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CAPÍTULO 4

DUAS DÉCADAS DE PESQUISA SOBRE INOVAÇÕES


EM SERVIÇOS: qual o lugar dos serviços públicos?1
Faridah Djellal2 | Faïz Gallouj3 | Ian Miles4,5

1 INTRODUÇÃO o ponto em que o Manual sobre Inovação e


Serviços foi publicado, em 2010 (Gallouj e
Os estudos sobre inovação cresceram ra- Djellal, 2010). A inovação no setor público
pidamente como uma área de pesquisa no foi ainda mais negligenciada na tendência
último quarto do século XX, como discutido atual dos estudos sobre inovação, e este
exaustivamente por autores como Fagerberg trabalho tentará explorar a possibilidade
(2004) e Godin (2010). Vários manuais bus- de integração frutífera de trabalho sobre
caram fornecer visões gerais do campo – por esse tema em estudos de inovação de forma
exemplo, Rothwell e Dodgson (1994) e Fager- mais geral.
berg et al. (2004) –, e há várias revisões de
tópicos especializados, tais como economia, Além de os serviços públicos – e, de forma
sociologia e medidores da inovação, assim mais geral, os serviços não comerciais – ­ serem
como vastos contextos de trabalho sobre em algum grau mais ou menos monopólios livres
gestão e política de inovação. Foi observado, de pressões competitivas, vários outros motivos
muitas vezes, que a pesquisa foi dominada são habitualmente adiantados por terem pouco
por um foco na indústria de manufatura e, a ver com inovação. Estes sofrem influência
em especial, em indústrias mais ligadas à política, o que os coloca à margem da economia
alta tecnologia, tais como a aeroespacial, a racionalista da inovação.6 Geralmente, sofrem de
automotiva e a farmacêutica. A inovação em falta de recursos, inclusive de recursos que podem
serviços foi negligenciada por longo tempo, ser alocados a projetos de inovação de risco e
mas, nos primeiros anos deste século, ficou de incentivos para inovadores e empresários. Há
claro que a questão havia atingido o ponto pouca pressão dos consumidores de serviços, ou
máximo de sua validade (Miles, 2000), até então essa pressão é dispersada por estruturas

1. Publicado originalmente como: Djellal, F.; Gallouj, F.; Miles, I. Two decades of research on innovation in services: which
place for public services? Structural Change and Economic Dynamics, v. 27, p. 98-117, dez. 2013.
2. Professora da Université de Lille 1.
3. Professor da Université de Lille 1.
4. Professor do Laboratório de Economia da Inovação do National Research University Higher School of Economics (HSE),
Moscou, e professor da Divisão de Gestão e Política de Inovação, do Manchester Institute of Innovation Research (MIoIR)
e Alliance Manchester Business School (MBS), da Universidade de Manchester.
5. A contribuição de Ian Miles a este trabalho foi feita na estrutura do Programa Básico de Pesquisa da Escola Superior
de Economia, no período 2011-2012.
6. E, ainda pior, em algumas circunstâncias, essa influência está altamente associada ao clientelismo e à corrupção
clara, fenômenos que não são normalmente considerados quando se trata de serviços mercantis.
burocráticas rígidas que induzem à inércia no setor saúde, de transmissão pública e de segu-
público. Grupos de profissionais, como médicos rança e defesa.
e professores, podem impedir a inovação que
poderá enfraquecer suas posições privilegiadas, 3) O perímetro dos serviços públicos e priva-
e assim por diante. Porém, é claro que é preciso dos flutua no tempo e no espaço. De fato,
reconhecer exceções, principalmente quando a frequentemente, tem havido competição
pesquisa básica em universidades e laboratórios entre os serviços públicos e privados, va-
pode ser fonte de novos conhecimentos e ideias riando segundo países e períodos. Alguns
criativas de aplicação – embora a percepção em serviços privados altamente inovadores –
ampla escala e a promoção do desenvolvimento tais como as telecomunicações – foram
dessas aplicações geralmente sejam vistas como empresas historicamente de propriedade
preservação de empresas particulares. do Estado até o último quarto do século
XX em muitos países do mundo ocidental.
Mas, ao contrário, muitos argumentos qua- O design e a entrega de alguns serviços
lificam ou contradizem essa avaliação negativa públicos são terceirizados por fornece-
da inovação nos serviços públicos e sugerem dores privados ou fornecidos através de
que devemos elevar sua posição no campo dos parcerias público-privadas (PPPs). E al-
estudos de inovação de serviços. Temos a seguir gumas funções de departamentos admi-
uma breve análise desses argumentos. nistrativos nos serviços públicos podem
ser terceirizadas ou podem estar sujeitas
1) É paradoxal acreditar que as administra- à concorrência de vários fornecedores.
ções públicas são ambivalentes: ávidas
por apoiar a inovação, mas ignorando a 4) A crise econômica e as alterações demo-
inovação a seu próprio favor. De fato, o gráficas também são fatores importantes
surgimento de atividade em torno de go- para a inovação nos serviços públicos, já
verno eletrônico indica que muitos gover- que levam a pressões para a racionaliza-
nos pretendem usar novas tecnologias ção da produção, assim como suscitam
para melhorar processos internos e elos alguns esforços para reduzir as despe-
com seus cidadãos. Uma hipótese curiosa sas sociais – enquanto isso, novas e mais
seria que uma administração que seja ino- intensas demandas sociais surgem, por
vadora em si será mais eficiente em apoiar exemplo, como o cuidado com idosos e
a inovação em outros agentes econômi- as questões ambientais.
cos. Podemos sugerir uma análise com-
parativa da relação entre esforços para Houve várias revisões recentes na literatura
modernizar a administração pública – sobre inovação em indústrias de serviço –
através do e-governo e de outras inicia- por exemplo, Gallouj e Djellal (2010) e Miles
tivas – e aquelas que objetivam políticas (2010). Vamos examinar agora como os prin-
de inovação de forma mais geral. cipais estudos realizados durante duas décadas
de pesquisa sobre inovação de serviços tratam
2) Nos serviços públicos, há setores cujas o assunto ou como podem ser extrapolados ao
atividades de inovação são indiscutíveis tratar da inovação nos serviços públicos. Bus-
e bem documentadas na literatura de vá- camos também identificar deficiências nessa
rios tipos – embora nem sempre em estu- literatura e estabelecer novos caminhos de
dos sobre inovação (Rosenberg e Nelson, pesquisa e ação.
1994; Djellal e Gallouj, 2007). Além de
universidades e laboratórios de pesquisa O campo de estudos sobre inovação em serviços
pública, podemos mencionar serviços de envolve quatro perspectivas teóricas diferentes:

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assimilação, demarcação, inversão e síntese (Adis com a inovação de bens – de fato, os serviços são
– em inglês, assimilation, demarcation, inversion apenas “bens intangíveis”. Esta se focaliza nas
e synthesis), conforme Gallouj (1998), Gallouj e relações com sistemas tecnológicos. Essa última
Weinstein (1997), Coombs e Miles (2000), Droe- ênfase significa que isso também pode ser visto como
ge, Hildebrand e Heras Forcada (2009) e outros perspectiva tecnológica – embora, como veremos,
autores citados no último estudo. Essas têm rótulos uma linha de pesquisa tenha argumentado que a
ligeriamente diferentes em diversos autores, mas trajetória de inovação de serviços industriais em
o objetivo comum é refletir sobre concepções di- torno de novas tecnologias tende a ser distinta. Na
ferentes da relação de estudos sobre inovação de medida em que focaliza principalmente a inovação
serviço frente a frente com o campo estabelecido adotada pelos setores de manufatura, a perspectiva
de estudos sobre inovação, com ênfase nos seto- de assimilação também é de subordinação, em que
res de fabricação e em seus produtos (figura 1). A as novas tecnologias desenvolvidas na manufatura
perspectiva de assimilação analisa a inovação em são as assimiladas pelas indústrias de serviço.
indústrias de serviço como sendo essencialmente a
mesma que a inovação nas indústrias de fabricação, A perspectiva de diferenciação – ou demarca-
com inovação de serviço sendo bastante parecida ção – tem foco nas especificidades dos serviços.

FIGURA 1
Inovação em serviços: diferentes perspectivas analíticas

Foco em ciências
e tecnologia
Assimilação/abordagens
tecnológicas

Difusão de TCIs
Taxonomias tecnológicas setoriais
Primeira edição do
Manual de Oslo (OECD, 1992)
e pesquisas de inovação Abordagem de ciclo
correspondentes produto reverso

Serviços em Serviços em
maior parte Abordagens maior parte
similares a de inversão distintos de
bens bens

Abordagem baseada Estudos empíricos


em características Teorias locais
Lógica de serviço dominante Perspectiva IHP – intangibilidade,
Economia funcional (economia) heterogeneidade, inseparabilidade e
Economia da experiência possibilidade de perecer
(economia)

Nova Abordagens
síntese predominantemente
Inclui HSS e de demarcação
integração
inovação (não)

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Frequentemente inspirada em casos de estudo (Stahel, 1997; Pine e Gilmore, 1999; Davies,
de trabalhos de marketing e gerenciamento de 2004; Vargo e Lusch, 2006).
operações, bem como no novo desenvolvimento
de serviços, geralmente objetiva identificar a Usamos essas quatro perspectivas teóricas
atividade de inovação em que a assimilação ou para fornecer a estrutura desse documento e
o olhar tecnológico nada percebe. Enfatiza as sugerir como são – ou como podem ser tratados
diferentes formas que a inovação pode levar e a – os serviços públicos, utilizando as aborda-
organização distinta dos processos de inovação gens de Adis. O caso será criado pensando-se
nas indústrias de serviços. que isso não é apenas de interesse local para
pesquisadores em – ou profissionais de – ser-
A perspectiva de inversão (Gallouj, 2010) viços públicos, mas que também pode ajudar a
pode ser vista como a “vingança” do setor de aprofundar e enriquecer estudos de inovação
serviços. Em contraste com as contas que retra- e a análise de economias contemporâneas, de
tam as indústrias de serviços como setores em forma mais geral.
atraso, se é uma questão de ser como fabricação
de baixa tecnologia ou algo mais distintivo, a 2 SERVIÇOS PÚBLICOS E INOVAÇÃO
abordagem de inversão vê (algumas) indústrias TECNOLÓGICA: A PERSPECTIVA
de serviços como fontes de inovação em toda a ASSIMILACIONISTA
economia. Um certo papel pode ser desempe-
nhado por grandes empresas de serviços que Muito do trabalho pioneiro no campo de estudos
mobilizam seus fornecedores – por exemplo, no de inovação de serviço adotou a perspectiva
varejo e nas telecomunicações –, mas, muitas que rotulamos de tecnologista, industrialista
vezes, essa perspectiva enfatiza o papel ativo ou assimilacionista – de acordo com Gallouj
de certos serviços de negócios intensivos de (1998) e, também, Coombs e Miles (2000). Essa
conhecimento (Kibs – em inglês, knowledge perspectiva naturalmente usa as ferramentas
intensive business services) nas inovações de herdadas do campo da inovação industrial,
outros setores. Os serviços de consultoria, de- sem considerar a natureza especial do campo
sign, engenharia, tecnologia da informação (TI) de serviços. Assim sendo, em essência, a ino-
e pesquisa e desenvolvimento (P&D) podem vação é considerada em sua relação a sistemas
ser insumos importantes para a inovação entre técnicos de materiais (sua produção e difusão).
seus clientes. Por exemplo, quando Gershuny e Miles (1983)
analisaram, pela primeira vez, a transformação
Finalmente, a perspectiva integradora ou de das economias contemporâneas de serviço, há
síntese busca fornecer a mesma estrutura analítica uns trinta anos, praticamente o único foco era
tanto para bens quanto para produtos de serviços, o uso de novas tecnologias da informação nas
para indústrias de manufatura e serviços e para indústrias de serviço. Bem depois, essa abor-
ambas as formas de inovação tecnológicas e não dagem foi ampliada para sugerir que classes
tecnológicas. A partir dessa visão, podemos usar diferentes da indústria de serviços são confor-
os pontos de similaridade e contraste entre essas madas de forma distinta, através da aplicação
dicotomias para aprofundar nosso entendimento de diferentes tipos de tecnologia. Há aqueles
sobre os processos e as práticas de inovação. setores de serviço cujos produtos principais de
Isso é considerado de grande importância em um informação são revolucionados pela aplicação da
mundo em que os fabricantes estão supostamente novas TIs, bem como existem aqueles – como o
“fornecendo serviços” e as empresas de servi- setor de transporte – cujos produtos são trans-
ços, “produzindo”, em que importantes projetos formações físicas que apresentam aplicações de
econômicos e funções sociais envolvem com- tecnologias de motor e serviços humanos – a
binações de bens e serviços e daí por diante exemplo do setor da saúde. Estes dispõem de

