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RBGN – REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS ISSN 1806-4892

© FECAP

ÁREA TEMÁTICA: ESTRATÉGIA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL

Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta


de agenda de pesquisa
Service Innovation: the state of the art and a proposal of a research agenda

Innovación en Servicios: el estado del arte y una propuesta de programa de estudio


Pedro Carlos Resende Junior1 ’

Tomás de Aquino Guimarães2
Recebido em 16 de novembro de 2011 / Aprovado em 28 de setembro de 2012
Editor Responsável: João Maurício Gama Boaventura, Dr.
Processo de Avaliação: Double Blind Review

RESUMO setores de Indústria de Hospitalidade e de Enge-
O  setor  de  serviços  tem  assumido  importância nharia e Tecnologia, correspondendo, respectiva-
crescente na economia de países em geral, o que mente, a 24% e 31% dos textos. Os demais 45%
vem impulsionando pesquisas sobre inovação em dos artigos descrevem pesquisas em setores como
serviços,  que  se  configura  como  um  campo  de Telecomunicações,  Saúde,  Varejo,  Financeiro  e
estudos na área de administração. Este artigo tem Seguros  e  Serviços  Públicos.  As  principais  lacu-
como  objetivo  propor  uma  agenda  de  pesquisa nas identificadas nesses textos referem-se às difi-
para inovação em serviços, com base em uma dis- culdades de mensuração da inovação em serviços,
cussão articulada de resultados de pesquisas que além da baixa quantidade de pesquisas no setor
compõem  o  estado  da  arte  sobre  o  conceito. público. Ao final, é apresentada uma agenda de
Foram  analisados  73  artigos  empíricos,  33% pesquisa, que inclui o desenvolvimento de escala
deles explorando o tema estratégias de inovação e de orientação para inovação em serviços e a iden-
tecnologia; 18% abordando desempenho econô- tificação de fatores determinantes de inovação no
mico  e  produtividade  da  firma;  16%  tratando ambiente público.
de  antecedentes  e  determinantes  da  inovação  e
outros 16% de desenvolvimento de capacidades Palavras-chave: Serviços. Inovação. Inovação em
em  rede,  alianças  e  colaboração  entre  organiza- serviços.
ções;  9%  explorando  qualidade  de  serviços,
taxonomias de inovação, sistemas flexíveis e sis-
temas  regionais  de  inovação;  e  8%  abordando ABSTRACT
temas como conhecimento intensivo, pesquisa e The  service  sector  has  acquired  a  growing
desenvolvimento. As pesquisas concentram-se nos importance  in  every  country  economy,  which

1. Doutor em Administração pela Universidade de Brasília – UnB. [pcrj73@gmail.com]
2. Doutor  em  Sociologia  pela  Universidade  de  São  Paulo.  Professor  da  Universidade  de  Brasília  –  UnB.
[tomas.aquino.guimaraes@gmail.com]
Endereço dos autores: ICC ala norte, subsolo, módulo 25 – Asa Norte, Brasília – DF  Cep. 70910-900 – Brasil.
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has  stimulated  research  in  the  field  of  service sobre  el  concepto.  Se  analizaron  73  artículos
innovation, a new field in management studies. empíricos,  de  los  cuales  el  33%  explotan  el
This text aimed to state a research agenda upon tema  estrategias  de  innovación  y  tecnología,  el
service  innovation,  based  on  an  articulated 18%  tratan  del  desempeño  económico  y  la
discussion  of  the  results  of  several  articles  that productividad  de  la  empresa,  el  16%  hablan
compose the state of the art of this concept. 73 de  antecedentes  y  factores  determinantes  de
empirical  articles  were  analyzed,  33%  of  them la  innovación,  el  16%  del  desarrollo  y  las
exploring the innovation strategies and technology; capacidades en red, alianzas y colaboración entre
18% of the articles describe research on economic organizaciones,  el  9%  de  los  textos  estudian  la
performance and enterprise productivity; 16% are calidad de los servicios, taxonomías de innovación,
related  to  antecedents  and  determinants  of sistemas  flexibles  y  sistemas  regionales  de
innovation; another 16% about network capacity innovación,  y  el  8%  tratan  de  temas  como  el
development, alliances and collaboration among conocimiento  intensivo,  la  investigación  y  el
organizations; 9% of the articles explore service desarrollo.  Las  investigaciones  se  centran  en  los
quality, innovation taxonomy, flexible systems and sectores  de  Ingeniería  y  Tecnología  e  Industria
regional systems of innovation; and another 8% Hotelera,  correspondiendo,  respectivamente,
are related to themes such as intensive knowledge, al 31% y al 24% de los textos. El 45% restante
research  and  development. The  researches  were de  los  artículos  describen  investigaciones  en
concentrated  in  the  Engineering  & Technology sectores como Telecomunicaciones, Salud, Ventas
and  Hospitality  Industries,  which  accounted al  por  Menor,  Financiero  y  Seguros,  y  Servicios
for 31% and 24% of the texts, respectively. The Públicos.  Las  principales  lagunas  identificadas
remaining 45% of the articles referred to sectors en  esos  textos  se  refieren  a  las  dificultades  en
such  as  Telecommunications,  Health,  Retail, la  medición  de  la  innovación  en  servicios,  más
Financial & Insurance and Public Services. The allá  de  la  baja  cantidad  de  investigaciones  en  el
main  gaps  identified  in  these  texts  refer  to  the sector público. Al final se presenta una agenda de
difficulties  on  measuring  service  innovation, investigación, que incluye el desarrollo de escala
besides  the  small  number  of  researches  on  the de orientación para innovación y la identificación
public sector. At the end, a research agenda in the de  los  factores  determinantes  de  innovación
subject is presented, including the development en el sector público.
of  a  scale  for  orientating  the  innovation  and
identifying  the  determining  factors  of  the Palabras clave: Innovación. Servicios. Innovación
innovation in the public environment. en servicios.

Key words: Innovation. Services. Service innovation.
1 INTRODUÇÃO

RESUMEN Inovação é um dos temas transversais em
El  sector  de  servicios  viene  asumiendo  una pesquisas na área de administração e seu conceito
impor tancia  creciente  en  la  economía  de é plural e multifacetado. Para a OECD (2005),
prácticamente  todos  los  países,  lo  que  ha inovação pode ser definida como a introdução de
impulsado las investigaciones sobre innovación en um  bem  ou  serviço  novo  ou  significativamente
servicios,  que  se  configura  como  un  campo  de melhorado em suas características ou usos previs-
estudios en el área de administración. Este texto tos, podendo ser de quatro tipos: de produto (bens
tiene  como  objetivo  proponer  un  programa  de e serviços), de processo (métodos de produção e
investigación para la innovación en servicios, en de distribuição), organizacional (práticas de negó-
base  a  un  análisis  articulado  de  resultados  de cios) e de marketing (design, embalagem, promo-
investigaciones que componen el estado del arte ção,  disponibilização,  precificação).  Este  artigo

