Você está na página 1de 72

Maria Christina Barbosa de Almeida

Planejamento de
bibliotecas e serviços de
informação
Segunda edição revista e ampliada

BRIQUET DE LEMOS
liVROS
© Maria Christina Barbosa de Almeida 2005
Sumário
Direitos desta edição adquiridos por Lemos Informação e Comunicação Ltda.

1 Planejamento: uma introdução 1


Todos os direitos reservados. De acordo com a lei n." 9 610, de 19/2/1998,
nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou 1.1 Conceitos e finalidades 1
armazenada num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob 1.2 Vantagens do planejamento 3
qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecãnico sem o prévio 1.3 Instrumentos de planejamento 4
consentimento do autor e do editor. 1.4 Tipos de planejamento 7
Revisão: Maria Lucia Vilar de Lemos 1.5 Etapas do planejamento 9
2 Avaliação de serviços de informação, programas e
Capa: Formatos Design e Informática Ltda. projetos 11
2.1 Conceitos e características 12
2.2 Finalidades da avaliação 26
2.3 Tipos de avaliação 27
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 2.4 Aspectos a serem avaliados 32
(Cãmara Brasileira do Livro, São Paulo, SP, Brasil)
2.5 Processo de avaliação 32
Almeida, Maria Christina Barbosa de 3 Relatórios como instrumento de planejamento e
Planejamento de bibliotecas e serviços de informação / Maria Christina
Barbosa de Almeida. - 2. ed. rev. e ampl. - Brasília, DF : Briquet de Lemos/
avaliação de serviços de biblioteca 37
Livros, 2005. 3.1 Definição 37
3.2 Finalidades 37
Bibliografia.
ISBN 85-85637-27-7
3.3 Periodicidade 39
3.4 Critérios para a coleta de dados 40
1. Bibliotecas - Planejamento 2. Serviços de informação -
Planejamento. I. Título.
3.5 Apresentação do relatório 41
3.6 Estrutura do relatório 41
CDD 025.1
05-7517 3.7 Os dados 42
Índices para catálogo sistemático:
1. Bibliotecas: Planejamento: Administração: Biblioteconomia 025. I 4 Diagnóstico organizacional 53
2. Serviços de informação: Planejamento: Administração: 4. 1 Definição 53
Biblioteconomia 025.1
4.2 Etapas do diagnóstico 56
4.3 Roteiro para a apresentação do diagnóstico 90
4.4 Outras providências 91
5 Planejando o projeto 93
5.1 O que é projeto? 93
5.2 Fases do projeto 94
5.3 Etapas do processo de elaboração do projeto 95
2005
5.4 Roteiro para a apresentação do projeto 102
Briquet de Lemos Y Livros Planejamento de espaço físico 112
Lemos Informação e Comunicação Ltda. 6.1 Quando o espaço constitui preocupação? 112
SRTS - Quadra 701 - Bloco K - Sala 831 6.2 Programa de necessidades físicas 113
Edifício Embassy Tower
Brasília, DF 70340-000
6.3 Recursos disponíveis e limitações 134
Telefones (61) 3322 9806/33136923 Anexo 135
Fax (61) 33231725 ibliografia 139
www.briquetdelemos.com.br Índice 142
editora@briquetdelemos.com.br
1

Planejamento: uma introdução

1.1 Conceitos e finalidades


O INTERESSEpelo planejamento existiu desde o início do sécu-
lo xx, mas, nesse primeiro momento, estava voltado ao controle
de métodos, padrões, capacidade e incentivos de produção.
Somente mais tarde ocorreu o interesse pelo planejamento glo-
bal, com a integração de todas as funções de determinada ins-
tituição ou determinado contexto.
Henri Fayol (1841-1925) foi o primeiro teórico da adminis-

j
tração a situar o planejamento como um dos processos da
un.ção administrativa, que consistia, segundo ele, em: prever,
organizar, comandar, coordenar e controlar. Seu conceito de
'prever' incluía funções básicas do planejamento: visualizar o
uturo e traçar o programa de ação.
A administração, hoje, é vista como um processo cíclico,
cujas funções são intimamente relacionadas em interação dinâ-
mica, em que o planejamento precede todas as demais funções.
Embora, na prática, todas as funções se integrem, é o plane-
jamento que estabelece os objetivos para o esforço do grupo.
Assim, como recomenda Koontz et al.(1987), antes de se defi-
nirem estruturas organizacionais, atividades, recursos huma-
nos, formas de orientação e controle de pessoal, é preciso que
se estabeleçam os objetivos e que se definam planos para a
consecução desses objetivos.
As pressões das organizações no sentido de manter ou cortar
custos e ampliar e melhorar a qualidade de serviços e progra-
mas tornou o planejamento indispensável ao exercício da
administração. No entanto, em muitas bibliotecas ou serviços
de informação, essa função não é exercida, ou não o é de forma
rigorosa ou adequada. Nesses casos, o que o bibliotecário fre-
qüentemente alega é que não tem tempo para planejar, dei-
xando de considerar que o tempo nisso despendido seria recu-

1
perado no momento da execução - não apena~ as. decis~es já análise das condições presentes para determinar formas de
teriam sido tomadas, como também o pessoal tena sido tremado atingir um futuro desejado. Isso implica escolher metas, prever,
para o desenvolvimento do projeto. O, tempo empregado no influenciar e controlar a natureza e a direção de mudanças e,
processo de planejamento certamente e mer:or e m.als produ- finalmente, rever criticamente os resultados obtidos, avaliando
tivo do que o tempo perdido com processos lmprovlsa~os, ~m a eficiência e eficácia dos programas e atividades em relação
que as decisões estariam sempre sujeitas a soluções .lmedla- aos objetivos e metas fixados.
tistas. Nesse sentido, afirma Sloma (1985) que o planejamento
faz o tempo trabalhar a nosso favor, pois o otimiza e permit~ 1.2 Vantagens do planejamento
que vários planos sejam gerenciados simultaneamente, a A partir dos conceitos e finalidades apontados, podemos sinte-
medida que possibilita o monitoramento do desempenho e a tizar as vantagens do planejamento, que apresentamos a seguir.
avaliação de resultados parciais e finais. . . . O planejamento faz acontecer - torna possível a ocorrência '11

Por não estar totalmente incorporado à rotma do bibliote- de eventos que, caso contrário, não aconteceriam. É um com-
cário, o planejamento, quando ocorre, é como at~v~dadeespo- r , promisso com a mudança, pois a viabiliza e controla. Os planos
rádica e não como atitude permanente. Como atividade espo- são compromissos, pois concentram-se nos objetivos, geram
rádica corre o risco de se limitar a fabricar planos como fins orçamentos e fazem acontecer.
em si mesmos, perdendo de vista a ação. O plano n~o é, deve- O planejamento reduz riscos, ao mesmo tempo em que tira
e insistir nisso, um fim em si mesmo, mas um meio para ~l- proveito das oportunidades. À medida que o profissional da
cançar fins, objetivos e opções determinados, para o ~~e ~ao 1'1nformaçãoanalisa, de uma perspectiva estratégica, as ameaças
estudadas diferentes soluções, e previstas as consequer:c:as I )~ o?o~tunidades ~o ambiente externo e intern~, estará definindo
~ dessas soluções, levando em conta os recursos e as condições objetivos com mais segurança e tomando decisões que afetarão
gerais existentes. o futuro dos serviços com maior grau de certeza quanto a atingir
. O planejamento não é um aconteciment~, mas. u~ proce~- aqueles objetivos.
so contínuo, permanente e dinâmico, que fixa objetivos, d_efi- O planejamento compensa incertezas e mudanças. Não deixa
ne linhas de ação, detalha as etapas para atingi-los e preve os o futuro ao acaso, conforme ressalta Maximiano (1995), e, com
recursos necessários à consecução desses objetivos. Com a lSso, traz três beneficios relevantes: permanência das decisões,
incorporação dessa prática, reduz-se o grau de incerteza dentro l)equilíbrio e melhor desempenho. Ao definirem determinados
da organização, limitam-se ações arbitrárias, diminu~~-se cursos de ação, os profissionais da informação terão previsto
riscos ao mesmo tempo em que se dá rentabilidade maxl~a soluções para os problemas a serem enfrentados e definido os
aos recursos, tira-se proveito de oportunidades, com a m~lhor:a padrões a serem adotados para avaliação de desempenho. Não
da qualidade de serviços e produtos, e garante-se a realização só as etapas para o cumprimento de determinados objetivos são
dos objetivos visados. , estudadas minuciosamente, como também são previstos possí-
O planejamento é o oposto da improvisação. E, seg~ndo veis fracassos e, caso ocorram, as alternativas para superá-los.
Baptista (1991), um processo metódico de abordagem r~c,lO.nal
e científica, pois pressupõe uma seqüência de atos de~lsonos, Por serem tomadas antecipadamente, as decisões são base a-
ordenados em fases definidas cofi\ base em conhecimentos /{)das em informação e obedecem a critérios objetivos. Com isso,
científicos e técnicos. Por ser um processo cíclico, permanente, tendem a ser mais independentes de humores ou outras variá-
supõe ação continuada sobre um conjunto dinâmi~o de veis subjetivas. Por essa razão, decisões planejadas ajudam a
variáveis em determinado momento histórico e requer mves- dar estabilidade organização e, conseqüentemente, criam um
à

tigações constantes sobre o problema estudado. Começa pela ambiente mais equilibrado e mais produtivo.

2 3
Em resumo, pode-se afirmar que o planejamento opera Em ~m serviço de informação, pode-se falar em plano anual,
economicamente, pois: ue defme prioridades, objetivos, metas e recursos previstos
• reduz custos, pela ênfase em operações eficientes e com- p.ara o período de tempo especificado. É possível, também, refe-
rir-se a planos globais, que fornecem os fundamentos para as
atíveis com as condições existentes;
• substitui atividades fragmentárias e não coordenadas por tividades da unidade de informação. E, ainda, falar-se em planos
specíficos, como os voltados a determinada área de atuação,
m esforço de grupo;
F • substitui o fluxo desigual de trabalho por um fluxo uni- até em planos especiais, como os destinados a enfrentar ca-
t strofes (por exemplo, incêndios e inundações) e que incluem os
~orme;
, • substitui julgamentos bruscos e irrefletidos por decisões passos a serem seguidos quando surgirem determinadas circuns-
t ncias. Em uma situação ideal, haverá um plano global e pla-
premeditadas;
nos específicos para certos aspectos do serviço de informação.
• traz segurança e favorece a produtividade;
Os objetivos (em inglês, goals) são o ponto final do plane-
• faz o tempo trabalhar a seu favor;
mento e constituem o plano básico da organização. Consis-
• possibilita o monitoramento das ações.
t m numa situação futura esperada, ou no que se pretende
1.3 Instrumentos de planejamento tingir com o esforço do planejamento, como forma de con-
retização da missão. Os objetivos devem expressar intenções
O planejamento é constituído por um complexo de instru- que levem ao cumprimento da missão da organização.
mentos, cada um com uma função específica que, devidamente Os objetivos são estabelecidos de modo amplo pela alta admi-
articulados, garantem a eficácia do processo. nistração e, com base nesses objetivos gerais, os níveis infe-
O plano é uma linha de ação preestabelecida que, em riores da organização estabelecem seus objetivos específicos.
determinado período de tempo, orienta a ação na direção da fá, pois, uma hierarquia de objetivos que, na prática, precisa
missão, ou seja, o que a instituição deve fazer - o papel ou a er respeitada. Os objetivos das bibliotecas e centros de docu-
função a ela atribuída - e dos objetivos institucionais ou da mentação devem ser sempre pensados em relação à instituição
solução de determinados problemas, e fornece parãmetros de que pertencem e à comunidade a que devem servir. Por essa
controle e acompanhamento das ações. Produto do plane- razão, a definição dos objetivos da unidade de informação é
jamento, o plano não é um enfeite; é um evento intermediário ondicionada pelos objetivos da instituição, a fim de garantir
entre o processo de planejamento e o processo de implemen- necessária coerência, e pela missão da organização, entendida
tação do planejamento. É um instrumento de trabalho, um orno a linha de atividades ou o campo de atuação desta.
meio para alcançar os fins e objetivos determinados, uma forma O primeiro objetivo do profissional de informação na função
de assegurar a execução. Oferece uma estrutura de referência de planejador consiste, portanto, em interpretar corretamente
para a tomada de decisão e é um compromisso com a mudança. missão institucional e fixar objetivos para o serviço de infor-
Além de fazer acontecer, o plano possibilita o controle da mação que colaborem para o cumprimento daquela missão e
mudança, colaborando para que ela ocorra de modo ordenado fereçam soluções adequadas aos problemas identificados.
e seja eficaz. A necessidade de um plano é determinada pela As metas' são planos expressos em termos de resultados a
missão ou pelos objetivos institucionais, ou, ainda, por proble- lcançar; são a quantificação dos objetivos. Devem ser expres-
mas específicos relacionados ao bOfi\desempenho da organi-
, Não há consenso em relação a esse conceito nem entre os autores de língua
zação. Por essa razão, a eficácia do plano é medida pelo grau portuguesa, nem entre os de língua ínglesa que, algumas vezes, utilizam os
segundo o qual contribui para a realização dos objetivos e para l rmos 'meta' e 'objetivo' como sínônimos. Na língua inglesa, a palavra meta
alcançar os resultados desejados. geralmente traduzida por objective ou target.

