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F&M SROC

NEWSLETTER #43 julho de 2022

SUMÁRIO
LEI DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2022 – PARTE II

ALTERAÇÕES EM SEDE DE IVA, IMPOSTOS SOBRE O PATRIMÓNIO (IS,


IMT E IMI), BENEFÍCIOS FISCAIS (EBF E CFI) E JUSTIÇA TRIBUTÁRIA
(LGT E CPPT)

4. ALTERAÇÕES EM SEDE DE IVA

5. ALTERAÇÃO EM SEDE DE IMPOSTOS SOBRE O PATRIMÓNIO (IS,


IMI E IMT)

6. ALTERAÇÕES EM SEDE DE BENEFÍCIOS FISCAIS (EBF E CFI)

7. ALTERAÇÕES EM SEDE DE JUSTIÇA TRIBUTÁRIA (LGT E CPPT)


4. ALTERAÇÕES EM SEDE DE IVA

O art.º 286.º da LOE/2022 procede algumas alterações ao Código do IVA, mais


concretamente aos respetivos art.os 6.º, 18.º, 27.º, 41.º e 59.º-D.

Seguidamente, no art.º 287.º da LOE/2022, consta a alteração à alínea f) da verba 2.5


da Lista I anexa ao Código do IVA, enquanto o art.º 288.º procede ao aditamento de três
novas verbas à referida lista.

O art.º 290.º da LOE/2022 procede à transposição para o Código do IVA de duas


Diretivas da União Europeia que alteram a Diretiva IVA, alterando-se,
consequentemente, os art.os 13.º e 14.º do Código do IVA e o art.º 5.º do RITI.

A propósito das alterações em sede de IVA, importa mencionar a publicação do Ofício


Circulado n.º 30249, de 27-06-2022, da autoria da Área de Gestão Tributária da Direção
de Serviços do IVA.

4.1. ALTERAÇÕES AO CÓDIGO DO IVA

ü Art.º 6.º - Localização das operações

- Aditamento dos n.os 16 e 17.

As normas em apreço contêm as regras de localização das operações (transmissões de


bens e prestações de serviços) quando envolvam Portugal continental e as respetivas
Regiões Autónomas, visando a correta aplicação da taxa de IVA, face às diferentes
taxas de IVA vigentes nestes espaços territoriais.

Estas disposições legais já constavam em legislação avulsa, em concreto no DL n.º


347/85, de 23-08 (com a redação que lhe havia sido conferida pela Lei n. 14-A/2012, de
30-03), que é agora revogado (pela alínea a) do n.º 1 do art.º 329.º da LOE/2022).

A redação das normas aditadas é a seguinte:

“16 — As operações consideram-se tributadas em Portugal continental ou nas Regiões


Autónomas dos Açores e da Madeira de acordo com os critérios estabelecidos nos
números anteriores, com as devidas adaptações.

17 — Não obstante o disposto no número anterior, as prestações de serviços de


transporte são consideradas, para efeitos de aplicação das taxas do IVA às operações

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que ocorram nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, como tributáveis no
local do estabelecimento estável a partir do qual são efetuadas.”

Quanto ao disposto no n.º 17, cumpre salientar que, caso se trate de transporte de
pessoas, podem beneficiar da isenção prevista na alínea r) do n.º 1 do art.º 14.º
(aplicável a transportes provenientes ou com destino às Regiões Autónomas e entre
ilhas das referidas regiões) e, caso se trate de transporte de mercadorias, beneficiarão
da isenção consignada na alínea t) do n.º 1 do art.º 14.º (aplicável a transportes entre
as ilhas que compõem as Regiões Autónomas, bem como a transportes entre estas
regiões e o continente, ou qualquer outro Estado-membro, e vice-versa).

Recorde-se que, para declarar estas operações, deverá ser entregue o anexo R da
declaração periódica, no qual se devem relevar as operações consideradas localizadas
em espaço territorial diferente daquele em que se encontra localizada a sede da sua
atividade (assinalado no quadro 02 da declaração periódica).

ü Art.º 13.º - Isenções nas importações

- Aditamento das alíneas e) e f) do n.º 2.

A primeira alínea resulta da transposição da Diretiva (UE) 2021/1159, de 13-07-2021,


que altera a “Diretiva IVA” no que diz respeito às isenções temporárias aplicáveis às
importações e a certas entregas ou prestações de serviços, em resposta à pandemia da
doença COVID -19, passando a isentar as importações de bens efetuadas: “Pela
Comissão Europeia ou por agências ou organismos estabelecidos ao abrigo do direito
da União Europeia, no exercício das funções que lhes foram legalmente atribuídas para
dar resposta à pandemia da doença COVID -19;”.

A segunda alínea reflete a transposição do art.º 1.º da Diretiva (UE) 2019/2235, de 16-
12-2019, que altera a “Diretiva IVA”, no que respeita aos esforços de defesa no âmbito
da União, isentando as importações de bens efetuadas: “No âmbito da política comum
de segurança e defesa da União Europeia, pelas forças armadas de outros Estados-
Membros, para uso dessas forças armadas ou do elemento civil que as acompanha ou
para o aprovisionamento das suas messes ou cantinas, quando as referidas forças se
encontrem afetas a um esforço de defesa realizado para a execução de uma atividade
da União Europeia.”.

Estes assuntos serão retomados já em seguida.

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ü Art.º 14.º - Isenções nas exportações, operações assimiladas e transportes
internacionais

- Aditamento das alíneas z), aa) e bb) do n.º 1 e dos n.os 6 e 7.

As alterações em referência resultam de transposição das Diretivas da União Europeia


anteriormente mencionadas, que promoveram alterações à “Diretiva IVA” (Diretiva
2006/112/CE).

Por um lado, procede-se à transposição, para o direito interno nacional, do art.º 1.º da
Diretiva (UE) 2019/2235 do Conselho, de 16-12-2019, relacionada com os esforços de
defesa no âmbito da União.

Por outro, transpõe-se a Diretiva (UE) 2021/1159, de 13-07-2021, que altera a Diretiva
IVA, introduzindo medidas de resposta à pandemia da doença COVID-19.

Por força do disposto no n.º 5 do art.º 290.º da LOE/2022, as isenções previstas na


alínea e) do n.º 2 do art.º 13.º e na alínea z) do n.º 1 do art.º 14.º (ambas relacionadas
com a pandemia da doença COVID-19) produzem efeitos desde 01-01-2021.

Assim, o imposto liquidado nas transmissões de bens ou prestações de serviços


abrangidas pelas referidas isenções, entretanto efetuadas, poderá ser objeto de
regularização nos termos do art.º 78.º, considerando o disposto no respetivo n.º 5, desde
que as entidades beneficiárias (Comissão Europeia ou agência ou organismo em causa)
apresentem o certificado de isenção do IVA referido no art.º 51.º do Regulamento de
Execução (UE) n.º 282/2011, de 15-03-2011.

Já as alterações introduzidas na alínea f) do n.º 2 do artigo 13.º e nas alíneas aa) e bb) do
n.º 1 do art.º 14.º do Código do IVA aplicam -se a partir de 01-07-2022.

A redação das normas aditadas é a seguinte:

“z) As transmissões de bens e as prestações de serviços efetuadas à Comissão


Europeia ou a agências ou organismos estabelecidos ao abrigo do direito da União
Europeia, para o exercício das funções que lhes foram legalmente atribuídas para dar
resposta à pandemia da doença COVID -19;

aa) As transmissões de bens e as prestações de serviços efetuadas no âmbito da


política comum de segurança e defesa da União Europeia às forças armadas de outros
Estados-Membros, para uso dessas forças armadas ou do elemento civil que as
acompanha ou para o aprovisionamento das suas messes ou cantinas, quando as

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referidas forças se encontrem afetas a um esforço de defesa realizado para a execução
de uma atividade da União Europeia;

bb) As transmissões de bens e as prestações de serviços efetuadas no âmbito da


política comum de segurança e defesa da União Europeia destinadas às forças armadas
de qualquer outro Estado-Membro, que não seja o Estado-Membro para o qual os bens
são expedidos ou os serviços prestados, para uso dessas forças armadas ou do
elemento civil que as acompanha ou para o aprovisionamento das suas messes ou
cantinas, quando as referidas forças se encontrem afetas a um esforço de defesa
realizado para a execução de uma atividade da União Europeia.”

