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CADERNOS DA LIBERDADE
extrema da guerra. E, quando se fala de
guerra, é preciso serenidade e bom senso.
Uma visão do mundo diferente do
Os argumentos têm que ser claros, senso comum modificado
objetivos e baseados na inteligência e nas
informações seguras. Na discussão do
tema, não há lugar para declarações
bombásticas e ações passionais.
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CADERNOS
DA
LIBERDADE
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ESTA OBRA A UM AMIGO
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Sergio Augusto de Avellar Coutinho
CADERNOS
DA
LIBERDADE
Grupo
Sografe
Belo Horizonte - 2003
Copyright @ 2003 by Sergio Augusto de Avellar Coutinho
Capa:
Heloisa Helena Coutinho / Gustavo de Araújo Corrêa
Ilustrações: PREFÁCIO
Simone Oliveira Paes Leme
Ilustração da Capa: Jarbas Passarinho
Escultura da artista plástica ANÁDIA BERNACHI
Acervo do Clube Militar Rio Sérgio Coutinho figura entre os mais abalizados
Digitação e Diagramação: Allender Guilherme conhecedores das doutrinas sociais e políticas contem
Márcio Guilherme porâneas. Este livro é a prova não só de quem estuda
Liliane Pires da Costa como de quem tem a capacidade de analisar, com equilí
I
Movimento Comunista Internacional e seu ramo brasilei ,
PRIMEIRO CADERNO .... .. .
. .. ....... .. ....... ... ......... .. . . ......... . ........... . ..... 27
ro. É provável que seja acusado do "feio crime do
anticomunismo", como ficou patente quando Jean-Paul O COMUNISMO NÃO ACABOU .... ... . .. .. .. .
. .. ... . . ........... ... .
. . .. ..... 27
Sartre publicar que "Todos os anticomunistas são uns cães - O MOVIMENTO COMUNISTA NO BRASIL - MCB . 49 .............. ...
a serviço do fascismo. Não tem direito de criticar o comu -CANTO DO CISNE OU CANTO DA SEREIA . . 63 . ......... . . . . . . . . .. . . . . .
nismo quem a ele não pertencer, pois é preciso simpati -A "VIA PAcíFICA" PARA O PODER . . . . . . . . . 71 .. . ..................... . . .. . .. .
zar com o movimento comunista para ter o direito de o -A INTERNACIONAL REBELDE N O BRASIL . 81 . . .. . . . . ... . . .............
- O FABIANISMO . . . . .. . . . . .. .. . . . 111
Aron teve que debater com intelectuais que insistiam em
.. ......... .. ............. .... .... ..... .. .... . ....... ...... . .. .
ser apenas não comunistas, conquanto não negassem a - O CONSENSO DE WASHINGTON . . .. . . . . ... .. 137 ...... ..... ... ... .. . .... . .. ...
existência dos campos de concentração, mas criticando -O MOVIMENTO POLíTICO DE LA ROUCHE . . . . . 143 . ... . .......... ......
EPíLOGO ... .. . .
... . . . .... . .... . . . . . . . . ................ . ...... . .
... ........ . .... ........... . ....... 237
Sergio A. de A. Coutinho
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===== Sergio Augusto de AveIlar Coutinho ===== ======= Cadernos da Liberdade =======
Gramscista NO OCIDENTE, publicado em abril de 2002, discutidas ou postas em dúvida, até por pessoas cultas e
pretendia conscientizar o segmento democrático da soci bem informadas. Para elas, as "versões" dos fatos são
edade nacional de que uma nova concepção revolucio inquestionáveis "verdades" que não precisam ser subme
nária marxista-Ieninista estava em curso no Brasil. Quis tidas ao crivo da lógica, do bom senso ou da dúvida.
descrever o processo concebido por Antônio Gramsci para Evidentemente, o consenso alcançado pelas es
que todos soubéssemos como ele se vinha desenvolven querdas é um grande êxito. Assim, as pessoas, como o
do no País e como, na prática, buscava a tomada do po "homem coletivo", estão contribuindo para o sucesso de
der e a implantação do socialismo científico ou socialis las no País.
mo marxista protocomunista. Acrescentam-se a este fenômeno interno, fontes
Na verdade, tive a pretensão de motivar uma opo de influência externa, que difundem equivocadas expli
sição cívico-democrática para deter e reverter a "transi cações para nossas dificuldades políticas, econômicas e
ção para o socialismo", antes que chegasse à crise or sociais e interpretações facciosas dos acontecimentos
gânica (a), à ruptura e à tentativa de tomada do poder, internacionais. Os argumentos fogem à lógica mas são
com a destruição do Estado liberal-democrático ainda frágil aceitos sem crítica por muitos brasileiros intelectualizados.
no Brasil. A manipulação da opinião pública por todos os
A recepção e comentário de muitos leitores do meu meios de comunicação social (a mídia, a cátedra acadê
livro me fez acreditar que os meus objetivos não estavam mica, o ensino médio, a manifestação artística, a literatu
plenamente alcançados, atribuindo este fato a uma posi ra, etc) foi capaz de modificar os valores e conceitos tra
ção intelectual e a juízos de valor já modificados nas pes dicionais das pessoas, massificando seus juízos, inter
soas pelo movimento revolucionário sutil a que me refiro. pretações e atitudes. Na verdade, as pessoas foram pri
Ao mesmo tempo, pude pressentir que a reforma inte vadas do poder de crítica e da capacidade de elaborarem
lectual e moral (b) que Gramsci recomenda como ins opiniões próprias e independentes. Parece que traçaram
trumento da luta pela hegemonia no seio da sociedade um círculo de giz em torno de si e se deixaram encerrar
civil já produziu efeitos muito mais profundos e danosos em uma prisão sem grades (d). Muralhas invisíveis são
no Brasil do que se poderia imaginar. Em trinta anos de construídas pelo senso comum modificado, vigiadas pelo
atuação, os intelectuais orgânicos, os neomarxistas de "patrulhamento ideológico" e pela auto-censura do "po
linha gramscista, conseguiram obter uma conformação, liticamente correto". Dentro da prisão, todos têm a mes
involuntária e despercebida, dosenso comum dos inte ma opinião, os mesmos pontos de vista, sempre coinci
grantes da sociedade nacional às ideologias intermedi dentes com as palavras-de-ordem e chavões ideológicos
árias e às palavras-de-ordem das esquerdas (c). Acei difundidos e repetidos até adquirirem condição de verda
tação passiva do que se estabeleceu ser "politicamente de absoluta. Mesmo aquelas pessoas mais esclarecidas
correto". acabam sucumbindo à insistência e ao temor da vigilân
Sob o aspecto político-ideológico do senso comum cia intelectual. Temem ser consideradas "aberração in
modificado, certas palavras-de-ordem se incorporaram à dividuai" (e).
opinião geral como conceitos axiomáticos. Apesar das Gramsci em os Cadernos do Cárcere cita um epi
mais gritantes evidências de sua falsidade, já não são sódio ocorrido em Milão no Século XVII que ilustra
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===== Sergio Augusto de Avellar Coutinho ===== ======= Cadernos da Liberdade =======
exatamente a "inibição" do bom senso diante do senso "patrulhador" intolerante e intoxicado pela sua ideologia
comum modificado pelo boato que passava a ser critério radical. É um instrumento revolucionário leninista que,
de verdade e juízo de valor pela repetição: atualmente, tem também grande importância para a rea
lização da reforma intelectual e moral da sociedade como
- NT: "Em Milão, na epidemia do Séc XVII, acreditava-se parte da luta pela hegemonia. Com este processo se
que os untadores, que deveriam prevenir o contágio, usa faz a neutralização dos intelectuais adversários ou mes
vam ao contrário substância infecciosa para propagar a mo indiferentes, por meio da crítica tendenciosa ou pela
peste". desqualificação pessoal do adversário visado. Não se trata
- Gramsci: "Manzoni distingue entre bom senso e senso de contradizê-lo pelo debate, pela discordância ou crítica
comum (. . . ) sobre peste e sobre untadores. Falando do racional, mas de anulação do oponente sem discussão, o
fato de que existia quem não acreditava nos (boatos con que significaria não aceitar democraticamente a opinião
tra os) untadores, mas era incapaz de defender sua opi contrária ou discordante.
nião contra a opinião vulgar difusa, escreve (Manzoni)": A desqualificação do opositor é o processo os
"vê-se que era um desabafo secreto da verdade, uma tensivo mais usado no patrulhamento. Não se discutem
confidência doméstica; havia bom senso, mas ficava as idéias nem se critica o pensamento expresso pelo in
escondido por medo do senso comum". telectual democrata. O que se busca é desprestigiar o
autor, retirar-lhe a autoridade e a idoneidade, para invali
A nova cultura ou "filosofia nova" é uma postu dar a obra. O adversário geralmente é estigmatizado por
ra individual e coletiva modificada, que resulta de um com ser "reacionário", por ser "de direita", "fascista", "autoritá
plexo e longo processo de reforma intelectual e moral rio", por ser "agente da CIA", estar a "soldo do capitalis
ou "revolução cultural" conduzida no contexto da luta mo", dos "banqueiros internacionais", da "globalização",
pela hegemonia, uma das fases da concepção revolucio etc, etc, etc. Infeliz do opositor que tiver "telhado de vi
nária de Antônio Gramsci. A nova cultura ou filosofia nova dro"; com certeza será crucificado publicamente.
se expressa subjetivamente no senso comum modifi A "exfiltração" do intelectual democrata é a
cado, opinião vulgar difusa na generalidade das pessoas outra forma do patrulhamento, dissimulado e invisível.
em certa época e que as predispõe a cooperar, inocente Importa em tirar espaço de sua atividade e o alcance da
mas objetivamente, com o movimento revolucionário. Ou, sua influência. Em primeiro lugar, isolando-o e constran
no mínimo, a desconsiderá-lo como perigo político atual, gendo-o no seu lugar de trabalho ou no seu campo de
concreto. atividade, nos órgãos de comunicação social, nas univer
sidades, nas escolas, nas editoras, na área artística, nas
* * *
repartições públicas, nas empresas estatais e até mesmo
em certas empresas privadas onde os intelectuais de es
Patrulhamento ideológico é um processo políti querda têm emprego e já conquistaram a "hegemonia".
co de intimidação que é usado contra os adversários para Se o intelectual democrata se acomodar no silêncio de
os calar e impedir que exponham seus pensamentos e fensivo e se submeter à opressão deste tipo oculto de
opiniões ou que se manifestem contra as idéias do patrulhamento, poderá eventualmente conservar seu
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emprego; caso contrário, acabará despedido ou levado a tas "verdades" e concordando com certas explicações que
se demitir pela pressão, artimanha ou esvaziamento fun trazem enganoso apelo patriótico; ocultam, na realidade,
cionaI. Muitas vezes, o afastamento do "reacionário" é compromisso com projetos ideológicos e com interesses
conseguido por denúncias públicas falsas ou manipula políticos de grupos internos e estrangeiros. Sem se dar
das, sempre de origem oculta, mas amplamente orques conta, o indivíduo torna-se prisioneiro do senso comum
trada nos noticiários. A chamada "fritura" é uma forma de modificado. Adere ou desenvolve por si mesmo uma li
"exfiltração" ou "defenestração" do alvo patrulhado. nha de pensamento e de opinião que faz sintonia
O patrulhamento ideológico, nas suas duas for insuspeitada com afirmações do movimento de "transi
mas, é uma espécie de terrorismo intelectual e moral, ção para o socialismo". O "prisioneiro", consciente e ex
antidemocrático, implacável e inescrupuloso. Estes plicitamente repudia esta sintonia, mas inconsciente e
adjetivos se aplicam também às pessoas que voluntária implicitamente colabora para a formação do consenso.
ou remuneradamente o praticam; algumas, convencidas O cidadão, circunstancialmente inserido neste processo
de estarem cumprindo um dever "ético" revolucionário, de reforma cultural e moral, além de prisioneiro, pode ser
outras com um certo rancor e sadismo político. O identificado, mesmo sob protesto, como um pré-socia
"patrulhador" é uma pessoa má, preconceituosa, intole lista, politicamente correto, isto é, pessoa que, sem per
rante e, freqüentemente, mentirosa e anônima. Cumpre ceber, aceita e pratica conceitos coincidentes com as pa
a função de agente carcereiro da "prisão sem grades". lavras-de-ordem das esquerdas ou com valores renova
O patrulhamento ideológico não é apenas um ins dos pela "natural" evolução cultural.
trumento revolucionário, mas a antecipação de outros mé Inconscientemente está armando "a mão que o
todos que o Estado totalitário, a estatolatria de Antonio vai apedrejar".
Gramsci, aplicará para realizar as transformações da so O pré-socialista, geralmente, pertence à classe
ciedade civil e do indivíduo, após a conquista do poder. média ou, como a classificam os marxistas, à pequena
burguesia. Não surgiu espontaneamente na "sociedade
civil", mas é o produto de uma progressiva e perseveran
• O Prisioneiro te reforma intelectual e moral a que vem sendo subme
tido. O objetivo intencional desta penetração cultural é a
O cidadão encerrado nas muralhas do senso co mudança do senso comum burguês ligado às tradições
mum modificado produzido pelos intelectuais orgânicos históricas, morais e culturais da sociedade nacional. Os
que conquistaram o monopólio do discurso e o poder de novos conceitos, insistentemente "orquestrados" por to
censura dos fatos, é o prisioneiro intelectual, ainda por dos os meios de difusão, são absorvidos pelas pessoas e
cima, refém do patrulhamento ideológico e do guião poli formam o senso comum modificado, criando uma cons
ticamente correto. O cidadão, frustrado pelo mau desem ciência coletiva homogênea que contribui para a aceita
penho do seu país, desiludido pela falta de competência ção tácita da "transição para o socialismo". É bom que se
dos seus dirigentes, inseguro diante da recém emergida diga que a assimilação de novos conceitos, valores e
potência hegemônica e de uma conjuntura internacional opiniões é feita de forma insensível, progressiva e sem
adversa e ameaçadora, acaba sendo convencido de cer- vinculação ideológica aparente .
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Vejamos alguns conceitos já interiorizados pelos se uniram para explorar os países pobres.
pré-socialistas, e que os caracterizam. Para fazer da lei O O Pré-Socialista acredita que a biodiversidade
tura dos itens listados um passatempo divertido e amazônica é uma imensa riqueza que estimu
educativo, marque com um "tique" ou "gaivota" aque la a cobiça dos países ricos.
les que correspondem aos seus próprios conceitos e O O Pré-Socialista acredita que os Estados Uni
opiniões: dos da América querem apossar-se da Ama
O O Pré-Socialista acredita que o comunismo zônia pelas suas riquezas e reservas de água
acabou. doce.
O O Pré-Socialismo acredita que o "socialismo O O Pré-Socialista acredita que os países ricos
democrático" apregoado é um sistema político podem vir a intervir na Amazônia para defen
semelhante à social-democracia. der o meio-ambiente e os índios.
O O Pré-Socialista acredita que a "transição para O O Pré-Socialista acredita ser motivo de orgu
o socialismo" pregada pelos partidos de es lho que a Amazônia, o Pantanal e outras áre
querda é pacífica e democrática. as de preservação sejam consideradas
O O Pré-Socialista acredita que socialismo é patrimônio da humanidade.
sinônimo de justiça social. O O Pré-Socialista acredita que o presidente
O O Pré-Socialista acredita que Fidel Castro não George W. Busch é um autoritário de direita;
é um ditador. um novo Hitler.
O O Pré-Socialista acredita que a medicina é O O Pré-Socialista acredita que o FMI é um or
muito adiantada em Cuba. ganismo dos países ricos para oprimir e impor
O O Pré-Socialista acredita que o regime comu regras econômicas intervencionistas nos paí
nista da China está evoluindo para a demo ses do Terceiro Mundo.
cracia e para a economia de mercado. O O Pré-Socialista acredita que a globalização é
O O Pré-Socialista acredita que os Estados Uni um instrumento criado pelos países ricos, par
dos da América são opressores dos países ticularmente pelos Estados Unidos, para ex
pobres. plorar os países pobres.
O O Pré-Socialista acredita que os Estados Uni O O Pré-Socialista acredita que a preservação
dos da América, após o colapso da União So ambiental é mais importante do que o progresso.
viética, se tornaram potência hegemônica que O O Pré-Socialista acredita que a sociedade bra
têm o objetivo de criar o império mundial. sileira é preconceituosa e racista.
O O Pré-Socialista acredita que os atentados O O Pré-Socialista acredita que o racismo no
terroristas de 11 de setembro de 2001 contra Brasil é oculto, sutil e disfarçado.
Nova Iorque e Washington foram um mereci O O Pré-Socialista acredita que nas cadeias só
do castigo pela prepotência, arrogância e so existem pobres e negros.
berba norte-americanas. O O Pré-Socialista acredita que a Justiça prote
O O Pré-Socialista acredita que os países ricos ge os ricos e poderosos.
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======= Sergio A�gusto d.e Avellar Coutinho =======
======= Cadernos da Liberdad.e ======
O
O O Pré-Socialista acredita que a liberação se
reito coletivo de reivindicar do Estado e da pró-
xual é a realização da igualdade de direitos de
pria sociedade.
. homens e mulheres.
O O Pré-Socialista acredita que o socialmente le-
O O Pré-Socialista acredita que a homossexua
gítimo é mais importante do que a 1���lida e
:
? lidade é uma opção pessoal.
O O Pré-Socialista acredita que a oplnlao publi
O O Pré-Socialista acredita que o casamento ou
ca é critério de verdade e de legitimidade.
a união civil de pessoas do mesmo sexo é um
O O Pré-Socialista acredita que os poderosos e
direito legítimo.
os políticos querem manter o povo na igno
O O Pré-Socialista acredita que o Brasil precisa
rância para melhor dominá-lo.
ser mudado e passado a limpo.
O O Pré-Socialista acredita que a História "ofici
ai" do País é falseada pelas classes dominan
Se você assinalou mais de 16 itens desta lista de
tes em seu proveito.
conceitos e opiniões, do senso comum moderno, certa
O O Pré-Socialista acredita que a personagem
mente você já se tornou um pré-socialista, talvez sem o
popular é mais importante do que o vulto his-
saber, mas bem integrado no novo contexto cultural e ide
tórico.
ológico induzido.
O O Pré-Socialista acredita que o lucro e a ri-
Entretanto, é bom que se saiba que estes concei
queza pessoais são obscenos e afrontam as
tos e opiniões não foram assumidos espontaneamente
classes pobres.
como pode parecer. Foram competentemente induzidos
O O Pré-Socialista acredita que a pessoa que
nas escolas, nos jornais, na televisão, no rádio, na litera
discorda do senso comum moderno (modifi
tura, nas novelas, no teatro e pelo comportamento de gru
cado) é preconceituoso, reacionário ou "aber-
pos "conscientes e ativos", de tal modo que, inconsciente
ração individual".
. e progressivamente, o cidadão comum é levado à ade
O O Pré-Socialista acredita que os preceitos
são a certas palavras-de-ordem e ideologias interme
morais religiosos e tradicionais são tabus
diárias das esquerdas marxistas. O processo indutor da
anacrônicos e "castradores" da liberdade indi-
mudança do senso comum "burguês" é parte da concep
viduaI.
ção revolucionária de Gramsci. A massificação decorren
O O Pré-Socialista acredita que a informalidade
te constitui a "prisão sem grades" que leva os indivíduos
contribui para a aproximação das pessoas e
à perda do espírito crítico, à apatia e à insensibilidade
as liberta de obrigações sociais inúteis.
próprios do prisioneiro. E daí, ao papel de inocentes úteis
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21
======= Sergio Augus to de Avellar Coutinho ======= ======= Cadernos da Li1erdade
.
e de formadores do consenso; isto é, à concordância coberta individual na atividade intelectual, seja pela re
com a socialização do País e à colaboração, agora cons velação oferecida pelos intelectuais tradicionais na ta
ciente, para o seu sucesso. refa cívica de esclarecimento que vierem a conduzir no
seio da sociedade nacional.
Percebida a existência de uma fonte indutora de
• A Libertação idéias, é preciso que as pessoas se disponham a realizar
uma reavaliação crítica do senso comum modificado do
A libertação da "prisão sem grades" é um proc�s qual suas posições intelectuais e morais são expressões.
so que só pode ter início se a pessoa tiver a percepçao Torna-se, assim, imprescindível saber-se distinguir o real
de que é prisioneira de um empreendimento de reforma do imaginário.
intelectual e moral levado a efeito por alguma "força A reavaliação crítica é uma espécie de reciclagem
oculta" político-ideológica. É um processo extremamente intelectual em que se confronta o "subjetivo" (senso co
delicado porque a pessoa culta está tão convencida das mum modificado) com o "objetivo" (bom senso que não
"suas idéias" que terá dificuldade para perceber que elas consegue prevalecer), o que se pensa que é com o que
lhe foram induzidas. Quando chamada à atenção, prova é realmente. É o caminho para a aquisição do pensa
velmente não admitirá que possa ter sido influenciada por mento independente e livre da opressão das frases fei
uma fonte de inteligência externa de forma intencionada. tas, dos chavões e das palavr as-de-ordem
Protestará com veemência e sinceramente que suas opi operacionalizadas, orquestradas e permeadas com
niões nada têm de ideológicas e de comprometimento sutileza pela comunicação de massa das esquerdas e
com a esquerda. Efetivamente, não têm nada a ver ?.? m repetidas sem censura por todos. A reavaliação crítica
. deve levar a pessoa a "CAIR NA REAL", libertando-a de
as idéias de esquerda mas, mesmo assim, suas oplnloes
e atitudes não deixam de ter afinidade com as palavras uma falsa, enganosa e enigmática nova cultura. É um
de-ordem e ideologias intermediárias do movimento mar processo inverso àquele gramscista a que vem sendo
xista no País. submetida a sociedade nacional.
Quando se incorpora ao senso comum a crença
ou opinião de que "o comunismo acabou" e de que "es "Perceber o óbvio é mais difícil que ser
querda e direita são coisas do passado", as pessoas se enganado com uma fantasia"
"desligam" da realidade e, inconscientemente, transfor (Affonso Romano de Sant'Ana - 2003)
mam um desejo em afirmação categórica. Não percebem
o equívoco nem podem imaginar que esta opinião lhes foi A reavaliação crítica da nova cultura é também um
induzida em um processo de reforma intelectual e mo julgamento das próprias opiniões. Entretanto não se co
rai ou, segundo alguns autores, de revolução cultural, gita de uma mudança de valores pessoais mas de uma
conduzida principalmente pelos intelectuais orgânicos mudança da ótica de avaliação da atualidade histórica
de linha gramscista. A reformulação da opinião que se acrescentando uma componente que tem sido omitida
formou pela insistente repetição da informação, só pode pelos intelectuais orgânicos: - A permanência do Movi
rá ocorrer pela percepção da realidade, seja pela des- mento Comunista Internacional e da Guerra Fria sob
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===== Sergio Augusto de AveIlar Coutinho ===== ======= Cadernos da Li1erdade =======
novas condições políticas mundiais. mobilização popular ou de propaganda; p.e. direitos huma
A percepção da realidade é o momento inicial da nos, ecologia, paz, guerra ilegal, império, anticapitalismo,
antiglobalização, soberania, nacionalismo, diretas já, etc.
reavaliação crítica da nova cultura, significando reconhe
(d) Prisão Sem Grades é expressão cunhada pelo estudioso
cer primeiramente que a negação da existencia do comu
de Gramsci e conferencista José Saldanha Fábrega Lou
nismo após a derrocada da União Soviética é uma falá
reiro, alegoria da liberdade intelectual anulada pelo consenso
cia. Entenda-se aqui comunismo não só como sistema
e pelo conformismo que se impõem sem coerção ao ho
político, econômico e social, mas também como movi- mem na sociedade socialista, ou pelo senso comum modi
.
mento revolucionário. ficado na sociedade burguesa ainda na fase de luta pela
A pretensão deste livro é apresentar alguns as hegemonia (concepção revolucionária gramscista). Neste
pectos da Nova Ordem Mundial sob uma ótica ideologi segundo entendimento, a prisão sem grades é oposição à
camente independente, oferecendo temas para a medi figura da "prisão de mil janelas" que Maria Antonietta
tação e para a discussão. Principalmente, entregando as Macciocchi faz da sociedade civil onde se dá a hegemonia
chaves da libertação da "prisão sem grades", do senso das classes dominantes (burguesas):
"Maria Antonietta Macciocchi nos dá uma imagem bastante
comum modificado, criado pelos intelectuais neomarxistas
impressionante do que seria a sociedade civil em Gramsci
atuantes, perseverantes e sutis.
enquanto "terreno", ou "lugar" onde se concretiza essa
hegemonia das classes dominantes que, no plano do indiví
duo, envolve o cidadão por todos os lados, integrando-o desde
NOTAS a infância no universo escolar e mais tarde no da igreja, do
exército, da justiça, da cultura, das diversões e inclusive do
sindicato, e assim até a morte, sem a menor trégua; essa
(a) Deliberadamente, estou usando termos e expressões ("ca
prisão de mil janelas simboliza o reino de uma hegemonia,
tegorias") marxistas, leninistas e gramscistas para que o
cuja força reside menos na coerção que no fato de que suas
leitor adquira capacidade crítica e se torne capaz de perce
grades são tanto mais eficazes quanto menos visíveis se
ber a linguagem das esquerdas e de entender o seu signi
ficado geralmente enganoso.
tornam." (Macciocchi, 1976, p. 152, citada por Luna Galano
(b) Reforma Intelectual e Moral é um dos empreendimentos
Hochcovitch em "Gramsci e a Escola", Editora Ática, 1992)
Com alguma ironia, as figuras da prisão de Macciocchi e
da luta pela hegemonia que, na concepção revolucionária
da prisão de Fábrega se completam. À medida que a refor
de Gramsci, inclui a superação do senso comum burguês,
ma intelectual e moral conduzida pelas esquerdas de práxis
a conscientização político-ideológica e a formação do con
gramscista for obtendo êxito em uma sociedade, os "prisio
senso.
neiros" burgueses da prisão de mil janelas se vão transfe
(c) IDEOLOGIA INT ERMEDIÁRIA - Conceito político aceitá
rindo para a prisão sem grades dos pré-socialistas.
vel ou eufemismo que traduz a ideologia revolucionária (omi
(e) Senso Comum - "Conjunto de opiniões tão geralmente acei
tida), aproximando-a dos anseios e expectativas da popu
tos em época determinada que as opiniões contrárias apa
lação; p.e. socialismo democrático, democracia radical (go
recem como aberrações individuais" (Aurélio Buarque de
verno de classe), radicalismo democrático (luta de classe),
Holanda Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa
nacionalização (estatização), independência, etc.