4 5
sas com clareza, iniciadas por um verbo de ação, e devem ser mento, como o nome indica, 'rege' a organização, sendo o instru-
mensuráveis, mutáveis e ter tempo definido. Os objetivos pare- mento organizacional que complementa e explica o organo-
cem ser sempre viáveis; é a definição das metas que permitirá grama. Contém: constituição, competências e atribuições.
uma avaliação mais realista das possibilidades de atingi-los. Os programas são complexos de metas, políticas, procedi-
As políticas ou diretrizes são planos gerais de ação, guias mentos, regras, passos e recursos. Um programa principal pode
genéricos que definem linhas mestras, orientam a tomada de ser composto por programas derivados ou subprogramas que
decisão e dão estabilidade à organização. Para Koontz et al. garantam sua consecução. Um exemplo muito comum de pro-
(1987), as políticas permitem decidir questões previamente, grama na área de informação ocorreu na primeira fase (1985-
evitando repetição de análises, e ajudam a dar uma estrutura 1991) do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
unificada a outros tipos de planos e delegar autoridade sem Tecnológico (PADCT), que contava, entre outros, com um subpro-
perda de controle. Em uma mesma organização, existem polí- grama de informação em ciência e tecnologia onde havia pro-
ticas nas diferentes instâncias e com abrangências e abor- jetos com objetivos específicos. Cada um dos subprogramas
dagens diversas. Por isso, precisam ser coerentes e integradas ra dotado de recursos, respeitados os prazos e os objetivos
para serem eficazes, contribuindo, assim, para a consecução previamente definidos, e concretizava-se por um conjunto de
dos objetivos da organização. projetos desenvolvidos segundo linhas preestabelecidas.
Em bibliotecas e serviços de informação, encontramos polí- Os projetos podem ser, portanto, parte de um programa
ticas gerais e políticas específicas, relativas às diversas áreas geral, ou unidades independentes que contemplam determi-
de atuação: políticas de formação e desenvolvimento de cole- nado aspecto na unidade de informação. São as menores uni-
ções, políticas de conservação de acervo, políticas de seleção de dades dentro do planejamento, são operativas e contêm um
pessoal, políticas de treinamento e desenvolvimento de recursos conjunto de ações e atividades inter-relacionadas e coordena-
humanos, políticas de atendimento, políticas de publicações, etc. das para alcançar objetivos específicos, dentro de tempo e
Se as políticas são guias de raciocínio que orientam a tomada spaço determinados.
de decisão e a ação, as regras e procedimentos são guias para
o fazer. Os procedimentos são instrumentos que estabelecem 1.4 Tipos de planejamento
métodos rotineiros de execução de atividades e detalham a O planejamento é função de todos os membros de uma orga-
maneira exata pela qual uma atividade deve ser realizada e a nização, podendo ser uma atividade mais ou menos complexa
seqüência em que essas rotinas são realizadas. Como exemplos, abrangente, dependendo do nível da estrutura organizacional
temos, nas bibliotecas, os manuais de serviço e os fluxogramas. m que cada um está situado. Todos os níveis da organização
As regras relacionam-se aos procedimentos, pois orientam stão envolvidos na implementação de meios para a execução
a ação, mas não especificam a seqüência cronológica. Como de planos. Como esses meios envolvem a organização como um
exemplos, temos as normas e os regulamentos. As normas são todo, são distribuídos em níveis ou subsistemas na organização.
comandos diretos e objetivos de curso de ação a seguir, como Por isso, do ponto de vista das instâncias organizacionais, pode-
a proibição de entrar na sala de consulta com bolsas e sacolas, mos identificar o planejamento institucional, o intermediário
a proibição de fumar, ou normas internas relativas a rodízio o operacionaI.
de funcionários no horário de almoço, por exemplo. O planejamento da alta administração é o planejamento es-
O tipo de regulamento mais comum nas unidades de infor- tratégico, que consiste no processo de decisão relativo aos obje-
mação é o que regula o uso do acervo'e dos serviços. Ressalte- tivos da organização, às mudanças nesses objetivos, aos recur-
se que tem sido observado, com certa freqüência, o uso errôneo os utilizados para atingi-los e às políticas que deverão governar
do termo regimento como sinônimo de regulamento. O regi- aquisição, a distribuição e a utilização desses recursos. Abran-

6 7
de espaço físico: consiste no planejamento do espaço;
ge a organização como um todo, afeta-a a longo prazo e é deci-
xpressa-se, na prática, como o programa de necessidades físi-
dido no nível hierárquico mais elevado. Está voltado às rela-
'o.s para a unidade de informação;
ções entre a organização e o ambiente e sujeito a incertezas
• organizacional: refere-se ao esboço da estrutura que
provocadas por esse ambiente.
permita que sejam alcançados os objetivos previstos;
As grandes estratégias de uma organização são, portanto,
• de produtos: refere-se aos produtos e serviços que se
definidas a partir de uma análise do contexto ou do ambiente
pretende oferecer ao público;
em que esta organização está inserida. Em outras palavras, as
• de recursos: refere-se aos recursos humanos, materiais
estratégias são escolhidas à luz de fatores favoráveis e de aná-
rinanceiros necessários;
lises de risco relativas às possibilidades de sucesso na imple-
• de operações: abrange os processos de produção e
mentação de cada estratégia. rllstribuíção de produtos e serviços;
O planejamento intermediário é o desdobramento do planeja-
• das formas de acompanhamento e avaliação, bem como -I
mento estratégico em planejamentos táticos que permitem que
1111 continuidade dos planos;
as decisões estratégicas se traduzam em planos concretos a
• global: a combinação de todos os planos existentes na
serem posteriormente detalhados em planos operacionais. Rela-
III'/{anizaçãoe o processo pelo qual todos os planos internos se
ciona-se, em geral, a atividades presentes e de futuro próximo
utegram ao seu planejamento estratégico.
e sua função é controlar e integrar as operações na organização,
garantindo a implementação das decisões estratégicas. o ponto de vista do tempo, temos o planejamento:
O planejamento operacional decide 'o que fazer' e 'como • a longo prazo: tem a ver com o curso da ação futura da
fazer'. Está ligado aos procedimentos, detalhando tarefas e mpresa; em função de seu horizonte temporal mais amplo, é
operações, e deve estar sempre voltado à otimização dos resulta- 1I111lsqualitativo que quantitativo e, por essa razão, é, geral-
dos. Tem caráter imediatista, caracterizando-se por ser de curto IIIMl1te,estratégico;
prazo e de abrangência local. a médio prazo: estabelece a ligação entre os grandes
O planejamento em bibliotecas e unidades de informação Ilhletivos e diretrizes e os procedimentos do planejamento a
localiza-se, freqüentemente, nos dois últimos níveis, sendo o I urto prazo;
planejamento estratégico uma prerrogativa dos níveis de direção • a curto prazo: tem a ver com atividades mais imediatas,
da organização a que pertencem. Isso não quer dizer que a luoluindo previsões orçamentárias e metas a serem alcançadas
unidade de informação não possa planejar de maneira estraté- 111curto espaço de tempo; por essa razão, pode ser mais preciso
gica, ou seja, levando em consideração as forças restritivas umis detalhado do que o de longo prazo.
(problemas e limitações) e as forças propulsoras (vantagens) A integração dos diversos planos na instituição e a con-
de seu ambiente e da instituição mantenedora, definindo ob- unnação dos planos de longo, médio e curto prazo são um
jetivos, traçando prioridades, ou avaliando alternativas de cur- uiporativo para o sucesso do planejamento. Na prática, o plane-
sos de ação. Apenas significa que o planejamento da unidade uuento a longo prazo afeta o de médio e curto prazos, mas
de informação, como afirmado anteriormente, deve ser coerente 1IIIIIh6mé influenciado e sofre alterações a partir deles.
com os objetivos e estratégias definidos pela direção da orga-
nização e não, como às vezes observamos, navegar na direção 1.5 Etapas do planejamento
oposta. \ que o planejamento é um processo cíclico, o que não
Do ponto de vista das atividades, ou de sua abrangência, o
nlflca que seja um processo linear; pelo contrário, é um
planejamento pode ser incluído em uma das seguintes catego-
so dinàmico e interativo. Segundo Ferreira (2002), as
rias:

9
8
fases do planejamento se interpenetram, o que quer dizer que,
embora se sucedam, não podem ser tratadas de maneira
2
estritamente linear. Na prática, há uma dinámica que faz com
que a elaboração do plano, por exemplo, já se configure como
uma ação, à medida que repercute na ação propriamente dita Avaliação de serviços de
que está sendo preparada, e na própria realidade em que o informação, programas e projetos
plano pretende intervir.
Inicia-se o processo de planejamento pela definição do objeto
a ser estudado, seguida da obtenção de informações que darão
subsídios ao processo de avaliação desse objeto e seu ambiente A PRINCIPALfunção da avaliação é produzir conhecimentos
(diagnóstico). A partir da análise dos dados e informações rela~ivos à unidade de informação, à organização em que esta
obtidos, será possível proceder-se à elaboração do plano, que ~e situa e a seu ambiente, para servir de subsídio ao plane-
pressupõe: definição de metas e prioridades, previsão dos Ja~ento tanto na fase de elaboração do plano, programa ou
acontecimentos futuros e tomada de decisões sobre fins, meios projeto, quanto na fase de implementação das ações. A avalia-
e recursos. Seguem-se as providências relativas à implemen- Çã? possibilita a escolha certa, ou seja, a correta definição dos
tação do plano, bem como às formas de acompanhamento e obJ<:tlVosno momento da concepção do plano. Na implemen-
controle necessárias à consecução dos objetivos traçados. tação do pla~o: produz informações que contribuem para a
À medida que se procede a esse acompanhamento, mudan- maior produtividade e para a melhoria da qualidade. No final
ças ou adaptações estarão sendo feitas nos planos originais, do .processo, permite comparar resultados esperados e conse-
de forma a adequar seu curso às situações encontradas no idos, conhecer o nível de satisfação do público-alvo e os
momento da implementação. Ferreira, ao justificar a importân- ~eito~do planejamento na unidade de informação, na orga-
cia da atividade de acompanhamento, alerta-nos para o fato izaçao e no am bien te.
de haver erros que só podem ser descobertos depois de come- A escassez de recursos é freqüentemente apontada como
tidos, o que gera a necessidade de interferência e mudança uma das principais razões para a avaliação contínua de ser-
durante a implementação da ação. Ressalta, ainda, que, no viços, programas e projetos. O fato é que, devido à necessidade
processo de implementação do plano, verifica-se, muitas vezes, cI garantirem a sobrevivência de suas atividades e de seus
por meio do monitoramento, a necessidade de se introduzirem I rojetos, bem como de competirem por recursos, as unidades de
ações não cogitadas no plano inicial. nformação também têm buscado a eficiência no uso de seus
A avaliação, processo que acompanha todas as etapas do I cursos, a eficácia de resultados e a efetividade de suas ações.
planejamento numa relação de interdependência a ponto de Não têm sido poucas as mudanças no ambiente organiza-
com ele se confundir, permite, com base em parâmetros ( tonal em que se situam as unidades de informação, mudan-
predefinidos, aferir o sucesso na implementação do plano e s essas que afetam a oferta e a demanda dos serviços de in-
traçar novos objetivos e metas. f rmação, provocando, geralmente, demanda por mais infor-
m ção e, sobretudo, por informação de melhor qualidade.
Especialistas do hoje inexistente Centro Latino-America-
li de Documentação Econômica e Social da Comissão Eco-
11 mica para ~A~érica Latina e o Caribe (CLADES/CEPAL, 1991)
ipcntaram tres smtomas relevantes de mudanças. Em primeiro
lu ar, destacaram que haveria então uma atitude mais crítica

10 11
em face dos recursos de informação existentes e uma maior I ção do desempenho desses serviços ou atividades e deter-
consciência das deficiências dos serviços, e que a automação minando tanto a qualidade do serviço ou da atividade, quanto
desempenhava um papel importante nesse quadro, contribuin- li rau de satisfação de metas e objetivos. Consiste, ainda, em
do para aumentar as expectativas de maior e melhor acesso à ti ntificar os públicos desses serviços e em analisar as neces-
informação por parte dos usuários. Em segundo lugar, assinala- Idades de informação dos usuários, bem como o índice de sa-
ram que o desenvolvimento das novas tecnologias na área de I fação desses usuários com os serviços e produtos que lhes
informação, ao facilitar o acesso a equipamentos e programas oferecidos. Consiste, finalmente, em desenvolver estudos
computacionais, criou um clima propício à dispersão de siste- II I tivos ao não-público dessas unidades de informação, inves-
mas, formais ou informais, na organização. Com isso, a unidade I Kf:mdoas razões pelas quais não utilizam serviços dos quais,
de informação - biblioteca ou centro de documentação de uma I irícamente, seriam considerados público-alvo.
empresa, por exemplo - teria deixado de monopolizar a oferta A avaliação não deve ser uma ocorrência isolada, um evento,_
e a demanda de informação, passando a concorrer com peque- 111' um processo contínuo por meio do qual serviços, progra- ')
nas bases de dados formadas nos diversos departamentos. Por 111fte projetos são examinados, isolada ou conjuntamente, a
fim, observaram que vinha diminuindo gradativamente o inte- 1111 de garantir o cumprimento de objetivos e metas. É preciso
resse pela oferta tradicional de serviços e produtos caracte- tllI haja uma atitude permanente de indagação e análise, por
rísticos das unidades de informação, pois esses geralmente 1'111 t do bibliotecário, em relação à situação real da unidade
careciam de rapidez, agilidade e precisão (CEPAL, 1991). 11 formação ou do projeto e à situação futura desejada. Essa
Naturalmente, esses sintomas, que, se ainda presentes, I II lide estimula a criatividade, favorece a mudança e evita a
indicam necessidades urgentes de mudança nos serviços de I 111odação da equipe às condições existentes ou previstas.
informação, variam de instituição para instituição. Embora N prática, essa atitude do profissional de permanente
possam estar presentes em todos os tipos de biblioteca, seriam I1 or das necessidades informacionais em uma instituição
muito mais acentuados em bibliotecas de empresa ou em '" uma sistematização dos perfis de necessidades e sua
bibliotecas especializadas do que em bibliotecas públicas ou 11111 t nte atualização, dada sua natureza cambiante. Impõem-
escolares, por exemplo. Em cada tipo de biblioteca, a IDJ2~5ão I linda, flexibilidade e agilidade no sentido de implementar
tem...um...'\la~~.1lclhe..@.-agregado em frrrrção-dc.uso IIlIld nças em serviços e produtos oferecidos pela unidade de
-qUe-delase flli'l. Por essa razão, analisar o contexto ou o ambi- li",., mação para atender, com eficácia, a essas necessidades.
ente da unidade de informação, bem como as necessidades de A valiação é, portanto, necessária à revisão de objetivos e
informação dos usuários, é indispensável ao planejamento de 11111 I , ao direcionamento ou redirecionamento da execução
um projeto ou de um sistema de informação eficaz. '" s, atividades ou programas, à tomada de decisão, tanto
Ilpll I tonal quanto estratégica, à medida que dá respaldo ao
2.1 Conceitos e características I" I I o de escolha de prioridades, à alocação de recursos e à
'Avaliar é atribuir valor, julgar mérito e relevància e medir o \ 1111 o de métodos e processos técnicos e operacionais, for-
ç

grau de eficiência e eficácia e o impacto causado pelas ações I " ndo, desta forma, subsídios para o planejamento organiza-
de determinada organização ou pela implementação de polí- 1111 II para a mudança.
[ ticas, programas e projetos de informação.
A avaliação não ocorre no vácuo, ma~ como parte do processo 2.1.1 Eficiência, eficácia e efetividade
do planejamento e da tomada de decisões. Em um serviço de
111ção é uma ferramenta que auxilia o bibliotecário a
informação, a avaliação consiste em identificar e coletar dados
I1III r eficácia e eficiência organizacionais e a desenvolver
sobre serviços ou atividades, estabelecendo critérios de mensu-

