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Política económica em tempo de

confinamento: lições a reter

Trabalho na unidade curricular de Seminário de Economia Portuguesa


apresentado à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Por

Diana Martins Santos, nº 2020239282


Tatiana Santos Pinho, nº 2020239306
Vânia Catarina Rodrigues Silva, nº 2020213526

Sob orientação de
Professor Paulo Alexandre Chaves Coimbra

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra


2022/2023
Nos últimos tempos, a economia tem sido significativamente afetada pela pandemia da Covid-
19 a nível mundial. Sendo assim, este trabalho permite ter uma perceção da política económica utilizada
para manter em funcionamento economias que interromperam as suas produções, pelo menos de forma
parcial.
No início de abril de 2020, segundo estimativas da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), “81% da força de trabalho mundial foi alvo de, pelo menos, um tipo de restrição” (Paulo
Coimbra). Após este período, ocorreu uma recessão económica acentuada.
Durante o último trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2020, de acordo com a OCDE, a
economia mundial decresceu cerca de 10%, por sua vez, as economias emergentes desceram 8%, o
Japão 9% e os EUA 10%. A Zona Euro sofreu uma queda de 15%, ainda maior do que a média mundial.
Portugal foi alvo de um decréscimo de aproximadamente 17%, a Alemanha 11% e a Espanha 22%.
Através da comparação entre Portugal e Espanha com a Alemanha, verificaram-se quedas de mais de
51% e mais de 93%, respetivamente.
O ano de 2012 permite perceber o caos económico-social que teria ocorrido com a inexistência
de políticas monetárias e orçamentais expansionistas, visto que o PIB real decresceu e a taxa de
desemprego aumentou.
A queda diferenciada da economia mundial, que se verificou no fim do primeiro semestre de
2020, pode ser explicada pelo padrão de especialização de cada economia, pelo seu grau de abertura ao
exterior, pela duração e intensidade do encerramento das atividades económicas e pela rapidez e volume
das medidas orçamentais de apoio. Na Zona Euro, este último fator, relaciona-se com a
disfuncionalidade institucional, isto é, dispõe de um Banco Central, mas não de um Tesouro e, com um
ordenamento económico legal marcado por uma tendência deflacionária.
De acordo com estimativas do FMI, entre o início da crise até junho do ano corrente, a economia
mundial gerou despesa através de estabilizadores automáticos, uma receita renunciada em impostos e
um valor de 9,7% e de 6,2% do PIB de 2020 em injeções de capital, empréstimos e garantias.
Adam Tooze define a resposta orçamental internacional à crise provocada pela pandemia como
um desenvolvimento “desigual e combinado”, isto porque, todos os países do mundo encerraram de
forma parcial as suas economias e assumiram despesas orçamentais de combate à crise e os montantes
mobilizados variaram bastante (2021). De acordo com o FMI, entre janeiro de 2020 e junho de 2021,
nas economias avançadas houve, em média, um esforço orçamental discricionário de 17,3% do PIB de
2020, 4,1% nas economias emergentes e 2% nos países pobres (anexo 1). O nosso país aproximou-se
dos países pobres ou das economias emergentes.
Segundo previsões da OCDE, a economia mundial precisaria de 1 ano para se recuperar da
perda sofrida e Portugal de 27 meses. Para além disso, 30 meses após o pico da queda, no fim de 2022,
o PIB mundial estará 7% maior, o dos EUA 6%, da Zona Euro apenas 2% e Portugal só com 1%. É
possível realçar que o crescimento do PIB de 2022 relativamente a 2019 em Portugal foi cerca de 1,51%
(anexo 2).
No início de 2020, o princípio geral das finanças públicas nacionais era o do equilíbrio
orçamental permanente, o BCE mantém uma presença decisiva no mercado de obrigações soberanas,
de forma a aliviar as políticas orçamentais. Esta situação determinou a primazia das medidas de suporte
à liquidez que apesar de contar para o défice e para a dívida, proporcionam maior capacidade de impedir
o declínio das economias a curto prazo.
No período em questão, esta componente de suporte à liquidez representa nos EUA apenas 9%
do total das medidas orçamentais discricionárias, enquanto na Itália, na Alemanha, na Espanha e em
Portugal, representa respetivamente 76%, 67%, 65% e 50%.
Do ponto de vista do autor, há duas circunstâncias que ajudam a explicar as diferentes opções
assumidas nos dois lados do mundo.

