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Resumo
Este trabalho tem como objetivo descrever e analisar três casos (envolvendo seis empresas) de
relação entre varejistas e produtores de hortícolas, com base no referencial teórico de alianças
estratégicas proposto por GATTORNA & WALTERS (1996). Para isto estas seis empresas foram
visitadas e foram entrevistadas em profundidade para se entender como se dá a transação, as
alternativas ao formato em execução, os riscos, fatores de estabilidade e outros considerados no
Modelo..
dor cada vez mais pressionado com a questão do • Quer redução dos danos causados durante a
tempo, e também aumentar a freqüência de visita distribuição.
na loja, e com isto as compras por impulso. • Quer vegetais já preparados e limpos para uso
Estes produtos, porém, compõem uma cadeia em microondas – conveniência.
de suprimentos bastante delicada, em virtude da • Deseja misturas atrativas e coloridas.
alta incerteza que ocorre no processo de compra, • Deseja conhecer a origem do produto
advindas da elevada especificidade temporal, (NEVES et al., 1999).
pela grande perecibilidade e irregularidade na Este trabalho tem como objetivo descrever e
produção. Isto faz com que varie bastante a analisar três casos (envolvendo seis empresas)
forma como os super e hipermercados gerenciam de relação entre grandes varejistas e produtores
suas cadeias de suprimentos para estes produtos. de hortícolas, com base no referencial teórico de
De uma maneira simplificada, dentro do alianças estratégicas proposto por GATTORNA
ferramental de análise de transações no & WALTERS (1996). Para isto estas seis
agribusiness, poder-se-ia caracterizar a transação empresas foram visitadas e entrevistadas para se
de obtenção de suprimentos hortícolas de três entender como se dá a relação, as alternativas ao
formas: numa primeira, os varejistas compram formato em execução, os riscos, fatores de
os hortícolas do mercado, baseados única e estabilidade e outros considerados no Modelo.
exclusivamente no sistema de preços, inexistin- Vale ressaltar que o termo alianças estratégi-
do qualquer sofisticação adicional no processo cas é cada vez mais utilizado, porém diversos
de compra. Numa segunda alternativa, os autores o definem de modo diferente, não sendo
varejistas poderiam obter a quantidade que objetivo deste artigo discutir estas definições,
necessitam de hortícolas a partir da sua produção que diferem principalmente em que tipo de
própria (integração vertical), e, finalmente, numa transações são consideradas como alianças
terceira forma, poderiam adquirir estes produtos estratégicas ou não. O objetivo deste trabalho é
de formas intermediárias, ou seja, formas em que aplicar a metodologia de GATTORNA &
existam as chamadas “alianças estratégicas”, ou WALTERS (1996) a três casos selecionados.
também chamadas de formas contratuais. Este As seis empresas (três casos de transação)
último formato vem ganhando importância foram escolhidas por conveniência, com base em
devido à sintonia fina necessária para gerenciar conhecimentos anteriores dos autores de que
adequadamente este suprimento, motivada por estas realizavam as transações em formatos
mudanças nos padrões de exigência do consumi- diferentes, o que permitiu a comparação e a
dor final (ZYLBERZTAJN, 1995; NEVES, análise de coordenação. Além deste fator,
1999). pesaram contatos pessoais para que as entrevis-
Estes padrões indicam que o consumidor de tas pudessem ser realizadas, uma vez que são
hortícolas: empresas relativamente grandes.
• É consciente que vegetais e frutas têm As entrevistas foram no formato em profun-
importância crescente na alimentação. didade, com um roteiro de questões abertas, pelo
• Tem preferências que diferem de região para qual foi possível grande interação entre o
região. pesquisador e o entrevistado. A pesquisa conta
• Quer fornecimento o ano todo e com com diversas limitações, e seus resultados não
variedade. devem ser extrapolados, porém serviu a seu
• Diz que existe espaço para produtos objetivo principal, que era o de aplicar a
ecológicos. metodologia de GATTORNA & WALTERS
• Quer ver os produtos. (1996) e verificar que esta pode ser útil no
• Quer produtos pré-embalados. processo de análise de alianças nas empresas.