12 13
estratégias para melhorar a eficácia e a eficiência do acervo e • estamos atingindo as metas e objetivos previstos?
dos s produtos. • estamos assegurando serviços de alta qualidade?
eficácia tá relacionada aos resultados. Mede o grau com • estamos satisfazendo as necessidades de nossos usuá-
que os lVOSdo projeto ou da organização fora~ atingido_s. "os?
Nesse sentido, o grau de eficácia de um sistema d: mforma.çao Por não avaliarem essas questões, muitos profissionais da
é determinado pelo grau de satisfação dos usuános, conside- nformação tomam decisões sem conhecimento fundamentado
~~~::sE;..,p.articularmente, a rapidez e a precisão desejadas. A I s serviços e das atividades existentes, consomem tempo e
eficiência r fere-se ao processo, à relação entre os recursos I ursos em atividades secundárias ou desnecessárias, ou no
. ceiros, materiais e humanos) aplicados e os beneficios ri envolvimento de produtos e serviços sem o nível de quali-
alcançados - a gestão de um projeto ou serviço de inform~l.ÇãO 11, de que seria desejável e necessário à sua eficácia.
será tão mais eficiente quanto menorfor o seu custo e maior o Mesmo em relação a dados quantitativos, verifica-se' que,
beneficio alcançado, no contexto dos objetivos fixados. üyro- (1 freqüência, muitos bibliotecários não se preocupam em
cesso de solução de um problema pode ser considerado efi~le~te I i trar dados estatísticos pertinentes, ou não se dão ao traba-
quando consumir apenas a energia ou os recursos necessa.:l~s. lhe de analisá-los e interpretá-los. Encontramos, freqüente-
Se no entanto consumir mais recursos do que o necessano, 111 1 te, em bibliotecas públicas, caixas e caixas de formulários
de~viará uma e~ergia que poderia ser canalizada para a solução I 1 nchidos pelos usuários sem que os dados tenham sido
de outros problemas e, neste caso, será ineficiente. t I ulados e analisados, utilizados, enfim, para planejamento.
A confusão entre eficácia e eficiência resulta em: '11 isso, o processo de coleta de dados acaba reduzido a des-

• fazer bem (eficiência) coisas que não precisariam ser feitas I 1 1 cio de tempo, material e espaço.
N ssa experiência na avaliação de serviços de informação
(ineficácia); . .
• batalhar por mais recursos como um fim em SI mes- nníte-nos generalizar a opinião de Figueiredo (1990), rela-
mos, sem a preocupação de saber se esses recu_r~os são aces- bibliotecas universitárias, afirmando, com segurança,
síveis e se vão atender às necessidades do usuano; fato, muitos bibliotecários, de diferentes tipos de biblio-
• incapacidade de descrever a qualidade dos serv~ç~s; I ,baseiam suas operações em "suposições irreais", pois
• incapacidade de identificar prioridades para atividades I1 t m um conhecimento perfeito de seus usuários, de suas
idades e de seu comportamento. Por outro lado, os biblio-
e serviços;
• acreditar que coleções maiores significam, automa- não parecem ignorar que esses usuários também não
ticamente, melhor serviço aos usuários. bom conhecimento do acervo e dos serviços que a uni-
informação lhes pode oferecer.
Tradicionalmente as unidades de informação têm-se concen-
os estudos de caso que efetuamos até o momento com-
trado em critérios quantitativos, tais como número de itens
11 11m as conclusões dessa pesquisadora, ou seja, que, em
catalogados, número de pedidos atendidos, etc., que ~odem
, l, o bibliotecários conhecem superficialmente os usuários
sugerir eficiência, mas que não são indicadores de quahda~e.
1" ( rviços de informação não são adequados à demanda
Hoje, no entanto, as unidades de informação devem tambem
I 'I mbém notamos que os usuários não têm conhecimento
considerar questões relativas à eficácia, tais como:
I ( vede todos os serviços que a unidade de informação
• sabemos quais são as necessidades de informação das I cer, ou não sabem como utilízá-los. Como conseqüên-
diferentes equipes da organizaçãd? . 111 iíoria das bibliotecas e serviços de documentação con-
• estamos oferecendo serviços e atividades que devenam I \111 é subutilizada, caracterizando-se pela baixa demanda
ser oferecidos? I tI bre grande parte dos recursos e serviços oferecidos.

14 15
Na verdade, conforme apontavam os especialistas do mente, desprezadas pelos superiores. Números são importan-
CLADESjCEPAL, há uma tendência quase mecânica em se esta- tes, mas devem fazer sentido, ser carregados de significado.
belecer determinado padrão de serviços e produtos de infor- Isto pode ser conseguido pela escolha adequada do que será
mação independentemente da diversidade da demanda, o que mensurado, pelo uso de quadros comparativos, com séries
significa indiferença em relação aos usuários desses serviços históricas, por exemplo, pelo cruzamento de dados e por comen-
e produtos. Esse padrão de serviços, por sua vez, implica um .ários sobre esses dados. Os relatórios não precisam ser longos
padrão de operações técnicas que, em muitos casos, absorve detalhistas, mas sintéticos e eficazes e servir, de fato, como
grande parte dos recursos disponíveis em operações rotineiras Instrumento de avaliação do desempenho da unidade de infor-
que não são questionadas. Em conseqüência, encontramos mação em relação às metas que se desejavam atingir no período
serviços de informação subutílízados que, mesmo quando (I terminado.
eficientes, podem estar operando abaixo de sua capacidade de Aos conceitos de eficiência e eficácia que, há alguns anos,
eficácia, sem conseguir atender satisfatoriamente às neces- O utilizados no processo de avaliação, mais recentemente,
sidades dos usuários. Daí a importância de, no processo de m sendo incorporado o conceito de efetividade, que se refere
avaliação, considerar-se a mensuração da eficácia e da eficiên- apacidade de o programa, projeto ou serviço atender às
cia em relação a objetivos predeterminados. Para o planej~- I is demandas sociais, isto é, à relevância de suas ações e à
mento de serviços de informação, o bibliotecário tem necessi- II capacidade de alterar as situações encontradas. A efeti-

dade de conhecer bem: d de pode ser medida pela quantidade e qualidade das mu-
' , • as fontes de informação na área (para explorar essas ti mças que o projeto ou a organização foi capaz de produzir;
111 utras palavras, por seu grau de impacto. Este depende da
fontes e não duplicar esforços);
111 ngência e das características dos resultados atingidos e,
• os serviços existentes (para ampliar, descontinuar ou
\1111 ssa razão, é possível ter resultados satisfatórios sem o
modificar esses serviços);
•• 11I spondente impacto na mudança do ambiente anterior-
• seus usuários (para saber se está conseguindo atingir
111 11 retratado. Assim, para se medir o grau de efetividade
um bom grau de satisfação desses usuários);
t 11m projeto ou de uma ação, é preciso ter dados sobre a
• os não-usuários (para saber a razão de não utilizarem
11111 - o antes e depois.
aqueles serviços).
t ) processo de diagnóstico (ver capítulo 4) é fundamental
Em resumo, planejamento eficaz depende da qualidade e I" III , valiação de impacto, pois retrata as condições do objeto
quantidade de dados disponíveis e confiáveis. É indispensável, ludndo e do contexto no momento imediatamente anterior
portanto, que as unidades de informação planejem adequada- I' io do projeto e pode ser aplicado alguns meses após o
mente a estrutura de dados que desejam monitorar, de forma II I rmino, premitindo a comparação dos dois momentos.
a poder dispor desses dados para o planejamento e a tomada 111111 ssim, é importante ressaltar que, dependendo da
de decisões fundamentadas. IIII z do projeto e das variáveis intervenientes, talvez não
A análise de relatórios de diferentes bibliotecas tem mos- I I ,i1estabelecer relações de causalidade entre os ganhos
trado que as estatísticas nem sempre servem aos propósitos II t vidade e o projeto desenvolvido ou a ação empreendida.
do planejamento, pois, e m geral, não passam de simples ( onsiderar também que, na área de informação, nem
contagem de ocorrências ou materiais, que não resultam de "'1 C) resultados de atividades, serviços e produtos podem
estudos racionais, e são utilizadas apenas para prestar contas I 1111( li tamente visualizados, aferidos ou materializados.
ou 'mostrar serviço' aos SUperiores. Na verdade, nem prestam , (I tido, nem sempre é possível medir os desdobramentos

contas, nem mostram serviço, além de serem, muito provavel- I' ult dos das ações deflagradas e, conseqüentemente, o

16 17
grau de impacto dessas ações. É importante lembrar que, além Os padrões podem ser definidos como convenções técni-
de impactos diretos no público-alvo, há também os impactos ~s estabelecidas cqm...a..co(}F>@-Fa~ã0-e-0-Gé1-lSe:r-l"StLth::
tOOascrs-"
indiretos, em outros públicos. Um programa de incentivo à lei- partes envolvidas, visando à raciQnaliz.aÇ.ão,..âJ.mifo:r:mização_e:
tura junto a estudantes do ensino fundamental, por exemplo, j, simplificação de se~e'SS0s-ftas várÜrs-á-r-e-as-
pode, além de causar um aumento no número de estudantes .aQr:;l,t~gjdas pelos serviços de infOrmação ldâ...padrõesnacionais-
que lêem, ou no número de horas que dedicam à leitura, motivar -0tl iIIten'l-aGionaULestabelecid~s.....pa~~ atividades
os pais à leitura ou estimular os próprios professores a lerem em bibliotecas, centros de documentação e servrç e infor-
mais, ainda que tal objetivo não estivesse expresso no programa. mação, tais como aquelas ligadas à produção e disseminação
da informação, à sua representação descritiva e temática, às
2.1.2 Mensuração e avaliação tecnologias da informação e às áreas de administração e plane-
Os conceitos de mensuração e avaliação são muito próximos. jamento.
A mensuração é o processo de atribuir números para descrever Os padrões são considerados recursos importantes para o
ou representar algum objeto ou fenômeno de modo padronizado, planejamento de serviços e para sua avaliação, podendo servir
podendo levar à avaliação. Esta inclui a mensuração e acres- orno guia tanto para a implantação de novas bibliotecas ou
centa componentes relacionados à pesquisa, ao planejamento erviços de informação quanto para a melhoria dos existentes.
e à implementação de estratégias para mudar ou desenvolver Noentanto, há controvérsias entre os autores da área da ciência
a organização ou uma atividade específica. Por refletir julga- da informação em relação a essa questão. A fragilidade dos
mentos de valor sobre o que a unidade de informação deveria 1 adrões está ligada à forma como eles são gerados, muitas vezes
estar fazendo, níveis adequados de desempenho e critérios que de maneira empírica, sem a necessária pesquisa na área, bem
descrevem seu sucesso ou sua eficácia, a avaliação requer uma orno à falta de consenso em relação à sua aplicabilidade.z
definição prévia dos objetivos e metas da unidade de informação.
A mensuração da eficácia pode apresentar alguns proble-
Lancaster (1977), por exemplo, destaca que padrões pouco vol-l
t dos para o futuro ameaçam seriamente os serviços biblio-
t cários. Nessa linha, vale lembrar que muitos autores preferem
r
mas. Em primeiro lugar, porque pressupõe o esclarecimento C rmular diretrizes e não padrões, por receio de que os padrões
do conceito desejado, ou seja, do nível de desempenho que se I inimos sejam aceitos como máximos.
pretende atingir. Além disso, muitas vezes, há registros quan- Os padrões são determinados no espaço e no tempo. Padrões
titativos de resultados, como, por exemplo, a quantidade de tabelecidos em outros países podem-nos ser úteis como parã-
obras emprestadas a determinado usuário, mas faltam dados n tros, mas dificilmente serão adequados. Por outro lado, os
qualitativos relativos ao grau de satisfação desse usuário, fun- I drões devem sofrer revisões sistemáticas, refletindo ou
damentais para se medir a eficácia. Finalmente, há necessidade timulando as mudanças necessárias.
de padrões para julgar se os índices obtidos são muito elevados, Quanto à sua natureza, os padrões podem ser quantita-
muito baixos ou normais, pois, muitas vezes, a simples compa- t ívos ou qualitativos. Os quantitativos são mais sujeitos a alte-
ração com índices passados não faz muito sentido. j ções no tempo e no espaço. São metas numéricas e, por isso,
d aplicação simples, mas não permitem interpretações. Nesse
2.1.3 Padrões, indicadores e medidas de desempenho ntido, carecem de flexibilidade e devem ser analisados cuida-
Padrões, indicadores e medidas de desempenho são conceitos I samente antes de serem adotados. A título 'de ilustração,
muito próximos, emprestados da literatura de avaliação e de I demos citar Comoexemplo de padrão quantitativo na área
planejamento, cuja aplicação ainda não está claramente dife- t desenvolvimento de coleções de determinada biblioteca
renciada na área da ciência da informação. uníversitária a cobertura de 75% dos periódicos e 80% das

18 19
monografias necessárias à pesquisa e ao ensino em deter- • medidas de relevãncia do acervo (uso médio anual do
minada área. acervo).
Os padrões qualitativos têm sido cada vez mais utilizados Aqualidade de serviços de informação não é expressa apenas
como guias para a definição de medidas de desempenho ou pelo desempenho. A qualidade pode ser entendida como o con-
para o estabelecimento de critérios de avaliação de serviços e junto das características (ou especificações), dentro de uma
produtos na área de informação. São mais flexíveis e mais bem organização, que definem sua capacidade de atender a neces-
fundamentados, podendo ser adaptados a necessidades especí- sidades implícitas ou explícitas. As especificações podem ser
ficas dos vários serviços de informação e servir de instrumento funcionais (ou de desempenho) - que traduzem as necessi-
para avaliações mais aprofundadas voltadas para a qualidade, dades e expectativas do cliente em termos de desempenho que
ou melhor, a eficácia dos serviços e produtos. A título de ilustra- o produto ou serviço deverá alcançar e que podem ser avaliadas
