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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS


ECONÔMICAS

MATHEUS FERREIRA DOS REIS1

ANÁLISE SOBRE POLÍTICA INDUSTRIAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL

Goiânia-GO
2021

1
Graduando em Bacharelado em Ciências Econômicas.
1. Introdução
As escolas de pensamento econômico divergem muito quanto a participação do
estado no direcionamento das políticas industriais e de inovação nos países. Segundo
Ferraz et al. (2013), as características nacionais, o tempo histórico e o contexto
internacional são importantes fatores que determinam se as intervenções governamentais
são mais ou menos aceitas. Nesse contexto, é válido destacar as políticas
desenvolvimentistas implementadas ao final dos anos de 1920 e que se estende até os
anos 1980, visto que, para o autor citado, a corrente desenvolvimentista, compreende a
participação ativa do estado no direcionamento do desenvolvimento econômico
sustentado, logo, o estado não age apenas como um mero agente disciplinador, como é
sugerido pela corrente mais ortodoxa.
Contudo, é inegável que a partir dos anos 1980 políticas do tipo
desenvolvimentista são deixadas de lado e surge a crença que, de acordo com as ideias
propagadas pelo Consenso de Washington, o estado deveria ter uma participação menos
ativa na economia. Desse modo, as políticas industriais são deixadas de lado pelo estado
brasileiro durante esse período, tanto pelas ideias neoliberais difundidas quanto pela crise
inflacionária que começara a assolar o país.
Já no início dos anos 2000, como argumenta Arbix (2019), há algumas tentativas
governamentais que, em conjunto com o setor privado, tentariam promover um certo
equilíbrio entre o papel ativo do Estado e a sinergia com o mercado. Esse processo, em
especial, começa a gerar resultados efetivos com as políticas industriais implementadas a
partir de 2003 durante o primeiro governo Lula. Todavia, o autor expõe que esse processo
de diálogo público-privado tem caráter diferente do passado desenvolvimentista.
A partir do exposto, este trabalho busca analisar, de maneira bem resumida, a
política industrial brasileira implementada durante o primeiro governo Lula (2003-2006),
bem como contrapor a corrente desenvolvimentista com o desenvolvimento guiado pela
parceria público-privada. Desse modo, nas seções seguintes são apresentados,
respectivamente, os estudos realizados sobre as políticas industriais durante o primeiro
governo Lula e por fim, as considerações finais.

