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CAPÍTULO 1

É PRECISO INOVAR NO GOVERNO, MAS POR QUÊ?


Pedro Cavalcante1 | Bruno Queiroz Cunha2

1 INTRODUÇÃO 12
dos contemporâneos e desempenhando papel
de propulsor do desenvolvimento econômico
O século XX foi marcado por um intenso processo e da modernização da administração pública
de transformações políticas, sociais e econômicas (Anao, 2009; Bekkers, Edelenbos e Steijn, 2011;
que, sem dúvida, refletiu em processos de reorga- Comissão Europeia, 2013; De Vries, Bekkers e
nização do papel do Estado e da administração Tummers, 2015; Mazzucato, 2015; OCDE, 2015).
pública. A partir de meados do século passado, Organizações públicas passaram cada vez mais a
a construção dos Estados de bem-estar social, se preocupar com o fomento da prática inovadora
em seus distintos formatos, exigiu um processo em resposta às constantes mudanças econômicas,
de complexificação do aparelho de Estado, políticas, sociais e tecnológicas em um mundo mais
de modo a atender a demandas não apenas globalizado e em rede, limitadas por expectativas
de cunho social, como também nas áreas de crescentes dos cidadãos, problemas complexos e
infraestrutura e econômica. Essas mudanças orçamentos apertados.
delineiam de forma substantiva não apenas as
funções estatais, mas também as estratégias Diante da relevância e complexidade da temáti-
de atuação governamental no mercado, na ca, a questão que emerge com vigor é o porquê de
provisão de serviços públicos, e o modo como o inovar. A partir do debate na literatura acadêmica,
Estado é visto e valorado pela sociedade. principalmente internacional, bem como nas pu-
blicações de governos e organismos multilaterais,
Dentre as diversas conceituações que serão este capítulo aborda as razões que têm tornado
discutidas no tópico seguinte, a inovação pode a inovação uma política pública prioritária, e tam-
ser definida como o processo de geração e bém as respostas da administração pública em
implementação de novas ideias com vistas à termos de políticas de gestão e organizacionais. O
criação de valor para a sociedade, com foco estudo reflete ainda sobre o papel do Estado, seu
interno ou externo à administração pública desenvolvimento e a modernização de sua atuação
(Comissão Europeia, 2013). pós-processos reformistas influenciados pelo New
Public Management. Também se detalha o movi-
Nesse contexto, prevalece certo consenso mento mais recente de diversificação da atuação
de que os processos de inovação no setor públi- governamental no campo da inovação, em especial,
co têm se intensificado nos últimos vinte anos, via proliferação de laboratórios de inovação e suas
ganhando uma dimensão estratégica nos Esta- variantes, mundo afora.

1. Especialista em políticas públicas e gestão governamental e atualmente coordenador na Diretoria de Estudos e Políticas
do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest) do Ipea. E-mail: <pedro.cavalcante@ipea.gov.br>.
2.Especialista em políticas públicas e gestão governamental na Diest do Ipea. E-mail: <bruno.cunha@ipea.gov.br>.
O argumento central é que a atuação do procurava explicar a relação entre inovação
setor público, tanto a voltada à viabilização da tecnológica e desenvolvimento econômico.
inovação no setor privado quanto à interna ao De acordo com o autor, a inovação seria o ato
aparato estatal, ultrapassam a visão restrita do de fazer algo diferente no plano econômico, o
papel do Estado meramente para fins de correção que tenderia a refletir em novos resultados, tais
de falhas de mercado, incorporando também como: um novo bem ou uma nova qualidade
outras perspectivas, como a construção de (e de um bem, um novo método de produção, um
participação em) sistemas de inovação. Adicio- novo mercado e, por fim, uma nova fonte de
nalmente, ainda no âmbito intragovernamental, as fornecimento. O processo dinâmico de substi-
inovações se justificam pelas falhas de governo, tuição tecnológica se denominaria “destruição
pelo crescimento de problemas cada vez mais criadora” (Schumpeter, 1934).
complexos e estruturantes (wicked problems)
e de demandas por melhores serviços e mais A inovação, na visão schumpeteriana, se-
participação no policymaking. ria o que conferia diferencial competitivo, e
exatamente nisto estaria motivada. Aos inova-
Para possibilitar responder à questão acerca dores bem-sucedidos reverteriam, ainda que
do porquê da inovação e, assim, contribuir com momentaneamente e enquanto as inovações
esse importante debate, de conotações tanto significassem vantagens comerciais, benefícios
teóricas e como práticas, este capítulo se divide competitivos e econômicos adicionais próprios,
da forma a seguir. Após esta breve introdução, a na forma dos chamados lucros schumpeterianos.
seção 2 se dedica a contextualizar e conceituar
inovação no setor público. Segue-se, na seção Após Schumpeter, a variedade de análises
3, a discussão sobre a abordagem dos sistemas sobre o tema foi sendo ampliada de forma contínua,
de inovação, posicionando mais claramente o perpassando por áreas e setores econômicos
papel do Estado e das organizações públicas e administrativos, mormente na área privada.
no processo inovador. A seção 4 visa debater a Porém, já nas últimas décadas, a estudos da
temática no bojo das transformações da adminis- inovação com foco hegemônico sobre produtos
tração pública contemporânea e das tendências manufaturados adicionou-se a ênfase também
de inovação no setor público. Em seguida, na em inovação em serviços. Apesar da miríade de
seção 5, fundimos essas referências analíticas conceitos existentes, inovação está geralmente
à interpretação do fenômeno da proliferação, vinculada a melhorias em processos organi-
sobretudo em âmbito internacional, de labora- zacionais, implementação de novos produtos,
tórios de governo e do terceiro setor, voltados procedimentos, serviços, políticas ou sistemas
à promoção da inovação como estratégia de (Damanpour, Walker e Avellaneda, 2009; Bekkers,
resposta aos desafios colocados ao Estado. Fi- Edelenbos e Steijn, 2011; Lynn Junior, 2013; De
nalmente, na seção 6, um panorama esquemático Vries, Bekkers e Tummers, 2015; OCDE, 2015).
da inovação no setor público é esboçado, bem Em outra conceituação abrangente, mas já com
como algumas conclusões. foco no setor público, Osborne e Brown (2005)
defendem que a inovação significa a introdução
2 INOVAÇÃO E O SETOR PÚBLICO de novos elementos em um serviço público, na
forma de novos conhecimentos, nova organização
Apesar de a inovação ter ganhado mais des- e/ou nova habilidade de gestão ou processual.
taque nos debates recentes sobre as trans-
formações na economia e na administração Em todos os casos, entretanto, sustenta-se
pública, as abordagens sobre o tema não são que a ideia de inovação está representada na
novas. O trabalho seminal de Schumpeter, percepção de descontinuidade com o passado.
Theory of Economic Development, de 1934, já O elemento de descontinuidade é também o