ção, podemos citar, como padrão qualitativo para o expediente pelas medidas ou indicadores de desempenho - ou técnicas,
de uma biblioteca pública, o horário mais amplo possível de que descrevem as características do objetivo em termos de seus
forma a dar oportunidade de atendimento a todos os cidadãos. atributos técnicos. Interferem na qualidade, principalmente,
Os padrões servem para orientar a definição de medidas de os seguintes fatores: normas técnicas, política de qualidade
desempenho, que são um meio para determinar em que grau da organização e competência da equipe.
os objetivos da unidade de informação são cumpridos, os servi- Indicadores são conceitos que começaram a surgir muito
~ços executados e os materiais colocados à disposição do usuário. recentemente na literatura referente a projetos sociais e que
Whitehall (1994), no livro sobre qualidade em bibliotecas e precisam ser incorporados pela área de ciência da informação,
serviços de informação, trabalha com o conceito de medidas em que é mais comum encontrarmos a expressão 'medidas de
de desempenho. Ele entende que, embora não forneçam infor- desempenho', cujo significado é muito próximo ao de indica-
mação detalhada sobre o que está errado com o serviço, muitas dores de desempenho.
vezes possibilitam informações diretas sobre sua qualidade. om base em Tanaka e MeIo(2001), podemos definir indica-
Outras vezes, não. Medidas tais como o índice de penetração d res como variáveis, características ou atributos capazes de
(quantidade de usuários ou de uso do material), por exemplo, . tetizar, representar ou dar maior significado ao que se quer
não significam qualidade, pois esse índice pode ser baixo por a aliar. Os indicadores transformam os objetivos e resultados
razões muito diversas (serviço irrelevante, difícil de ser usado, ~ parãmetros concretos, passíveis de verificação. Dessa forma,
pouco acessível, desconhecido ou não compreendido), e, por permitem avaliar mudanças. É, portanto, a partir da construção
isso, não levar à resposta à questão básica: o que está errado de conceitos de consenso de determinado grupo que são estabe-
com o serviço? Para esse autor, as medidas que informam sobre lecidos os indicadores. Assim, por exemplo, diferentes visões
a qualidade podem ser agrupadas nas seguintes categorias: do que seja um atendimento de qualidade poderão gerar dife-
rentes indicadores.
• medidas de acessibilidade (proporção de pessoas que
O processo de transformar conceitos em indicadores requer
moram perto da biblioteca ou serviço de informação; disponi-
identificação das dimensões mais fundamentais do objeto
bilidade de obras no acervo; disponibilidade do pessoal de aten-
m questão - as variáveis - e a definição dos parâmetros
dimento);
oncretos apropriados para medir essas variações. Armani
• medidas de tempo de resposta (questões respondidas de (2000) alerta-nos para o fato de que os indicadores são "sinto-
imediato, questões respondidas em \x tempo);
mas das mudanças", pois indicam que houve mudanças e cap-
• medidas de cobertura do acervo (proporção de demandas t m o grau de intensidade ou abrangência dessas mudanças. .
atendidas pelas diferentes coleções);
Há dois tipos básicos de indicadores: os quantitativos, que\(-

20 21
podem ser representados por vanaveis numéricas, e os • deve ser viável em termos de custo, tempo e conheci-
qualitativos, que expressam variáveis ou dimensões que não mento técnico.
podem ser representadas apenas por números, como quali- Donabedian (1982), que desenvolveu pressupostos con-
dades de um fenômeno ou de uma ação, valores, atitudes, etc. ceituais para a chamada avaliação qualitativa, propõe a cons-
Os indicadores quantitativos podem ser um número absoluto trução de indicadores que contemplem três vertentes: estrutu-
(por exemplo, número de alunos de graduação inscritos numa ra, processo e resultado. Em relação à estrutura, podem-se
biblioteca universitária) ou um número relativo (por exemplo, criar indicadores referentes a recursos humanos, físicos e
proporção de alunos de graduação inscritos numa biblioteca materiais, por exemplo: número de bibliotecários em relação
universitária em relação ao número total de alunos de gradua- ao número de funcionários da unidade de informação. Os indi-
ção da unidade). O uso de indicadores quantitativos ou quali- cadores de estrutura podem auxiliar nas decisões sobre inves-
tativos depende da natureza e dos objetivos do projeto. timento, ou recursos para o projeto, programa ou serviço. Os
O processo de escolha de indicadores se inicia pela defi- indicadores de processo focalizam, especialmente, os procedi-
nição dos aspectos que se deseja avaliar ou pelas perguntas mentos, a capacitação das equipes e a abrangência do atendi-
avaliativas. Definidas as perguntas, procura-se chegar aos mento. Podemorientar as decisões sobre otimização ou raciona-
elementos que, se conhecidos, ajudariam a responder essas lização dos procedimentos. Quanto ao resultado, tem-se a rela-
perguntas, conforme ilustrado abaixo: ção entre ações e público-alvo; por exemplo: número de profes-
sores participantes de programas de orientação a usuários em
Pergunta Indicadores relação ao número de professores inscritos na biblioteca. Os
Em que medida o programa de - aumento do número de usuários
indicadores de resultado podem orientar a decisão sobre a con-
divulgação da biblioteca univer- - aumento do número de visitan- tinuidade ou não de determinadas ações.
sitária X está contribuindo para tes (movimento da biblioteca) A abordagem proposta por Donabedian permite, ainda,
o aumento de uso da biblioteca? - aumento do uso do acervo (obras relacionar as diferentes vertentes, tais como: estrutura e pro-
consultadas e emprestadas)
- aumento das consultas ao site
cesso (relação entre recursos existentes e produtividade),
- aumento da razão de usuários processo e resultado (relação entre produção alcançada e o
reais x usuários potenciais resultado obtido), conforme mostram os exemplos abaixo:
• número de freqüentadores da biblioteca/número de horas
Dificilmente um só indicador é suficiente para aprofundar de atendimento
o conhecimento do problema, mas é preciso cautela para não • número de estudantes que relatam ter maior conheci-
selecionar um número excessivo de indicadores, o que dificul- mento dos recursos da biblioteca/ percentual de freqüência aos
taria o monitoramento. Recomenda-se que a seleção de indica- rogramas de orientação.
dores respeite os seguintes critérios:
Os indicadores selecionados devem ser comparados com
• deve ser utilizado de modo contínuo, ao longo de parãmetros previamente definidos. Conforme Tanaka e Melo,
determinado período,de forma a facilitar a análise de tendência parãmetros são referências adotadas pelos avaliadores e podem
dos indicadores; estar baseados na situação inicial, nos objetivos da avaliação
deve estar acessível ou ser obtido a curto prazo e sem (metas quantitativas e mudanças de qualidade de serviços e
demandar muito trabalho; \ produtos) e no conhecimento existente na literatura.
• deve ser aceito como válido e confiável por todos os atores
envolvidos na avaliação;

22 23
2.1.4 Avaliação e mudança política e, naturalmente, recursos humanos, fmanceiros e mate-
riais que a viabilizem.
Aavaliação é, na prática, um processo catalisador de mudança.
Não existe mudança isolada que não afete outros setores.
Pressupõe, naturalmente, que esta última seja possível e dese-
Por isso, deve-se encará-Ia de forma sistêmica e admitir que a
jável para a organização. Mudança é, aqui, entendida como
interação entre os vários elementos de um sistema pode pro-
qualquer alteração planejada no status quo, que afete a estru-
duzir um atributo novo que não pode ser alcançado de modo
tura, os serviços, os programas ou a alocação de recursos de j olado.
uma organização.
Freqüentemente, a melhoria das unidades de informação é
A avaliação deve determinar o que mudar em um serviço de
tribuída à dotação de maiores recursos (equipamentos, re-
informação e como mudar, auxiliando o bibliotecário a fazer
ursos financeiros, pessoal, espaço fisico, etc.), à modernização
mudanças internas (rotinas, atividades, serviços) ou externas
ti s operações (principalmente através da automação dos pro-
(relações com o ambiente). Sempre parte de um problema e,
ssos técnicos, dos serviços e das comunicações) e à coope-
desta forma, ou este existe e provoca uma mudança na orga-
I' ção entre unidades e sistemas.
nização, ou era irrelevante.
Esses fatores, sem dúvida, contribuem para a melhoria das
-- Nesse sentido, a avaliação deve estimular os profissionais a
unidades de informação, mas não são suficientes. Na opinião
tratarem a mudança como uma força positiva. Os bibliote-
11 s especialistas do citado CLADES, esses fatores, podem até,
cários devem desenvolver estratégias que encoragem a mu-
p radoxalmente, ser considerados estimulantes de atitudes
dança, se esta for importante para melhorar o nível de satis-
( nservadoras, pois não apontam para uma mudança de pa-
fação de seus usuários. Para isso, precisam conhecer todos ~s
rlrões. Assim, por exemplo,o microcomputador pode ser utilizado
aspectos da organização que afetem seu desempenho, tais
'penas para fazer mais rapidamente o que já se fazia e não,
como: ambiente, missão, objetivos, estratégias e políticas,
c mo seria desejável, para se atingir melhor qualidade de
estrutura, centros de decisão, processos e recursos. Alémdisso,
cI sempenho dos serviços da unidade de informação.
é indispensável que tenham uma clara compreensão do fluxo
Em princípio, a mudança deve ser vista como uma energia
de informações, ou da comunicação na organização, de forma
11 sitiva, mas algumas questões devem ser objeto de reflexão.
a se integrarem a esse fluxo e trabalharem para seu aprimo-
Ir.m primeiro lugar, convém certificar-se de que a organização
ramento, se for o caso.
IIr cisa de mudanças básicas, ou seja, se, quando forem obser-
A organização, como sistema que é, consiste em um con- v idos problemas de baixo desempenho ou outros sinais de
junto complexo de elementos que interagem entre si e com o I11 ficácia organizacional, serão necessários pequenos ajustes
ambiente externo. Segundo Hage & Finsterbusch (1987), o uu grandes mudanças (mudanças básicas). Estas podem consistir
ambiente determina estratégias, restringe produtos e orienta 11 reorganizações estruturais, mudanças nos processos ou
o desempenho, além de impor limites aos recursos. Aestratégia ruudanças tecnológicas. São consideradas mudanças básicas
afeta processos e recursos, que afetam estruturas. As estru- I ( rque alteram práticas em diferentes níveis da organização e
turas afetam processos. Em resumo, estratégia, processos, III rferem em diferentes unidades do sistema, em geral refle-
estruturas e recursos afetam produtos e desempenho. t I do objetivos, estratégias e planos revistos e implicando deci-
Dada a complexidade desses sistemas, a mudança deve ser s complexas e realocação de recursos. Mudanças básicas
administrada. Isto requer tempo, clima administrativo favorável r- o necessárias quando houver sintomas de ineficácia, como
e habilidade de administrar a resistência à mudança; pres- 1)1 blemas de qualidade, ineficiência operacional e baixo moral,
supõe, também, a existência de razões reais e bem fundamen- 11 pois de aplicadas técnicas para solucionar pontualmente
tadas para que a mudança ocorra, além de liderança, força s problemas.

24 25
Em segundo lugar, é importante assegurar-se de que a ações e projetos. Avalia-se, como mencionado acima, para
organização esteja pronta para a mudança. Isto implica ava- aprimorar a qualidade de serviços, programas e projetos e, final-
liar as condições institucionais, organizacionais, políticas e mente, para que se possam evitar erros e não apenas remedíá-los,
técnicas que lhe são favoráveis e, principalmente, como os Ao fornecer informação e conhecimento para a tomada de
membros da organização e aqueles com as quais ela se rela- decisões, a avaliação identifica e busca soluções para proble-
ciona externamente reagirão à mudança. Implica, também, mas, confere viabilidade e exeqüibilidade ao planejamento e
avaliar as possíveis resistências à mudança, considerando que permite melhorar o seu impacto sobre o público-alvo e o pro-
esta pode afetar o poder, o prestígio, a segurança no trabalho cesso de gestão interna. Quanto mais precisa for a análise da
e outros interesses. Se houver indícios de focos de resistência, organização, do contexto e dos públicos, mais realistas e viáveis
devem-se buscar outras formas de intervenção que sejam serão os objetivos, mais adequados os meios propostos e maior
menos ameaçadoras e mais adequadas às necessidades e a possibilidade de satisfação do público.
preocupações desses grupos. Segundo Rossi e Freeman (1989), a avaliação permite:
Finalmente, é preciso que se avalie a capacidade da orga- • verificar a adequação da unidade de informação às metas
nização de implementar as mudanças, garantindo que alcan- da organização e às necessidades dos usuários;
cem os resultados desejados sem apresentar conseqüências • verificar o grau de cumprimento dos objetivos com vista
indesejáveis. Devem-se avaliar os prováveis beneficios e riscos à sua eficácia;
de cada intervenção proposta, a fim de garantir sua eficácia • verificar a adequação de alocação de recursos, ou seja,
no momento de implementá-la. se os recursos alocados são, de fato, necessários para atingir
determinados objetivos ou se deveriam ter sido utilizados em
2.2 Finalidades da avaliação utro programa que causasse maior impacto;
Políticas, programas, projetos, serviços, produtos, pessoas e • monitorar: acompanhar determinado programa ou ser-
organizações estão sujeitos à avaliação. A questão que deve viço do ponto de vista da eficácia e da eficiência;
ser colocada como ponto de partida para um processo de avalia- • verificar o impacto de determinado serviço ou atividade
