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1.

Classificação dos Impostos

Os Impostos podem classificar-se segundo vários critérios, a saber:

a) Segundo o critério do âmbito de aplicação territorial

Segundo o âmbito da respectiva aplicação territorial, a lei e a doutrina, classifica os impostos em


nacionais (aplicáveis em todo o território nacional) e locais (aplicáveis apenas a uma parcela
específica do território nacional)1.

b) Segundo o âmbito de afectação da receita

Segundo este critério, os impostos classificam-se em impostos de nível central e impostos de nível
local, consoante a sua afectação está a cargo do poder central ou de poder local.

c) Segundo o seu objecto (matéria colectável)

Em termos do seu objecto ou incidência, os impostos podem classificar-se em:

• Impostos sobre rendimento, quando incidem objectivamente sobre rendimento do


contribuinte.
• Impostos sobre o capital ou sobre o património, quando incidentes sobre o valor abstracto
ou real do bem (ex., imposto de sisa, imposto sobre sucessões e doações, IPRA, etc.).
• Imposto sobre o consumo ou de despesa, quando incidente sobre o valor de aquisição pelo
consumidor final (ex., IVA, ICE, etc.).

d) Segundo o titular da receita

Tendo em conta a entidade beneficiária da receita ou o sujeito activo, o imposto pode ser:

• Estadual, quando o titular e o beneficiário do imposto é o Estado.


• Regional, quando o titular do referido imposto for uma Região autónoma (à exemplo da
Regiões Autónomas de Portugal).

1
Ver o artigo 56, no 1, da LBT.

1
• Autárquico, quando o titular do imposto for uma Autarquia ou Município.

e) Segundo o tipo ou estrutura da taxa:

Em termos do tipo e estrutura da taxa, os impostos podem-se classificar em:

• Ad Valorem ou sobre o valor acrescentado, quando o imposto a pagar corresponder a uma


percentagem da matéria, adicional (ex. IVA).
• Com taxas específicas, quando a taxa aplicável não altera em função do sujeito passivo
(ex. IPA, IVA, Sisa, IRPC, etc.);
• Proporcionais, quando a respectiva taxa é fixa, qualquer que seja o montante da matéria
colectável (ex., IVA, IRPC, Sisa, etc.);
• Progressivos, quando a taxa aplicável se eleva à medida que aumenta a matéria colectável
ou em função do sujeito passivo (ex., IRPS, IPRA, imposto sobre sucessões e doações,
etc.).

Outras formas de classificação dos impostos

Existem outras formas antigas de classificação dos impostos, algumas das quais consistem em
classificar os impostos em directos e indirectos, em reais e pessoais, entre outras.

a) Impostos directos e indirectos

A distinção entre impostos directos e indirectos constitui uma das comuns distinções que as
ciências jurídicas e económicas pregam no estudo da fiscalidade.

Ora, perante o recurso frequente a esta distinção e a disparidade de critérios que lhes tem servido
de base temos é que assumir um, em atenção à finalidade visada por esta classificação e,
sobretudo, à posição tomada pelo legislador interno.

Com efeito, o legislador moçambicano adoptou o critério de classificação económico, o qual


baseia-se, fundamentalmente, na forma pela qual se manifesta a capacidade contributiva do sujeito
passivo2.

2
Ver o artigo 56, no 3, da LBT.

2
Assim, são impostos directos (artigo 57 e seguintes, da LBT), aqueles que incidem sobre a própria
pessoa que se pretende ver a suportar o encargo económico do imposto, onerando a riqueza que se
encontra na esfera do sujeito passivo. Nesse sentido, serão impostos indirectos (artigo 66, LBT)
aqueles que incidir sobre pessoa distinta daquela que se pretende ver a suportar o encargo
económico do imposto, onerando riqueza que se encontra na esfera do terceiro.

Dito de outra forma, são impostos directos aqueles que incidir sobre o rendimento recebido pelo
contribuinte ou sobre património adquirido por este. Pelo contrário, serão impostos indirectos
aqueles que incidir sobre o consumo ou transferência da riqueza.