Neste âmbito, foram, ainda aditados os n.os 5 e 6 ao art.º 14.º, bem como foi alterado o
disposto no art.º 5.º do RITI, sendo que, neste último caso, se alarga a não sujeição aí
prevista às aquisições intracomunitárias de bens cuja transmissão no território nacional
seja isenta de imposto nos termos das novas alíneas z) a bb) do n.º 1 do art.º 14.º do
Código do IVA (anteriormente constavam apenas as alíneas d) a m) e v) do n.º 1 do art.º
14.º).

ü Art.º 18.º - Taxas do imposto

- Alteração do n.º 3.

Até aqui as taxas de IVA aplicáveis às operações localizadas nas Regiões Autónomas
constavam no próprio Código do IVA e legislação complementar (DL n.º 347/85).

Por via desta alteração o Código do IVA limita-se a remeter para a faculdade já prevista
na Lei Orgânica n.º 2/2013, de 02-09, à luz da qual as Assembleias Legislativas das
Regiões Autónomas procedem à fixação de taxas reduzidas do IVA aplicáveis às
referidas operações.

As taxas do imposto aplicáveis às operações que se considerem efetuadas nas regiões


autónomas deixam, assim, de constar no Código do IVA e respetiva legislação
complementar.

ü Art.º 27.º - Pagamento do imposto apurado pelo sujeito passivo.

- Alteração das alíneas a) e b) do n.º 1 e do n.º 2.

O prazo de pagamento do IVA apurado pelos sujeitos passivos, é alargado para o dia
25 do segundo mês seguinte ao mês ou trimestre a que respeitam as operações,

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consoante se trate de sujeitos passivos enquadrados no regime normal mensal ou
trimestral, respetivamente.

Ver os comentários expostos no tópico seguinte.

Quanto à alteração do n.º 2, passa a prever que as pessoas singulares ou coletivas que
mencionem indevidamente IVA em fatura possam efetuar o pagamento do respetivo
imposto no prazo de 20 dias (era 15 dias) a contar da data em que a mesma tenha sido
emitida, mantendo-se o prazo para pagamento do imposto pela prática de uma só
operação tributável (ato isolado), o qual deve ser efetuado até ao final do mês seguinte
ao da conclusão da operação.

ü Art.º 41.º - Prazo de entrega das declarações periódicas.

- Alteração das alíneas a) e b) do n.º 1.

O prazo de entrega da declaração periódica do IVA é alargado para o dia 20 do segundo


mês seguinte ao mês ou trimestre a que respeitam as operações, consoante se trate de
sujeitos passivos enquadrados no regime normal mensal ou trimestral, respetivamente.

Desta forma, consolidam-se no nosso ordenamento jurídico os prazos de pagamento e


de entrega da declaração periódica que estavam definidos, temporariamente, no âmbito
do ajustamento do calendário fiscal a propósito dos efeitos da pandemia COVID-19 na
atividade económica, por via de sucessivos despachos do SEAF.

O último despacho do SEAF sobre esta matéria (Despacho n.º 351/2021-XXII),


determinava estes mesmos prazos no caso do regime mensal, para as declarações a
entregar em janeiro, fevereiro, março, abril, maio e junho de 2022, e no regime trimestral,
para as declarações a entregar em fevereiro e maio de 2022.

Assim, por via desta alteração, a declaração mensal a entregar em julho e a declaração
trimestral a entregar em agosto encontram-se já abrangidas pelos prazos referidos
agora a coberto da nova redação dada ao próprio Código do IVA.

Sobre esta matéria, interessa, ainda, fazer referência ao Despacho do SEAF n.º
135/2022-XXIII, no qual se determina, na sua alínea a), que relativamente às
declarações periódicas dos regimes mensal e trimestral de IVA, cujo prazo legal,
conjugando o art.º 41.º do Código do IVA com o n.º 1 do art.º 57.º-A da LGT (“férias
fiscais”), termina em 31-08 (reporta-se à declaração trimestral de abril-junho de 2022 e
declaração mensal de junho de 2022), o consequente pagamento exigível pode ser
efetuado até ao dia 06-09-2022, sem quaisquer acréscimos ou penalidades.
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Ainda em matéria de obrigações fiscais, embora fora do âmbito da LOE/2022, damos
nota do DL n.º 42/2022, de 29-06, que estabelece medidas de apoio às famílias e às
empresas no âmbito do conflito armado na Ucrânia e que adita o art.º 16.º-A ao DL n.º
125/2021, de 30-12, procedendo à flexibilização do pagamento de IVA e retenções na
fonte de IRS/IRC para o 2.º semestre de 2022.

Desta forma, as obrigações de pagamento de retenções na fonte do 2.º semestre de


2022 (abrangendo os meses de junho a novembro de 2022) e de IVA, seja regime
trimestral (declarações do 2.º e 3.º trimestre de 2022) ou mensal (declarações dos
meses de maio a outubro), podem ser cumpridas:

• Até ao termo do prazo de pagamento voluntário; ou


• Em prestações mensais, de valor igual ou superior a (euro) 25, sem juros ou
penalidades, calculadas em função do número de meses restantes até ao final
de 2022.

A referida flexibilização de pagamentos pode ser aplicada a todos os sujeitos passivos,


sem quaisquer condições de dimensão, faturação, volume de negócios ou de setor de
atividade, desde que possuam a sua situação tributária e contributiva regularizada.

Recorde-se, ainda, que, por via do Despacho n.º 49/2022-XXIII do SEAF, até 31-12-
2022 devem ser aceites faturas em PDF, as quais são consideradas faturas eletrónicas
para todos os efeitos previstos na legislação fiscal

ü Art.º 59.º-D - Obrigações de faturação, obrigações declarativas e período


em que passa a ser devido o imposto (Regime forfetário dos produtores
agrícolas)

- Alteração da alínea a) do n.º 3.

O art.º 198.º da Lei n.º 82-B/2014, de 31-12 (LOE/2015) introduziu no Código do IVA um
regime forfetário para os pequenos produtores agrícolas que reúnam as condições de
aplicação do regime especial de isenção previsto no art.º 53.º do Código do IVA,
permitindo-lhes solicitar à AT uma compensação em sede de IVA relacionada com a
sua atividade agrícola.

Esta compensação destina-se a atenuar o imposto suportado nas aquisições de bens e


serviços para o exercício da atividade dos produtores agrícolas que se encontram
isentos de IVA e que, por isso, não têm direito à respetiva dedução.

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Como se refere na nota justificativa que suporta a proposta de alteração em causa,
procede-se ao alinhamento do limite da isenção do art.º 53.º do CIVA (€12.500) com o
regime forfetário dos produtores agrícolas, até porque que este regime pressupõe o
enquadramento prévio no regime especial de isenção, tratando-se, portanto, de uma
alteração do limiar de permanência no regime.

ü Lista I anexa ao Código do IVA

- Alteração da alínea f) da verba 2.5

A alínea f) da verba 2.5 da Lista I anexa ao Código do IVA passa a ter a seguinte
redação: “f) Produtos de higiene menstrual.” (anteriormente constava: “Copos
menstruais.”.)

Conforme se refere no Ofício Circulado n.º 30249, de 27-06-2022, os produtos de


higiene menstrual passam, assim, a ser contemplados por uma norma específica para
o efeito, tornando desnecessária a sua integração nas restantes alíneas da verba 2.5.

Efetivamente, já era entendimento da AT que este tipo de bens já beneficiavam da taxa


reduzida do IVA, conforme se retira da ficha doutrinária do processo n.º 4542, de 13-03-
2013, nela se referindo que “(…) relativamente aos produtos para uso higiénico,
designadamente os pensos higiénicos, protetores diários e tampões para uso higiénico,
porque considerados suportes análogos a que se refere a alínea c) da verba 2.5 da Lista
I anexa ao CIVA, independentemente da sua designação comercial, beneficiam do
enquadramento na citada verba e, consequentemente, devem ser tributados à taxa
reduzida de imposto”.

- Aditamento da verba 1.13.

A nova verba 1.13 da Lista I anexa ao Código do IVA contém a seguinte redação:
“Produtos semelhantes a queijos, sem leite e laticínios, produzidos à base de frutos
secos, cereais, preparados à base de cereais, frutas, legumes ou produtos hortícolas. “

São visados por esta verba, nomeadamente, os denominados “queijos vegan”.

Efetivamente, de acordo com entendimento veiculado pela AT, este tipo de bens estava
sujeito, face à redação anterior da verba “1.4.4 – Queijos”, que se mantém inalterada, à
taxa normal do IVA (ficha doutrinária n.º 20292, despacho de 01-07-2021).

