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ID: 101085568 09-09-2022 Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1

BRUNO CHOTAS
Consultor da Ordem dos Contabilistas Certificados
comunicacao@occ.pt

O regime de renúncia à isenção de IVA na venda de bens imóveis

C
onforme consagrado na Diretiva conforme a possibilidade prevista na Diretiva data ser aferido se as condições que permitem
IVA1, as transmissões onerosas de bens IVA, entendeu o Estado português criar um o exercício da renúncia se mantêm inalteradas
imóveis beneficiam de isenção em sede regime de renúncia à isenção do IVA nas face às verificadas na data em que foi emitido
de IVA. Contudo, permite-se que os Estados- operações relativas a bens imóveis4 aplicável, o certificado.
-Membros concedam aos sujeitos passivos a não apenas em operações de transmissão Por sua vez, numa operação de transmissão de
opção de sujeitar estas operações à tributação onerosa de bens imóveis, mas também na sua bens imóveis efetuada ao abrigo deste regime
em sede deste imposto, quando se trate da locação5. de renúncia, o direito à dedução do IVA na
primeira operação de transmissão do bem Este regime de renúncia à isenção determina esfera dos sujeitos passivos intervenientes
imóvel, após a sua construção ou remodelação a sujeição a IVA da operação, permitindo, deve ter sempre em conta o método da
profunda, ou, ainda, quando se trate de um assim, que o sujeito passivo vendedor do afetação real e apenas se verifica aquando da
imóvel cuja aquisição tenha sido sujeita e não imóvel possa deduzir o IVA suportado na efetivação da renúncia (contrato compra e
isenta de IVA. aquisição de bens e serviços utilizados na venda), pelo que apenas nesse momento, na
Neste âmbito, no que concerne à transposição sua construção. Contudo, atendendo às declaração periódica de IVA, haverá lugar à
destas normas previstas na Diretiva IVA para especificidades inerentes a esta atividade, e dedução do IVA suportado pelo vendedor na
o ordenamento interno, optou o Estado por forma a evitar a fuga e evasão fiscal, este construção/reconstrução do imóvel e/ou do
português por transpor a isenção de IVA para regime é caracterizado por várias restrições IVA suportado pelo adquirente na operação
as operações de transmissão de bens imóveis, e limitações na sua aplicação, pelo que, de aquisição do imóvel.
sem prejuízo da criação de um mecanismo previamente à sua aplicação, deverá ser aferido
que, em algumas situações específicas, permite o cumprimento de todos os requisitos e Obrigações
aos sujeitos passivos renunciarem à referida prazos. Numa operação de transmissão de bens imóveis
isenção de IVA. No que respeita aos principais requisitos com renúncia à isenção de IVA, fica o sujeito
As isenções nas operações internas2 previstas e limitações para a aplicação deste regime passivo alienante obrigado ao cumprimento
no Código do IVA são vulgarmente de renúncia à isenção do IVA, estabelece o das obrigações previstas no Código do IVA,
denominadas de isenções incompletas, pois mesmo que a sua aplicação apenas é permitida nomeadamente, as de natureza declarativa,
não conferem o direito à dedução do imposto quando estejam em causa intervenientes que liquidação e entrega do imposto nos cofres
suportado nos inputs para a realização dessas sejam sujeitos passivos de IVA não isentos6, do Estado. Contudo, nestas operações de
operações. Estas isenções, que são de aplicação que disponham de contabilidade organizada transmissão de bens imóveis com renúncia
obrigatória, determinam que um sujeito e que não estejam abrangidos pelo regime à isenção de IVA, será ao sujeito passivo
passivo, perante a realização de uma qualquer dos pequenos retalhistas, exigindo-se ainda adquirente do imóvel que caberá o dever de
transação, deve obrigatoriamente aplicar a que o imóvel seja afeto, por parte da entidade efetuar a autoliquidação do imposto.
norma de isenção sempre que a operação aí adquirente, a atividades sujeitas e não isentas Nas situações em que o transmitente seja
tenha enquadramento. de IVA. um sujeito passivo isento de IVA, cuja
Entre outras isenções para as operações Como condições objetivas principais para atividade tenha por objeto, com carácter de
internas previstas no Código do IVA, a aplicação deste regime, estabelece-se que habitualidade, a construção, reconstrução