Com efeito, os impostos sobre o rendimento e sobre património possuído ou obtido tomam como
sujeito passivo o próprio titular da riqueza que se pretende ver onerada, por isso dizer-se directos
no sentido em que o legislador não pressupõe a sua futura repercussão (ex., IRPS e IRPC, são
directos porque directamente exigidos aos titulares dos rendimentos que se pretende onerar, não
pressupondo o legislador a repercussão destes impostos sobre terceiros).

Já os imposto sobre consumo ou despesa tomam como sujeito passivo pessoa distinta do titular da
riqueza que se pretende ver onerada, só se atingido este por meio da repercussão (o IVA é um
imposto indirecto, em regra exigido do vendedor, pressupondo o legislador que através da
repercussão sobre os preços acabará por ser indirectamente suportado pelo comprador, cuja
riqueza se pretende onerar).

b) Impostos reais e pessoais

A outra classificação que pretendemos analisar é aquela que distingue os impostos em reais ou
objectivos e pessoais ou subjectivos. Consideram-se impostos reais aqueles que objectivamente se
dirigem à tributação da riqueza, sem referência à situação pessoal do contribuinte, enquanto os
impostos pessoais ou subjectivos, embora tributarem também a riqueza, o seu regime de tributação
atende às características pessoais que se verificam na pessoa do contribuinte.

A distinção entre impostos pessoais e impostos reais prende-se, portanto, com a sua estrutura
interna e com a respectiva adequação à força económica do contribuinte, à composição do seu

3
agregado familiar e às despesas essenciais que este está obrigado a fazer e que diminuem a sua
capacidade de pagar imposto.

Assim, serão impostos reais todos os impostos indirectos (ex., IVA, ICE, a Sisa, e demais
impostos sobre o consumo). Porém, são igualmente reais os impostos directos sobre o património
como o imposto sobre sucessões e doações, o IPRA, o IRPC, etc. Por seu turno, são impostos
pessoais ou subjectivos o IRPS e o IPA, ambos estruturados tendo em conta os aspectos pessoais
dos contribuintes.

Esclarecer que esta classificação assenta, fundamentalmente, no critério da predominância dos


aspectos objectivos ou subjectivos, nos regimes tributários instituídos e não na exclusividade
destes critérios.

2. Fases da vida do Imposto

Como dissemos, o Direito Fiscal é o ramo da ciência jurídica que se ocupa nos aspectos ligados ao
imposto. Assim, o Direito Fiscal regula cada um dos momentos da vida do imposto, a saber a fase
de incidência, fase de lançamento, fase da liquidação e a fase da cobrança. Analisaremos cada uma
delas.

a) Fase da incidência

Na fase de incidência do imposto são definidos, legalmente, todos os actos ou situações sujeitos a
imposto e as pessoas sobre as quais recai o dever de prestação tributária. É a definição abstracta
dos pressupostos tributários que faz nascer a obrigação do imposto e da matéria colectável do
imposto e, ainda, identificação dos sujeitos passivos da relação jurídica fiscal a que o mesmo dá
lugar.

Dito doutra forma, fase de incidência, constitui a fase em que a lei determina “o que está sujeito ao
imposto” (incidência real) e “quem está sujeito a imposto” (incidência pessoal).

4
Recordar que, como elemento essencial do imposto, a incidência está sujeita ao princípio da
legalidade fiscal, com reserva absoluta da lei da Assembleia da República (artigo 127, no 2, CRM).

Ora, a par da incidência positiva (definida pelas chamadas normas de incidência reais e
subjectivas) há que considerar a incidência negativa, que dá origem à situações de não sujeição
tributária. É importante não confundir com estas, as isenções que se referem à situações que são
abrangidas pelas regras de incidência e, nesse sentido, estão sujeitas a imposto, mas que um facto
autónomo impede que sejam tributadas. As isenções fazem parte de uma figura mais ampla que
mais adiante estudaremos – os benefícios fiscais.

b) Fase de lançamento

Fixada que esteja a incidência do imposto através das respectivas normas de incidência 3, a sua
aplicação às situações concreta torna-se necessária, indispensável e envolve as restantes fases do
imposto, nomeadamente: o lançamento, a liquidação e a respectiva cobrança (procedimento
tributário).

