicável estritamente a factos tributários futuros.

IRS/IRC: é um imposto periódico, quando há um aumento de taxa é norma oneradora. E


aqui é diferente:
▪ É admissível a retroatividade inautêntica/imprópria
▪ É inadmissível a retroatividade autêntica/própria
É assim que o Tribunal Constitucional tem considerado face ao 103.º, n.º3. Porquê?
 Quanto à inautêntica: no caso de IRS estamos perante (quando a meio do
ano há um aumento das taxas) a aplicação relativamente a factos
passados que ainda perduram no tempo (v.g. presente) uma vez que a LN é
aprovada a meio do ano civil, ou seja, antes do final que é quando o
imposto é tributado – e tal é assim ainda que se aplica a todo o ano (v.g.
para trás!) – Acórdão 399/2010, TC – assim o que temos de fazer para ver se é
admissível quando isto acontece?

1) Se a retroatividade é inautêntica, ou seja, se é admissível face ao


Princípio da Anualidade – logo, temos de avaliar qual o nível de
expetativas do cidadão médio quanto à não entrada em vigor de LN
mais gravosas durante o ano fiscal – se tais expetativas não são violadas
à luz do Princípio da Segurança Jurídica, na vertente positiva do Princípio
da Tutela de Confiança
É, assim, necessários termos em conta a Jurisprudência constitucional (como é o caso dos
Acórdãos 128/2009, 85/2012) para determinarmos se a norma é inconstitucional, logo é
necessário termos sempre presentes os pressupostos para aferir da admissibilidade:

i. Afetação das expetativas dos cidadãos em sentido desfavorável constituindo uma


mutação da ordem jurídica com a qual o destinatário razoavelmente não possa
contar;
ii. Alteração não foi ditada por interesses ou direitos prevalecentes, que sejam
constitucionalmente protegidos à luz do 18.º, n. º2, CRP

Para aferirmos estes dois pressupostos, a Jurisprudência tem sufrago o entendimento de 4 testes:

1) O Estado tenha encetado comportamentos que geravam a crença na continuidade


2) As expetativas tem de ser legítimas, fundadas em boas razões
3) Os privados/sujeito passivo fizeram os planos de vida tendo presente a ideia de
continuidade;
4) Não podem ocorrer razoes de interesse público que justifiquem a descontinuidade do
comportamento Estatal ´

Nota quanto à Tributação Autónoma em sede de IRC:

Ex.: Artigo 88.º/CIRC

Temos sempre que:

i) Aferir se estamos perante uma obrigação única (neste exemple estamos!)


ii) Sendo obrigação única não incide sobre o princípio da anualidade, o que releva é o
DIA em que ocorreu o facto tributário (no exemplo serão sempre despesas avulsas!)

Logo, agravamentos à Tributação autónoma, apenas para o futuro! Se com efeitos


retroativos será inconstitucional – vejam Acórdão 21/3/2012 do STA – que considerou que
o facto gerador é a própria despesa VERSUS Acórdão 18/11 do TC que considerou que
era tributação de rendimento/contínua VERSUS Acórdão 310/2012 do TC que julgou
inconstitucional o agravamento de taxas a tributação autónoma

Nota quanto às + Valias em sede de IRS: (ISTO É QUASE SEMPRE ALVO DE PERGUNTAS NAS ORAIS,
E NAS FREQUÊNCIAS – ATENÇÃO A ESTA MATÉRIA, QUE A PROFESSORA REGENTE TEM 1 POSIÇÃO
MUITO ESPECÍFICA SOBRE O ASSUNTO):

 A matéria tributável é o resultado da diferença entre as + e as (-) valias no ano fiscal,


apesar das + valias não serem englobadas, e de a taxa de imposto ser proporcional
 Regime das +V confere-lhe natureza de periocidade típica do IRS

DISCUSSÃO:

POSIÇÃO DA REGENTE: que de acordo com o POSIÇÃO DO TC: são tributadas


10.º, n.º1 b) e 10.º, n.º4 CIRS o apuramento autonomamente em relação a cada ganho
entre +V e -V é realizado no final do ano. Ou realizado, não se tributa o rendimento em
seja, esta tributação apenas é autónoma num acréscimo em cada ano fiscal, logo é uma
sentido de ‘especialidade’, segundo o obrigação única – o facto tributário nasce e
enunciado o apuramento é realizado no final extingue-se no mesmo momento em cada
do ano fiscal e não em cada momento em alienação – logo só se pode aplicar LN ao
que é alienada uma ação – caso adotem que vier para o futuro
esta posição, vocês irão dizer que se trata de
uma retroatividade inautêntica verificam a Acordao 5/2017
admissibilidade com base no teste da
confiança aplicam os 4 testes e prosseguem
Benefícios Fiscais: Suponham que a NL quer eliminar todos os benefícios fiscais para
empresas de recolha de Lixo, caso seja AUTÊNTICA = vale a proibição do 103º, nº3 da CRP
segundo o Tribunal Constitucional. Não obstante, a doutrina tem vindo a considerar que:
▪ Caso o BF seja balizado temporalmente atua o princípio da segurança jurídica em
> grau, se não forem balizados temporalmente menos protegidos

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