ção é simples, mas exige respostas precisas: para que avaliar? implementada (avaliação voltada para os beneficios);
Avalia-se para conhecer, construindo momentos reflexivos • testar programas inovadores (avaliação voltada para os
que permitam a análise da realidade e dos fatos para direcionar novos serviços ou atividades;
ações - a avaliação é, assim, uma forma de aprendizagem. aprimorar determinados serviços e atividades para
Avalia-se, também, como vimos acima, para poder escolher manter níveis de desempenho e garantir que o pessoal faça
prioridades, tomar decisões, definir o que mudar e como mudar, tudo para alcançar esses níveis de desempenho;
acompanhar ações e realimentar decisões e opções políticas e • decidir sobre a continuidade ou descontinuidade de
programáticas, contribuindo para a sua melhoria. Destaca- programas, uma vez que a avaliação traz dados que dão suporte
se, aqui, a importância estratégica da avaliação. Avalia-se, I decisões.
ainda, para apresentar resultados à sociedade, por dever ético,
sobretudo quando se trata de projetos públicos, desenvolvidos 2.3 Tipos de avaliação
com recursos do Estado ou do terceiro setor. Prestar contas da C) processo de avaliação tem sido muito estudado nos últimos
aplicação de recursos da organização ou de seus parceiros InOS e recebido importantes contribuições de profissionais da
também é uma importante finalidade da avaliação, pois pode roa social, e, mais especialmente, daqueles ligados ao terceiro
estimular a continuidade das parcerias. Ressalta-se, aqui, a etor. Isso acontece porque as organizações e projetos do ter-
importância da avaliação para a captação de recursos para

26 27
ceiro setor dependem de captação de recursos para sobre- valor e de arbitrariedade por parte dos avaliadores, e expressa
viverem e, para tanto, precisam mostrar resultados e aprimorar a verdade absoluta, ao contrário da qualitativa, mais influen-
continuamente suas ações para ampliar beneficias e impactos. ciada pela visão de mundo do avaliador.
Uma análise dos textos mais relevantes publicados nessa área, a fato é que nenhuma das abordagens está isenta de subje-
combinada com a prática da avaliação na área de informação, tividade e que as análises e conclusões obtidas no processo de
permitiu chegar a uma síntese didática dos diversos tipos de valiação estão necessariamente permeadas da visão de mundo
avaliação, que foram agrupados sob duas categorias simples dos valores dos avaliadores. Não há, pois, avaliação neutra.
- abordagem metodológica e sujeitos da avaliação - e uma 1ssa é uma das principais razões para que sejam cuidadosa-
categoria complexa, que reúne momento e finalidade da ava- mente explicitados os critérios, a abordagem, as técnicas e os
liação. instrumentos utilizados no processo de avaliação e que levaram
s conclusões obtidas.
2.3.1 Quanto à abordagem metodológica A partir de quadro elaborado por Tanaka e Melo (2001, p.75),
Quanto à abordagem metodológica, a avaliação pode ser I odemos assim resumir para cada tipo de abordagem suas
quantitativa, qualitativa ou pluralista. v ntagens e desvantagens:
A abordagem quantitativa utiliza metodologias baseadas na Vantagens
estatística e na experimentação controlada, dá ênfase à
mensuração e quantifica metas e resultados. da abordagem quantitativa
A abordagem qualitativa utiliza metodologias apoiadas na • possibilita a análise direta dos dados
sociologia, na antropologia ou na história oral e sua ênfase • tem força demonstrativa
recai nos agentes e nos processos. Embora ainda se verifique • permite generalização pela representatividade
a predominància dos modelos teóricos quantitativos, admite- • permite inferência para outros contextos
se que os modelos qualitativos complementam e aprofundam
a abordagem qualitativa
o alcance da avaliação. Por essa razão, a tendência atual é a
abordagem pluralista, um tipo de avaliação que não apenas permite interação
mensure quantitativamente beneficias ou maleficios de um • leva em conta a subjetividade dos sujeitos
programa ou ação, mas que também qualifique decisões, pro- permite compreender a dinàmica interna de programas
cessos, resultados e impactos sociais. tividades
De acordo com Tanaka e Melo (2001), a abordagem quan- permite compreender múltiplos aspectos de programas
titativa procura descrever significados que são inerentes aos erviços
fenómenos e aos processos analisados e, por isso, é considerada permite avaliar resultados difusos e não específicos
objetiva. Utiliza a coleta de dados quantitativos, busca sempre svantagens
respostas estruturadas e as técnicas de análise são dedutivas.
abordagem quantitativa
A abordagem qualitativa procura descrever significados que
são socialmente construídos e, por essa razão, é considerada • o significado é sempre sacrificado em detrimento do rigor
subjetiva. Pela coleta de dados qualitativos, obtêm-se respostas III temático exigido pela análise
. semi-estruturadas ou não estruturadas e as técnicas de análise não permite análise das relações
são indutivas. • os resultados podem ser considerados como verdade ab-
( luta
Existe uma crença de que a avaliação quantitativa, por ser
expressa em números, é científica, neutra, isenta de juizos de

28 29
Início da ação Fim da ação
da abordagem qualitativa
• pode conduzir a uma excessiva coleta de dados Finali- Avaliação da Avaliação do Avaliação de Avaliação
dade situação diagnóstico e processo [mal
• depende de uma capacidade maior de análise por parte da proposta
do avaliador
• exige maior uso do recurso tempo. Diagnóstico Avaliação Acompanhamento Avaliação de
Denomi- resultados
O importante é escolher uma abordagem que potencializ~ a marco zero ex-ante Monitoramento
nação Avaliação de
Avaliação formativa
capacidade de conhecimento do projeto, programa ou serviço impacto
que é objeto da avaliação. Tanaka e Melo destacam que a abo~-
dagem quantitativa é geralmente empregada ~ar~ a~ apr~x~- Aavaliação denominada marco zero se realiza antes do início
mações iniciais com o objeto a ser avaliado, devido a disporiibi- da ação, ou seja, antes de se iniciar qualquer projeto. Também
lidade de dados estatísticos e à facilidade de se lidar com esta- pode ser denominada diagnóstico, pois consiste em uma análise
tísticas simples. À medida que houver necessidad~ de se ~~ro- ituacional da realidade com a finalidade de orientar o plane-
fundar no conhecimento e na interpretação do objeto, utiliza- J mento de ações futuras e servir de parámetro para as outras
se a abordagem qualitativa. r ses da avaliação.
A avaliação ex-ante analisa o diagnóstico e a proposta, antes
2.3.2 Quanto aos avaliadores 1 sua implementação. Preocupa-se em avaliar sua capacidade
Quanto aos responsáveis pela avaliação, podemos ter a ava- I responder às demandas e expectativas do público-alvo; sua
liação interna, quando realizada por pessoas da própria orga- viabilidade; a coerência entre objetivos, estratégias e resultados
nização ou envolvidas diretamente no projeto. Esse tipo de I retendidos, o grau de prioridade e de importáncia do projeto
avaliação deve ser incorporado como valor, e resultar.e~ apr~n- I ra os beneficiários; bem como o grau de adesão e envolvi-
dizagem, em capacitação, em crescimento dos proflsslO~als e m nto da comunidade e do público-alvo.
dos beneficiários das ações. Já a avaliação externa, realizada A avaliação de processo ou formativa é normalmente condu-
por pessoas de fora da organização ou do I?roj~to,pode.ou não ti a pela equipe responsável durante a implantação do projeto,
ter efeito positivo, dependendo da competência da eqUlp~res- procurando informações úteis para o seu aprimoramento. Com-
ponsável e da forma como for implement~da. P?de-se, ainda, \11" ende o monitoramento contínuo das atividades e a reflexão
promover uma avaliação orientada, realizada mternamente, obre a dinámica interna e externa da equipe responsável e
sob a liderança de um consultor externo e, em alguns casos, \I interação com o público-alvo.
com o apoio de uma equipe de consultores externos. Aavaliação de resultados ou somativa é geralmente efetuada
Cada tipo de avaliação apresenta pontos fortes e fracos, li) érmino do projeto, para determinar seus méritos e fracassos,
mas, de maneira geral, seu sucesso vai depender do grau de II endo, também ocorrer durante a implementação da ação
participação e do compromisso dos envolvidos, como será ana- 1111 do projeto, a fim de avaliar os resultados parciais obtidos.
lisado mais adiante. I uer indicadores definidos, isto é, critérios norteadores do
11 sso do projeto.
2.3.3 Quanto ao momep.to da avaliação A avaliação de impacto ocorre após o período de imple-
Como mostra o quadro abaixo, a avaliação se dá basicamente 111 ntação das ações e tem por finalidade analisar o efeito do
JlI d to no público-alvo.
em três momentos diferentes e com finalidades diversas. Cada
um desses momentos recebe uma denominação própria:

30 31
2.4 Aspectos a serem avaliados recursos organizacionais, mas deve ser prático e viável para
Partindo de uma visão sistêmica, a avaliação do desempenho que possa ser aplicado com relativa facilidade e incorporado
de um projeto ou de uma unidade de informação geralmente o cotidiano da administração da unidade de informação.
pressupõe a análise de vários aspectos, que se inter-relacio- As ações que constituem o processo de avaliação podem ser
nam: grupadas de acordo com suas funções básicas, quais sejam:
• a comunidade, pois mudanças na sociedade (leis,valores, • coletar informações: promover a coleta e a sistematização
problemas políticos, econõmicos, sociais, etc.) podem inter- ele informações relevantes sobre o contexto, os programas e
ferir, direta ou indiretamente nas unidades de informação; ições, seus públicos e seus agentes em todas as fases do pro-
• a organização, cujas missões, políticas, objetivos, bem l to;
como estrutura organizacional e recursos são fatores deter- • estabelecer e aplicar parâmetros: criar indicadores para
minantes da 'cara' de sua unidade de informação; cI terminar valor, qualidade, utilidade, efetividade e importância
• os programas, que são uma combinação de atividades e elo'objeto' avaliado, a partir do entendimento de que os indica-
serviços tendo em vista determinados objetivos; dores são um conjunto de fatores/ critérios/meios de verificação
as atividades, rotinas ou procedimentos para dar apoio que permitem avaliar desempenho e grau de alcance de resul-
a determinado serviço ou a determinada ação; I dos;
• os serviços e produtos; • identificar processos e resultados;
• a equipe envolvida - os que trabalham no projeto ou na • comparar dados de desempenho;
unidade de informação - cuja avaliação de desempenho • julgar: atribuir valor;
permite determinar a qualidade e a quantidade de serviço • propor: fazer recomendações para o aprimoramento/a
executado, oferecer orientação e estratégias para melhorar a mada de decisões;
criatividade, a produtividade e a eficácia; • informar: a equipe, os financiadores e o público.
• os usuários, cujos perfis, expectativas e opiniões são ele- O processo de avaliação pode ser influenciado por alguns
mentos fundamentais no processo de planejamento e que for- I itores, que formam o quadro ou o cenário que permite à
necerão o feedback indispensável ao processo de avaliação, pois unidade de informação determinar o grau de envolvimento e o
nenhum problema estará solucionado e nenhum objetivo será forço a dedicar a um processo de avaliação formal e contínuo.
atingido se o usuário não o reconhecer; o eles:
I I • o acervo.
• fatores ambientais;
II Os vários níveis de avaliação são interdependentes, embora • cultura organizacional;
se possam desenvolver estudos voltados apenas para determi- barreiras por parte do pessoal;
nados aspectos, como, por exemplo, a avaliação de desempenho disponibilidade de recursos;
da equipe. • grau de necessidade de informação dos usuários.
A avaliação de um projeto ou serviço de informação será
2.5 Processo de avaliação 1\ ilitada se essa prática for corrente em outras unidades de
O processo de avaliação envolve planejamento, pesquisa e nforrnação em determinada área de atuação. Assim, por
mudança. Deve fundamentar-se em projeto de pesquisa e mplo, se um grupo de profissionais de serviços de infor-
métodos rigorosos, envolver funcionários e usuários, e enfatizar 111 ção em arte se dispuser a avaliar regularmente seu desem-
I áreas, atividades, programas e serviços passíveis de mudança. I nho com vista à melhoria dos serviços prestados, haverá
Exige, naturalmente, disponibilidade de tempo do pessoal e in ior probabilidade de se incorporar essa prática em outras
I
II 32 33
I .
bibliotecas, arquivos e centros de documentação em arte de onhece todos os seus problemas e que só não os resolve 'por
determinada região, não só pela metodologia que já se terá Clta de recursos'.
desenvolvido, mas, sobretudo, pela atitude positiva em relação Esses profissionais preferem não desenvolver nenhum pro-
à avaliação. , sso de avaliação, baseando sua análise em percepções e
Também colaboram para o processo de avaliação estímulos impressões subjetivas. Em geral, tal atitude encobre a inse-
externos, corno a adoção de políticas de qualidade ou a neces- gurança daqueles que vêem na avaliação uma ameaça ao status
sidade que têm os diversos serviços de se afirmarem ou dife- quo, encarando as interpretações dos dados como um ataque
renciarem, necessidade esta geralmente decorrente de ambi- políticas e práticas correntes. Nesses casos, os profissionais
entes competitivos. n o só não tomam a iniciativa de um processo de avaliação,
Da mesma forma, a atitude da unidade de informação nor- mo não colaboram, caso esse processo lhes seja imposto e,
malmente reflete a cultura vigente na instituição. Se esta estiver muitas vezes, consciente ou inconscientemente, controlam os