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trata de inovação em serviços, aqui delimitada como Brasileira de Inovação, Revista Eletrônica de Admi-
o processo de busca, descoberta, experimentação, nistração e Revista de Gestão.
desenvolvimento,  imitação  e  adoção  de  novas Foram  utilizadas,  na  busca,  as  palavras-
características  de  serviços,  processos  e  técnicas chave “inovação” e “serviços”, separadamente, de
organizacionais em organizações de serviços. forma  a  ampliar  o  escopo  da  busca,  bem  como
A inovação em serviços, inicialmente con- expressões em língua inglesa que correspondessem
siderada na literatura como uma consequência da a esses termos. Para compor a amostra de artigos,
inovação tecnológica ou da produção (BARRAS, foram adotados os seguintes critérios: (a) que abor-
1986), tem recebido espaço na literatura acadê- dassem o tema inovação em serviços; (b) que cons-
mica nos últimos anos. Isso se deve à construção tituíssem  relato  de  pesquisa  empírica;  e  (c)  que
de um campo próprio para o tema, decorrente do tivessem  sido  publicados  no  período  de  janeiro
crescimento da importância do setor de serviços de 2005 a agosto de 2011. Foram recuperados 73
na economia. Países como Alemanha, França, Itá- artigos, os quais constituem a base de análise uti-
lia e Reino Unido, pertencentes ao G8, desde o lizada neste texto. A seguir, discute-se o conceito
final da década de 1990 apresentavam o setor de de inovação em serviços e, na sequência, o estado
serviços com participação acima de 70% no PIB, da arte desse tema.
ao  passo  que  no  Brasil  os  serviços  representam Essa busca tem limitações. O Portal Capes
67,4%,  contra  26,8%  da  indústria  e  5,8%  da de Periódicos foi utilizado para acesso às bases de
agropecuária, segundo o IBGE (2010). dados  estrangeiras  e  há  periódicos  disponíveis
Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005) afir- nessas bases que não disponibilizam textos inte-
mam que serviços são absolutamente indispensá- grais por intermédio desse Portal. Com isso, perió-
veis  para  que  uma  economia  possa  funcionar  a dicos com alto fator de impacto na área de Admi-
contento e melhorar a qualidade de vida de uma nistração não foram consultados. Além disso, há
comunidade, assim como sua multiplicidade pode periódicos brasileiros que eventualmente tratam
acabar formando múltiplas redes de serviços. Ten- do tema deste artigo e que podem ter sido excluí-
do em conta esse quadro, é importante discutir a dos da busca. De qualquer sorte, a revisão permi-
magnitude da pesquisa sobre inovação em servi- tiu o acesso a um número de textos capaz de repre-
ços, como esse conceito é tratado e como as pes- sentar  o  estado  da  arte  do  tema  pesquisado  no
quisas sobre o tema são desenvolvidas, visando à período compreendido na busca.
geração de agendas de pesquisa no tema.
Nessa linha, este texto tem como objetivo
propor uma agenda de pesquisa para inovação em 2 INOVAÇÃO EM SERVIÇOS
serviços, com base em uma discussão articulada
de resultados de pesquisas que compõem o esta- Para  Lovelock  e  Wright  (2004),  serviços
do da arte relacionado a esse conceito. Foi reali- são atividades econômicas que criam valor e for-
zada busca nas seguintes bases de dados: SAGE necem benefícios para clientes em tempos e luga-
Journal on Line, JSTOR, SpringerLink, Emerald res específicos, como decorrência da realização de
and Oxford Journals, PROQUEST, ABI/Inform uma mudança desejada ou em nome do destina-
Global e Scielo. Essas bases cobrem os periódicos tário do serviço. A literatura dessa área considera
de maior impacto na literatura indexada. Adicio- que o “produto” do serviço é tido como algo in-
nalmente, foram consultadas as páginas de perió- tangível e naturalmente instável. Os serviços são
dicos  brasileiros  da  área  de  Administração,  não interativos,  requerendo,  muitas  vezes,  a  partici-
indexados  nessas  bases,  classificados  no  Qualis/ pação conjunta do prestador e do consumidor e
Capes no nível B2 ou superior e/ou que abordam podendo variar em cada execução, considerando
o tema inovação em sua política editorial: Orga- a mudança do consumidor e do prestador. Essas
nizações & Sociedade, Revista de Administração especificidades indicam que o fenômeno da ino-
e  Inovação,  Revista  de  Administração,  Revista vação  em  serviços  requer  abordagem  específica,

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distinta daquela utilizada para a inovação na pro- (materiais ou imateriais), assim como os processos
dução em geral. utilizados para produzir o produto; um terceiro
Segundo Gallouj (1994), há três aborda- vetor indica as competências de fornecedores; e o
gens que tratam da inovação  aplicada  aos  servi- último  define  as  competências  do  cliente-usuá-
ços: tecnicista, orientada a serviços e integradora. rio.  A  resultante  da  entrega  do  serviço  carrega
A abordagem tecnicista reduz a inovação à intro- interface entre produtores e usuários, sendo defi-
dução de sistemas técnicos (equipamentos, mate- nida como a simultaneidade da relação de traba-
riais,  comunicação)  nas  organizações.  Duas lho,  das  características  técnicas  e  competências,
taxonomias são referenciadas nesta abordagem: a que geram valor ao usuário final. A inovação pode
de Pavitt (1984), que classifica as organizações em ser definida de acordo com mudanças que afetam
setores com firmas intensivas em escala (por exem- um  ou  mais  vetores  de  características  (técnica  e
plo, produção de aço, carro), fornecedores espe- de serviços) ou de competências.
cializados (engenharia mecânica); firmas baseadas Na abordagem integradora, a inovação não
em ciência (química, por exemplo), setores domi- é definida como resultado, mas como processo, e
nados por fornecedores (serviço público, agricul- permite-se identificar diversos “modelos” de ino-
tura)  e  a  taxonomia  de  Miozzo  e  Soete  (2001), vação, como resultado da dinâmica de suas carac-
que adicionam à proposta de Pavitt (1984) orga- terísticas:  a)  inovação  radical,  com  a  criação  de
nizações que compõem redes informacionais (segu- um  novo  conjunto  de  vetores  de  competências,
ros, comunicações, bancos) e redes de larga escala. características  técnicas  e  de  serviço,  que,  forne-
A segunda abordagem, denominada abor- cendo o mesmo vetor de serviço, gera graus supe-
dagem orientada aos serviços, busca identificar a riores de valor ao usuário; b) inovação de melhoria,
natureza da inovação dos serviços e inclui, con- quando  o  conjunto  de  vetores  de  características
forme Gallouj (1994), três tipos de inovação em do serviço permanece inalterado, mas melhora o
serviços: ad hoc (processo de construção de solu- valor da qualidade de seus elementos individuais;
ção para um problema especifico), antecipatória c)  inovação  incremental,  quando  uma  nova
(novo campo do conhecimento ou  expertise a ser característica for adicionada, eliminada ou subs-
explorado) e formalizada (conjunto de mecanis- tituída, mas deixando o conjunto de vetores inalte-
mos  que  ajudam  a  definir  contornos  do  serviço rado;  d)  inovação  ad  hoc,  resultando  em  nova
com  certo  grau  de  tangibilidade,  como  regras, solução  para  um  problema  do  cliente,  seja  de
políticas, modelos). natureza  jurídica,  estratégica,  organizacional  ou
Também segundo Gallouj (1994), a ter- técnica;  e)  inovação  por  recombinação:  associa-
ceira abordagem, integradora, propõe uma visão ção ou dissociação de diferentes serviços e carac-
de produtos e serviços sob uma mesma teoria da terísticas  técnicas  –  nesse  contexto,  a  inovação
inovação.  Saviotti  e  Metcalfe  (1991)  descrevem incremental pode ser considerada como um caso
produto  como  uma  combinação  de  característi- particular  de  inovação  de  recombinação,  pois
cas técnicas e de serviços. Por exemplo, um carro envolve  a  adição  de  características  típicas  de
dispõe de uma série de características de serviço, produtos preexistentes –; f ) inovação por forma-
como  velocidade,  conforto,  consumo;  como lização:  ocorre  quando  uma  ou  mais  caracterís-
características técnicas, a transmissão, suspensão, ticas  melhoradas  do  serviço  são  formatadas  ou
o sistema elétrico, ou seja, o produto é uma com- padronizadas.
binação  de  funções  e  tecnologias.  Esses  autores Portanto, a abordagem integradora pressu-
consideram  que  um  produto  (bem  ou  serviço) põe que inovação, tanto em produto, no sentido
pode ser representado por um conjunto de vetores físico do termo, como em serviço, tem caracterís-
de características e competências interconectadas. ticas  similares,  o  que  poderia  tornar  a  inovação
Um  dos  vetores  representa  as  características  do em serviço apenas mais uma taxonomia. O que
serviço ou valor para os usuários finais; outro vetor dá suporte à corrente que defende a especificidade
representa as características técnicas do produto desse tipo de inovação, como é o caso de Gallouj