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que mais diretamente diferencia a inovação (2016) as dividem em seis grandes formatos, os
da mudança. Enquanto esta é vinculável ao quais também podem ser exemplificativos do
passado, maleável enquanto resultado de uma caso brasileiro.
trajetória de sucessivas alterações dentro de um
continuum de agregações, a inovação, ainda que 1) Investimento público em ciência, tecnolo-
em uma escala pequena, encerra fenômeno de gia e inovação (CTI): forma mais tradicio-
descontinuidade com o passado, tanto em um nal de atuação do Estado. Na forma de
grau incremental quanto radical ou disruptivo pesquisa básica e aplicada, o setor público
(Osborne e Brown, 2005). cria as condições para o mercado inovar e
também gera as grandes fontes de inova-
Quanto ao papel do Estado, recorda-se que o ção (Mazzucato, 2013). Isto ocorre com as
argumento econômico clássico restringe a pos- atuações de órgãos brasileiros de fomen-
sibilidade de intervenção do Estado à existência to, a exemplo da Financiadora de Estudos
de falhas de mercado, tais como a concorrência e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira
imperfeita, externalidades, informação assimé- de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
trica e mercados incompletos (Winston, 2006).
Com efeito, o Estado atuaria de modo a corrigir 2) Inovação via compras públicas (procurement):
tais falhas, por meio de políticas públicas. muitas inovações surgem como consequ-
ência de exigências expressas pelo Esta-
Não obstante a visão economicista clássica, do sobre produção e aquisição de novas
o leque de atuação estatal tem se ampliado, em tecnologias e produtos que estão sendo
especial na temática de inovação. Isto se dá não desenvolvidos pelo mercado, incorporan-
apenas com o Estado construindo ambiente do valores e princípios, tais como a sus-
favorável à inovação do setor privado, como tentabilidade. Estas exigências de com-
também desenvolvendo capacidade inovadora pras se materializam, por exemplo, nas
própria e empreendedora, além de um maior contratações públicas sustentáveis do
engajamento em rede com atores não estatais. governo federal.

No âmbito interno ao governo, a inovação 3) Inovações institucionais econômicas: são


também surge como estratégia do setor público novas soluções institucionais que visam
para lidar com as falhas do governo (Winston, alterar as regras do jogo na economia,
2006), isto é, situações em que a intervenção como o caso da criação de agências re-
governamental tende a gerar mais problemas guladoras pelo governo federal brasileiro
do que soluções, com o desperdício de recursos pós-reforma gerencial de 1995.
públicos. Tal noção, complementar à perspectiva
das falhas de mercado, é, por seu turno, restritiva 4) Inovações institucionais políticas: ino-
quanto a um prognóstico mais transformador e vações que alteram as regras do jogo
estruturante do Estado enquanto impulsionador político. São exemplos as iniciativas
de inovações. Nesse sentido, é importante refletir voltadas a aumentar a participação
de maneira inclusiva (e não restritiva) acerca da sociedade no processo decisório,
do amplo escopo do papel do Estado frente ao como o orçamento participativo ou a
fenômeno da inovação, indo além da busca por criação de conselhos deliberativos de
falhas específicas, sejam internas (de governo), políticas públicas.
sejam externas (de mercado).
5) Inovações nos serviços públicos: são os
Em uma tentativa de enquadrar as funções do esforços governamentais para modifi-
Estado na temática de inovação, Karo e Kattel car substantivamente a forma como um

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serviço é prestado, tais como a simplifi- experiências de orçamento participativo dos
cação e/ou digitalização do atendimen- governos subnacionais brasileiros, podem ser
to na saúde ou previdência. Esse seria o exemplos claros desse argumento.
formato mais usual e remete, sobretudo,
à incorporação das tendências de gestão Em particular, destaca-se que a crescen-
com vistas à melhoria de processos ad- te demanda por mais participação social
ministrativos e/ou prestação de serviços na construção de políticas públicas e por
à sociedade. qualidade nos serviços públicos, as quais
emergem recorrentemente em meio a restri-
6) Inovação organizacional: criação de orga- ções de natureza fiscal e da necessidade de
nizações ou alteração de processos de- busca por mais confiança e legitimidade por
cisórios ou de gestão, inclusive mediante parte dos governos, tendem a pressionar por
a utilização de laboratórios de inovação, inovações. Também o fazem as necessidades
voltados a processos de aprendizagem e de enfrentando de problemas públicos cada
experimentação. vez mais complexos, transversais e incertos
– os chamados wicked problems, como o
Nota-se, assim, um papel de protagonismo aquecimento global, os intensos processos
do Estado no terreno da inovação. Mesmo migratórios, as questões críticas ligadas às
sendo impactado por alguns fatores inibidores drogas, o envelhecimento populacional, entre
da inovação, o setor público também tem sido outros. Esses problemas desafiam o setor
uma grande fonte inovadora original, desde público a prover políticas inovadoras, pois
a era das grandes ferrovias ao advento da in- ajustes graduais e mudanças previsíveis de
ternet (Pollit, 2011; Mazzucato, 2013). Em boa antemão têm impacto cada vez mais reduzido.
parte das inovações de larga escala da inicia- Em muitos casos, a inovação se tornou um
tiva privada, foram os governos que aceitaram imperativo, e não uma mera opção.
suportar e custear os riscos iniciais, quando
as incertezas são tradicionalmente maiores. As próximas seções são dedicadas a de-
Em uma série de casos, organizações públicas senvolver o argumento principal deste capítulo
foram pioneiras no desenvolvimento e financia- sobre as razões de o Estado inovar, bem como a
mento de tecnologias básicas que, a posteriori, explorar como o setor público vem, nas últimas
geraram inovações de produtos e serviços com décadas, ampliando seu papel na temática.
a participação de agentes privados (Comissão Na esfera da inovação, a fronteira entre o público
Europeia, 2013). e privado é tênue e, muitas vezes, indefinida, o
que guarda relação direta com os componentes
Os casos de inovação dentro do setor de incerteza e de ação coletiva próprios desse
público também não são raros. Nas últimas fenômeno. Como exemplo, podemos citar o caso
décadas, governos introduziram práticas ino- de compras públicas, área em que a inovação nos
vadoras nos processos e serviços como forma próprios modelos de compras pode vir a resultar
de aperfeiçoar gastos e ampliar a legitimidade em mudanças positivas tanto no desempenho das
e restabelecer a confiança da sociedade, haja empresas privadas fornecedoras como também
vista os cenários de crise fiscal e de repre- dentro dos governos, com a redução de custos
sentatividade em sistemas democráticos. Os e a promoção da sustentabilidade.
casos do output budgeting – técnica de gestão
orçamentária que revolucionou o planeja- 3 A ABORDAGEM SISTÊMICA DA INOVAÇÃO
mento e gerenciamento das contas públicas
ainda na década de 1960 – e as formas de A teoria dos sistemas de inovação (SI), ou siste-
participação cidadã no policymaking, como as mas nacionais de inovação (SNI), é uma influente