PALAVRAS-OE-ORDEM - Tema, chamamento ou lema de
Nova Fronteira - 2ª Edição). Nesta definição já se pode
surpreender o senso coml,lm modificado, insidiosamente
operacionalização das Ideologias Intermediárias, de
inserido na obra sob a forma de "politicamente correta".
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======= Cadernos da Liberdade =======
PRIMEIRO CADERNO
o MOVIMENTO COMUNISTA
INTERNACIONAL
- M C 1-
Sergio A. de A. Coutinho
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inspiração marxista que tem os propósitos de promover a Socialista (1950) que permanece atuante até hoje, em
revolução do proletariado e de implantar o comunismo especial na Europa onde os partidos social-democratas
em todos os países do mundo. Não é um organismo são seus filiados.
monolítico (nunca foi) nem um conluio unânime e centra Neste meio tempo, 1919, a IIIª Internacional, de
lizado, mas um complexo de concepções revolucionári pois denominada Internacional Comunista, é fundada
as, muitas vezes conflitantes, de fontes de irradiação, de com a referência vitoriosa da Revolução Bolchevista e o
entidades e de campanhas de toda natureza, cujo impul respaldo da União Soviética. O êxito da Revolução deu
so comum é a mesma inspiração ideológica e a identida motivo à elaboração de uma metodologia revolucionária
de dos objetivos sucessivos a atingir: a tomada do poder, (o marxismo-Ieninismo) que passou a ser o modelo
o socialismo científico ou marxista e, finalmente, o comu dogmático para o MCI e que estabeleceu um centro difusor
nismo. da revolução mundial- Moscou.
O marco inicial do MCI é o Manifesto Comunista A IVª Internacional, também conhecida como In
de Marx e Engels (1848). A operacionalização das idéias ternacional Trotskista, foi fundada em Bruxelas (1938).
dos fundadores do marxismo e a promoção da revolução Foi o resultado de mortal divergência ideológica entre
do proletariado no mundo foram tentadas com a criação Trotski e Stalin surgida no contexto da luta pelo poder na
da internacional, isto é, de um sistema coordenado, cons União Soviética após a morte de Lenine em 1924. Trotski,
tituído de organismos supranacionais de implementação, expulso do Partido e do País, terminou seus dias assas
orientação e apoio aos movimentos revolucionários nos sinado no México.
diferentes países capitalistas. Na prática histórica, foi mais Embora a Internacional Comunista soviética,
de uma internacional que se fundou com este propósito. com suas agências de difusão revolucionária (Comintern,
A Iª Internacional foi fundada em Londres (1864) Cominform e, finalmente, o próprio Partido- PCUS), te
e teve sede em Nova Iorque. Durou pouco devido às con nha sido proeminente no MCI, outras linhas e opções ide
trovérsias nascidas em decorrência da sua heterogênea ológicas e pragmáticas também tiveram a sua presença
constituição: comunistas, socialistas, anarquistas, e influência no movimento comunista. Outros focos
anticapitalistas e gente das mais variadas tendências de difusores independentes (Iugoslávia e Albânia) ou resul
esquerda. Em 1876 se dissolveu. tantes de êxitos revolucionários e de algumas rebeldias
A "ª Internacional, fundada em 1889 foi a tentati (China Popular de Mao Tse Tung, Coréia do Norte, Cuba
va dos socialistas de substituir a Iª Internacional, mas tam de Fidel Castro e Vietnã) animaram o MCI e perturbaram
bém não teve êxito como movimento mundial numa épo a vida nacional de muitos países.
ca de exacerbado nacionalismo (final do século XIX e iní A Internacional Comunista soviética era muito vi
cio do século XX). Aos poucos foi evoluindo da sua ten sível porque tinha um centro irradiador e uma estrutura
dência ideológica inicialmente marxista e revolucionária operacional localizada em Moscou e, subsidiariamente,
para o socialismo utópico reformista. Em 1923 também nos países socialistas satélites. Tinha poder real para di
se dissolveu, ainda que suas organizações se tivessem rigir e apoiar concretamente o movimento revolucionário
mantido ativas em âmbito nacional principalmente. Após de sua área político-ideológica. Com o desaparecimento
a Segunda Guerra Mundial foi fundada a Internacional deste centro, o MCI ficou menos nítido. Na realidade, não
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====== Sergio Augusto de AveIlar Coutinho ====== ======= Cadernos da Li1erdade =======
desapareceram nem o comunismo, nem o MCI. Saiu de tes em quase todos os países do mundo antes alinhados
cena, é verdade, a Internacional Comunista soviética com com a Internacional Comunista soviética, adotando no
todo o seu instrumental de difusão e de apoio. vas denominações e siglas.
O Movimento Comunista Internacional depois de A Intelligentsia Anarco-Comunista, ou Interna
um breve momento de perplexidade e de reavaliação, cional Rebelde é um conjunto de muitíssimas organiza
retomou sua atuação graças à permanência da estrutura ções não-governamentais (ONG) de esquerda que têm
e das tendências ideológicas remanescentes e das inde como identificação a luta anticapitalista e antineoliberal;
pendentes de Moscou. Hoje apresenta quatro fontes de conseqüentemente a luta contra a globalização. Os gru
irradiação, de certa forma difusas, que denomino de pos participantes são heterogêneos, reunindo socialistas,
"intelligentsias", com sede na Europa e projeções em comunistas e anarquistas. Semelhante composição teve
quase todos os países do mundo, inclusive nos Estados a I Internacional (1864 - 1876) em que as diferentes ten
Unidos. Identificam-se principalmente com as linhas prag dências integrantes tinham por denominador comum o
máticas do marxismo revolucionário. anticapitalismo. Os participantes da Internacional Rebel
A Intelligentsia marxista-Ieninista trotskista (IV de se identificam com uma espécie de "V Internacional".
Internacional) continua muito ativa e adota uma linha ra Parece-nos mais exato que se trata da I Internacional
dicai por intermédio dos partidos comunistas operários (bis) que reaparece no pós-comunismo soviético. (Ler o
em muitos países. Ainda tem sede em Bruxelas; está texto A INTERNACIONAL REBELDE NO BRASIL). O
dividida em cinco linhas ou tendências particulares. Anarquismo, movimento radical, é a principal linha políti
A Intelligentsia marxista-Ieninista gramscista, co-ideológica da Internacional Rebelde. Propõe a passa
que começou a ganhar influência na Europa a partir da gem direta para o comunismo sem Estado, substituído
Segunda Guerra Mundial, passou a ter expressão inter por um governo autogestionário, uma espécie de federa
nacional marcante, inclusive nas Américas, depois do ção ou associação de grupos autônomos da sociedade,
colapso soviético porque propõe uma estratégia de tran dentro dos quais os indivíduos agem com autonomia e
sição para o socialismo que renova a concepção revolu liberdade. Quanto à organização econômica, visa a trans
cionária marxista-Ieninista e se aplica às sociedades do formar os meios da produção em propriedade de produ
tipo "ocidental", isto é, de capitalismo moderno e de de tores livremente associados ("Socialismo Libertário") A
mocracia avançada. Poderíamos dizer que é a "Vª Inter concepção anarquista pretende a mediação de posições
nacional" que revitaliza o Movimento Comunista Interna extremas mas conduz a resultados idênticos ao do mar
cional. Sua práxis revolucionária para a tomada do poder xismo: fim do Estado, abolição da propriedade privada e
(luta pela hegemonia) tem receptividade inclusive em par a eliminação de classes. É muito ativo e, com freqüência,
tidos de outras linhas político-ideológicas. sua militância radical aparece nos noticiários, com suas
A Intelligentsia Marxista-Ieninista stalinista (III bandeiras pretas, paus e pedras nos enfrentamentos com a
Internacional) sobreviveu à débàcle da União Soviética e polícia e nas demonstrações de protesto em vários países.
continua presente nos países socialistas remanescentes
(China Popular, Coréia do Norte, Cuba e Vietnã) e atuan Cada uma das "intelligentsias" é constituída por
te por intermédio dos partidos comunistas ainda existen- um birô, instituto ou congresso, por partidos nacionais,
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===== Sergio A�gusto de Avellar Coutinho ===== ======= Cadernos da Liherdade =======
movimentos político-sociais, entidades e organizações menos clara mas tão concreta como na Guerra Fria en
internacionais tais como as ONG. Não exercem propria tre as duas superpotências no passado. Agora, o con
mente comando mas, em âmbito internacional, induzem, fronto se apresenta com duas ações de oportunidade:
orientam e apóiam os movimentos revolucionários nacio - Agitação e Propaganda (Agit-Prop) orientada para o
nais. São independentes mas são solidários a partir de antiamericanismo, para isolar os EUA e inibir o uso do
um consenso "ético", reconhecendo um objetivo comum seu poder nacional.
- o comunismo utópico. - Ação Assimétrica, valendo-se dos ressentimentos, te
A visão marxista-Ieninista continua a ser aquela mores e meios bélicos de grupos e países islâmicos e de
que foi indicada no Manifesto Comunista de 1848: Terceiro Mundo, para golpear a Potência Hegemônica com
- O caráter internacionalista do movimento comu- incursões armadas e terrorismo.
nista; Estas ações caracterizam uma Guerra Fria semelhante à
- O âmbito nacional da luta de classes. de pós-Segunda Guerra Mundial, agora com uma nova
face.
O comando revolucionário, ou direção objetiva da revo Em âmbito internacional, além das organizações
lução é encargo dos partidos-vanguarda do proletariado não-governamentais, a própria Organização das Nações
em cada país. Unidas é usada pelo MCI para favorecer os regimes naci
Estes partidos, em geral e independentemente de onais de esquerda e os movimentos revolucionários em
sua linha político-ideológica, passaram a adotar prática países do Terceiro Mundo. A ONU é também usada para
de inspiração gramscista (a). Assumem aparência demo impedir ou dificultar as ações dos países "imperialistas"
crática e atuam principalmente por meio dos intelectuais contra aqueles regimes e movimentos, mesmo quando
orgânicos e por intermédio de "aparelhos privados vo agem no uso do princípio da legítima defesa. O MCI con
luntários" e de "aparelhos privados de hegemonia" sob a segue influir tanto na Assembléia Geral como no Conse
forma de organizações não-governamentais. lho de Segurança da ONU por intermédio das represen
Mascarando suas ligações ideológicas, ostentam atuação tações dos Estados socialistas e dos Estados constrangi
de autênticos movimentos populares. Usam o ativismo dos pela opinião pública nacional e internacional. Entre
para impressionar a opinião pública e para fazer acreditar tanto, sua atuação continuada se faz por intermédio das
que a expressam, para exercer a "pressão de base" ou organizações internacionais ligadas à ONU (FAO,
intimidar os governos democráticos. As demonstrações e UNICEF, OIT, OMS, BIO, FMI, etc), quase todas infiltradas
manifestações "populares", supostamente espontâneas, por dirigentes e funcionários comunistas, socialistas e sim
freqüentemente são coordenadas com idênticos eventos patizantes.
em outros países. Os temas são traduzidos em palavras
* * *
de-or de m relacionadas com direitos humanos,
ambientalismo e pacifismo (b).
O antagonismo Socialismo versus Capitalismo, concreti Além das linhas revolucionárias marxistas e anar
zado pelo confronto URSS x EUA de 1945 a 1991, mu quistas citadas, componentes do Movimento Comunista
dou de expressão, manifestada agora numa oposição Internacional, há outros movimentos ideológicos de es-
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querda que são adjacentes ao MCI, sem a ele pertence aspecto ostensivo de confrontação bélica e ideológica
rem obviamente, mas que completam o cenário socialis entre duas potências que representavam o antagonismo
ta mundial: entre o mundo de concepção capitalista e o mundo de
O Nasserismo, concepção revolucionária socia concepção socialista, mas continua ativo, ofensivo e do
lista não-marxista que se caracteriza pelo nacionalismo tado de iniciativa. Entidade difusa e invisível, vale-se das
radical. Tem origem no pensamento e na ação política do franquias democráticas dos países "ocidentais" e con
primeiro presidente do Egito, Gamai Abdel Nasser. De trola uma parcela apreciável da mídia, da intelectualidade
alguma forma, é o modelo do socialismo autoritário dos e da atividade editorial internacional. Para medir sua ca
países islâmicos. pacidade ofensiva, basta assinalar a eficiência com que
A Internacional Socialista, com sede na Europa, mobiliza a opinião pública contra os Estados Unidos e com
é reformista (não-revolucionária) e, atualmente, é repre que inibe os governos "burgueses" liberais ou sociais-de
sentada pelos partidos social-democratas, particularmente mocratas a tomar posições de solidariedade com aquele
naquele continente. Doutrinariamente é pluralista, tendo país, mesmo quando sofreu os mais brutais atentados
por objetivo ideológico o socialismo utópico, construído terroristas que se tem notícia na História.
progressivamente por meio de reformas institucionais de
mocráticas. Tem tendência continuísta e o modelo aca
NOTAS
bado é o "Wellfare State" da Suécia.
O Fabianismo, movimento socialista, também
(a) As atividades revolucionárias da fase de acumulação de for
reformista predominantemente britânico; teve origem na
ça que, na concepção leninista, antecede à ruptura e o as
Inglaterra em 1883/84. Exerce forte influência ideológica
salto ao poder, são vulgarmente denominadas de subver
no trabalhismo inglês (Labour party) que tem exercido o
são. Na concepção gramscista, a subversão é conduzida
governo por diversas vezes depois de 1945. Tem cresci como luta pela hegemonia, assumindo a aparência de
do sua atividade e prestígio internacionais. Nos anos de participação no jogo político legítimo da democracia burgue
1920 propôs a Terceira Via, conceito que, de vez em sa (Ler o Texto CONCEPÇÃO REVOLUCIONÁRI A DE
quando, é relembrado por personalidades de tendência GRAMSCI).
socialista como solução mágica dos problemas sociais e (b) Constatação fácil de se fazer:
políticos dos países, principalmente do Terceiro Mundo. - Nas demonstrações, passeatas, protestos, e comícios pú
Socialismo nacionalista populista, tendência po blicos que tenham por tema a paz, os direitos humanos ou
defesa do meio ambiente, em qualquer parte do mundo
lítica sem definição ideológica, mas autoritária, estatizante,
(exceto nos países islâmicos), os manifestantes sempre
demagógica e xenófoba. Este tipo de esquerda se tem
portam bandeiras, muitas de cor vermelha com siglas e sím
manifestado na América Latina com feição golpista e com
bolos comunistas e de ONG engajadas. São evidências visí
desfecho freqüente em ditaduras pessoais.
veis de que o comunismo não morreu:
- Paz, direitos humanos e meio ambiente sempre foram pa
A saída de cena da Internacional Comunista sovi lavras-de-ordem dos partidos, organizações e movimentos
ética evidentemente não representou o fim de Movimento ligados à Internacional Comunista soviética até a derruba
Comunista Internacional. É verdade que este perdeu seu da do Muro de Berlim (1989).
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====== Sergio Augusto de Avellar Coutinho ======
INTELLIGENfSIA
ANARCO-COMUNISTA
MARXISTA-GRAMSCISTA
INTERNACIONAL. REB ELD E
("V INTERNACIONAL")
("I INT ERNACIONAL (bis)")
Movimentos e El\t�:lades
Entidades Promotoras
Intern&ionais
Comunidades Altemativas
• ONGs
Foruns
P811idos ''Democratas''
ONGs
36
======= Cadernos da illerdade =======
CONCEPÇÃO REVOLUCIONÁRIA
DE GRAMSCI (a)
39
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Gramscismo ou, mais abrangentemente, Marxismo sa. Em outras palavras, disputar com a burguesia a
Gramscismo. hegemonia sobre a sociedade civil e conquistá-Ia como
Os comentadores e intérpretes da obra prelúdio da tomada da sociedade política (o Estado) e do
gramsciana geralmente se restrigem à discussão de seus poder.
fundamentos e conceitos político-ideológicos. Não reve A partir desta visão original, Gramsci desenvolveu
lam com maior clareza descritiva a atuação e a prática seu conceito estratégico de transição para o socialismo.
revolucionárias que Gramsci propõe e que passam ne A grande invenção contida na concepção revolu
cessariamente pela crise orgânica (institucional), pela "rup cionária de Gramsci, está na mudança da direção estra
tura", pela tomada do poder, pela destruição do estado tégica de tomada do poder. Em vez de realizar o assalto
burguês e fundação do "Estado-Classe" (totalitário, direto ao Estado e tomar imediatamente o poder como na
"estatolatria") e pela implantação da nova ordem socialis concepção de Lenine, a sua manobra é de "desgaste",
ta marxista. Assim, o conhecimento da concepção revo designando a sociedade civil como primeiro objetivo a
lucionária gramscista fica incompleto para as pessoas co- conquistar, ou melhor, a dominar. Conquistar a socieda
muns. de civil significa lutar pela hegemonia, isto é, elevar as
Gramsci foi um convicto marxista-Ieninista. Em que classes subalternas (operários, camponeses e excluídos
pesem as idéias inovadoras que propõe, permanece sem da sociedade burguesa), inferiorizar a burguesia e enfra
pre ligado, intelectual e ideologicamente, ao marxismo; não quecer o Estado burguês. Isto será feito predominante
é um dissidente nem um "herético", mas um inovador. mente pela guerra psicológica ou penetração cultural para
No momento em que constatou o fato histórico de minar e neutralizar as "trincheiras" e defesas da socieda
que a estratégia marxista-Ieninista de tomada do poder, de e do Estado burgueses. Nesta longa luta de desgaste
vitoriosa na Rússia em 1917, não teve êxito nos países se incluem a "neutralização do aparelho de hegemonia"
europeus (entre 1921 e 1923 na Alemanha, Polônia, da burguesia e do "aparelho de coerção" estatal (b) e a
Hungria, Estônia e Bulgária) de economia capitalista e de "superação" dos meios materiais e dos valores intelectu
sociedade democrática, passou a considerar outro mo ais e morais das classes subalternas e das classes bur
delo revolucionário. Fez assim, a distinção entre socieda guesas, fazendo-as aceitar (ou a se conformar com) a
de "oriental" e sociedade "ocidental", compreendendo que transição para o socialismo como coisa natural, evolutiva
a "transição para o socialismo" teria que ter concep e democrática (c).
ções diferentes numa e noutra condição político-social. A luta pela hegemonia se desenvolve preliminar
O ataque frontal ao Estado para a tomada imedia mente na realização de uma profunda reforma intelec
ta do poder, com o emprego da violência revolucionária tual (ideológica) e moral (cultural) da sociedade civil. Tra
)
foi comparada por Gramsci à "guerra de movimento". E ta-se "de elaborar uma filosofia que se torne o senso
a concepção estratégica original de Lenine. comum renovado, coerente com a filosofia popular" e
Nas sociedades "ocidentais", a luta teria que ser com os fins buscados no processo político-ideológico no
semelhante à "guerra de posição", longa e obstinada, qual tudo deve estar inserido. Para isto, é preciso estabe
conduzida no seio da sociedade civil para conquistar cada lecer um amplo sistema orgânico e também "espontâneo"
"trincheira" e cada defesa da classe dominante burgue- no interior da sociedade civil, abrangendo variados ca-
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nais informais, desligados das organizações políticas (par autoritária que, fazendo a censura de fato e assumindo o
tidos e estado), por meio do qual se fará a penetração monopólio do discurso, exercem a direção cultural e polí
dos novos sentimentos, conceitos e expectativas. Sub tica da sociedade civil e do próprio Estado. O projeto
versão cultural que tem por objetivo a formação do con gramsciano de superação do senso comum burguês é
senso que criará as condições para a tomada do poder. um elemento desencadeador de um fenômeno em ca
O agente destas ações é o intelectual orgânico. deia, criando um clima de mudanças, naturalmente
Todos os membros do partido revolucionário devem ser estimulador, que elimina a estabilidade dos valores e con
considerados "intelectuais", não importa em que níveis ceitos da sociedade, enfraquecendo suas convicções cul
funcionais se encontrem. O novo intelectual não é ape turais e suas resistências morais e cívicas (d).
nas um orador eloqüente, o eletrizador de multidões, mas Finalmente, quando uma pessoa supera critica
aquele que se tornou dirigente; aquele que orienta, influ mente o senso-comum e aceita novos valores e concei
encia e conscientiza ("especialista + político"). tos culturais e sociais, terá aceito uma filosofia nova e
Os intelectuais tradicionais, cujo tipo é vulgar estará em condições de compreender uma nova concep
mente reconhecido como cientista, filósofo, literato, artis ção do mundo e contribuir para a sua concretização.
ta e profissional dos meios de comunicação social, estão G ramsci admite porém a possibilidade de ocorrer
ligados a valores e cultura antigos, sem identificação com um instante crítico e delicado no processo de transforma
uma ideologia de classe, formando um grupo isolado sem ção intelectual e moral da sociedade; um vácuo ético-so
ligação com as massas. cial e individual, um período de relaxamento e de dissolu
O grupo que luta pela hegemonia e pelo domínio ção moral decorrente da perda momentânea dos valores
(conquista do poder) vai lutar também pela assimilação e e tradições anteriores.
conquista ideológica dos intelectuais tradicionais. O risco para ele é necessário e se justifica porque
Os intelectuais estão difundidos nos partidos, nos uma "nova concepção se está formando". O empreendi
órgãos de comunicação social, nas cátedras, nos "apare mento revolucionário, apesar de tudo, é "ético" porque é
lhos privados de hegemonia", nas ONG, nas comunida adequado aos fins pretendidos.
des (de moradores de favelas, acadêmicas, de minorias,
etc) e na manifestação artística, ativos e conscientes po * * *
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Ihida por uma importante parcela da esquerda mar Gyorgy Lukács, um dos filósofos da Escola de Frankfurt
alguns intelectuais democratas acham que já é irreversível. até de libertinagem e de dissolução moral.
Isto está longe de se excluir, mas também
Entretanto o movimento revolucionário apresenta defici
não constitui argumento válido. Períodos de
ências e vulnerabilidades que, exploradas inteligentemen
dissolução moral muitas vezes se verifica
te, permitem ainda a sua contenção e reversão. Mas, se
ram na história, ainda que a mesma con
a sociedade nacional permanecer como espectadora im cepção moral geral mantivesse seu domí
passível, complacente e até mesmo simpática à reforma nio, e originaram-se de causas reais con
intelectual e moral que vem sofrendo, certamente a revo cretas, não de concepções morais: eles
lução marxista-gramscista será vitoriosa a médio prazo. muitas vezes indicam que uma concepção
E, assim, o Brasil seria o exemplo histórico de ter envelheceu, desagregou-se, tornou-se pura
sido o primeiro país no mundo onde a concepção hipocrisia formalista, mas tenta se manter
em pé coercivamente, forçando a socieda
gramscista de tomada do poder teria tido êxito.
de a uma vida dupla; precisamente à hipo
crisia e à duplicidade reagem, de forma exa
NOTAS gerada, os períodos de libertinagem e dis
solução, que anunciam quase sempre que
uma nova concepção está se formando. "
(a) E s t e t exto é um ext rato da obra A REVOLUÇÃO
(Antonio Gramsci - Cadernos do Cárcere). .
Gramscista NO OCIDENTE, do mesmo autor.
(d) A mudança intelectual e moral supõe o rompimento com o
(b) Os "aparelhos privados de hegemonia" da classe dominan
passado. Assim, as tradições culturais, éticas e religiosas
te e os aparelhos de coersão do Estado burguês são as
devem passar por uma profunda revisão e a história nacio
"trincheiras e fortificações" que impedem a revolução nos
nal ("oficial") será "reescrita" com a crítica dos valores cívi
países de capitalismo moderno e de democracia avança
cos burgueses e sob a ótica da opressão da classe domi
da: São elas o próprio Estado e suas agências governa
nante e da luta de classes.
mentais e as instituições civis: os partidos políticos, o sindi
cato, a escola, a igreja, a família, o aparelho policial, as
forças armadas, etc.
(c) Pouco antes de Gramsci fazer o seu diagnóstico e reco
mendar a neutralização das "trincheiras" da burguesia,
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ESTRATÉGIA LENINISTA
("Guerm de Movimento")
\
R
ESTRATÉGIA GRAMSCISTA
("Guerm de Posição")
Ampliação do Estado
====== Cadernos da I..iberdacle ======
o MOVIMENTO COMUNISTA NO
BRASIL
Sergio A. de A. Coutinho
* * *
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======= Cadernos da Li1erdade =======
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-
======= Sergio Augusto de Avellar Coutinho ======= ======= Cadernos da Li1erdade =======
do XX Congresso, provocou ásperas discussões inter esta meta pelo "domínio do governo", antecipando a alter
nas e o afastamento de vários quadros discordantes, par nativa da "via eleitoral". Para tanto teria que aprofundar os
ticularmente intelectuais, jornalistas e artistas. Entretan compromissos com o Presidente e fazê-lo parte do em
to, a divergência mais grave se transformou em "racha", preendimento. Por esta razão apoiou decisivamente a sua
isto é, em cisão. Em 1962, o grupo divergente mais radi posse quando contestada pelos ministros militares.
cai, repudiou a "via pacífica" e criou o PARTIDO COMU O "Partidão" agiu coerentemente. Entretanto, as
NISTA DO BR ASIL (PC do B). Os dissidentes preconiza demais organizações marxistas-Ieninistas e as esquer
ram a violência revolucionária como único caminho para das nacionalista-populistas fizeram opção pela violência
"dar o poder ao povo". Valendo-se da experiência trazida armada. Esta escolha as levou a uma radicalização in
do PCB, iniciaram o trabalho de massa, principalmente sensata (grevismo e tumultos) o que acabou provocando
no campo, e se aproximaram da doutrina do maoísmo e justificando a apreensão da sociedade brasileira e a
chinês, o que culminou com a chamada "Guerrilha do reação político-militar de 1964, uma contra-revolução res
Araguaia" (anos de 1970) de resultados tão trágicos. De tauradora. Com isto, o projeto do PCB foi interrompido
pois disto, o PCdoB foi buscar a sua inspiração "stalinista" justamente quando se mostrava tão promissor.
no atrasado e anacrônico regime da Albânia. O que se passou nas esquerdas no Brasil naque
As divergências no Partido Comunista Brasileiro les anos de 1961 a 1964 foi a convergência de interes
favoreceram o surgimento de novas organizações revo ses, ambições e objetivos de lideranças populistas de um
lucionárias e exacerbou o nacionalismo populista, todos lado com os de um movimento comunista revolucionário
realizando "análises" próprias da "realidade brasileira", do outro. Aquelas eram barulhentas e ostensivas; este
preconizando diferentes soluções para as contradições era consistente, objetivo e com uma estratégia de toma
internas da sociedade nacional. E assim, o PCB, até en da do poder bem montada, agindo perseverante e discre
tão único centro organizado do MCB, viu-se acompanha tamente.
do de novas organizações marxistas muito independen Embora a indisciplina inoculada em setores inferi
tes da "ortodoxia do partidão". ores das Forças Armadas e a ameaça de ruptura da hie
A inopinada renúncia do Presidente Jânio Qua rarquia tenham sido o fator de unanimidade dos militares
dros desencadeou grave crise ( Agosto de 1961). Os Mi e a razão que os moveu em 31 de março de 1964, na
nistros Militares manifestaram a inconveniência da posse realidade mais do que defendendo valores institucionais,
do Vice-Presidente João Goulart. A radicalização de posi estavam realizando uma contra-revolução.
