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Repartição Funcional do Rendimento

A repartição funcional do rendimento mostra-nos como são remunerados os


diferentes intervenientes no processo produtivo, tendo em atenção as funções por eles
desempenhadas. Com efeito, os salários são a contrapartida da função desempenhada pelos
trabalhadores no processo produtivo, enquanto que a contrapartida para os detentores do
capital se traduz em juros, rendas e lucros.

A Remuneração do Trabalho

O salário é a remuneração atribuída ao factor trabalho, isto é, o preço do trabalho


realizado. No entanto, temos de distinguir entre salário nominal e salário real. O salário
nominal é a quantidade de moeda que o trabalhador recebe pelo trabalho prestado num
determinado período de tempo. O salário real corresponde à quantidade de bens e serviços
que o trabalhador pode adquirir com o salário nominal. O salário real traduz, assim, o poder de
compra dos trabalhadores.

A Remuneração do Capital – Renda, Juro e Lucro

A remuneração do factor capital no processo produtivo assume as formas de juros,


rendas e lucros.
O juro constitui a remuneração que os detentores de capital auferem pelos
empréstimos dos seus capitais. Esta remuneração varia consoante a taxa de juro e a duração
(tempo) do empréstimo.
A renda, actualmente, corresponde aos rendimentos recebidos pelos proprietários dos
prédios urbanos em virtude da sua cedência a terceiros.
O lucro designa a remuneração dos empresários como contrapartida da sua iniciativa
e dos riscos assumidos nos investimentos realizados. O lucro é variável e depende do
resultado da actividade produtiva da empresa. O lucro é o resultado da diferença entre o preço
de venda e o preço de custo dos produtos produzidos. L = PV – PC;

Repartição Pessoal do Rendimento

A repartição pessoal do rendimento permite-nos analisar como é que os rendimentos se


distribuem pelos agregados familiares de uma dada comunidade. Através da análise podemos
apreciar o grau de desigualdade dessa distribuição, as desigualdades salariais.

Rendimento Pessoal Disponível

O rendimento pessoal disponível é um indicador do rendimento pessoal. Como


sabemos, as famílias têm por principal função consumir. Os seus recursos são constituídos,
fundamentalmente, pelas remunerações pagas pelos outros sectores institucionais.
Vamos verificar, por exemplo, quais os recursos de que dispõe a família Silva,
constituída por pai, mãe, avô e dois filhos:
Assim, o rendimento de que esta família pode dispor é constituído quer por
rendimentos primários, isto é, aqueles que provêem do capital e do trabalho (no exemplo, os
salários e os juros), quer ainda pelas prestações sociais (abono de família, reforma, subsidio de
desemprego). Podemos, pois, afirmar que o rendimento das famílias tem origem nas receitas
provenientes:

- Da actividade produtiva: salários, juros, rendas, lucros;


- Das transferências internas: as prestações sociais feitas pela Administração Pública e
Privada (pensões, abonos, diversos subsídios, etc.);
- Das transferências externas: nestes têm especial relevância as remessas dos emigrantes e
outras;

No entanto, as famílias têm que pagar impostos sobre o rendimento (impostos


directos) e outras contribuições sociais à Administração Pública. Deste modo, o seu
rendimento ficará diminuído.

O Rendimento Disponível das Famílias é, então, constituído pelo total dos


rendimentos recebidos pela participação na actividade produtiva e pelas transferências
(internas e externas) depois de subtraídos os impostos directos e as contribuições sociais.

Rendimento Pessoal Disponível = Rendimento do Trabalho + Rendimentos do Capital +


Transferências – Impostos Directos – Contribuições Sociais

Redistribuição

Noção e Objectivo

A repartição do rendimento pode ser analisada, quer segundo a óptica da repartição


funcional, quer ainda através da repartição pessoal. Na repartição pessoal verificamos a
existência de desigualdades de rendimentos. Para reduzir as desigualdades existentes na
repartição dos rendimentos, torna-se necessário garantir a toda a comunidade,
independentemente dos rendimentos provenientes da actividade exercida por cada um, um
conjunto de prestações sociais consideradas fundamentais. Este objectivo é atingido através
da redistribuição dos rendimentos segundo um processo de transferência de rendimentos,
principalmente do Estado para a população mais carenciada (idosos, doentes, famílias pobres,
desempregados, etc.). Este processo tem como finalidades a protecção individual e a
correcção das desigualdades sociais.