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construção analítica nos estudos sobre o processo o caráter indutivo e empírico da inovação. Tal
de inovação das empresas e, também, sobre elemento diz respeito essencialmente ao aspecto
políticas públicas voltadas à inovação. Embora relacional que integra o rol de componentes
a abordagem se destine inicialmente a pensar o fundamentais do processo inovador, do qual
processo inovador na dinâmica industrial, um dos emana a inovação (Edquist, 2004). Além disso,
pontos-chave da teoria dos sistemas de inovação a teoria dos sistemas de inovação também tem
é o reposicionamento do Estado e do papel das sua raiz estreitamente vinculada a correntes
organizações públicas perante o fenômeno da teóricas de matriz neoschumpeteriana ou
inovação. Outro ponto, tão essencial quanto, diz evolucionária (Dosi e Nelson, 1994). Na visão
respeito à reconfiguração do fluxo da inovação e neoschumpeteriana, o Estado detém um papel
da difusão do conhecimento, que deixa de ser visto fundamental na viabilização de características
como algo unidirecional e predominantemente sistêmicas que repercutem na ação das firmas,
linear, para assumir uma vertente multiforme e ou mesmo compondo, junto com as firmas, os
multidirecional (Cunha, 2016). Neste sentido, SI centros de pesquisa, os usuários, o mercado
ou SNI definem-se como consumidor e outros, estratégias promissoras
de inovação e industrialização.
um conjunto de instituições distintas que con-
tribuem para o desenvolvimento da capacidade Apesar disso, o que estudos empíricos e
de inovação e aprendizado de um país, região, a construção teórica do SNI mais enfatizam
setor ou localidade – e também o afetam. Consti- é mesmo o fato de que inovações não costu-
tuem-se de elementos e relações que interagem mam ocorrer de maneira isolada, isto é, sem
na produção, difusão e uso do conhecimento que haja, entre os agentes relevantes, tro-
(Cassiolato e Lastres, 2005, p. 37). cas, colaboração e mesmo interdependência
(Fagerberg, 2004). Entre tais categorias de
Essa abordagem coloca ênfase na interação dos agentes estão as organizações públicas, das
atores e das instituições, observando processos quais se espera não apenas intervenções tó-
interativos tanto na criação do conhecimento picas e horizontais, que têm objetivos mera-
como em sua difusão e aplicação. Sob esse mente corretivos e niveladores das condições
enfoque, a inovação pressupõe um ambiente de competição. Dentro da concepção dos SNI,
institucional em que empresas, organizações o Estado tem um papel adicional na circulação
não governamentais (ONGs) e governos sejam do conhecimento e na viabilização ou indução
capazes de aprender, desenvolver e compartilhar das interações. É um papel de protagonismo,
conhecimentos. A ideia central da abordagem que envolve a atuação não somente subsidi-
sistêmica é a de que inovação depende não ária à do mercado, mas também a presença
apenas do desempenho individual de empresas ativa em processos inovadores, mediante reor-
e organizações, mas também de como elas ganização de regras e instituições, manutenção
interagem entre si, com outros atores e o meio de instituições de pesquisa públicas ou mesmo
em que se inserem; além de como as instituições de organizações produtivas, como no caso das
afetam o desenvolvimento dos sistemas (Cas- empresas estatais. Ou seja, trata-se mesmo de
siolato e Lastres, 2005). Ou seja, a inovação se um papel que encerra um conjunto de funções
traduz em um fenômeno sistêmico e interativo, para fins do fenômeno inovador, em linha com
caracterizado por diferentes tipos de colaboração. a referida taxonomia de Karo e Kattel (2016).

Trabalhos seminais que primeiro contribuíram Segundo Edquist (2004), a abordagem dos
para o desenvolvimento teórico dessa abor- SI é particularmente atrativa a formuladores
dagem, notadamente Lundvall (1992), Nelson de política pública porque induz a uma me-
(1993) e Freeman (1995), também enfatizam lhor compreensão acerca dos diferenciais no

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potencial inovador de distintas economias e na e, assim, ajuda a pavimentar uma agenda de
criação de mecanismos de apoio à inovação. pesquisa mais ambiciosa quanto à inovação no
A adoção de uma perspectiva sistêmica também setor público – ou seja, dentro do próprio Estado.
demanda uma postura estatal que reconheça
um papel abrangente para o próprio Estado. Na A concepção do SNI deixa aberta a porta
abordagem sistêmica, o escopo de atuação do para que o Estado seja percebido e estudado
Estado é ampliado, indo muito além da simples como inovador em si, o que claramente convida
correção de falhas de mercado e da provisão de a um olhar não somente sobre as transforma-
bens públicos essenciais, ou mesmo da contenção ções institucionais que diretamente apoiam
de falhas de governo. a inovação industrial, como, de uma maneira
mais ampla, quanto à essência da inovação
Observa-se que, subjacente à noção sistêmica em componentes e dinâmicas internas às
está uma postura transformadora do Estado, o organizações estatais. O desenvolvimento
que inclui a atuação consistente na promoção de um raciocínio teórico e empírico sobre a
do desenvolvimento. Não por outro motivo, a capacidade estatal inovadora do Estado parte
teoria do SI passou a deter relevância particular de um longo e sólido percurso previamente de-
tanto em nações com estruturas de bem-es- senvolvido, entre outros, pelos teóricos dos SNI.
tar social avançadas, notadamente os países Ao mesmo tempo, pelo fato de a visão sistê-
escandinavos, quanto em nações emergentes mica não ser exclusivamente geográfica (na-
com potencial industrializante. Em ambos os cional, regional etc.), tampouco unicamente
casos, tende a haver forte presença estatal na vinculada ao avanço tecnológico stricto sensu
economia. Nesse quesito, o Brasil tem particular (Edquist, 2004), pode-se argumentar no sentido
relevância. O sistema de inovação nacional é de um sistema de inovação cujos componentes
altamente complexo e, em alguns casos, muito centrais sejam as organizações públicas as quais,
bem estruturado (Castro, 2016). Adicionalmente, em conjunto, produzam inovações públicas ou
alguns avanços teóricos relevantes no campo dos serventes ao interesse público e aos governos.
SI tiveram origem no Brasil, como na construção
de interpretações analíticas sobre como a ino- Da visão evolucionária da inovação, central
vação pode se constituir em peça fundamental à abordagem sistêmica, também se retira, além
de estratégias de desenvolvimento econômico do componente interativo, o componente es-
mediante industrialização e emparelhamento pontâneo ou incerto relativo à inovação. Este
tecnológico (Cassiolato e Lastres, 2008). toca, para os fins da inovação em organizações
públicas, a necessidade do desenvolvimen-
A despeito da abordagem dos SI enxergar um to de capacidades e habilidades específicas
papel protagonista do Estado, e mesmo sendo que possam incorporar a tentativa e o erro
a visão sistêmica altamente interdisciplinar, até aos processos decisórios dentro do Estado.
pouco tempo, elaborações mais consistentes Tal engajamento com o experimentalismo não
sobre a porção efetivamente inovadora das pró- implica que se passe a tratar a inovação em or-
prias organizações públicas, enquanto lócus de ganizações públicas como mera obra do acaso.
inovação, eram escassas. Como afirmam Bekkers, No terreno do desenvolvimento de capacidades
Edelenbos e Stein (2011), a teoria desenvolvida inovadoras, também deve estar presente o es-
sob a perspectiva do SI não teve, originalmente, forço de criação de uma série de expedientes
uma mensagem clara sobre a inovação dentro que deem estrutura e fertilizem o terreno para
do setor público. Todavia, ao mesmo tempo em que inovações emerjam – ou seja, há que se
que a teoria dos SNI carece de uma visão mais pavimentar o caminho para que inovações sur-
aderente à inovação em governo, ela sedimenta jam. Por sua vez, o experimentalismo é sempre
uma descrição sólida acerca do papel do Estado uma peça central da inovação, de maneira que