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muitas tecnologias específicas, tais como dis- pessoais – são simplesmente uma questão de
positivos farmacêuticos e cirúrgicos que lidem contato pessoa a pessoa, sem aplicação ou
com complexidades biológicas (Miles, 1993). mediação de tecnologias de materiais. De fato,
a maioria dos produtos de serviço vendidos
A perspectiva de assimilação é amplamente nas sociedades industriais modernas envolve
dominante na literatura. A ideia de inovação que trabalhadores em serviços que usam artefatos
esta transmite refletiu-se nos indicadores de materiais que eram incomuns antes do século
inovação usados na primeira edição do Manual XX – automotivos, computadores, sistemas de
de Oslo (OECD, 1992; subseção 3.3). telecomunicações e dispositivos eletrônicos
especializados (caixas registradoras, balan-
Três variedades da perspectiva assimilacionista ças, amplificadores e outros). Os exemplos de
podem ser identificadas (figura 1). O primeiro Oslo – no capítulo 3 do manual – quase todos
grupo, bem mais prolífico e o mais heterogêneo, implicam a aplicação de hardware e software
reúne principalmente trabalhos empíricos focados novos – sendo as exceções apenas inovações
na análise da difusão de tecnologia exógena em centradas no aluguel de serviços (entrega em
serviços e as condições e consequências disso. casa e coleta de veículos alugados, bem como
Os outros dois agrupam estudos mais teóricos fornecimento de pontos de contato de geren-
– ainda muito poucos em números –, perten- ciamento para serviços terceirizados no local,
centes principalmente à tradição de economia em vez de remotos), ou aplicação de técnicas
evolucionária. Estes envolvem, primariamente, que, na prática, provavelmente envolvem apoio
o modelo de ciclo reverso de Barras (1986; de novas tecnologias – implantação de nova
1990) e, em segundo lugar, taxonomias setoriais reserva e de sistema de gestão de projetos é
que rastreiam modos distintos de inovação em mencionada. Assim sendo, enquanto, em prin-
várias indústrias de serviços. Vamos rever esses cípio, o Manual de Oslo não exclui inovação de
três conjuntos de estudos à luz da questão de produto não tecnológico – por exemplo, um
inovação nos serviços públicos. novo contrato de seguro ou um novo produto
financeiro, um novo campo de especialidade
2.1 Indicadores de inovação: uma tendência em consultoria –, ou inovação de processo não
tecnológica ainda prevalente tecnológico (metodologias e protocolos), as
formulações tendem a trabalhar contra a inclu-
A ideia de inovação associada à perspectiva são desses casos. Há uma orientação limitada
de assimilação está refletida nos indicadores fornecida nos questionários reais de pesquisas
de inovação sugeridos pela Organização para de inovação sucessivas em comunidades (CIS)
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico para ajudar aqueles que completam as pesquisas
(OCDE), através do Manual de Oslo – cuja com esses detalhes.
revisão mais recente é a de OECD (2005).
Essa revisão mais recente inclui definições e O Manual de Oslo admite (OECD, 2005, re-
questões sobre inovação organizacional e de visão 3) que a inovação de produto e processo
marketing, assim como inovações de produto pode ser difícil de ser diferenciada de atividades
e processo. O prefixo tecnológico foi retirado de serviço, mas há pouca atenção a outro pon-
de suas definições de inovação de produto e to – que as inovações ad hoc e customizadas
processo, embora os exemplos desses tipos são dominantes em alguns serviços (seção 3),
de inovação sejam principalmente baseados especialmente muitos Kibs, tais como serviços
em tecnologia, e aqueles que não envolvem de engenharia e consultoria. Falta ver como os
inovação em tecnologia como tal ainda parecem que respondem a pesquisas sobre inovação
altamente orientados em torno da tecnologia. É classificam esses produtos de serviço – são
claro que muito poucos serviços – principalmente vistos como significantemente diferentes

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ou produtos melhorados, ou simplesmente ubíqua (Gallouj, 2002a; Miles, 2005). Muito da
como mais exemplos da mesma classe ampla pesquisa sobre economia tende a tratar diferentes
do produto? gerações de tecnologia como essencialmente
similares, ou pelo menos diferentes em termos de
Como os estudos de pesquisa e desenvolvi- parâmetros hedônicos especificados facilmente.
mento tendem a não levar em conta a P&D que Para dados contextos institucionais, muito da
não tenha foco em ciências naturais e engenha- literatura é, portanto, dedicado à discussão da
ria – mesmo que a P&D de ciência social seja relação entre o uso de novas TIs e um número
explicitamente incluída pelo Manual de Frascati de variáveis econômicas fundamentais, tais
(Djellal et al., 2003; Miles, 2007). Assim sendo, como emprego, produtividade, habilidades e
as pesquisas de inovação tendem a negligenciar organização de tarefas, qualidade negociável e
a inovação de produto e processo não tecnoló- qualidade do produto do serviço etc. Enquanto
gico – quando não classificado como inovação isso, estudos sobre gestão dão mais atenção à
organizacional ou de marketing. Isso pode mudança geracional, observando basicamente
responder pelos níveis aparentemente baixos as características novas de gerações emer-
de inovações relatadas por muitos setores de gentes. Nesse caso, atenta-se mais a como as
serviços – de fato, pela maioria daqueles não variáveis econômicas podem ser reformuladas
engajados em inovação tecnológica. As exceções em diferentes gerações de tecnologia.
tendem a ser organizações de serviço baseadas
em tecnologia, tais como empresas de software A literatura sobre a introdução de novas
e P&D e serviços de engenharia. TIs em organizações públicas adequa-se
perfeitamente a esses modelos de inovação
2.2 Inovação em serviços e a difusão de de estrutura cruzada e variáveis econômicas.
tecnologias (de informação) A computação dos serviços administrativos
objetivou ganhos em produtividade e eficiência,
Quer no nível microeconômico, quer no nível através de sistemas poderosos de computadores
macroeconômico, as discussões sobre inovação centrais que processam grandes quantidades
em serviços há muito já foram imbuídas pela in- de dados. A administração pública foi usuária
trodução de novas tecnologias – principalmente pioneira desses sistemas usados para processar
com a introdução penetrante de novas TIs em grandes volumes de informações sobre, por
praticamente todas as indústrias de serviço, exemplo, aposentadorias e benefícios da segu-
nas últimas quatro décadas, e as mudanças na ridade social. Praticamente ao mesmo tempo,
organização de negócios associadas ao uso empresas de serviço financeiro – novamente
dessas tecnologias. O alto nível de percepção lidando com informações ligadas a muitas ca-
de novas TIs por setores de serviço foi notado racterísticas de muitos indivíduos – contratavam
por pesquisadores, como Roach (1987), e automação similar. Esses sistemas aceleraram
pela OECD (1993), que perceberam que os o processamento de casos e ajudaram a reduzir
setores de serviço investiram em mais desses custos ao padronizarem tarefas e alcançarem
equipamentos do que o esperado, dada sua economias de escala. Computadores posteriores
quota nas economias nacionais. e softwares associados permitiram redução de
custos e aumento da qualidade; e as economias
A difusão históriaca de TI em serviços é fre- de alcance foram habilitadas. À medida que as
quentemente descrita, de forma bem simplista, novas tecnologias de TIs tornaram-se cada
através de uma sucessão de gerações sobre- vez mais visíveis, no início da década de 1980,
postas de inovações; a primeira em computação uma grande preocupação foi expressada pelos
central, a segunda em computadores pessoais sindicatos e por outros: que o deslocamento de
e a terceira e posterior em TIs de rede, móvel e trabalho maciço e a desqualificação poderiam

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surgir. Muitos estudos analisam sua capacidade Vemos inovações sociais como “salas de
de recapacitar a força de trabalho – que aumenta vila eletrônicas” nesse contexto.
a variedade de tarefas realizadas – e melho-
rar a qualidade dos serviços administrativos 2.3 O modelo de ciclo reverso de produto:
para os usuários, principalmente em termos um vislumbre de inovação nos serviços
de velocidade, disponibilidade a distância e públicos
em horário fora do trabalho, e integração dos
serviços em lojas de conveniências. Existe, no A abordagem de ciclo reverso (Barras, 1986;
entanto, uma preocupação crescente de que 1990; Gallouj, 1998) é uma articulação específica
as novas TIs tenham permitido a automação dos “modelos de inovação”/gerações de novas
de muito mais empregos administrativos de contas de TICs esquematizadas anteriormente,
rotina e de processamento de símbolos, bem que merece atenção especial por pelo menos
como – junto com estratégias de gestão de dois motivos. Primeiro, representa a primeira
terceirização e esvaziamento organizacional tentativa de construir uma teoria da inovação
– tenham contribuído para a polarização da nas indústrias de serviço; e como tal, foi e
força de trabalho – na disparidade crescente continua a ser citada extensamente na litera-
entre salários altos e baixos e a redução em tura. As ideias básicas são bastante plausíveis
posições de nível médio (Autor, Levy e Murna- – senão sempre confirmadas em empirismos
me, 2003). Outros exemplos interessantes de subsequentes. Em segundo, a abordagem foi
inovações nos serviços públicos ligados a TIs desenvolvida na base da pesquisa empírica,
são aplicativos de nível de sistema, tais como envolvendo não apenas serviços de mercado,
tráfego inteligente e grades inteligentes. Uma mas também serviços públicos – principalmente
questão importante – que não é tratada no serviços locais do governo.
caso de serviços em geral, mas que é relevante
quando se trata da relação entre a introdução A abordagem de Barras (1996), na verdade,
de novas TIs e os serviços públicos – é o divi- não é realmente uma teoria geral da inovação
sor digital (Attour e Longhi, 2009): a ideia de nos setores de serviço, já que ele não considera
que a desvantagem social pode ser ampliada todos os tipos de inovações nessas indústrias
através de acesso diferencial às novas TIs – – seu relato tem pouco a dizer, por exemplo, a
principalmente serviços on-line – entre regiões, respeito de transporte ou inovações médicas.
classes sociais, gerações etc. Isso é importante É mais um relato da difusão da nova TIC de
no que concerne às missões específicas dos indústrias de manufatura a serviço – mas vai
serviços públicos, que apresentam as seguintes além da difusão, considerando os processos de
características. aprendizado associados subsequentes a isso. A
abordagem tradicional de ciclo de produto descreve
1) Podem estar preocupadas com o acesso uma sucessão de estágios no desenvolvimento
desigual a, por exemplo, serviços de go- de inovação (Abernathy e Utterback, 1978).
verno eletrônico – isso poderia até ser Colocando isso na forma mais rudimentar,
usado como argumento contra o rápido são caracterizados por um período em que a
deslocamento para a provisão on-line. inovação de produto é o principal foco até que
um desenho dominante esteja estabilizado.
2) Podem procurar compensar as divisões Então, há um período no qual a inovação dos
digitais através da educação (currículos processos se torna cada vez mais o foco principal,
escolares, incluindo-se cursos de uso de na medida em que a concorrência se afasta de
tecnologia da informação e comunicação fornecer o melhor tipo de produto para fornecer
– TIC) e instalações públicas (bibliotecas o produto de forma mais eficiente. No relato de
que oferecem acesso gratuito à internet). Barra, o ciclo de inovação de serviço é distinto.

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Suas duas primeiras fases envolvem princi- TIC, seu trabalho anterior incluiu exemplos de
palmente inovação de processo incremental e serviços públicos administrativos.
radical, e sua fase final é dominada pela inovação
de produto. Isso pode ser retratado como um A primeira onda de informatização (introdução
processo de aprendizado, em que a organização de computadores centrais) resultou na amplia-
de serviço se apresenta para entender melhor a ção de inovações de processo nas atividades
funcionalidade potencial das novas tecnologias administrativas desse tipo de organização de
que está usando. Assim sendo, torna-se capaz serviço público para aumentar a eficiência e a
de dominá-las e elaborar seus aplicativos es- velocidade e, principalmente, reduzir custos. Um
pecíficos próprios, inclusive novos produtos de exemplo é a informatização de registros pessoais
serviço e métodos de entrega. e salários nos serviços públicos e de venda. No
entanto, devemos notar que a mudança orga-
Devemos notar que esse relato de inovações nizacional – dos exércitos de empregados em
de processamento de informações administra- salas de datilografia, por exemplo – para enormes
tivas pode, plausivelmente, ser estendido além sistemas de computação com (primeiramente)
do setor de serviço. Todos os tipos de organi- muitas equipes de aporte de dados estava longe
zações podem encontrar novas habilidades de ser diferencial. Havia, frequentemente, alte-
administrativas para capacitar uma gama de ração nos locais físicos (centros de computação
inovações em outros processos de negócios. O ficaram distantes das matrizes), nos fluxos de
serviço de cliente e os processos de gestão da trabalho da organização, na criação de novos
cadeia de fornecimento são um exemplo óbvio, empregos (técnicos e programadores, assim
mas há casos que se aproximam da inovação como equipe de aporte de dados) e numerosas
de produto. Por exemplo, um editor de livros modificações, como são os casos do tipo de
de arte e educacionais descobriu que poderia papel usado, do equipamento de impressão e
oferecer novas coleções, como resultado da da forma como os resultados eram validados e
automação da correção de índices e outros comunicados. Grandes organizações de serviço
bancos de dados. público foram as primeiras usuárias desse tipo
de informatização.
Barras (1996) não observou apenas o aprendi-
zado sobre um conjunto especial de tecnologias. A segunda onda de informatização – envol-
Ele também notou a alteração no curso da mudan- vendo mini e microcomputadores, que poderiam
ça do computador central para o pessoal – e, de estar localizados mais prontamente perto dos
alguma forma, a rede de comunicação. Portanto, usuários – resultou em inovações de processo
descreveu as fases do ciclo reverso de produto mais radicais, que envolviam funções administra-
em relação a novas gerações da TIC, corres- tivas. O objetivo dessas inovações foi melhorar
pondendo às diferentes ondas de computação a eficiência e a qualidade do serviço. Exemplos
mencionadas no parágrafo anterior. A inovação disso incluem fornecer informações adminis-
inicial do processo administrativo é muito mais trativas on-line ou formulários administrativos,
uma questão de sistemas de computação cen- registro on-line para procedimentos de aquisição
tral, enquanto as últimas inovações de serviço on-line, gerenciamento informatizado de listas
cada vez mais envolvem redes de comunicação. de espera de habitações em órgãos municipais
Barras ilustrou seu relato com exemplos de ser- – mesmo que a comunicação com os cidadãos
viços de massa, cuja atividade se concentra no fosse feita por telefone ou por equipes que
processamento de informações, e, enquanto foram mais equipadas com PCs – e máquinas
seu trabalho mais recente enfatizou os serviços automáticas de bilhetes – em galerias, museus
financeiros como a vanguarda da revolução da ou outros serviços públicos.