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(1994), é que a inovação em serviço incorpora a entre  organizações;  7  pesquisas,  8%  de  temas


relação entre fornecedor e usuário ou cliente. De como conhecimento intensivo, pesquisa e desen-
qualquer sorte, organizações de serviços também volvimento, e outros 9% exploraram temas diver-
se valem de inovações em produtos, que alteram sos, como qualidade de serviços, taxonomias de
os serviços prestados, como inovações em proces- inovação,  sistemas  flexíveis  e  sistemas  regionais
sos  de  gestão  em  saúde,  que  refletem  em  novos de  inovação.  Ainda  conforme  o  Quadro  1,  os
padrões  na  prestação  de  serviços  prestados  por setores  identificados  nas  pesquisas  foram:  enge-
hospitais,  conforme  explorado  por  Isidro-Filho, nharia  e  tecnologia,  com  22  artigos  (32%  do
Guimarães e Perin (2011). total);  indústria  multissetorial  de  hospitalidade
(cultura,  hotelaria,  alimentos  e  educação),  com
18 artigos (24%); telecomunicações, com 9 arti-
3 O ESTADO DA ARTE DAS PESQUISAS gos (12%); saúde, com 6 artigos (8%); comércio
SOBRE INOVAÇÃO EM SERVIÇOS varejista, com 6 artigos (8%); financeiro e segu-
ros,  com  5  artigos  (7%);  administração  pública
Foram identificados 73 artigos empíricos com  4  artigos  (5%);  e  serviços  públicos,  com  3
sobre inovação em serviços, publicados no perío- artigos (4%).
do de janeiro de 2005 a agosto de 2011, recupe- A maioria dos trabalhos foi distribuída em
rados na busca comentada na seção inicial deste países  da  Europa,  com  35%  dos  artigos;  Brasil,
ensaio. O Quadro 1 indica a distribuição desses com 26%; Estados Unidos, com 24%; Austrália,
artigos. China  e  Taiwan  com  3%,  cada  um;  Argélia,
Como mostra o Quadro 1, 24 pesquisas Canadá, Gana, Hong Kong, Japão e Tailândia com
sobre inovação em serviços, representando 33% 1%, cada um, do total de artigos. Ressalta-se que
do total, exploraram o tema estratégias de inova- a diferença entre os percentuais de artigos brasi-
ção e tecnologia; 18% referem-se a desempenho leiros  e  estrangeiros,  denotando  alto  índice  de
econômico e produtividade da firma; 16% trata- artigos encontrados no Brasil, se deu em função
ram  de  antecedentes  e  determinantes  da  inova- do critério de busca. As buscas a periódicos estran-
ção; outras 11 pesquisas, equivalentes a 16% do geiros  limitaram-se  a  periódicos  indexados,  ao
total,  exploraram  temas  como  desenvolvimento passo  que  a  busca  nacional  considerou  também
de  capacidades  em  rede,  alianças  e  colaboração periódicos não indexados, porém reconhecidos na

7HPDV 1  6HWRUHV 1 


Estratégias de Inovação e Tecnologia 24 33% Engenharia e Tecnologia 22 32%
Desempenho Econômico e Produtividade da 18% Indústria de Hospitalidade (educação, cultura,
13 18 24%
Firma hotelaria, alimentos)
Antecedentes e Determinantes de Inovação 12 16% Telecomunicações 9 12%
Desenvolvimento de Capacidades em Rede e 16%
11 Médios e Grandes Varejistas 6 8%
Colaboração entre Organizações
Conhecimento Intensivo, Pesquisa e
6 Saúde 6 8%
Desenvolvimento
8%
Financeiro e Seguros 5 7%
Temas diversos: qualidade de serviços,
taxonomias de inovação, sistemas flexíveis e 7 9% Administração Pública 4 5%
sistemas regionais de inovação Serviços Públicos (óleo, gás, transporte,
3 4%
água)
7RWDO   7RWDO  
Quadro 1–  Artigos  empíricos  sobre  inovação  em  serviços,  publicados  entre  2005  e  2011,  segundo  os
temas e setores pesquisados.
Fonte: dos autores com dados da pesquisa.

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área  de  Administração.  A  seguir,  são  apresenta- no relacionamento com os assinantes, na conver-


dos  esses  resultados,  agrupados  por  categorias gência  de  canais  de  relacionamento  interativo  e
pesquisadas, constituídas por análise de conteú- na política de publicidade para cada público.
do, segundo Bardin (2002). As categorias foram Edvardsson  e  Enquist  (2011)  estudaram
construídas a posteriori, a partir daquelas com base estratégias  de  inovação  em  serviços  em  quatro
em frequências de conteúdo dos títulos, resumo, companhias  estadunidenses,  apontando  como
introdução e resultados dos artigos encontrados. característica  comum  o  compartilhamento  de
valores destas para com os clientes e usuários, con-
siderando  um  aumento  do  nível  de  consciência
3.1 Estratégias de inovação e tecnologia dos  consumidores  quanto  à  responsabilidade
socioambiental  corporativa.  Os  resultados  indi-
Esse  agrupamento  envolve  artigos  que cam  que  plataformas  de  negócios  que  oferecem
investigam  a  relação  entre  inovação  e  estratégia experiências de serviços (físicas e virtuais) aos usuá-
em organizações. Paswan, D’Souza e Zolfagharian rios  –  mesmo  antes  de  comprá-los  –,  exposição
(2009)  dedicam  atenção  às  tipologias  de  inova- de marca e comunicação de marketing, alinhadas
ção, estudando sete células em empresas de servi- aos valores da organização e dos clientes, compar-
ços: dimensão externa, orientação para o cliente, tilhamento  de  valores  internos  entre  lideranças
incerteza  do  ambiente,  incerteza  e  inovação, e  empregados,  provêm  orientação  de  negócios
orientação estratégica, orientação estratégica e ino- sustentáveis,  considerando  a  cocriação  de  valor
vação, e orientação de mercado. Os autores sin- junto a clientes e fornecedores.
tetizam  a  proposta  considerando  as  seguintes Weber, Haas e Scuka (2011) estudaram o
dimensões:  incerteza  do  ambiente,  orientação setor de telefonia móvel europeu e apontam que
estratégica e orientação para o mercado. Confor- as inovações nesse setor são, em sua maioria, ori-
me os autores, embora seja o cliente quem deter- ginárias dos EUA e do Japão e que as organiza-
mina o valor da inovação do serviço, a empresa ções  de  telefonia  móvel  europeias  atuam  com
é  responsável  pela  elaboração  de  proposição  de baixos  níveis  de  competitividade  tecnológica  e
valor e gestão do processo de cocriação das inova- pouca orientação ao cliente. Schroth (2006), ao
ções. Uma maior percepção de incerteza ambiental investigar bancos de investimentos, observou que
é associada a riscos mais elevados, mas também a a estratégia de imitação aparentemente pode ser
mais e novas oportunidades. Isso pode incentivar eficiente no curto prazo, no que tange à adoção de
empresas de serviços a participar de atividades de inovações, mas que no longo prazo tal estratégia
inovação radical, ao passo que, quanto menores torna-se menos atraente por não apresentar van-
forem os níveis de incerteza do ambiente, meno- tagem competitiva para esses bancos. Já Victorino
res serão os níveis de risco às variações de merca- et al. (2005) buscam compreender a relação entre
do, e tal estabilidade pode induzir a processos de estratégias de adoção da inovação em serviços na
inovações incrementais. indústria hoteleira e de entretenimento e a influên-
Mesak et al. (2011) investigaram serviços cia de escolha dos clientes. A pesquisa ressalta que
de assinatura de canais a cabo canadense com foco a estratégia deve ser operacionalizada por nichos,
na política de publicidade. Essa indústria de entre- uma  vez  que  a  inovação  percebida  apresenta-se
tenimento  apresenta  características  peculiares, de  forma  diferenciada  segundo  as  categorias  de
uma vez que há grandes receitas geradas por publi- clientes do setor.
cidade, devendo as organizações buscar o ponto Carvalho Júnior, Silva e Zawislak (2008),
ótimo  para  esse  investimento,  ou  seja,  o  cresci- ao estudarem células de serviços de produção no
mento ilimitado desse tipo de receita pode impli- setor automotivo, relatam que a estratégia de ino-
car percepções negativas de assinantes. Os autores vação tende a traduzir a combinação do conheci-
comentam que as inovações nesse setor registram- mento  dos  ambientes  externo  e  interno  e  que  a
se na forma de oferta de novas grades de canais, constância de inovação fortalece e valoriza a mar-