• Quer porções menores, sabor e variedade.
GESTÃO & PRODUÇÃO v.6, n.3, p. 233-242, dez. 1999 235
Quadro 1 – Relação entre comprador e fornecedor: fatores estratégicos a serem analisados para
determinar a dependência.
Fonte: GATTORNA & WALTERS (1996).
A rede foi fundada em 1914 por Pedro Demeter- começaram dando a produtores a garantia de
co, de origem ucraniana, quando este tornou-se compra. O processo iniciado com o tomate
proprietário do armazém onde trabalhava. Vale obteve sucesso, o que incentivou a expansão da
dizer que em 1998 foi comprada pela rede estratégia. Este primeiro parceiro do supermer-
portuguesa SONAE. cado já fornecia cerca de 4.000 caixas de
Cerca de 7% a 8% das vendas das lojas, em alimentos por mês ao Mercadorama. Nas épocas
termos de valores, eram da área de FLV (frutas, em que o frio era intenso e as geadas traziam
legumes e verduras). A evolução dos números risco e não permitiam uma boa produtividade na
no setor pode ser vista pelo Quadro 3. região de Curitiba, o produtor tinha a alternativa
Devido à alta dependência que a rede tinha da produção das verduras em outras áreas, no
dos mercados fornecedores paulistas, a diretoria litoral, em associação com produtores locais.
do Mercadorama decidiu inovar em termos Cerca de dez famílias estavam envolvidas
empresariais e incentivar a produção de legumes nesse processo de produção no litoral durante a
e verduras na sua própria região. Assim, estação fria, coordenadas pelos produtores
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Ano Kg de FLV
1992 90.100
1993 95.800
1994 112.000
1995 120.000
1996 145.500
1997 153.000
As vantagens para o varejista resumem-se ao terra. A empresa determinava o que deveria ser
preço, principalmente por explorar o fato da produzido e em que quantidade, encarregando-se
grande dependência que os fornecedores da distribuição do produto. No final, as duas
possuíam. As desvantagens poderiam estar partes dividiam o lucro, ou seja, a empresa não
associadas à manutenção de estruturas (equipes) comprava a produção dos agricultores, mas
para cotações e busca de fornecedores diárias, realizava um trabalho em sociedade. Os critérios
problemas de abastecimento em outras regiões, para definir qual o valor do “lucro” eram
elevando custos de transação, além de uma subjetivos, já que não existia controle efetivo de
menor velocidade em fazer adaptações de custos por parte dos produtores, podendo gerar
interesse para os consumidores. dúvidas e controvérsias sobre a transparência
dos critérios. Entretanto existia aparente
3.3 Caso da Sato Verduras (nível 3 em satisfação dos consorciados com o sistema.
GATTORNA & WALTERS, 1996): A Sato Verduras atingiu níveis de produção
“A Coordenadora” dos maiores do estado e do Brasil, o que lhe
conferiu características de negociação bastante
A Sato Verduras é uma empresa sediada em diferentes daquelas observadas nos produtores
Bauru (SP) que produz e comercializa pelo tradicionais, tornando grandes varejistas em
menos 20 tipos de verduras e legumes. A tomadores de preços. Grandes empresas como
empresa teve início na metade da década de 80, a Pão de Açúcar, Carrefour e Wal Mart, tinham na
partir do trabalho de dois irmãos, que cuidavam Sato Verduras a única fonte confiável de
do plantio e comercialização dos produtos em fornecimento de hortaliças nas quantidades
um pequeno sítio da cidade. A empresa cresceu demandadas. Em épocas de alta demanda,
bastante, atingindo um volume de vendas de nenhum outro produtor conseguia entregar as
cerca de 600.000 maços de verdura por mês em quantidades de verduras vendidas nas lojas.