preocupada com a qualidade de seus serviços e produtos e I ultados da avaliação, adequando-os a suas expectativas.
com a satisfação dos clientes, refletirá essa preocupação na A avaliação também pode ser prejudicada por expectativas
área de informação, o que, na prática, significará o estabele- ( ntraditórias do pessoal em relação ao processo e a seus
cimento de medidas de desempenho que permitam o acom- ( bjetivos, o que pode ser evitado por uma discussão clara e
panhamento e a avaliação sistemática dos resultados alcan- I rticipativa das finalidades da avaliação e de seu processo.
çados. Avaliação envolve compromisso e um processo de nego-
De outra parte, a implantação de processos de avaliação I I ção. Por isso, avaliadores externos mostram-se relutantes

em unidades de informação, tanto de instituições públicas como 1U desenvolver estudos em ambientes repressivos ou res-
privadas que não tenham esse tipo de preocupação, demanda lritivos. O ideal é um ambiente aberto, com um pessoal real-
um esforço considerável e só conseguirá ser bem-sucedida pelo 111 nte interessado no planejamento e no aprimoramento de
trabalho consciente do grupo envolvido e, de preferência, com u desempenho.
uma liderança com força suficiente para navegar contra a Um processo regular e contínuo de avaliação de serviços de
corrente, ou contra o marasmo ou a ineficiência que prevalece nformação é um componente indispensável para dispormos
na instituição. II serviços eficazes. Isso exigetrabalho conjunto de avaliadores
Mesmo consultores externos contratados para avaliação de de todo o pessoal das unidades de informação e seu preparo
serviços não desenvolvem seu trabalho a salvo das realidades 110 sentido de incorporar essa prática a seu dia-a-dia.

políticas e das restrições impostas pela organização; por essa Noprocesso de avaliação, os avaliadores devem tentar uma
razão, devem estar conscientes do ambiente em que vão atuar relação simbiótica, não hostil. Devem evitar o confronto,
e de seu impacto no processo de trabalho. Embora geralmente II balhando junto aos administradores e mantendo-os a par de
prefiram manter-se neutros, os consultores não podem ignorar lodo o processo, ou seja, informando-os sobre o desenvol-
a possibilidade de uso político de seus estudos. De qualquer vimento do estudo, os problemas encontrados e a natureza
forma, devem oferecer recomendações realistas, úteis, relevan- ral dos dados coletados. Um dos primeiros passos nesse
tes e aceitáveis, para que os administradores possam imple- t ntido é a tentativa de identificar os líderes, para discutir
t om eles expectativas e futuros usos dos dados. Devem tam-
mentá-las.
Dentre as diversas barreiras à avaliação, a maior parte delas I) m examinar os relatórios e toda a informação disponível para
relaciona-se, porém, a questões pessoais e políticas. O principal ti melhor conhecimento da unidade de informação.

obstáculo à avaliação pode ser o próprio bibliotecário, quer ao O sucesso da avaliação depende, em primeiro lugar, de
julgar que está tudo bem na sua biblioteca, quer ao achar que ti formações confiáveis. Verifica-se, com muita freqüência, em

34 35
nosso meio, que, pelo fato de não fazerem avaliação de serviços
continuamente, os bibliotecários acabam mantendo dados de- 3
satualizados e muitas vezes os tratam como atuais e perti-
nentes. Para contar com dados confiáveis, os profissionais
devem passar a ser produtores e consumidores de informação Relatórios como instrumento de
sobre avaliação, ou seja, devem manter registros de dados planejamento e avaliação de
quantitativos e qualitativos sobre seus projetos e serviços que
sirvam como medidas de avaliação e forneçam subsídios ao serviços de biblioteca
planejamento.
É importante, também, ressaltar que dados numéricos, ain-
da que coletados sistemática e periodicamente, somente serão
transformados em informação quando puderem ser analisados VIMOS,antes, que, dentre os fatores objetivos que interferem
comparativamente e possibilitarem uma avaliação que dê na qualidade da avaliação de serviços, destaca-se a falta de
subsídios a uma ação efetiva. registro sistemático de dados sobre o desempenho da unidade
O sucesso da avaliação depende, em segundo lugar, da e informação. Por essa razão, parece-nos pertinente apresentar
habilidade da equipe que coordena o processo em lidar com de forma sistemática e prática, neste capítulo, algumas diretri-
seus colegas ou com os elementos envolvidos (o que também é zes e propostas para a elaboração de relatórios entendidos como
garantia de obtenção de informações confiáveis) e de sua Instrumentos no processo de planejamento.
perspicácia e competência, tanto ao identificar as questões Será aqui focalizado o relatório voltado para bibliotecas, por
relevantes, quanto ao analisar o problema, a fim de fornecer rem as mais complexas dentre as diversas categorias de
informação útil ao planejamento organizacional e à tomada de rviços de informação. Tal complexidade deve-se ao fato de
decisão. , Incluírem acervos com vários suportes documentais, serviços
Uma avaliação bem-sucedida não ocorrerá ao acaso. De- voltados ao tratamento de informações e serviços ao usuário,
vem ser criadas as condições para que ela possa ocorrer e seja cl sde a consulta e o empréstimo até a pesquisa. O modelo
eficaz. Dessa forma, é preciso que o processo de avaliação seja ugerido pode ser adaptado a outros tipos de serviço de infor-
participativo, bem organizado e com liderança capaz de pre- mação, tais como arquivos e centros de documentação.
parar as pessoas para a mudança e de conduzir o processo da
forma mais adequada possível. Deve ser, também, fundamen- 3.1 Definição
tado em informação e conhecimento, pois a informação reduz relatório de uma biblioteca é o conjunto de informações sobre
a incerteza. Neste sentido, a criação de um sistema de infor- ervo, serviços prestados, usuários e recursos humanos
mação operativo e gerencial para acompanhar a implementação icos, materiais e financeiros ordenados de modo a mostrar
e a execução das ações, bem como a utilização de indicadores, I ituação da biblioteca em dado período de tempo. Não é ape-
serão fundamentais no processo de avaliação. 11 suma contabilização de dados, mas o resultado de um pro-
I so que transforma dados em informação, isto é, que os ana-
11 ,atribuindo-lhes significação no contexto da biblioteca.
v.
3.2 Finalidades
() relatório é, sobretudo, um instrumento para o bibliotecário
inalisar e avaliar o desempenho da biblioteca, um instrumento

36 37
que lhe permitirá cumprir suas funções de administração e captar recursos de entidades financiadoras ou patrocinadoras
planejamento. Possibilita um momento de reflexão em que, e gerir, enfim, o sistema.
tendo como referência o plano de trabalho para o período, A questão dos relatórios de sistemas de bibliotecas é muito
analisa a situaçãO existente e avalia os resultados alcançados complexa. Por encontrar-se a coordenação geralmente distante
e os problemas encontrados. O plano de trabalho indica os do dia-a-dia das bibliotecas, é absolutamente indispensável
objetivos específicos e as principais linhas de ação da biblioteca que planeje seu relatório de forma a contar com dados verda-
para o período, bem como as metas e resultados a serem alcan- deiros e coerentes, definidos a partir de critérios básicos que
çados, em consonãncia com as estratégias da instituição à irvam de padrão para a coleta de dados. Além disso, é preciso
qual a biblioteca está subordinada. O relatório compara os que haja um alinhamento de conceitos, ou seja, um entendi-
resultados desejados, constantes do plano de trabalho, com ento único de cada termo definido no relatório e da natureza
os resultados alcançados. O relatório é o real, não o desejado. de cada serviço, a fim de não se darem nomes diferentes a
O relatório serve, também, como instrumento de marke- oisas iguais e vice-versa. Todos os cuidados devem ser tomados
ting da biblioteca: funciona como forma de divulgação, e de para que os dados fornecidos coordenação de fato espelhem
à

prestação de contas, dos serviços que estão sendo desenvol- s reais condições da biblioteca e de que sua análise indique
vidos aos dirigentes e comunidade potencialmente atendida,
à ilternativas de solução para os problemas apontados, de forma
inclusive aos políticos (principalmente em bibliotecas públicas), 1ue a coordenação possa levar em consideração as caracterís-
administradores, técnicos e autoridades em geral. ticas individuais, refletindo, muitas delas, diferenças locais,
Os dados do relatório podem ser utilizados para fornecer orno no caso de sistemas estaduais compostos por bibliotecas
informações a serem divulgadas em boletins, jornais, estações d diferentes municípios.
de rádio, etc. Esses veículos são, sobretudo, acessíveis em uni-
versidades e em municípios do interior, mas, em ámbito mais 3.3 Periodicidade
restrito, podem estar disponíveis em grandes e médias empre- ( s relatórios são elaborados a partir de dados registrados
sas, na forma de house-organs ou mesmo jornais eletrônicos. diariamente, e que são reunidos e analisados em períodos pre-
O relatório fornece subsídios para aprimorar os serviços da d terminados. A periodicidade mínima de um relatório é anual,
biblioteca, maximizar o uso da informação e dos documentos, mas é conveniente que, mensalmente, trimestralmente e
e ampliar o ámbito de atendimento da biblioteca na comuni- mestralmente os dados sejam reunidos e alguns pontos de
dade. Além disso, um relatório bem-elaborado vende uma ima- pecial relevância sejam destacados para análise posterior.
gem positiva da biblioteca e faz com que o bibliotecário seja Como vimos, o relatório é feito, normalmente, tendo como
reconhecido como um profissional diferenciado na instituição. I sferência um plano de trabalho ou um projeto, servindo, assim,
Se o relatório é fundamental para que a administração e o mo instrumento de acompanhamento da implantação do que
planejamento de uma biblioteca, mesmo de pequeno porte, li i planejado. Nesse sentido, um acompanhamento regular e
deixem de ser tarefas intuitivas ou jogos de ensaio e erro, é I ralelo ao desenvolvimento do plano permite a correção de
indispensável na coordenação de um sistema de bibliotecas, I ursos de ação que se mostrem ineficientes ou inadequados.
servindo para o gerenciamento de projetos e para o acompa- : da instituição apresenta uma dinâmica própria no seu
nhamento e avaliação do desempenho tanto das unidades, I rocesso de administrar. O relatório, entendido como instru-
isoladamente, quanto do sistema, como um todo. É com base 111 nto de avaliação, deverá ser integrado a essa dinâmica, fator
no conjunto de relatórios das bibliotecas que a coordenação que também definirá sua periodicidade. Em bibliotecas de
poderá defmir metas para o sistema, elaborar e implantar proje- 111 dio e grande porte, os dados de relatórios mensais freqüen-
tos integrados que correspondam a suas necessidades reais, I mente servem de base para reuniões setoriais, fornecendo

38 39
subsídios para eventuais revisoes de procedimentos ou de ) formulários devem ser muito bem estudados e testados
planos operacionais, para que se atinjam as metas predefinidas. II tes de sua aplicação em larga escala. Devem ser claros por
De qualquer forma, em geral, os relatórios mensais, tri- mesmos, dispensando informações complementares sobre
mestrais ou semestrais, embora abrangentes, nem sempre ua finalidade e forma de preenchimento. O tamanho dos for-
apresentam a mesma profundidade de análise que o relatório uiulários e de seus campos, o tipo e a cor do papel, bem como
anual. Isso ocorre não apenas pela falta de tempo da equipe, I informações relativas ao período abrangido, setor a que se
I( ferem etc., devem ser explicitados, de preferência, no próprio
mas ~ambém porque um período de observação mais longo
permite comparar dados, extrair interpretações mais funda- II rmulário. Simplicidade, obj etividade e clareza são caracte-
I ticas indispensáveis aos formulários de coleta de dados, bem
mentadas e elaborar propostas mais pertinentes.
I orno a quaisquer ijllpressos ou formulários da biblioteca.

3.4 Critérios para a coleta de dados


3.5 ~presentação do relatório
Juntar dados para o relatório implica trabalho anterior de coleta
desses dados. Para tanto, é preciso que se definam com clareza 11mdado que, isolado, não tem significação, adquire nova di-
quais os dados que se desejam coletar, para que e como coletá- 111 nsão se compar!ldo a outro ou se inserido em uma série

los. A biblioteca apresenta uma infinidade de serviços e produ- 111 tórica de dados: as relações que se conseguem estabelecer
tos quantificáveis e, por essa razão, é necessário estabelecer ntre os vários dadOS de uma biblioteca possibilitam maior
« mpreensão dos problemas e ajudam na formulação de pro-
um limite para que os funcionários não percam mais tempo
contando serviço do que efetivamente produzindo. l>stas de soluções para esses problemas. O uso de tabelas,
O critério para definir o que deve ou não ser contado é a muito freqüente em relatórios, possibilita o arranjo dos dados
utilização ou o aproveitamento que se pretende fazer desses ti forma a incluir percentuais, permitir comparações e facilitar
dados. Nesse sentido, é natural que seja dada prioridade aos ontextualização Jesses dados.
'dados de saída', ou seja, aos dados ligados às atividades-fim O uso de gráficos para representar visualmente uma tabela
da biblioteca, como circulação, serviços aos usuários, etc. Os ou para ilustrar e reforçar uma análise é de fundamental impor-
"dados de entrada', como, por exemplo, os dados de aquisição t ncia no relatório, embora não seja muito corriqueiro. Um
e processamento técnico devem ser registrados sem excesso r fico simples e cl~ro poderâ expressar de forma muito mais
« ntundente uma sitUação que necessitaria de muitas palavras
de minúcias, de acordo com as necessidades da biblioteca ou