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Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa

ca de serviços da organização. Gavira et al. (2007) vação. Souza e Bastos (2009) analisaram a adoção
analisaram  ferramentas  de  operacionalização  de de padrões de inovação e a política de gestão de
estratégias  de  inovação,  concluindo  que  o  funil pessoas de organizações brasileiras, concluindo que
de inovação mostrou-se adequado na subsidiária empresas consideradas muito inovadoras tendem
da multinacional estudada, desde que se conside- a adotar políticas específicas de gestão de pessoas
rem pequenos ajustes, como a adequação a dife- nas áreas de saúde e desenvolvimento profissional.
rentes  culturas  e  rotinas  empresariais,  a  adoção Tingvall e Karpaty (2011) investigaram a
de ferramentas de apoio e atividades de incentivo relação entre a inovação e a concorrência em fir-
e a motivação dos funcionários. mas de serviços suecas. Os resultados indicam que,
Judice e Baêta (2005) estudaram a relação quando  a  concorrência  aumenta,  as  pequenas
entre  gestão  da  inovação,  modelos  empresariais empresas  tendem  a  buscar  alianças  estratégicas
e  investimentos  em  empresas  brasileiras  de  bio- com  os  concorrentes,  ao  passo  que  as  grandes
tecnologia. Os resultados obtidos indicam escas- empresas  tendem  a  reduzir  essa  colaboração.  O
sez  de  inovações  e  investimentos  nas  empresas comportamento  de  grandes  empresas  pode  ser
pesquisadas, e que, embora haja forte dedicação à parcialmente  explicado  em  razão  de  sua  capaci-
pesquisa e ao desenvolvimento, registra-se baixa dade de lidar com projetos de inovação interna-
intensidade de inovação, conforme indicado por mente. As alianças estratégicas tendem a ser vis-
obtenção  de  propriedade  intelectual.  Mussi  e tas como uma ferramenta para gestão de riscos,
Canuto (2008), ao investigarem a interpretação como  redução  de  custos  e  complementaridades
de  usuários  sobre  a  adoção  de  inovações  tecno- de recursos.
lógicas em sistema de transporte e frota, consta- Martin et al. (2011) pesquisaram em qua-
tam  que  os  usuários  percebem  como  presente  a tro hospitais os desafios da introdução de novas
maioria dos atributos referenciados nessa revisão formas de trabalho no sistema de saúde na Ingla-
de  literatura.  A  pesquisa  de  Nascimento,  Yu  e terra,  com  foco  na  distância  entre  a  geração  da
Sobral  (2008)  identificou  orientações  estratégi- ideia e a dificuldade de implantá-la ou de colher
cas da inovação para o mercado de varejo popular resultados  em  um  sistema  complexo,  identifi-
no Brasil. Entre os resultados mais significativos cando um efeito “evaporação de melhorias”. Os
estão a padronização de produtos/serviços baratos, resultados apontam que a estratégia de inovação
aumento do conteúdo de autosserviço, oferta por só é eficaz se as mudanças organizacionais pude-
canais de distribuição alternativos e extensão de rem ser sustentadas por gestores, médicos e pro-
financiamento com prestações baixas. fissionais da linha de frente. Do contrário, a mais
Santa  et  al.  (2011)  investigaram  o  valor valia do serviço não será percebida pelo usuário.
efetivo gerado por inovações tecnológicas, como Ting et al. (2011) estudaram impactos da
Enterprise Resource Planning (ERP) nos resulta- implantação de um prontuário eletrônico à base
dos organizacionais de longo prazo. Observou-se de radiofrequência no sistema de saúde de Hong
uma lacuna na mensuração dos benefícios da ino- Kong.  Essa  inovação  permitiu  uma  nova  forma
vação para o sistema organizacional, enfraquecen- de  acesso  aos  diagnósticos  e  tratamentos  dos
do a relação entre a eficácia dos sistemas imple- pacientes com o uso de sistemas compartilhados
mentados com a eficácia operacional organizacio- de  informação.  Os  resultados  mostraram  a  per-
nal.  Perin,  Sampaio  e  Faleiro  (2005)  buscaram cepção  positiva  dos  usuários  e  pacientes  diante
compreender, em organizações de serviços, a rela- da inovação, em razão dos fatores acessibilidade,
ção entre orientação para o mercado e orientação velocidade e segurança das informações disponi-
para  aprendizagem  e  inovação.  Os  resultados bilizadas,  impactando  a  relação  de  serviço  exis-
demonstraram uma influência positiva e signifi- tente. Sutthijakra (2011) investigou a adoção de
cativa da orientação para o mercado sobre a ino- padrões  operacionais  por  subsidiárias  de  hotéis
vação  de  produtos  e  serviços,  além  do  impacto multinacionais na Inglaterra e em Taiwan. A ado-
indireto da orientação para aprendizagem na ino- ção  de  inovações  por  meio  da  transferência  de

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melhores práticas, considerando o contexto, mini- e  menos  frequentemente  orçada.  E,  como  lacu-


miza as tensões entre a definição de padrões glo- na, os autores reforçaram a necessidade de cria-
bais e a adaptação local, promovendo um contí- ção de medições mais precisas para serviços.
nuo  processo  de  negociação.  Concluiu-se  que  a Cainelli, Evangelista e Savona (2006) explo-
necessidade de um controle rígido pela matriz deve raram a relação entre inovação e desempenho econô-
ser mediada pelas adaptações locais. mico em organizações de serviços, utilizando dados
Li (2011) estudou a inovação em sistemas longitudinais, oriundos da Community Innovation
inteligentes nos serviços de governo eletrônico em Survey (1993-95) e de variáveis econômicas pre-
instituições  educacionais  chinesas,  comparando vistas pelo Sistema de Contabilidade Empresarial
os  resultados  com  países  como  a  Austrália  e  o (1993-98). Os autores demonstram que a inovação
Canadá. Foram avaliadas, em relação aos serviços é positivamente impactada pelo desempenho eco-
de informação ofertados, a transparência e a qua- nômico pretérito e que as atividades de inovação
lidade da decisão, a satisfação com a decisão, bem têm um impacto positivo sobre o crescimento e
como o sentimento de controle, a percepção de produtividade da firma, agindo como um meca-
poder  na  relação  com  o  usuário  e  a  imagem  do nismo de autorreforço da economia. De igual for-
governo.  Concluiu-se  que  a  transparência  na ma, Canepa e Stonemany (2007), ao realizarem
tomada de decisões e a satisfação com a tomada análise dos dados da Community Innovation Survey
de decisão são fatores-chave na produção de um para os anos 1998-2000, verificaram que fatores
maior senso de autoridade, incluindo uma maior financeiros geram impacto sobre a atividade inova-
percepção na relação de poder com a agência do dora, sendo mais percebido nos setores de tecnolo-
governo com a sensação de estar no controle. Essa gia e em pequenas empresas, e que o desempenho
abordagem  melhorou  a  percepção  dos  usuários das empresas pode ser afetado por restrições finan-
das agências públicas prestadoras de serviços. Tsou ceiras  ou  de  liquidez,  impactando  as  atividades
e Hsu (2011) estudaram a inovação em serviços de P&D.
eletrônicos e sua relação com o desempenho da Masso e Vahter (2011) investigaram liga-
firma. O estudo mostra que a inovação nos ser- ções entre inovação e produtividade em diversos
viços  eletrônicos  tem  uma  relação  positiva  com ramos  do  setor  de  serviços  na  Estônia,  conside-
os valores globais da empresa, não necessariamente rando gastos com inovação, resultados, produti-
financeiros, principalmente por meio de práticas vidade  e  exportações.  Foi  demonstrada  associa-
de cocriação de valores com clientes e com outras ção positiva entre inovação e produtividade, sen-
redes de inovação. do  mais  forte  em  serviços  menos  intensivos  em
conhecimento. A variável exportação apresentou-
se  com  um  impulso  nas  atividades  inovadoras
3.2 Desempenho econômico e produtividade da das  firmas  de  serviços.  Nos  KIBs  (Knowledge
firma Intensive  Business  Services)  embora  os  investi-
mentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
Essa categoria trata da relação entre ino- sejam mais elevados e haja mais indicadores, houve
vação,  desempenho  econômico  e  produtividade baixo índice de transformação dos resultados dos
das organizações. Hertog, Gallouj e Segers (2012) processos de inovação.
pesquisaram  a  adoção  de  inovação  em  firmas Eisingerich, Rubera e Seifert (2009) pes-
holandesas  ligadas  à  indústria  de  hospitalidade. quisaram como o relacionamento interorganiza-
Os  resultados  apontam  que  a  inovação  nesse cional influencia a inovação e o desempenho da
setor é maior e mais variada do que a regularmente firma, com base no pressuposto de que a rede de
publicada e mostram que a maior intensidade de organizações funciona como um conjunto forma-
inovação  está  associada  ao  melhor  desempenho lizado de relações de cooperação entre concorren-
da empresa. O setor apresentou a inovação de modo tes e colaboradores ao longo do tempo, a fim de
menos formal, menos explicitamente gerenciada transmitir informações e transferir conhecimento.