ções contrárias quase leva o país à guerra civil. Nesta Após a contundente derrota, a "autocrítica" da es
crítica situação surge uma solução de compromisso, o querda foi imediata, acre e simplista. O PCB, que saiu do
Parlamentarismo e João Goulart assumiu o governo. acontecimento praticamente ileso, acusou a intromissão
O Partido Comunista Brasileiro, tinha um projeto de Cuba, o radicalismo das Ligas Camponesas e o exa
consistente para a tomada do poder: a "via pacífica". Seu cerbado movimento nacionalista-populista do ex-Gover
primeiro objetivo seria a conquista do governo para im nador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola de terem pre
plantar transitoriamente um governo "popular-democráti cipitado o processo revolucionário e provocado a reação
co". As circunstâncias favoreciam a tentativa de realizar político-militar.
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trotskistas (esquerda trotskista) - os revolucionários ra levaram a nova frustração quando assistiram daqui a der
dicais. rubada do Muro de Berlim, a dramática e repentina disso
lução da União Soviética, a desarticulação do MCI e o
Com algumas modificações, o Partido tem esta desmoronamento do Sistema Socialista alinhado com
arrumação interna até hoje. É interessante chamar a aten Moscou (1989 - 1991).
ção para o fato de que, das organizações ligadas ao ter O Partido Comunista Brasileiro (PCB), de ori
rorismo dos anos de 1970, só uma não se integrou ao entação soviética e de vinculação ao PCUS, evidentemen
Partido dos Trabalhadores: o MR-8 (Movimento Revolu te foi o mais atingido por estes acontecimentos. Diante
cionário 8 de Outubro) que guardou a sigla e atua inde da reviravolta do comunismo internacional, viu-se obriga
pendente e sem pretender registro eleitoral. do a tentar salvar o seu projeto, fazer um esforço quase
O ano de 1979 também marcou a consolidação heróico de sobrevivência e engendrar uma nova face. No
da denominada Igreja Progressista que, tomando a Teo ano de 1991 o partido realizou dois Congressos sucessi
logia da Libertação e o marxismo como suportes ideoló vos, o IXº e o Xº (ler o Texto Canto do Cisne ou Canto da
gicos, cada vez mais se afastou da submissão à hierar Sereia?). Outra vez o PCB se dividiu internamente, agora
quia da Igreja Católica Romana, sem no entanto, e por com três correntes divergentes: A primeira, a dos "reno
conveniência, romper com ela. vadores", sugerindo uma definição "renovada" do socia
Este fato, a criação do Partido dos Trabalhadores lismo; a segunda, a dos "ortodoxos", marxistas-Ieninistas
e a sobrevivência do PCB e do PC do B proporcionariam pró-Cuba, país comunista remanescente; a terceira, a dos
os pontos de referência para a reorganização das esquer "revolucionários", pequeno grupo também marxista
das no período que se seguiu. leninista crioulo que defendia a articulação com o PT e
A anistia de 1979 proporcionou o imediato retorno com o PSB numa frente de esquerda. Prevaleceu expres
ao Brasil de todos aqueles que foram voluntariamente para sivamente a tese dos renovadores mas com o receio de
o exterior e daqueles poucos que foram banidos. Ao che um novo "racha" no Partido como aconteceu em 1962 no
garem, juntaram-se aos que, pela mesma nova circuns Vº Congresso em torno da Coexistência Pacífica. Assim,
tância, emergiam da clandestinidade. O ambiente políti o velho Partidão, o "PC Bom" vestiu roupas novas, aban
co era favorável para a retomada dos projetos revolucio donou velhos símbolos e adotou outra denominação -
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ses. Em seu VIIIº Congresso, reafirmou abertamente to socialismo. Ficou menos ruidosa após 1991, muito mais
das as suas posições anteriores, prosseguindo na linha provavelmente pelas atitudes firmes do Papa João Paulo
da Esquerda Revolucionária. II em condenação à Teologia da Libertação e à esquerda
As Organizações Militaristas e Trotskistas não clerical, do que por inibição pela crise do comunismo.
se sentiram constrangidas pelo colapso do socialismo Porém os mais notáveis religiosos filomarxistas ainda não
soviético; nada mais do que um desconforto momentâ fizeram a sua autocrítica, ao contrário, continuaram fir
neo. Por isto, continuaram agregados ao Partido dos Tra mes em suas posições e solidários àqueles que se opõem
balhadores, permanecendo na linha interna radical e de aos "revisionistas" social-democratas.
oposição aos "moderados" não só no Partido como tam As esquerdas adjacentes a Movimento Comunis
bém na Central Única dos Trabalhadores (CUT). ta no Brasil se completam com grupos de menor expres
são mas muito atuantes: os anarquistas, os "socialistas"
É interessante saber que as esquerdas no Brasil populistas (d) e o Movimento Revolucionário Oito de Ou
também incluem outras linhas político-ideológicas não tubro, MR-8, organização da "luta armada" do período de
marxistas, cujas organizações e partidos entretanto mui 1966 a 1974.
to se relacionam com os grupos e partidos revolucionári O sinótico seguinte esquematiza as esquerdas
os do Movimento Comunista. São freqüentes as alianças brasileiras no ano de 2003:
eleitorais e a "sintonia" das respectivas palavras-de-or
dem, numa aceitação generalizada do "pluralismo das AS ESQUERDAS NO BRASIL
esquerdas", das frentes populares e das "alianças de clas
se" recomendadas por Gramsci. Neste grupo não-mar
UE RDA REVOLUCIONÁRIA
xista estão:
COInunista
A Esquerda Reformista brasileira, representa Stallnista - PCdoB. PCB (novo) e MR-8
Laborlsta - PT
A Esquerda Laborista, representada pelo Parti
do dos Trabalhadores, se define como socialista. É radi
@ ES UERD A REFORMISTA
cai na atuação política, expondo uma prática nasserista
(c), socialismo autóctone sem vinculação ao marxismo.
�IANISTA
�
Social- Dcnlocnlcia Ingtes,. - fablalUI - PSDB
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"sociedade civil" pela atuação dos partidos gramscistas, do PCUS, um grupo dissidente "rachou" com o Partido
e fundou o novo Partido Comunista do Brasil, agora
como para a "acumulação de forças" e a criação do clima
com a sigla PC do B que guarda até hoje. O velho Par
revolucionário pelos partidos comunistas de orientação
tido, o Partidão, prosseguiu, sempre fiel a Moscou, até
stalinista e trotskista. Nas condições políticas atuais, to
1991 quando o colapso da URSS o levou a renovar-se
dos eles são organizações políticas legais que fizeram e a assumir nova feição e nova sigla: PPS (Partido Po
opção tática pela "via pacífica" para a conquista do poder, pular Socialista). Outra vez, uma dissidência interna,
tratando de ostentar uma prática legítima de participação contrária a esta mudança, reuniu-se e recriou o antigo
do jogo político com todas as aparências democráticas PCB.
na atual fase revolucionária. (b) Agentes revolucionários enviados pela Internacional
A luta pela hegemonia, na verdade subversão in Comunista se anteciparam a Prestes para o preparo da
telectual e moral da sociedade nacional, se tem notabili revolução no Brasil: Henry Berger (i.e. Arthur Ernest
Ewert), alemão; Rodolfo Gluoldi e Carmem, argentinos;
zado pelo protagonismo de uma difusa classe constituída
Leon-Jules Valée e Alphonsine, belgas; Victor Allen
de intelectuais orgânicos colocados em posições-cha
Barron (agente de ligação), americano; Paul Franz
ve de comunicação de massa: mídia, cátedra acadêmica
Gauber e Érika, alemães. Em abril de 1935, Prestes
e do ensino médio, artes, editoras, etc. Assimilando ou chegou ao Brasil acompanhado de sua mulher Olga
tomando os intelectuais tradicionais adesistas ou Benário, ativista comunista alemã.
ingênuos por aliados, inocentes úteis ou companhei (c) Nasserismo, concepção revolucionária socialista não
ros de viagens, já constituem uma oligarquia autoritária marxista; que se caracteriza pelo nacionalismo radical.
que, fazendo a censura de fato e o monopólio do discur Tem origem no pensamento e ação política do primeiro
so, exercem a direção cultural e política da sociedade e presidente do Egito Gamai Abdel Nasser. De alguma
do próprio Estado e conduzem o processo revolucionário forma é o modelo do socialismo autoritário dos países
islâmicos; capitalismo de estado.
por meio do consenso em termos de objetivos e práti
O nasserismo do Partido dos T rabalhadores não se
cas, o que lhes garante unidade de ação e de propósitos.
refere a uma linha político-ideológica assumida mas a
uma referência ao socialismo autóctone não-marxista
que parece ter adotado.
(d) Socialismo nacionalista populista, tendência política
sem definição ideológica, mas autoritária, estatizante,
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na dissolução da União Soviética em 1991. A velocidade Algumas defecções ocorreram, juntando-se os dis
dos acontecimentos demonstrou todo o fracasso do soci sidentes a outras agremiações de esquerda ou simples
alismo marxista e a ilusão do comunismo. mente se declarando "marxistas independentes", como o
O choque da revelação e a visão contundente da escritor Jorge Amado, já afastado do PCB há muitos anos
realidade trouxeram, inicialmente, a perplexidade ao Movi mas sempre com ele solidário.
mento Comunista no Brasil. Diante desta reviravolta abrupta No X Congresso do PCB, reunido logo a seguir
e surpreendente, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), se (1992), o Partido "operacionalizou" a sua "transmutação",
viu na contingência de tentar salvar todo um projeto e fazer abandonando suas antigas feições "comunistas" e sím
um esforço quase heróico de sobrevivência. bolos que o identificavam. Passou a se dominar Partido
Obrigado a engendrar uma nova face e a elaborar Popular Socialista - PPS - e se identificou como organi
uma definição "renovada" de socialismo, o Partido refez zação de "centro-esquerda". Efetivamente assumiu uma
suas posições nos IXº e Xº Congressos (1991 e 1992). definição gramscista, portanto revolucionária e comunis
O IX Congresso do PCB se realizou em um mo ta, embora tenha mudado o papel de partido vanguarda
mento extremamente adverso para o prestígio do Partido do proletariado para partido orgânico das classes subal
e de grande perplexidade interna: o dilema: - ou renovar ternas. No fim, a mesma coisa. A imediata conseqüência
para sobreviver ou conservar por coerência. desta nova postura foi o"racha". Os dissidentes ortodo
Diante destas alternativas, as opiniões se dividi xos deixaram o partido e fundaram, ou refundaram o Par
ram no Partido e três correntes se manifestaram mais tido Comunista Brasileiro - PCB (o novo) que guardou a
significativamente: a primeira, a dos "renovadores" (os mesma linha marxista-Ieninista stalinista histórica..
"novos comunistas") com Roberto Freire à frente; a se O Partidão renovado vestiu roupa nova. Renegou
gunda, a dos "ortodoxos', marxistas-Ieninistas pré o Socialismo Real e assumiu um socialismo, de definição
perestroika e simpáticos à posição cubana, com o ambígua com inconfundíveis referências às concepções
arquiteto Oscar Niemeyer e Juliano Siqueira; a terceira, revolucionárias de Antônio Gramsci. Renegou a Ditadura
uma tendência alternativa constituída por pequeno grupo. do Proletariado e o Centralismo Democrático, adotando
marxista-Ieninista do Rio Grande do Sul defensor de uma conceitos transmudados, tais como "pluralismo socialis
articulação com o PT e o PSB numa frente de esquerda. ta" e "radicalismo democrático" (a), expressões mal
No final do Congresso, prevaleceu a posição re explicadas que significam mesmo democracia popular
novadora, na verdade uma "glanost" à brasileira. Roberto ou democracia de classe, nada tendo a ver com a de
Freire foi eleito Presidente do Partido e sua corrente con mocracia representativa. Esta, sistema de governo fun
tou com expressiva maioria (54% dos votos) elegendo 38 dado na soberania popular, do povo como um todo e no
dos 71 membros do Comitê Central. Os "renovadores", pluralismo político e social. Aquela fundada na classe pro
com o seu conceito de "pluralismo" esperam poder admi letária, excluídas todas as demais, sistema de governo
nistrar as divergências: "Sou presidente do Partido Co totalitário e de partido único.
munista Brasileiro na sua pluralidade. Vou exigir ape Enquanto isto se passava com o ex-PCB, as de
nas (...) a unidade de ação, não de pensamento", de mais linhas marxistas-Ieninistas fixaram-se em suas mes
clarou Roberto Freire. mas posições e até pareceram estar mais seguras de suas
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antigas convicções. supor que é ainda uma alternativa viável. Mesmo se po
O movimento Comunista Internacional se articu deria alegar que aqui poderemos nos valer da experiên
lou depois de ter perdido a sustentação do antigo centro cia alheia e não incorrermos nos mesmos erros de lá.
irradiador do comunismo e o Movimento no Brasil conti A terceira causa é a de que os partidos e grupos
nuou ativo e chegou mesmo a ganhar alento no esforço comunistas, exceto o ex-PCB, não se alhinhavam com o
de a u t o -afirmação. Além da liberalidade, senão pensamento do PCUS e a orientação soviética. Deste
permissividade, da nossa legislação partidária, podemos modo, estes partidos podem até apontar o fracasso do
apontar algumas causas para a sobrevivência do MCB e socialismo soviético e de seus satélites como comprova
do Partidão, em particular: ção de que a sua posição dissidente sempre esteve
Em primeiro lugar, sem dúvida, persiste no cha correta.
mado Terceiro Mundo a crença de que o socialismo ainda A quarta explicação está na compreensível resis
é uma solução milagrosa para um país subdesenvolvido. tência intelectual da liderança marxista-Ieninista local em
O fracasso na Europa e na África teria ocorrido em outros aceitar a inviabilidade e conseqüente fracasso do socia
ambientes, em outras circunstâncias e por mil outras ra lismo e, por extensão, a inviabilidade do sonhado comu
zões que não se aplicariam ao nosso país e à América nismo. Aceitar estas verdades seria reconhecer que labu
Latina. taram em erro toda uma vida, atestado de incompetência
O nosso atraso econômico e social ainda poderia e de falta de visão. Seria admitir que preconizaram para o
encontrar explicações em temas de fácil aceitação por país e para o mundo um sistema brutal e ineficiente. Por
um povo frustrado e ingênuo como, por exemplo, no "Im isto convinha que a autocrítica, se houve, fosse amena e
perialismo" que continua sendo sedutora bandeira de luta, que se reconhecesse que o socialismo não fracassou.
no "modelo econômico neoliberal" ou na "globalização", Os regimes e os homens, estes sim, fracassaram, por
que é instrumento da oligarquia financeira mundial. A po que transigiram com o capitalismo e se deixaram derrotar
breza ostensiva e irreversível de parcela ponderável de pela conspiração do imperialismo ocidental.
nosso povo dá pretexto à condenação do capitalismo por O quinto motivo seria a profissionalização dos
selvagem, injusto e concentrador de renda. Associa-se a quadros comunistas que os deixa sem opção ideológica
esta argumentação a convivência histórica da nação com e de sobrevivência. Não há como voltar atrás, nem estão
um Estado patrimonial e previdenciário que faz crê-lo ca forçados a isto. O fracasso é alheio, de outros países, e
paz de promover o desenvolvimento e uma mais justa não deles.
distribuição de renda. Para isto bastaria que viesse a ser A última razão é talvez a mais importante: a so
conduzido por "forças progressistas" e comprometidas brevivência de regimes comunistas em Cuba e na China
com as "causas populares". Popular. A Revolução Chinesa ainda está em curso e as
A segunda razão, o fato de o sistema político e transformações decorrentes ainda se fazem visíveis e
econômico vigente no Brasil não ser socialista, poupou notadas. O processo lá ainda não está esgotado embora
aqui o socialismo da crítica de ter fracassado. Assim, não já se manifestem algumas oposições. Aliás, violentamen
tendo sido posto à prova e não tendo sido expostas as te reprimidas. O socialismo cubano só sobrevive às cus
suas imperfeições e monstruosidades, poder-se-ia até tas da ditadura de Fidel Castro. Não tem a menor possibi-
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Sergio A. de A. Coutinho
71
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}
- empregar a força, realizando a "ruptura" (a
superação da ordem legal).
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o golpe-de-es tado, para superar a ordem jurídico Todo este jogo político e psicológico será conduzi
institucional vigente e implantar a Ditadura. do com ostensiva aparência de legalidade, de jogo de
A preparação do "salto qualitativo" é um intenso mocrático legítimo e terá por finalidade criar o clima revo
trabalho político e psicológico de agitação e propaganda, lucionário e gerar a crise institucional. Para precipitar o
conduzido principalmente pelas pressões de cúpula e desfecho, um incidente de impacto pode ser provocado
pelas pressões de base. como, por exemplo, um atentado violento atribuído ao
As pressões de cúpula são realizadas pelo go adversário, uma demonstração pública de grandes pro
verno e pelos seus organismos. Consistem principalmen porções ou um conflito popular. O ato final será o golpe
te na apresentação de reformas e na insistência de sua de-estado, em força ou "branco", que, eventualmente,
aprovação no Congresso (eventualmente com recursos poderá ter o respaldo do Congresso intimidado, a "legiti
ao judiciário), exigência de poderes especiais e de modi midade" de um indiscutível plebiscito, ou de uma monu
ficações constitucionais. Incluem ainda a intimidação dos mental manifestação popular.
adversários por meio de denúncias, processos judiciais e Tudo isto, porém, só será possível com a organi
até de chantagem e corrupção. zação do "braço armado" do Partido. Ele poderá ser cria
O g o verno pode ainda cria r dificuldades do pelas "comissões de fábrica", sindicatos, movimentos
econômicas, desabastecimento e outras restrições para rurais, polícias expurgadas e politizadas (federais e esta
alegar ingovernabilidade, culpando os opositores, duais) e por setores cooptados das forças armadas. Es
"especuladores, empresários corruptos, sonegadores, a tas, de resto, deverão ser neutralizadas pelo seu afasta
serviço do imperialismo internacional". mento dos problemas nacionais, restrições orçamentári
As pressões de base são conduzidas pelas or as e operacionais, limitação de competência e inibição
ganizações de "frente" ou pelas "bases" do partido (apa pela propaganda adversa. As forças armadas serão neu
relhos privados de hegemonia, na concepção de Gramsci) tralizadas principalmente pela perda do apoio e da confi
que reforçam as pressões de cúpula, com greves, de ança da Nação, que será convencida da necessidade de
monstrações, protestos, atentados, terrorismo, sabotagem mudanças radicais.
e toda sorte de manipulação da opinião pública para cons
* * *
tranger o Congresso ou o Judiciário e levá-los a decidir
de acordo com os interesses revolucionários. Um pálido
exemplo da eficácia das pressões de base pode ser re Precedentes históricos, anteriores às resoluções
cordado na militância dos "caras pintadas" para pressio do XX Congresso do PCUS, e tentativas posteriores de
nar o Congresso a votar o "impeachment" do Presidente tomada do poder pela alternativa "etapista", oferecem
Collor de Mello em 1992. exemplos e ensinamentos da condução desta concepção
A combinação das pressões de base e de cúpula revolucionária.
pode ocorrer no recurso ao referendo popular, o plebis Curiosamente, os dois primeiros episódios não
cito, que pode ser até convocado com abuso de poder foram conduzidos no curso de movimentos revolucionári
para superar eventual resistência do Congresso às pro os comunistas mas no de golpes de direita. Os fascistas
postas revolucionárias. chegaram ao governo da Itália em 1922, obtendo a no-
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...
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cabeça por um forte movimento demo de Fuzileiros Navais. Talvez contasse também com ele
crático e nacionalista (. . ) .
. "
mentos mobilizados pela esquerda populista de Brizola e
'� tomada do estado burguês de de Francisco Julião, respectivamente, os "grupos dos
seu interior para fora. Finalmente, uma onze" e as "Ligas Camponesas".
vez a cavaleiro do aparelho do estado,
converter rapidamente, a exemplo de No Chile, Salvador Allende tentou a "via pacífica"
Cuba de Fidel ou do Egito de Nasser, a em 1971-1973. Elegeu-se Presidente da República pelo
Mir, A Revolução Impossível). (UD). Para vencer o segundo turno eleitoral, fez um acor
do com o Partido Democrata Cristão (Pacto Democráti
A revolução comunista conduzida pela "via pacífi co) comprometendo-se a preservar a democracia e não
ca" foi interrompida pela intervenção cívico-militar quan recorrer ao golpe. Mesmo assim, depois de vitorioso, ten
do ficou evidente a tentativa da tomada do poder em cur tou o "salto qualitativo" mas sem êxito. Nas eleições par
so pela agitação incontrolada e os desacertos políticos e lamentares de 1972, a UD foi derrotada. Allende teve que
econômicos do governo. radicalizar a acumulação de forças. Com a descoberta de
O modelo etapista foi conduzido "doutrinariamen seu plano golpista, foi deposto por um movimento cívico
te" e serve de exemplo didático para se acompanhar e militar. A precipitação do processo revolucionário teve que
entender os movimentos revolucionários em curso em se dar pelo curto prazo remanescente do mandato presi
outros países e no Brasil, especialmente. dencial e por não ser permitida constitucionalmente a re
As pressões de cúpula foram exercidas sobre o eleição naquele país.
Congresso, exigindo a aprovação das chamadas Refor No Brasil, a prudente tradição republicana impe
mas de Base e de medidas de exceção (estado de sítio) dindo mandatos sucessivos nos cargos executivos foi que
que fortaleciam o Presidente, abriam caminho para o "salto brada por Fernando Henrique Cardoso que conseguiu
de qualidade", e para a ruptura da ordem legal. emenda à Constituição que lhe garantiu candidatar-se para
As pressões de base foram conduzidas particu um segundo termo presidencial. Em 1964, João Goulart
larmente pelos movimentos sindical e estudantil com gre não conseguiu tal prerrogativa apesar da pressão de cú
ves, manifestações e distúrbios. O ato exemplar de pres pula e do apoio do Partido Comunista Brasileiro.
são e de impacto sobre o Congresso e a sociedade foi o Os modelos de tomada de poder, tanto o assalto
denominado Comício da Central de 13 de Março de 1964, ao poder, como a "via pacífica", são alternativas que os
numa tentativa de mobilização popular e de demonstra partidos revolucionários marxistas e masseristas podem
ção de apoio nacional irrestrito. adotar no Brasil. Teoricamente, os partidos marxistas
O Partido contava, para o momento da ruptura, leninistas stalinistas (PCdoB e PCB, novo) e trotskistas
com um braço armado constituído de milícias de operári (PST U e PCO) preferem doutrinariamente o modelo de
os que deveriam ser reunidas pelos sindicatos e de um assalto ao Poder. Os partidos marxistas-Ieninistas
segmento de militares aliciados no Exército e no Corpo gramscistas (PPS e PSB) não declaram opção para a to-
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-
'\CUMULAÇAo DE FORÇ'A.'i
o
n
ções revolucionárias da América Latina foi a oportunida
te
n, f------, R de bem aceita por Luiz Inácio Lula da Silva. Assim veio a
o
se fundar o denominado Foro de São Paulo (FSP).
Dez anos depois, nova e mais ampla oportunidade
* * *
2" ETAPA-REVOLUÇAO
SOC'lALL'flA
A VIA I'ACÍFICA
O Foro de São Paulo (FSP) é uma congregação
OU de partidos, organizações e movimentos de esquerda,
ETAJ'ISTA
80 81
. tas r�vol� c.ionários d�
predomir'tan�9J1lente �arxista�leninis - MR-8 ....; Movimento Revolucionário 8 de Outubro -
criada em 1.990 com patrocm _ lo do PartI
América Latina, - 'r Brasil ;Y
do Comunista Cubano e do Partidó dos Trabalhadores . - PPS - Partido Popular Socialista - Brasil
Alegadamente teria sido uma iniciativa geral das entida - ElN - Exército de Libertação Nacional - Colômbia
. .
des participantes com a finalidade de debater o socIalIs - FARC � Forças Annadas Revolucionárias çja Colômbia
mo após o colapso da União Soviética e discutir uma "al - PCCr� Partido Comunista Colombiano
ternativá popular e democrática ao neoliberalismo". - Presentes por el Socialismo - Colômbia
A idéia da.fundaçãó surgiu de uma reunião havida - MIR-Movimento Independente Revolucionário - Chile
em Havana, 'convocada por luiz'lnácio lula dá Silva, a - PCC - Partido Comunista do Chile
pedido do'Partido Comunista Cubano e por sugestão de - MPD - Movimento Popular Democrático - Equador
Fidel Castro, � que ' c ompareceram representantes de - PS/FA-Partido Socialista - Frente Amplio - Equador
várias organizações de esquerda do Continente. A lista - PT - Partido dei Trabajo - México
dós membros do' Comitê Coordenador e dos integrantes - PIP - Partido Independentista Puertorriquenho
do Foro, dão uma idéia da sua heterogênea composição - Novo Movimento Independentista Puertorriquenho
mas deixa claro o traço comum marxista-Ieninista e revo - FS - Frente Socialista - Porto Rico
lucionário de quase todos: . -'Movimento Revolucionário Tufac Amaru - Peru
- PCC .: Partido Comunista Cubano f1
- PCP - Partido Comunista Peruano
- PT - Partido 'dos Trabalhadores - Brasil -- Alianza por la Democracia - República Dominicana
'- 'FSlN - Frenfe Sandinista de L:ibertação Nacional - - Fuerza de la Revolucion -República Dominicana
, ,(
Nicàráguá ' . - Movimento tzqLiierda Unida - República Dominicana
- FMLM - Frente Farabundo:Martí de LibertaÇão Na-
_ .