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tanto sistemas quanto episódios inovadores que organizações inovadoras se posicionem,
específicos normalmente deterão elementos como afirmam Karo e Kattel (2016), de maneira
não planejados de início. complementar ao exercício usual do bom governo
e da boa burocracia. Contribui, por fim, para que
Desse modo, pela lógica sistêmica da ino- se perceba no Estado não só um obstáculo, uma
vação, tão importante quanto gerar produção condição ou mesmo um catalisador à inovação,
e circulação de conhecimento, oportunidades pois deixa nítida a capacidade de o Estado
de interação e habilidades básicas e alavanca- também ser um agente efetivo de inovação
doras da inovação, é também a constituição de (Cunha, 2016).
uma estrutura que permita que organizações
inovadoras se constituam. Uma visão sistêmi- 4 INOVAÇÃO PARA DENTRO DO GOVERNO
ca e evolucionária reivindica que se invista em
maneiras de se criar organizações públicas que Diante da amplitude conceitual e da comple-
sejam, da porta pra fora e da porta pra dentro, mentariedade no campo prático, como permite
empreendedoras (Mazzucato, 2015). compreender a noção sistêmica da inovação,
já detalhada, esta seção discute mais a fundo
Nesse sentido, há espaço para fertilização alterações e episódios que influenciaram a in-
cruzada entre a inovação de caráter privado e a tensificação da prática inovadora para dentro
pública. Isto é, não há contradição ou oposição, do serviço público nas últimas décadas.
necessariamente; mas sim possibilidade de cons-
trução coletiva e plural. Tal constatação não retira A partir da segunda metade da década de
da inovação seu componente schumpeteriano 1970, o setor público passa a ser alvo de uma
mais essencial, que é a possibilidade de atribuição série de questionamentos acerca do funciona-
de uma lucratividade extraordinária ao agente mento do Estado sob as dimensões econômi-
privado inovador, ou seja, o lucro schumpete- cas e política e também quanto ao modelo de
riano. Tampouco subtrai do Estado seu múnus administração burocrático. No âmbito econô-
principal de atendimento ao interesse público. mico, a crise fiscal, que afetava as principais
Do contrário, construir coletivamente produtos, economias do mundo capitalista, transfere as
processos, estratégias de marketing e comuni- atenções para a necessidade de reduzir o grau
cação e novas organizações que representem de intervencionismo estatal na economia e
inovações efetivas pode somar o interesse na sociedade, considerada como a razão princi-
privado ao interesse público. Ademais, pode pal da ineficácia e ineficiência da administração
também, do ponto de vista especificamente do pública (Pollitt e Bouckaert, 2011). Do ponto de
Estado, cumprir propósitos tanto sociais quanto vista político, o período é marcado por obstá-
econômicos, na medida em que inovações, ao culos na governabilidade, perda de legitimidade
serem “fabricadas”, podem impulsionar ganhos e, por conseguinte, descrédito nas instituições
econômicos amplos, ao mesmo tempo em que governamentais. Ademais, as críticas ao modo
contribuem para a mitigação de problemas burocrático da administração pública se in-
sociais – soluções tecnológicas e aplicativos tensificam, sobretudo, com foco no deficit de
de smartphones seriam exemplos. desempenho e seus efeitos na baixa qualidade
na prestação dos serviços públicos.
Portanto, a perspectiva dos SI contribui com
relevante substrato teórico para a construção de Destacam-se ainda outros ativadores da onda
uma agenda de políticas e também de pesquisa de “modernização” do aparelho estatal nesse
que pode efetivamente apoiar a reflexão acerca período, dentre eles: a crescente competição
das organizações públicas e seus propósitos e territorial pelos investimentos privados e mão
processos inovadores. Ela também auxilia para de obra qualificada; a disponibilidade de novos