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As ondas posteriores de informatização, no 1) Algumas dessas inovações estabelecem
caso dos serviços públicos, usaram naturalmente interações mais fortes entre administra-
as melhorias sucessivas nos PCs; porém, o mais ções e usuários, e dão a estes últimos
importante é seu uso de redes para acesso a um papel mais ativo na criação desses
e-mails e informações e para serviços interativos. serviços – de acordo com o espírito da
Aplicativos para celulares e smartphones surgi- web 2.0. Essas inovações refletem evo-
ram relativamente com atraso – talvez porque lução do e-governo focada na desma-
a falta de padrões dominantes aqui dificulte os terialização e na eficiência para uma
serviços públicos para inovar, sem aparentemente e-governança tão mais rica, que busque
mostrar favoritismo a um ou outro contendor na “alterar a natureza da relação, iniciando
guerra de padrões. uma nova forma de parceria mais inte-
rativa com o cidadão-usuário” (Suire,
Barras considerou a entrega de serviços 2007, p. 164, tradução nossa).
públicos on-line para representar inovações de
produto – o que corresponde ao entendimento 2) Nessa terceira fase, o modelo de Barras
do Manual de Oslo. Exemplos disso incluem concentra-se principalmente nos e-servi-
movimentos avançados para o e-governo, em ços fornecidos ao cliente ou usuário final
que o acesso a muitos procedimentos adminis- (no caso de serviços públicos, G2C). Po-
trativos se torna disponível on-line, e há ainda demos facilmente ampliar o modelo para
mais movimentos para a e-democracia. Essa incluir outros recipientes: negócios (G2B)
forma de e-governo objetiva essencialmente – de fato, muitos serviços públicos são
“desmaterializar os procedimentos administra- direcionados à indústria; especialmente,
tivos tradicionais” (Suire, 2007, p. 164, tradução apoio a várias atividades de inovação – e
nossa). Por exemplo, na França, o Escritório outros órgãos do governo (G2G) – que
de Bem-Estar da Família (CAF) tem um site na podem incluir relações horizontais de
internet no qual os usuários podem declarar serviço (com outras agências públicas) e
sua renda, ter acesso a formulários e rastrear verticais (com níveis administrativos mais
a posição de seus pagamentos e reembolsos. altos ou mais baixos).
O Sistema Nacional Francês de Seguro de
Saúde (CNAM) também tem uma página na Parece paradoxal que a abordagem de ciclo
internet, na qual os usuários podem acessar as reverso de produto de Barras destaque um
informações e os formulários, bem como ras- comportamento específico de organizações
trear reembolsos on-line (Bacache-Beauvallet, de serviço em termos de inovação – estas têm
Bounie e François, 2011). Arduini et al. (2010) um ciclo reverso –, mas que aqui nós colocamos
examinam o desenvolvimento e os formulários como abordagem assimilacionista –, e não como
de e-governo nas cidades italianas, com base abordagem diferenciadora, como fizeram Coombs
em número de variáveis contextuais. No Reino e Miles (2000). A explicação é que, embora o
Unido, o governo fornece facilidades para os ciclo seja reverso, Barras descreve uma dinâmica
cidadãos criarem petições, com a ideia de que de inovação exclusivamente tecnológica – por
tópicos que reúnem bastante apoio podem ser exemplo, serviços públicos fornecem e-governo
levados a debate parlamentar. e entrega on-line de informações e formulários.
Há pouca atenção a novos serviços não tecno-
Esses desenvolvimentos – a maioria, recentes lógicos que podem ser criados, tais como novas
– no e-governo fornecem novas perspectivas políticas sociais, como direitos a aposentadoria,
nessa terceira fase do ciclo que enriquecem e direitos de cidadãos, procedimentos de ouvidoria
fortalecem o modelo inicial de Barras, descritos e coisas afins. Realmente, há surpreendentes
a seguir. novos serviços capacitados por tecnologia que

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também podem ser criados, mas que requerem de produção de serviço é passível de ser contígua
considerável desenvolvimento de modelos de ao consumo do serviço (Gallouj, 1998).
negócios adequados e apoio social – como é
o caso de novos serviços que apoiam novos Finalmente, mesmo se o relato de Barras
sistemas para monitorar a saúde de pessoas (1990) fosse preciso, ainda assim seria in-
vulneráveis. Outra evidência da tendência completo, no sentido de que se concentra
tecnologista da estrutura de Barras é que no- na inovação tecnológica, e “uma teoria de
vos produtos financeiros não são dados como inovação em serviços” deve incluir inovações
exemplos de inovação de produto em bancos. não tecnológicas de serviço. Além disso, sua
Os únicos exemplos dados (e-banking) são orientação tecnológica é, em si, limitada, visto
baseados em tecnologia. que se concentra exclusivamente em inovação
baseada em TIs. Mas os serviços em geral –
Privilegiar uma inovação tecnológica não é a especialmente os serviços públicos – podem e
única limitação dessa abordagem, e não apenas usam outros tipos de tecnologias; por exemplo,
quando se aplica a serviços públicos. Uchupa- sistemas físicos, químicos ou biotecnológicos
lanan (2000) estudou uma gama de inovações (culinária, refrigeração, transporte, manuseio de
de TIs nos bancos tailandeses, em profundidade, bens e hospedagem de ferramentas usadas nos
e concluiu que a inovação de TIC em serviços serviços públicos, tais como saúde e serviços,
pode seguir vários caminhos, com o padrão de incluindo-se medicamentos, equipamentos
ciclo reverso de produto sendo apenas um caso cirúrgicos e dentários, próteses e outros). Até
bem incomum. Isso é relevante para os serviços mesmo em termos de inovação baseada em TIs,
públicos, em que as inovações podem ser acio- há limitações. A abordagem de Barras descreve
nadas por muitos fatores. Por exemplo, muito da bem a experiência de organizações de serviços
difusão da prática do e-governo pelo mundo tem em determinado período histórico, do início da
mais a ver com criadores de políticas em busca adoção e do aprendizado do uso das novas TIs.
de imitar e até mesmo superar inovações de Vinte e cinco anos depois, gerações posterio-
serviço realizadas em outras partes do que com res de inovação em TIs podem colocar outros
administradores descobrindo novas coisas que padrões no cenário. Igualmente, enquanto as
tenham relação com seus sistemas de computa- organizações de serviço assimilaram com êxito
ção. A inovação tecnológica do serviço público novas TIs e seguiram para inovações de produtos
pode até ser questão de pressão dos usuários capacitadas pela tecnologia, seria esperado
– por exemplo, pacientes que usam a internet que estas continuassem em um curso de ciclo
em busca de informações sobre tratamentos e reverso de produto – ou chegar a organizações
depois pressionam seus médicos para avaliar e assemelhadas em outros setores, conforman-
fornecer esses tratamentos. Outro caso que pode do-se de maneira mais próxima à abordagem
ser familiar aos acadêmicos é a introdução de estabelecida de ciclo de produto.
software antiplágio, em resposta a estudantes
que “pegam emprestado” materiais de ensaios 2.4 Padrões setoriais da inovação tecnológica
de fontes na internet.
Há muito é evidente que os padrões de inovação
Muito do poder da abordagem do ciclo reverso variam através dos setores econômicos. Pavitt
de produto vem de sua confiança na distinção (1984) introduziu uma estrutura de classificação
de produto/processo. Isso é problemático com altamente influente, na qual ele situou vários
serviços, conforme menciona o Manual de Oslo. As setores em diversas categorias, em termos de
duas dimensões são frequentemente inseparáveis inovação tecnológica. Em sua formulação original,
porque o produto é definido como um ato – e todos os setores de serviço foram vistos como
pelo menos a parte administrativa do processo fazendo parte de uma categoria “orientada para

68
o fornecedor.”7 O tratamento de setores de negócios e na qual o processo inovador tende
serviço de Pavitt reflete a visão prevalente até a ser “dominado pelo usuário”.
1990; essa inovação pode ser identificada com
inovações tecnológicas, que fluem principalmente Enquanto o relato de Soete e Miozzo (1990)
de indústrias de manufatura. foi amplamente impressionista, alguns estudos
recentes usaram dados de pesquisa sobre ino-
Soete e Miozzo (1990) aceitaram o foco de vação para desenvolver e explorar sistemas de
Pavitt (1984) sobre inovação tecnológica. Mas classificação bem similares. Assim, um estudo
eles analisaram sua taxonomia de inovação, alemão de Hipp e Grupp (2005) fez a diferen-
demonstrando que – com uma pequena adap- ciação entre quatro padrões (o intensivo de
tação – as categorias de Pavitt poderiam ser conhecimento, o intensivo de rede, o intensivo
aplicadas para diferenciação em indústrias de de escala e o intensivo de inovação externa).
serviços. Isso implicou que, mesmo se muitos Esses são bem similares às categorias de Soete
setores de serviços ainda fossem orientados e Miozzo (1990) e Pavitt (1984), mas como
para o fornecedor, isso não ocorreria com to- trabalham com dados de nível de empresa,
dos. De fato, a gama de práticas inovadoras nos esses autores podem estabelecer outro ponto
negócios de serviços é tão ampla quanto a vista importante. Além de confirmar a diversidade
na manufatura. dos tipos de inovações entre serviços, seus
resultados alertam sobre identificar setores
Soete e Miozzo (1990) veem muitos setores de serviço com padrões de inovação de ser-
de serviços como sendo amplamente dominados viço. Certamente, os padrões e os setores da
pelo fornecedor, mencionando serviços pessoais indústria de serviços estão relacionados – por
(alimentos e bebidas, negócios de consertos, exemplo, o padrão intensivo de conhecimento
salões de beleza etc.), juntamente com o co- foi particularmente comum em Kibs técnicos,
mércio varejista. Em contraste, alguns serviços o padrão baseado em rede, nos bancos, e o
pertencem a setores intensivos de produção padrão dominado pelo fornecedor, em outros
e intensivos de escala, cujas tarefas adminis- serviços financeiros. Mas todos os setores
trativas em larga escala frequentemente são apresentaram vários padrões. Empresas que,
receptivas a alguma automação pela aplicação de maneira nominal, pertencem ao mesmo
da nova TIs setores de rede, e também são de setor podem, assim, ter padrões de inovações
larga escala. Alguns dependem de redes físicas bem diferentes, ponto este omitido em muitos
extensas – por exemplo, transporte e serviços estudos de inovação nos serviços.
de viagem, comércio atacadista e distribuição
–; outros necessitam de redes de informática, Como em praticamente todos os estudos
como é o caso de bancos, seguros, transmis- de pesquisas sobre inovação, o estudo de Hipp
são e telecomunicações. Tais serviços são e Grupp (2005) somente focalizou serviços do
importantes para conformar redes de TI e setor privado. Em sua análise mais impressionista,
desempenham um papel principal em definir e Soete e Miozzo (1990) consideraram serviços
especificar inovações, em vez de serem usuários públicos (educação, saúde e administração). A
passivos. Outra categoria é a de fornecedores visão deles foi que isso está na categoria domada
de tecnologia especializada e setores baseados pelo fornecedor, embora haja pouca evidência
em ciência, tais como softwares e serviços de reunida para apoiar esse relato. Certamente, todos
negócios especializados, cuja principal fonte de esses setores que consomem grandes volumes
tecnologia é a própria atividade inovadora dos de tecnologia de fontes externas aplicam TI

7. Notadamente, o trabalho empírico na qual sua estrutura foi construída deriva de banco de dados de inovações que
não buscaram cobrir setores de serviço.