podemos encontrar a disposição que apenas são elegíveis as operações relativas a ou aquisição de imóveis para venda, estes
determina que são isentas de IVA as operações bens imóveis não afetos à habitação, em que devem ainda apresentar uma declaração de
que sejam sujeitas a imposto municipal esteja em causa a sua primeira transmissão ou alterações de atividade antes de formularem
sobre as transmissões onerosas de imóveis3, locação do imóvel ocorrida após a construção pela primeira vez um pedido de emissão de
nomeadamente a transmissão de bens imóveis ou após grandes obras que resultem numa certificado de renúncia.
situados em território nacional. alteração superior a 30% do VPT do imóvel No que concerne à emissão de fatura pela
Nos termos do Código do IMT, são sujeitas ou, ainda, quando a sua aquisição tenha ela operação de venda do imóvel, apenas quando
a este imposto as operações de transmissão, própria sido efetuada com renúncia à isenção. ocorra a renúncia à isenção, esta pode ser
a título oneroso, do direito de propriedade Os sujeitos passivos que pretendam renunciar substituída pela escritura, mas apenas quando
ou de figuras parcelares desse direito, sobre à isenção de IVA neste tipo de operações, da escritura constem, à exceção da numeração,
bens imóveis situados no território nacional. previamente à sua realização, devem solicitar, todos os requisitos das faturas previstos no
Desta forma, aquando da transação onerosa no Portal das Finanças, a emissão de um art.º 36.º do Código do IVA, bem como a
de um imóvel, a operação será sujeita a IMT certificado comprovativo de que estão menção «IVA devido pelo adquirente».
e, consequentemente, isenta de IVA. reunidas todas as condições para a aplicação Por último, também em termos contabilísticos
De notar que esta isenção incompleta, que do regime, necessitando este de ser igualmente existem obrigações a cumprir no âmbito
limita o direito à dedução do IVA suportado validado pelo sujeito passivo adquirente. deste regime, sendo exigido que, por forma
pelos sujeitos passivos, por exemplo, na Este certificado de renúncia à isenção terá a a permitir o controlo destas operações,
construção de bens imóveis para venda, pode validade de 6 meses, o que significa que, se a os sujeitos passivos transmitentes de
revelar-se bastante prejudicial em fases de operação não for concretizada neste horizonte bens imóveis registem separadamente os
investimento, onde é necessário um elevado temporal, será necessário repetir todo o rendimentos e gastos relativos aos imóveis
grau de liquidez para fazer face a todas as processo de pedido de um novo certificado. transacionados ao abrigo deste regime.
despesas com bens e serviços que se exigem na No caso de não utilização do certificado Tendo por base o aqui exposto, constata-se
construção de bens imóveis. de renúncia, ou de alteração de quaisquer que este regime especial de renúncia à isenção
Além disso, consubstanciando o IVA pago elementos nele constantes, deve o sujeito nas operações relativas a bens imóveis poderá
nestas aquisições um gasto da atividade passivo comunicar esse facto, por via mitigar os efeitos inerentes à não dedução
do sujeito passivo construtor, este irá eletrónica, à Autoridade Tributária. do IVA suportado para a realização de uma
inevitavelmente aumentar o preço final Após a emissão do referido certificado, a operação isenta de IVA, podendo os sujeitos
dos bens imóveis, o que, do ponto de vista renúncia à isenção apenas produz efeitos no passivos optar pela sua aplicação. Contudo,
comercial, funcionará como um fator momento em que for celebrado o contrato é imperativo que seja efetuada uma análise
desfavorável à competitividade. de compra e venda do imóvel, devendo nessa cuidada do regime, consoante a operação a
Tendo em vista reduzir este efeito negativo realizar e os seus intervenientes, por forma
da não dedutibilidade do IVA suportado, 4 - Decreto-Lei n.º 21/2007, de 29 de janeiro a garantir uma correta aplicação do regime
5 - Isenta de IVA pelo n.º 29 do artigo 9.º do Có- e o cumprimento atempado dos prazos de
1 - Diretiva 2006/112/CE do Conselho digo do IVA emissão e validade dos próprios certificados de
2 - Artigo 9.º do Código do IVA 6 - Exceto no caso de transmitentes com atividade renúncia à isenção.
3 - N.º 30 do artigo 9.º do Código do IVA de construção de imóveis para revenda.

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