do sistema. I ra ser interpretacia. A imagem visual é imediata e globali-
Para que a coleta de dados seja conseqüente, é preciso que . nte, daí sua forç<J.como' mensagem. No entanto, por mais
as variáveis estejam muito bem definidas, que seja fixado, por li m feitos que sejaot, nem sempre tabelas e gráficos falam por
exemplo, o que exatamente se entende por 'freqüência à biblio- I ós. Por essa razãc- com freqüência, complementam-se essas
I presentações gráÍÍcas com textos que interpretam os dados
teca', 'obras processadas', 'obras tombadas', etc. Como aponta-
mos acima, a padronização dos conceitos e das formas de coleta presentados ou de,tacam os itens de maior relevância.
dos dados ganha ainda mais importância quando se trata de Nem todas as informações que devem constar de um relató-
uma biblioteca que faz parte de um sistema. I O são quantifícáveies-Nesse caso, é preciso que cada biblioteca

Para que a coleta de dados seja racional e eficaz, é preciso ncontre uma forma concisa e sistemática de relatá-Ias.
que se planejem formulários adequàdos. A falta de formulários
3.6 Estrutura do relatório
torna morosa e desordenada essa tarefa e, por outro lado,
formulários mal-desenhados acabam gerando ruídos de comu- ) relatório deve co(lter as seguintes partes: sumano, intro-
nicação ou complicando processos que devem ser simplificados. dução, dados e análise dos dados, conclusão e recomendações.

40 41
o sumário traz a relação dos itens registrados no trabalho, na I IL1teque se justaponha, na tabela, o acervo do período ao
ordem em que nele aparecem. A introdução situa os objetivos 1\ rvo do período anterior, comparação que faz com que os
da biblioteca, seu ambiente, seus serviços, seus usuários, e ti dos numéricos ganhem novo significado.
sintetiza as metas de planejamento para o período, possibili- O quadro de acervodeveser montado de tal forma que permita, a
tando a análise dos dados em função dos objetivos pretendi- qualquer momento, a obtenção de dados acumulados e atualizados
dos. Os dados incluem os quadros, tabelas, gráficos e as análi- I Ira relatórios anuais ou parciais. Segue-se uma sugestão:
ses referentes a cada item levantado, como detalharemos mais 2003 2004
adiante. A conclusão deve chamar a atenção do interlocutor II pos de Processa- Parcial- Não pro- Total Processa- Parcial- Não pro- Total
111 ru ríaís dos mente cessados dos mente cessados
para os pontos principais levantados ao longo do relatório e processa processa-
deve ser acompanhada de recomendações que serão aproveita- dos dos
I- IVI'os 1000 200 300 1500 1000 200 500 1700
das nos planos de trabalho posteriores.
I IIOdicos
II ltulcs]
3.7 Os dados
Os dados que devem constar do relatório variam de uma biblio- 3.7.2 Pessoal
teca para outra, devido à especificidade de cada uma, ao plano
11, te item deve fornecer dados sobre o pessoal em exercício no
de trabalho em função do qual o relatório é elaborado e à neces-
sidade ou oportunidade de a biblioteca enfatizar determinados 11 ríodo, bem como indicar ocorrências, como licenças, afasta-
11\ ntos, demissões e admissões, aposentadorias, etc.
pontos para fundamentar novos projetos ou investimentos.
O quadro de pessoal especifica a quantidade de pessoas
O roteiro apresentado a seguir recomenda dados mínimos 11 is diferentes categorias e, se houver, as diferentes jornadas
que devem aparecer nos relatórios e tenta definir alguns termos ti trabalho, Pode apresentar uma comparação entre pessoal
que possam sugerir interpretações ambíguas. Dessa sugestão istente no ano em pauta e em períodos anteriores, se se
de roteiro constam os itens: acervo, pessoal, serviços de proces- ti sejar enfatizar escassez de recursos humanos, ou evolução
sos técnicos, serviços ao usuário, período de funcionamento, 11 ialitativa ou quantitativa. Poderá fornecer subsídios para co-
leitores inscritos, freqüência, consultas e empréstimos, even- 111 ntários relativos a recursos humanos tomando por base
tos/atividades especiais e recursos. A título de sugest~o, apre- I mto os dados de anos anteriores, como de outras bibliotecas,
sentamos alguns quadros adaptáveis para cada caso. E impor- IHl, ainda, padrões encontrados na literatura. Eis uma sugestão:
tante, porém, ressaltar que todo e qualquer quadro merece co-
mentários que chamem a atenção para determinados itens, 2003 2004
proponham análises comparativas e busquem interpretações. Categoria Carga horária Quantidade Carga horária Quantidade
semanal semanal

I)lbliotecàrio 40 1 40 2
3.7.1 Acervo
Tecnico em
Este item deve conter dados totais das coleções dos vários tipos IJlblioteconomia 30 2 30 1
~stagiário de
de materiais encontrados na biblioteca, distinguindo-se acervo hlblioteconomia 20 2 20 2
processado e não processado. Mencionar o acervo não proces- .. '

sado é fundamental para chamàr a atenção do bibliotecário


para a necessidade de se desenvolverem projetos de tratamento
desses documentos e paraalertar as autoridades para o fato e É conveniente apontar, se for o caso, os desvios de função
para a necessidade de mais recursos para a biblioteca. É impor- xistentes, como, por exemplo, um bibliotecário que esteja exer-

42 43
cendo a função de auxiliar ou um servente que esteja desem- Outro quadro que pode ser muito significativo é o que
penhando atividades pertinentes ao bibliotecário. presenta o registro do número de documentos requisitados
É importante registrar, aqui, os esforços dos funcionários para aquisição e o número de documentos efetivamente ad-
ou os estímulos oferecidos pela instituição no sentido do desen- quiridos. Esses dados podem explicar eventual insatisfação
volvimento dos recursos humanos, quer pela participação em do usuário em relação à biblioteca. De outra parte, podem
cursos ou eventos, quer por estágios ou rodízios internos. Tam- fundamentar eventuais pedidos de suplementação orçamen-
bém devem ser valorizadas as atividades de pesquisa e produção t ria ou projetos de desenvolvimento das coleções.
de textos para publicação em livros e periódicos especialízados
ou apresentação em eventos.
Exemplo: Obras solicitadas versus obras adquiridas
2003 2004
3.7.3 Serviços de processos técnicos Tipo de
material Solicitadas Adquiridas Diferença Solicitadas Adquiridas Diferença
3.7.3.1 Seleção e aquisição de documentos
Livro 300 150 150 350 200 150
Dependendo da finalidade do relatório, será oportuno e neces- o ••

sário mencionar a existência de política de seleção de material


para acervo e incluir uma síntese dos critérios utilízados. Caso 3.7.3.2 Processamento técnico do material
não existam, cabem cornentários a esse respeito.
I~sseitem deve incluir dados, agrupados por tipo de material,
Um quadro deve especificar o número de aquisições efe-
! ferentes a todas as unidades tombadas, catalogadas, elas-
tuadas no período, separadas por tipo de material e modalidade
ificadas, indexadas e preparadas para empréstimo no perío-
de aquisição: compra, permuta ou doação. As compras podem
do. O relatório anual deve trazer a comparação com os proces-
merecer um quadro à parte, que discrimine os fornecedores, a
s técnicos executados no ano anterior, permitindo uma
origem dos recursos e os valores gastos. É interessante o con-
ivaliação comparativa do desempenho da biblioteca.
fronto do orçamento recebido com os gastos, merecendo, ainda,
destaque os recursos obtidos de fontes externas.
Exemplo: Quadro de obras processadas
Exemplo: Quadro de distribuição de aquisições no período por tipo de Tipo de 2003 2004
material Catalogados Classificados lndexados Catalogados Classificados lndexados
material e modalidade de aquisição
Livro 300 150 150 350 200 150
Aquisições 2003 2004
... .:
Tipo de material Compra Permuta Doação Total Compra Permuta Doação Total

Livro 200 . 500 700 100 600 700


Dados pertinentes à criação, desenvolvimento e implantação
11 bases de dados relativas ao acervo também devem ser apre-
Exemplo: Quadro de compras com distribuição por fornecedores ntados neste item, ou, se for o caso, em item à parte, mas
Aquisições 2003 2004
d ntro de processos técnicos.
Tipo de Quanti- Fornecedor Valor Quanti- Fornecedor Valor Merecem, também, destaque, aqui, iniciativas voltadas para
material dade (em reais] dade (em reais] ti desenvolvimento de vocabulários controlados ou outros ins-
Livro 10 Livraria XPTO 600,00
800,00 v. 5 Livraria XPTO
t rumentos destinados ao controle da linguagem documentária,
Livro 20 Editora XYZ 980,00 10 Livraria ASCO 500,00
I m como a normas de catalogação e referenciação de doeu-
Total Total in ntos, manuais de serviços, etc.

44 45
3.7.4 Serviços aos usuários Exemplo: Quadro de usuários inscritos
3.7.4.1 Período de funcionamento Categoria 2003 2004
Cursos Turno Total Cursos Turno Total
Especificam-se aqui os horários, de segunda-feira a sexta-feira
Cinema Música M N Inseri- Acu- Cinema Música M N Inseri- Acu-
e aos sábados e domingos. Discrimina-se, também, o número tos no mula- tos no mula-
ano do ano do
de dias em que a biblioteca permaneceu aberta, no mês ou no
período a que o relatório se refere. Muitas vezes, este dado Aluno de
graduação
poderá explicar a baixa freqüência à biblioteca em determinado Aluno de
mês, ou a queda de índices de consulta e empréstimo, que se pós-gra-
duação
pode justificar pelo excesso de feriados, por greves, ou outras ...
ocorrências que devem ser aqui registradas.
M ~ Matutino. N = Noturno.

3.7.4.2 Usuários inscritos


Registra-se o número de usuários inscritos na biblioteca no
3.7.4.3 Freqüência
período a que se refere o relatório, bem como o total acumulado
de usuários inscritos na biblioteca durante o ano corrente e o Registram-se todos os usuários que entrarem na biblioteca,
total geral acumulado, inclusive o do período em apreço. para as mais diversas finalidades, tais como: uso de catálogos,
onsulta, empréstimo, freqüentadores por dia e por período.
O cadastro de usuários inscritos deve ser dinàmico, in-
"sse dado não deve ser confundido com dados de consulta, que
cluindo apenas usuários reais. Para tanto, a biblioteca deve
ão coletados a partir do material consultado. Temos notícia
definir o prazo de validade da inscrição do usuário, para ga-
de casos em que os bibliotecários criaram uma tabela imagi-
rantir um cadastro atualizado e ativo. Não interessa ao plane-
nária que multiplica o número de visitantes por três de forma
jamento da biblioteca ou à avaliação de desempenho que o
obter o que consideram o número de consultas. Esse procedi-
cadastro de usuários inscritos inclua pessoas que não mais
mento não se justifica, pois carece de fundamento científico
freqüentem a biblioteca, ou que até tenham morrido, o que,
traz dados falsos e não pode ser utilizado como instrumento
não raro, encontramos em bibliotecas públicas. Dados desa-
de planejamento.
tualizados, como nesse caso, representam uma ameaça ao pla- Exemplo' Quadro de freqüência média diária
nejamento, pois resultam em planos ou projetos completa- Categoria
2003 2004
mente descolados da realidade e, por essa razão, com uma (se possivel]
2" a 6" 2" a 6" Sãbado
Sábado
grande tendência ao fracasso. Manhã Tarde Noite Manhã Tarde Noite
Dependendo do tipo de biblioteca, o quadro de usuários Aluno de
graduação
inscritos pode agrupar os usuários por categorias. Isso per- ...
mite uma visão geral dessas categorias e de suas freqüências,
podendo indicar a eventual necessidade de se desenvolverem
estudos por categorias segmentadas de usuários ou projetos
de ampliação de uso da biblioteca. Exemplo: Quadro geral de freqüência
)
Categoria
(se possível) 2003 2004

Aluno de graduação
...

46 47
II
I

Dados relativos à freqüência são indispensáveis em qual- de se desejar aprofundar estudos de cooperação entre biblio-
quer tipo de biblioteca. Servem para justificar, por exemplo, a tecas. Pode-se, ainda, aproveitar a oportunidade para proceder
necessidade de mais funcionários para certos períodos, como a uma análise de conteúdo do material solicitado, que poderia
à noite ou nos fins de semana. Servem, ainda, para cálculos fornecer importantes subsídios para a área de formação e de-
relativos a espaço fisico e número de assentos na biblioteca. senvolvimento de coleções da biblioteca.
O quadro de freqüência deve ser acumulado por mês e, no
caso de bibliotecas públicas, escolares ou universitárias, Exemplo: Quadro de consultas e empréstimos por tipo de material
Tipo de material 2003 2004
permitir analisar separadamente os dados relativos aos me-
Consult Empréstimo Total Consulta Empréstimo Total
ses de férias escolares, para se poder avaliar a demanda da Livro 1500 2000 3500 2000 3500 5500
biblioteca nos dois momentos e planejar novas atividades. ...
O dado de freqüência destina-se a uso administrativo e polí-
tico e é interessante compará-lo ao número de habitantes do
município, no caso de bibliotecas públicas, ou ao número de 3.7.4.5 Pesquisas
usuários em potencial, no caso de bibliotecas escolares ou uni- Deve-se preencher um formulário destinado ao registro das
versitárias. pesquisas, por meio do qual se tenham informações sobre o
O quadro de freqüentadores pode ser desdobrado para apre- usuário e sua pesquisa. Convém registrar, também, o meio
sentar mais dados sobre o perfil desse freqüentador - faixa utilizado na comunicação com o usuário (por exemplo, telefone,
etária, escolaridade, profissão, bairro onde mora, etc. - possi- fax, e-mail, carta) ou se o contato foi pessoaL
bilitando o desenvolvimento de estudos de usuários. Recomenda-se encontrar formas de registrar as buscas não
atendidas, os pedidos não satisfeitos e as pesquisas negativas.
3.7.4.4 Consultas e empréstimos Tais informações são instrumento indispensável para a avalia-
Entende-se por consulta o uso do material no recinto da bi- ção do acervo e dos serviços da biblioteca e seu aprimoramento,
blioteca e por empréstimo a circulação externa do materiaL No Exemplo: Quadro de pesquisas distribuídas por tema e subtema
caso de materiais audiovisuais, pode-se considerar consulta a com avaliação de satisfação