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Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa

Concluíram  que  a  extensão  da  heterogeneidade capacidade  de  conexão  com  clientes,  ativos  de
entre parceiros favorece a aquisição e o emprego recursos  humanos  e  capacidade  de  inovação.
de diferentes capacidades competitivas e, conse- Os resultados indicam que além desses recursos,
quentemente, influencia a capacidade de inova- ativos  e  habilidades  empresariais  influenciam  o
ção  e  desempenho  da  firma.  Kleijnen,  Ruyter  e desempenho da inovação em organizações.
Andreassen (2005) alinharam o desempenho da
firma ao conceito de congruência de imagem (jus-
taposição entre imagem da organização percebi- 3.3 Antecedentes e determinantes de inovação
da por consumidores e a inovação) e concluíram
que essa congruência tem um impacto na atitude Nessa categoria encontram-se artigos a res-
de clientes e na intenção de uso de novos serviços. peito de organizações que dispõem de um ambien-
Ordanini  e  Rubera  (2010)  defendem  que  com- te inovador, considerando características e fatores
preender  os  efeitos  das  inovações  relacionadas determinantes  da  inovação.  Forsman  (2011)
com desempenho é crucial para a sustentabilidade investigou a capacidade de inovação de pequenas
das empresas. manufaturas  e  empresas  de  serviços,  conside-
Petratos (2005), ao analisar o setor de saúde rando o investimento em Pesquisa e Desenvolvi-
da Inglaterra, observa que, por meio da inovação, mento (P&D), as capacidades e a participação em
tem-se aumentado a eficácia do sistema de saúde redes  como  forma  de  alimentar  processos  ino-
e das respectivas organizações. Situação similar foi vadores.  Foram  avaliadas  as  inovações  surgidas
observada  por  Prieger  (2009),  ao  analisar  a nos últimos quatro anos e os respectivos graus de
regulação, a inovação e a oferta de novos serviços radicalidade e de abrangência na organização. Os
para  o  setor  de  telecomunicações.  Quatraro padrões de desenvolvimento de inovação são tão
(2009)  associou  o  crescimento  econômico  em diversificados  nos  setores  dos  serviços  como  na
indústrias italianas à inovação e à mudança estru- manufatura.  Essa  rica  diversidade  sugere  a  cria-
tural. Ferigotti (2007), ao analisar a influência da ção de políticas destinadas a apoiar o desenvolvi-
aprendizagem  no  desempenho  das  inovações, mento da inovação no respectivo contexto, uma
registra que o acúmulo de competências tecnológi- vez  que  tanto  a  indústria  transformadora  como
cas inovadoras resulta de fluxos de conhecimento os serviços não são internamente homogêneos.
para inovação. Enquanto Segatto-Mendes e Lemos Já Chen, Tsou e Huang (2009) pesquisaram
(2007) relacionam a adoção de inovações ao desem- três  fatores  antecedentes  da  inovação  na  presta-
penho organizacional, medido por meio de resul- ção de serviços: colaboração com parceiros exter-
tados  financeiros  e  ambientais,  em  organização nos,  orientação  para  inovação  e  capacidade  de
do setor público que atua na área de saneamento. tecnologia  da  informação  –  este  último,  tendo
Já Prajogo (2006) explorou a relação entre como suporte infraestrutura, recursos humanos e
inovação (produto e processo) e desempenho do ativos  intangíveis  de  Tecnologia  da  Informação
negócio  (crescimento  de  vendas,  market  share  e (TI).  Os  resultados  indicaram  relação  entre  tais
rentabilidade), comparando os setores industriais antecedentes e o desempenho da empresa, a aber-
e de serviços, buscando analisar se a inovação ocor- tura organizacional a novas ideias e a propensão
re em níveis diferentes em empresas de serviços e para  a  mudança  por  meio  da  adoção  de  novas
em serviços, o que torna mais difícil identificar a ideias,  tecnologias,  recursos,  habilidades  e  siste-
existência de inovação, não significando dizer que mas administrativos e à capacidade de introduzir
as empresas de serviços estão atrasadas em maté- algum novo processo, produto ou ideia. Especifi-
ria de inovação em relação às indústrias. O traba- camente o fator “colaboração com parceiros” foi
lho de Perin, Sampaio e Hooley (2007) avalia a entendido  como  um  processo  de  interação,  por
relação de recursos da empresa com desempenho meio  do  qual  ativos  complementares  são  troca-
de inovação, com ênfase em recursos, como orien- dos com parceiros externos, em que as organiza-
tação  para  o  mercado,  capacidades  gerenciais, ções  tendem  a  cooperar  quando  seus  recursos  e

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objetivos complementam um ao outro, e isso pode são  consideradas  os  direcionadores  mais  impor-


incluir o compartilhamento de recursos materiais tantes  do  processo  de  inovação.  O  feedback  dos
e capacidades. clientes é a atividade mais importante para incen-
Damanpour  e  Schneider  (2008)  estuda- tivar  as  inovações  em  serviços,  ao  passo  que  o
ram a associação entre as características de inova- retorno dos investimentos é o fator mais impor-
ção e a adoção da inovação no setor público. Fre- tante na tomada de decisão para analisar a viabili-
quentemente, as inovações são observadas como dade da inovação. Os funcionários são a fonte mais
respostas  da  organização  às  forças  ambientais, importante de ideias de inovação. Ademais, inte-
como  crescimento  populacional  e  condição  da rações  entre  diferentes  empresas,  bem  como  o
economia, bem como as características organiza- envolvimento de clientes, colaboradores e forne-
cionais, como porte e sindicalização da força de cedores no processo de inovação, são cada vez mais
trabalho. Os autores enfatizam que, além desses importantes. O estudo mostra ainda que os pres-
fatores externos e internos, a adoção de inovação tadores  de  serviços  e  os  clientes  colaboram  fre-
no  setor  público  também  é  influenciada  por quentemente  nos  processos  de  inovação,  e  que
características como custo, complexidade e van- muitas  das  atividades  são  realizadas  simultanea-
tagem relativa e seu impacto. Fleuren, Wiefferink mente. Os resultados dessa colaboração requerem
e Paulussen (2005) desenvolveram estudo sobre a disponibilidade de recursos em gestão e coorde-
determinantes de inovação, especialmente para a nação  do  processo  de  inovação  de  forma  estru-
área  de  saúde,  definindo  as  principais  fases  dos turada, eficiente e eficaz.
processos  de  inovação:  difusão,  adoção,  imple- Tien e Berg (2007) também pesquisaram
mentação e manutenção. A transição de uma fase antecedentes de inovação em serviços eletrônicos
à  seguinte  pode  ser  afetada  por  vários  fatores, nos Estados Unidos, encontrando como resultado:
como: (i) características do contexto sociopolítico direcionadores  de  clientes  (colaboração,  custo-
(regras,  legislação  e  características  dos  clientes mização, integração e adaptação), direcionadores
do  processo);  (ii)  características  da  organização de negócio (foco na solução e na concorrência),
(rotatividade de pessoal ou a tomada de decisão princípios de negócio (reconstrução de fronteiras
na organização); (iii) características da pessoa que do mercado, ir além da demanda existente, obter
adota as inovações – usuário da inovação (conhe- sequência estratégica, superar barreiras organiza-
cimentos, habilidades e percepção de suporte por cionais e construir a execução da estratégia), capa-
parte dos colegas); e (iv) características da inova- citadores  técnicos  (algoritmos,  automação,  tele-
ção (complexidade ou vantagem relativa). comunicações, colaboração, padronização, custo-
Gebauer et al. (2008) pesquisaram ante- mização, organização e globalização), e atributos
cedentes requeridos para a inovação em serviços e de  decisão  de  informação  (decisão  direcionada,
como tais requisitos diferem durante o desenvolvi- baseada em informações, em tempo real, continua-
mento do processo produtivo e durante o uso do mente-adaptativa, centrada no cliente e compu-
serviço. Os autores encontraram quinze anteceden- tacionalmente intensiva). Walker (2007) estudou
tes que impactam a inovação no setor de serviços, antecedentes ambientais como estruturas orgânicas
como a presença do envolvimento dos trabalha- do serviço em organizações públicas, verificando
dores da linha de frente, o compartilhamento de que estes são sustentados por robustos processos
informação, as equipes multifuncionais, a tecno- organizacionais  e  por  tipos  de  inovação  auxilia-
logia da informação, a organização interna e for- res,  considerando  a  complexidade  do  ambiente
mação e a educação, que têm um impacto seme- público e do tipo de serviço prestado.
lhante sobre o sucesso das inovações em serviços. Cabral (2007) identificou variáveis orga-
Panesar e Markeset (2008) identificaram nizacionais que influenciam a probabilidade e a
direcionadores da inovação para compreender a intensidade de inovações no Brasil, confirmando
coordenação e a gestão da inovação em serviços. que  os  ativos  para  inovação  –  investimento  em
O estudo indica que as necessidades do mercado tecnologia, investimento em P&D e alianças com