69
extensamente, enquanto a saúde, em especial, usa ricos. Dessa forma, é implausível que os serviços
muitas inovações especializadas de manufatura públicos possam ser vistos prontamente como
(farmacêutica, equipamentos cirúrgicos e afins). simplesmente seguindo padrões orientados ao
Mas estes também são serviços com similaridade fornecedor ou de inovações externas. Ainda
considerável a grandes organizações de serviço é necessário avaliar se precisamos introduzir
de rede no setor privado. Há analogias óbvias novos padrões no sistema de classificação
entre cirurgias, hospitais, escolas, universidades, ou se podemos encaixar os serviços públicos
emprego e centros de previdência social e afins, mais ou menos adequadamente nas categorias
e as ramificações de bancos, supermercados e mencionadas anteriormente.
outras instituições, bem como entre as grandes
instalações de serviço administrativo na admi- De fato, pode não ser apenas que setores sejam
nistração pública e as do serviço financeiro. heterogêneos internamente. Diferentes padrões
Centros de computação do governo foram, de e trajetórias de inovação podem coexistir e in-
fato, usuários iniciais de computadores centrais teragir nas mesmas organizações – constata-se
e redes de dados. isso, por exemplo, em Gallou (2002a). Há muitos
exemplos da hibridização de logística e trajetórias
Há também dessemelhanças óbvias entre de processamento de materiais e de logística e
muitos desses grandes serviços públicos e seus trajetórias de processamento de informações
equivalentes no setor privado. Diferentemente em hospitais. O que se segue pode ser fornecido
de bancos e serviços de varejo, por exemplo, como exemplo de tecnologias médicas híbridas
os serviços de saúde e educação possuem (tecnologias que combinam TIs com tecnologias
forças de trabalho bastante intensivas em mais tradicionais de processamento de materiais):
conhecimento – pelo menos determinadas por diagnósticos com o auxílio da computação, su-
grandes cotas de alunos de graduação entre pervisão médica, equipamentos de diagnóstico
seus empregados. A administração pública automatizado e videocirurgia. Por exemplo,
aparece com uma cota geralmente ampla de podem haver padrões diferentes em trajetórias
trabalhadores em informação com educação tecnológicas de materiais ou processamento de
secundária, mas sem diplomas universitários.8 informações e aqueles mais ligados a serviços
Fica evidente que diferentes serviços públicos e trajetórias relacionais (não tecnológicas). Por
possuem bases de conhecimento distintas exemplo, uma inovação importante nos serviços
e se relacionam aos cidadãos de forma bem de saúde mental, no Reino Unido, foi a ampla
diferente – compare a polícia, as escolas, os introdução da terapia cognitivo-comportamen-
hospitais e os serviços de impostos, por exemplo. tal, ora em conjunto com medicamentos, ora
Espera-se, portanto, que os serviços públicos de forma independente. Essa terapia se refere
variem de um para outro – e com o tempo. Mas amplamente a usar novas abordagens que es-
muitos serviços públicos de nível nacional são timulam o cliente a analisar e reconsiderar seus
passíveis de ser similares a setores de escala e padrões de pensamento e aplicar estratégias
rede intensivos, em vários aspectos. Podemos cognitivas diferentes para enfrentar os proble-
também esperar que alguns serviços tenham mas em suas vidas. Pode ser vista como prover
muito em comum com o padrão intensivo de a equipe de serviço de saúde com novas rotinas
conhecimento, como vemos os departamentos e instruções que possam usar para estimular
de P&D e programas, laboratórios e esforços de novas rotinas em seus clientes. Os efeitos são
serviço de projeto, em muitos setores do serviço avaliados como comparáveis ou superiores aos
público – pelo menos, em países maiores e mais antidepressivos. Além disso, os procedimentos

8. Miles (2008) inclui dados em credenciais educacionais como parte de uma série de contrastes estatísticos nos
setores de serviços.

70
estão sendo usados em escolas e serviços de lho e redução da necessidade de habilidades
emprego, assim como nos serviços de saúde profissionais – e padronizando seus produtos
(Platts e Williamson, 2000; Winspear e Robert- para obter economias de escala. Isso teve eco
son, 2005). A terapia cognitiva comportamental nos estudos de Barras (1990), nos quais ele
(CBT) é frequentemente usada em conjunto com mencionou que a nova TIC estava promovendo
medicamentos, ou entregue através de mídia uma revolução industrial nos setores de serviço
de TI. Esse é apenas um exemplo. A ideia é que – porém, Levitt (1976), falando de tecnologias
várias trajetórias tecnológicas e não tecnológicas “duras”, “suaves” e “híbridas”, via uma gama mais
podem coexistir separadamente ou de forma ampla de reorganização tecnológica e procedi-
híbrida, em organizações privadas ou de serviço mentos em serviços, incluindo-se a organização
público (Djellal e Gallouj, 2005; 2008). de produtos-padrão nas indústrias de fast food
e varejo, por exemplo. Por sua vez, análises de
2.5 Perspectiva assimilacionista e formas de industrialização flexíveis, pós-fordia-
industrialização (ou racionalização nas, ainda estavam nascendo na época, e agora
industrial) dos serviços apontaríamos para a “customização em massa”
e a “especialização flexível” em atividades, tais
A perspectiva assimilacionista pode ser inter- como fast food – na qual uma enorme varieda-
pretada como uma tentativa de ver os serviços de de produtos alimentícios pode ser reunida
como muito pouco diferentes dos bens, e, assim, de um conjunto de componentes modulares
é fácil de ser tratada nas estruturas e métricas padrão (Gadrey, 1996; Jiao, Ma e Tseng, 2003;
de estudos de inovação estabelecidas. Esse Sundbo, 2002).
esforço intelectual encontra paralelo na gestão
industrial (serviço). Tal gestão se concentra em Desse ponto de vista, a perspectiva assimila-
tornar os produtos de serviço mais como produtos cionista não está somente presente na literatura,
“normais” – frequentemente, apenas chamados mas também está sendo aplicada em muitas
de “produtos; por isso, ouvimos a “produtização organizações de serviços, inclusive nos serviços
de serviços”. Isso significa padronização de ser- públicos. A hipótese é que o trabalho é feito de
viços, e, essencialmente, o mesmo produto de forma melhor no contexto de burocracias for-
serviço pode ser duplicado muitas vezes com temente hierárquicas e segmentadas, regidas
variações mínimas. Os produtos tornam-se menos por regras que não são desconhecidas pelos
indistintos; a interação entre o fornecedor de serviços públicos. Essa forma de racionalização,
serviço e o cliente – ou seja, a relação de servi- que reduz a diversidade – e a inovação ad hoc
ço – reduz-se ao nível mínimo (Levitt, 1976). No e customizada –, é considerada como fonte de
entanto, devemos notar que, nas novas visões eficiência – por isso, vemos cirurgiões sendo
de produtização – por exemplo, em Valminen estimulados a se especializarem em realizar uma
(2011) e Valminen e Toivonen (2011) –, con- operação específica, com elevada divisão de mão
quanto a finalidade ainda seja tornar o serviço de obra. Mas também pode ser defendida como
menos indistinto, em vez de a interação entre base para melhor equidade, já que implica que
cliente e fornecedor de serviço ser minimizada, serviços públicos idênticos estão sendo fornecidos
esta é estimulada, principalmente graças às TIs. para todos, por toda parte, em uma sociedade.

Uma das primeiras discussões que tem con- Devemos notar também que o modelo de
tribuído para a literatura de inovação de serviço industrialização de serviços públicos está bem
foi criada por Levitt (1976), que argumentou mais alinhado com o surgimento do pensamento
que as organizações de serviços estavam se de new public management nas décadas recen-
expandindo em escala ao adotar processos tes, que argumentou que os serviços públicos
industriais – tais como alta divisão de traba- provavelmente inovariam mais e se tornariam

71
eficientes se adotassem estruturas organizacio- de especificações funcionais e técnicas etc. Em
nais como as que são prevalentes nos serviços alguns casos, pode haver reversão completa
privados – incluindo-se mais uso de marketing da relação de poder, o que gera trajetórias de
interno, terceirização de serviços, pressões inovação que não são mais “dominadas pelo
competitivas, índices de medição de alvos e fornecedor”, mas “dominadas pelo consumidor
desempenho etc. Ao mesmo tempo, surgiu a ou usuário” (seção 4). Devemos notar que esse
crítica a essa abordagem como deixando de relato se aplica aos serviços públicos gerais.
levar em conta questões essenciais do design Há também atividades especializadas de ser-
e da qualidade dos serviços – para uma crítica viço público que realizam P&D e podem muito
abrangente, consulte-se Seddon (2008). A bem criar descobertas científicas e inovações
preocupação é que os serviços industrializados tecnológicas (laboratórios de pesquisa, grupos
possam arriscar perder muito da relação de de pesquisa em universidades, laboratórios de
serviço que pode impactar o crescimento e o serviço de saúde etc.). Essas atividades são
desenvolvimento por parte do cliente do serviço; fundamentalmente autônomas, e alguns aspec-
preocupação essa que será familiar a muitos na tos de modelos de inovação industrial podem
educação superior. ser aplicados a estas – e, com a privatização
de muitos laboratórios do governo em vários
2.6 Um afrouxamento parcial na perspectiva países (OECD, 2011), isso pode ser efetuado
assimilacionista? Autonomização não apenas em análise acadêmica, mas também
e endogenização na prática.

A perspectiva assimilacionista tem se afrouxado O segundo afrouxamento da perspectiva assimi-


de várias formas, principalmente em pesquisas lacionista podemos chamar de endogenização da
mais recentes. Esse afrouxamento tem duas inovação de TI, que, discutivelmente, tem o maior
formas principais, cada uma das quais implica efeito nas indústrias de serviços em geral e nos
mudança de perspectiva que está longe de serviços públicos em particular. A introdução da
ver os setores de serviços como indústrias li- TI em todos os níveis de organizações de serviço
deradas por fornecedores de baixa tecnologia, (de administração e escritório principal) ajuda a
mantendo a visão de que estes podem ser fun- mudar a natureza do produto. Serviços e inova-
damentalmente bem descritos pelo paradigma ções em serviços aparecem cada vez mais como
da inovação industrial. categorias híbridas, que combinam TI tangível e
intangível e engenharia organizacional – ou seja,
Podemos rotular o primeiro afrouxamento design e formas de desenvolvimento organiza-
como autonomização, na medida em que essas cional (Djellal et al., 2003). A endogenização
organizações de serviços são menos prováveis da TI leva a novas formas de interatividade e
de serem vistas como subordinadas à inovação novos espaços (proximidade virtual nacional ou
industrial. Algumas organizações de serviços – internacional etc.).
tanto serviços públicos quanto privados – não
são mais vistas como engessadas na adoção A perspectiva assimilacionista permite diver-
passiva de tecnologias produzidas em outros sidade entre os serviços e pode perceber as ten-
locais. Em certos casos, essas organizações dências na inovação de serviços que demonstram
podem produzir algumas dessas técnicas; porém, não apenas a industrialização, mas também, pelo
mais importante, elas podem, algumas vezes, menos, a inovação parcial da autonomização e
reverter a relação de poder, exercendo uma endogenização da TI nas indústrias de serviço.
influência decisiva nos fornecedores industriais Porém, outros autores enfatizam a distinção entre
de equipamentos e, eficientemente, indicando as os serviços e o que chamamos de perspectiva
trajetórias tecnológicas – através da imposição de diferenciação, que ainda está ativa – suas