O sistema de redistribuição pode intervir na economia quer através das transferências


sociais (prestações sociais e serviços gratuitos), quer também pela desigual incidência da
carga fiscal, por exemplo, ao isentar dos impostos os detentores de rendimentos mais baixos.

A redistribuição realiza-se através de diferentes instituições, como por exemplo, a


Administração Pública Central e Local, a Segurança Social e o Fundo de Desemprego e outras
organizações.
Estas instituições canalizam as transferências quer para as empresas quer para as
famílias, sob diversas formas, nomeadamente:

Para as famílias:
- fornecimento de bens e serviços colectivos, gratuitamente ou através de pagamento parcial;
- pensões e subsídios vários;

Para as empresas:
- subsídios à produção em determinados sectores;
- isenção de impostos;

O essencial da redistribuição é feito através da Segurança Social.

Politicas de Actuação

Politicas de Preços para combater as desigualdades;

Politica Fiscal para adequar o consumo ao rendimento, actuando sobre os impostos (directos
ou indirectos), agir sobre a procura através da regulação fiscal; criação de impostos cuja
matéria colectável é os rendimentos dos cidadãos, com taxas progressivas, ou seja,
dependendo dos rendimentos, estão sujeitos a maiores ou menores taxas (IRS). Com as
receitas que arrecada em termos de impostos, o Estado intervém na actividade económica na
perspectiva de minimizar as desigualdades existentes entre os cidadãos;
O Estado

O Estado é a forma que a organização do poder politico assume na maior parte das
sociedades. A sua função principal consiste em manter a ordem social dentro dos limites da lei
fundamental (a Constituição). O Estado nem sempre se limita a garantir a segurança politica
dos cidadãos, ele pode intervir nos diferentes domínios da vida social, de forma a garantir,
também, a segurança económica e social da comunidade. Isto exige que o Estado preste
serviços à comunidade (por exemplo satisfazendo algumas necessidades colectivas da
população, tais como a educação, saúde, etc.). A realização dessa actividade produtiva obriga
o Estado a realizar despesas e, consequentemente, a obter receitas. O Estado está a actuar
como qualquer outro agente económico e integra-se no sector institucional que se costuma
designar Administração Pública. Este sector engloba a Administração Pública Central, as
Autarquias Locais e a Segurança Social.

O Estado Intervencionista e o Estado Liberal

Estado Liberal

No século XIX, a organização política e económica da sociedade estava marcada pelo


desenvolvimento industrial (permitiu o desenvolvimento da actividade económica e o reforço
do poder dos empresários) e pela Revolução Francesa que tinha instaurado a nível político os
regimes democráticos que garantiam as liberdades individuais e a participação dos cidadãos
no poder político (através das eleições). Este contexto de expansão económica e de difusão
dos ideais liberais reflectiu-se nas teorias elaboradas pelos economistas da época –
economistas clássicos.
As teorias económicas desse período partiam do pressuposto que a nova ordem
económica deveria assentar no princípio da liberdade.
Assim, para estes economistas (Adam Smith, Jean-Baptiste Say, etc.) o indivíduo era
soberano e livre, deveria ter liberdade de iniciativa – poder utilizar e aplicar livremente os seus
meios de produção na actividade económica.

As empresas deveriam ter liberdade de concorrência – mas como seria assegurado o


equilíbrio da actividade económica? A resposta encontrava-se no mercado. Os mecanismos
do mercado (leis da oferta e da procura) eram auto-reguladores, determinavam o que produzir
e em que quantidades, as remunerações dos factores produtivos, etc. Adam Smith afirmava
que: “uma mão invisível regularia a ordem natural das coisas e permitiria conciliar o interesse
individual e geral”.
A intervenção do Estado na esfera económica era considerada inútil, ou até
mesmo prejudicial para o seu funcionamento. Deveria limitar-se a promover o consenso a nível
da sociedade, de forma a garantir o desenvolvimento harmonioso da economia. Poderia
também regulamentar juridicamente a actividade económica no sentido de fazer respeitar a
livre concorrência, garantir a estabilidade monetária e orçamental, etc. – esta concepção de
Estado costuma designar-se por Estado Liberal.