'
- Gru'po Terr6rista1té Jean Bernardes Aristides..!. Rái..i - MPP -Movimento de Participación Popular - Uruguai
- 'U RNG '- Unlãer'Rév oiluêión,ária N aC'ional da - POR ...... P.artido Obrero Revolucionário Trotskista
. , " ,' .J'
' •
'- ,
:. Causà R ":Oausa Aadicàl-Vehezuela (Hugo Ohaves) Gomo já foi dIto, a primeira reunião da entidade se
. ,
n - Frente Ampla do Uruguai" ,.. deu em São Paulo em julho de 1990 com a denominação
I
.; TPP � Todos'por la Pátria' " ,I"
. de Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda da
- FDA - Frente Democracia Avançada - Argentina América latina e Garibe, convocada pelo PT. Reuniu cer
- PCA - Partido Comunista Argentino ca de 48 'organizações de diversos países e de variada
- PI - Partido Intransigente - Argentina oriéntàção político-ideológica.
- PSB .:... Partido SOCialistá Brasileiro' A denominação Foro de São Paulo f icou
- PCB - Partido Comunista Brasileiro i 1 L estabelecida na segunda reunião, ocorrida no ano s�guinte
. Ir
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======= Sergio Augu.to.de Avellar Coutinho ======= ====== Caderno. da l.iLerdade ======
(1991) na Cidade do México. "Encontro" passou a desig Enquanto Fidel Castro tomava a iniciativa criando
nar as reuniões do Foro que, praticamente, ocorrem anu o Foro de São Paulo, as tendências marxista-Ieninistas
almente, desde a sua fundação: clássicas, geralmente centradas em partidos-vanguarda,
I Encontro - São Paulo - 1990 se refaziam no âmbito do movimento comunista interna
II Encontro - Cidade do México - 1991 cional. O restante das esquerdas revolucionárias "hete
- III Encontro - Manágua, Nicarágua - 1992 rodoxas" (socialistas revolucionários, anarquistas, comu
- IV Encontro - Havana 1993 - nistas não leninistas, etc) permaneceu fragmentado, mas
- V Encontro - Montevidéu - 1995 não inativo. Proliferando em milhares de organizações
- VI Encontro - EI Salvador - 1996 não-governamentais (ONG) atuava principalmente tendo
- VII Encontro - Porto Alegre - 1997 por palavras-de-ordem o pacifismo, os direitos humanos
- VIII Encontro - Cidade do México - 1998 e o meio ambiente.
- IX Encontro - Manágua - Nicarágua 2000 - Em J 998, foi criada em Paris a Associação para
X Encontro - Havana - 2001 uma Taxação às Transa ções (financeiras e
- .. XI Encontro - Antigua - Guatemala - 2002 especulativas) para Ajuda aos Cidadãos - ATTAC. Action
pour une Taxiation des Transations financiares et pour
Do X Encontro participaram 513 delegados e ob laide aux Citoyens. Entre os fundadores estavam sindica
servadores de 82 países, 73 partidos membros da Améri tos e diversas tendências político-ideológicas, destacan
ca latina e 138 outros partidos revolucionários da Euro do-se as anarquistas. À ATTAC se reuniu ao Le Monde
pa, Ásia e África. Diplomatique (o Diplô), publicação periódica de esquer-
Nos encontros, de um modo geral, têm sido ela . da que passou a difundir as idéias do grupo. As duas en
boradas resoluções e recomendações que reafirmam os tidades atraíram um sem número de ONG e de movimen
objetivos socialistas e anti-imperialistas comuns, bem tos alternativos - minorias sociais, raciais, sexuais (gays,
como declarações que defendem a soberania de Cuba e lésbicas) e feministas de todo o mundo. A atuação inicial
do regime comunista de Fidel Castro. da nascente "Internacional" se fez pela aplicação da pres
O Foro de São Paulo pretende fazer re são de base sobre os governos democráticos e social
nascer a III Internacional, retomando a caminha democráticos da Europa para forçá-los a agir segundo
da do Socialismo mundial a partir da América suas teses. Em seguida, partiu para a promoção de gran
latina. Apresenta-se como a natural continuação des e violentas manifestações antiglobalização, toda vez
da Organização latino-Americana de Solidarie que ocorria uma reunião internacional de países ou de
dade (OlAS) criada em 1967 em Havana por organizações liberais ou capitalistas:
sugestão e participação de Salvador Alende que
viria ser o presidente revolucionário do Chile em - 2000 - Em Seatle, EUA, Rodada Alternativa em
1970. Possivelmente, o objetivo mais imediato oposição à Rodada do Milênio da OMC.
seja reverter o isolamento de Cuba no Continen - 2000 - Em Melbourn, Austrália.
te e no mundo. - 2000 - Em Genebra, Suíça, contra reunião de
organizações da ONU.
* * *
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======= Sergio AuguRo de Avellar Coutinho ======= ====== Cadernol da Liberdade ======
- 2000 - Praga, na Eslováquia, em protesto à reu Em fevereiro de 2000, dois integrantes da esquer
nião do FMI. da clerical brasileira (políticos do Partido dos Trabalhado
- 2001 - Quebec, Canadá, em oposição à reunião res) reuniram-se em Paris com os dirigentes da AT TAC e
da Cúpula das Américas. do Le Monde Diplomatique e propuseram a criação do
- 2001 - Goteborg, Suécia, contra a reunião da Forum Social Mundial (FSM) em caráter permanente (a).
Cúpula da U
. nião Européia. A idéia foi bem recebida e, com a realização do primeiro
- 2001 - Gênova, Itália, contra a reunião da Cúpu encontro em Porto Alegre em 2001 , estava fundada a In
la de Chefes de Estado do G.8. ternacional Rebelde ou Internacional da Resistência. O
- 2001 - Washington, EUA, a manifestação "US FSM tem o caráter de encontro de debates e de con
Day" contra a intervenção militar no Afeganistão gresso anual de nova "Internacional".
após os atentados terroristas de 11 rde Setembro. O Fórum Social Mundial (FSM) passou a se reu
- 2003 - Evians, França, protestos contra a reu nir anualmente desde 2001 em Porto Alegre, RS, por ini
nião da Cúpula de Chefes de Estado do G8, da ciativa das entidades francesas e da esquerda clerical
qual participaram também governantes de países ligada ao PT, para discutir "alternativas mais adequadas
emergentes, inclusive Lula da Silva. para alcançar o 'mundo novo' do socialismo".
Para um dos seus ideólogos internacionais, o
Algumas destas demonstrações foram à extrema Fórum seria o "embrião de uma autêntica internacio
violência, conseguindo, às vezes, interromper os eventos nal rebelde", expressando a intenção de construir uma
contra os quais foram mobilizadas. O grupo promoveu entidade de orientação mundial das esquerdas "hetero
ainda alguns encontros de discussão, antes de assumir a doxas". Lula, presidente de honra do PT, reconheceu que
amplitude de uma internacional: o objetivo do FSM é "impulsionar o esquerdismo e o
- 1999 - O II Encontro Americano pela Humanida socialismo no mundo inteiro".
de contra o Neoliberalismo em Belém do Pará. O FSM tem sido convocado e patrocinado até aqui
- 2001 - Fórum Mundial de Educação. pelo Partido dos Trabalhadores, valendo-se do fato de ter
- 2001 - Fórum Social de Gênova, oposto à reu- ocupado os governos do Estado do Rio Grande do Sul e
nião da Cúpula de Chefes de Estado da G.8, que da Prefeitura de Porto Alegre nos últimos anos, o que lhe
se transformou em violentas manifestações. facilitou a realização de um evento de tão grandes pro
porções.
O grupo anarco-comunista de Paris tem ligações O Fórum Social Mundial, também chamado Fórum
com os fundamentalistas e terroristas islâmicos. Isto fi de Porto Alegre, se reuniu em três anos seguidos (b):
cou patente no fórum social e nos distúrbios de Gênova - 1º FSM - 2001
onde foram identificados militantes da Jihad libanesa, do - 2º FSM - 2002
Hamas, do PKK Curdo e de outros movimentos radicais - 3º FSM - 2003
islâmicos. Bem Bella, ex-presidente revolucionário da Ar
gélia, compareceu ao I Encontro do Fórum Social de Por As datas de realização intencionalmente coinçi
to Alegre. dem com a realização do Foro Econômico Mundial,
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...
===== Sergio Augulto de Avellar Coutinho ===::::;:::=== ====== Cadernos da Liberdade ======
Davos, Suíça (c) como forma simbólica de oposição ide T ransformistas e Transgêneros" (e).
ológica e de luta antiglobalização. Alguns participantes importantes do FSM identifi
Cada reunião anual do FSM é um acontecimento monu cam-na como uma "V Internacional" em formação. Entre
mental, constando de centenas de palestras, conferênci tanto sua heterogeneidade, linhas ideológicas e amplitu
as, debates, visitas turísticas, reuniões particulares, etc, de o assemelham à antiga I Internacional. Realmente
com a presença de milhares de delegados, participantes pode-se identificar uma ligação genética em linha direta
e visitantes. Para o 3º FSM em 2003, compareceram cer da Internacional Rebelde (2000) com a I Internacional
ca de 100 mil representantes de 5.717 Organizações Não (1864 -1876), não só pela semelhança da "diversidade"
Governamentais de 156 países. Pretensiosamente, seus político-ideológica dos seus integrantes (anarquistas, so
organizadores disseram que o Foro Social Mundial é maior cialistas revolucionários, comunistas, anticapitalistas e
do que a Organização das Nações Unidas em termos de "libertários") mas também por uma relação histórica que
representatividade. pode ser descrita (Ver Figura).
Os temas tratados ou discutidos nestes eventos Após a dissolução da I Internacional em 1876, os
estão principalmente ligados à reformulação de uma socialistas reformistas fundaram a II Internacional (1889
orientação ideológica e pragmática para as esquerdas - 1923) que veio a dar origem à atual Internacional Soci
revolucionárias que se acham muito diversificadas alista, social-democrata. Os comunistas marxistas encon
atualmente e não muito bem integradas ao Movimento traram seu espaço na III Internacional (1919-1991) cria
Comunista Internacional. da pela Revolução Bolchevista vitoriosa na Rússia (outu
A principal preocupação tem sido a discussão das alter bro de 1917).
nativas mais adequadas para alcançar o "mundo novo" Os remanescentes "heterodoxos" permaneceram
socialista: ativos mas não se estruturaram numa entidade
internacionalista.
- Reformismo ou revolução No período entre as duas Guerras Mundiais, os
- Diversidade ou vanguarda da revolução (d) anarquistas e seus próximos socialistas e comunistas não
leninistas desencadearam a sangrenta Revolução Espa
Os militantes ligados à Teologia da Libertação e nhola (1936 - 1939). Embora tenham sido derrotados, o
anarquistas declaram-se geralmente pelo reformismo, acontecimento tornou-se emblemático pela sua origem
enquanto setores radicais do PT, membros do Partido ideológica e por ter contado com o apoio das esquerdas
Comunista Cubano, "Chavistas", militantes de MST e mundiais, inclusive da Internacional Comunista soviética;
zapatistas do comandante Marcos do México manifestam primeiro exemplo de ''transversalidade'' representada pela
se pela revolução. solidariedade do MCI.
Também são tratados temas ligados· a O mesmo período de entre-guerras assistiu a fun
"desconstrução dos fundamentos da civilização cristã", dação da Escola de Frankfurt (1923), ligada à III Interna
em primeiro lugar da família tradicional. No 3º Fórum/2003, cional, cujos movimentos filosóficos existencialista,
este assunto foi abordado por movimentos feministas e desconstrucionista e pós-moderno vão produzir a Revo
pelo movimento "Gays, Lésbicas, Bissexuais, lução Cultural dos anos de 1960, com objetivo de destruir.
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nista Soviética
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tra os Estados Unidos e a guerra contra Saddan Husseim. tiva de inserção no Movimento Comunista Internacional.
A opção internacionalista do PT, concretizada a
* * *
partir de 1990, também se manifesta em dois outros acon
tecimentos, relacionados com a social-democracia, tor
É interessante notar que o Foro de São Paulo nando mais complicada a compreensão da sua linha ide
reúne partidos e organizações político-ideológicas. O ológica:
Fórum Social Mundial, diferentemente, congrega prin - Presença de luiz Inácio lula da Silva e de outros
cipalmente organizações não-governamentais (ONG) que membros do PT na reunião do Diálogo Interamericano
desempenham o papel de "organizações privadas de fabianista, levados por Fernando Henrique Cardoso
hegemonia" dos diversos movimentos anarco-comunis (1992).
tas, socialistas revolucionários, comunistas não-Ieninistas - Admissão do Partido dos Trabalhadores como "mem
e outros de definição ideológica não muito clara. Desta bro observador' da Internacional Socialista (2003).
maneira, os dois empreendimentos se completam; o pri
meiro, o FSP, sucede à Organização latino-Americana No plano nacional, o Partido e lula ainda mantêm
de Solidariedade (OlAS); o segundo, o FSM, repete a I uma prática aparentemente social-democrática que ca
Internacional, t e n t ando coordenar as esquerdas mufla a sua práxis revolucionária gramscista e desvia a
heterogêneas do MCI. atenção do significado da aliança eleitoral com partidos
burgueses, socialistas e comunistas, constituindo uma
Ao assumir o co-patrocínio do Foro de São Paulo, frente popular de concepção leninista.
junto com o Partido Comunista Cubano, e ao participar
da iniciativa de reunir o Foro Social Mundial, o Partido
dos Trabalhadores aprofundou a sua ambigüidade ideo
NOTAS
lógica. A feição nasserista do seu socialismo não-marxis
ta original, indefinido entre revolucionário e reformista, foi
complicada pelas afirmações de duas tendências inter (a) Os representantes brasileiros na reunião em Paris com os
diretores da ATTAC e do "Diplô" foram Francisco (Chico)
nas. A primeira, a dos marxista-Ieninistas revolucionários,
Whitaker, Secretário da Comissão Justiça e Paz da CNBB
os "organizados", antigos grupos terroristas (trotskistas
e Vereador de São Paulo pelo PT e Oded Grajew, empre
e foquistas) que se juntaram ao PT após a Anistia de 1979.
sário e também político do PT. Em Paris, encontraram-se
É mais entusiasmada pelo FSP. A segunda, a do grupo com Bernard Cassen, dirigente da ATTAC, e com Ignácio
do clero marxista integrante da "articulação", fração inter Ramonet, editor do Le Monde Diplomatique.
na que abrange os fundadores do Partido, são pessoas (b) Tem sido divulgado (Set 2003) que o encontro do 4º FSM
que se inclinam mais para a FSM. terá lugar em Belo Horizonte onde o prefeito é do Partido
O patrocínio e ativa presença do PT nos dois dos Trabalhadores.
conclaves incerem o Partido dos Trabalhadores no con (c) Foro Econômico Mundial, Davas, Suíça, é um centro de
junto das esquerdas internacionalistas, aproximando-o de debates sobre o capitalismo e a economia mundial. Cria
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internacional.
(d) A palavra diversidade tem sido usada pelas esquerdas com
diversos significados. Aqui, significa "pluralismo das esquer
das", conceito que se opõe ao de hegemonia de um parti 1876
1864
(;)
do-vanguarda revolucionário de inspiração marxista
leninista. ( t-' >z o - (1)Z i:'::I M �z - )
(e) Os movimentos alternativos e de minorias são estimulados Anticapitalistas
ou mesmo criados pelas organizações de esquerda revolu T T T
cionária como componente auxiliar da luta de classes
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REVOLUÇÃO CULTURAL
INTERNACIONAL
REBELDE
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======= Cadernos da Li1erdade =======
SEGUNDO CADERNO
INTERNACIONALISMOS INTROMETIDOS
-
INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO SOCIAL
(ESCOLA DE FRANKFURT) As velhas coisas novas As novidades
- 1923 - político-ideológicas que já eram velhas
quando foram resgatadas.
• Gyorgy Lukács
• Jean Paul Sartl"e
• Theodore AdOl"no A SOCIAL-DEMOCRACIA
• Michael Foucault
Sergio A. de A. Coutinho
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===== Sergio Àugusto de Avellar Coutinho ===== ======= Cadernos da LiherdaJe =======
político legítimo e não pela violência revolucio A II Internacional, igualmente, nunca teve real po
nária. der de coordenação dos partidos filiados, ainda que ti
vesse adotado o princípio do internacionalismo do prole
A concepção reformista e democrata de realizar o tariado. O sentimento nacionalista prevaleceu nas orga
socialismo e superar o capitalismo (mudanças institucionais nizações integrantes, vindo a se exacerbar na Primeira
progressivas) leva os partidos socialistas a preferirem a Guerra Mundial. Como conseqüência, a partir de 1919 a
forma de governo parlamentarista (generalizada na Euro Internacional entrou em declínio.
pa), não importa se monárquica ou republicana. Com efei Além do mais, no seio da entidade permanecia a
to, o parlamentarismo proporciona-lhes maior facilidade de controvérsia entre reformistas e revolucionários. Com
acesso ao governo, a longa permanência na gestão do a vitória da Revolução Bolchevista na Rússia (outubro de
Estado (continuísmo) e maior rapidez de volta ao poder 1917) foi criada a III Internacional soviética, em comple
em caso de eventual derrota eleitoral. ta oposição à II Internacional. Alguns partidos socialistas,
Por esta mesma r a zão, nos sistemas mesmo contrários ao comunismo de Lenine, criaram a
presidencialistas são a favor da reeleição do presidente e Internacional de Viena (conhecida por "Internacional Dois
propõem a reforma institucional para adoção do parla e Meio") na tentativa de unificar as duas Internacionais.
mentarismo. Não deu certo; o modelo revolucionário leninista tornara
Os partidos nacionais e organizações políticas se dogmático para os comunistas soviéticos, não dispos
desta linha político-ideológica, na sua grande maioria, são tos a se acomodarem com os socialistas reformistas.
filiados ou associados à Internacional Socialista, enti Em 1923, a II Internacional e a Internacional de Vi
dade fundada em 1951, mas com antecedentes que re ena se dissolveram. Em lugar delas surgiu a Internacional
montam ao século XIX. Suas raízes e s t ã o no Socialista e Trabalhista que duraria até 1945. Em 1947 foi
revisionismo de Eduard Bernstein que substitui a ação substituída pela Conferência Socialista Internacional que,
revolucionária do socialismo marxista por uma prática em 1951 muda de nome para Internacional Socialista
política parlamentar e democrática e por uma atividade como hoje é conhecida. A entidade congrega a social-de
reivindicatória sindical. Pode-se considerar que sua mocracia internacionalmente, mas não se propõe centrali
atuação histórica se inicia na fundação do Partido Social zar as ações dos partidos e organizações socialistas a ela
Democrático Alemão em 1875. ligados, concedendo a cada um deles a liberdade para atuar
Em 1889, por ocasião das comemorações do cen conforme as peculiaridades nacionais. Funciona assim
tenário da Tomada da Bastilha, socialistas de 23 países como um grande foro mundial de debate e de difusão do
se reuniram em Paris para a fundação da II Internacio socialismo na sua versão não-marxista. De fato, a Interna
nal. Recorde-se que, em 1864, foi fundada em Londres a cional Socialista rejeita a prática marxista-Ieninista:
Associação Internacional dos T rabalhadores que ficou - "Centralismo democrático" dos partidos co
conhecida como I Internacional, de influência marxista e munista-Ieninistas (b);
revolucionária. Durou pouco, sendo dissolvida em 1867, - Ditadura do proletariado (estatolatria);
sem ter tido efetiva capacidade de conduzir a revolução - Unidade nacional do partido comunista (par-
proletária mundial. tido único).
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Por esta posição dos social-democratas, os mar ta-Ieninistas. Entretanto, a tradição política provinda his
xistas-Ieninistas os acusam de revisionistas, reformistas toricamente do Estado patrimonial, centralizador e
e oportunistas. Apesar desta oposição irredutível, os co paternalista, tem certas afinidades com o Estado socialis
munistas não deixam de buscar pragmaticamente o apoio ta, controlador e intervencionista. Esta tendência sincrética
dos social-democratas para atingir seus objetivos. Real se manifesta no populismo e nas definições "socialmente
mente, os partidos marxistas-Ieninistas, principalmente avançadas" e reguladoras da vida privada dos cidadãos
aqueles que estão na legalidade, tentam passar uma ima contidas numa prolixa legislação. Por exemplo, na Cons
gem democrática, confundindo o seu discurso com o da tituição Federal (245 artigos), no Estatuto da Criança e
social-democracia, mascarando o seu projeto revolucio do Adolescente (267 artigos) e no Código Civil (2.046 ar
nário e iludindo os burgueses conservadores. Os princí tigos). O populismo e o nacionalismo xenófobo se fazem
pios político-ideológicos da Internacional Socialista ser confundir com socialismo, gerando um "esquerdismo"
vem muito bem aos propósitos comunistas de conduzir o oportunista e ideologicamente indefinido que se manifes
movimento revolucionário pela via pacífica (Ler o Texto A ta no uso inconsistente das palavras "social" e "socialis
V I A PAcíFIC A PARA O PODER), particularmente na eta mo". O esquerdismo exerce um fascínio bajulador sobre
pa que denominam "Revolução Democrática-Nacional" as elites intelectuais, políticas e econômicas. Por isto, a
que deve anteceder a tomada do poder. administração pública se deixa levar para o
Os partidos social-democratas têm grande impor assistencialismo paliativo e episódico, um arremedo de
tância política e eleitoral nos países da Europa Ocidental "Welfare State".
e no Japão. Na Noruega, Suécia, Dinamarca, Holanda e Criou-se no Brasil uma grande simpatia pela es
outros, foram capazes de realizar avançadas reformas querda, não só a reformista quanto a revolucionária, uma
socialistas criando nestes países o denominado "welfare permissiva tolerância à sua ação e à ambigüidade ideoló
state", aqueles de eficiente previdência social administra gica, levando a opções de "centro-esquerda", de "tudo
da pelo Estado. pelo social", e abrindo uma vulnerável sofreguidão por
Na Grã-Bretanha, a social-democracia constitui "mudanças". Grande número de partidos políticos traz em
uma versão própria. É representada pelo Partido Traba suas siglas o "S" de social ou de socialista, sem qualquer
lhista (Labour party) que não está ligado à Internacional razão doutrinária concreta, apenas simulando posições
Socialista mas ao pensamento político-ideológico da "progressistas" e "reformistas". Somente o Partido Demo
Fabian Society (Ler o Texto O FABIANISMO). crático Trabalhista (PDT) tem efetiva relação com a Inter
Na Ásia, África e América Latina, os partidos da nacional Socialista (c) mas, na verdade, sua prática polí
linha socialista têm pouca expressão, salvo no Chile e na tica mais se identifica com o populismo e o nacionalismo
Venezuela. Nestes continentes, não conseguem compe xenófobo, combinação conhecida por "socialismo more
tir com as organizações revolucionárias comunistas. Os no". A Internacional não tem influência significativa na prá
partidos socialistas geralmente adquirem feição naciona tica política nacional embora alguns de seus líderes es
lista e populista. trangeiros mais expressivos, de vez em quando, se per
No Brasil, também o socialismo reformista tem tido mitam fazer comentários e recomendações incômodas
pouca projeção, obscurecido pelas organizações marxis- em assuntos brasileiros, particularmente sobre direitos
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humanos, ambientalismo, minorias raciais e pacifismo. desde 1932, somente com um pequeno hiato fora do Ga
Há um grande número de organizações não-governa binete.
mentais (ONG) que são inspiradas, influenciadas ou liga No governo, o Partido pôde realizar as progressi
das ideológica e financeiramente à Internacional, a parti vas reformas, atingindo seus objetivos socialistas funda
dos e a entidades social-democratas, principalmente na mentais em poucos anos:
Europa. Estas ONG atuam tanto no exterior quanto no - Estatização e controle da economia
país, exercendo grande influência e até mesmo pressão - Nivelamento dos rendimentos das pessoas
sobre a opinião pública, políticos, personalidades, - Criação de um amplo sistema previdenciário
governantes e instituições. Na década de 1970, muitas estatal.
delas se juntaram a outras controladas pela Internacional Apesar de terem adotado medidas socializantes
Comunista Soviética para pressionar os governos do re radicais, os socialistas suecos não estatizaram completa
gime restaurador de 1964 e para denunciá-los por viola mente os meios de produção, tentativa de "simbiose" do
ção de direitos humanos, com o objetivo de desestabilizá socialismo com o capitalismo. Com isto não entravaram a
los e de forçá-los a abertura política que desse novamen modernização da economia do país e a geração da pros
te o espaço político necessário às atividades ostensivas peridade geral (d).
das esquerdas no Brasil. Para implantar o socialismo e perenizá-Io, o Parti
do Social-Democrata conseguiu a continuidade no poder
* * *
e criou um Estado centralizador e controlador da econo
mia e da sociedade, mantendo todavia a monarquia e to
Se quisermos ter uma visão antecipada de como das as aparências da democracia parlamentar.
seria o Estado e a sociedade socialistas na concepção Quem governa efetivamente não é a Dieta por in
social-democrata, podemos tê-Ia no socialismo reformis termédio do Gabinete mas uma "nomenclatura" instalada
ta já realizado na Suécia, com a aparência sedutora do no Estado e o "aparat" ("aparato") do movimento traba
Welfare State, o estado previdenciário. lhista dirigido pelo Partido e pela Confederação Sindical
O Partido Social-Democrata Sueco foi criado em (LO). Neste binômio, o Partido tem a seu cargo os assun
1889 com inspiração no Partido Social-Democrata Ale tos parlamentares e a administração do governo; os sin
mão e, inicialmente, com forte tendência ideológica mar dicatos, tratam da obtenção dos recursos financeiros, do
xista. Porém, há muito os socialistas suecos abjuraram controle ideológico dos trabalhadores (vale dizer, de toda
Marx. Mas a sua prática político-ideológica ainda revela a população) e dos votos destes. Partido e Confederação
forte influência marxista. Rejeitando o caminho revolucio Sindical são efetivamente ramos do Estado, constituindo
nário optaram pela "via parlamentar" para conquistar o uma estrutura abrangente de controle das massas. Es
governo e, no seio dele, realizar os seus objetivos. tende-se pelo país inteiro por meio de organizações lo
Em 1918, o Partido já era o mais importante da cais e funcionais de toda natureza (escritórios, bibliote
Dieta (Parlamento) e, a partir de 1920, chega ao governo, cas, cursos, comitês, agências, etc) parecidas com o sis
sozinho ou em coligação por várias vezes. Tornou-se tema de organizações de base (células comunistas) mar
hegemônico na Suécia, detendo o poder exclusivamente xista-Ieninistas.