- Aditamento da verba 2.36.

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A nova verba 2.36 da Lista I anexa ao Código do IVA contém a seguinte redação: “As
prestações de serviços de reparações de aparelhos domésticos “.

Conforme se retira do Ofício Circulado n.º 30249, de 27-06-2022, passam, assim, a


beneficiar da aplicação da taxa reduzida do imposto as reparações de aparelhos
domésticos, incluindo os eletrodomésticos, que sejam utilizados em imóveis destinados
a habitação.

Certamente serão suscitadas questões sobre o que se considera serem “aparelhos


domésticos”, mas, como se retira daquele entendimento da AT, será certamente um
conceito mais amplo do que meramente os eletrodomésticos, como se conclui da
utilização do termo “incluindo”.

Em matéria de reparações, recorde-se que é entendimento da AT (veiculado no Ofício


Circulado n.º 49424, de 04-05-1989) que as reparações efetuadas no decurso do
chamado período de garantia só se consideram operações não sujeitas a imposto
quando efetuadas a título gratuito, na medida em que sempre se entendeu que elas se
encontram tacitamente incluídas no preço de venda do bem abrangido pela garantia,
não sendo, consequentemente, assimiladas a operações efetuadas a título oneroso,
como seriam noutras circunstâncias, face ao disposto no art.º 3.º, n.º 3, alínea f) e art.º
4.º, n. º 2, alínea b), do Código do IVA.

No entanto, quando as referidas prestações de serviços (com ou sem aplicação de


materiais) são objeto de faturação, está-se, inequivocamente, na presença de
operações efetuadas a título oneroso e, consequentemente, tributáveis nos termos
normais do Código do IVA.

Este entendimento da AT viria a ter, recentemente, confirmação por parte do TJUE, por
via do acórdão proferido no Processo n.º C-605/20, de 24-02-2022, não acolhendo o
argumento à luz do qual o valor repercutido consiste apenas no custo da substituição
ou reparação das pás defeituosas, sem margem ou suplemento, importando recordar,
tal como afirma o Tribunal, que o facto de uma operação económica ser levada a cabo
a um preço superior ou inferior ao preço de custo é irrelevante para a qualificar de
«operação a título oneroso», pressupondo este último conceito unicamente a existência
de um nexo direto entre a entrega de bens ou a prestação de serviços e a
contraprestação realmente recebida pelo sujeito passivo.

- Aditamento da verba 2.37.

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A nova verba 2.37 da Lista I anexa ao Código do IVA contém a seguinte redação:
“Entrega e instalação de painéis solares térmicos e fotovoltaicos “.

Esta nova verba encontra o seu suporte legal ao nível da legislação comunitária na
verba 10 do Anexo III da Diretiva IVA (alterada pela Diretiva (UE) 2022/542, de 05-04-
2022), que prevê a possibilidade de os Estados-Membros aplicarem uma taxa reduzida
de IVA à “(…) entrega e instalação de painéis solares em residências particulares,
habitações e em edifícios públicos e noutros utilizados para atividades de interesse
público, ou na sua proximidade;”.

Como se vê, o legislador nacional não restringiu a entrega e instalação dos referidos
bens em imóveis/edifícios.

Por outro lado, a AT já esclareceu que o termo “entrega” (utilizado na “Diretiva IVA”)
deve ser lido como “transmissão”, o termo normalmente utilizado no Código do IVA.

Ainda assim, estamos certos de que serão suscitadas questões quanto à aplicação da
taxa reduzida do IVA a componentes acessórias que normalmente acompanham a
instalação deste tipo de bens e se mostram imprescindíveis ao seu funcionamento,
como poderá suceder com os acumuladores, baterias, bombas, inversores, entre outros.

As referidas verbas aditadas à Lista I anexa ao Código do IVA (verbas 1.13. 2.36 e 2.37),
produzem efeitos a partir de 01-07-2022.

Note-se, no entanto, que a verba 2.37 tem um período de vigência limitado, dado que,
por força do disposto no n.º 3 do art.º 330.º da LOE/2022, a mesma produz efeitos
apenas até 30-06-2025, pelo que, a partir desta data, salvo qualquer
alteração/prorrogação que, entretanto, possa vir a ocorrer, as operações por ela
abrangidas passam a estar sujeitas à aplicação da taxa normal do imposto.

4.2. ALTERAÇÕES A LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR

ü Decreto-Lei n.º 198/2012, de 24-08 – Art.º 3.º - Comunicação dos elementos


das faturas.

- Alteração aos n.os 1 e 2, revogação da alínea d) e aditamento do n.º 9.

A comunicação dos elementos das faturas, bem como os elementos dos documentos
que possibilitem a conferência de mercadorias ou de prestação de serviços e recibos,
estava, até aqui, circunscrita a pessoas, singulares ou coletivas, que tivessem sede,

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estabelecimento estável ou domicílio fiscal em território português e aqui praticassem
operações sujeitas a IVA, passando agora a abranger as pessoas, singulares ou
coletivas, que se encontrem sujeitas às regras de emissão de faturação em território
português nos termos do art.º 35.º-A do Código do IVA.

Compatibiliza-se, assim, a regra de comunicação de faturas com a norma do Código do


IVA que procede à delimitação de competências em matéria de faturação, tal como já
sucedia, aliás, com a obrigação de possuir programas de faturação certificados, nos
termos do n.º 1 do art.º 4.º do DL n.º 28/2019, de 15-02).

Nessa medida, aquela obrigação passa a abranger, não apenas sujeitos passivos
estabelecidos em território nacional, mas, também, noutros Estados-membros ou em
país ou território terceiro, relativamente a operações tributadas em Portugal, quando
não se aplique a regra de inversão do sujeito passivo, ou seja, grosso modo, quando
tenham como destinatários consumidores finais.

Por outro lado, aquela norma, ao remeter para o art.º 35.º-A do Código do IVA, passa
abranger a emissão de fatura pelas operações efetuadas por sujeitos passivos que
utilizem Portugal como Estado-Membro de identificação para efeitos do regime de
balcão único (OSS).

Por outro lado, é alterado o prazo de comunicação das faturas que passa a ser “(…) até
ao dia 5 do mês seguinte ao da sua emissão.” (era até ao dia 12).

Recorde-se que os elementos das faturas, bem como os elementos dos documentos
que possibilitem a conferência de mercadorias ou de prestação de serviços e recibos,
poderá ser efetuado por uma das seguintes vias:

• Por transmissão eletrónica de dados em tempo real;


• Por transmissão eletrónica de dados, mediante remessa de ficheiro normalizado
estruturado com base no ficheiro SAF-T (PT), criado pela Portaria n.º 321-
A/2007, de 26-03, na sua redação atual;
• Por inserção direta no Portal das Finanças.

Face à revogação da alínea d) do n.º 1 do referido articulado, deixou de estar prevista


a referida comunicação através de outra via eletrónica, nos termos a definir por portaria
do Ministro das Finanças.

Finalmente, por via do aditamento do n.º 9, passou a prever-se uma obrigação adicional,
ou seja, os sujeitos passivos em causa que, durante o mês, não tenham emitido

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documentos, devem comunicar esse facto à AT, através do Portal das Finanças, no
prazo referido anteriormente referido.

Note-se que estas alterações apenas entram em vigor a 01-01-2023.

ü Lei n.º 4-C/2021, de 17-02 – Estabelece uma isenção do IVA aplicável às


transmissões de dispositivos médicos para diagnóstico in vitro da COVID-
19, às vacinas contra a mesma doença e às prestações de serviços
relacionadas com esses produtos, transpondo a Diretiva (UE) 2020/2020 do
Conselho, de 07-12-2020.

- Alteração ao art.º 3.º - Vigência

É alterado o referido art.º, relativo àquela isenção, no sentido de proceder à prorrogação


da mesma até 31-12-2022.

Assim, até 31-12-2022, estão isentas do IVA:


i. As transmissões, aquisições intracomunitárias e importações de dispositivos
médicos para diagnóstico in vitro da doença COVID-19 que estejam em
conformidade com os requisitos aplicáveis, conforme estabelecido na Diretiva
98/79/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27-10-1998, no
Regulamento (UE) 2017/746, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 05-04-
2017, e noutra legislação da União Europeia aplicável;
ii. As transmissões, aquisições intracomunitárias e importações de vacinas contra
a doença COVID -19 autorizadas pela Comissão Europeia ou pelas autoridades
de saúde nacionais.
iii. As prestações de serviços estreitamente ligadas com os dispositivos ou vacinas
referidas nas alíneas anteriores.