2. Política Industrial – Governo Lula (2003 – 2006)


O governo Lula é marcado pela continuidade das políticas macroeconomias de
estabilidade advindas do governo FCH, bem como pela retomada das políticas industriais,
dado um cenário externo extremamente favorável. Desse modo, surge a Política
Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), lançada ainda nos primeiros
anos da década de 2000, associa, como o próprio nome sugere, o desenvolvimento da
indústria com inovação tecnológica e inserção de competitividade internacional
(SALERNO, 2004). Essa política se sustenta a partir de três eixos fundamentais, sendo i)
medidas horizontais (como modernização da indústria); ii) medidas indutoras para quatro
setores estratégicos (bens de capital, fármacos, semicondutores e software) e iii)
atividades portadoras de futuro (biomassa, nanotecnologia e biotecnologia), (SALERNO,
2004; SCHAPIRO, 2013).
De acordo com Arbix (2019), a PITCE buscou integração da tecnologia com a
industriai e com o comercio exterior, inserindo fundamentalmente o viés exportador,
diferentemente do foco somente no mercado interno, se diferenciado das medidas
protecionistas adotadas no passado. Desse modo, um dos principais diagnósticos dessa
política foi a precária competividade da indústria nacional frente ao mercado externo,
sendo uma aceleração do processo inovativo e a criação de novos produtos com maior
valor agregado, umas das soluções plausíveis para driblar esse entrave. Portanto, a PITCE
é um instrumento para sustentar o crescimento via mudança do patamar competitivo da
indústria, envolvendo os principais responsáveis pela área econômica (SALERNO, 2004
p.10).
No âmbito dos resultados obtidos pela PITCE, Cano e Silva (2010), realizam um
balanço resumido e bem direcionado dos rumos que foram tomados pelas políticas
implementadas, apresentadas aqui em três partes. Primeira, houve um descompasso do
governo na tentativa de influenciar o nível de investimentos e promover as mudanças
estruturais necessária, uma vez que o processo de reconstrução das instâncias de
planejamento, gestão e de instrumentos políticas necessárias não ocorreu em tempo hábil.
Isso indica que, embora a cooperação público-privada fosse um importante fator de
mudança estrutural, boa parte do processo dependia dos esforços governamentais para se
atingir os resultados desejados.
Segunda parte, aos resultados obtidos no sentido de pleitear a essencial
institucionalidade requerida para se efetivar a política industrial. Desse modo, é válido
citar a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial – CNDI e da Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI. Além disso, houve a idealização de
um arcabouço legal-regulatório com a finalidade de promover a inovação, sendo válido
citar aqui a criação da Lei de Inovação (Lei 10.973, de02/12/04) e de sua regulamentação
(Decreto 5.563, de 11/10/05). Terceira e última parte, refere-se ao conjunto de
mecanismos disponíveis para as empresas de menor porte, dentre eles: linhas de apoio à
inovação da Finep e do BNDES, linhas de financiamento ao investimento do BNDES,
mudanças legislativas, entre outros instrumentos de apoio. De modo que, os autores
ressaltam que no início essas políticas tiveram pouca adesão.
Portanto, a PITCE, num primeiro momento, não foi capaz de gerar os resultados
desejados devido à falta de mecanismos institucionais, além de estar sob as amarras da
política macroeconômica estabilizadora (CANO; SILVA, 2010).
3. Considerações finais
Este trabalho buscou apresentar a política industrial implementada durante o
primeiro governo Lula (2003-2006), bem como debater o papel ativo do estado da visão
desenvolvimentista e contrapor com a visão de cooperação público-privada. A introdução
apresentou, de modo geral, uma contextualização histórica importante para a compressão
do papel do estado, ressaltando importantes fatores que favorecem esse papel.
Resumidamente, a política industrial implementada durante o governo Lula
enfrentou diversos percalços, devido ao sucateamentos das instituições de planejamento
e gestão em governos anteriores gerado pelas diversas crises que esses enfrentaram, Além
disso, uma herança advinda dos governos passado foi a redução do papel ativo do estado
que, em certa parte impossibilitou ações mais imediatistas por parte do governo Lula,
uma vez que os entes privados tinham certo receio da condução de sua política economia.
Por fim, percebe-se que a PITCE, embora não tenha gerado todos os resultados
que almejava, foi de extrema importância na criação de instituições regulamentadoras do
processo inovativo, além de promover a concepção de marcos legais que, com certeza,
serviram de estrada para as novas políticas industriais que surgiram após o primeiro
governo Lula. Destarte, é interessante perceber que, mesmo alguns autores levando em
conta que a corrente desenvolvimentista foi deseja para trás, a PITCE parece retomar um
pouco dessa herança, uma vez que os importantes resultados advindos dessas políticas
parecem terem sidos desenvolvidos pelo agente governamental (o Estado), de modo que,
os entes privados, parecem ter tido apenas um papel secundário nessas transformações.
Referências Bibliográficas
ARBIX, Glauco. A política de inovação no Brasil desde 2003: Avanços, incoerências e
descontinuidades, 2019.

CANO, Wilson; SILVA, Ana Lucia G. Política industrial do governo Lula. Texto para
discussão, v. 181, p. 139-174, 2010.

FERRAZ, João Carlos; DE PAULA, Germano Mendes; KUPFER, David. Política


industrial. In: Economia industrial. Elsevier Editora Ltda., 2013. p. 313-323.

SALERNO, Mario Sergio; DAHER, Talita. Política industrial, tecnológica e de


comércio exterior do governo federal (PITCE): balanço e perspectivas. Brasília:
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, 2006.

SCHAPIRO, Mario. G. Ativismo Estatal e Industrialismo Defensivo: Instrumentos e


Capacidades na Política Industrial Brasileira. Texto para Discussão (IPEA. Brasília), v.
1856, p. 7-56, 2013.

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