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conhecimentos organizacionais e tecnologia; a não quer dizer que, após décadas, as expe-
ascensão de valores pluralistas; como também, a riências tenham sido inquestionavelmente
crescente complexidade, dinâmica e diversidade bem-sucedidas. Hood e Dixon (2015), por
das nossas sociedades. exemplo, comprovam as severas limitações e
mesmo flagrantes falhas do projeto britânico
Nesse contexto, nos anos 1980, amplia-se o com a NGP.
movimento de reforma voltado a alterar o papel
do Estado, com fortes elementos político, ideo- Ademais, configurações alternativas à NGP
lógico e econômico. Os governos precursores de variaram entre os países e ao longo do tempo.
Thatcher, na Inglaterra, e Reagan, nos Estados Consequentemente, modelos alternativos foram
Unidos, defendiam transição de um Estado in- implementados em diferentes governos e, assim,
tervencionista e dirigista para um promotor da caracterizados e analisados pela literatura (Pollitt
regulação (Carneiro e Menicucci, 2011). Nascem, e Bouckaert, 2011).
assim, as bases do que convém ser denominado
de nova gestão pública (NGP) ou New Public O primeiro paradigma alternativo à nova gestão
Management, no original em inglês. Em linhas pública é denominado de Estado neoweberiano
gerais, esse modelo, com forte caráter norma- (ENW), comum em Estados com estrutura buro-
tivo, preconizava a incorporação de técnicas da crática forte, como os países da Europa continental
iniciativa privada para a estruturação e gestão da (França, Alemanha, entre outros). As reformas,
administração pública, com base em eficiência, no seu componente weberiano, reafirmaram o
fragmentação e competitividade (Hood, 1991; papel do Estado como principal facilitador de
Hood e Peters, 2004). Nas décadas seguintes, soluções para questões complexas, a função
a NGP se espalhou rapidamente por diversos da representação democrática como elemento
países desenvolvidos e emergentes. legitimador do aparelho estatal e o papel das leis
administravas na preservação dos princípios do
Passadas mais de três décadas do início da relacionamento entre cidadão e Estado, e também
onda gerencialista, prevalece a percepção de preservaram a ideia do serviço público com
que o movimento gerencial consistiu-se em uma status, cultura e condições diferenciados.
miríade de conceitos e iniciativas que, apesar Por sua vez, as iniciativas reformistas, no seu
de possuírem princípios similares, na prática, componente “novo” do neoweberianismo, alte-
promoveram resultados bastante díspares em raram o foco burocrático nas regras para uma
termos de mudanças na administração pública. orientação mais externa voltada aos desejos e
às necessidades dos cidadãos, incluíram formas
Embora implementadas em diversas nações, alternativas de consultas à população para além
foram os países anglo-saxões (Grã-Bretanha, dos mecanismos da democracia representativa
Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia) que e, no gerenciamento dos recursos, passaram
apresentaram alterações mais substantivas a encorajar mais o foco no desempenho em
na forma, na organização e no funcionamento detrimento da excessiva preocupação com os
da administração pública. Tais resultados os mecanismos de controle ex-ante. Em linhas gerais,
tornaram referências das reformas basea- o paradigma parte da premissa da necessidade de
das no NGP, tanto pelo pioneirismo quanto fortalecimento da capacidade estatal em liderar
pela amplitude dos objetivos pretendidos e processos de desenvolvimento e, por conseguinte,
dos impactos das ações empreendidas. O reestabelecer a confiança na administração pública.
sistema jurídico-institucional anglo-saxão, E, assim, visa modernizar o aparato estatal tra-
e mesmo traços culturais comuns a países dicional, de modo a torná-lo mais profissional,
dessa tradição, certamente propiciaram um eficiente e responsivo aos cidadãos (Drechsler
maior engajamento com a NGP. Isto, contudo, e Kattel, 2008; Pollitt e Bouckaert, 2011).

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Uma segunda alternativa, para a nova go- norteando as inovações no setor público, prin-
vernança pública, a partir da teoria de rede, é cipalmente nas últimas duas décadas (Bourgon,
construída tanto pela premissa do Estado plural, 2010; Grau, 2004; Pollitt e Bouckaert, 2011; Car-
com atores múltiplos e interdependentes con- neiro e Menicucci, 2011; Dunleavy et al. 2005).
tribuindo para a provisão de serviços públicos, Entre essas tendências destacam-se:
quanto pela perspectiva de Estado pluralista, no
qual os processos de interação dos grupos geram • aperfeiçoamento de mecanismos de
informações ao sistema de políticas públicas transparência, governo aberto e respon-
(Osborne, 2010). O conceito de governança sabilização (accountability);
reforça a representação mais abrangente e in-
clusiva do que o conceito tradicional e solitário • promoção do governo eletrônico
de governo. O paradigma preconiza a ampliação (e-government) como estratégia de am-
de formas de relacionamento entre diferentes pliação e facilitação do acesso e da parti-
atores no âmbito da gestão pública, seja entre cipação cidadã na administração pública;
Estado e sociedade, seja entre agentes privados e
governo, seja entre sociedade e iniciativa privada. • novos arranjos de políticas públicas que
Com efeito, espera-se um funcionamento mais fomentem papel mais ativo dos cidadãos
efetivo e legítimo (Osborne, 2010; Pollitt e na produção de bens público;
Bouckaert, 2011).
• stuação em redes e parcerias com atores
Observa-se, portanto, que essa heteroge- estatais, sociais e da iniciativa privada;
neidade é consequência tanto da diversidade e e
ampliação na utilização tecnologia de
complexidade dos objetivos que, naturalmente, informação tanto para ampliar a qualida-
geraram experiências díspares, como do arca- de e eficiência na prestação de serviços
bouço institucional pré-existente nos países públicos.
que influenciam todo o processo de reforma
no setor público. O argumento de superação O que se denota, assim, é a existência de
pura e completa de modelos de gestão, seja uma diversidade de influências teórico-meto-
entre o NGP e a burocracia clássica, seja dológicas em administração pública que, por
entre os modelos pós-gerencialista e a nova seu turno, não parece ser algo que retarde so-
gestão pública, é incongruente. A literatura bremaneira a evolução das ideias e tampouco
sugere um processo bem mais incremental e que obstaculize as ações de transformação
desordenado do que o encontrado nas pro- no interior do Estado. Vê-se sim um cardápio
postas originais, independentemente do país de alternativas, com influência concomitante
ou momento histórico analisado. de alguns modelos de reforma – em parte
divergentes entre si, em parte complementa-
Como entender, portanto, o estado da res – que, em conjunto, nutrem a criatividade
arte, as mudanças na administração pública e dão latitude para o surgimento de inovações
contemporânea e, sobretudo, sua influência calcadas em distintos substratos conceituais e
nas discussões sobre inovação no governo? agendas governamentais. Tais alternativas se
A estratégia mais recomendável parece estar somam ao contexto geral que ora pressiona ora
desvinculada da necessidade de enquadramento oportuniza aos Estados e agentes públicos pela
pleno e irrestrito aos modelos ou paradigmas de necessidade de mudança e inovação, sendo esta
gestão descritos, e mais direcionada a tendências particularmente próspera a partir do momento
que se refletem por meio das inovações. Assim, em que se teoriza mais solidamente acerca do
é possível sintetizar um conjunto de tendências caráter inovador das organizações públicas,
(princípios e/ou diretrizes) de gestão que vem numa perspectiva sistêmica.