ü Decreto-Lei n.º 84/2017, de 21-07 – Regula o benefício a conceder a certas


entidades de interesse público através da restituição total ou parcial do
montante equivalente ao IVA suportado em determinadas aquisições de
bens e serviços.

- Alteração à alínea d) do n.º 1 do art.º 2.º - Entidades beneficiárias

Beneficiam da restituição total ou parcial do montante equivalente ao IVA suportado as


instituições de ensino superior e entidades sem fins lucrativos do sistema nacional de
ciência e tecnologia inscritas no Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional
(IPTCN), quanto aos instrumentos, equipamentos e reagentes adquiridos no âmbito da

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sua atividade de investigação e desenvolvimento (I&D), desde que o IVA das referidas
despesas não se encontre excluído do direito à dedução nos termos do art.º 21.º do
Código do IVA.

Com a referida alteração, aquela restituição passa a abranger consumíveis e licenças


adquiridas no âmbito da sua atividade de investigação e desenvolvimento (I&D).

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5. ALTERAÇÕES EM SEDE DE IMPOSTOS SOBRE O PATRIMÓNIO

5.1. IMPOSTO DO SELO (IS)

Os art.os 1.º, 6.º, 7.º e 70.º-A do Código do IS foram alterados por via do art.º 292.º da
LOE/2022.

ü Art.º 1.º - Incidência objetiva

- Alteração da alínea b) do n.º 5

O n.º 5 do referido artigo elenca, de forma taxativa, as transmissões gratuitas que não
se encontram sujeitas à verba 1.2 da Tabela Geral de IS.

Por via desta alteração legislativa, são retirados daquela enumeração os valores
aplicados em fundos de investimento mobiliário e imobiliário ou em sociedades de
investimento mobiliário e imobiliário.

De acordo com a nota justificativa que suporta a proposta de alteração legislativa: “A


presente medida visa evitar situações de planeamento fiscal abusivo e evasão fiscal.
Neste sentido, passam a estar sujeitas a imposto do selo as transmissões gratuitas de
valores aplicados em fundos de investimento mobiliário e imobiliário ou em sociedades
de investimento mobiliário e imobiliário, considerando em particular a utilização destas
estruturas como veículo de transmissão de imóveis, atenta a atual não sujeição a
imposto do selo nestas transmissões.”.

ü Art.º 6.º - Isenções subjetivas

- O corpo do art.º passa a integrar o n.º 1 e é aditado o n.º 2

De acordo com o presente artigo, são isentos de IS, quando este constitua seu encargo:

“a) O Estado, as Regiões Autónomas, as autarquias locais e as suas associações e


federações de direito público e quaisquer dos seus serviços, estabelecimentos e
organismos, ainda que personalizados, compreendidos os institutos públicos, que não
tenham carácter empresarial;

b) As instituições de segurança social;

c) As pessoas coletivas com estatuto de utilidade pública;

14
d) As instituições particulares de solidariedade social e entidades a estas legalmente
equiparadas;

e) O cônjuge ou unido de facto, descendentes e ascendentes, nas transmissões


gratuitas sujeitas à verba 1.2 da tabela geral de que são beneficiários.”

Sucede agora que, por via da referida alteração legislativa e consequente aditamento
do n.º 2, as referidas isenções de IS deixam de ser aplicáveis às instituições de crédito,
sociedades financeiras, empresas de seguros e resseguros e outras entidades a elas
legalmente equiparadas, quando constituam seu encargo.

ü Art.º 7.º - Outras isenções

- Aditamento das alíneas v), w), x) e alteração do n.º 2

No que se refere ao aditamento das alíneas em referência no elenco das isenções


(objetivas) de IS, optou-se, por forma a perceber o seu alcance, por reproduzir a sua
redação, sendo que as mesmas possuem um aspeto em comum, consistindo num
incentivo à internacionalização e exportação por parte das empresas nacionais.

Sucede que estas medidas já haviam sido adotadas pelo DL n.º 109/2020, de 31-12,
embora com caráter transitório, uma vez que estas isenções caducariam em 31-12-
2022.

Ao serem integradas no próprio Código do IS é retirado o caráter provisório às seguintes


isenções:

“v) As apólices de seguros de crédito à exportação, incluindo os seguros de crédito


financeiros e os seguros caução na ordem externa, concedidos com ou sem garantia do
Estado, desde que, em qualquer dos casos, o imposto constitua encargo do exportador
e o mesmo esteja a atuar no âmbito da sua atividade de exportação;

w) As garantias das obrigações, sob a forma de garantias bancárias na ordem externa


ou de seguros caução na ordem externa, desde que, em qualquer dos casos, o imposto
constitua encargo do exportador e o mesmo esteja a atuar no âmbito da sua atividade
de exportação;

x) As garantias prestadas pelo Estado, direta ou indiretamente, no âmbito de


instrumentos de direito internacional ou no âmbito das apólices de seguros referidas nas
alíneas v) e w), emitidas, no caso das apólices de seguros, nos termos do artigo 15.º e
seguintes do Decreto -Lei n.º 183/88, de 24 de maio, na sua redação atual.”.

15
Retira-se da respetiva nota justificativa que “(…) a presente proposta visa transitar o
referido instrumento de política fiscal para o Código de Imposto do Selo, subtraindo-lhe
o caráter meramente transitório e alargando o seu âmbito às garantias prestadas no
âmbito de instrumentos de direito internacional, nomeadamente acordos bilaterais de
cooperação, tendo em vista o reforço das operações à exportação e a cooperação
internacional.”

Já no que se refere à alteração ao n.º 2, a mesma consiste numa limitação à aplicação


das isenções de IS contidas nas alíneas g) e h), que têm subjacente operações de
financiamento entre empresas.

Reproduz-se, de seguida, a nova redação da norma com a alteração sublinhada:

“O disposto nas alíneas g) e h) do n.º 1 não se aplica quando qualquer dos intervenientes
não tenha sede ou direção efetiva no território nacional, com exceção das situações em
que o credor ou o devedor tenha sede ou direção efetiva noutro Estado-Membro da
União Europeia ou num Estado em relação ao qual vigore uma convenção para evitar a
dupla tributação sobre o rendimento e o capital acordada com Portugal, caso em que
subsiste o direito à isenção, salvo se o credor tiver previamente realizado os
financiamentos previstos nas alíneas g) e h) do n.º 1 através de operações realizadas
com instituições de crédito ou sociedades financeiras sediadas no estrangeiro ou com
filiais ou sucursais no estrangeiro de instituições de crédito ou sociedades financeiras
sediadas no território nacional.”

Como se verifica, agora, a limitação à aplicação das isenções em referência não existe,
subsistindo a isenção, não apenas quando o credor tenha sede noutro EM da UE ou
num Estado com o qual vigore uma convenção para evitar a dupla tributação, mas,
também, quando aí resida o devedor.

Conforme se retira da nota justificativa que suporta esta alteração legislativa “(…) ajusta-
se a redação do n.º 2 para a compatibilizar com o Direito Europeu, em linha com a
jurisprudência produzida nesta matéria.”.

Estaríamos assim perante uma restrição à livre circulação de capitais, não justificada
face às disposições do Tratado de Funcionamento da UE, situação que se encontra
agora ultrapassada.

ü Art.º 70.º-A - Desincentivo ao crédito ao consumo

- Alteração do corpo do artigo

16
Na sua essência, o agravamento de 50% das taxas previstas nas verbas 17.2.1 a 17.2.4,
relativas a crédito ao consumo (abrangido pelo DL n.º 133/2009, de 02-06), mantém-se
em vigor em 2022.

5.2. IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE IMÓVEIS (IMI)

O art.º 301.º da LOE/2022 procede à alteração de apenas dois art.os do Código do IMI,
os art.os 27.º e 76.º.

Por via do art.º 302.º procede, ainda, a alterações ao art.º 15.º-N do DL n.º 287/2003,
de 12-11, que estabelece um regime transitório do IMI.

Este art.º 15.º-N prevê um regime especial para os prédios ou partes de prédios urbanos
abrangidos pela avaliação geral, consagrada pela Lei n.º 60-A/2011, de 30-11, que
estejam arrendados por contrato de arrendamento para habitação celebrado antes da
entrada em vigor do Regime do Arrendamento Urbano, aprovado pelo DL n.º 321-B/90,
de 15-10, ou por contrato de arrendamento para fins não habitacionais celebrado antes
da entrada em vigor do DL n.º 257/95, de 30-09.