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malmente, é livre. Entretanto, os jornalistas são também crática do Estado, sobre a educação (incluindo as univer
condicionados social e politicamente, aderindo inconsci sidades), sobre as forças armadas e sobre a inteira soci
entemente ao "senso comum modificado" que reconhe edade.
ce a excelência do sistema previdenciário estatal, a se Aparentemente feliz e sentindo-se seguro do pon
gurança social e econômica das pessoas e a prosperida to de vista social (previdência) e econômico (emprego e
de do país, tudo construído pelo Estado Socialista. A mai salário), o povo sueco não só é dependente do Estado,
oria dos profissionais de imprensa é oriunda das escolas mas também é condicionado cultural e politicamente e
de jornalismo de onde já vêm "de cabeça feita". Os jorna conformado com o continuísmo do regime, com a carga
listas também fazem parte do conformismo coletivo. tributária e com as limitações da sua iniciativa e desejos
Por si mesma, a mídia segue a linha de pensa pessoais. Intimamente vinculado à social-democracia
mento do Partido, sem crítica mas com aparente inde dominante, perdeu o verdadeiro sentido de liberdade. O
pendência. Deste modo, é praticamente impossível à opo cidadão passou a ser súdito do Estado e não mais o seu
sição fazer-se ouvir. soberano como nas democracias liberais.
a sistema previdenciário montado pelos social O condicionamento e o conformismo criaram no
democratas suecos ao longo dos anos é realmente efici povo sueco uma tendência ao consenso e à servidão po
ente e amplo, abrangendo aposentadoria, pensões, as lítica. Deste modo, o Partido Social-Democrático conse
sistência à saúde e outros numerosos benefícios sociais. gue manter-se indefinidamente no poder. Numa interpre
Este é o "carro-chefe" da sua propaganda. tação gramsciana, os quadros partidários e sindicais que
Em outros países europeus certos setores de pre operam o "aparat" socialista e a "nomenclatura" estatal
vidência são mais avançados mas, na Suécia, o sistema constituem hoje a "classedirigente" e o Estado Socialis
se tornou institucional. A assistência social (os socialistas ta,"classe política", é a esfera da superestrutura que
preferem dizer o "Serviço Social") é instrumento de mani exerce o domínio e a coersão sobre a "sociedade civil",
pulação das massas. É ela que deu ao Partido condições apesar da Suécia continuar a ser formalmente uma de
de formar o consenso e de obter a hegemonia política e mocracia (f). Mas é uma democracia de pluralismo não
permanência no poder. O povo sueco foi convencido a operante, não representativo e sem alternância no poder.
considerar a Previdência como a sua principal e A hegemonia do Partido Social-Democrático Sue
insubstituível "conquista" e isto ele acredita dever ao Es co deve-se também à omissão, conformismo e arrivismo
tado Socialista. Ainda que o sistema seja extremamente do centro conservador. Praticamente não há oposição
oneroso, contribuindo para uma das maiores cargas tri política. Só a extrema esquerda (comunistas) e a direita,
butárias do mundo (cerca de 40% do PIS e 20% em im minoritárias, ainda fazem o contraditório, com chance
postos diretos), qualquer proposta de redução de impos apenas de conquistar alguns governos locais de menor
tos ou qualquer tentativa de mudança política são vistos importância. No mais, só servem para dar legitimidade à
como ameaças à segurança social proporcionada pelo social-democracia no poder.
sistema previdenciário estatal. Na prática, na Suécia existe um regime de parti
a "aparat" assim estruturado tem penetração, in do único, uma monocracia partidária cuja continuidade
fluência e controle social e político sobre a máquina buro- no poder é garantida pela doutrinação, pela propaganda,
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pela manipulação dos eleitores e pela "estatolatria". O na, reconheceu Leonel Brizola como seu representante
Estado Social Sueco é, em última análise um novo tipo no Brasil. Para obtenção desse reconhecimento, dis
de estado totalitário. putou com Fernando Henrique e Miguel Arraes que ti
Podemos fazer uma conclusão didática, isto é, que nham idêntica pretensão. Brizola contou com o apoio
ensina e que é útil para quem presta atenção ao mundo: do social-democrata português Mario Soares.
(d) "Não espanta que toda tentativa de fusão de capitalis
o socialismo teórico ou socialismo utópico pregado e
mo com socialismo resulte numa contradição ainda
buscado pelos social-democratas reformistas não é mui
mais funda: quando os socialistas desistem da
to diferente do socialismo científico ou socialismo real
estatização integral dos meios de produção e os capi
dos marxista-Ieninistas revolucionários (9). talistas aceitam o princípio do controle estatal, o resul
Reformistas ou revolucionários, todos pretendem tado, hoje em dia, chama-se "terceira via". Mas é sem
construir o socialismo que imporá, pelo condicionamento tirar nem pôr, economia fascista. De um lado, burgue
ou pela força, o igualitarismo que sufocará a liberdade e ses cada vez mais ricos mas - como dizia Hitler - 'de
a individualidade das pessoas. A diferença fica só na con joelhos ante o Estado'. De outro, um povo cada vez
cepção de tomada do poder. mais garantido em matéria de alimentação, saúde,
habitação, etc, mas rigidamente escravizado ao con
trole estatal da vida privada." (Olavo de Carvalho, in
NOTAS Vitória do Fascismo, O Globo,
27 Jul 2003).
(e) É curiosa a semelhança com a estrutura do movimen
(a) A expressão socialismo democrático poderia refe to criado pelos sindicalistas fundadores da Partido dos
rir-se à social-democracia. Entretanto a ela não se Trabalhadores; o Partido (PT), a Central Única dos
aplica adequadamente pois os socialistas revolucio Trabalhadores (CUT) e o Instituto Cejamar. O Partido
nários (marxistas) a usam de forma enganosa para tentou ainda um quarto "ramo", a Central Única do
indicar sua própria concepção revolucionária. O termo Movimentos Populares
democracia é empregado com o sentido implícito de (f) "No seu sentido literal de 'governo pelo povo', (demo
democracia popular ou democracia de classe que cracia) pode querer designar tanto o sistema parlamen
não tem o mesmo entendimento de democracia liberal tar como a ditadura do proletariado . ( .. ) Pode designar
ou democracia representativa. realidades quase opostas. Tudo depende daquilo que
(b) Centralismo democrático é o modelo de gestão polfti se estende por 'povo' e 'governo' mas, em todos os ca
co-administrativo do partido comunista-Ieninista no qual sos, a palavra 'democracia' tem, de qualquer forma duas
há adequadação das demandas e reivindicações das constantes: é um termo político e é um símbolo positi
bases partidárias com o comando do aparelho de vo. Na Suécia, só subsiste a segunda" (Roland Huntford,
direção. Na prática, isto significa que as decisões nas em o Modelo Vivo da Novo Totalitarismo, 1984).
cem da discução franca no seio dos organismos (g) "Assim, o socialismo repudia o comunismo, mas o ad
coletivos (comitês, comissões, congressos, soviets, mira em silêncio e tende para ele". (Plínio Correia de
etc). Porém, após a deliberação, a decisão é impositiva Oliveira em Revolução e Contra-Revolução, 1998).
e indiscutível para os órgãos de execução e para os
membros do partido.
(c) Em 1979, a Internacional Socialista, reunida em Vie-
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o FABIANISMO
Sergio A de A Coutinho
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lismo liberal) correspondia também a uma intervenção tentes que tenham poder ou meios de influência,
do Estado em defesa do trabalhador ou, pelo menos, na "permeandd' este ou aquele ponto da sua doutrina, mi
melhoria da qualidade e condições de vida. A legislação nistrando "duas ou três gotas de socialismo", na justa
sobre salários, condições e jornada de trabalho e sobre a medida. Acreditam que não existe uma separação nítida
progressiva taxação dos ganhos capitalistas é um meio entre socialistas e não socialistas e que todos podem ser
inicial de realizar a eqüitativa distribuição de benefícios. persuadidos a ajudar na realização de reformas para a
O passo seguinte na direção do socialismo, em termos concretização do socialismo.
de reformas sociais mais profundas, será a adoção da Em 1889, sete membros fundadores, sob orienta
propriedade e administração estatais das indústrias e dos ção de Shaw, redigiram um livro que levou o nome de Fabian
serviços públicos. Neste particular, os fabianos preferem Essays in Socialism (Ensaio Fabiano sobre o Socialismo),
a municipalização à nacionalização dos meios de produ resumindo as bases doutrinárias da Sociedade.
ção e dos serviços públicos. Cogitaram também da cria Em 1895 f o i fundada a London S chool of
ção do "imposto único". Economics (Escola de Economia de Londres) que pas
Os membros da "Fabian Society" são principalmen sou a ser, desde então, o principal centro de difusão do
te intelectuais, professores, escritores, e políticos. Foram pensamento Fabiano.
seus principais fundadores Edward R. Pease, o casal A Sociedade Fabiana não se dispôs a se organi
Sidney e Beatrice Webb, G eorge Bernard Shaw (c), H. G. zar em partido, permanecendo sempre como um movi
Wells e outras destacadas personalidades. Efetivamente, mento. Entretanto, em 1906 um grupo de fabianos e sin
a Fabian Sociey tem sido sempre um grupo de intelectu dicalistas fundou o Labour Party (Partido Trabalhista bri
ais. Com as adesões de Bernard Shaw (1884) e de Sidney tânico) que adota o fabianismo como uma das fontes da
Webb (1885), a sociedade começou a assumir seu caráter ideologia partidária (d). Depois disto, até mesmo o Parti
próprio, vindo a se tornar efetivamente socialista a partir do Liberal britânico foi levado a adotar certas teses
de 1887. fabianas.
Seu proselitismo, em determinadas questões, se Em 1912 é criado o Departamento Fabiano de
gue uma prática de "permeação" das suas idéias socia Pesquisa (Fabian Research Department) que passa a
listas entre os liberais e conservadores, principalmente conduzir as principais atividades da Sociedade. Um de
pessoas que estejam ocupando pontos-chave do poder, sentendimento interno levou à separação do Departamen
em todos os níveis e campos. Tentam convencê-Ias por to (1915) que passou a ter vida autônoma (espécie de
meio de uma argumentação socialista objetiva e racional federação) com a denominação de Departamento Traba
em vez de uma retórica passional e de debates públicos. lhista de Pesquisa (Labour Research Department).
Realistas, os fabianos procuram convencer também to Em 1930, um ativo grupo de deputados trabalhis
das as pessoas, independentemente da classe a que tas fundou, independente da Fabian Society, o New Fabian
pertençam, que o socialismo é desejável e que melhor Research Bureau. Em 1938 , este órgão se fundiu à Soci
realizará a felicidade humana. edade Fabiana, recriando a instituição que recupera a vi
Coerente com sua doutrina de progressividade, talidade que vinha perdendo desde 1915. Logo são
os fabianos estendem sua atuação às instituições exis- estabelecidas agências fabianas especiais no exterior e
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nas colônias, ampliando a sua área de atuação. ministração política do Estado e a "permeação" ideológi
Em 1945 o Labour Party chega ao poder na Grã ca dos membros do governo de modo a minar as bases
Bretanha expandindo o fabianismo. O Partido no governo da economia capitalista. Aceita o risco ou conveniência
consegue realizar boa parte do ideário dos fabianos. de facilitar a atuação do socialismo revolucionário se isto
Em 1952 são publicados os New Fabian Essays contribuir para a evolução da social-democracia.
enfatizando a meritocracia e o emprego de técnicos com Nos últimos 25 anos, os partidos socialistas e tra
petentes na gestão dos negócios públicos. As reformas balhistas fabianos tornaram-se mais moderados e mais
políticas, antes recomendadas para a realização das trans acomodados ao capitalismo.
formações socialistas, agora deveriam ser principalmen Em termos de internacionalismo, o fabianismo tem
te reformas econômicas e sociais. sido sempre considerado a ala direita do movimento soci
Atualmente, a Fabian Society atua principalmente alista. Ideologicamente, coloca-se em posição intermedi
como um centro de discussão intelectual, de propaganda ária entre o capitalismo democrático e o marxismo revo
e de difusão do socialismo democrático e como uma re lucionário. Com esta posição, em 1929, o movimento
ferência na Grã-Bretanha para os socialistas, em especi fabiano se propõe como a Terceira Via, identificação
al de classe média, que não desejam comprometer-se ambígua quando, na propaganda política, não vem acom
com o Labour Party. panhada de uma definição clara e ostensiva (e). Após o
Antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) os colapso da União Soviética em 1991, o apelo sedutor da
fabianos tinham pouca preocupação com o movimento Terceira Via voltou à cena para atrair as esquerdas deso
socialista em outros países. Durante o conflito adotaram rientadas e os intelectuais idealistas sempre sensíveis às
até uma posição nacionalista exacerbada. novidades.
Na prática política, parece que os fabianos não têm Repudiando o conceito de luta de classes, os
dificuldade de entendimento com os socialistas revolucio fabianos em geral reconhecem que a lealdade ao seu
nários podendo apoiá-los ou com eles fazer alianças, par próprio país vem antes do que qualquer lealdade ao mo
ticularmente para atingirem algum objetivo imediato. vimento internacional do proletariado. Isto não impede que
Na década de 1930, os fabianos acompanharam trabalhem pela preservação da paz e pela crescente coo
com atenção a experiência de implantação do socialismo peração econômica e política internacional. Bernard Shaw,
na União Soviética conduzida por Lênin e Stalin. Em 1931, em discordância com a atitude nacionalista fabiana, foi a
visitaram aquele país Bernard Shaw e, em seguida, o casal favor de uma unificação do mundo em unidades políticas
Webb. Dão um testemunho entusiasmado da produção e econômicas maiores. Determinados fabianos realmen
planejada e do controle burocrático soviético. De alguma te manifestaram a aspiração de um Estado mundial do
forma dão também uma explicação e mesmo uma justifi tipo tecnocrático, cujo germe deveria ser o Império Britâ
cação para a tirania e os horrores do regime, de que já se nico, com a função de planejar e administrar os recursos
começava a ter notícia. humanos e materiais do planeta. A este respeito, chama
O fabianismo tem como conduta pragmática a a atenção as relações de afinidade, se não de filiação,
aceitação do "pluralismo da esquerda", a alternância no entre os fabianos e círculos mundialistas anglo-saxões
poder, o exercício da influência político-ideológica na ad- como o Royal lnstitute of Internacional Affairs (inglês) e o
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Councilon Foreign Relations (norte-americano, criado em ropéia. A Internacional Socialista só foi fundada em 1924,
1919) (Ler o Texto O FABIANISMO NAS AMÉRICAS). oriunda da II Internacional.
Provavelmente, foi a partir do conhecimento des (c) Bernard Shaw era marxista, mas abandonou definiti
vamente o marxismo quando se reuniu com outros in
ta idéia de império mundial, da existência de relações dos
telectuais socialistas para fundar o Fabian Society.
fabianos com intelectuais e políticos norte-americanos e
(d) Em 1893 alguns grupos fabianos locais foram absorvi
da atuação de certas organizações não governamentais
dos pelo "Independent Labour Party", fundada por Keir
nos EUA que o senhor Lyndon H. La Rouche Jr. engen
Hardie. Em 1900, representantes da "Fabian Society"
drou a teoria conspiratória de um eixo Londres-Nova se reuniram com sindicalistas socialistas para criar um
Iorque da oligarquia financeira internacional para a cria grupo sindical separado no Parlamento. Para tanto foi
ção de um império mundial de língua inglesa, com a su criado o Comitê de Representação Trabalhista (que tam
pressão dos estados nacionais (Ler o Texto O MOVIMEN bém incluía representantes do "Independent Labour
T O POLíT ICO DE LA ROUCHE). Party"); que veio a se tornar (1906) o atual "British Labour
Entre as organizações não governamentais nor Party"; um partido socialista com apoio sindical.
(e) Terceira Via seria o "meio termo" de capitalismo e so
te-americ a n a s , está uma denominada Diálogo
cialismo, abandonando as desvantagens de um e ou
Interamericano, fundada em 1982, cujos integrantes são
tro e reunindo as suas virtudes. Depois de 2002, a
notáveis personalidades "permeadas" pelo socialismo
Terceira Via passou a ser denominada Governança
fabiano.
Progressista, outra expressão tão ambígua quanto
Foi por intermédio do Diálogo Interamericano, que à anterior.
o Sr Fernando Henrique Cardoso se uniu em 1982 ao
movimento fabiano, tendo tentado atrair também o Se
nhor Luiz Inácio Lula da Silva (Ler o Texto O FABIANISMO
NAS AMÉRICAS).
NOTAS
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Sergio A. de A. Coutinho
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ciado pelos conceitos políticos ideológicos da Fabian Mais tarde, a "Trilateral Commission" foi ampliada
Society e pelas idéias de um império mundial trazidas por para 350 membros, distinguidas pessoas dos negócios,
Bernard Shaw e por outros preeminentes fabianos. A pro da mídia, do meio acadêmico e dos serviços públicos
pósito, a partir de 1930, o autor inglês William Jandell (exceto membros de Governo), dos sindicatos e das ONG.
Elliott passou a divulgar a teoria de que os EUA deveriam Assim também foi ampliada a sua área internacional:
converter-se em um novo império global. Este senhor América do Norte, incluindo o México; Europa, abrangen
exerceu grande influência sobre Henry Kissinger, Zbigniew do a União Européia, e o Japão, evoluindo para um grupo
Brzezinski e Samuel Huntington. da Ásia e Pacífico.
A importância que o Conselho de Relações Exte A entidade se reúne anualmente, bem como os
riores adquiriu, pode ser medida pelo fato de que, a partir grupos regionais, respectivamente em Paris, Nova Iorque
de 1944, todos os Secretários de Estado (Relações Exte e Tóquio.
riores), exceto dois (James F. Byrnes e Collin Powell), A fundação da Comissão coincide com os primei
foram seus membros. ros sinais da crise financeira mundial e com o primeiro
A entidade pode ser considerada o braço político "choque do petróleo", década de 1970. Declaradamente,
do movimento fabiano nos Estados Unidos e se projeta sua finalidade era observar e discutir em conjunto os prin
em várias outras entidades privadas voluntárias (b). cipais problemas comuns às três áreas econômicas.
Objetivamente, pode-se dizer que a finalidade prática era
controlar o sistema financeiro internacional. Mas também
• Trilateral Commission a entidade tinha objetivos políticos que coincidem com
muitos conceitos fabianos.
A entidade privada internacional Trilateral Aparentemente, a Comissão Trilateral cogita es
Commission (Comissão Trilateral) foi fundada em 1973 tabelecer um governo mundial, como imaginavam certos
por iniciativa do banqueiro norte-americano David pensadores fabianos (c), e recomenda a criação de uma
Rockfeller e destacados membros do Council on Foreign força militar internacional, sob controle da ONU. Segun
Relations, assumindo os papéis de órgão de planejamento do o Senador norte-americano Barry Goldwater, a entida
estratégico e de elemento operativo dessa entidade, vale de representa um esforço habilmente coordenado para
dizer, do movimento fabiano nos Estados Unidos. A enti assumir o controle e o domínio da humanidade.
dade se tornou realidade graças ao professor Zbigniew Para realizar seus objetivos, a Comissão conside
Brzezinski da Universidade da Colúmbia que foi o seu ra, em primeiro lugar, ser necessário dominar o Governo
primeiro diretor-executivo dos EUA, no mínimo influenciá-lo favoravelmente aos seus
Inicialmente foram criteriosamente selecionados desígnios. Jimmy Carter, membro da Trilateral, foi o pri
e convidados cerca de vinte intelectuais das áreas finan meiro Presidente eleito (1976) com apoio da entidade.
ceira e política para comporem a Comissão: as cabeças Assim foi também com George Bush, eleito em 1980 e
mais brilhantes da América do Norte (EUA e Canadá), da 1984.
Europa Ocidental e do Japão, formando o núcleo "trilateral" Outras importantes personalidades são também
da entidade. membros (d) da Trilateral:
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Ihadores. Para o Diálogo, o desaparecimento da União gundo mandato, Fernando Henrique tratou de manter, a
Soviética tinha deixado as esquerdas revolucionárias da todo custo, a estabilidade monetária e o Plano Real que
América Latina sem base de apoio. Entretanto, reconhe já lhe havia garantido a eleição de 1994.
cia que sua organização e capacidade de mobilização Para pagar dívidas públicas, o serviço desta dívi
ainda poderiam ser úteis para o programa pretendido pela da e remunerar investimentos financeiros, foi buscar re
entidade. Podemos aduzir que o PT, como partido cursos num vasto e mal conduzido programa de
laborista, tivesse muita afinidade com o fabianismo, daí privatizações.
porque estava sendo atraído. O primeiro ponto de uma A esquerda de oposição lhe fez e faz ferina acu
ação comum foi a opção pela via eleitoral, buscando-se o sação de ter desbaratado o patrimônio público, entregan
abandono da violência armada. O Diálogo Interamericano do-o ao capital estrangeiro e o estigmatizou de "neoliberal",
daria toda a sustentação política aos eleitos da esquerda não tão grande ofensa para um socialista fabiano. Assim,
para que tomassem posse e fossem mantidos no poder. FHC reelegeu-se em 1998, logo no primeiro turno do pleito
Lula, já comprometido com o Foro de São Paulo, presidencial.
concordou com o programa mas não se filiou ao Diálogo. O comprometimento de mais de 60 por cento do
A reunião de 1992 do DI pode explicar muitas ini orçamento da União com os encargos financeiros, limitou
ciativas do governo de FHC, a sua postura com relação à drasticamente a margem para investimentos e mesmo
campanha eleitoral de 2002 e à vitória de Lula na disputa para custeio, levando o governo a aumentar significativa
presidencial (Ver o texto A INTERNACIONAL REBELDE mente a carga tributária, hoje uma das maiores do mun
NO BRASIL). do.
Em 1994, FHC se elegeu Presidente da Repúbli Com relação às recomendações do Diálogo
ca, disputando o segundo turno com Lula. Governou com Interamericano, expressas no Projeto Democracia, podem
a oposição dos partidos da esquerda revolucionária, in ser citadas as seguintes realizações de Fernando
clusive do Partido dos Trabalhadores, mas com o apoio Henrique Cardoso e de seu Partido:
dos partidos liberais democráticos de centro.
Na condução política da sua administração e nas 1) Abertura democrática, com franquias ampliadas
relações com o Congresso, onde não tinha maioria, usou e garantidas na Constituinte, com o trabalho de
o poder e certos recursos autoritári o s. Valeu-se FHC nas comissões e de Mário Covas no Plená
descontraidamente das Medidas Provisórias fugindo das rio.
demoradas tramitações e das resistências parlamenta 2) Acolhimento dos comunistas, primeiro no Partido,
res. Demonstrou ainda as tendências parlamentarista e depois nos cargos de governo e, finalmente, com
continuista do seu partido e do seu grupo político mais indenizações das famílias de terroristas mortos
'
próximo. Sem muito esforço, mas com uma eficiente e pela "repressão", de início limitadas às dos que
convincente negociação individual com os parlamentares, morreram nas prisões e agora generalizadamente.
conseguiu emenda à Constituição, quebrando a antiga e 3) Afastamento sumário do serviço público ou veto
prudente tradição republicana que não permitia a reelei de nomeação de qualquer pessoa acusada de tor
ção do Presidente da República. Para assegurar o se- turador ou de ter pertencido a órgãos de seguran-
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ça durante o governo dos militares presidentes. A nos e de complementação social. Foi promovida
demissão ou veto era imediato, sem qualquer apu uma "ampliação do Estado" que daria inveja a um
ração formal ou de provas das acusações, num projeto concebido por Antonio Gramsci. A ONG
ato ilegal de restrição à Lei de Anistia. Viva Rio por exemplo, além do respaldo governa
4) Submissão das Forças �rmadas ao controle polí mental, recebe subsídios das fundações interna
tico civil, com a criação do Ministério da Defesa, cionais Rockefeller, Mac Arthur, Brascan e outras.
afastando os militares de participação e influência
nas decisões nacionais, inclusive nos assuntos de Fernando Henrique Cardoso é seguidor dos con
segurança. Foi aventada também a criação de uma ceitos da Terceira Via participando das idéias de um "con
Guarda Nacional para retirar do Exército ou res senso internacional de centro-esquerda", acompanhan
tringir a sua destinação constitucional de defesa do a posição de Anthony Giddens (teórico da Terceira Via),
da lei, da ordem e dos poderes constituídos. Não Tony Blair (líder trabalhista inglês), Leonel Jospin, Bill
dispondo de recursos para tal projeto, a iniciativa Clinton, De La Rua e Schoreder. O ideal da Terceira Via é
ficou limitada à criação de um segmento fardado a humanização do capitalismo mediante uma administra
da Polícia Federal, subordinada ao Ministério da ção pública e econômica socialista (confluência do me
Justiça. lhor do socialismo e do capitalismo). Em termos práticos,
As restrições de recursos orçamentários para as os social-democratas fabianos concordam com a aplica
instituições militares se devem mais às limitações ção dos planos e recomendações do Fundo Monetário
financeiras do Estado assoberbado com o paga Internacional (FMI) e da Organização Mundial do Comér
mento de dívidas e de remuneração de investi cio (OMC) de forma categórica.
mentos. Entretanto são impeditivos de evolução O fabianismo no Brasil não fica apenas na atividade
da máquina de guerra, contribuindo para seu pro política de Fernando Henrique e seu partido. Como o
gressivo enfraquecimento e crescente dependên gramscismo, também já penetrou nos meios acadêmicos,
cia do controle político civil. já "permeia" alguns intelectuais e alguns grupos de
A campanha de desprestígio das Forças Armadas militância como a União Jovem Socialista.
está mais ligada ao ativismo das esquerdas revo
lucionárias do que ao projeto d o Diálogo
* * *
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Partido Democrático Trabalhista de Leonel Brizola. vimento em um mundo em contínua mudança e cres
Por outro lado, o movimento fabianista pôde e pode cente complexidade".