72
implicações nos serviços públicos serão avaliadas 3.1 As especificidades dos serviços e seu
na próxima seção. impacto na inovação
3 DIFERENCIAÇÃO: AS ESPECIFICIDADES Numerosas características devem supostamente
DA INOVAÇÃO EM SERVIÇOS diferenciar atividades de serviço e produtos
daquelas vistas como descrevendo manufatura
A segunda perspectiva analítica tem vários ró- e bens – Miles (1993) expôs uma lista extensa
tulos na literatura: perspectiva direcionada ao destas, mesmo assim deixou de usar o novo termo
serviço ou diferenciação (Gallouj e Weinstein, popular na atualidade de coprodução. Intangibili-
1997), perspectiva de demarcação (Coombs e dade e interatividade são as duas características
Miles, 2000) ou perspectiva de distinção (Salter técnicas intrínsecas geralmente designadas a
e Tether, 2006). Apesar da diversidade de rótulos, produtos de serviço como as diferenciando de
os autores compartilham ideias similares sobre bens. Estas fornecem uma heurística útil para
essa perspectiva. É vista como concentrada nas analisar de forma dedutiva os impactos das
especificidades da inovação de serviço (sua natu- características das especificidades de serviço
reza, sua organização, seus determinantes e seus na inovação.
regimes de propriedade), em que a ideia é que há
formas de inovações que são negligenciadas e até A intangibilidade dos serviços foi notada por
mesmo escondidas, e que podem ser identificadas Adam Smith em A Riqueza das Nações (Smith,
através de foco nas atividades de serviço. Muito 1776). Muitos serviços não podem ser armazena-
deste trabalho assume a forma de explicação das dos, por isso são consumidos no momento e no
especificidades dos serviços e de levar em conta local de produção (coterminalidade e colocação).
suas consequências para a inovação e a medição O produto-serviço não é um artefato tangível,
da inovação. Outros estudos são mais indutivos, mas uma mudança de estado (Hill, 1977; Ga-
representando esforços para avaliar casos reais drey, 1992). Essas características geralmente
de inovação de serviços. Devemos notar que a empanam a distinção tradicional entre as inova-
literatura sobre ciência política, que frequen- ções de produto, de processo e organizacional.
temente é negligenciada pela economia e pela Também chamam nossa atenção as formas de
ciência da administração, tem contribuído para inovações de produtos intangíveis que não estão
essa perspectiva de diferenciação, tratando tanto embutidos em componentes técnicos. A maioria
da natureza da inovação quanto de seus modos das “inovações ad hoc” (Gadrey e Gallouj, 1998;
de organização e implantação. Apenas algumas Gallouj e Weinstein, 1997), que vai bem além da
dessas referências estão em Moore (1995), Be- customização, toma essa forma. Igualmente, a
nington e Moore (2011), Osborne (2010), Hartley intangibilidade pode ser vista como algo a ser
(2005) e Sørensen e Torfing (2012). Além das superado pelo fornecedor de serviço, levando as
tipologias baseadas empiricamente, a perspectiva “inovações de formalização” destinadas a tornar
de demarcação também fornece mais contribui- o produto mais produtivo, mais comprovável e
ções conceituais, que podem ser chamadas de mais transportable. Dessa forma, acrescentam-se
“teorias locais” de inovação em serviços (Gallouj, elementos tangíveis ao serviço – tais como car-
2002a), na medida em que seu objetivo é identi- tões de fidelidade e novas plataformas de mídia.
ficar comportamentos inovadores específicos de Também é difícil proteger inovações intangíveis
setor, sem pretender generalizá-los ao conjunto usando mecanismos de direito de propriedade
total de atividades de serviço. Essas teorias locais, intelectual (IPR – em inglês, intellectual property
que não vamos discutir aqui, são desenvolvidas, rights), como patentes, e pelo menos alguns
por exemplo, no campo do varejo – por exemplo, tipos de inovações de serviço são facilmente
a “teoria da sanfona “(Hollander, 1966) e a “teoria copiados. Finalmente, a intangibilidade pode
da roda do varejo” (McNair, 1958). dificultar a avaliação do impacto econômico da

73
inovação, porque é difícil avaliar o impacto de A segunda característica (interatividade) sig-
resultado difuso, cujas fronteiras nem sempre nifica que o consumidor, o cliente ou o usuário
são bem definidas. estão envolvidos, de uma forma ou de outra, na
produção do serviço. Isso provavelmente afeta
Um desenvolvimento que ajuda na literatura a inovação nos serviços. Assim, a coprodução,
de pesquisa de serviços, em anos recentes, tem como é agora amplamente conhecida, promove
sido a ênfase na diferença entre o serviço admi- formas de inovação customizada e ad hoc. Implica
nistrativo e o corpo de executivos. O corpo de mais uma organização interativa da inovação do
executivos – ou estágio de frente, no trabalho que uma organização linear. Isso cria questões
de Glushko e Tabas (2009) – é o ponto em que de propriedade do produto de trabalho coletivo
os trabalhadores de serviços e clientes intera- e pode ocasionar problemas para a capacidade
gem e coproduzem o serviço. É o ponto em que de reprodução de inovações – ou até mesmo o
o processo de serviço e o produto são, muitas acúmulo de conhecimento gerado no curso do
vezes, difíceis de desembaraçar. O back office/ processo de inovação.
back-stage é menos visível para o usuário, como
está implícito na terminologia teatral. É onde os Essas duas características – e, consequen-
vestidos são vestidos, os atores estão prepara- temente, a discussão de possíveis impactos na
dos. Mas há um back-stage muito mais extenso, inovação – se aplicam aos serviços públicos, assim
incluindo-se, por exemplo, o estúdio de ensaio, como aos privados. De fato, o próprio Adam Smith
o roteiro e o trabalho de design de palco. Os mencionou servidores do Estado como exemplos
processos envolvidos aqui não são geralmente de sua análise das especificidades dos serviços.
coterminais e colocados com o desempenho e seu No entanto, os serviços públicos também são
consumo. Igualmente, nos serviços públicos, os “públicos”, o que pode levar a características
professores preparam suas lições e seu material específicas que têm impactos na inovação. Uma
de apresentação; o pessoal de laboratório, nos “diferenciação dupla” pode ser empregada – além
hospitais, realiza exames médicos e os médicos da diferenciação dos serviços vis-à-vis com a
discutem opções de tratamento; e assistentes inovação industrial, os serviços públicos são di-
sociais fazem reuniões sobre casos e coisas do ferenciados vis-à-vis a inovação de serviços de
gênero. Além disso, há o serviço administrativo, mercado. Três características são frequentemente
no qual processos bastante universais de gestão citadas nesse contexto, todas estas tendo sido
de equipe e folha de pagamento, organização de mencionadas antes.
cadeias de suprimento e cronograma de atividades
de serviço, mantendo registros de clientes etc., Em primeiro lugar, estudos de inovação têm
são gerenciados. Glushko e Tabas (2009) discu- visto a inovação basicamente como estimulada
tem como a nova TI pode ser usada para criar pela competição entre empresas: Por que os
novos elos entre clientes e atividades que eram serviços públicos devem inovar sem esse es-
costumeiramente da administração – um exemplo tímulo? Descobertas científicas podem surgir
sendo a capacidade de rastrear o progresso de da pesquisa no setor público, mas é preciso
pacotes sendo manuseados através de sistema de a iniciativa empresarial para transformar as
transporte de fretes. Os serviços públicos podem, descobertas e as invenções em inovações que
similarmente, fornecer a seus clientes inteligência enfrentem o mercado. A nova gestão pública é,
aprimorada sobre a situação de seu caso nos sis- em parte, justificada como aporte de concorrên-
temas administrativos, e outras inovações podem cia e quasi-mercados para os serviços públicos
criar uma interação aprimorada entre clientes e e os arranjos de terceirização, e as PPPs de
elementos do serviço público, os quais estavam vários tipos são vistas como aportando rigor
previamente invisíveis e inacessíveis. de negócios à produção e à entrega de serviço.

74
Evidências sobre a relação entre inovação inovações de grandes serviços públicos não são
dos serviços públicos e privados são mistas efetivamente difundidas nessas organizações
(Halvorsen et al., 2005), com pelo menos um (Greenhalgh et al., 2005).
estudo encontrando taxas mais altas de ado-
ção de inovações-chave em serviços de saúde Em segundo lugar, está o sistema político, e
pública e educação do que em comparadores não os interessados, que mantém controle dos
privados (Earl, 2002). Mas o conhecimento serviços públicos. Assim, os problemas inerentes
recebido é que a natureza não comercial e não de relações de agências são particularmente
competitiva dos serviços públicos dificulta sua mais graves nos serviços públicos que nos
inovação. Organizações burocráticas e seus ser- serviços de mercado (Dixit, 2002): as oportu-
vidores civis são considerados como não tendo nidades para controle – pelos donos finais, que
incentivos para inovar, porque estes funcionam são cidadãos – e os incentivos para melhoria do
em ambientes protegidos ou monopolizadores. desempenho e inovar são consideravelmente
De fato, as organizações públicas são consi- reduzidos. Muita mudança nos serviços públicos
deradas como tendo grande aversão ao risco resulta de reorganizações impostas por motivos
e como sendo relutantes a experimentar ou se ideológicos ou por reações apressadas ao ímpeto
arriscar a falhar – mesmo que o aprender não da mídia, embora não devamos ignorar a exis-
seja obtido com alguma falha. A preocupação tência de esforços baseados em evidências para
com a eficiência nos serviços públicos é fonte aprender de outros sistemas políticos de outros
de inovação com alvo em obter racionalização, locais – por exemplo, a difusão de sistemas de
mas, conforme notado em alguns estudos (Potts, ouvidoria, conforme Newmark (2002). Assim
2009; Koch et al., 2005), também é uma barreira como as novas políticas dos mestres políticos,
a outras formas de inovação. não é desconhecido que inovações de cima para
baixo sejam impostas pela direção – sem um
Algumas visões críticas dos gerentes do processo completo de testagem com a equipe
setor público os veem como tendo objetivos de serviços e os usuários finais. Um exemplo
que nada fazem para estimular a eficiência e a recente é a incapacidade de realizar grandes
inovação. Por exemplo, a principal preocupação componentes da maior iniciativa de TI do mundo,
pode ser a extensão do alcance de seus poderes, o sistema de TI do Sistema Nacional de Saúde
aumentando o número de pessoas a seu cargo, (NHS), após grandes gastos e anos de queixas
aumentando seus orçamentos e capacidade de de falha extensiva em avaliar os requisitos dos
gastos e focalizando os (novos) resultados mais usuários e ouvir corretamente as visualizações
visíveis e mais espetaculares à custa de mais dos usuários.
úteis, mas menos visíveis (Lindsay, 1976). Tais
casos não podem ser negados, mas deve-se Em terceiro lugar, os princípios dos serviços
notar que, em contraste, muitos trabalhadores públicos (igualdade, justiça e continuidade) são
profissionais entrarão no serviço público para passíveis de afetar a inovação. Os gerentes de
ajudar a enfrentar os problemas sociais em vez serviços públicos são obrigados a aderir a proce-
de garantir empregos de prestígio e pensões dimentos rígidos, que salvaguardam os princípios
confortáveis. Eles são susceptíveis de serem de igualdade entre cidadãos – em termos de
motivados a usar seus conhecimentos para localização de infraestrutura, recrutamento etc.
encontrar melhores maneiras de fazer as coi- –, e com frequência têm liberdade limitada para
sas. As burocracias podem limitar seu alcance substituir recursos (Knox Lovell, 2002) e recursos
para a inovação. Igualmente provável, muitas limitados para gastar na construção ou aquisição
inovações de grandes serviços públicos não de equipamentos. Relativamente à natureza do
são efetivamente difundidas nessas organiza- produto, conforme revela Fox (1999), os gerentes
ções. Provavelmente, de igual modo, muitas de serviços públicos não têm controle sobre o

75
conjunto de serviços ofertados, ao contrário das prováveis de aparecer. Estes se concentra-
contrapartes do setor privado. Eles possuem ram, por exemplo, sobre Kibs e em banco e
liberdade limitada para influenciar a natureza do seguros – que também foram setores em que
produto: por exemplo, não podem, por iniciativa o entendimento precoce da nova TI foi apa-
própria, parar de fornecer um serviço ou oferecer rente. Além disso, devido à natureza de sua
outro diferente. atividade (processamento de conhecimento),
os Kibs – principalmente consultoria – podem
Os princípios dos serviços públicos também ser especialmente sensíveis à questão da ino-
podem estimular a inovação. São capazes de vação, quer porque estes inovem, quer porque
levar a formas de inovação específicas, não tragam inovação por seus clientes (Miles et
técnicas e que não são de mercado, envolvendo al., 1994). Den Hertog (2000), por exemplo,
questões domésticas, sociais e cívicas – ou seja, discute como os Kibs inovam e frequentemente
que valorizam relações interpessoais. Assim, compartilham inovações com seus clientes,
o aumento da inovação social nos – ou com a embora a fusão do conhecimento desses
participação dos – serviços públicos é conse- clientes com suas bases de conhecimento
quência importante dessa terceira característica, próprio seja mais geral – tecnológicos ou
que reflete os princípios dos serviços públicos: não. Gadrey e Gallouj (1998) sugeriram que
igualdade, justiça e continuidade. as consultorias que examinaram usavam três
formas de inovação: inovação ad hoc (soluções
Dessa forma, há boas razões para esperar originais para problemas conjuntamente de-
que a “diferenciação dupla” dos serviços públi- senvolvidos com o cliente); inovação de novo
cos afetará, em maior ou menor extensão, suas campo de conhecimento (fornecimento de
inovações. A forma como isso acontece pode aconselhamento em um campo emergente de
variar através dos tipos de serviços, com o tempo conhecimento); e inovação de formalização
e com os países. Explorar essa questão é um tema (implantação de métodos para definir melhor
importante para a pesquisa comparativa. o serviço). Uma coleção recente discutindo
essas questões está em di Maria, Grandinetti
3.2 Pesquisa empírica e classificação de e Di Bernardo (2012).
formas específicas de inovação
Subsequentemente, há uma mudança setorial
Embora tenham havido esforços, como discutido do foco analítico para especificidades de inova-
anteriormente, para derivar as especificidades ções em serviços geralmente considerados mais
da inovação de serviços a partir das especifici- operacionais ou menos intensos em termos de
dades das atividades de serviço e dos próprios conhecimento. Os exemplos incluem hospitali-
produtos, muita atividade empírica é basicamente dade, transporte, serviços de limpeza, cuidado a
indutiva. Presumindo-se que haja característi- idosos etc. – setores frequentemente estudados
cas distintivas, há o trabalho de explorar casos da perspectiva da qualidade de gestão de servi-
de inovação de serviço com uma mente mais ços, porém menos vistos em termos de inovação.
ou menos aberta sobre como estes serão. As
inovações tecnológicas não são os únicos tipos Muitas tipologias ad hoc foram desenvolvi-
de inovação considerados. das em estudos de várias atividades, mas uma
característica importante é que esses estudos
Os primeiros estudos examinaram atividades chamaram repetidamente atenção para formas
que resultaram em serviços altamente intan- não tecnológicas de inovação. Os três tipos de
gíveis e interativos, que são, presumivelmente, inovação de Gadrey e Gallouj (1998) são um
aqueles em que as especificidades são mais exemplo característico.