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outras empresas, institutos de pesquisa e univer- cada vez mais criam ofertas inovadoras de serviços
sidades para execução externa de P&D – deter- provenientes de atuação em rede, resultando em
minam significativamente a probabilidade de uma novas ofertas avançadas de serviços, derivadas de
empresa inovar. Ainda sobre P&D como antece- parcerias ou de mérito individual organizacional.
dente, Coutinho e Bontempo (2007) exploraram O conceito de OSE é uma oferta de serviço novo
o processo de desenvolvimento de inovações em ou avançado que deriva de um acordo de colabo-
empresa brasileira, apontando o investimento em ração, uma vez que não poderia ser entregue por
P&D, a competência da equipe de P&D e o apoio méritos individuais organizacionais, gerando capa-
da alta administração como fatores presentes para cidades de inovação, que permitem a exploração
a mobilização do estoque de conhecimento acu- radical e incremental de novos produtos, serviços,
mulado ao longo do tempo. processos  e  práticas  de  negócios.  Além  disso,  as
Machado  e  Vasconcelos  (2007)  verifica- constantes  mudanças  nas  demandas  de  clientes
ram a relação entre a constituição de um ambiente fazem que as organizações não só sejam inovado-
inovador e a maneira pela qual elementos de cul- ras, mas ágeis e aderentes ao propósito do negócio.
tura  se  relacionam  nas  organizações  brasileiras Esses autores ainda destacam que a colaboração
estudadas.  Os  elementos  de  cultura  fortemente tem se mostrado como fator precursor da apren-
observados foram: valores, crenças e pressupostos, dizagem organizacional, lidando com a cocriação
ritos, rituais e cerimônias, estórias e mitos, tabus, de valor junto ao cliente no setor de serviços.
heróis e comunicação. Artefatos e símbolos foram Alexander et al. (2009) analisam reações
encontrados  com  menor  incidência.  Dessa  for- de compradores no varejo e suas contribuições para
ma, a pesquisa confirma que organizações inova- a inovação por meio de processos de cocriação de
doras possuem elementos de cultura que podem valor, alterando ambiente físico, produtos e ser-
propiciar e incentivar o desenvolvimento de inova- viços  de  autoatendimento,  explorando  o  know-
ções.  Já  Miguel  e Teixeira  (2009)  investigaram  a how  de  clientes  para  a  inovação  nos  serviços.
relação entre valores organizacionais e a criação do Arvanitis  e  Woerter  (2009),  com  base  em  uma
conhecimento para a inovação. Os resultados indi- amostra de 19 clusters de empresas suíças, estuda-
cam que os valores organizacionais apresentaram- ram  estratégias  e  atividades  de  transferência  de
se associados principalmente a aspectos de criação conhecimento e tecnologia entre empresas, uni-
do conhecimento no âmbito interno das organi- versidades e instituições públicas de pesquisa, con-
zações. Por fim, Lopes e Souza (2005) estudaram cluindo  que  as  organizações  procuram  novas
inovação sob a perspectiva do empreendedorismo, maneiras  de  conectar  sua  própria  produção  de
observando os graus em que os fatores de planeja- conhecimento  a  recursos  de  conhecimentos
mento, realização, poder e inovação são presentes externos, podendo se tornar fontes para as ativi-
na atitude de gerentes de organizações varejistas. dades de P&D e de inovação. Esses autores alertam
que as atividades de P&D entre empresas e uni-
versidades estão mais focadas na inovação radical
3.4 Desenvolvimento de capacidades em rede e e  na  criação  de  novos  produtos,  estimulando  a
colaboração entre organizações produção de patentes industriais. Por outro lado,
ainda segundo esses autores, as atividades de P&D
Essa categoria trata de artigos que investi- entre empresas e fornecedores estão mais focadas
gam a relação entre desenvolvimento de capaci- em reduzir custos de insumos e melhoria dos pro-
dades  inovadoras  em  rede,  acordos  de  colabo- cessos, aumentando a produtividade do trabalho.
ração no nível organizacional e outras interações. Fontana  e  Guerzoni  (2007)  estudaram
Agarwal  e  Selen  (2009)  pesquisaram  o  impacto pequenas  e  médias  empresas  de  sete  países  da
da construção de capacidade dinâmica de inova- União Europeia (Dinamarca, França, Alemanha,
ção por intermédio da oferta de serviços elevados Grécia, Itália, Holanda e Reino Unido) em cinco
(OSE), descrevendo que as organizações de serviço setores: alimentos e bebidas, produtos químicos,