O Instituto é mantido por subsídios voluntários, doações,
realizar, em determinados momentos, um papel subsidiá
contribuições dos associados e receitas próprias.
rio da esquerda revolucionária. Muitos aspectos da con
O Royal lnstitute é ideologicamente influenciado pela Fabian
cepção pragmática do fabianismo coincidem com certos
Society. É representado nos Estados Unidos pela Chatam
processos gramscistas de mudanças pacíficas e progres
House Fundation, destinada a promover as relações anglo
sivas para conquistar a sociedade civil e enfraquecer a americanas e a fazer aquele Instituto mais acessível aos
sociedade política. Depois de 1980, os dois fatos novos simpatizantes norte-americanos.
mais significativos e menos perceptíveis nas esquerdas (b) Ver adiante o gráfico anexo OS ORGANISMOS PRIVADOS
no Brasil foram as presenças do fabianismo reformista e INTERNACIONAIS.
do gramscismo revolucionário. (c) A idéia "trilateral" da Comissão pode ter sido inspirada na
É equivocada a afirmação de que o presidente e sugestão de Bernard Shaw de uma unificação do mundo
em unidades políticas e econômicas maiores.
intelectual FHC tenha promovido a imagem favorável do
A idéia de criação de um império mundial é também Fabiana.
Brasil no exterior; o que ele fez foi circular nos meios so
(d) Ver adiante o anexo PERSONALIDADES DO SISTEMA
cialistas europeus promovendo a sua própria imagem in
FABIANO NOS EUA.
ternacional.
(e) Nesta obra, fazemos uma distinção entre entidade (insti
Terminado seu governo, Fernando Henrique Car tuição ou organismo) privada e organização não-gover
doso agora é "homem do mundo", promovido e "badala namental (ONG).
do" pelos movimentos e organismos da esquerda inter (f) O Centro Acadêmico Woodrow Wilson é uma entidade pri
nacional. Lembra um pouco Bernard Shaw, um dos fun vada norte-americana, criada em 1968 com a finalidade de
dadores do fabianismo na Inglaterra, marxista reformado realizar estudos e pesquisas políticas e de documentos. Em
que se transformou em socialista reformista. A diferença 1977, criou um programa de estudos latino-americanos fi
nanciado pelas fundações Rockefeller, Ford e Mellon e com
fica na retórica vazia e na produção literária reduzida do
subsídios do governo dos EUA.
intelectual brasileiro.
Apesar de tudo, FHC voltará; pessoalmente ou
representado, mas voltará.
NOTAS
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b
ORGANISMOS PRIVADOS
INTERNACIONAIS PERSONALIDADES DO SISTEMA
FABIANO NOS ESTADOS UNIDOS
EUA
TRILATERAL COMMISSION
ZB IGNIEW B RZEZINSKI X X
BILL CLINTON ?
MacGEORGE BUNDY X X
ELLIOT BIClLo\RDSON X X
PAUL VOLCKER X
LANE KIRKLAND X X
-
l------.:I<c.- - - - - - - - -
JOHNSILBER X X
�
- - -P;:,�- - -+- ABRAHAN LO\VENTHAL X X
CARL GERSHMAN X X
Fabiana
RICHARD FEINBERG X
LOUIS GOODMAN X X
..
•
o CONSENSO DE WASHINGTON
Sergio A de A Coutinho
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====== Cadernos ela I.iberclacle ======
5) Taxa de Juros
2) Populismo econômico, manifestado no:
- Determinada pelo mercado
- Atendimento das demandas salariais e
- Competitiva
paternalismo social
- Déficit público 6) Taxa de Câmbio
- Determinada pelo mercado
7) Política Comercial
Em suma, a crise latino-americana teria origem
- Liberdade de importação
na indisciplina fiscal e no estatismo.
- Taxas aduaneiras recomendadas, entre
Deste diagnóstico, surgiram as dez recomenda
10 e 20%
ções mais ou menos óbvias e coerentes com o pensa
mento econômico dominante no seminário: 8) Investimentos Estrangeiros diretos
- Ampliação
1) Disciplina fiscal
- Não mais déficit fiscal 9) Privatização
- Reduzir a presença do Estado na econo
2) Fim da inflação mia
- Estabilidade monetária - Eliminar as atividades deficitárias
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soas importantes e influentes que poderiam criar proble - Conceito de soberania limitada e fim dos
mas para a entidade. Estados nacionais;
Em janeiro de 1989, Lyndon La Rouche foi conde - Desmantelamento das forças armadas dos
nado a 15 anos de prisão. Igualmente, seis colaborado países do Terceiro Mundo;
res foram também condenados a penas diversas. La - Sistema de livre mercado internacional.
Rouche se disse perante a Corte vítima da maquinação
de membros comunistas do governo e de personalidades Com relação à idéia de império mundial, La Rouche
ligadas ao narcotráfico internacional. Declarou ainda que afirma que os Estados Unidos pretendem "perpetuar-se
havia uma conspiração do serviço de inteligência britâni no poder por meio da estratégia de guerras perpétuas
co para assassiná-lo na prisão. De qualquer modo, não para estabelecer um novo império romano anglófono,
cumpriu integralmente a pena a que foi condenado, be sobre as ruínas dos Estados nacionais subjugados".
neficiado por recursos e disposições legais. Em janeiro A crise financeira mundial não é muito nitidamen
de 1994 foi solto na situação de liberdade condicional. te discutida por La Rouche, que simplifica as causas e
exagera as implicações. O ex-operador de computador é
• Fase Atual a partir de 1989 tido por seus seguidores como um grande economista.
Entretanto, suas teorias pessimistas não são levadas
Mesmo com a prisão de La Rouche as organiza muito a sério. Usa-as para respaldar e difundir suas idéi
ções e membros de sua entidade política continuaram as e fundamentar interpretações dos fatos políticos e so
ativas, principalmente pelo trabalho de sua esposa Helga ciais nacionais e internacionais segundo suas conveniên
Zepp-La Rouche, de nacionalidade alemã e presidente cias. Seus argumentos e previsões catastróficas são ge
executiva do Instituto Schiller. Esta organização foi criada ralmente desenvolvidos com base em afirmações
em 1984 com a finalidade de "impedir o divórcio da Euro fantasiosas e contidas num clima conspiratório, envolven
pa Ocidental e dos Estados Unidos'. Efetivamente, é um do a participação deliberada de personalidades, agênci
órgão de propaganda e de difusão das idéias de La as transnacionais e governos, tudo relacionado com com
Rouche. plicadas tramas e interesses ocultos. Para ele, os vilões
Com a queda do Muro de Berlim (1989) e o colap da bancarrota mundial são o FMI, demais agências finan
so da União Soviética (1991), o foco da Te oria ceiras internacionais e a globalização. As medidas de aus
Conspiratória de La Rouche mudou. A partir de então os teridade e de estabilização impingidas aos países do Ter
alvos das denúncias passaram a ser a Nova Ordem Mun ceiro Mundo, em particular da América Latina, pelo FMI
dial "de Bush" e a crise financeira mundial numa econo ferem as suas soberanias, estimulam a subversão comu
mia globalizada, tudo interpretado sob a ótica da conspi nista e aumentam o desemprego; principalmente são um
ração do "Establishment" anglo-americano e da criação meio para destruir o Estado nacional soberano. Esta teo
do império mundial sob a liderança dos Estados Unidos. ria também faz crer que a dívida externa dos países é a
Segundo La Rouche, a Nova Ordem Mundial de raiz de todos os problemas da América Latina. La Rouche
Bush se caracteriza por três aspectos ou objetivos princi se diz líder mundial contra a globalização.
pais da oligarquia anglo-americana:
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• Atividades de La Rouche na América Latina e no com a Guerra das Malvinas e o início da crise da dívida
Brasil externa dos países do Continente. Em setembro de 1982
o governo do México havia decretado unilateralmente �
Os contatos internacionais iniciais de La Rouche moratória do pagamento da sua dívida externa, marcan
foram tentados na índia, T urquia e Itália. Com relação à do o início da chamada crise da dívida (e).
América Latina, as primeiras referências se fazem 'em Para La Rouche, a Guerra das Malvinas "não era
1974, denunciando uma conspiração anglo-americana apenas um conflito pelas ilhas, mas que fora provocada
contra a soberania dos países do Continente. Fazia en por interesses financeiros anglo-americanos cada vez
tão citação de uma política do Presidente Carter de con mais desesperados pela bancarrota do sistema financei
trole da natalidade, plano para esterilizar as mulheres nos ro mundial'.
países subdesenvolvidos para reduzir os nascimentos e Esta afirmação parece ser fantasiosa, pois his
as populações como via para impor a dominação sobre toricamente é sabido que a iniciativa da invasão das Ilhas
estes países. Nesta época, realmente apareceu no Brasil Malvinas foi da Argentina. A explicação corrente para tal
uma ONG denominada Bem Estar Familiar (Bemfam) ato de guerra (inclusive as esquerdas nacionais e inter
promovendo o planejamento familiar e o controle da na nacionais também assim propalam) é que foi uma ten
talidade. Foi acusada de proceder a esterilização genera tativa do governo militar de unir o povo argentino e desvi
lizada de mulheres pobres. A Bemfam recebia recursos ar sua atenção dos problemas políticos e econômicos
financeiros da ONG Internacional Planned Parenthood internos.
Federation - IPPF (d). Mais tarde, nos anos de 1980, a Continuando a fazer revelações sobre a conspira
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro instalou uma ção contra estados nacionais latino-americanos, La
CPI para investigar a atuação da Bemfam no Estado. Na Rouche coloca-se como defensor da soberania destes
oportunidade, o jornalista mexicano da Executive países e contra os planos de desestabilização a que es
Intelligence Review, Lorenzo Carrasco, declarou que "do tariam submetidos pelo "Establishment" anglo-america
cumento reservado do Conselho de Segurança Nacional no, com a participação direta do Governo dos Estados
dos EUA, afirma a participação do Governo americano e Unidos. Logo depois de sua visita ao Palácio de Los Pinos
de entidades particulares daquele país nos programas de no México, em 1982, La Rouche propôs, como resposta
redução da natalidade em 13 países do Terceiro Mundo à conspiração o "calote coletivo" dos países ibero-ameri
nas últimas décadas'. Henry Kissinger teria sido um dos canos: "que visassem o ponto mais vulnerável das
artífices desse trabalho. pretensas potências coloniais: o sistema financeiro". Os
Ainda em torno de 1974, La Rouche referiu-se a países unidos deveriam decretar a moratória conjunta do
uma denominada "Tese de McNamara" que propunha a pagamento da dívida externa e criar o mercado comum
criação de uma força interamericana para substituir as ibero-americano.
forças armadas na América Latina. Em 1984, La Rouche foi recebido também pelo
La Rouche começou a atuar mais efetivamente a Presidente Raul Affonsin da Argentina.
partir de 1982, quando foi recebido pessoalmente pelo Na sua pregação política, La Rouche apela para
Presidente do México Lopez Portillo. A ocasião coincidia os sentimentos naCionalistas de políticos e militares (al-
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vos prediletos do seu proselitismo), dirigindo-os para uma têm estigmatizado como líder de extrema direita por suas
disposição antiamericana e chauvinista. As denúncias de posições ortodoxas de defesa da ordem social e da pro
uma conspiração anglo-americana que ameaça a exis bidade. La Rouche possivelmente vê no PRONA e no seu
tência soberana dos estados nacionais plantam a des líder uma via de difusão de seu discurso no País, onde o
confiança, o temor e uma atitude de hostilidade emocio movimento só dispõe de um pequeno escritório de repre
nai e cívica contra os EUA, agravando as frustrações de sentação no Rio de Janeiro. Geraldo Luis Lino e Dennis
correntes das próprias dificuldades políticas, econômicas Small são representantes da MSIA no Brasil.
e sociais. Lorenzo Carrasco, jornalista mexicano e membro
O movimento político de La Rouche com sede nos do Partido Laboral Mexicano (Marivilia Carrasco, presi
Estados Unidos se projeta na América Latina por meio de dente do Partido, é sua irmã) e Silvia Palácios, também
visitas, conferências, publicações e de algumas organi mexicana, estão há muito tempo radicados no Brasil e
zações criadas nos países-alvo, principalmente na Amé têm filhos brasileiros. São representantes da entidade
rica Central, México, Peru, Colômbia, Venezuela, Argen política de La Rouche no País, membros do comitê exe
tina e Brasil. cutivo da MSIA e correspondentes da publicação Executive
Os organismos principais de propagação de suas Intelligence Review (EIR).
idéias na íberoamérica são os Partidos Laborais, especi São muito ativos e insinuantes, procurando apro
ficamente na Colômbia, México, Peru e Venezuela. Não ximações com políticos e, em particular, com militares
são partidos autenticamente nacionais mas braços das brasileiros, tanto da ativa como da reserva. Já participa
organizações de La Rouche: Internacional Caucus of ram de atividades na Escola Superior de Guerra (ESG) e
Labor Communities (ICLC) e Latin América Executive como painelistas no Simpósio sobre "As Lições da Guer
Communities. ra no Golfo", na Escola de Comando e Estado-Maior do
O Movimento de Solidariedade Ibero-america Exército (Junho de 1991).
no (MSIA) foi criado como parte da complexa entidade Em 1991, a entidade La Rouche lançou nos Esta
La Rouche (1992) na América Latina particularmente no dos Unidos uma campanha contra a realização da confe
México, Colômbia, Brasil e Argentina. Relacionou-se com rência sobre meio ambiente denominada Rio-92 progra
o Movimento de Identidade Nacional e Internacional Ibero mada para o Rio de Janeiro no ano seguinte. Segundo
Americana (MINEII) fundado pelo Coronel Mohamed Ali alegava, a Rio-92 seria um pretexto para os países ricos
Seineldim, condenado a prisão perpétua por ter chefiado fazerem a "internacionalização da Amazônia". A campa
um levante armado nacionalista contra o Presidente Carlos nha foi lançada no Clube Nacional de Imprensa em Wa
Menen (1). shington com o propósito de impedir a realização da con
No Brasil, o movimento La Rouche não fundou um ferência. Em seu lugar propunha uma reunião para dis
partido laborista, possivelmente por não haver espaço cutir a " nova ordem econômica" com base na igualdade
político para tal. Entretanto, aproximou-se do Partido da dos Estados nacionais soberanos.
Reconstrução da Ordem Nacional (PRONA), partido de O jornalista Lorenzo Carrasco foi o principal ora
centro-direita, nacionalista, cujo presidente e fundador é dor. Acusou o Secretário de Meio Ambiente brasileiro José
o Dr Enéias Ferreira Carneiro. As esquerdas no Brasil o Lutzemberg de receber dinheiro da entidade britânica Gaia
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...
F undation para defender a preservação da Amazônia. Zepp-La Rouche. Não realizaram contatos com autorida
Lutzemberg teria sido nomeado por indicação do Prínci des federais, que não lhes seriam simpáticas pela linha
pe Charles. Segundo ainda Lorenzo Carrasco, a Rio-92 ideológica fabianista que adota o Presidente FHC. Aliás
"tem como objetivo central impor às nações, que ali estão os seguidores de La Rouche acusam FHC de ser sub
representadas, a nova ordem mundial inaugurada san
misso aos planos do "Establishment" anglo-americano.
grentamente pelo Presidente George Bush e seus alia Entretanto realizaram muitos contatos com perso
dos no holocausto contra o Iraque". O jornalista mexica nalidades civis e militares da reserva nacionalistas e, em
no expôs também suas teses sobre a Rio-92 e sobre a geral, antiesquerdistas e antiamericanistas.
Internacionalização da Amazônia na Comissão Parlamen Uma série de palestras e encontros foi realizada
tar de Inquérito da Câmara dos Deputados em agosto de em São Paulo pelo casal La Rouche e por outros ilustres
1991.0 relatório da CPI assim se referiu às suas declara conferencistas, eventos organizados em conjunto pela
ções àquele foro de investigação, sem as comentar: Associação de Diplomados da Escola Superior de Guer
ra/São Paulo (ADESG/SP) e pela Executive Intelligence
"O jornalista Lorenzo Carrasco Review (EIR). Na Câmara Municipal, o visitante recebeu
trouxe à CPI uma infinidade de o título de cidadão paulistano, homenagem de iniciativa
denúncias quanto à atividade de da vereadora Hevanir Nimtz do PRONA. Palestras foram
entidades transnacionais de ins proferidas no Parlamento Latinoamericano, na Associa
piração anglo-americana que pre ção Comercial de São Paulo e no Centro de Estudos do
tendem subjugar os países do T ribunal criminal de São Paulo.
Terceiro Mundo sob a orientação Além do Dr Enéas F. Carneiro, presidente do
da chamada nova ordem interna PRONA, duas outras ilustres personalidades convidadas,
cional, da qual a Guerra do Golfo um militar da reserva e um membro do Congresso Nacio
seria a primeira manifestação. nal, proferiram também palestras sobre os temas trazi
Denuncia a intenção anglo-ame dos pelo visitante. Embora tratando com atenção os pon
ricana de reduzir as forças milita tos de vista de La Rouche, ambos, nas respectivas áreas
res nacionais, e instituir o de cogitação, fizeram alguns reparos às afirmações e in
apartheid tecnológico entre outras terpretações por ele apresentadas.
medidas neo-imperialistas." (Diá O último evento desta visita de La Rouche, foi a
rio do Congresso Nacional, 22 Fev sua rápida participação na 5ª Reunião Brasil-Argentina -
1994). A Hora da Verdade - organizada conjuntamente pelo
Movimento de Solidariedade Ibero-Americano (MSIA) e o
A presença em importantes eventos oficiais no Movimento de Identidade Nacional e de Integração Ibero
Brasil mostra o ativismo e a capacidade de penetração Americano (MINEII), dirigida pelo Coronel Mohamed Ali
dos representantes do movimento de La Rouche no País. Seineldin. Esta foi a primeira oportunidade em que o MSIA
De 11 a 15 de junho de 2002, ocorreu uma visita a se reuniu em âmbito nacional.
São Paulo de Lyndon La Rouche e de sua mulher Helga
* * *
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Não é nosso objetivo fazer um juízo de valor sobre denação de La Rouche e de outros membros do movi
a entidade política de La Rouche, mas apenas descrevê mento, deixam alguma dúvida quanto à finalidade do seu
la tão precisamente quanto possível. Afinal de contas é empreendimento.
mais um movimento internacionalista presente no Brasil.
Sua atitude ostensiva é de oposição a um • A Espantosa Conspiração Mundial
"Establishment anglo-americano" que diz estar ligado à
oligarquia financeira e ao narcotráfico internacionais, e A maquinação anglo-americana que La
que tem um projeto de império mundial sob domínio dos Rouche denuncia não saiu simplesmente da sua imagi
EUA. Na prática, a militância de La Rouche é dirigida con nação, mas de uma interpretação pessoal da história,
tra o seu próprio país e suas acusações o aproximam da bastante discutível, e de fatos reais que ele relaciona com
apostas ia cívica. Por que e para que? Além do mais, apre outros de forma nem sempre pertinente. Deste modo, as
senta-se na América Latina como paladino da soberania suas teses políticas se apresentam como uma fantástica
dos Estados nacionais, cuja existência afirma estar e continuada conspiração internacional.
ameaçada de destruição pelo "Establishment". A sua pre Transcrevem-se adiante algumas declarações e
gação tem efetivamente provocado a hostilidade e o sen afirmações do líder e de seus seguidores. Devem ser li
timento antiamericanista, sem qualquer crítica, em um das com atitude crítica quanto à coerência histórica, à
amplo segmento de intelectuais brasileiros, particularmen lógica política, à racionalidade do argumento e ao bom
te entre políticos, militares, diplomatas, professores e senso. Esta posição intelectual é indispensável para se
empresários. fazer uma avaliação independente da sua concepção
O sentimento de exacerbado nacionalismo com a polítco-ideológica e dos seus objetivos, pois algumas re
exaltação dos valores de soberania nacional e de integri ferências são fantásticas e outras parecem fantasiosas.
dade territorial, acabarão criando certa "sintonia" com pa
lavras-de-ordem de anticapitalismo e anti-imperialismo da * * *
preendimento e o numeroso quadro de militantes. Os pro "A Monarquia Britânica, desde a virada
cessos judiciais de 1987 a 1989 que acabaram em con- do século (XX), esteve no centro do
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"(...) aí incluída a variante neocolonialista cos corruptos dos Estados Unidos, que
que os britânicos e os pagãos do mes são parte do mesmo esquema" (O
mo naipe (como os príncipes Philip e Complô, pág 11).
Charles), da família real britânica, pro
motora do culto a Gaia, a mãe de Sata * * *
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jiiI •
mundial das oligarquias anglo-americanas. (c) As organizações empresarias Campaigner Publications Inc,
"Foi o mesmo sinarquismo, hoje associado a Caucus Distributors Inc e Fusion Energy Fundation foram
Cheney (Vice-Presidente dos EUA), que criou os gover judicialmente liquidadas em 1987 para pagamento de mui
nos fascistas da Itália, Alemanha, Espanha, França de tas federais por atividades irregulares no valor de cerca de
NOTAS
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AS RECORRÊNCIAS FABIANAS DA
TEORIA CONSPIRATÓRIA DE
LA ROUCHE
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um plano para reduzir ou, mesmo abolir tativa concreta de reversão, anseia por mudança. Por isto,
as Forças Armadas latino-americanas' os brasileiros transformaram o medo numa aposta nas
(O Complô, pág 15). promessas eleitorais de 2002. Quem sabe se o novo Pre
sidente não vai dar certo? Buscam também alguma com
Apesar de históricos antecedentes como o da po pensação na criação de um "bode expiatório", de prefe
I ítica do "big s t i ck" de Teddy Roosevelt, do rência, identificado com uma causa exterior que absolva
intervencionismo ("diplomacia da canhoneira") e da a nação da culpa da própria desventura. Vem a calhar a
prepotência norte-americanas e, a partir do colapso sovi teoria conspiratória de La Rouche. Apelando para o naci
ético (1991), da posição de potência hegemônica que os onalismo de um segmento intelectual e sensível da na
EUA adquiriram, não se pode afirmar que a criação de ção, denuncia o causador de todos os males e de todos
um império mundial seja objetivo nacional ou de governo os desencantos. Que melhor "bode" do que o "Satã do
daquele país. Nem que os denunciados empreendimen Norte"? É um "bode" emblemático visível e consensual.
tos de desmantelamento das forças armadas do Terceiro Aí estão tanto os chauvinistas quanto os esquerdistas para
Mundo e da subseqüente eliminação da soberania dos apontá-lo. Por paradoxal que possa parecer, as duas li
Estados Nacionais o sejam. É verdade que há "interes nhas divergentes, por natureza ideológica, têm semelhan
ses" e "pressões" políticas e econômicas de grupos pri te opinião, identificando a potência hegemônica, os Esta
vados que constrangem o governo norte-americano e que, dos Unidos da América, como uma ameaça e como res
direta ou indiretamente, acabam sendo incorporados à ponsáveis dolosos por todas as dificuldades por que pas
política oficial dos EUA, principalmente nos governos de sa o País. Coincidência específica das posições de agru
políticos ligados ao fabianismo e às organizações pamentos contraditórios que se movem no caminho do
difusoras desta linha ideológica como Jimmy Carter, Bill inevitável consenso buscado pelas esquerdas revolucio
Clinton e George Bush (pai). (Ler o Texto AMEAÇAS E nárias.
DESAFIOS). O preconceito (no sentido vernacular), o despei
to, o rancor, o temor e outros sentimentos menores ce
* * *
gam todos e não os deixam ver (e nem a querer ver) as
próprias omissões, negligências, insensatez e traições.
Desde a fundação da "Nova República" no Brasil, O nacionalismo conclamado por um internacionalista es
tendo por marcos a promulgação da "Constituição Cida trangeiro não tem relação com um projeto nacional e
dã" de 1988 e a eleição de Tancredo Neves, a nação bra ganha a feição de um nacionalismo dogmático. Perden
sileira só acumulou frustrações e perdas de autoestima. do a nitidez dos fatos e o poder d e crítica pela
Desesperançada, não encontra, em si mesma, motiva radicalização, os patriotas passam a interpretar o momento
ção e iniciativa; não vê em seus dirigentes, desde 1985, histórico e os acontecimentos sob a ótica da alegada cons
capacidade para dar solução concreta para seus proble piração internacional que visa à destruição das soberani
mas conjunturais e estruturais, mas só discurso vazio, as nacionais. Curiosamente, as linhas ideológicas
imobilismo, inocuidade. Principalmente não vê um proje antiamericanas têm inspirações no exterior: as do mar
to nacional. Na falta de uma referência, de uma expec- xismo-Ieninismo nas suas três tendências mundiais
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- A Guerra Fria com uma nova feição; cráticos da América Latina e Ásia".