De acordo com a concepção liberal de Estado este deveria:


- defender a ordem social e garantir as liberdades individuais (segurança interna);
- representar os interesses da comunidade face ao exterior e assegurar o respeito pela
integridade do território (segurança externa);
- regulamentar juridicamente a organização da actividade económica por forma a permitir a
livre concorrência e apenas quando estritamente necessária (desenvolvimento harmonioso
da economia);

Estado Intervencionista

No início do século XX, verificam-se alterações na actividade económica – a 1ª Guerra


Mundial (1914-1918) e a Grande Depressão 1929/30 – obrigaram o Estado a intervir
directamente na Economia.
Nos países afectados pela Guerra, o Estado desempenhou um papel importante na
reconstrução económica e também a grande crise económica de 1929/30 só pôde ser
ultrapassada recorrendo a um conjunto de medidas de intervenção directa do Estado. O Estado
não poderia continuar a ser inútil mas sim passar a intervir em áreas específicas da economia,
tais como o investimento, o emprego, o consumo – Estado Intervencionista. Keynes
propunha uma intervenção directa do Estado para combater a crise.
Esta concepção também se costuma designar por Estado Providencia, pois o Estado
deixou de assegurar apenas a segurança interna e externa da comunidade no plano político.
Ao procurar compatibilizar o pleno emprego com o crescimento económico e com a justiça
social, pretende também garantir a segurança económica e social dos cidadãos.

A partir da Segunda Guerra Mundial (1939/45) a intervenção do Estado na economia


foi reforçada e concretizou-se pela utilização de um conjunto de instrumentos:
- estabelecimento de politicas económicas (controlar os preços, as taxas de juro, o
emprego, etc.);
- produção de bens e serviços não comercializáveis (defesa, justiça, educação, etc.) ou
comercializáveis (através de empresas públicas, telecomunicações, etc.);
- elaboração de planos indicativos para o sector privado (para reduzir a incerteza dos
investimentos e definir os sectores prioritários para o desenvolvimento económico, etc.);

A partir da década de 70 o Estado Providência entrou em crise. O choque petrolífero


de 1973 gerou uma crise económica e financeira. O choque petrolífero de 1979 marcou uma
nova fase dessa crise. Assim, os instrumentos de intervenção económica utilizados pelo
Estado revelam-se ineficazes e entra em crise:

- crise financeira: o abrandamento do crescimento económico tem implicado o aumento do


desemprego, que provoca uma diminuição das receitas do Estado e um acréscimo das
despesas de protecção social;

- crise de eficácia: os recursos públicos são aplicados na prestação de serviços à sociedade,


mas algumas desigualdades que o Estado Providência se tinha proposto fazer desaparecer,
persistem;

- crise de legitimidade: algumas correntes de opinião começam a pôr em causa a forma como
tem sido levada a cabo pelo Estado a redistribuição dos Rendimentos;
Funções do Estado – Políticas Sociais e Económicas

A divisão tradicional dos poderes do Estado divide as funções em função


legislativa, função executiva e função judicial, correspondendo a cada poder uma função.
As funções do Estado nas sociedades contemporâneas são:

Funções Políticas

O Estado, para garantir a segurança politica dos cidadãos, tem de manter a ordem
social. Para isso, dispõe de um conjunto de instituições (polícia, exército, tribunal, etc.) que
asseguram a manutenção da ordem a nível interno, quer a integridade do próprio território. A
manutenção da ordem social inclui também a produção de legislação que permita atingir o
consenso social.

Funções Sociais

O Estado, para promover o bem-estar social da comunidade deverá:

- proteger os indivíduos dos riscos decorrentes da sua actividade (desemprego, doenças,


acidentes, idade, etc.);
- garantir uma maior justiça social através de uma distribuição mais equilibrada dos
rendimentos;
- satisfazer as necessidades colectivas;

Funções Económicas

O principal objectivo do Estado é estabilizar a actividade económica, evitar e corrigir


desequilíbrios que possam provocar uma crise económica, ou seja, assegurar o crescimento, o
pleno emprego, a estabilidade dos preços e o equilíbrio das relações comerciais com o exterior.
Para realizar com eficácia esta função o Estado deverá fixar as metas a atingir e
escolher os meios que poderá utilizar para atingir esses objectivos.
O Estado para isso dispõe de instrumentos de intervenção na actividade
económica como a regulamentação jurídica da actividade económica, a elaboração de
planos reguladores da economia, a produção de bens e serviços para satisfazer
necessidades colectivas ou para serem comercializados (empresas públicas).

