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23/02/23, 18:39 Notícias - Construção civil - OCC - Ordem dos Contabilistas Certificados

Construção civil

PT21737 – Construção civil


05-02-2019

Uma empresa de construção civil com o CAE 41200 - construção de edifícios (residenciais e não residenciais) e
CAE secundário 68100 - compra e venda de bens imobiliários, constrói para os seus clientes que lhe adjudicam
a obra e vai faturando as prestações de serviços à medida que a obra vai ocorrendo e aplica a taxa de IVA a
23% ou IVA Autoliquidação consoante o sujeito passivo. A empresa possui um terreno e iniciou recentemente a
construção de um bloco de apartamentos que vai ser vendido diretamente pela empresa ao cliente (consumidor
final). No que diz respeito ao IVA dos gastos da construção deste bloco de apartamentos, o IVA vai sendo
deduzido à medida que a obra vai ocorrendo. Quanto ao IVA liquidado, haverá alguma regularização a fazer,
visto que a empresa não vai liquidar IVA até à venda dos apartamentos e está a deduzir o IVA das compras e
dos serviços?

Parecer técnico

Determinado sujeito passivo com a atividade de construção de edifícios, presta serviços de construção civil e irá também
proceder à construção de um edifício para venda direta das frações. Questiona-nos relativamente ao enquadramento em sede
de IVA.
As transmissões de bens e as prestações de serviços efetuadas no território nacional a título oneroso, por um sujeito passivo
agindo como tal, são operações sujeitas a IVA, conforme disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 1º do Código do IVA. Os
conceitos de transmissão de bens e de prestações de serviços, para efeitos de IVA, encontram-se nos artigos 3º e 4º do
Código do IVA, respetivamente.
Não obstante a sujeição a imposto, importa sempre analisar a existência, ou não, de norma de isenção que se aplique à
operação em concreto, ou de normas especiais em sede desse imposto.
A prestação de serviços de construção civil é uma operação sujeita a IVA nos moldes gerais, podendo ser enquadrada na regra
da inversão do sujeito passivo. A aplicação da regra da inversão do sujeito passivo nos serviços de construção civil é matéria
regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 21/2007, de 29 de janeiro (que introduziu alterações no Código do IVA) e Ofício-Circulado
n.º 30101/2007, de 24 de Maio.
Transcrevemos a alínea j) do n.º 1 do artigo 2º do Código do IVA:
"… 1 - São sujeitos passivos do imposto:
(…) 
j) As pessoas singulares ou coletivas referidas na alínea a) que disponham de sede, estabelecimento estável ou domicílio em
território nacional e que pratiquem operações que confiram o direito à dedução total ou parcial do imposto, quando sejam
adquirentes de serviços de construção civil, incluindo a remodelação, reparação, manutenção, conservação e demolição de
bens imóveis, em regime de empreitada ou subempreitada…”
Resulta deste normativo que, para aplicação da regra da inversão do sujeito passivo, ou seja, para que uma entidade
adquirente fique obrigada à liquidação de imposto, é necessário que se verifiquem dois requisitos:
- Estar em causa uma prestação de serviços de construção civil; e
  
- A entidade adquirente ser sujeito passivo de IVA que pode exercer o direito à dedução do imposto suportado total ou
parcialmente.
No caso em análise, o sujeito passivo presta serviços de construção em que procede à liquidação de IVA nos moldes gerais
(quando o cliente é um particular) e outros em que aplica a regra da inversão do sujeito passivo, nas operações em que reúne
as condições para tal.
Referimos que a regra da inversão do sujeito passivo é de aplicação obrigatória, pelo que, estando reunidas as condições para
a sua aplicação esta deve verificar-se.
Nestas operações, de prestação de serviços de construção civil, seja, ou não aplicada a regra da inversão do sujeito passivo, o
imposto suportado é suscetível do direito à dedução nos termos gerais.
Este sujeito passivo irá proceder à construção de um prédio para posteriormente proceder à venda as frações. A venda destes
imóveis será isenta de imposto, não obstante a possibilidade de renúncia que se encontra prevista.
Resulta do n.º 30 do artigo 9º do Código do IVA que:
"… Estão isentas do imposto:
(…)
30) As operações sujeitas a imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis;…”
Assim, quando o sujeito passivo proceder à venda destas frações estará a realizar operações isentas de IVA face ao disposto
no n.º 30 do artigo 9º do Código do IVA.
As isenções previstas no artigo 9º do Código do IVA são vulgarmente denominadas de incompletas, pois não conferem o
direito à dedução do imposto suportado.
No n.º 5 do artigo 12º do Código do IVA está prevista a possibilidade de renúncia à isenção do IVA nas transmissões de
imóveis: "… os sujeitos passivos que efetuem a transmissão do direito de propriedade de prédios urbanos, frações autónomas
destes ou terrenos para construção a favor de outros sujeitos passivos, que os utilizem, total ou predominantemente, em
atividades que conferem direito à dedução, podem renunciar à isenção prevista no n.º 30) do artigo 9.º…”.
Não iremos desenvolver esta temática pois trata-se de um regime com especificidades próprias, referimos apenas que estas
regras constam do Regime da renúncia à isenção do IVA nas operações relativas a bens imóveis em anexo ao Decreto-Lei n.º
21/2007, de 29 de janeiro. Pressupondo que no caso exposto se tratam de imóveis habitacionais, não será possível a utilização
do regime de renúncia face ao disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 2º deste regime.
Concretamente em relação à questão colocada que se prende com o exercício do direito à dedução do imposto suportado,
deve observar-se o disposto no artigo 19º e seguintes do Código do IVA.
Genericamente, nos termos previstos no n.º 1 do artigo 19º do Código do IVA, os sujeitos passivos podem deduzir ao imposto
por si liquidado nas operações tributáveis que realizaram o imposto contido nas aquisições de bens e serviços a outros sujeitos
passivos, nas importações de bens e nas demais operações por si praticadas elencadas nesta norma.