76
Pesquisas empíricas similares, desde uma –, de inovações conceituais – envolvendo novos
perspectiva de demarcação, com foco em pos- conceitos, quadros de referência ou até mesmo
síveis especificidades de inovação em serviços, novos paradigmas; a nova gestão pública ou
também foram realizadas em serviços públicos, a noção de governança podem ser exemplos
especialmente em estudos recentes (Mulgan e disso – e de inovações institucionais – em que
Albury, 2003; Hartley, 2005; Koch et al., 2005; há transformações fundamentais nas relações
Windrum e Koch, 2008; Becheikh et al., 2009; institucionais entre organizações, instituições
Fuglsang, 2010; Miles, 2012). Entre as tipologias e outros atores no setor público; por exemplo,
de inovação recentes nos serviços públicos, a introdução de elementos de democracia
vemos – juntamente com categorias tradicionais direta, através de referendos em uma demo-
de produto/serviço, processo, inovações tec- cracia representativa. Os vários autores usam
nológicas e organizacionais e algumas formas terminologias diferentes e fazem distinções que
específicas de inovação. Halvorsen et al. (2005) diferem em detalhe, mas tudo isso aponta para
também distinguem inovações administrativas. uma gama de atividades inovadoras que podem
Por exemplo, o uso de um novo instrumento de ocorrer em vários níveis em uma estrutura de
política, que pode ser resultado de alteração de serviço público. Um aspecto disso é o papel
política; inovações de sistema (um novo sistema importante de estruturas mais gerais de política
ou uma mudança fundamental de um sistema e governança, além da organização do próprio
existente, como é o caso do estabelecimento serviço público individual.
de novas organizações ou novos padrões de
cooperação e interação); inovações conceituais 3.3 Indicadores e pesquisas
(uma mudança na perspectiva dos atores: tais
alterações são acompanhadas pelo uso de Grande parte da pesquisa empírica que enfatiza
novos conceitos; por exemplo, gestão hídrica a demarcação é qualitativa – em parte porque
integrada ou arrendamento de mobilidade); ou os pesquisadores procuram estar abertos a no-
até mesmo alterações radicais da racionalidade vos conhecimentos sobre os tipos de inovação
– que significa que a visão de mundo ou a matriz e suspeitaram que os principais instrumentos
mental dos empregados de uma organização para pesquisar a inovação no nível da empresa
está mudando. Hartley (2005) menciona ino- sejam inadequados. Como vimos anteriormente,
vações que envolvem posição – envolvendo o Manual de Oslo, em sua última versão (OECD,
novos contextos, clientes ou parceiros em 2005), inclui agora inovações de marketing e
serviços; estratégia – com novos objetivos, organizacionais, além de inovações de produto
finalidades ou valores, tais como os envolvidos e processo. As CIS abriram-se para mais indús-
em políticas de comunidade; governança – por trias de serviço e certas formas de inovação não
exemplo, novas instituições democráticas e tecnológicas, mas ainda há progresso a ser feito,
formas de participação; e retórica – em que especialmente nas áreas de inovação de produtos
uma nova linguagem, novos conceitos e novas não tecnológicos; inovação de processos não
definições são aplicadas, como em taxas de tecnológicos; inovação ad hoc e customizadas;
congestionamento e impostos de carbono. inovação em “pacotes” complexos de bens
Bekkers, van Duivenboden e Thaens (2006) e serviços, também conhecidos como novos
distinguem inovações organizacionais que se conceitos ou novas fórmulas – por exemplo,
concentram na criação de novas formas organi- atacado, hospitalidade etc.; inovação social; e
zacionais, ou na introdução de novos métodos inovação do usuário pelos consumidores – ou
e técnicas de gestão e novos métodos de tra- seja, inovações introduzidas pelos consumidores
balho – como é o caso de centros de serviço que desenvolvem ou modificam bens e serviços
compartilhado ou novos sistemas de qualidade para seu próprio uso (Gault, 2012; subseção 2.1).

77
As CIS e a maioria das pesquisas sobre ino- • dois terços dos serviços públicos pesqui-
vação concentraram-se basicamente no setor sados introduziram um serviço novo ou
privado e, dessa forma, onde os serviços são significativamente melhorado durante os
cobertos, ou seja, nos serviços vendidos. Assim três anos cobertos pela pesquisa;
como foram feitos esforços para criar indicadores
de inovação customizados aos serviços e que • a semelhança de aumentos de inovação
levassem em conta a inovação não tecnológi- com o tamanho da instituição;
ca, esforços similares estão sendo feitos para
cobrir os serviços públicos. Isso cria problemas • o principal impulsionador de inovação é
de como identificar a entidade adequada para a introdução de novas leis e regulamen-
análise – que nível de governo ou de organi- tações, seguida por novas prioridades de
zação de serviço público, por exemplo – e de políticas e iniciativas de e-governo; e
lidar com grandes diferenças entre países com
relação à organização de serviços públicos e • o principal modo de inovação é de cima
suas fronteiras. para baixo, e não de baixo para cima –
embora suspeitemos que esse resultado,
Indicadores desenvolvidos por subsetores de em parte, seja função da localização dos
serviços públicos, tais como o setor de saúde entrevistados nas organizações em pauta
(Djellal e Gallouj, 2005; Windrum e Koch, 2008), (European Commission, 2011).
podem ser distinguidos de indicadores mais
amplos, desenvolvidos para todos os serviços 3.4 A perspectiva de diferenciação e
públicos. Uma das primeiras – e ainda raras racionalização profissional
– iniciativas nacionais para medir a inovação
nos serviços públicos é o índice de inovação do Enquanto a perspectiva de assimilação está
governo coreano, introduzido em 2005 (Apec associada à industrialização dos serviços (sub-
e South Korea, 2005). Mais recentemente, na seção 2.5), a perspectiva de diferenciação pode
Europa, as recomendações de Clark, Good e estar associada a outra forma de racionalização
Simmonds (2008) foram implantadas em 2011 direcionada para a inovação. Isso é o que Gadrey
(Hughes, Moore e Kataria, 2011), como parte (1996) descreve como racionalização profissio-
da pesquisa-piloto realizada na Grã-Bretanha nal ou cognitiva, como oposta à racionalização
em dois subsetores: o NHS e o governo local. industrial. Essa racionalização cognitiva – que
O projeto de pesquisa Medição de Inovação é usada, por exemplo, em muitas empresas de
no Setor Público nos Países Nórdicos (Mepin), consultoria – pode ser dividida em três estratégias:
criado pela Comissão Europeia, também lançou tipificação dos casos, formalização de procedi-
uma pesquisa-piloto sobre inovação nos serviços mentos de solução de problemas (métodos) e
públicos em vários países do norte da Europa. uso de rotinas individuais ou organizacionais.
Criou-se muita informação sobre a medição e
as questões conceituais na inovação no serviço Também nos serviços públicos vemos essa
público (Bugge, Mortensen e Bloch, 2011). Em tensão entre a racionalização industrial e a
2010, a Comissão Europeia anunciou sua inten- profissional. Na racionalização profissional, o
ção de formar o Placar de Inovação do Setor princípio dominante é que a política deve esta-
Público Europeu. Para preparar-se para isso, o belecer diretrizes amplas, e não impor caminhos
Innobarometro 2010 (European Commission, particulares ou métodos de trabalho. Isso deve
2011) dedicou-se a inovações no setor público. ser deixado a critério dos atores públicos – de
Sua pesquisa de mais de 4 mil organizações do todos os níveis: não apenas gerentes, mas tam-
serviço público por toda a Europa confirmou a bém os agentes básicos –, que devem ter mais
existência de significativa atividade de inovação: flexibilidade e liberdade de interpretação e ação

78
no nível local. A perspectiva de diferenciação conforme medida pelo Resumo de Índice de
reflete mudança da provisão de serviço de mas- Inovação (European Commission, 2008). Uma
sa – dominante faz tempo – para a provisão de forma diferente de dinâmica pode ocorrer onde as
serviço mais personalizado. indústrias de manufatura são veículos importantes
para a distribuição de produtos manufaturados e
4 INVERSÃO: O PAPEL DOS SERVIÇOS EM outros produtos. Por exemplo, grandes empresas
SUAS INOVAÇÕES DE CLIENTES de varejo têm poder suficiente para ditar aos
fornecedores de alimentos quais ingredientes
A literatura sobre inovação nos serviços introduziu devem ser usados; para os produtores agrícolas,
recentemente uma nova perspectiva para des- que tipo de padrões de ambiente devem ser
crever a inovação nos serviços. Essa perspectiva, seguidos, e assim por diante.
que Gallouj (2010) chamou de “perspectiva de
inversão”, rompe com a ideia de serviços domi- Os Kibs estão entre os serviços mais inova-
nados pela indústria de manufatura em termos dores e podem também auxiliar nos processos
de inovação, e vai além do que apenas ver a de inovação de seus clientes. São máquinas de
inovação de serviço como distintiva e demarcada processamento de informações e conhecimentos
das indústrias de manufatura. Vê as indústrias que não apenas criam informações e conheci-
de serviços como liderando potencialmente os mento na forma de soluções tecnológicas, mas
processos de inovação e moldando as ativida- também soluções organizacionais, estratégicas
des inovativas realizadas em outros setores. Na legais, fiscais e outras. Estas constituem fonte
verdade, os serviços podem inclinar o equilíbrio externa de conhecimento e inovação para seus
de poder e estar em posição em que dominam clientes (Miles et al., 1994; Djellal, 1995; Bessant
a indústria. e Rush, 1995; Muller e Zenker, 2001; Czarnitzki e
Spielkamp, 2003; Toivonen, 2004; 2007; Wood,
Devemos notar que a perspectiva de inversão 2005; di Maria, Grandinetti e Di Bernardo, 2012).
introduz um rompimento em nossa estrutura Esse desenvolvimento importante na economia
analítica de assimilação-diferenciação-integra- de serviços foi descrito por den Hertog (2000),
ção. Enfatiza bem mais a mudança no equilíbrio bem como por Bilderbeek e den Hertog (1997),
do poder (o poder de reequilibrar em termos de como constituindo uma nova infraestrutura de
conhecimento e inovação) entre a manufatura conhecimento que complementa – e compete
e os serviços do que diferenças em termos da com – a infraestrutura tradicional, que é formada
natureza da inovação. Esse é o motivo pelo qual principalmente por instituições de educação pú-
a perspectiva da inversão está localizada no blica e pesquisa. Também pode ser interpretada
meio da figura 1. como uma nova área de expressão do conceito
schumpeteriano de empreendedorismo. É co-
Essa perspectiva da inversão descreve as nhecido como o modelo Schumpeter Mark III, ou
atividades de inovação de certos Kibs – prin- modelo de inovação assistido por consultoria, ou,
cipalmente P&D, engenharia e consultoria de forma mais geral, como o modelo de inovação
– que não apenas inovam por si, mas também interacional (Gallouj, 2002b), que pode comple-
representam papel extremamente importante mentar os modelos conhecidos de Schumpeter
no desempenho de seus clientes industriais e Mark I (o empresário individual) e Schumpeter
de serviços na inovação. Essa inversão pode Mark II (empresariado endogenizado e inovação).
acontecer tanto no nível microeconômico quanto
no macroeconômico. Existe, portanto, para os Os atores, no modelo Schumpeter Mark III,
países da União Europeia (UE), uma correlação não estão confinados a serviços privados. Em
positiva entre a porcentagem de Kibs no emprego alguns casos, os serviços públicos também se
total e o desempenho em termos de inovação, encaixam nesse modelo, em graus variáveis. O