23
Com efeito, a inovação no setor público seção 5, a seguir, trata-se da materialização da
ganha impulso na medida em que os governos função de inovação organizacional do Estado,
buscam atender às demandas contínuas por, conforme descrito por Karo e Kattel (2016).
entre outros, maior transparência, qualidade,
eficiência e eficácia de suas ações, mediante 5 A PROLIFERAÇÃO DE LABORATÓRIOS DE
processos interativos com cidadãos, empresas INOVAÇÃO (I-LABS) – BASES TEÓRICAS
e sociedade (OCDE, 2015). Nesse cenário, cada E EFEITOS PRÁTICOS
vez mais complexo pela globalização imparável,
aliada ao combate à desigualdade e ao respeito É possível notar que o desafio da inovação na
à diversidade e ao multiculturalismo impõem-se administração pública é duplo. Se, por um lado,
à administração pública a necessidade de ser governos desempenham papel importante
mais criativa e inovadora nas suas respostas, em em criar condições que possibilitem o avanço
termos de políticas públicas. Segundo Bekkers, da economia do conhecimento e voltada à
Edelenbos e Steijn (2011. p. 6): “A necessidade de inovação (innovation-driven), por outro, eco-
inovar não reflete só o desenho de criar governos nomias inovadoras só podem prosperar se o
mais efetivos e eficientes, mas também como setor público é também capaz de desenvolver
forma de criar legitimidade no setor público um impulso inovador próprio, de modo a lidar
para enfrentar problemas complexos (wicked com um número grande de desafios societais.
problems)”. Neste caso, são exemplos a qualidade do siste-
ma educacional, a luta contra a criminalidade,
Mais recentemente, a inovação no setor o desenvolvimento regional, sustentabilidade,
público e, logicamente, seu campo de pesquisa dentre outros.
avançaram no diálogo com as cinco tendên-
cias supracitadas, em especial, relacionadas Quanto ao papel do Estado, Karo e Kattel
às tecnologias da informação e comunicação (2016) procuram demonstrar que não exis-
(TICs) e à governança (Bekkers, Edelenbos e te uma forma única de organizar as ações
Steijn, 2011). No caso brasileiro, cabe destacar governamentais de apoio à inovação; ao con-
a comprovação de aderência das inovações no trário, é necessário elevar a compreensão
setor público brasileiro às tendências mundiais desse fenômeno focando nas variedades or-
em gestão pública. Cavalcante e Camões (2017) ganizacionais dentro do contexto de formu-
procuraram explorar a adequação das inovações lação e implementação das políticas públicas.
do governo federal à luz das principais tendências Em outras palavras, há uma complementa-
atuais e demonstraram que praticamente todas riedade entre as organizações capazes de
elas, em diferentes graus, estão incorporadas inovar em políticas públicas (desempenho
nas iniciativas inovadoras reconhecidas como instrumental) e as organizações de apoio
tal. Normalmente, as inovações incorporam ao setor privado (desempenho substantivo).
características de mais de uma tendência, com Em linhas gerais, diferentes tipos de organi-
destaque para a prevalência da utilização de zações obtêm sucesso na entrega de distin-
tecnologias de informação e na atuação em redes tos tipos de impactos e metas para fins de
como estratégias de melhorias da qualidade e inovação e, logo, são essenciais no processo
da eficiência dos serviços públicos. de construção de um Estado empreendedor
(Mazzucato, 2013).
Com destaque crescente e como instrumento
para lidar com esses motivadores e tendências Nesse sentido, um objeto de análise ascendente
inovadoras na administração pública, um novo na literatura envolve o estudo dos fatores deter-
fenômeno vem ocorrendo: a criação de labora- minantes do processo de inovação, em especial,
tórios de inovação. Como ficará mais claro na de suas etapas de adoção e difusão. De acordo

24
com Jean Hartley (2013), as fases analíticas do público prevalece, sendo inovações radicais em
processo inovador seriam a invenção (quando as governo um fenômeno mais raro. Tais pressu-
ideias são geradas); a implementação (processo postos podem ser compreendidos por meio dos
de tradução de ideias em políticas) e a difusão argumentos a seguir.
(quando a inovação dissemina na organização
ou fora dela). Dada dimensão política da inovação pública,
não é só importante olhar para a alocação de
A inovação em governo também pode ser custos e benefícios (lógica da consequência),
compreendida sob três formatos: i) melhorar algo mas também a viabilidade das inovações propos-
já está em andamento para ampliar o impacto tas, que vão além da pura eficiência e eficácia e
da organização na vida das pessoas; ii) adaptar englobam outros valores como apoio político,
uma ideia já testada para um novo contexto de confiança e estar de acordo com as regras da lei.
modo a escaloná-la; e iii) desenvolver algo intei- Consequentemente, é importante reconhecer que
ramente novo para atingir ou superar as metas inovação pública, em função de seu enraizamento
organizacionais. Em todas elas, um elemento é institucional, também tem que focar na lógica da
imprescindível para compreender esse fenômeno adequação (Bekkers, Edelenbos e Steijn, 2011,
na administração pública: as instituições. Isto é, p. 23).
as regras do jogo dentro das quais os atores e as
organizações operam no âmbito do setor público Ambas as lógicas estão presentes dentro
(March e Olsen, 1989; North, 1990). de uma abordagem de feições neoinstitucio-
nalista que incorpora uma perspectiva mais
Adicionalmente, pode-se notar que as ativi- compreensiva sobre o conceito de instituições,
dades no setor público, inclusive as inovadoras, isto é, não apenas compreendido como orga-
tendem a seguir duas lógicas (Bekkers, Edelenbos nizações, mas também como regras formais
e Steijn, 2011; Cunha, 2016). e informais que moldam os comportamen-
tos de atores políticos, sociais e econômicos
1) Lógica da consequência: inovar é avaliado (March e Olsen, 1989; North, 1990).
sob a perspectiva das consequências que
a inovação pode trazer e das preferências Considerando a premissa neoinstitucional
e expectativas que as precede. Valores de se atentar para processos de mudanças
como eficiência e efetividade desempe- que incorporem não apenas as organizações
nham um papel central nessa lógica. mas também as regras do jogo em que os
atores-chave atuam, ganha destaque, tanto
2) Lógica da adequação ou da apropriação: nos governos de diferentes países e instâncias
inovações são avaliadas de acordo com subnacionais quanto na academia, a recen-
suas adequações a um contexto político te proliferação de laboratórios de inovação
e social específico, o que significa identi- (I-Labs). Essas iniciativas surgem, predominan-
ficar as especificidades da administração temente, com foco em inovação para dentro de
pública durante o processo inovador. governo, englobando, sobretudo, as funções de
inovação em instituições políticas, em compras
Em linhas gerais, é o reconhecimento de que (procurement), serviços e organizacionais (Kattel
o contexto importa, tanto ao moldar as prefe- e Karo, 2016).
rências e expectativas individuais na lógica da
consequência como na adequação de estraté- Primeiramente, observa-se no padrão de
gias dentro das regras institucionais vigentes. funcionamento dos laboratórios uma tendência
Não por acaso, a hegemonia de inovações de à ruptura do padrão histórico de funcionamento
natureza incremental e evolucionária no setor da burocracia estatal, insulada e pouco dinâmi-