Verificados os pressupostos de aplicação do referido regime especial para os prédios


ou partes de prédios urbanos abrangidos pela avaliação geral, sempre que o Valor
Patrimonial Tributário (VPT) atual do prédio ou parte de prédio for superior ao valor que
resultar da capitalização da renda ilíquida anual através da aplicação do fator 15, será
este último o VPT relevante para efeitos, exclusivamente, da liquidação do IMI.

Para que os sujeitos passivos do IMI beneficiem deste regime especial, devem
apresentar, anualmente, entre 01-11 e 15-12, uma participação de rendas onde conste
o valor da última renda mensal devida e a identificação fiscal do inquilino. Esta
participação deverá ser acompanhada da participação eletrónica do contrato de
arrendamento ou respetivo modelo 2 da AT ou, ainda, na sua falta, por meios de prova
idóneos nos termos definidos por Portaria do membro do Governo responsável pela
área das finanças.

Com a referida alteração, o prazo de entrega da participação das rendas passa a ser de
01-01 a 1502, tal como já sucedeu relativamente ao IMI de 2020, por via do Despacho
do SEAF n.º 414/2020-XXII, de 30-10.

ü Art.º 27.º - Edifícios afetos a produções agrícolas

17
- Alteração do n.º 1.

Determinava este articulado que os edifícios e construções diretamente afetos à


produção de rendimentos agrícolas ou silvícolas situados em prédios rústicos não são
avaliados, sendo que a referência a rendimentos silvícolas foi aditada pela LOE/2016.

Com a LOE/2022, passam também a estar consagrados naquela norma os edifícios e


construções diretamente afetos à produção de rendimentos pecuários, alteração que
vem na sequência daquelas que, visando o mesmo tipo de prédios, foi promovida pela
LOE/2020 ao art.º 3.º do Código do IMI, ao nível da qualificação como prédio rústico,
dos edifícios e construções diretamente afetos à produção de rendimentos pecuários,
quando situados nos terrenos qualificados como prédios rústicos.

ü Art.º 76.º - Segunda avaliação de prédios urbanos

- Alteração do n.º 1, n.º 3, n.º 7 e alínea c) do n.º 11.

O referido art.º aborda a possibilidade de realização de uma segunda avaliação de


prédios urbanos, que poderá ser despoletada pelo sujeito passivo, câmara municipal ou
a AT (até aqui a referência era ao chefe de finanças).

Esta segunda avaliação poderá assentar nas regras próprias de determinação do VPT
definidas no art.º 38.º e seguintes, ou, alternativamente, num contexto de distorção do
VPT face ao valor normal de mercado.

Sucede que, nesta segunda situação, as consequências de determinar um novo VPT


não se circunscreviam ao IMI, mas eram extensíveis a outros impostos, nomeadamente
para efeitos de IRS, IRC e IMT, facto que agora deixa de suceder por via da alteração
do n.º 3.

A alteração ao n.º 7 consiste numa mera atualização de remissões, enquanto que, por
via da alteração promovida à alínea c) do n.º 11, a competência para a nomeação do
perito regional em caso de falta de comparência do vogal nomeado pela câmara
municipal na comissão constituída para o efeito, deixa de estar atribuída ao chefe de
finanças e passa a ser atribuída ao diretor de finanças.

5.3. IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE TRANSMISSÃO ONEROSA DE BENS


IMÓVEIS (IMT)

18
O art.º 303.º da LOE/2022 procede à alteração dos art.os 2.º, 9.º, 12.º, 13.º e 17.º do
Código do IMT, com particular foco para as alterações em matéria de incidência objetiva
e taxas.

ü Art.º 2.º - Incidência objetiva e territorial

- Alteração das alíneas c), e), f), h) do n.º 5 e alteração do n.º 6

Por regra, o IMT incide sobre as transmissões, a título oneroso, do direito de propriedade
ou de figuras parcelares desse direito, sobre bens imóveis situados no território nacional.

O n.º 5 do art.º 2.º tipifica um conjunto de factos tributados em sede de IMT.

No que se refere à alínea c), é aditado, na sua previsão legal, a alienação do “direito à
meação”, ficando com a seguinte redação:

“O excesso da quota-parte que ao adquirente pertencer, nos bens imóveis, em ato de


divisão ou partilhas, bem como a alienação da herança ou quinhão hereditário ou do
direito à meação”.

Por morte de um dos cônjuges, o património do casal, como um todo, fica a pertencer,
na proporção das respetivas quotas, ao cônjuge sobrevivo (meação conjugal + quinhão
hereditário) e aos restantes herdeiros (quinhão hereditário), não se reportando aquelas
quotas a cada bem individualmente considerado, mas ao todo.

Até à partilha, os cônjuges meeiros têm um património comum e não são donos dos
bens que integram esse acervo, nem mesmo em regime de compropriedade, pois
apenas são titulares de um direito sobre a meação que incide sobre uma quota ou fração
da mesma para cada cônjuge, mas sem que se conheça quais os bens concretos que
preenchem tal quota. Não há bens certos e determinados, tratando-se apenas de uma
quota ideal, sendo pela partilha que serão adjudicados os bens pertencentes à meação
e à herança e que preencherão aquelas quotas.

Tal facto não impede o cônjuge sobrevivo alienar o referido direito, que, por esta via,
passa a estar consagrado como facto tributário sujeito a IMT.

Sobre esta matéria transcrevemos a nota justificativa que suportou a proposta de


alteração em apreço:

“Pretende-se alargar a incidência do IMT ao excesso de quota-parte que ao adquirente


pertencer, nos bens imóveis, no âmbito da transmissão onerosa do direito à meação,
como forma de reduzir o planeamento fiscal abusivo. Neste sentido, evita-se a

19
possibilidade atual de transmissão de imóveis, por aquela via, para a esfera de terceiros,
mantendo-se, no entanto, a exclusão de incidência nos atos de partilha entre ex-
cônjuges.”

Por outro lado, regista-se o desdobramento da alínea e) em duas alíneas, a e) e a f),


alocando-se à primeira as entradas dos imóveis para as sociedades ou outras entidades
como fundos de investimento imobiliários fechados de subscrição particular e à segunda
a adjudicação de bens imóveis aos sócios.

Sem prejuízo de tal facto, ainda se procedeu a alterações das respetivas redações, que
sublinhamos:

e) As entradas dos sócios com bens imóveis para a realização do capital e para a
realização de prestações acessórias à obrigação de entrada de capital das sociedades
comerciais ou civis sob a forma comercial ou das sociedades civis a que tenha sido
legalmente reconhecida personalidade jurídica, as entregas de bens imóveis dos
participantes no ato de subscrição de unidades de participação de fundos de
investimento imobiliário fechados de subscrição particular;

f) A adjudicação dos bens imóveis aos sócios na liquidação, redução de capital e no


reembolso de prestações acessórias ou outras formas de cumprimento de obrigações
pelas sociedades comerciais ou civis sob a forma comercial ou das sociedades civis a
que tenha sido legalmente reconhecida personalidade jurídica, e a adjudicação de bens
imóveis aos participantes como reembolso em espécie de unidades de participação
decorrente do resgate das unidades de participação, da liquidação e da redução de
capital de fundos de investimento imobiliário fechados de subscrição particular;

Sobre esta matéria, sugere-se a leitura do Parecer n.º 72/2015 do Centro Estudos
Fiscais da AT, publicado na revista Ciência e Técnica Fiscal n.º 434 (pp. 333-364), no
qual já se concluía que não havia previsão legal para a tributação da entrega da
titularidade de bens imóveis em cumprimento da obrigação de prestações acessórias
imobiliárias gratuitas. Não obstante, como ali se referia, o seu efeito no património da
sociedade imobiliária é em tudo idêntico às entradas de capital, estas sim já previstas
na alínea e) do n.º 5 do art.º 2.º do Código do IMT.

O Supremo Tribunal Administrativo (STA), reportando-se à redação da referida alínea


e), anterior à alteração promovida pela LOE/2022, aqui em análise, referiu, no processo
n.º 02163/15.1BEALM, de 13-01-2021, posição que viria a ser reafirmada em acórdão
do mesmo Tribunal, de 03-02-2021, proferido no processo n.º 0432/16.2BEALM, que as

20
transmissões de imóveis em cumprimento da entrega de prestações acessórias,
efetuadas a título gratuito, não se incluem na previsão do art.º 2.º, n.º 5, alínea e), do
Código do IMT, desde logo, porque o elemento literal do preceito o não permite (cfr. art.º
9.º, n.º 2, do CC).