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equipamentos de comunicações, serviços de tele- tida”, “interessante”, “instrutiva” e “inspiradora”.
comunicações  e  serviços  de  informática.  Esses Concluiu-se que o contato estruturado e media-
autores analisaram o impacto da demanda sobre do com representantes de toda a cadeia de valor
a inovação, concluindo que a presença de incen- do serviço trouxe resultados relevantes para o pro-
tivos econômicos estimula a inovação e a interação cesso de desenvolvimento das organizações.
com clientes, permite a redução da incerteza da Westergren (2011) avaliou fatores contex-
inovação, principalmente a radical, uma vez que tuais de criação de valor, cooperação, competên-
empresas inovadoras veem os clientes como uma cia, complexidade e controle no processo de ino-
das principais fontes de informação. Sunley et al. vação de uma firma sueca de serviços hidráulicos.
(2008) abordam a questão da inovação e criativi- O estudo mostra que a inovação requer, além de
dade  em  sistemas  de  produção  cultural,  consi- coerência com metas estabelecidas de qualidade,
derando  que  relações  entre  clientes,  rotinas  da tempo e custos, a criação de valor mútuo e o desen-
empresa e competências são mais importantes para volvimento  de  uma  forte  relação  de  confiança
o  desenho  da  inovação  que  a  cooperação  inter- interorganizacional.  Ainda  conforme  esse  autor,
firmas. Após trazer a discussão sobre a capacidade também  se  deve  considerar  tanto  a  natureza  da
de gerar inovação em rede, o agrupamento refe- tecnologia da informação como o contexto social
re-se às organizações que fazem uso de conheci- do ambiente.
mento  intensivo  em  seu  portfólio,  bem  como  à Tseng et al. (2011) estudaram a inovação
tênue relação das atividades de P&D com a ino- na indústria de entretenimento de Taiwan, consi-
vação, principalmente no setor de serviços. derando  a  convergência  das  características  dos
Mention  (2011)  identificou  a  influência parques culturais locais. Os resultados identifica-
de práticas de cooperação e de uso de fontes de ram inovações de toda ordem, de acordo com o
informação internas e externas na introdução de ambiente  geográfico,  variando  desde  o  tipo  de
inovações no setor de serviços em países europeus. atividade oferecida à publicidade apresentada para
Os resultados mostram que as empresas que dis- cada  público. Tais  inovações  foram  extraídas  da
põem de informações baseadas em fontes de mer- experiência com usuários ou desenvolvidas  pelo
cado e em fontes internas, bem como das empre- próprio  governo.  Fuglsang,  Sundbo  e  Sorensen
sas envolvidas em colaboração baseada na ciência (2011) buscaram identificar padrões e dinâmicas
para as inovações de seus produtos, são mais pro- de inovação na experiência de empresas de servi-
pensas a introduzir inovações para o mercado, ao ços de construção civil dinamarquesas. Os resul-
passo que as informações provenientes dos con- tados  indicam  que  a  inovação  nessas  empresas
correntes parecem ter influência negativa sobre o ocorre com base na abertura para interação com
grau de novidade de serviços. Vê-se que, enquan- as  partes  interessadas  em  determinadas  ativida-
to  algumas  organizações  se  contentam  em  se des, como design de processos. O estudo mostrou
beneficiar  da  difusão  de  conhecimentos,  outras que  empresas  inovadoras  também  procuram
necessitam envolver-se em atividades de coopera- diferenciar-se fortemente de outras empresas do
ção para a inovação. Rexfelt et al. (2011) estuda- setor, caracterizando a inovação como interativa
ram o serviço de cocriação com clientes, que repre- e situada. Essas características são vistas como for-
sentavam  uma  indústria  automobilística,  uma ças  complementares  para  beneficiar  o  processo
empresa de transporte e uma universidade sueca. de inovação.
Foram investigados métodos e práticas de traba- Balestrin, Vargas e Fayard (2005), buscan-
lho  de  análise  de  problemas,  geração  de  ideias, do compreender o efeito rede nos processos de ino-
desenvolvimento e avaliação dos serviços. Os resul- vação em polos de informática no Brasil e na Fran-
tados apontaram que os usuários selecionados das ça, ratificam a importância da complementaridade
organizações  envolvidas  mostraram-se  acessíveis de  conhecimentos  nos  processos  de  inovação  e
ao  processo  cocriativo,  classificando  impressões sugerem que o surgimento do efeito rede, em tais
da  atividade  metodológica  lúdica  como  “diver- arranjos industriais, é muito mais complexo que

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o simples fato de aproximar um grupo de atores camente  no  conhecimento  tácito  individual,


em um mesmo espaço geográfico. Gava e Vidal podem ser inibidas. O conhecimento tácito cole-
(2009) analisam a forma de gerar inovação tecno- tivo  é  mais  estreitamente  associado  a  inovações
lógica no setor de telecomunicações por meio de radicais,  exigindo  competências  em  equipes  e
um  sistema  estruturado  de  interação  com  for- rotinas; e o conhecimento explícito coletivo está
necedores de equipamentos, clientes, centros de associado a melhorias incrementais.
pesquisa  e  universidades,  observando  um  acú- Mudambi (2008), ao pesquisar ativos intan-
mulo de competências voltadas para necessidades gíveis em organizações de uso de conhecimento
dos clientes. intensivo, aponta que a criação de valor é baseada
Cherchem (2011), ao estudar a inovação em em  especialização,  em  atividades  não  rotineiras,
bancos  argelinos,  buscou  identificar  os  impactos que resultam em inovação contínua. Esse estudo
de práticas de uma economia baseada no conhe- ratifica a importância de patentes, marcas, direito
cimento no setor financeiro do país. Os resultados de propriedade, estruturas organizacionais inimi-
apontaram para a interação informal de trabalha- táveis  e  relações  interorganizacionais,  conforme
dores em comunidades de prática como fonte de já visto por Augier e Teece (2006). Reichstein e
criação  de  conhecimento  inovador,  observando Salter  (2006)  investigaram  o  impacto  de  fontes
que existem práticas passivas de aquisição e trans- de  conhecimentos  externos  e  os  efeitos  no  pro-
formação de novos conhecimentos. O autor identi- cesso  de  inovação,  considerando  fontes  diversas
ficou que nenhum entrevistado da pesquisa demons- tradicionais de atividades inovadoras, como P&D.
trou ter contatos com instituições de pesquisa do Esses autores consideram o processo de inovação
setor, inclusive com investigadores de universida- como a introdução de novos elementos em pro-
des. Esses contatos, segundo o autor, poderiam pro- cessos produtivos da organização, na gestão dos
jetar o aumento do conhecimento para resolução insumos, nas especificações de tarefas, nos fluxos
de problemas e desenvolvimento do processo de de informações, nos equipamentos utilizados para
inovação. Embora os entrevistados tivessem indi- produzir um produto ou prestar um serviço com
cado que a criação e o lançamento de novos produ- o  objetivo  de  reduzir  os  custos  e/ou  aumentar
tos e serviços são importantes para o desenvolvi- a  qualidade  dos  produtos,  como  proposto  por
mento de organizações, apontou-se a dificuldade Utterback e Abernathy (1975) e Rosenberg (1982).
de conviver com riscos de inovação como a razão Gallaher e Petrusa (2006), ao pesquisarem
maior para a inércia inovativa. o setor de telecomunicações dos Estados Unidos,
observaram  que  uma  ampla  gama  de  empresas
atua  na  exploração,  manutenção,  tratamento  e
3.5 Conhecimento  intensivo  e  Pesquisa  & transmissão de voz, dados, texto e imagens entre
Desenvolvimento (P&D) pontos  de  rede  de  telecomunicações  local  e  de
longa  distância.  Os  autores  consideraram,  tam-
Esse tema refere-se a pesquisas, em orga- bém,  que  os  serviços  de  transmissão  de  voz  e
nizações, que fazem uso de conhecimento inten- dados internacionais estão se tornando as princi-
sivo, bem como a relação das atividades de P&D pais fontes das receitas de serviços dessas empre-
com a inovação. Leiponen (2006) examina os efei- sas, levando em consideração a natureza da P&D
tos do conhecimento sobre o desempenho da ino- como fonte de inovação para esses serviços. Por
vação  em  serviços,  apontando  que  as  empresas fim, Castro e Basques (2006) analisam o processo
diferem em relação a suas abordagens de criação de  mudança  organizacional  planejada  em  uma
do conhecimento e que elas têm implicações para empresa familiar de base tecnológica e os fatores
as atividades de inovação. O estudo constata que internos e externos mais relacionados ao processo,
as melhorias na introdução de novos serviços são encontrando como fatores de impacto: gestão de
significativamente associadas com o conhecimen- pessoas, estrutura organizacional, processos geren-
to coletivo. As inovações, quando baseadas uni- ciais e as estratégias empresariais.

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3.6 Temas diversos da estratégia, avaliação, decisão e implementação.