25
ca. Dentro de uma lógica de atuação em redes os aprendizados exploradores e exploratórios.
e/ou de governança, os laboratórios procuram Como alternativa, as organizações de melhor
fomentar a inovação no setor público por meio desempenho têm optado pela ambidestria
do investimento em capacidades de conexões, (ambidexterity), que reflete uma combinação de
sobretudo entre Estado e sociedade. Trata-se de aprendizagem exploradora e exploratória que
uma mudança conceitual importante na admi- promova a capacidade dinâmica das organiza-
nistração pública, pois preocupada em enfatizar ções em mobilizar, coordenar e transformar o
elementos de governança de maneira mais efetiva. conhecimento em resultados complexos gerando
inovação (O´Reilly e Tushman, 2008). Nesse
Os laboratórios de inovação, em seus diferentes sentido, os laboratórios de inovação podem atuar
arranjos, normalmente surgem imbuídos da ideia tanto internamente quanto por meio de equipes
de promover a cultura de inovação no órgão ou externas, em organizações tipicamente explo-
na esfera de governo. A inovação passa a ser radoras e semeando processos exploratórios.
vista como uma solução criativa de problemas
com espaço para improvisação, experimentação, Outra abordagem para se analisar essas ino-
tentativa-erro e assunção de riscos dentro das vações organizacionais no setor público e suas
organizações públicas – que laboratórios tanto capacidades é por meio do olhar sobre a burocracia,
estimulam quanto retiram as potencialidades de entendida como seu corpo funcional permanente
danos reais, uma vez que precedem o desenrolar e/ou transitório. Nesse debate sobre as capacida-
prático e real da inovação. Com efeito, sobressai des e estratégias do Estado em inovar, a questão
o aprendizado, aspecto relevante como uma es- que surge é se o caminho é o fortalecimento das
tratégia para capacitar equipes no tema inovação, burocracias tradicionais do tipo weberiana ou o
e, por conseguinte, aperfeiçoar o desempenho foco nas experimentais, denominadas startups
das organizações. bureaucracies (Kattel e Karo, 2016). A primeira re-
mete à premissa de que burocracias meritocráticas
As atividades de um processo inovador, e profissionalizadas constituem a engrenagem para
tanto de produto quanto de serviço, funda- o processo de desenvolvimento inovador dessas
mentam-se não apenas nas capacidades nações; enquanto o segundo modelo consiste na
existentes de uma equipe e/ou organiza- criação de espaços (agências ou laboratórios) de
ção, como também em novas capacidades. inovação no setor público nos quais as equipes
Nesse contexto, as organizações tendem a possam experimentar e assumir riscos. A resposta
beber em duas fontes de aprendizado: explora- de Kattel e Karo (2016) a isto sinaliza para o equi-
dora (exploitative) e a exploratória (exploration). líbrio, ou seja, para a constatação de que qualquer
De acordo com James March (1991), a primeira, um dos tipos de burocracia pode desempenhar
aprendizagem exploradora, está relacionada a diferentes funções de inovação no governo, além
refinamento, eficiência e aperfeiçoamento que de poder criar condições favoráveis para que o
possibilita inovação incremental. Enquanto a segun- setor privado inove. Sociedades inovadoras e
da fonte remete a novas possiblidades, associada dinâmicas não precisam substituir um tipo pelo
à pesquisa, aceitação de riscos, experimentação outro, ao contrário, as burocracias experientes
e descobertas que fomentem a variação e as devem ser complementadas pelas experimentais,
novidades necessárias para inovações. em associação de propósitos e funções.

Obviamente, as organizações não necessa- Mas, nesse contexto, onde se insere o fenôme-
riamente lidam com apenas umas dessas fontes. no de laboratórios de inovação? Tonurist, Kattel
O dilema surge na medida em que é difícil para e Lember (2015) argumentam que, a despeito da
organizações serem boas em ambos os tipos, proliferação recente, esse não é um fenômeno
assim, o desafio é equacionar a interação entre totalmente novo, haja vista o uso de laboratórios

26
no movimento de reinvenção do governo nos Es- • como funcionam: se incubam inovações,
tados Unidos, nos anos 1990. Todavia, a difusão aconselham, usam métodos de inovação
atual é, sem dúvida, um processo de isoformismo aberta ou financiam outras organizações; e
intenso pelo mundo, sendo considerada a última
moda na gestão pública, direcionada a aumentar • forma em que estão relacionadas com o
a legitimidade e a credibilidade dos governos. setor público, seja dentro do governo, pa-
De acordo com os autores, alguns fatores sociais raestatais ou totalmente separados.
e tecnológicos complexos provocaram o aumento
do número de I-Labs no setor público, mais re- Finalmente, vale mencionar que o debate sobre
centemente. Primeiro, os crescentes e dinâmicos inovação também envolve a participação dos think
processos reformistas, já discutidos anteriormente, tanks, sobretudo, com ênfase em laboratórios como
que abriram espaços na administração pública espaço para construção, colaboração e compar-
para novos métodos de redesenho de serviços e tilhamento de informações e conhecimento para
processos, como o design thinking. Segundo, as os tomadores de decisões (policy makers). Esses
exigências contemporâneas de austeridade fiscal laboratórios de inovação voltados para esses fins
impõem aos governos o reforço em melhorias de constituem uma estratégia dos think tanks de se
processos para gerar mais produtividade e, por reinventarem não apenas na disseminação e comu-
conseguinte, confiança da sociedade. Nesse caso, nicação mais efetiva dos conhecimentos gerados,
o foco envolve políticas públicas experimentais mas, principalmente, atuarem como lócus de expe-
e as chamadas medidas de inovação do lado da rimentação de inovação tanto em políticas públicas
demanda, que visam criar novos mercados, como quanto no âmbito empresarial (McGann, 2016).
no caso das inovações em compras públicas (pro-
curement). Por fim, provavelmente o condicionante 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
mais relevante está relacionado à forte pressão pela
adoção e difusão de tecnologias de informação e Nos últimos quinze anos, a área de pesquisa de inova-
comunicação pelos governos, tais como mecanis- ção no setor público vem ganhando mais adeptos, o
mos participativos de decisões e o uso de big data. que reflete em maior destaque do tema em congres-
sos acadêmicos e de especialistas e, sobretudo, no
No que tange às formas e funções, os labo- aumento de publicações, tanto de revistas científicas
ratórios de inovação tendem a apresentar um quanto de livros (De Vries, Bekkers e Tummers, 2015).
caráter similar e com missões bem diversificadas, De acordo com Anao (2009), desde os anos 1990,
variando, entretanto, em combinações de estrutura, o campo cresce intensamente, principalmente a
autonomia, foco e ferramentas (Tonurist, Kattel e partir de 2005, passando de um quantitativo de
Lember, 2015). Em uma tentativa de detalhar as artigos publicados sobre o tema de um a seis por
configurações dos I-labs, Mulgan (2014) sustenta ano (anos 1990) para o intervalo de doze a 42 por
que eles podem ser distinguidos pelo/por: ano, no período de 2005 a 2008.