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23/02/23, 18:39 Notícias - Construção civil - OCC - Ordem dos Contabilistas Certificados
O direito à dedução do imposto suportado está condicionado ao facto deste ser mencionado em documento processado de
forma legal, o que se deve entender como contendo os requisitos previstos no n.º 5 do artigo 36º do Código do IVA.
O imposto suportado apenas é suscetível de dedução quando referente a operação que em que o sujeito incorreu para a
realização das operações por si praticadas e suscetíveis de tributação em sede deste imposto, nos termos previstos na alínea
a) do n.º 1 do artigo 20º do Código do IVA.
Em sede de IVA, tratando-se de sujeito passivo misto (pratica operações sujeitas a IVA e operações isentas de IVA) deve
observar-se a doutrina prevista no artigo 23º do Código do IVA, sugerindo-se também leitura do Ofício-Circulado n.º
30103/2008, de 23 de abril, para efeitos do exercício do direito à dedução do imposto suportado.
Em termos genéricos, temos subjacente ao exercício do direito à dedução do imposto suportado o facto de as operações que o
suportam (no exercício de uma atividade económica) terem uma relação direta com as operações praticadas a jusante e que
serão operações tributáveis, assim resulta do disposto no artigo 19º e seguintes do Código do IVA.
Assim, confere direito à dedução integral, o imposto suportado nas aquisições de bens ou serviços exclusivamente afetos a
operações que, integrando o conceito de atividade económica para efeitos do imposto, sejam tributadas, isentas com direito a
dedução ou, ainda, não tributadas que conferem esse direito, nos termos da alínea b), II, do n.º 1 do artigo 20º do Código do
IVA.
Caso o imposto seja suportado na aquisição de bens ou de serviços exclusivamente afetos a operações sujeitas a imposto, mas
sem direito a dedução ou a operações que em sede de IVA não se insiram no exercício de atividades económicas, não é,
naturalmente, admissível o do exercício do direito à dedução.
Segundo o previsto na alínea a) do n.º 1 do artigo 23º do Código do IVA, sempre que esteja em causa a determinação do IVA
dedutível respeitante a bens ou serviços parcialmente afetos à realização de operações não decorrentes do exercício de uma
atividade económica, é obrigatório o recurso à afetação real dos bens e serviços utilizados, com base em critérios objetivos
que permitam determinar o grau de utilização desses bens ou serviços nessas e nas restantes operações, conforme se prevê
no n.º 2 do mesmo artigo.
Tratando-se de bens ou serviços afetos à realização de operações decorrentes do exercício de uma atividade económica, parte
das quais não conferem direito à dedução, a alínea b) do n.º 1 do mesmo artigo 23º do Código do IVA, estabelece que o
imposto dedutível seja determinado mediante a utilização de uma percentagem, apurada nos termos do n.º 4 do mesmo
artigo, sem prejuízo de o sujeito passivo poder optar pela afetação real, nos termos do n.º 2.
No caso de utilização da afetação real, obrigatória ou facultativa, e ainda segundo o n.º 2 do artigo 23º do Código do IVA, os
critérios a que o sujeito passivo recorra para determinar o grau de afetação ou utilização dos bens e serviços à realização de
operações que conferem direito a dedução ou de operações que não conferem esse direito, podem ser corrigidos ou alterados
pela Autoridade Tributária, com os devidos fundamentos de facto e de direito, ou, se for caso disso, fazer cessar a utilização do
método, se se verificar a ocorrência de distorções significativas na tributação.
As correções ou alterações a que se refere o número anterior devem ser promovidas pelos competentes serviços de inspeção,
quando, no exercício das respetivas competências detetem vantagens injustificadas no exercício do direito à dedução.
Pelo Ofício-circulado n.º 79713/89, de 18 de julho, foi imposto a utilização do método de afetação real nas empresas de
construção civil que desenvolvam a atividade de prestação de serviços de construção civil (empreitadas), sujeita a IVA,
conjuntamente com a de construção de imóveis para venda, isenta de IVA. Sendo a atividade de construção para venda, que
se carateriza por ter um caráter irregular (obras plurianuais), suscetível de gerar oscilações muito acentuadas na percentagem
de dedução (pro-rata).
Face ao exposto, considerando que a venda das frações será operação isenta de IVA (pressupondo que não há aplicação do
regime de renúncia), e que o sujeito passivo deve adotar o método de afetação real, então o imposto suportado nas operações
afetas à construção do prédio não devem (logo de início) ser deduzido.

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