Nyonator et al. (2005), ao pesquisarem serviços
Nessa seção são discutidos estudos relacio- ofertados  por  programas  nacionais  de  saúde  no
nados a temas diversos, como inovação em quali- continente  africano,  observaram  que  inovações
dade de serviços, inovação em sistemas flexíveis e implementadas neste setor permitiram sua expan-
sistemas regionais de inovação. Song, Song e Di são para a periferia por meio da mobilização de
Benedetto (2009) discorrem sobre um modelo de voluntariado, recursos e instituições culturais para
inovação em serviços para tomar decisões basea- a ampliação da mudança organizacional.
das no desenvolvimento de novos produtos e na O único artigo que fez referência ao siste-
literatura de qualidade do serviço. Os tomadores ma regional de inovação foi o de Petraite (2009),
de decisão podem usar as medidas desenvolvidas cujo conceito de sistema regional de inovação repre-
no estudo como um checklist para identificar pon- senta uma tendência na política de inovação, con-
tos fortes na prestação de serviço a clientes, con- siderando a aprendizagem interativa de actantes,
siderando o desenvolvimento e seleção de ideias, como institutos de pesquisa, universidades, agên-
análise  de  oportunidade  de  mercado,  desenho, cias  de  apoio  à  inovação,  câmaras  de  comércio,
teste e lançamento do produto. Essas etapas, asso- bancos e departamentos governamentais.
ciadas à verificação da qualidade percebida do ser-
vido, preconizada na metodologia SERVQUAL,
permitem  a  gestão  do  desempenho  do  serviço. 4 DISCUSSÃO E PROPOSTA DE AGENDA
Su (2011) explorou a inovação em serviços DE  PESQUISA  SOBRE  INOVAÇÃO  EM
na experiência com consumidores de restaurantes SERVIÇOS
étnicos na China. Os resultados mostram influên-
cia positiva entre a percepção da inovação na rela- Reis  (2003)  aponta  que  uma  agenda  de
ção de serviço e a intenção comportamental. Castro, pesquisa,  além  de  se  pautar  nas  respectivas  sus-
Montoro-Sanchez  e  Ortiz-De-Urbina-Criado tentações teóricas, a fim de modelar parâmetros
(2011) compararam o comportamento de empre- e  análises,  por  mais  empíricas  que  sejam,  deve,
sas  de  serviços  e  empresas  de  manufatura  espa- por  premissa,  identificar  e  privilegiar,  por  crité-
nholas quanto às inovações tecnológicas, organi- rios ordenadores, temas e abordagens candentes.
zacionais  e  comerciais.  A  análise  mostrou  que Para tal, a autora considera premente desenvolver
empresas de manufatura têm maior tendência para uma moldura geral para envolver a discussão dos
realizar inovações tecnológicas em produtos e pro- achados,  tratando  das  potenciais  tensões  e  con-
cessos, ao passo que empresas de serviços são mais tradições  entre  os  princípios  orientadores  da
propensas à realização de inovações organizacio- investigação.  A  expressão  “agenda  de  pesquisa”
nais e atividades comerciais, passando pelo design pode  ser  entendida  como  um  programa  de  tra-
de serviços e produtos, que interagem com clientes. balho  pertinente  a  uma  comunidade  científica
A tendência futura deve ser determinada pelo uso e incluir, entre outras preocupações, o exame crí-
de abordagens analíticas integradas, que propõem tico e analítico da interação entre o pesquisador e
modelos para refletir todos os tipos de inovação, o fenômeno investigado.
sem discriminação do setor a que pertencem. Considerando a relativa escassez de estu-
Sato e Fukunaga (2008) enfocam a gestão dos  empíricos  sobre  inovação  no  setor  de  servi-
da inovação para os serviços junto ao conceito de ços, principalmente no setor público, conforme
arquitetura de inovação, utilizando a Metodologia demonstrado  nas  seções  anteriores,  este  artigo
de  Sistemas  Flexíveis  para  medir  a  inovação  em oferece contribuições teóricas para esse campo de
serviços  em  dois  mercados  no  Japão  (chapas  de investigação. Sob a lente dos serviços, muitas pes-
aço e alimentos), apontando cinco fases no pro- quisas alinhadas com Gallouj (2002) enxergam a
cesso  de  formulação  de  inovação:  inteligência inovação  nas  características  finais  dos  serviços
estratégica (coleta de informações), identificação como o resultado da mobilização da capacidade

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técnica,  das  competências  do  fornecedor  e  das A maioria das pesquisas realizadas no Brasil


próprias  competências  do  cliente  na  prestação se  deu  por  meio  de  estudos  realizados  em  uma
de serviço. única organização do setor privado. Isso sinaliza
Os temas mais pesquisados foram estraté- a necessidade de que pesquisas brasileiras privile-
gias de inovação e tecnologia, com 32% do total; giem  estudos  em  grupos  de  organizações,  tanto
desempenho  econômico  e  produtividade  da  fir- empresas quanto organizações públicas, de modo
ma, com 18%; antecedentes e determinantes da a ampliar a capacidade de generalização dos resul-
inovação,  com  16%  do  conjunto  de  artigos; tados. Constatou-se também que 22 artigos, 41%
desenvolvimento de capacidades em rede, alian- do total, utilizaram métodos quantitativos de aná-
ças e colaboração entre organizações, com outros lise, sendo raras as pesquisas que utilizaram multi-
16%. Além desses temas, as pesquisas exploraram método na mesma investigação. Além dessas lacu-
temas como qualidade de serviços, taxonomias de nas, percebeu-se a dificuldade de mensuração da
inovação,  sistemas  flexíveis  e  sistemas  regionais inovação em serviços.
de inovação, conhecimento intensivo, pesquisa e Chama atenção a categoria que inclui pes-
desenvolvimento.  Observaram-se,  nas  pesquisas quisas que envolvem o construto inovação e desem-
revisadas,  tentativas  de  compreensão  de  temas penho  organizacional.  O  conceito  de  desempe-
recorrentes da área de inovação de produtos, como nho difundido neste grupo passa por resultados
a  relação  entre  inovação,  rotina  e  trajetória;  a alcançados, que refletem o atendimento às necessi-
relação entre conhecimento, aprendizagem e ino- dades  das  partes  interessadas  e  estão  relaciona-
vação; e a relação entre capacidade de mobilização dos às estratégias da organização. Essa concepção
do  estoque  de  conhecimentos  acumulados  pela denota o desempenho como a expressão resultante
empresa e seu desempenho. de ativos da organização manifestada em seus resul-
Alguns dos artigos revisados tiveram o obje- tados, assemelhando-se aos conceitos de Penrose
tivo de descrever o efeito da presença de organi- (1959) e Figueiredo (2003). Analisando as cate-
zações em rede nos processos de inovação, como gorias antecedentes de inovação e desempenho da
ocorre a complementaridade de conhecimentos e firma,  observa-se  que  não  houve  trabalho  que
habilidades nesse tipo de ambiente e suas influên- buscasse analisar os antecedentes ou determinantes
cias  nas  dimensões  dos  processos  gerenciais,  da da  inovação  e  do  desempenho  em  uma  mesma
gestão  de  pessoas,  da  estrutura  organizacional  e pesquisa. E alguns desses estudos pautaram-se por
das  estratégias  empresariais.  Embora  não  tenha avaliar a percepção de alguns atores sobre desem-
sido  caracterizada  dessa  forma,  algumas  pesqui- penho ou sobre inovação, ignorando a existência
sas  assemelhavam-se  ao  estudo  do  construto  de de  resultados  reais  das  organizações  estudadas.
Rede  Tecnoeconômica  (RTE),  apontado  por Pesquisas  no  tema  inovação  em  serviços
Callon  (1991)  por  ocasião  da  avaliação  da  rela- poderiam,  portanto,  explorar  as  lacunas  acima
ção  de  recursos  da  empresa  com  a  performance identificadas. Além disso, considerando a carên-
de inovação, com ênfase nas capacidades geren- cia de estudos de inovação em serviços na admi-
ciais  dos  recursos  humanos  e  na  capacidade  de nistração  pública,  assim  como  a  exploração  de
conexão  com  os  clientes,  fornecedores,  univer- técnicas  qualitativas  e  quantitativas  em  uma
sidades  e  outros  agentes.  Os  temas  “cultura”  e mesma pesquisa, conforme identificado na revi-
“valores organizacionais” são tratados por apenas são da literatura, propõe-se o desenvolvimento de
dois dos artigos revisados. A temática da cultura, uma agenda de pesquisas futuras sobre inovação
com seus elementos e pressupostos culturais em em serviços, considerando “o quê”, “como” e “qual
ambiente  inovador,  potenciais  características  de escopo”  pesquisar  com  foco:  a)  em  abordagens
atitudes empreendedoras e identificação de orien- mistas,  já  que  a  ocorrência  de  técnicas  qualita-
tações estratégicas para inovação nesses mercados, tivas e quantitativas na mesma pesquisa foi rara;
é considerada, nessa linha, como outra lacuna nas b)  na  identificação  de  fatores  determinantes  de
pesquisas sobre inovação em serviços. inovação no ambiente público, uma vez que a gran-

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