Considerou o referido Tribunal que “(…) o Código das Sociedades Comerciais separa,
claramente, a obrigação de entradas dos sócios para o capital social e a obrigação de
prestações acessórias. E essa diferenciação ocorre tanto no que respeita à sua origem,
como à sua natureza, fins e efeitos, conforme acima se concluiu. Na verdade, a previsão
da norma sob exame integra somente as entradas dos sócios, com imóveis, que se
consubstanciem na realização do capital social do ente societário. Sendo que esta
diferenciação de regime (entre as entradas de capital e as prestações acessórias) deve
ser integrada com recurso ao seu sentido original, tal qual consta do Código das
Sociedades Comerciais (cfr. artº. 11, nº. 2, da L.G.T.).

Com estes pressupostos, não pode o intérprete alargar o âmbito da previsão do artº. 2,
nº. 5, al. e), do C.I.M.T., para nela se incluírem as transmissões de imóveis em
cumprimento da entrega de prestações acessórias, desde logo, porque o elemento
literal do preceito a tal impede (cfr. artº. 9, nº. 2, do C. Civil) (…)”.

Percebe-se, assim, que o legislador, visando colmatar esta lacuna da lei, passou a
incluir na previsão legal da referida alínea e) as entradas dos sócios com bens imóveis
para a realização de prestações acessórias à obrigação de entrada de capital, que
passam, assim, a ser tributadas em sede de IMT.

De igual forma, agora na perspetiva da adjudicação de imóveis da empresa (sociedades


comerciais ou civis sob a forma comercial ou das sociedades civis a que tenha sido
legalmente reconhecida personalidade jurídica) a favor do sócio, a incidência objetiva
deixou de se circunscrever à adjudicação no âmbito de um processo de liquidação da
sociedade, para se aplicar, igualmente, no âmbito da redução de capital e no reembolso
de prestações acessórias ou outras formas de cumprimento de obrigações.

Claro está, o IMT será devido pelo sócio a quem o imóvel em causa for adjudicado.

ü Art.º 9.º - Isenção pela aquisição de prédios destinados exclusivamente a


habitação

- Alteração ao corpo do artigo

21
Na determinação do limite que serviria de base à liquidação do IMT, para efeitos de
isenção na aquisição de prédio urbano ou de fração autónoma de prédio urbano
exclusivamente destinado a habitação própria e permanente, deixou de se remeter para
um determinado valor (92.407€), passando a remissão a concretizar-se para o valor
máximo do 1.º escalão a que se refere a alínea a) do n.º 1 do art.º 17.º, que, à luz da
LOE/2022, passou a ser, como veremos, de 93.331€.

Por esta via, futuras alterações dos escalões de taxas de IMT não implicarão a
consequente alteração deste artigo.

ü Art.º 12.º - Valor tributável

- Alteração à regra 1.ª, 7.ª, alíneas a) e b) da 12.ª, 13.ª e 21.ª

As alterações visadas estão. em grande parte. relacionadas com as alterações


promovidas ao art.º 2.º do Código do IMT anteriormente retratadas.

Assim, incluíram-se os meeiros na quantificação da base tributável a que se refere a


regra 1.ª, pelo que, quando este alienar o seu direito, o imposto é liquidado pela parte
do VPT que lhe corresponder ou incide sobre o valor constante do ato ou do contrato,
consoante o que for maior.

Por sua vez, a alteração à regra 12.ª veio comportar o desdobramento das alíneas e) e
f), assim como o consequente aditamento da alínea g), anteriormente referidos,
autonomizando-se agora uma regra de quantificação do valor tributável para a
adjudicação dos bens imóveis aos sócios ou participantes em fundos de investimento,
considerando-se como tal o VPT ou, caso seja superior, aquele por que os mesmos
saírem do ativo das sociedades ou do património dos fundos de investimento imobiliário.

A alteração promovida à regra 7.ª visa abarcar uma figura incorporada no Código do
IMT pela LOE/2021, o direito real de habitação periódica. Neste processo, certamente
por lapso, não ficou prevista a possibilidade da transmissão da propriedade
separadamente do referido direito, o mesmo sucedendo nas alíneas a) e b) do art.º 13.º
do mesmo Código.

Já no que se refere à regra 21.ª, a mesma passou a ter a seguinte redação, sublinhando-
se a parte aditada pela LOE/2022:

“Quando se constituir direito real de habitação duradoura o imposto é liquidado sobre o


valor da caução, exceto quando haja lugar à sua renúncia ou transmissão, casos em

22
que o imposto é liquidado sobre o valor atual desse direito, calculado nos termos da
alínea b) do artigo 13.º, ou sobre o valor constante do ato ou do contrato, se for superior.”

ü Art.º 13.º - Regras especiais

- Alteração às alíneas a) e b)

Ajustamento da redação das normas face à incorporação, por via da LOE/2022, da


figura do direito real de habitação periódica no Código do IMT.

ü Art.º 17.º - Taxas

- Alteração às alíneas a) e b) do n.º 1, n.º 3 e alínea b) do n.º 6

A Lei/2022 promoveu alterações aos escalões de taxas de IMT, com efeitos a partir da
sua entrada em vigor, ou seja, 28-06-2022. Entretanto, foram publicadas as respetivas
tabelas práticas por via do Ofício Circulado n.º 40119, de 28-06-2022, que se evidenciam
de seguida, para o caso concreto do continente:

Por outro lado, ainda no que se refere à aplicação das taxas, por via da alteração
promovida ao n.º 6, passa a aplicar-se à transmissão de figuras parcelares do direito de
propriedade, ou da propriedade separada dessas figuras parcelares, as mesmas regras

23
que até aqui eram aplicáveis à transmissão de partes de prédio, quando no ato não se
transmitir a totalidade do prédio, ou seja, nestes casos, ao valor tributável, tendo em
consideração os direitos transmitidos, aplica-se a taxa correspondente ao valor global
do prédio.

24
6. ALTERAÇÕES EM SEDE DE BENEFÍCIOS FISCAIS

6.1. ESTATUTO DOS BENEFÍCIOS FISCAIS (EBF)

O art.º 305.º da LOE/2022 altera os art.os 22.º -A, 36.º-A, 41.º -B, 45.º, 46.º, 64.º e 66.º-
A do Estatuto dos Benefícios Fiscais, destacando-se a alteração ao art.º 36.º-A que
consiste na prorrogação do prazo de licenciamento de entidades para operar na Zona
Franca da Madeira até 31-12-2023 (era 31-12-2020).

ü Art.º 22.º-A – Rendimentos pagos por organismos de investimento coletivo


aos seus participantes

- Alteração do n.º 10

A nova redação da norma passou a ser a seguinte (os aditamentos encontram-se


sublinhados):

“No caso de rendimentos decorrentes de unidades de participação adquiridas em


mercado secundário ou adquiridas a título gratuito, o adquirente deve comunicar à
entidade registadora ou depositária, ou, na ausência destas, à entidade responsável
pela gestão ou ao organismo de investimento coletivo sob a forma societária, a data e
o valor de aquisição ou o valor que tenha sido considerado para efeitos de liquidação
de imposto do selo ou que serviria de base à liquidação de imposto do selo, caso este
fosse devido.”

Depreende-se da alteração que a obrigação de comunicação por parte do adquirente


passa a estender-se às unidades de participação adquiridas a título gratuito,
estabelecendo-se, na parte final da norma, regras específicas quanto ao valor a
comunicar nestas situações.

ü Art.º 36.º-A – Regime aplicável às entidades licenciadas na Zona Franca da


Madeira a partir de 1 de Janeiro de 2015

- Alteração do n.º 1 e do corpo do n.º 7

Tal como referido na introdução, o regime fiscal vigente na Zona Franca da Madeira,
que consiste, entre outros benefícios fiscais, na aplicação de uma taxa de IRC de 5%
(inalterada), passa a aplicar-se às entidades licenciadas até 31-12-2023, quando até
25
aqui, após as alterações promovidas pela Lei n.º 21/2021, de 20-04, se aplicava a
entidades licenciadas até 31-12-2021 (anteriormente a estas alterações a data de
referência era 31-12-2020), ajustando-se, em conformidade, a redação das duas
normas acima identificadas.