- Os Coadjuvantes Notáveis. (Jean-François Revel - A Obsessão
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está aos poucos se tornando capitalista e democrática. to, O mais ativo protagonista do Movimento Comunista tem
O Troskismo (IV Internacional) não se deu por sido o anarco-comunismo, tanto na Europa como dentro
afetado pelo desastre soviético, conservando as suas di dos próprios Estados Unidos. Evidentemente, não se
versas tendências e partidos em diferentes países do omitem as demais tendências da linha marxista-Ieninista,
mundo, como o PSTU no Brasil. O Gramscismo (diga freqüentemente contando com o apoio e a eventual par
mos, a "V Internacional") vem à cena do comunismo in ticipação dos socialistas não marxistas e social-democratas.
ternacional como uma opção renovada do marxismo O antagonismo MCI vs. EUA é o primeiro e prin
leninismo, oportuna e adequada ao momento histórico, cipal elemento da configuração de uma nova e peculiar
particularmente nos países do "tipo Ocidental" entre os Guerra Fria.
quais se inclui o Brasil. Finalmente, o movimento anarco
comunista começa a ganhar nova expressão a partir de Além desta oposição, há um outro antagonismo
1999, reunindo milhares de organizações não-governa bastante evidente entre o Islamismo e o Sionismo que
mentais de "segunda geração", isto é, ligadas à agitação se tornou atual com a criação do Estado de Israel e a
e propaganda do movimento socialista revolucionário e eclosão da luta dos palestinos árabes para fundarem seu
do anarquismo. próprio Estado independente. Concretamente, este anta
O MCI rapidamente se reorganizou e as esquer gonismo se define pelo processo de oposição de gover
das marxistas internacionais vão retomando consisten nos e grupos islâmicos de um lado e o Estado de Isra
temente seu ativismo, particularmente na Europa e na el de outro que, indo além da competição, se apresenta
América. Para se ter certeza disto, basta ver o mar de sob a forma ostensiva de conflito
bandeiras vermelhas e negras mostrado nas televisões Curiosamente, Antonio Gramsci já havia de
e fotos nos noticiários das demonstrações "pacifistas" e senvolvido uma argumentação que hoje pode dar
manifestações de protesto lá e aqui. Parece que, neste
uma explicação, sob a ótica marxista, das interações
particular, a África foi esquecida, com suas misérias,
agressivas que ocorrem entre os opositores identifi
conflitos, regimes socialistas inviáveis que o MCI deixou
cados neste antagonismo. Em carta à sua cunhada
como herança de sua fórmula de guerra revolucionária
Tatiana Schucht datada da prisão de Turi em 5 de
de libertação.
outubro de 1931, o comunista italiano comenta:
Superada a Guerra Fria entre as superpotências
URSS e EUA, o antagonismo (b) capitalismo vs. soci "Mas também os árabes s ã o
alismo marxista todavia permanece, com a mesma na semitas, irmãos carnais dos ju
tureza de rivalidade e competição político-ideológica. deus e tiveram o seu período de
Concretamente, este antagonismo passa a se definir pelo agressivi-dade e de tentativa de
processo de oposição entre os EUA e o MCI, com uma império mundial. Na medida, en
aparência menos nítida: de um l a d o , a potência tão, em que os judeus são ban
hegemônica evidente, de outro, um conjunto difuso de queiros e detentores de capital fi
organizações e entidades pouco visíveis. Neste confron- nanceiro, como dizer que os mes-
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mos não participam da agr es Este antagonismo, tem causas subjetivas mais
sividade dos Estados imperialis profundas e anteriores - a frustração do sonho imperial
tas?" (A. Gramsci, Cartas do Cár islâmico e a sensação de insegurança gerada pela pre
cere, Civilização Brasileira, 1966). sença da potência hegemônica, a quem grupos islâmicos
radicais consideraram obstáculo às suas aspirações e
o esquema abaixo ilustra os dois antagonismos e ameaça à sua existência (d).
suas decorrências: A atualidade deste antagonismo também vem a
explicar a afinidade oportunista do MCI com os países e
ANTAGONISMO grupos islâmicos, expressa pelo apoio político e moral,
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internacionalmente e limitar a sua ação política e militar. cano , - inclu sive no Br asil, a d e s p e i t o d a
As organizações radicais ou terroristas podem ter irracionalidade d e tal atitude nas circunstâncias dos
ligações com movimentos pol íticos ou religiosos indiscriminados atos terroristas, vitimando civis ino
fundamentalistas como a AIKaeda e o Hamás. Redes In
centes e cidadãos estrangeiros.
ternacionais ilegais (narcotráfico, contrabando, lenocínio,
Terminada a intervenção militar no Afeganistão, o
etc) podem ter relação com as organizações terroristas.
terrorismo palestino é retomado contra Israel; o mesmo
Os objetivos da Guerra Assimétrica são ideológi
esquema psicológico e de propaganda pacifista se repe
cos, políticos ou religiosos (fundamentalistas). O antago
te. Ainda que aparentemente desaprove os insanos aten
nista real da potência, não podendo agir diretamente con
tados dos homens-bomba contra a população civil inde
tra seu opositor, por conveniência ou por falta de poder
fesa, novamente o Mel conduz a campanha internacio
para tal, "delega" a execução das ações armadas - incur
nal contra a retaliação militar israelense e a alegada ali
sões, golpes-de-mão, sabotagem e atentados terroristas
ança dos EUA. Idêntica campanha foi desencadeada con
- a organizações radicais e às "redes" hostis, caracteri
tra os Estados Unidos para inibir sua ação política e mili
zando um conflito da periferia para o centro. As organiza
tar e retirar o apoio de outros países à pretendida inter
ções e redes são usadas como "braço armado" do anta
venção armada contra Saddan Hussein (Segunda Guer
gonista principal.
ra do Golfo), como parte de uma política de "tolerância
Os atentados terroristas ocorridos em âmbito mun
zero" ao terrorismo internacional. Desta vez, a campanha
dial, particularmente após 1991, contra os Estados Uni
psicológica teve grande êxito, isolando, politicamente a
dos e outros países "imperialistas" e "capitalistas" são
potência hegemônica, levando-a a agir unilateralmente.
ações armadas de uma guerra assimétrica que substituiu
Aqui está a nova face da guerra fria, aliás, não tão
a guerra periférica.
"fria" como aquela em que se confrontaram EUA e URSS
Nos atentados terroristas de 11 de setembro
de 1946 a 1990, uma guerra de propaganda com eventu
de 2001 em Nova Iorque e Washington, as manifes
ais conflitos periféricos, agora não tão periféricos assim.
,
tações de espanto e de repúdio foram logo seguidas Estamos assistindo o confronto de duas ideolo
de uma campanha pacifista mundial visando a inibir gias no qual fica evidente que o comunismo não mor
uma resposta militar norte-americana. As esquerdas, reu, embora se faça de morto para desarmar os espíri
fazendo a opinião pública, tratou de convencer pes tos e a resistência das sociedades democráticas.
soas e governos de que as principais vítimas seriam
crianças inocentes atingidas pelos bombardeios NOTAS
indiscriminados para eliminar os terroristas ocultos e
abrigados. Ao mesmo tempo insinuaram que os aten
(a) Guerra Periférica - Na guerra fria ou no confronto entre
tados foram justa resposta do mundo árabe contra a duas potências, conflito secundário entre uma delas e um
prepotência, arrogância e agressividade imperialista Estado apoiado ostensivamente pela outra; ou guerra entre
norte-americanas. Esta indução realmente surtiu efei dois Estados, cada um apoiado ostensiva ou veladamente
pelas potências antagônicas.
to, fazendo aflorar o ressentimento geral anti-ameri-
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proibindo a entrada de estrangeiros em seus domínios. Comandante Clerk chega a Belém, entretanto as autori
Humbolt publicou os resultados de suas viagens no livro dades brasileiras não permitiram a entrada do barco no
"Viagens às Regiões Equinociais do Novo Mundo", Rio Amazonas.
obra em trinta volumes. Em 1853, o Governo dos Estados Unidos apre
No início do século XIX, a borracha havia chama sentou pedido formal de abertura do Amazonas à nave
do a atenção como nova matéria prima. Antes apenas gação internacional, recorrendo à mobilização da opinião
usada artesanalmente para a impermeabilização de pa pública mundial. A resposta brasileira foi negativa.
nos e confecção de botas, calçados, chapéus e bolsas; As questões surgidas no Caribe (Antilhas e Cuba)
aos poucos ganhou importância para diversos usos in arrefeceram o interesse norte-americano na Amazônia.
dustriais (a). Entretanto o Império do Brasil entendeu que, mais cedo
Várias plantas produzem látex, entretanto a serin ou mais tarde, teria que permitir a navegação do Rio
gueira amazônica (Hevea Brasiliensis) é a que melhor Amazonas a navios de outras bandeiras, como ele pró
pode ser utilizada. A procura do novo material deu origem prio já havia exigido no Prata. Para isto, preparou as con
a um novo ciclo econômico, o Ciclo da Borracha, que durou dições de garantia dos interesses e da soberania nacio
de 1827 a 1947 gerando grandes riquezas, fazendo pros nais: fundação da Companhia de Navegação do Amazo
perar as cidades de Belém e Manaus. nas de Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá), cri
Com a crescente importância da borracha, não só ação da Província do Amazonas (presença da autoridade
a curiosidade atraiu a atenção para a Amazônia mas, a no interior) e estabelecimento dos postos aduaneiros. Só
partir de m e ados do século XIX, também as então abriu o Rio Amazona� à navegação internacional
potencialidades econômicas da região. Surgiu então em (1867). Infelizmente, a companhia de navegação nacio
certos setores norte-americanos interesse de natureza nal não prosperou. Em 1873, a empresa inglesa "T he
colonialista em relação à região. Em 1850, o Tenente de Amazon Steam Navegation Company" sucedeu a organi
Marinha Matthew Fontaine Maury iniciou uma campanha zação de Mauá. Os ingleses pretenderam então investir
para a abertura dos rios amazônicos à navegação inter na cultura da borracha, mas não lhes foi permitido. Coin
nacional, alegando o interesse da humanidade e a in cidentemente, o inglês Henri Alexander Wickman obteve
capacidade brasileira para gerir a região. A campanha e levou 70.000 sementes da seringueira para aclimatação
publicitária que conduziu, despertou o interesse de em da planta no Jardim Botânico de Kew na Inglaterra.
presas privadas e do próprio Governo americano. Após a Guerra da Secessão nos Estados Unidos
Nos anos de 1851 e 1852, dois oficiais de mari (1860 - 1865) algumas organizações filantrópicas (hoje
nha dos Estados Unidos - Lardner Gibbon e William Lewis as chamariam de organizações não-governamentais) pre
Herdon - reconheceram o Rio Amazonas. O primeiro des tenderam assentar na Amazônia os ex-escravos, libertos
ceu o rio a partir de Iquitos, e o segundo subiu o curso de pela União ao vencer os Confederados do Sul. A iniciativa
água, saindo de Belém. Terminaram a expedição, en não vingou como anteriormente foi bem sucedida outra
contrando-se em Itacoatiara. semelhante na África (b).
Ainda nesta mesma época é fundada a "T he Steam Na mesma época, muitas famílias de confedera
Navegation Company of New York". O navio "Amazon" do dos saíram dos Estados Unidos, emigrando para outros
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países. Para o Brasil, vieram dois grupos; um deles veio velado do governo ao empreendimento.
para o Pará onde esperava estabelecer uma colônia agrí A questão se resolveu com o hábil trabalho diplo
cola. Não prosperou e o núcleo de imigrantes norte-ame mático do Ministro das Relações Exteriores Rio Branco.
ricanos não deixou vestígio de sua presença. Outro gru Negocia e indeniza (110 mil libras esterlinas) o Bolivian
po emigrou para a Província de São Paulo e lá teve êxito Syndicate que desiste da sua concessão. Faz acordo com
(c). a Bolívia, trata dos limites, tudo acertando no Tratado de
Em 1876, os ingleses levaram sementes da serin Petrópolis de 1903.
gueira já aclimatada na Inglaterra para a Ásia, iniciando o A competente atuação de Rio Branco deu solução
seu cultivo e exploração de forma racionalizada na definitiva à Questão do Acre. Nesta ocasião, é bom que
Malásia, Ceilão, Tailândia, Borneo e em outras áreas. Ti se diga, não houve qualquer ingerência ou pressão de
veram êxito, obtendo um produto de melhor qualidade algum Estado ou Governo estrangeiro que pudesse cons
para a indústria e mais barato. Iniciava-se uma concor tranger a soberania nacional, embora estivessem envol
rência que viria a ser fatal para a produção brasileira de vidos interesses privados de empresas transnacionais (d).
borracha. Dez anos depois de resolvida a Questão do Acre,
De qualquer modo, a demanda mundial provocou o próprio Theodore Roosevelt, ex-presidente dos EUA,
uma verdadeira corrida de nordestinos para a Amazônia. veio em excursão ao Brasil, visitar os sertões de Mato
No início do ciclo, as seringueiras foram exploradas na Grosso e Amazonas (1913 a 1914). Qualquer suspeita
foz do Rio Amazonas e, progressivamente a exploração de intenção imperialista nesta viagem perde consistência
se foi interiorizando para as bacias dos afluentes Tapajós, quando se sabe que foi acompanhado na expedição pelo
Xingu, Madeira, Juruá, Purus e Javari, penetrando no Acre General Rondon, aliás a pedido de Roosevelt e indicação
a partir de 1877, na época ainda território boliviano. Os do Governo brasileiro. Em seu livro publicado logo depois
seringais acreanos eram particularmente produtivos, atra da viagem, referiu-se a Rondon de modo admirável, re
indo, milhares de brasileiros que, de boa fé, entraram em conhecendo o seu caráter, cultura e conhecimento dos
território estrangeiro, daí surgindo inevitavelmente o con sertões brasileiros.
flito. Tem início a Questão Acreana em 1899. Decorren Na preservação e ampliação do fascínio interna
tes foram os choques armados com forças bolivianas e a cional pela Amazônia, mais notável do que a expedição
revolta que culminou com a declaração de independên do ex-presidente Roosevelt foi a exploração que o Coro
cia do Acre. O governo boliviano, tentando garantir a pos nel inglês Fawcett realizou em duas viagens aos sertões
se do território, o deu, em concessão de exploração, a brasileiros.
uma empresa privada, The Bolivian Syndicate of New York Na sua segunda excursão (1925), em busca de
City in North América, consórcio de empresários norte uma cidade lendária no interior das florestas do Brasil
americanos e financistas ingleses. A concessão autoriza Central, o explorador inglês desapareceu com o seu filho,
va a companhia manter uma força de segurança própria. possivelmente morto pelos índios calapagos. A tragédia e
Consta que se juntou ao grupo de empresários um dos o mistério acrescentaram novos motivos de curiosidade e
filhos de Theodore Roosevelt, então presidente dos EUA, de interesse pela Amazônia.
o que não significava, necessariamente o apoio oficial ou Na década de 1920 a borracha ainda tinha grande
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valor econômico. A vantagem competitiva, quase mono do Sudeste asiático não podem ser confinados nos seus
pólio, dos ingleses na produção da borracha extraída nos limites geográficos enquanto há espaços vazios ao redor
seringais cultivados na Ásia, levou alguns empresários do mundo. Eles não podem respeitar o fato de que estas
norte-americanos a tentar o cultivo da seringueira. A com terras tenham proprietários"(e).
panhia Firestone investiu num projeto na Libéria (1926). Em 1948, a ONU, por intermédio da UNESCO,
Henry Ford desenvolveu dois empreendimentos no Bra propôs a criação do Instituto Internacional da Hiléia
sil: Fordlândia (1928) e Belterra (1929) no Vale do Tapajós. Amazônica com a finalidade de realizar pesquisas cientí
Encontrou dificuldades técnicas e estas plantações de se ficas. Na verdade seria uma ingerência nos assuntos in
ringueiras nunca chegaram à produtividade do cultivo asiá ternos dos países da região e do Brasil em particular.
tico. O surgimento da borracha sintética (1946), melhor e Felizmente, a intrometida iniciativa não foi além da
mais barata, praticamente acabou com a borracha extraí incômoda proposta.
da da seringueira. Estava findo o Ciclo da Borracha. Em 1960, o Instituto Hudson, entidade privada com
As notícias dos grandes investimentos privados na sede nos EUA, patrocinou o projeto dos Grandes Lagos
região somadas aos relatos dos viajantes e exploradores ou Mar Mediterrâneo Amazônico de invenção do profes
sobre a exuberância e mistérios da selva equatorial fize sor Hermann Kahn. Seria construída uma barragem no
ram crer, aos que não a conheciam, que se tratava de um Rio Amazonas na altura de Gurupá que, inundando a flo
promissor paraíso e nova fronteira da civilização. Daí en resta, proporcionaria franca navegação no interior do con
tão começam a aparecer projetos e propostas grandio tinente, interligação entre as bacias fluviais e a geração
sas mas pouco adaptados à realidade amazônica. de imensa quantidade de eletricidade. O projeto nem foi
Algumas publicações recentes e alguns conferen cogitado.
cistas fazem referência ao Japão que teria, na década de Os governos do período da Revolução Restaura
1930, sugerido a ocupação da Amazônia com exceden dora de 1964 (1964-1985) dispensaram uma objetiva
tes populacionais de outras áreas do mundo. Parece ser atenção à Amazônia, realizando grandes projetos de
improcedente esta informação, mas pode ter uma equi integração da região ao restante do país, de desenvolvi
vocada relação com um fato verdadeiro na qual figura o mento econômico auto-sustentado e de ocupação
ex-ministro da índia S. Chamdrasekhar. Tendo sido re demográfica racional.
presentante do seu país na ONU, aí fez um discurso que As realizações valorizaram a região e, evidente
ficou célebre, ameaçando os países que faziam restrição mente, atraíram outra vez as atenções internacionais para
à imigração asiática embora possuíssem espaços vazi ela, além de criar novas oportunidades de investimentos
os; referia-se especificamente ao Brasil, Canadá e Aus e de empreendimentos econômicos. Serve de exemplo o
trália. Neste discurso, referiu-se também ao Alasca entre Projeto Jarí do empresário norte-americano Daniel Keith
os detentores de espaços vazios. O ex-ministro indiano Ludwig que instalou uma fábrica de celulose para produ
escreveu depois o livro "Hungry People and Empaty ção de papel e uma vasta área de reflorestamento para
Lands" (Povos Famintos e Terras Vazias), valendo-se de fornecer a matéria-prima necessária. Embora o empre
estatísticas de
1949. Disse o autor: "Como não há mais endimento tenha progredido razoavelmente, o empresá
Novos Mundos a descobrir e conquistar, as populações rio encontrou dificuldades. Acabou desistindo do projeto,
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passando-o para um grupo empresarial nacional. zônia passou a ser quase a única razão reconhecida da
ameaça que pairaria sobre a nossa soberania na região.
Desde 1750 até os anos de 1960 não se pode Os recursos que geralmente são citados como alvo
efetivamente reconhecer qualquer iniciativa ou tentativa da "cobiça" imperialista podem ser classificados em qua
estrangeira que tenha representado violação da sobera tro categorias: minérios, petróleo, biodiversidade e água
nia brasileira na Amazônia, embora algumas de suas po potável.
sições tivessem nítida motivação colonialista como a cam Quanto aos recursos minerais da Amazônia, sua
panha do Tenente Matthew F. Maury e a concessão cedi natureza e localização são razoavelmente bem conheci
da pela Bolívia ao Bolivian Syndicate. A "cobiça" alienígena das desde os levantamentos iniciados pelo projeto RADAN
ficou restrita ao interesse comercial e a alguns investi nos anos de 1960. As principais reservas são de bauxita
mentos, principalmente na exploração extrativa da serin (Pará), cassiterita (Rondônia), ferro (Carajás, PA) e
gueira nativa e na tentativa do seu cultivo racional. manganês (Amapá). Estes minérios estão sendo normal
A única demanda de origem oficial, isto é, de go mente explorados e exportados a preços de mercado. Há
verno estrangeiro, foi referente à abertura do Amazonas ainda reservas significativas de metais importantes como
à navegação internacional. o titânio e o nióbio. Este último tem sido apontado como o
O fato mais claro de ameaça à nossa soberania principal alvo da "cobiça" internacional.
neste período não tem origem na Inglaterra ou nos Esta As principais reservas deste metal (cerca de 86%
dos Unidos, mas na França; a Questão do Amapá, em das reservas mundiais) estão em Araxá (MG) e Catalão
que os franceses pretenderam estender a sua Guiana (GO). São exploradas e o minério é exportado (9). As
até o Rio Araguari sob alegação de tratar-se do Rio Vicente ocorrências descobertas no Parque Nacional do Pico da
Pinzón (1). Neblina (Amazonas) praticamente dobram as reservas
É importante reconhecer que o governo brasileiro brasileiras. O fato de o nióbio ser um metal raro e de ser
soube, até hoje, dar soluções oportunas, competentes e indispensável para os projetos de foguetes espaciais não
definitivas a todos os problemas até aqui surgidos. significa liminarmente que a Amazônia está ameaçada
de invasão. Antes Minas Gerais e Goiás estariam sob a
A "cobiça" Internacional mesma ameaça.
A partir dos anos de 1970, as ingerências interna O petróleo da Amazônia não é abundante. As re
cionais em assuntos da Amazônia passam a ser de natu servas de Urucu (Amazonas) são pequenas, embora o
reza política e, principalmente, a ter razões ideológicas. óleo seja de excelente qualidade. A prospecção é da
Entretanto, parece que a nossa percepção do problema PETROBRAS. A exploração comercial é viável, mas apre
está geralmente incompleta quando damos ênfase ape senta restrições econômicas, particularmente pelas difi
nas aos interesses econômicos capitalistas e imperialis culdades de acesso à área e de transporte (h). Por si só,
tas mundiais, de certa forma concordando com teses e as reservas amazônicas de petróleo não justificam a "co
palavras-de-ordem das esquerdas marxistas. A cobiça biça" internacional, possivelmente nem para o futuro (re
dos países ricos nos imensos recursos naturais da Ama- serva técnica), quando houver escassez absoluta do pro-
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duto no mundo. Até lá, uma fonte de energia alternativa pela escassez de água que já começa a se antecipar pelo
provavelmente já estará em uso. crescente consumo nos países do Primeiro Mundo.
Deste modo a Amazônia seria, a curto prazo, o
Outro recurso natural que tem sido apontado como grande manancial da humanidade, foco da "cobiça" dos
motivo de "cobiça" é o que passou a s e chamar países ricos, particularmente da América do Norte, Euro
biodiversidade. A expressão foi inventada para indicar pa e Extremo-Oriente. A afirmação é uma simplificação
justamente o conjunto dos recursos da flora e da fauna semelhante àquela que os ambientalistas diziam e as
amazônica (i). Na realidade, a variedade de espécies personalidades estrangeiras repetiam: "a Amazônia é o
animais e, principalmente, de espécies vegetais é assom pulmão do mundo". A bacia hidrográfica amazônica cons
brosamente rica na região, mas o seu valor econômico é titui realmente uma grande disponibilidade de água doce.
pequeno. Tirando os produtos extrativos (castanha, es Porém, as maiores reservas do líquido estão bem espa
sências, frutas, fibras, etc) só podemos apontar como de lhadas pelo planeta, nas calotas polares, nas geleiras das
valor comercial a madeira de lei e a borracha, esta já sem montanhas e cordilheiras e na precipitação da neve nos
grande expressão. A exploração ilegal e predatória da países frios. Dois exemplos ilustrativos: O Canadá retira
madeira e o seu descaminho para compradores no exte água doce das geleiras e até cogitou de exportá-Ia para a
rior é uma prática duplamente criminosa, infelizmente Califórnia; na Serra da Estrela em Portugal há barragens
motivada pela "cobiça" de brasileiros. (muros de pequena altura) ao longo de sucessivas cur
A flora medicinal é apontada como uma riqueza vas de nível das encostas para deter a neve, capitar a
cobiçável. Realmente há uma grande potencialidade para água do degelo e dirigi-Ia para as tubulações que a levam
a pesquisa e identificação de princípios ativos importan a uma usina hidrelétrica antes de ser distribuída para con
tes. Entretanto, este valor só existe para quem tem capa sumo (I).
cidade de pesquisar, identificar e, principalmente, de sin
tetizar a droga em laboratório. A "biopirataria" é um es Realmente a Amazônia possui riquezas naturais
cândalo mais pela falta de vigilância, incompetência, cor variadíssimas que podem sustentar seu próprio desen
rupção e cobiça de pessoas inescrupulosas, do que pela volvimento. Entretanto não possui nada tão extraordiná
atividade dos coletores estrangeiros disfarçados de mis rio que possa ser causa de "cobiça" internacional e de
sionários, turistas, viajantes e amantes da natureza. A uma conseqüente invasão militar.
pesquisa nacional independente ou mesmo associada a Os recursos disponíveis não são negados aos
grandes laboratórios internacionais é algo mais racional países interessados e têm sido exportados sem restrições,
do que acreditar na "sabedoria milenar dos pajés" ou con com vantagens recíprocas para os vendedores nacionais
tinuar a deblaterar a "cobiça" dos países ricos e imperia e compradores estrangeiros. O bom senso indica que não
listas (j). há necessidade da conquista física das fontes produto
Ainda sobre interesses internacionais, recente ras para se obter os bens desejados. É uma questão de
mente tem sido apontada a vasta disponibilidade de água investimento e de comércio, contratos livremente negoci
potável dos rios da Bacia Amazônica. Os recursos hídricos, ados, como tem sido há mais de 200 anos. Por isto, não
como se diz, vão se tornando cada vez mais importantes parece provável uma guerra de conquista desencadeada
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vulnerabilidade (m). Mais tarde, poderá vir a ser alegada rem o Protocolo de Kyoto (1997), documento com evi
(dentro e fora do Brasil) a autodeterminação da "nação dente significado político-ideológico para constranger os
indígena" e exigida a sua independência ou países capitalistas (o).
internacionalização, sob proteção e administração de al O Brasil tem dado uma resposta razoável ao pro
gum organismo internacional. Um incidente como o cha blema da preservação ambiental e às críticas internacio
mado "massacre" dos sem-terra em Eldorado dos Carajás nais com a criação das unidades de conservação: par
(pa) poderá ser usado como pretexto até para uma inter ques nacionais, estações ecológicas e áreas de proteção
venção militar internacional, como aconteceu em Kosovo ambiental. Entretanto tem proporcionado algumas condi
na ex-Iugoslávia. A verdade é que nós e o governo temos ções de vulnerabilidade; particularmente:
contribuído para que isso possa acontecer. A mediata - Grande extensão das unidades
causa da ameaça à soberania nacional não é estrangeira - Contigüidade com reservas indígenas
mas o resultado das continuadas omissão e imprudência - Contigüidade com a fronteira
dos brasileiros e dos seus governantes. - Convênio com ONG conservacionistas na-
cionais e estrangeiras
Na linha da ecologia, as pressões se fizeram e se - Aceitação da condição de patrimônio da
fazem em defesa do meio ambiente, colocando embara humanidade.