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A primeira encontra-se relacionada com a insuficiência de fundos disponibilizados a nível
supranacional, que define a resposta orçamental da União Europeia (UE). Portugal receberá durante os
anos de 2021 a 2024, um valor igual a 1,83% do seu PIB de 2019, contudo encontra-se dependente da
aprovação prévia da UE e sujeito à condicionalidade da adesão a objetivos de política económica.
A segunda consiste nas orientações de política que, de forma mais ou menos disfarçada, a UE
foi produzindo. As instituições que importam na UE e na Zona Euro, desincentivaram qualquer ativismo
orçamental. A crise financeira de 2008 e a sua decadência europeia de 2010 levou a que os países
conseguissem contornar os efeitos recessivos do confinamento. A partir da crise de 2008, aplicou-se
uma política orçamental de incremento de despesas e/ou redução de imposto e acentuaram-se as
intervenções dos bancos centrais. No que diz respeito à Zona Euro, a compra de dívida pública pelo
BCE é exponencial. Através do financiamento da despesa pública, os bancos centrais tornam-se
repentinamente nos maiores credores dos seus soberanos.
Com o surgimento da pandemia, o combate aos efeitos económicos da mesma gerou uma dívida
que se tornou devida pelo Estado a si próprio, o que significa que aquela dívida só existe como abstração
contabilística e pode ser apagada por decisão política. O dinheiro que na crise anterior não existia e cuja
escassez implicava cortes nos salários, na saúde e na proteção social pública, tornou-se inesperadamente
abundante. De uma forma geral, foi possível encontrar o financiamento público que até antes não existia
e subsidiar o encerramento temporário de empresas e os salários que deixaram de ser pagos, sustentar o
acréscimo da despesa através de subsídios de desemprego e financiar o que as sociedades politicamente
desejavam financiar.
A ideia de um Estado financeiramente constrangido foi negada pela quase instantaneidade e
escala da intervenção pública. Desta forma, foi possível perceber que o único constrangimento que um
soberano enfrenta está relacionado com a quantidade disponível de recursos reais para aquisição na
moeda que emite.
No início de março do ano de 2020 os mercados financeiros tinham como objetivo atingir várias
posições de liquidez que não eram possíveis de alcançar sem intervenção pública. Devido às
preocupações de liquidez de que o mercado era alvo, havia a probabilidade de impossibilitar o “mercado
do tesouro de funcionar”. Se esta situação acontecesse diziam que reduziria a capacidade do governo
dos EUA de combater a pandemia. Ao contrário do que aconteceu na crise de 2008, em 2020 a Covid-
19 atingiu o sistema financeiro a partir do exterior, sendo que os mercados de ativos financeiros
constituíam o elo mais fraco.
A inevitabilidade dos mercados permanecerem em funcionamento e de fazer face ao desastre
social que um confinamento sem medidas de proteção da sociedade poderia causar, revelou um mundo
de alternativas ao alcance de um estado soberano.
Na sequência da crise de 2008, acharam precipitadamente que um mercado protegido de
intervenção pública e funcionando numa lógica de autorregulação era o que produzia o melhor resultado.
Contudo, esta conclusão está errada, visto que o interesse próprio das organizações não era suficiente
para que fossem as mais capazes de proteger os seus próprios acionistas e os seus capitais nas empresas
(Greenspan, 2008).
O capitalismo continua atualmente a produzir resultados desumanos e irracionais. De acordo
com estimativas do FMI, uma campanha mundial de vacinação geraria em 5 anos um retorno económico
de 9 bilhões a nível global. E, no entanto, estas continuam protegidas por patentes estando ainda fora
do alcance de milhões de pessoas, quando poderiam evitar um número significativo de mortes.
Há duas importantes conclusões que o autor retira. A primeira conclusão baseia-se na seguinte
expressão “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”. Esta, está
relacionada com o princípio básico do comunismo, que suporta a ideia de que a produção e distribuição
de bens e serviços devem estar de acordo com as necessidades de cada um, ao invés de se encontrarem
assentes no lucro ou na propriedade privada. Desta forma, um programa subordinado a esse princípio é

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a melhor forma de garantir a humanidade e a racionalidade nas decisões de política. A segunda
conclusão, consiste na ideia de que é indispensável lutar pela hegemonia das ideias, fazer bom uso do
que se aprendeu e democratizar esse conhecimento.
Para concluir, podemos referir que se evitou uma calamidade social à escala mundial, no entanto
assistiu-se a um agravamento da desigualdade, onde os detentores de ativos mobiliários e imobiliários
saíram mais ricos desta crise e os trabalhadores são prejudicados. A forma como as intervenções
públicas agiram relativamente à crise de 2008 e à crise pandémica de 2020 revelaram a incapacidade
destes de lidar com crises sistémicas.

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Bibliografia
Coimbra, Paulo (2021) “Política económica em tempo de confinamento: lições a reter” Manifesto -
Temas Sociais e Políticos. Nº 6, pp. 112 – 120.

Fundo monetário internacional (2021), “Fiscal Monitor Database of Country Fiscal Measures in
Response to the COVID-19 Pandemic”: https://www.imf.org/en/Topics/imf-and-covid19/Fiscal-
Policies-Database-in-Response-to-COVID-19

OCDE, Real GDP forecast: https://data.oecd.org/gdp/real-gdp-forecast.htm

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Anexos

Anexo 1

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Anexo 2

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