79
papel de serviços públicos na inovação de outros papel pode ser visto como mais ou menos
atores econômicos pode ser visto de quatro ativo ou passivo. Os serviços públicos,
perspectivas, descritas a seguir. como outros negócios, precisam de com-
putadores, transporte etc., que compram
1) Políticas de serviços públicos que apoiam de fornecedores industriais, e, nesse caso,
inovações em outras atividades econômi- são consumidores “passivos”. Esse tipo de
cas. Serviços públicos que suportam ativi- inovação entra na perspectiva assimila-
dades econômicas, assim como serviços cionista mencionada anteriormente. Mas
públicos em pesquisa e educação, sempre o consumo e a demanda também podem
participaram dessa perspectiva de inver- ser usados para guiar trajetórias tecno-
são: por exemplo, agências de pesquisa lógicas. Esse é o caso, por exemplo, das
pública podem decidir que linhas de P&D compras públicas. Atualmente, há interes-
devem financiar; agências públicas de se considerável em usar a compra públi-
transferência de tecnologia podem apoiar ca de forma mais geral para estimular a
o entendimento de determinados siste- inovação – por exemplo, Aschhoff e Sofka
mas e padrões. Essas políticas são bem co- (2009), Edler e Georghiou (2007) e Stern
nhecidas e amplamente documentadas. et al. (2011). Assim, a pesquisa Innoba-
Basta mencionar aqui uma questão re- rometro 2010 (European Commission,
cente e importante para as políticas de 2011; subseção 3.3) indica que mais da
serviços públicos que apoiam inovação metade das organizações de serviço pú-
em serviços privados. A pergunta é feita blico consideram que a “aquisição” contri-
em termos de três das perspectivas ana- buiu para soluções de serviço inovadoras.
líticas propostas para inovação em servi- Isso também se aplica a situações em que
ços, ou seja: assimilação, demarcação e os serviços públicos agem como “usuários
integração (European Commission, 2003; principais” (Dalpe et al., 1992).
Dialogic Innovatie & Interactie, 2006; Ru-
balcaba, 2006). Enquanto muitas políticas 3) Os serviços públicos também podem for-
de inovação de serviço vêm de perspecti- necer passivamente mais ou menos in-
va assimilacionista e simplesmente esten- formações aos setores privados. Este é o
dem políticas industriais – principalmente caso, por exemplo, das agências públicas
científicas e técnicas – aos serviços, há especializadas na disseminação de infor-
exemplos de políticas de demarcação que mações científicas e técnicas.
levam em conta essas especificidades de
inovação de serviços, tais como a dificul- 4) Mas os serviços públicos também podem
dade em distinguir o produto do processo, ter papel mais ativo na coprodução da
um papel menor de P&D do que na indús- inovação. Nesse caso, estes são a parte
tria, resultados menos visíveis por causa mais firme do que chamamos de modelo
da natureza intangível do serviço, riscos Schumpeter Mark III, ou modelo de ino-
potencialmente maiores e mais fortes de vação interacional. Dessa perspectiva,
falha de mercado e um problema de pro- as redes de inovação tradicionais envol-
priedade da inovação desenvolvida de vendo serviços públicos como coprodu-
forma interativa através da coprodução. toras são bem conhecidas (Callon, 1991;
Hakansson, 1989; Ludvall, 1992). Mas
2) O segundo papel bem conhecido dos ser- outras redes – menos conhecidas – sur-
viços públicos como impulsionadores de giram ou foram reconhecidas mais recen-
inovação em outras atividades é o do con- temente, como as redes de inovação em
sumidor e usuário dessas inovações. Esse serviços público-privados (subseção 3.4).

80
5 INTEGRAÇÃO: O MESMO MODELO DE fabricantes estão se tornando mais especializa-
INOVAÇÃO PARA BENS PÚBLICOS E dos no setor de serviços; por exemplo, adotando
PRIVADOS E SERVIÇOS estratégias “de pós-fordistas” de “customização
em massa” e adaptando os produtos mais às
A perspectiva final usada para lidar com a ques- especificações do cliente, bem como colocando
tão de inovação em serviços é a integração, ou mais ênfase na interação com – e no atendimento
síntese (Gallouj e Weinstein, 1997; Coombs e ao – cliente. Um número crescente de estudos
Miles, 2000). Essa perspectiva tenta construir contemporâneos aponta para uma confusão de
uma estrutura analítica, que abrange a dinâmica fronteiras entre os setores e quanto à natureza
de inovação de todas as formas (tecnológica e dos “produtos” (Barcet e Bonamy, 1999). Algu-
não tecnológica), assim como em bens e serviços. mas pesquisas (Broussolle, 2001) mostram que
A perspectiva de integração pode facilmente ser a TI – como um sistema técnico compartilhado
estendida aos serviços públicos, principalmente pela indústria e pelos serviços – contribui para
como fronteira entre estes; também se tornam esse “turvamento”.
indistintas, especialmente como resultado das
políticas de desregulamentação. Essa perspectiva O turvamento de fronteiras e a tendência para
não apenas se refere à natureza da inovação, “todo o serviço” estão evidentes de diferentes
como também a seu modo de organização. A maneiras. Por exemplo, as informações e os
última seção ilustra como a mudança de mo- serviços desempenham papel crescente no valor
delo de inovação linear para o modelo aberto da maioria dos bens (industriais e agrícolas).
envolve os dois serviços (público e privado) e Setores são “terceirizados” na medida em que
a manufatura. proporções mais elevadas de sua força de tra-
balho estão engajadas em funções de serviço, e
5.1 Turvamento de fronteiras setoriais não na produção direta de produtos. Quer sejam
batatas, fragrâncias ou calculadoras, serviços e
A literatura mostra alguma convergência entre informações (gastos com P&D, transporte, distri-
bens e serviços – de forma que podemos falar buição, marketing etc.) tornaram-se os principais
da industrialização e da criação de produtos de componentes do valor produzido. De forma mais
serviços e da servitização e terceirização da fa- geral, os bens e os serviços são menos vendidos
bricação. A ideia de servitização, ou servicização e consumidos independentemente, porém cada
(Vandermerwe e Rada, 1998; Howells, 2001; vez mais como soluções, sistemas, funções ou
Neely, 2008), basicamente envolve empresas experiência. O turvamento também acontece
que fornecem serviços relacionados a bens ou pela transformação de empresas industriais
matérias-primas que produzem – ou, às vezes, icônicas – por exemplo, International Business
serviços que estejam ligados a processos de Machines (IBM) e Benetton – em empresas de
produção e sistemas de informações que usam. serviço, tendo-se em vista que agora a maior
Alguns são serviços de produto, tais como o parte de sua receita vem desse tipo de atividade.
suporte pós-venda, e alguns complementam o Outro exemplo do turvamento de fronteiras é o
bem com serviços, a exemplo do financeiro, de novo modelo de negócios de certas empresas
seguros, de manutenção, de software etc. (Furrer, industriais, que agora alugam seus bens em vez
1997). Uma empresa de manufatura pode mudar de vendê-los (copiadoras Rank Xerox) ou refor-
para um foco de serviço, no qual a empresa vê mam ou reciclam bens em vez de fabricá-los.
seu trabalho em termos de fornecer os resul-
tados para os clientes que o próprio bem seria Junto com essas fronteiras difusas, uma
usado para criar: a empresa pode então vender nova mensagem aparece onde certos negócios
uma quantidade prometida de serviço em vez não se definem mais como bons fabricantes,
de vender – ou até mesmo alugar – o bem. Os mas como fornecedores de soluções, funções

81
ou experiências. Novas perspectivas de pes- quer dizer usar valores. A figura 2, portanto,
quisas teóricas surgiram, incluindo-se a eco- aplica-se a várias configurações de produto:
nomia funcional (economia) (Stahel, 1997), a um bem puro (um carro ou um computador),
economia da experiência (economia) (Pine e um produto intangível (um contrato de se-
Gilmore, 1999), a lógica do serviço dominante9 guro, um produto financeiro e um serviço de
(Vargo e Lusch, 2006) e abordagens baseadas consultoria), um resultado de autosserviço
em características (Gallouj e Weinstein, 1997; ([C’]-[T]-[Y]) e soluções híbridas (bens e
Windrum e Garcia-Goni, 2008; De Vries, 2006, serviços) – por exemplo, um carro e diferentes
Gallouf e Toivonen, 2011). Vamos nos con- tipos de serviços associados fornecidos ante-
centrar somente na abordagem baseada em rior ou posteriormente (seguro, manutenção,
características, que foi especificamente desen- financiamento, garantias etc.).
volvida para lidar com a inovação. No entanto,
devemos notar que, se as outras abordagens Nessa representação, a inovação reflete
não são necessariamente modelos analíticos de várias alterações nas características: adição,
inovação, estas podem ser facilmente aplicadas subtração, associação, dissociação ou forma-
para lidar com a questão da inovação (novas tação. Essas alterações podem ser o resultado
experiências, novas funções etc.). de processos naturais de aprendizado ou de
P&D formalizada, projeto e atividades de
5.2 A abordagem baseada em inovação. Diferentes tipos de alterações às
características: uma estrutura analítica características resultam em modelos diferentes
integradora para bens e serviços – de inovação:
incluindo-se serviços não mercantis
• inovação radical, que descreve a criação
Para desenvolver uma estrutura analítica inte- de um novo conjunto de características S
grativa para bens e serviços e suas múltiplas = {[C’*], [C*], [T*], [T’*], [Y*]};
formas de inovação, a inspiração é o trabalho de
Saviotti e Metcalfe (1984). Já Gallouj e Weins- • inovação de melhoria, que reflete aumen-
tein (1997) aplicam o modelo lancasteriano de to na proeminência – ou qualidade – de
bens e serviços. Eles definem o produto – seja certas características, sem alterar a es-
um bem, seja um serviço – como um conjunto trutura do sistema de competências;
de vetores de características: características
técnicas internas [T] e características técnicas • inovação incremental, que denota a adição
externas [T’],10 características de serviço ou final – e, também, possivelmente, a eliminação
[Y], competências internas [C] e competências ou substituição – das características;
externas [C ‘] (figura 2).
• inovação por recombinação, baseada nos
Assim, um serviço pode ser definido como princípios básicos da dissociação e da asso-
a mobilização de competências internas ou ciação das características finais e técnicas; e
externas e técnicas internas ou externas
– tangíveis ou intangíveis –, para produzir • inovação por formalização, baseada na forma-
características de serviço ou finais – isso tação e na padronização de características.

9. Embora se concentre em especificidades de serviço, a lógica S-D pertence à perspectiva integrativa ou de síntese, na
medida em que enfatiza a lógica do serviço tanto nos serviços quanto nas atividades de manufatura.
10. A inclusão de características técnicas de clientes foi sugerida por De Vries (2006), para levar em consideração os
novos canais de consumo e entrega – por exemplo, quando os consumidores usam suas próprias tecnologias para
acessar um serviço na internet.

82
FIGURA 2
O produto como a conjunção de vetores de características e competências

Fonte: Gallouj e Weinstein (1997).

Esse modelo, baseado em características dos públicos – embora estas possam ser aplicadas
produtos e inovação, foi alterado várias vezes além desses serviços. A perspectiva convencio-
(De Vries, 2006; Gallouj e Toivonen, 2011); em nalista – inspirada pelo trabalho de Boltanski e
alguns casos, com o objetivo explícito de refletir Thévenot (1991) – sugere que produtos podem
(melhor) os serviços públicos. De forma especial, ser definidos em termos de diferentes conjuntos
Windrum e Garcia-Goni (2008) sugerem incluir de critérios justificativos baseados:
o governo no modelo e desenvolver um modelo
de vários agentes. • no mundo industrial e técnico, cujos re-
sultados são descritos e estimados prin-
Em um trabalho anterior (Gallouj, 2002a), cipalmente em termos de volumes, fluxos
sugerimos associar uma abordagem “convencio- e operações técnicas;
nalista” aos produtos, com o modelo baseado em
características lancasterianas, para levar em conta • no mundo do mercado e financeiro, cujo
determinadas características sociais e cívicas que “resultado” é visualizado em termos de va-
são particularmente importantes nos serviços lor e transações monetárias e financeiras;

83
• no mundo relacional ou doméstico, que va- Essas competências sociais e cívicas podem
loriza relações interpessoais, empatia e rela- ser aceitas ou promovidas pela organização
ções de confiança construídas com o tempo ou ser reprimidas. As competências de certos
e vê a qualidade das interações como fator- clientes (C’k) podem ser particularmente fracas
-chave para estimar o “resultado”; e (clientes em desvantagem socioeconômica, bem
como deficiências culturais e cognitivas). Essa
• no mundo cívico, que é caracterizado por fraqueza pode ou deve ser compensada pelas
relações sociais baseadas em uma preo- competências cívicas e sociais de empatia e
cupação por tratamento igual, equidade “tradução” por parte dos agentes da direção.
e justiça.
Essa estrutura analítica de produtos e ino-
Para integrar a diversidade desses quatro vação foi aplicada em vários serviços públicos:
mundos em nosso modelo baseado em caracte- o serviço de correios da França (serviços pos-
rísticas, é possível tanto adicionar características tais e financeiros), o CAF e a Serviço Público
desses mundos diferentes a diferentes vetores Francês de Emprego (Anpe) da França. Nessa
quanto justapor vários vetores de características representação estendida, a inovação também é
(serviço e características técnicas) e competências visualizada em termos de várias alterações nas
relativas aos diferentes mundos mencionados características.
(industrial, mercado, doméstico e cívico).
5.3 Do modelo linear ao modelo aberto
Pode parecer paradoxal considerar características
técnicas e de processo de acordo com diferentes A inovação pode vir de forma mais ou menos
mundos, uma vez que se pode pensar que essas espontânea (imprevisível) ou planejada (rela-
características são todas técnicas. No entanto, tivamente previsível). Esta é planejada e previ-
as técnicas não são neutras. Como produtoras de sível quando ocorre em estruturas claramente
características de serviço, estas são cheias de valor identificadas – por exemplo, departamentos de
e refletem escolhas humanas. Algumas soluções P&D e grupos de projetos – e de acordo com
técnicas podem ser consideradas mais justas e processos previamente estabelecidos. Programas
mais equitativas que outras – por exemplo, técnicas de inovação planejada desse tipo são obviamente
adaptadas para os deficientes. Com relação a ca- implantados por algumas organizações (Sundbo
racterísticas técnicas intangíveis (métodos e modos e Gallouj, 1999; Tidd e Hull, 2010). Assim, na
de organização), pode-se imaginar facilmente que gestão das ciências, há tradição teórica fértil
certos arranjos organizacionais podem pertencer defendendo a aplicação de metodologias de
aos mundos cívicos e domésticos (arranjos para desenvolvimento de um novo produto a servi-
assegurar o anonimato, a confidencialidade, a des- ços (new product development – NPD), em que
crição à justiça, na ordem na qual as solicitações novos serviços são projetados de acordo com
são processadas). processos planejados, sistemáticos, chamados de
desenvolvimento de novo serviço – new service
Isso é verdade para competências. O vetor development, NSD (Scheuing e Johnson, 1989;
de competências deve levar em conta o que De Brentani, 1991). Vale notar que a literatura
pode ser chamado de competências sociais e sobre NSD está apenas vagamente ligada a
cívicas – ou seja, a capacidade de fornecer um estudos que derivam do campo de inovação de
serviço ou simplesmente manter uma relação serviço: esta também enfatiza as formas pelas
com os clientes –, lembrando que os serviços quais características como intangibilidade e
públicos frequentemente lidam com pessoas em coprodução são importantes para o desenvol-
situações socioeconômicas bastante difíceis. vimento de serviço.

