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O que se espera do

poder público
O dilema é de confiança e o problema de coordenação
Não há “escolha de Sofia” entre salvar vidas ou a economia

Bruno Sobral

Coordenação da Rede Pró-Rio


Professor da FCE/UERJ
Quais são os custos e benefícios econômicos das
intervenções não-farmacológica?
"Estudo: Pandemics depress the economy, public health interventions do not:
evidence from the 1918 flu” - Sergio Correia e Stephan Luck (FED) e Emil Verner (MIT)

• Durante a gripe espanhola, cidades norte-americanas que adotaram intervenções,


a primeira vista ruins para os negócios, tiveram melhor saída econômica.

• Os resultados estatísticos indicam que tais medidas não apenas salvam vidas.
Há correlação positiva com o crescimento da atividade econômica real.

Portanto, não é só um custo social necessário.


Contraintuitivamente, há benefícios econômicos!
Falácia da causalidade:
a culpa do “desastre” econômico não é do coronavírus

• Se tudo estivesse constante (sem pandemia), é evidente que impor medidas


restritivas de isolamento seriam a causa de impacto negativo na economia.

• Numa pandemia, devido a grave incerteza e aumento do risco,


impacto econômico negativo já ocorre independente das medidas restritivas.

• E mais, a economia brasileira não ia bem já antes da pandemia.

As causas do problema econômico são anteriores.


Medidas restritivas integram solução de problemas de coordenação.
Em 2019, PIB teve menor avanço em três anos
Não voltamos ao valor de 2013, antes da crise
Após queda violenta dos investimentos,
recuperação tímida e depois volta-se a perder ritmo
(em 2013, 21% e, em 2019, 15,4%)
Em 2019, Consumo das famílias pior resultado em 3 anos
Recuperação tímida e perda de ritmo do consumo
reflete problemas no mercado de trabalho
Problemas no mercado de trabalho
são anteriores a pandemia

• Salário médio estagnado a 3 anos

• Nos últimos anos, crescimento da ocupação foi com salários menores

• Alta informalidade (ex: sem carteira assinada ou conta própria):


no último tri/2019, 41,1% da população ocupada (38,7 milhões de pessoas).

• Taxa de desemprego ainda de 2 dígitos: em 2019, 11,9%.


Falácia de composição: chamada ao arbítrio do Estado
(ninguém pode melhorar seu resultado com ação unilateral)
• É racional desconfiar que não-cooperar significa evitar sair perdendo na economia.

• Gestor público apelar a racionalidade econômica individual é um erro,


ela tende a gerar um resultado ineficaz (não-cooperativo).

• Ao invés de sustentar (e até ampliar) essa ineficácia, o sistema público de


incentivos pode corrigir ao garantir mecanismos de “solidarizar perdas”.

• Isso depende do grau que ação pública está voltada para resgatar a confiança
através do planejamento de decisões coordenadas.

Duas dimensões desejadas do gasto público: 1) minimizar impacto


econômico no curto prazo; 2) evitar que agrave impacto no médio prazo.
Comparativo de potência da ação pública entre países:
Pacote do governo brasileiro ainda muito a desejar
(em média, outros se aproximando de 15% do PIB ou mais)

Fonte: Observatório da Política Fiscal - FGV/IBRE


Se gravidade traz a memória depressão da década de 1930,
é fundamental reorientar nossa trajetória econômica
Ecos da Classe Política: Wilson Witzel
(Governador do Estado do Rio de Janeiro)
Ecos da Classe Política: Deputado André Ceciliano
(Presidência da ALERJ e do Fórum de Desenvolvimento)
• “É hora de dar uma banana para os economistas de Chicago que acham que a mão
invisível do mercado tudo resolve e nos guiar pelos ensinamentos da História”.

• “Sem a mão visível do Estado, será o caos”.

• “O governo federal, que concentra nada menos que 60% de todos os impostos
pagos no Brasil, precisa auxiliar os estados e municípios”,

• “Situação financeira já era terrível antes da crise, e vai piorar com a queda na
arrecadação. No caso do Rio, pior, já que agravada pela baixa nos preços do barril
do petróleo”.

• “Os estados pedem dinheiro. O governo [federal] resiste a dar, de olho no aumento
do déficit fiscal".

Fonte: Artigo de opinião em Jornal O Globo – 28/03/2020


O Estado brasileiro não está “quebrado”
Não há falta de fontes de financiamento

• Não é preciso usar reservas cambiais (aumenta vulnerabilidade externa)

• Não é preciso desvincular recursos de fundos públicos - PEC 187


(deixa descoberto programas sociais e de fomento quando mais se precisa)

• Não é preciso reduzir vencimentos do serviço público


(retira poder de compra e piora problema recessivo na economia)

• Não é preciso governo federal dar moratória em sua dívida interna


(cria novo problema ao aumentar instabilidade no sistema financeiro)

O desafio atual explicita como nossas regras fiscais estão disfuncionais.


Só duro condicionamento às restrições legais explica a falta de iniciativa
Urgente superar receios com
o instrumento da dívida pública interna
Estadão: O governo [federal] alega que não tem fonte de financiamento...

José Roberto Affonso (um dos “pais” da LRF): Fonte é dívida. Só ele [governo
federal] tem essa fonte. Nenhum outro tem.

Estadão: Por que o governo [federal] insiste na questão da burocracia das


regras fiscais?

José Roberto Affonso (um dos “pais” da LRF): Quem tem que responder é ele.
Minha avaliação é que há alguma confusão. (...) Ele tem que se endividar e
passar o recurso para Estados e municípios. Esse endividamento tem que ser
nacional. Por isso, eu gosto da expressão de "orçamento de guerra". A ação é
nacional. Tem que ter um comando nacional.

(entrevista ao jornal Estado de São Paulo em 01/04/2020)


A saída é a federação: construir visão estratégica e sua
estrutura de planejamento a partir dos interesses regionais
• Fato novo gerando grande aprendizado: protagonismo dos governadores.

• Troca de experiências e traz para o espaço nacional o debate sobre o


tratamento de suas especificidades.

• Isso não foi possível na época da assinatura do Regime de Recuperação


Fiscal – RRF em que havia um quadro comum de endividamento dos
estados.

• Naquela circunstância, descuidou-se e os pleitos do Rio foram conduzidos


isoladamente.

• Agora está maduro para solução cooperativa como um movimento histórico


já em curso (inclusive pode influenciar que RRF seja revisto e reformado).
VISÃO ESTRATÉGICA E SISTÊMICA DE
DESENVOLVIMENTO NA ESCALA REGIONAL

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