O lançamento corresponde ao momento do início da aplicação da lei e é a fase em que se


processam as operações conducentes à identificação particular dos sujeitos passivos e à
determinação concreta da matéria colectável sobre que vai incidir o imposto. O lançamento visa
determinar em concreto o sujeito passivo e a matéria colectável do imposto (ver o no 1, do artigo
49, LGT). É nesta fase que se dá por iniciado o processo administrativo do imposto, que comporta
os seguintes passos:

• Apresentação de declaração, quer através do próprio contribuinte (auto-lançamento), quer


por terceiro e, quer pela administração tributária.
• Fixação da matéria colectável, através da declaração do contribuinte ou do terceiro
(passível de correcção) ou dos serviços da administração tributária.

3
As normas de incidência real são aquelas que se referem aos tipos de facto ou realidade declaradas como objecto do
imposto. As normas de sujeição pessoal ou subjectivas referem-se aos tipos de pessoas, entidades ou qualidades
pessoais ou orgânicas de cuja correspondência legal resulta a sujeição ao imposto em causa, relativamente aos factos
compreendidos na norma de incidência real.

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c) Fase de liquidação

É uma operação aritmética da aplicação da taxa à matéria colectável, apurada na fase de


lançamento, para a determinação do montante exacto de imposto devido pelo sujeito passivo
(artigo 78, LGT).

Em regra, a liquidação é feita pelo próprio contribuinte (autoliquidação) e pela administração


fiscal (liquidação oficiosa), na falta da entrega dentro do prazo legal4.

Para além da imprescindível operação de notificação (artigo 85, LGT), nesta fase do imposto,
vários aspectos podem ocorrer:

• Caducidade5, nos termos do artigo 86, da LGT, o direito à liquidação de imposto caduca
se a liquidação não for validamente notificada ao contribuinte no prazo de 5 (cinco) anos
após a sua liquidação, salvo disposição legal em contrário (ex., em relação ao sisa, ao
imposto sucessório o direito caduca 20 anos após a sua liquidação)6;
• Liquidação adicional (artigo 84, LGT), sempre que, depois de liquidado e pago o
imposto, seja exigível um montante superior, em virtude de correcções efectuadas em
consequência da revisão da liquidação;
• Anulação da liquidação (artigo 83, LGT), nos casos em que a liquidação tenha sido
reclamada ou recorrida pelo contribuinte;
• Reforma da liquidação (artigo 134, LGT), quando haja fundado erro de apuramento da
situação tributária do sujeito passivo. Porém, a revisão poderá ser a favor da administração
tributária como do sujeito passivo, neste último caso, com o fundamento no erro imputável
aos serviços.

Entretanto, a notificação é sempre obrigatória sempre que a liquidação é efectuada pela


administração tributária, pois condiciona a eficácia do acto e a cobrança (artigo 85, LGT).

4
Ver os artigos 80 e 82, da LGT.
5
Enquanto a liquidação caduca (5 anos), a cobrança prescreve (10 anos).
6
Ver o artigo 87, da LGT.

6
d) Fase de cobrança

Lançado e liquidado o imposto, segue-se a última fase do imposto – a cobrança – através da qual o
imposto entra nos cofres do Estado ou de outros entes públicos a favor de quem é devido.

Trata-se da última fase da vida do imposto, a qual não se pode confundir com uma forma de
extinção da obrigação fiscal: compensação, pagamento, prescrição, confusão, etc., como aliás
veremos mais adiante.

São várias as questões que se podem colocar a respeito da cobrança, uma das quais consiste em
saber à quem pode ser exigido o pagamento do imposto.

O pagamento pode ser exigido ao contribuinte ou ao terceiro responsável, nos termos da lei.
Porém, existem duas modalidades de cobrança, designadamente, voluntária e coerciva (artigo 142,
no 1, LGT)7.

A cobrança pode ser virtual ou eventual. No primeiro caso, quando for possível prever a sua
cobrança, sendo eventual quando a cobrança for aleatória, impossível de prever-se
antecipadamente (típica dos impostos de obrigação única).

7
Ver os artigos 143 e 156, ambos da LGT.

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