• principal método utilizado: design, dados, No Brasil, as discussões sobre reforma admi-
gamificação, behavioural economics etc.; nistrativa e inovações no setor público também
fazem parte do debate e da prática, tanto no
• campo em que atuam: educação, saúde, governo federal quanto nos subnacionais. Assim
desenvolvimento etc.; como nos países desenvolvidos, as evidências
sugerem que a inovação no governo, em geral,
• onde se concentram ao longo do proces- ocorre mais por meio de iniciativas descoordena-
so de inovação, isto é, como compreen- das do que propriamente como um resultado de
dem questões (policy issues), geraram esforços estratégicos e deliberados (Comissão
ideias, implementam ou escalam; Europeia, 2013; Vargas, 2010).

27
Justamente no sentido de colaborar com a figura 1 apresenta uma tentativa de panorama
esse importante debate, este capítulo se pro- da inovação no setor público.
pôs a aprofundar um aspecto importante
da inovação no setor público: suas razões. A busca por soluções inovadoras pelo setor
Para tanto, desenvolvemos uma análise da público, seja voltada ao setor privado ou seja
literatura acadêmica nacional e internacional, voltada à própria administração pública, visa, em
integrando temas convergentes de áreas com- última instância, promover o desenvolvimento
plementares da ciência, bem como da produção social e econômico das nações ou unidades
empírica e de políticas públicas de governos e subnacionais. A inovação, entretanto, conforme
organismos multilaterais. O argumento principal argumentado no decorrer do capítulo, é impul-
do estudo é que as atuações do setor público, sionada e instrumentalizada por complexos
tanto voltadas ao fomento à inovação no setor arranjos de políticas governamentais. Esses
privado quanto interna, ultrapassam a visão res- arranjos, por sua vez, podem se materializar
trita do papel do Estado na correção de falhas de duas formas. Primeiro, por meio do auxílio à
de mercado, incorporando outras perspectivas, constituição e aperfeiçoamento de um sistema
como a construção de sistemas de inovações. de inovação direcionado, predominantemente,
As inovações também se justificam pelas falhas à estruturação e competitividade da iniciativa
de governo, crescimento de problemas cada vez privada. Em paralelo, com foco internalista –
mais complexos, transversais, incertos e estru- para dentro do governo – as políticas públicas
turantes (wicked problems), além de demandas influenciadas pelas tendências de gestão pós-
por melhores serviços e mais participação social -gerencialismo e, em alguns casos, apoiados
no processo decisório de políticas públicas. De por laboratórios de inovação, representam os
modo a sintetizar as discussões deste capítulo, esforços do setor público em prover processos
e serviços inovadores.

FIGURA 1
Panorama da inovação no setor público

Foco mercado
• Falha de mercado Sistema nacional
(aversão ao risco)
• Produtividade de inovação
• Competitividade
• Sustentabilidade

Políticas
de Inovação
• Interação
• Colaboração Inovação Desenvolvimento social
• Tentativa-erro e econômico
• Foco no conhecimento
• Longo prazo
Tendências de
gestão

• Falhas de governo
• Wicked Problems
• Demandas por
melhores serviços Laboratórios de inovação
e mais participação
Foco governo

Elaboração dos autores.

28
Apesar da finalidade macro comum, ou BEKKERS, V.; EDELENBOS, J.; STEIJN, B.
seja, a de promover capacidades e soluções (Eds.). Innovation in the public sector: linking
inovadoras, os ativadores dos dois arranjos capacity and leadership. Governance and Pu-
são distintos. De um lado, os propulsores do blic Management Series. New York: Palgrave
sistema de inovação incluem, principalmente, Macmillan, 2011.
a aversão ao risco de investimentos de longo
prazo da iniciativa privada, as necessidades de BOURGON, J. Finalidade pública, autoridade
aumento da produtividade e competitividade governamental e poder coletivo. Revista do
das empresas nacionais e, mais recentemente, Serviço Público, v. 61, n. 1, p. 5-33, 2010.
a sustentabilidade. De outro lado, a inovação na
administração pública é, sobretudo, motivada CARNEIRO, R.; MENICUCCI, T. M. G. Gestão pública
pelas notórias falhas de governo, os wicked pro- no século XXI: as reformas pendentes. Brasília: Ipea,
blems, bem como pelas crescentes demandas dez. 2011. p. 1-76. (Texto para Discussão, n. 1686).
por melhores serviços e mais participação social.
Em ambos os casos, todavia, há um espaço de CASSIOLATO, J. E.; LASTRE, H. Sistemas de
convergência bastante evidente. Nele se des- inovação e desenvolvimento: as implicações de
tacam os princípios fundamentais que norteiam política. São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 1,
os processos de inovação no setor público, são jan./mar. p. 34-45, 2005.
eles: interação, colaboração, tentativa-erro, foco
no conhecimento e perspectiva de longo prazo ______. Discussing innovation and develo-
na maturação das inovações. pment: converging points between the Latin
American school and the innovation systems
Esse esforço de condensação analítica, re- perspective? Globelics, 2008. (Globelics Working
presentado na figura 1, visa retratar um processo Paper Series, n. 2008-02).
nada trivial de um ecossistema multicausal, não
linear e com objetivos abrangentes. Não obstante, CASTRO, A. C. Políticas de inovação e capacidades
trata-se de uma tentativa exploratória que, como estatais comparadas: Brasil, China e Argentina. In:
tal, deve ser avaliada com cautela, servindo mais GOMIDE, A. A.; BOSCHI, R. R. (Eds.). Capacidades
diretamente como subsídio ao debate sobre os estatais em países emergentes: o Brasil em pers-
aspectos subjacentes ao panorama da inova- pectiva comparada. Brasília: Ipea, 2016. p. 105-136.
ção do que como um modelo definitivo. Como
agenda futura de pesquisa, abre-se, portanto, CAVALCANTE, P.; CAMÕES, M. Do the Brazilian
um terreno fértil para aprofundar as investiga- innovations in public management constitute
ções sobre outras características do complexo a new model? Revista de Administração e
fenômeno de inovação no setor público, por Inovação, v. 14, p. 90-96, 2017.
exemplo, sua evolução no âmbito nacional, os
efeitos de mudanças da visão de Estado sobre COMISSÃO EUROPEIA. Powering European
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