Sector Empresarial do Estado

Geralmente, o sector público engloba, através da Administração Pública central, a


produção de bens e serviços gratuitos, ou que são vendidos muito abaixo do seu preço de
custo, nas seguintes áreas:
- satisfação das necessidades colectivas (educação, saúde, etc.);
- garantia da segurança individual (polícia, exército);
- construção de infra-estruturas (estradas, pontes, escolas, etc.);

No entanto, o Estado também pode produzir bens e serviços comercializáveis que, por
vezes, entram em concorrência com os dos outros sectores da propriedade (privada e
cooperativa). Esta produção é realizada pelas empresas públicas, as quais constituem o
sector empresarial do Estado. As empresas públicas resultam, na maior parte das vezes, de
um processo de nacionalizações. Este processo consiste na passagem da propriedade do
capital para as mãos do Estado, com ou sem indemnização aos anteriores proprietários.

O sector empresarial do Estado pode ter uma importância significativa na actividade


económica dependendo do seu peso na economia. Por exemplo, ao fomentar a produção em
determinadas áreas pouco atractivas para a iniciativa privada, o sector público está a incentivar
o emprego, o investimento, o consumo, etc., contribuindo para a manutenção do equilíbrio
global da economia.
Em Portugal, até ao 25 de Abril de 1974, o sector empresarial do Estado não tinha
qualquer peso significativo. É só a partir do período pós-25 de Abril que o Estado português
começa a intervir directamente na actividade produtiva. Este processo decorre de uma forma
rápida. O sector empresarial do Estado passou a controlar totalmente alguns sectores. A partir
da década de 80 este processo começou a inverter-se e iniciou-se o processo de privatizações.
Actualmente, o sector empresarial do Estado continua a ter uma importância muito
grande.

Orçamento do Estado

O Estado para poder desempenhar com eficácia as suas funções, necessita de realizar
gastos quer para suportar os encargos decorrentes da administração do território
(vencimentos dos funcionários, compra de equipamentos, etc.) quer para satisfazer as
necessidades colectivas (segurança, justiça, educação, etc.). Estes gastos efectuados pelo
Estado denominam-se despesas públicas. Mas para poder realizar estas despesas, o Estado
necessita de assegurar, previamente, os recursos que permitam o seu funcionamento. Esses
recursos financeiros costumam designar-se por receitas públicas.

Os poderes públicos, de acordo com os objectivos definidos como prioritários, efectua


uma previsão da natureza e do montante das despesas e das receitas públicas, em geral
realizada anualmente – o Orçamento do Estado.

O Orçamento do Estado adapta as receitas ás despesas, limita as despesas e


expõe o plano financeiro do Estado. Este é aprovado pela Assembleia da República e
exprime as grandes opções do plano anual que o Estado se propõe efectuar, em áreas
diferentes (educação, saúde, etc.).

Despesas Públicas

Encontram-se agrupadas em despesas correntes e despesas de capital. As


despesas correntes constituem a rubrica com maior peso, mais de 70%, enquanto as despesas
de capital, que incluem os investimentos do Estado (por exemplo em infra-estruturas) não
atingem os 30% do total das despesas.

Receitas Públicas

Estão subdivididas em receitas correntes e receitas de capital. As receitas correntes,


que englobam as receitas fiscais, constituem mais de 90% das receitas totais do Estado. As
receitas fiscais provêem da cobrança de impostos directos (sobre o rendimento) e indirectos
(sobre o consumo), tendo estes últimos um peso superior aos dos impostos sobre o
rendimento.
As receitas do capital, que provêem das propriedades públicas, dos juros de
empréstimos, etc., estes apresentam um peso mínimo nas receitas totais do Estado (cerca de
5,5%).

Dívida Pública

Pode acontecer que o Estado não consiga obter, a partir das taxas, dos impostos e das
receitas patrimoniais, todos os rendimentos de que necessita para fazer face às despesas
públicas. Nesse caso, o Estado é forçado a recorrer aos empréstimos originando a dívida
pública interna ou externa. O recurso ao crédito deve ser de carácter excepcional.

Políticas de Intervenção do Estado


O Estado para levar a cabo os objectivos que se propõe atingir, põe em prática
políticas de intervenção na actividade económica e social. Daí que se possa falar em:
políticas económicas e politicas sociais.

O Estado fixa os grandes objectivos económicos (satisfazer as necessidades


colectivas, etc.), elabora políticas económicas e sociais a seguir.

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