De notar que se mantém a aplicação dos benefícios fiscais até 31-12-2027.

A presente alteração insere-se na decisão tomada pela Comissão Europeia em ajustar


as regras relativas aos auxílios estatais com finalidade regional, tendo em vista mitigar
o impacto económico e financeiro nas empresas sediadas na União Europeia da
pandemia provocada pela COVID-19.

Neste âmbito, foi aprovado o Regulamento (UE) n.º 2020/972, de 02-07-2020, que
prorroga por mais 3 anos (até 31-12-2023) o Regulamento (UE) n.º 1407/2013 e o
Regulamento (UE) n.º 651/2014, ou seja, o normativo aplicável aos auxílios estatais, ao
abrigo das quais foi negociado o regime aplicável às entidades licenciadas para operar
na Zona Franca da Madeira, conferindo ao Estado Português a faculdade de
prorrogação do regime jurídico previsto no artigo 36.º-A.

Salienta-se que a produção de efeitos da prorrogação do prazo de licenciamento ocorre


desde 01-01-2022, por forma a que os licenciamentos concedidos desde aquela fiquem
abrangidos pelas alterações em apreço.

ü Art.º 41.º-B - Benefícios fiscais aplicáveis aos territórios do Interior e às


Regiões Autónomas

- Aditamento do n.º 5 (anterior n.º 5 passa a ser o n.º 6) e alteração do n.º 7 (anterior n.º
6; anteriores n.os 7 a 9 passam a ser os n.os 8 a 10)

As alterações prendem-se com a aplicação do regime em apreço às Regiões


Autónomas.

Segundo a Nota Justificativa da alteração:

“O Estatuto dos Benefícios Fiscais permite já consagrar uma taxa de IRC mais baixa
nos territórios de baixa densidade, fazendo parte do conjunto de benefícios fiscais
aplicáveis ao interior do nosso país. Este tem constituído um instrumento estratégico de
valorização do interior e de combate à desertificação e despovoamento destes
territórios.

26
Nos termos dos estatutos das regiões autónomas e da lei das finanças regionais, é
permitido às regiões autónomas um diferencial fiscal de 30%, que visa assegurar de
igual modo o devido incentivo ao investimento empresarial nestas regiões
ultraperiféricas.

Interessa, agora, compatibilizar estes dois regimes, permitindo às regiões autónomas


aplicar a redução de taxas previstas no artigo 41.º-B para territórios de baixa densidade
aos territórios dentro das suas regiões que tenham um perfil socioeconómico
semelhantemente desfavorecido no contexto regional.”

O novo n.º 5, aditado, possui a seguinte redação:

“No caso das regiões autónomas, a taxa prevista no n.º 1 pode ser adaptada nos termos
previstos no n.º 2 do artigo 59.º da Lei das Finanças das Regiões Autónomas, aprovada
pela Lei Orgânica n.º 2/2013, de 2 de setembro.”

Recorde-se que a taxa prevista no n.º 1 a que se refere a norma citada, aplicável a PME,
é de 12,5% aplicáveis aos primeiros 25.000€ de matéria coletável, quando o regime-
regra, previsto no n.º 2 do art.º 87.º do Código do IRC, prevê uma taxa de 17% para o
mesmo escalão de rendimentos.

Quanto à alteração do n.º 7 (anterior n.º 5) consiste no aditamento da parte sublinhada:

“A delimitação das áreas territoriais beneficiárias é estabelecida por portaria dos


membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças, das autarquias locais e
do planeamento e das infraestruturas, ou, no caso das regiões autónomas, pelos
respetivos Governos Regionais, e obedece a critérios como a emigração e o
envelhecimento, a atividade económica e o emprego, o empreendedorismo e a
infraestruturação do território.”

ü Art.º 45.º - Prédios Urbanos objeto de reabilitação

- Aditamento dos n.os 8 e 9

De acordo com o disposto na alínea c) do n.º 2, os prédios urbanos ou frações


autónomas com mais de 30 anos ou localizados em áreas de reabilitação urbana (ARU),
que sejam reabilitados (nas condições previstas no n.º 1), beneficiam de isenção de IMT
na primeira transmissão, subsequente à intervenção de reabilitação, quando afetos a
arrendamento para habitação permanente ou, quando localizados em ARU, também a
habitação própria e permanente.

27
Passa a ficar consagrado no novo n.º 8 que a referida isenção (prevista na alínea c) do
n.º 2) fica sem efeito se:

“a) Aos imóveis for dado destino diferente daquele em que assentou o benefício, no
prazo de seis anos a contar da data da transmissão; ou

b) Os imóveis não forem afetos a habitação própria e permanente no prazo de seis


meses a contar da data da transmissão; ou

c) Os imóveis não forem objeto da celebração de um contrato de arrendamento para


habitação permanente no prazo de um ano a contar da data da transmissão.”

Quanto ao n.º 9, também aditado, passa a dispor que, no caso de a isenção ficar sem
efeito, nos termos do disposto no número anterior, o sujeito passivo deve solicitar à AT
a liquidação do respetivo imposto, no prazo de 30 dias, através de declaração de modelo
oficial.

ü Art.º 46.º - Prédios urbanos construídos, ampliados, melhorados ou


adquiridos a título oneroso destinados a habitação

- Alteração do n.º 1 IMI

Relativamente a prédios ou parte de prédios urbanos habitacionais construídos,


ampliados, melhorados ou adquiridos a título oneroso, destinados a habitação própria e
permanente do sujeito passivo ou do seu agregado familiar, a referência em termos de
limite de IRS deixa de ser o rendimento coletável, passando a ser o rendimento bruto
total, mantendo-se o valor de referência em 153.300€.

Aditou-se na parte final da norma uma exceção à obrigação de apresentação do pedido


de isenção nas “situações constantes da alínea a) do n.º 6”, isto é, estabelece-se agora
que o pedido de isenção não é exigido (isenção automática) nas situações de aquisição
onerosa

ü Art.º 64.º - Imposto sobre o valor acrescentado – Transmissões de bens e


prestações de serviços a título gratuito

- Alteração do corpo do art.º

A lei já estabelecia que não estavam sujeitas a IVA as transmissões de bens e as


prestações de serviços efetuadas, a título gratuito, pelas entidades a quem sejam
concedidos donativos, em benefício direto das pessoas singulares ou coletivas que os

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atribuam, quando o correspondente valor não ultrapassar, no seu conjunto, 10% do
montante do donativo recebido.

A alteração em apreço consistiu em alterar a percentagem de 10% para 25%.

ü Art.º 66.º-A – Cooperativas

- Aditamento do n.º 14 (anterior n.º 14 passa a n.º 16)

Passa a constar que o regime previsto neste art.º para as cooperativas não é aplicável
às instituições de crédito, sociedades financeiras, empresas de seguros e resseguros
ou a outras entidades a elas legalmente equiparadas.

6.2. CÓDIGO FISCAL DO INVESTIMENTO (CFI)

O regime de benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo e o RFAI


constituem regimes de auxílios com finalidade regional aprovados nos termos do
Regulamento (UE) n.º 651/2014, de 16-06-2014, que declara certas categorias de
auxílio compatíveis com o mercado interno em aplicação dos art.os 107.º e 108.º do
Tratado (Regulamento Geral de Isenção por Categoria ou RGIC) e que constitui uma
importante derrogação à regra geral, segundo a qual os Estados-Membros têm de
notificar a Comissão de quaisquer projetos de concessão de novos auxílios antes da
sua execução, desde que estejam preenchidas determinadas condições predefinidas.

Sucede que aquele Regulamento viria a ser alterado pelo Regulamento (UE) n.º
2021/1237, de 23-07-2021, pelo que interessava promover algumas alterações ao CFI,
em concreto aos seus art.os 1.º, 2.º, 7.º, 25.º e 43.º, que são aqui retratadas.

De acordo com o disposto no art.º 330.º da LOE/2022, todas estas alterações produzem
efeitos desde 01-01-2022.

ü Art.º 1.º - Objeto

- Alteração ao n.º 2

A alteração visa incorporar na letra da norma o referido regulamento comunitário que


altera o RGIC, ou seja, o Regulamento (UE) n.º 2021/1237.

ü Art.º 2.º - Âmbito objetivo

- Alteração ao n.º 1 e n.º 2

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Procede-se à prorrogação do prazo à luz do qual se podem atribuir benefícios fiscais ao
investimento de natureza contratual, agora para 31-12-2027 (era 31-12-2020).