84
No entanto, a literatura sobre inovação ao processo de fornecimento do serviço. Só
em serviços enfatizou o papel de estruturas e pode ser separado do fornecimento de serviço
processos interativos em relação à perspectiva em retrospecto, e a inovação é passível de ser
geral de inovação aberta (Chesbrough, 2003; reconhecida como tal somente depois do fato.
2011). Não obstante, essas estruturas não são
específicas a serviços, uma vez que também A pesquisa sobre como a inovação é orga-
são implantadas em empresas de manufatura. nizada nos serviços públicos é rara – a não ser
Em outras palavras, a perspectiva de integração pesquisas no papel de serviços de pesquisa pú-
não envolve apenas a natureza da inovação, blica, incluindo-se as nos hospitais.11 Em muitos
mas também seus modos de organização. A serviços públicos, parece que a mudança e a
perspectiva geral de inovação aberta não apenas inovação são principalmente de cima para baixo,
inclui o modelo de elo de corrente, ou interativo, processos planejados e formalizados, conforme
proposto por Kline e Rosenberg (1986), mas indicado pela pesquisa Innobarometro 2010 (Eu-
também abrange vários modelos cooperativos, ropean Commission, 2011), discutida na subseção
que são menos ou mais sofisticados e forma- 3.3. Apesar desse caráter formalizado, segundo
lizados. Isso inclui modelos não planejados ou sabemos, a literatura não menciona quaisquer
emergentes, tais como o modelo de aplicação, o aplicações práticas da perspectiva NSD linear a
modelo baseado na prática, o modelo de inova- esse tipo de serviços públicos.
ção bricolagem e inovação ad hoc. O modelo de
aplicação rápida é um modelo no qual o plane- No entanto, vários estudos enfatizaram a exis-
jamento não precede a produção, como o faz no tência e a importância do que temos chamado de
modelo linear tradicional. Quando a ideia surge, inovação invisível, e do que a Fundação Nacional
esta é imediatamente desenvolvida enquanto de Ciência, Tecnologia e Artes (Nesta) rotula de
o serviço em questão está sendo fornecido. “inovação escondida” – para mais destalhes, con-
Assim, o processo de fornecer o serviço e o sulte-se a Nesta12 em alguns de seus trabalhos em
processo de inovação são aqui a mesma coisa serviços públicos. Vários modos de organização e
(Toivonen, 2010). O modelo baseado na prática formas de inovação tendem a ser negligenciados
envolve identificar mudanças nas práticas de por aqueles que abordam a inovação em termos
serviço e desenvolvê-las e institucionalizá-las. mais formais (Fuglsang, 2008; 2010). Estes tendem
O modelo bricolagem descreve a mudança e a a ser modos de baixo para cima, incluindo-se os
inovação como consequências de atividades não modelos não planejados e informais mencionados
planejadas, executadas em resposta a eventos anteriormente (modelo ad hoc, modelo baseado na
ao acaso, e caracterizadas por ensaio e erro e prática, modelo bricolagem, modelo de aplicação
a “aprender o trabalho” (Sanger e Levin, 1992; rápida etc.). É provável que muita inovação ocorra
Fuglsang, 2010; Styhre, 2009). A inovação ad em níveis locais nas organizações de serviço públi-
hoc (Gallouj e Weinstein, 1997) pode ser definida co, e um problema pode ser que muito disso não é
como o processo de construir uma solução (nova) amplamente sabido e difundido nas organizações.
para um problema identificado pela empresa
cliente – um processo interativo, que requer a Devemos notar que um trabalho recente
participação do cliente e que é consubstancial no campo da ciência política se concentra no

11. No entanto, há recomendações práticas consideráveis sobre inovação fornecidas em várias organizações de serviço
público em diversos países. No Reino Unido, somente no serviço de saúde, podemos indicar esses recursos nos sites
disponíveis em: <http://www.innovations.nhs.uk/>; <goo.gl/saSvcs>; e <http://www.institute.nhs.uk/>. Acesso em: 19
dez. 2013.
12. National Endowment for Science, Technology and the Arts (Nesta). Hidden Innovation. Disponível em: <goo.gl/MXW3Hk>.
Acesso em: 19 dez. 2013

85
surgimento do que se chama de “inovação cola- processos de inovação mostrados em estudos
borativa no setor público” (Sørensen e Torfing, sobre inovação, de forma mais geral, podem criar
2012). É uma colaboração de vários atores a expectativa de aplicar a dinâmica da inovação
que ocorre não somente em administrações do serviço público, conforme vimos. Os pontos
públicas, entre membros de diferentes órgãos específicos levantados nos estudos de inovação
públicos, mas também com parceiros privados. em sistemas amplos e de inovação de serviço
são passíveis de ser particularmente relevantes.
Além disso, é altamente relacionado ao con- É notável que os serviços públicos tenham sido
ceito de inovação aberta, há o desenvolvimento negligenciados por tanto tempo pelo total dos
de novas redes de inovação, chamadas de redes estudiosos. Levá-los em consideração aumentará
de inovação pública privada em serviços (Ppins nossa compreensão da diversidade dos processos
– em inglês, public private innovation networks in de inovação – especialmente entre diferentes ser-
services).13 Essas redes envolvem colaborações viços públicos e até mesmo em organizações no
entre organizações de serviço, públicas, privadas mesmo bloco nominal de serviços e dos cenários
e do terceiro setor no campo da inovação (Gallouj, que os conformam.
Rubalcaba e Windrum, 2013). A abordagem às
PPINS difere da aplicada a redes tradicionais de Nos últimos anos, a literatura de inovação em
inovação, de várias formas. Primeiramente, as serviço desenvolveu diferentes perspectivas teóri-
relações entre atores públicos e do não mercado cas, que interpretamos em termos de assimilação,
e atores privados estão no cerne da análise. Em demarcação, inversão e síntese. A estrutura ana-
segundo lugar, vemos os fornecedores de serviços lítica Adis é uma heurística que pode ser aplicada
como os principais atores destes. Finalmente – e sem muita dificuldade aos serviços públicos. Esta
este é o corolário da característica precedente –, esclarece questões de inovação do serviço público,
a inovação não tecnológica (inovação de serviço), mas pode exigir reflexão adicional.
que frequentemente é negligenciada na literatura,
é levada em consideração e frequentemente se Assim, no caso da perspectiva assimilacionista,
trata da característica central da parceria. por exemplo, é importante considerar certo dua-
lismo no setor público. Temos de distinguir entre
6 CONCLUSÃO pelo menos dois grupos diferentes: primeiro, os
serviços públicos baseados na ciência (laboratórios
Embora a associação dos termos serviço e ino- públicos de pesquisa; certos aspectos dos serviços
vação possa ter parecido, por muito tempo, hospitalares); em segundo lugar, atividades basea-
incongruente – serviços tinham conotações das na ciência. O primeiro grupo está no cerne da
negativas de servitude e serviços públicos –, dinâmica de inovação científica e técnica atual.
isso não acontece mais hoje. Este trabalho teve Consiste de atividades que ativam e autonoma-
como objetivo examinar a questão da inovação mente produzem inovações científicas e técnicas.
nos serviços públicos à luz da literatura sobre A ideia de assimilação parece inadequada nesse
inovação em serviços. Os processos de geração caso; esse tipo de inovação tem muito em comum
de ideias criativas e de escolha entre estas para com a inovação – de alta tecnologia – na indústria,
desenvolver algumas em inovações aplicáveis são e, de fato, um foco principalmente tecnológico
muitos e variados nos serviços públicos, assim pode ser amplamente justificado. A dinâmica da
como o são nas indústrias de serviços de forma inovação no segundo grupo, os outros setores
mais generalizada. Muitas das características de de serviço público – por exemplo, os governos

13. Essas redes de inovações foram estudadas pelo projeto europeu European Social Innovation Research – ServPPIN
(A Contribuição de Serviços Públicos e Privados ao Crescimento e a Assistência Social e As Redes do Papel de Inovação
Pública-Privada, FP7). Disponível em: <http://www.servppin.com/>. Acesso em: 19 dez. 2013.

86
–, por sua vez, encaixa-se melhor na perspectiva APEC – ASIA-PACIFIC ECONOMIC COOPERATION;
tradicional assimilacionista, conforme manifesta SOUTH KOREA. Ministry of Public Administration
nos serviços menos inovadores de mercado. and Security. Government innovation: Korea’s
Essa é uma perspectiva centrada em inovação energy for hope Seoul. Seul: Ministry of Public
tecnológica, que é mais adotada do que produ- Administration and Security, 2005.
zida, em vez de outras formas de inovação não
tecnológicas mais específicas. ARDUINI, D. et al. Technology adoption and
innovation in public services the case of e-go-
A perspectiva de inversão também requer uma vernment in Italy. Information Economics and
interpretação variada. É óbvio que os serviços Policy, v. 22, n. 3, p. 257-275, jul. 2010.
públicos influenciam a inovação em outros seto-
res, de formas diferentes: de fato, estes podem ASCHHOFF, B.; SOFKA, W. Innovation on
encaixar-se no modelo de inovação interacional demand: can public procurement drive market
(Schumpeter Mark III). Isso é verdade não só nos success of innovation? Research Policy, v. 38,
serviços públicos baseados na ciência (labora- n. 8, p. 1235-1247, 2009.
tórios públicos etc.), mas também nas agências
governamentais que usam a aquisição pública ATTOUR, A.; LONGHI, C. Fracture numérique, le
para guiar trajetórias de inovação. No entanto, a chaînon manquant: les services d’e-administration
ideia de inversão pode ser um nome impróprio. locale dans les communes françaises. Les Cah-
Esta pressupõe uma situação “normal” (não iers du Numérique, v. 5, n. 1, p. 119-146, 2009.
invertida) no passado, o que não se aplica nos
exemplos citados. Por exemplo, políticas públicas AUTOR, D. H.; LEVY, F.; MURNANE, R. J. The
apoiando inovações sempre existiram. skill content of recent technological change:
an empirical exploration. Quarterly Journal of
A questão da inovação nos serviços públicos Economics, v. 118, n. 4, p. 1279–333, 2003.
também foi discutida recentemente nas perspectivas
de demarcação e síntese. Alguns estudos recentes BACACHE-BEAUVALLET, M.; BOUNIE, D.; FRAN-
veem as especificidades da inovação nos serviços ÇOIS, A. Existe-t-il une fracture numérique dans
públicos tanto de um ponto de vista qualitativo l’usage de l’administration en ligne? Revue
quanto quantitativo. Essas especificidades – quer Économique, v. 62, p. 215-235, 2011.
se relacionem à natureza da inovação, quer aos
métodos organizacionais – são consideradas de BARCET, A.; BONAMY, J. Eléments pour une théorie
uma perspectiva de diferenciação dupla: diferen- de l’intégration biens/services. Économies et
ciação com relação à fabricação e diferenciação Sociétés, série EGS, v. 1, n. 5, p. 197-220, 1999.
concernente aos serviços de mercado. Mas a
demarcação não precisa ser o final da história: os BARRAS, R. Towards a theory of innovation in
serviços públicos também se encaixam nos modelos services. Research Policy, v. 15, n. 4, p. 161-
teóricos integrativos. Propomos que abordagens 173, ago. 1986.
baseadas em características possam fornecer
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