1997. A existência da Sato Verduras era analisada
A empresa produzia em 28 sítios separados de duas maneiras pelos varejistas: como um
(diversificação geográfica reduzindo riscos), que problema ou como uma solução. De acordo com
juntos ocupavam uma área de 180 hectares, a visão do responsável pelas compras de FLV
empregando cerca de 300 pessoas e vendendo (Frutas, Legumes & Verduras) do Carrefour, loja
para mais de 200 clientes espalhados principal- Ribeirão Preto, a Sato resolveu o problema da
mente pelo estado de São Paulo. Clientes da Sato loja, reduzindo custos da transação de compra de
Verduras incluem: Wal Mart (Bauru e Ribeirão hortícolas pois propiciava verduras durante o
Preto), Eldorado (São Paulo) e Carrefour (Ribei- ano todo e em qualquer quantidade. Além disso,
rão Preto). A empresa entregava até mesmo em como os volumes de vendas eram grandes, o
Campo Grande (MS). As entregas eram feitas supermercado era beneficiado, pois pode ne-
diariamente por caminhões (18 caminhões, gociar como se estivesse comprando de uma
sendo sete próprios e onze terceirizados), que empresa, exigindo a presença de monitores na
deixavam, ainda de madrugada, o centro de loja, bem como a construção de expositores e
distribuição da empresa em Bauru (SP). outros expedientes, que normalmente os peque-
A estratégia de crescimento da Sato Verduras nos produtores não têm condições de bancar.
foi a de formar parcerias com outros produtores Já na visão do ocupante do mesmo cargo em
de hortaliças, ou seja, atuando como um empresa outro hipermercado de Ribeirão Preto a Sato
coordenadora do sistema. Cerca de 120 hectares Verduras é um problema, e não esconde a sua
eram cultivados desta forma. O esquema consis- insatisfação em ter que submeter-se à imposição
tia em formar uma sociedade entre uma empresa de preços promovida pela empresa. São os dois
e um produtor autônomo, com propriedade da extremos.
240 Pelição, Neves, Martinelli – Gestão de Compra de Produtos Hortícolas por Varejistas
Este é um caso de nível três na escala de seus aliados desfrutam dos benefícios da aliança,
GATTORNA & WALTERS (1996), no qual há conforme definido por LYNCH (1993):
alta dependência do comprador e baixa • Sinergias, pela combinação de forças das
dependência do fornecedor. Apesar dos empresas: o produtor vende mais e o varejista
compradores citados serem grandes mercados, a vende mais e/ou melhor. Podem ser idealiza-
empresa vendia para mais de 200 clientes. A dos novos produtos e modos de produção, a
importância relativa de cada um deles era partir desta sintonia fina de coordenação.
pequena, mesmo em se tratando de hipermerca- Assim surgiu no Mercadorama a radicetta,
dos. Este desbalanço refletia não só no alto preço um tipo diferente de radice até então desco-
praticado durante certas épocas do ano, mas nhecido do mercado de Curitiba. A informa-
também na qualidade dos produtos. Muitas vezes ção surgiu numa visita de um executivo do
as verduras da Sato não eram as melhores, mas supermercado a um restaurante de Buenos
devido à sua grande habilidade de logística, Aires, e conseqüente encomenda da produção
acabavam sendo as mais vendidas. a um de seus associados, criando assim um
novo produto no supermercado. Sem o tipo
4. Conclusões de relação de que o Mercadorama tem com os
produtores, seria difícil comercializar a
Referências Bibliográficas
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242 Pelição, Neves, Martinelli – Gestão de Compra de Produtos Hortícolas por Varejistas
This research analyses three case studies of transactions between horticultural producers and
retailers in their supply management process of horticultural products. The first transaction studied is
what can be called an strategic alliance where both retailers and producers depend highly on each
other, with several advantages for both, mainly related to transaction cost reducing and chain
coordination. The second is a case where the retailer is the coordinator of the transaction, using
mostly the price mechanism to buy horticultural products, and the third is a case where a company of
producers coordinate the transaction. These three cases are discussed under the model of GATTORNA
& WALTERS (1996) for strategic alliances.
Key words: horticultural supply, supply chain management, retailing, horticulture, entrepreneur-
ship.