A alteração ao n.º 2 visa referenciar as novas orientações relativas aos auxílios com
finalidade regional, que visam agora o período de 2022-2027 (era 2014-2020),
publicadas no Jornal Oficial da União Europeia, n.º C 153/1, de 29-04-2021.

Estamos a falar das Orientações revistas da UE relativas aos auxílios estatais com
finalidade regional («Orientações relativas aos auxílios estatais com finalidade
regional»), que estabelecem as regras ao abrigo das quais os Estados-Membros podem
conceder auxílios estatais a empresas para apoiar o desenvolvimento económico das
regiões desfavorecidas da UE, assegurando simultaneamente condições de
concorrência equitativas entre os Estados-Membros. As Orientações revistas entraram
em vigor em 1 de janeiro de 2022.

ü Art.º 7.º - Notificação à Comissão Europeia

- Alteração do corpo do artigo.

Ver o exposto no tópico seguinte.

ü Art.º 25.º - Obrigações acessórias

- Alteração do n.º 3.

Tal como sucede com a alteração anterior, passa a haver uma remissão genérica para
o limiar de notificação previsto nas OAR (orientações relativas aos auxílios estatais com
finalidade regional).

ü Art.º 43.º - Limites máximos aplicáveis aos auxílios estatais com finalidade
regional

- Alteração do n.º 1.

A aprovação de um novo mapa nacional de auxílios estatais com finalidade regional


para o período de 01-01-2022 a 31-12-2027, aprovado pela Comissão Europeia em 08-
02-2022, implicou a alteração dos limites máximos aplicáveis aos benefícios fiscais
concedidos às empresas no âmbito do regime de benefícios fiscais contratuais ao
investimento produtivo e do RFAI.

Reproduz-se, de seguida o novo mapa:

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Da sua análise retira-se uma subida generalizada dos referidos limites, por regra em 5
p.p., tal como sucede para o caso concreto da região norte, sem prejuízo de um maior
detalhe no recorte das regiões.

Note-se que aqueles limites previstos são majorados em 10 p.p. para as médias
empresas e em 20 p.p. para as micro e pequenas empresas tal como definidas na
Recomendação n.º 2003/361/CE, de 06-05-2003, exceto quanto a projetos de
investimento cujas aplicações relevantes excedam 50.000.000€.

Este limite tem especial impacto ao nível do preenchimento do anexo D da declaração


modelo 22, no que se refere aos campos 780 e 781 do quadro 078-A3.

Recorde-se que deve preencher o quadro 078-A o sujeito passivo que beneficie de
incentivos fiscais ou financeiros e fiscais ao investimento, com finalidade regional.

Se o sujeito passivo usufruir dos benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo


e do RFAI, independentemente de beneficiar ou não de incentivos financeiros com
finalidade regional, deve preencher este quadro.

Caso o sujeito passivo usufrua exclusivamente de incentivos financeiros e ou da DLRR


não deve preencher este quadro. Porém, se o sujeito passivo usufruir da DLRR e,
relativamente às mesmas aplicações relevantes, beneficiar também do regime dos
benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo ou do RFAI, terá, também, de
ser incluída, neste quadro, a informação relativa à DLRR.

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7. ALTERAÇÕES EM SEDE DE JUSTIÇA TRIBUTÁRIA

7.1. LEI GERAL TRIBUTÁRIA (LGT)

O art.º 311.º da LOE/2022 altera o art.º 57.º-A da LGT, o qual havia sido aditado
recentemente pela Lei n.º 2/2021, de 26-02, com entrada em vigor em 27-02-2021,
instituindo as denominadas “férias fiscais”.

ü Art.º 57.º-A - Diferimento e suspensão extraordinária de prazos

- Alteração do n.º 2

A nova redação da norma é a seguinte (aditamentos sublinhados):

“Os prazos do procedimento tributário relativos aos atos praticados pelos contribuintes
nos procedimentos constantes das alíneas a), c), d), e), f) e g) do n.º 1 e do n.º 2 do
artigo 54.º, bem como ao exercício do direito de audição ou de defesa em quaisquer
procedimentos, ao exercício do direito à redução de coimas, ao pagamento antecipado
de coimas, ou aos esclarecimentos solicitados pela administração tributária, que
terminem no decurso do mês de agosto são transferidos para o primeiro dia útil do mês
seguinte.”

Depreende-se das alterações que ao elenco das situações abrangidas pelo diferimento,
são acrescentados os relativos ao exercício do direito de defesa, ao exercício do direito
à redução de coimas e ao pagamento antecipado de coimas, colmatando-se, assim,
uma lacuna evidente.

Sobre as implicações do aditamento do art.º 57.º-A à LGT (“férias fiscais”), remete-se


para o Ofício Circulado n.º 60 346/2021, de 06-08-2021, emanado do Gabinete do
Subdiretor-Geral para a área da Justiça Tributária e Aduaneira.

7.2. CÓDIGO DE PROCEDIMENTO E DE PROCESSO TRIBUTÁRIO (CPPT)

O art.º 312.º da LOE/2022 altera o art.º 227.º do CPPT, passando a ficar consagradas
regras detalhadas sobre a impenhorabilidade de rendimentos da categoria B do IRS
(rendimentos empresariais e profissionais).

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ü Art.º 227.º - Formalidades da penhora de quaisquer abonos, salários ou
vendimentos

- Aditamento dos n.os 2 e 3 (corpo do art.º passa a ser o n.º 1)

A nova redação é a seguinte:

“2 – Aos rendimentos auferidos no âmbito das atividades especificamente previstas na


tabela a que se refere o artigo 151.º do Código do Imposto sobre o Rendimento das
Pessoas Singulares aplica-se o seguinte regime:

a) São impenhoráveis dois terços da parte líquida dos rendimentos totais;

b) A parte líquida dos rendimentos corresponde à aplicação do coeficiente 0,75 ao


montante total pago ou colocado à disposição do executado, excluído o IVA liquidado;

c) A impenhorabilidade prevista neste número tem como limite máximo mensal o


montante equivalente a três salários mínimos nacionais e como limite mínimo mensal,
quando o executado não tenha outro rendimento, o montante equivalente a um salário
mínimo nacional;

d) O limite máximo e mínimo da impenhorabilidade é apurado globalmente, para cada


mês, pela entidade que os deva pagar;

e) A entidade pagadora dos rendimentos deve comunicar ao órgão de execução,


preferencialmente através do respetivo portal, previamente a qualquer pagamento ao
executado, o montante total a pagar, o valor impenhorável apurado e o montante do
valor a penhorar, tudo apurado de acordo com o presente artigo;

f) O órgão de execução fiscal, com base nas informações prestadas, confirma ou apura
o valor a penhorar e comunica-o à entidade pagadora, no prazo de dois dias úteis a
contar da comunicação referida na alínea anterior;

g) No caso da falta da comunicação referida na alínea anterior, a entidade pagadora


efetua o pagamento ao executado de acordo com o valor apurado na alínea e);

h) A impenhorabilidade prevista neste número é aplicável apenas aos executados que


não aufiram, no mês a que se refere a apreensão, vencimentos, salários, prestações
periódicas pagas a título de aposentação ou qualquer outra regalia social, seguro,
indemnização por acidente, renda vitalícia ou prestações de qualquer natureza que
assegurem a sua subsistência;

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i) Para controlo do estatuído no presente artigo, pode o órgão de execução utilizar toda
a informação relevante para o efeito disponível nas suas bases de dados.

3 – O incumprimento do determinado no presente artigo pela entidade pagadora


determina a sua execução nos autos, como infiel depositária dos valores que deveriam
ter sido penhorados e ou entregues e não o foram.”

Abstemo-nos de tecer comentários detalhados às alterações supra reproduzidas, sem


prejuízo de, primeiro, se afirmar que se trata da colmatação de uma lacuna notória,
depois, dar nota que, em função do conteúdo das normas aditadas, deveria, a nosso
ver, ter-se procedido a uma alteração da epígrafe do art.º e, por fim, informar que, nos
termos do n.º 4 do art.º 330.º da LOE/2022, as alterações produzirão efeitos a partir de
28-06-2023 (12 meses após a publicação da lei).

Em paralelo às presentes alterações ao CPPT, foram também efetuadas alterações ao


art.º 738.º do Código de Processo Civil, alterações estas que constam no art.º 333.º da
LOE/2022 e que também produzem efeitos a partir de 28-06-2023.

11 de julho de 2022

Luís Filipe Esteves

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