ços a projetos de desenvolvimento, denunciando as
atividades industriais capitalistas ou o uso da energia nu Para ilustrar, o Estado de Roraima tem 70 por cento
clear como poluidores. da sua área destinada às reservas indígenas e unidades
Com relação ao Brasil, os dois alvos principais são de conservação, fora portanto da jurisdição estadual. São
o programa nuclear Uá inviabilizado) e a Amazônia. Nesta, consideradas imprudentemente patrimônio da humanida
as alegações têm sido o desmatamento e as queimadas. de pelos próprios brasileiros, a floresta amazônica, a Mata
O mito do "pulmão do mundo" acabou por impres Atlântica e o Pantanal.
sionar personalidades internacionais proeminentes, as
mais conhecidas Margareth Teatcher, AI Gore, Françoise Novamente podemos dizer que a maior ameaça à
Mitterrand, John Major, Gen Patrick Hugles e Gorbachov. soberania nacional não é estrangeira mas a incompetên
Fizeram declarações ameaçadoras ao Brasil. Embora já cia, a demagogia e a imprudência dos nossos governantes
não mais ocupassem cargos de governo em seus países e a traição dos intelectuais orgânicos brasileiros
e os pronunciamentos não expressassem a posição ofici propagadores do "humanismo de resultados" da esquer
ai destes, pareceram-nos ameaças claras de uso da for da internacional. Com isto, criam condições e dão pretex
ça militar para defender a ecologia na Amazônia (n). As to para que outros governos, principalmente europeus,
manifestações arrogantes foram feitas na década de 1980 eventualmente proponham a internacionalização de áre
e tinham muito de populismo político e de posição "poli as amazônicas ou mesmo tomem a iniciativa extrema de
ticamente correta" que perdeu importância com a realizar uma intervenção militar em defesa dos índios e
desmistificação da fantasia da Amazônia - pulmão do da preservação ambiental.
mundo, e com a recusa dos Estados Unidos de ratifica-
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Perigo Concreto - a "Narcoguerrilha" Colombiana têm de 15.000 a 20.000 guerrilheiros e controla uma área
de cerca de 42.000 km2, uma extensa faixa que vai desde
No período de 1956-1974, o Movimento Comu as fronteiras do Equador e Peru até a fronteira da
nista Internacional foi ofensivo na América Latina, por in Venezuela. Esta área se estende de Sudoeste (região de
termédio de suas diferentes tendências revolucionárias. Caquetá) a nordeste (região de Vichada) em torno da fron
Teve êxito em Cuba (1959) mas foi severamente derro teira do Brasil ("Cabeça do Cachorro"), mas muito distan
tado no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia e, tardia te desta (aproximadamente 700km)
m e nte, no Peru. Entretanto, na C o l ô m b i a ainda Ainda assim, elementos da guerrilha têm entrado
remanescem dois movimentos guerrilheiros que hoje con em território brasileiro para cumprirem diferentes fins. Mais
trolam duas extensas áreas do país, cuja localização per significativo foi um ataque guerrilheiro das FARC contra
mite o acesso de grupos armados às fronteiras do Brasil: um posto militar brasileiro em 2002, daí resultando a mor
- As Forças Armadas Revolucionárias da Colôm te de um soldado do Exército.
bia (FARC) de inspiração leninista-maoísta, cria O Exército de Libertação Nacional tem cerca de
das em 1964. 5.000 guerrilheiros e atua numa área de aproximadamente
- O Exército de Libertação Nacional (ELN) de ins 4.500 km2, região de Araucá, próximo a fronteira da
piração marxista-guevarista, criado em 1965. Venezuela.
O presidente André Pastrana, assumiu o governo Para complicar mais ainda este quadro interno da
com o projeto de obter a paz com os movimentos guerri Colômbia, existem grupos paramilitares ilegais, financia
lheiros. Unilateralmente criou uma "zona desmilitarizada", dos por fazendeiros e narcotraficantes, que combatem a
acreditando que esta concessão pudesse fazer progredir guerrilha. O grupo mais átuante é o que se denomina
negociações de paz com as FARC. O ELN também plei "Autodefesas Unidas da Colômbia" (AUC).
teou uma "área desmilitarizada" obtendo idêntica conces
são. Completando a complexa situação de contesta
Como se poderia esperar de negociações com ção à ordem institucional colombiana, soma-se o
movimentos comunistas, nada foi conseguido de cons narcotráfico.
trutivo para a paz. Mas os dois grupos guerrilheiros obti A Colômbia é o maior produtor de cocaína no
veram sem luta "áreas liberadas" que ficaram sob seus mundo e o quinto de heroína. Fornece 80% da droga
respectivos controles. As FARC ainda aproveitaram as consumida nos Estados Unidos.
condições propostas de negociação para criar o seu "bra O cultivo da coca, a produção e o tráfico mundial
ço político", o Movimento Bolivariano, na tentativa de ga de cocaína são controlados por "cartéis", o mais mencio
nhar projeção inter' nacional e reconhecimento de belige nado o de Calí. O Brasil é um importante mercado consu
rante. Com este objetivo, mantêm escritório de represen midor da droga e seu território é usado como rota para os
tação no Brasil, ingressou no Foro de São Paulo e têm Estados Unidos e Europa. O narcotráfico tem sido a prin
freqüentado o Foro Social Mundial, com apoio de impor cipal atividade do crime organizado no nosso país, assu
tantes políticos brasileiros de esquerda. mindo crescente gravidade. Diversas entradas (campos
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, de pouso clandestinos e vias fluviais) introduzem a droga
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ses adversas. Também cumprem uma obrigação ao exi interpretações marxistas da histórica, têm divulgado ver
sões que não correspondem à verdade dos fatos e tentam
girem meios para tal, com base em fatos e na exata me-
demonstrar a intervenção imperialista dos EUA na Ques-
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tão do Acre em benefício dos seus interesses e dos empre Euclides da Cunha, escrito em viagem marítima de Manaus
sários do Bolivian Syndicate. Primeira versão: A canhoneira para o Rio de Janeiro em 1906 (Genesco de Castro, o Es
americana Wilmington sob comando do Capitão Chapman tado Independente do Acre e Plácido Castro, 1930).
Tood subiu os rios Amazonas e Purus para levar os repre (e) Estas informações me foram passadas por Jarbas Passa
sentantes do Sindicato, e impor a ocupação do Acre. Se rinho, fazendo referência ao livro "Povos Famintos e Terras
gunda versão: As forças de Plácido de Castro se confron Vazias" do indiano S. Chandrasekhar.
taram com combatentes bolivianos e americanos na Re (f) É oportuno lembrar que a França é o único país europeu
volta Acreana. que tem fronteira com o Brasil por extensão do seu territó
Realmente, a canhoneira Wilmington, na ocasião do rio no Departamento da Guiana, capital Caiena.
conflito, aportou em Belém (início de 1899). Não consta ter (g) Há denúncias veiculadas na imprensa de que as compa
subido o Amazonas sem autorização do Governo Brasilei nhias mineradoras de nióbio em Minas Gerais e Goiás
ro embora alguns autores afirmem que tal tenha aconteci subfaturam as exportações, possivelmente para manter
do. A verdade porém é que este navio nunca subiu o Purus contas bancárias privadas ilegais no exterior. Embora es
com representantes do Sindicato. Parece que veio ao Bra tas denúncias deixem insinuado um complô com capitalis
sil com missão de colher informações sobre o conflito no tas estrangeiros, esta irregularidade, se verdadeira, nada
Acre. O Capitão Tood teve mais de um contato com o côn tem a ver com a "cobiça" na Amazônia, pelo menos de
sul boliviano em Belém. A versão para estes "suspeitos" empresas ou de governos estrangeiros. Seria um caso de
encontros tem sido a de que houve entre eles uma conspi crime fiscal ou de corrupção que deveria ser apurado pela
ração contra o Brasil. Todavia, nada aconteceu e a polícia.
canhoneira Wilmington, inopinadamente, suspendeu e dei (h) A exploração do campo de Urucu foi iniciada em 1988.
xou Belém de regresso ao seu país (maio de 1899). É im Atualmente, a extração de petróleo é de 100 mil barris/dia,
portante saber que havia uma flotilha da Marinha do Brasil correspondendo a 5,5% da produção nacional. O óleo ex
no Amazonas e que em 1900, subiu até o Acre sem que traído é levado por um oleoduto de 285km até a localidade
tenha havido qualquer incidente bélico. de Coari. Projeto em fase final de elaboração prevê a cons
Uma delegação de representantes do Bolivian Syndicate trução de um gasoduto de Coari a Manaus (423km) para
só chegou ao Brasil em 1902, subindo para o Acre em alimentar quatro usinas termelétricas, substituindo o uso
embarcações fretadas em Belém. Eram 15 ou 20 pessoas. de óleo diesel como combustível (5 milhões de m3/dia).
Chegaram à Vila de Antimaci (região de Cachoeira Purus), Deverá estar pronto em 2006. Outro gasoduto está sendo
abaixo de Porto Alonso (hoje Porto Acre) então ocupado projetado para levar o gás natural (2 milhões de m3/dia)
pelos revoltosos de Plácido de Castro. Assim não puderam para Porto Velho, Rondônia (263km).
entrar no Acre e aí estabelecer o núcleo inicial da empresa (i) O termo biodiversidade é de criação recente. Só as edi
na sua concessão. A delegação desistiu do seu intento e ções posteriores ao ano 2000 do Dicionário Aurélio e do
resolveu retornar a Belém. O Bolivian Syndicate, assim, Dicionário Howaiss o registram.
nunca chegou a' se implantar no Acre. U) A expressão pejorativa "biopirataria" poderia também nos
Com relação à presença de combatentes americanos no criar certo constrangimento: As espécies vegetais econo
conflito, não há qualquer registro ou testemunho fundamen micamente mais importantes para o Brasil, cana-de-açú
tado que confirme esta versão tendenciosa. O próprio Plá car, café e soja, nenhuma é nativa; foram "pirateadas" no
cido de Castro, chefe da Revolta Acreana, não faz qual Oriente. Sem esquecer de outras plantas que se supõem
quer referência a este fato, nem na sua correspondência brasileiras: coco da Bahia, manga, caju, arroz, feijão, etc. E
nem no minucioso relato que fez da Revolta a pedido de os animais domésticos: o boi, cavalo, carneiro, cabra, o
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AMEAÇAS E DESAFIOS
Sergio A. de A. Coutinho
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vas". Se certos produtos nacionais são sobretaxados pela mocracia representativa, somando-se a todas as nossas
potência hegemônica, visando impedir sua entrada no país precaridades políticas.
(por exemplo, suco de laranja, aço e sapato), isto signifi
ca que são competitivos e que têm condições de disputar Os países a que estamos denominando "coadju
melhor outros mercados. O grande desafio que a nova vantes notáveis" no cenário da nova ordem mundial são
ordem mundial faz ao Brasil na área da globalização é aqueles que, pelo seu destacado poder nacional gozam
competitividade. de uma certa autonomia em relação à potência
hegemônica. São outros centros de poder mundial que
A nova Guerra Fria, até o momento, não tem proporcionam ao Brasil alternativas econômicas e políti
afetado diretamente o Brasil. Deste modo, pelo menos cas, atenuando a presença dominante dos EUA. Não se
por enquanto, não temos nada a ver com as intervenções trata de encontrar neles aliados para desenvolver um an
militares norte-americanas no Oriente Médio. São um pro tagonismo nacionalista, mas para abrir maiores espaços
blema deles, embora um país que deseja ter projeção de atuação e de independência para melhor atender os
mundial, como o nosso, não pode ficar indiferente ao ter interesses nacionais. Considerar, aprioristicamente, que
rorismo internacional, muito menos ser-lhe simpático por todos os países capitalistas são imperialistas ou que fa
que golpeia a potência hegemônica que invejamos e te zem parte de uma conspiração global contra os países
memos. Fora disto, melhor faríamos se não déssemos pobres é uma atitude chauvinista e preconceituosa, con
opinião e se não emitíssemos juízos de valor sobre pro traproducente porque só contribuirá para o isolamento do
blemas reais dos outros. Brasil. Na verdade, a existência dos países coadjuvantes
Ainda que a Guerra Fria não nos diga respeito, o notáveis em número significativo é particularmente van
Movimento Comunista Internacional, que está por trás tajosa e reduz, de alguma forma, �s preocupações e
dela, efetivamente nos ameaça diretamente, na medida ameaças que a presença da potência hegemônica possa
em que as organizações não-governamentais a ele liga representar.
das atuam no Brasil e tentam levar a efeito um projeto
revolucionário aqui. É o caso da Internacional Rebelde O aspecto mais sensível da nova ordem mundial
de inspiração principalmente anarco-comunista que tem é, sem dúvida, o advento da potência hegemônica, os
proporcionado projeção internacional ao Foro Social Mun Estados Unidos da América. Seu poder, político,
dial (FSM) que se reúne anualmente em Porto Alegre e, econômico, psicossocial, militar e tecnológico é
proximamente, em Belo Horizonte. De forma indireta, incontrastável, conferindo-lhe uma postura imperial e uma
outras tendências do MCI dão estímulo e apoio ao movi conduta autônoma, liberdade de ação que tem sido qua
mento comunista no Brasil para realização do seu objetivo lificada de arrogante e ameaçadora. A simples existência
de tomar o poder e de implantar o socialismo de um país de singular poder é muito desconfortável para
protocomunista no País. as demais nações, produzindo, inevitavelmente, uma per
O Movimento Comunista Internacional, nas suas manente sensação de insegurança.
diferentes linhas político-ideológicas e na sua influência Os Estados Unidos porém têm dado inúmeros
nos partidos comunistas no Brasil, é uma ameaça à de- exemplos de respeito e generosidade como foram reco-
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nhecidos na maneira como tratou os inimigos derrotados maneira geral cordial e cooperativa, relações de aliados
na Segunda Guerra Mundial. Além de garantir a indepen na Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria. Uma das
dência da Alemanha Ocidental, Itália e Japão, solidaria vias alternativas de franco entendimento foi a dos contatos
mente contribuiu para o soerguimento destas nações. de militares. Na intimidade, chama-se esta prática de "di
Porém, surpreendentemente, também são conhecidos plomacia militar'. Muitas vezes, de maneira informal, di
exemplos históricos de prepotência para fazer valer os versas dificuldades foram contornadas ou mesmo resol
interesses nacionais (a). Além do mais, os norte-ameri vidas em nosso benefício pelas relações entre camara
canos freqüentemente arrogam-se um papel messiânico das militares.
e se atribuem a função de "gendarmes do mundo". T rata Somente no período presidencial de Jimmy Carter
se de uma potência que muitos identificam como de pos (1976-1980) as relações do Brasil com os EUA foram de
tura imperial. certa forma difíceis. Sob a influência das teses fabianas
(Ler o Texto O FABIANISMO NA AMÉRICA) e da entida
Apesar de tudo, quer queiramos, quer não queira de internacionalista Diálogo Interamericano, certos pon
mos, a potência hegemônica é uma realidade e com ela tos da política do Presidente Carter nos foram bastante
temos que, inevitavelmehte, conviver e lidar. Para isto tere incômodos. Na época, estávamos no governo Geisel e
mos que ter sabedoria, isenção e competência, qualida havia uma campanha da esquerda internacional acusan
des que certamente serão apreciadas pelo interlocutor. do os governos militares de violação dos direitos huma
Antes de mais nada temos que entender, sem juízos ante nos, tortura de presos políticos e genocídio indígena. Na
cipados, os pontos de vista da potência hegemônica antes mesma época, o Brasil deu ênfase a seu programa nu
de julgá-los deliberadamente imperialistas e perigosos. clear criando agências governamentais, desenvolvendo
Temos que buscar e manter relações francas, objetivas e a pesquisa, construindo a primeira usina nuclear de gera
construtivas, indo além da acadêmica combinação de ar ção de energia elétrica e, posteriormente, assinando acor
gumentos apoiados em ideais da ordenação jurídica inter do com a então República Federal da Alemanha para o
nacional (legitimidade) com argumentos ligados a aspec desenvolvimento de um processo de enriquecimento do
tos econômicos conjunturais Uustiça e equidade). urânio para reatores.
A política fabianista de Carter incluía os seguintes
Vejamos algumas dificuldades nas relações com pontos incômodos para o Brasil:
os Estados Unidos no passado recente e na atualidade, - Política de controle da natalidade nos países de
identificando-se três períodos de definição da política Terceiro Mundo, evidente intromissão nos seus
norte-americana: assuntos internos. À época, operou no Brasil uma
- 1946-1991 - Guerra Fria ONG denominada Bem-Estar da Família
- 1991-2001 - Hegemon
. ia dos EUA (BENFAM). Suspeitou-se de ser subsidiada
- 2001-hoje - "Tolerância Zero" para com o indiretamente pelo Governo Carter, por intermé
terrorismo dio de outra ONG com sede nos EUA _ Planned
No período da Guerra Fria (1946-1991) a política Parenthood Federation - fundada em 1916.
norte-americana com referência ao Brasil foi, de uma - Política de Direitos Humanos que, na verdade,
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======= Cad.ernos da Liherd.ac:le =======
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nos restaram os projetos do Veículo Lançador de Satélite mentamos O possível desdobramento internacional de um
(VLS) e do submarino nuclear, ambos definhando por fal incidente que envolva a morte de índios em confronto
ta de recursos. social que possa ser taxado de massacre.
Segundo, a prevenção do desenvolvimento e pro
No período que se seguiu aos atentados terroris dução de armas consideradas de destruição em massa.
tas de 11 de setembro de 2001, no governo George W. Nelas se incluem os vetores de lançamento, particular
Bush (filho) a visão geral da estratégia Internacional dos mente os mísseis de médio e longo alcance. O Brasil não
EUA é praticamente a mesma da década de 1990, acres deve esperar do Primeiro Mundo transferência de
cida da preocupação específica com a "tolerância zero" tecnologia na área de armamentos e de certos equipa
ao terrorismo internacional (e): mentos nem facilidades técnicas, econômicas e financei
- Defender as aspirações pela dignidade huma ras para desenvolver seus próprios projetos. Por isto, se
na (direitos humanos). pretende ganhar maior expressão nacional e no âmbito
- Derrotar o terrorismo global e impedir os seus internacional, terá que desenvolver, longa e penosamen
ataques contra os EUA. te, tecnologia própria e perseverar na execução dos seus
- Trabalhar com outros países para dissipar con programas estratégicos.
flitos regionais. Terceiro, a não menção ao narcotráfico, que sa
- Impedir que os inimigos (também terroristas) bemos ser permanente preocupação dos EUA e ter impli
ameacem os EUA com armas de destruição em cações na narcoguerrilha na Colômbia. Parece que, mo
massa (f). Inclui-se aí o impedimento de transfe mentaneamente, perdeu prioridade para o antiterrorismo.
rência para outros países de tecnologia relaciona
* * *
da com estas armas e seus vetores.
- Dar início a uma era de crescimento econômico
global através do livre mercado e do livre co Na nova ordem mundial indiscutivelmente, o prin
mércio. cipal ator é a potência hegemônica. Mas não é o único;
- Desenvolver a abertura das sociedades e a há outros protagonistas: aliados, concorrentes e antago
construção da democracia. nistas... E o resto do mundo. Nós brasileiros temos que
- Desenvolver a cooperação com outros centros pensar seriamente onde nos inserir ou nos conformar em
principais de poder global (os "coadjuvantes ser o "resto do mundo", fragilizados e vulneráveis, res
notáveis"). sentidos e temerosos. Estamos precisando de um proje
- Transformar as instituições de defesa nacio to nacional, e de um posicionamento definido, realista e
nal para atender os desafios e oportunidades do soberano neste mundo novo e em relação aos seus pro
momento. tagonistas. É perda de tempo a lamúria e a imprecação
contra o "satã do norte".
Destes pontos, chamam a nossa atenção em par Para entender as posturas norte-americanas a
ticular: primeira consideração a se fazer é compreender os seus
Primeiro, a defesa dos direitos humanos. Já co- objetivos nacionais permanentes:
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====== Sergio Augusto de AveIlar Coutinho ======= ======= Cadernos da Liberdade ======
- Segurança nacional
NOTAS
- Prosperidade nacional
- "The american way of Iife"
(a) As atitudes aparentemente contraditórias da política exter
na dos EUA (generosidade versus prepotência) possivel
Observando com um pouco de atenção, podemos
mente refletem um traço do caráter dos norte-americanos:
constatar, com certo desapontamento que os três
espontaneamente são solidários, gentis e generosos, mas
princípios correspondem àqueles que abandonamos a
rudemente ciosos, egoístas e até implacáveis na exigência
partir de 1985 - Segurança e Desenvolvi mento, dos seus direitos, interesses e precedência.
deixando a nação sem uma referência de progresso (b) Dick Cheney é atualmente Vice-Presidente dos EUA, na
político, econômico e social. Perdemos grandeza e, por gestão George W. Bush (filho).
isso, ficamos fracos, desconfiados, amedrontados, vendo (c) A tese de subordinação das forças armadas latino-ameri
ameaças por todos os lados. canas ao poder civil é de inspiração fabiana e constou dos
Todas as atitudes "imperiais", arrogâncias, ações temas apresentados na reunião do Diálogo Interamericano
em 1992, da qual participou o Senador Fernando Henrique
políticas e militares "unilaterais" dos EUA quando não têm
Cardoso. A criação do Ministério da Defesa no Brasil tem
a concordância de outras nações se explicam na realiza
origem nesta idéia do socialismo fabiano a que aderiu FHC.
ção de seus objetivos e, somos obrigados a reconhecer,
(d) A assinatura do acordo banindo os testes nucleares foi fei
legítimos.
to no período do governo de Bill Clinton, sabidamente mem
Uma atitude preliminarmente de reserva, crítica e bro da Conferência T rilateral, entidade internacional per
hostilidade aos EUA não será construtiva nem útil para os tencente ao movimento socialista fabiano (Ler o Texto O
interesses brasileiros e para a realização dos nossos FABIANISMO NAS AMÉRICAS). Coincidentemente, FHC
objetivos nacionais permanentes (aliás já nem se fala mais é membro do mesmo movimento internacional.
neles). E mais, contribuirá para o nosso isolamento exter (e) Documento "Estratégia de Segurança Nacional dos Esta
no e para a formação do consenso com as esquerdas dos Unidos da América", Setembro de 2002.
(f) Arma de destruição em massa - aquela que produz devas
revolucionárias no País. Serão mais profícuas e mais se
tação ou elevadas baixas nas forças militares atingidas e
guras as relações soberanas e o bom entendimento com
na população civil, geralmente artefato nuclear ou sistema
a potência hegemônica, do que exacerbar antagonismos,
de lançamento de agentes letais químicos, biológicos e
suspeitas, ressentimentos e rancores. T rata-se de agir nucleares.
com bom senso e não em função de um senso comum
modificado.
A nova or dem mun dial, encarada com
objetividade, competência e disposição política é muito
mais um desafio estimulante do que uma ameaça global.
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EPílOGO
Sergio A. de A. Coutinho
237
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piração planetária, embora seja adversa para irreversíveis ou de reversão demorada e extremamente
um país fragilizado como o Brasil. Não é ela penosa.
boração da potência hegemônica ou da oli A corrupção que hoje contamina, de alto a baixo,
garquia financeira internacional para liquidar a sociedade nacional é outro fenômeno que constrange
os Estados soberanos do Terceiro Mundo. os brasileiros.
Subversão e corrupção aparentam ser coisas dis
A nova ordem mundial não é em si uma ameaça, tintas; são processos independentes, sem dúvida, mas
mas um desafio cujo enfrentamento exige "engenho, arte se complementam e somam os efeitos perversos. A in
e jeito". Antes porém, exige uma restauração nacional competência político-administrativa dos governantes re
em todos os campos, principalmente moral. força e completa o processo catastrófico.
O Comunismo revolucionário, este sim, é uma A corrupção desenfreada, despudorada, debocha
ameaça para a sociedade brasileira, se esta ainda quiser da não chega a inviabilizar a Nação pelo que rouba, pelo
conservar suas aspirações de liberdade, de dignidade e que sonega, pelo que frauda, mas pela desmoralização,
de individualidade humanas e os valores ocidentais e cris pela permissividade, pela impunidade e pelo clima de
tãos. degradação moral e cívica que gera, contaminando o
A subversão no Brasil, velha expressão que pode Estado e a própria sociedade. Faz com que não haja mais
muito bem ser retomada e atualizada, corresponde às bons empreendimentos de interesse público, mas negó
fases precedentes do que pode vir a ser a quarta tentati cios que trazem vantagens, boas comissões e benefícios
va de tomada do poder (a) pelo movimento comunista. O para homens de governo ímprobos e funcionários públi
caminho revolucionário ainda é indefinido, em razão da cos cínicos e petulantes. Aliás, esta cultura também já
"pluralidade" das esquerdas. A tendência político-ideoló contamina as pessoas comuns e a iniciativa privada. Há
gica que conquistar primeiro a hegemonia, dirá se usará uma "cultura" de propina, favorecimentos, facilidades,
a via pacífica, a via da violência armada ou a via agrados, envolvendo sempre uma "comissão" pecuniária
campesina. ou uma vantagem ilícita. A corrupção se institucionalizou:
Os avanços revolucionários chegaram a um pon vai desde o flanelinha ilegal da esquina até os mais altos
to tal que alguns intelectuais democratas acham que já é executivos e governantes. Assim ela exaure o tesouro do
irreversível. país e dos particulares e desmantela a estrutura física e
Sem chegar a tal pessimismo, também as pesso moral da sociedade e do Estado nacionais. Com isto e
as esclarecidas têm manifestado grande preocupação com por isto, os desmandos somados à incompetência polí
a evolução política e moral do país. Realmente, a mudan tico-administrativa, com toda a certeza, estão a nos levar
ça induzida do senso comum, geralmente atribuída, sem para um trágico desfecho.
muito critério, a uma amoralidade e tendenciosidade ide A reversão do quadro adverso de subversão des
ológica da mídia, é parte de uma intencional reforma inte percebida e de corrupção evidente só poderá ser feita
lectual e moral da sociedade, conduzida pelo processo por uma reação orgânica da sociedade nacional. Para
de subversão cultural. Já atingiu extensão e profundida isto, é preciso, antes de mais nada, restabelecer o bom
de tais que produziram estragos morais e culturais senso e, depois, mobilizar as vontades que estão inibi-
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===== Sergio Augusto de Avellar Coutinho =====
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