audição local de gravações sonoras ou a exibição de filmes ou Tema Subtema Quantidade Satisfeitos com Satisfeitos com o tempo
vídeos, individual ou em pequenos grupos. conteúdo? do atendimento?
(quantidade) (quantidade)
Da mesma forma que os quadros de acervo, os quadros de
Sim Não Sim Não
consulta e empréstimo devem especificar cada tipo de material
Cinema Documentário 3 3 O 2 1
e o que deve ser quantificado não é o número de usuá,rios que ...
utilizaram o material, mas os documentos utilizados. E impor-
tante que esses dados sejam comparados com dados de igual
período de anos anteriores, a fim de se observar a evolução do 3.7.4.6 Comutação
Em relação ao serviço de comutação, devem ser registrados:
uso da biblioteca.
Os empréstimos entre bibliotecas devem ser computados número de artigos solicitados a outras bibliotecas e o total de
em separado, devendo ser discriminados: número de docu- ópias, e o número de artigos fornecidos a outras bibliotecas e
mentos solicitados a outras bibliotecas, e número de docu- total de cópias efetuadas. Deve-se observar se há títulos cujos
rtigos sejam freqüentemente solicitados a outras bibliotecas,
mentos fornecidos a outras bibliotecas
Também pode-se avaliar a utilidade de se registrarem as que pode significar informação de interesse para a área de
bibliotecas que forneceram ou solicitaram material, no caso quisição.

48 49
Devem ser registrados e analisados os pedidos não aten- eletrõnicas, o tempo em que o visitante permaneceu no site ou
didos, ou atendidos com morosidade, o que atesta falha no na página e o número de e-mails do tipo 'fale conosco' recebidos
I I sistema, e verificadas as razões dessas falhas. a partir do site. Devem-se também registrar resultados de ava-
Exemplo: Quadro de comutação com distribuíção por tema e liação do site pelos visitantes, caso essa avaliação seja realizada
subtema com avaliação de satisfação no período.
Tema Subtema Quantidade Satisfeitos com Satisfeitos com
(se possivel) (se possivel) a farmade
atendimento?
o tempo de
atendimento?
3.7.4.8 Programas de treinamento de usuários
(quantidade) (quantidade) Mencionam-se todos os programas desenvolvidos sob a respon-
Sim Não Sim Não
sabilidade da biblioteca com a finalidade de dar orientação e
Cinema Documentário 3 3 O 2 1
... treinamento aos interessados, tendo em vista a maximização
do uso da biblioteca e de seus recursos. Se possível, recomenda-
se incluir aqui, além de dados numéricos e dos perfis dos par-
3.7.4.7 Divulgação ticipantes, os resultados das avaliações desses programas.
Discriminam-se aqui todas as publicações e os serviços de alerta
Exemplo' Quadro de programas de treinamento
e disseminação de informação, bem como as ações no sentido Tipo de programa Data N" de par- Percentual
de divulgar os serviços da biblioteca em geral. Em relação às ticipantes de satisfação
publicações, recomenda-se que se especifiquem o título, a tira-
gem, a forma de distribuição, o custo da publicação e o preço,
no caso de venda. Além disso, deve ser registrado o número de 3.7.4.9 Eventos/atividades especiais
exemplares distribuídos por doação e permuta. Um balanço dos Registram-se no relatório todos os eventos ou programas
II exemplares vendidos também deve constar do relatório anual.
No caso de serviços de alerta, recomenda-se que se descreva
speciais desenvolvidos na biblioteca ou por iniciativa dela,
incluindo, como dados mínimos, título, data, duração, objeti-
o tipo de serviço (por exemplo, sumários de periódicos correntes, vos e resultados alcançados. Em relação a este último item, é
boletins informativos, serviços de alerta personalizados), a importante avaliar o número de participantes em relação ao
forma de veiculação e seu custo, se houver. Caso se trate de pessoal envolvido, o custo em relação a benefícios e outros
impresso, os dados mínimos são os mesmos das publicações. dados relevantes.
Iniciativas de divulgação da biblioteca - de seu acervo e
Exemplo' Quadro de eventos
serviços - na internet, ou em jornais locais, por meio de fer- Nome do evento Tipo Data N." de par- Percentual de
ramentas de e-mail marketing ou de releases de notícias de tlcipantes satisfação
interesse para determinados públicos devem também ser aqui
registradas e avaliadas. As ferramentas de e-mail marketing
permitem monitorar os e-mails enviados e obter estatísticas
de quantos foram abertos, quantos foram apagados sem terem 3.7.5 Recursos financeiros
sido abertos, quantos foram reencaminhados e para quantas Esta informação deve constar de relatórios anuais e poderá
pessoas, dentre outras funções. er levantada com facilidade, se a biblioteca gerir seus pró-
Se a biblioteca mantiver um site; será preciso registrar es- prios recursos. Caso contrário, será preciso coletar dados em
tatísticas de uso. Dentre essas estatísticas, destacam-se o utras áreas da instituição. É importante que a biblioteca saiba
número de visitantes do site (ou da página da biblioteca no qual é o seu custo, discriminando as despesas por tópicos,
site da instituição), o número de downloads de publicações tais como: aquisição de material bibliográfico, encadernação,

50 51
III

pessoal, material de consumo, material permanente e serviços 4


de terceiros. Esses dados são relevantes ao processo de ava-
liação, além de servirem de subsídio para a elaboração da pre-
visão orçamentária para o período subseqüente.
Diagnóstico organizacional
Exemplo' Quadro de despesas
Em 2003 (R$) Em 2004 (R$)
Categoria de despesa
Aquisição de material bibliográfico
Aquisição de equipamento
4.1 Definição
.... O PROCESSO sistematizado, com tempo e espaço definidos,
de avaliação de serviços em organizações pode ser denominado
3.7.6 Recursos fisicos e materiais iagnóstico organizacional. Consiste numa intervenção na roti-
Esta informação deve constar apenas de relatórios anuais. Dis- na da organização, usando conceitos e métodos das ciências
criminam-se neste item os recursos materiais acrescidos no ociais para avaliar o estado da organização num determinado
período, incluindo espaço físico, mobiliário e equipamento. São momento. Seus objetivos específicos são: identificar pontos for-
dados que refletem o crescimento da biblioteca e que interferem e s e fracos na estrutura e no funcionamento da organização;
na avaliação de crescimento, pois constituem infra-estrutura ompreender a natureza e as causas dos problemas ou desafios
tanto para acomodar acervo e funcionários, quanto para a npresentados; descobrir formas de solucionar esses problemas;
modernização da biblioteca e o desenvolvimento de serviços, e melhorar a eficiência e a eficácia organizacionais. Os pontos
influem diretamente no atendimento dos usuários. ~ rtes e fracos de uma unidade de informação podem-se referir
É importante tentar estabelecer relações com períodos ante- diversos aspectos, como procuraremos demonstrar no quadro 1.
riores. Isto pode ser feito por meio de quadro que traga infor-
mações sobre a: situação anterior, acréscimo no período e si- Quadro 1. Pontos fortes e fracos da unidade de informação
tuação prevista (necessidades não atendidas, projetadas para
ASPECTO ANALISADO PONTOS FORTES PONTOS FRACOS
o futuro). espaco fisico boa localização (fácil acesso aos localização inadequada (quando
aos usuários - se biblioteca forem negativos os itens discri-
pública, verificar facilidades de minados na célula a esquerda)
Exemplo: Quadro de espaço transporte coletivo; se escolar
ou universitária, proximidade
Em 2004 Em 2005
Em 2003 das salas de aula e de espaços
Espaço Ampliação Espaço Ampliação de convivência; se especializada
Espaço Ampliação
existente de espaço previsto prevista ou corporativa, proximidade das
existente de espaço
áreas de trabalhos técnicos)
830m' -- 2000 rn? 1170m' area disponivel] SU iciente msu iciente
800m' 30m' (l8paçO 151CO
M"paçO 151CO[característícas adequado maaequaUa
11 serem observadas: ruído,
tnmperatura e umidade. ílu-
mlnação, rede elétrica e hi-
ilr~ulica. infra-estrutura de
lnformátíca)
urobüíárío (quantidade de as- suficiente Insuficiente
H ntos para usuários, de es-
til ntes e armários para a
KUurda de acervo, de postos
I1 trabalho para a equipe)
(Continua)

52 53
Quadro 1. Pontos fortes e fracos da unidade de informaçâo (continuação) Quadro 1. Pontos fortes e fracos da unidade de informação (fim)

ASPECTO ANALISADO ASPECTO ANALISADO


PONTOS FORTES PONTOS FRACOS PONTos FORTES PONTOS FRACOS
mobiliário (caracteristicas a adequado projetos específicos (com ou
inadequado desenvolvidos com regularidade não trabalha com projetos
serem observadas: estado fi- sem captação de recursos ex-
sico, estética, funcionalidade, ternos)
tipo e dimensões) projetos
envolvem diferentes equipes da elaborados por um pequeno gru-
estrutura orgaruzacíonaj (si- próxima à alta admimstração distante da alta administração unidade de informação e da or- po, tendo o restante da equipe
tuação da unidade de infor- (ao poder decisório da insti- (do poder decisório da instituição) ganização (participação na ela- participação apenas na
mação na estrutura da tuição) boração do projeto e na execução) execução
institUição) projetos
envolvem outras unidades de in- não envolvem outras unidades
estrutura organizaclOnal adequada aos objetivos e servi- inadequada aOS objetivos e servi- formação (articulação/esforços de informação
ços desenvolvidos pela unidade viçoS desenvolvidos pela unidade cooperativos)
de informação treinamento de usuário oferecido regularmente
dade de informação não é o ereciao ou é merecido
recursos humanos suficientes insuficientes eventualmente
recursos humanos com formação adequada treinamento de usuário
com formação inadequada amplamente divulgado não divulgado ou pouco divul-
recursos humanos capacitados às funções (com não habilitados (falta de treina- gado (apenas no recinto da uni-
treinamento) mento) dade de informação)
recursos humanos treinamento de usuário sistematizado
com oportunidades e estímulo com necessidade de reciclagem/ informal
treinamento de usuário
para a educação continuada educação continuada segmentado (dirigido especial- não segmentado (geral, para
recursos humanos relação ótima bibliotecários/ relação inadequada de bibliotecà- mente a determinadas catego- qualquer tipo de usuário)
auxiliares (I para 2) rios e auxiliares (I para I), cau- _. rias de USUários)
sando desvio de função relação com instituições afins regular
quase inexistente
acervo (formação e desenvol- existem políticas ou critérios não existem políticas ou critérios admm~straç~o parllClpahva centralízadora, autorítária
vimento) administraçgj, existem instrumen tos organiza-
estabelecidos para a seleção e estabelecidos para a seleção e não existem instrumentos orga-
aquisição de obras aquisição de obras . cionais adequados (regimento, nizacionais ou são inadequados
acervo (lormação e desenvol- existem recursos financeiros não existem recursos nnanceiros regulamento, normas e procedi-
vimento)
destinados à aquisição de ma- destinados à aquisição de mate- mentos/manuros de serviço)
planejamento
teriais para o acervo riaís para o acervo atividade Continua e participa- atividade eventual e restnta
acervo pertmente tiva
nao pertinente planejamento aos chefes
acervo atua IZadO aesatuallzaao elabora planejamento anual de não elabora planejamento anual
acervo atividades
ampla cobertura da área e cobertura deficiente da área e au-
pfanejamento
diversidade de suportes sência de novos suportes doeu- planejamento alinhado à missão planejamento não coerente com
mentários e objetivos da organização a missão e os objetivos da
processamento técnico segue padrões não segue padrões organização
processamento técnico ágil e racional comunicação
moroso, apresentando duplicação ágil, facilitada pela existência apresenta barreiras, devido à
de rotinas de canais fcrmaí 5 e informais falta de canais formais e informais
qUalidade da indexação comunicação
extste vocabulário controlado não há vocabulário controlado a unidade de informação pOSSUl a unidade de informação não
recuperação da informação rápida e precisa página no eite da.. organização; a possui página no site da organi-
morosa e imprecisa
acesso a tnJOrmaçao oase ue caoos cisporuvei na página tem bom conteúdo eé
acesso a case ae dados exc USlVa- zação ou a página não tem bom
in tranet ou na in ternet mente local (na unidade de infor- atualizada com regularidade; a conteúdo ou não é atualizada
mação] página pOSSui um canal 'fale co- com regularidade; a pàgina não
informatização (quanto ao atende às necessidades de apresenta limites de ~amp:,s e nosco' e há profissionais na equipe possui um canal 'fale conosco'
software utilizado) descrição dos documentos e de acesso à informaçao; nao com a resPonsabilidade de res- ou não monitora os e-meus
acesso à informação; atende aos padrões internacio- ponder esse canal diariamente recebidos via página
Comunicação
naís de comunicação de dados; a unidade de informação produz a unidade de Informação não
não é amigável boletim eletrônico ou impresso produz boletim eletrônico ou
informatlzação (quanto ao periódico
atualizado, em bom estado de fun- obsoleto; com nec~ssid~de de ma- impresso periódico
equipamento existente) comunicação
cionamento e em quantidade de nutençáo: em quantidade insufkíente a unidade cte informação utiliza a unidade ae m ormação não faz
usuários
clientela interna significativa poucos usuários inter~os . contato por telefone ou e-mail contato por telefone ou e-mail
usuários
necessidades informacionais necessidades informaclOnatS com seus Usuários; adota ferra- com seus usuários; não utiliza
conhecidas desconhecidas mentas de e-mail marketing, que ferramentas de e-mail marketing
usuários
conhecem recursos e serviços não conhecem recursos e serviços nvalíação monitora Os, e-mcxile deflagrados
oferecidos; recebem orientação oferecidos; não recebem orienta- é feita regularmente não é feita regularmente
formal para utilizá-los çãaformal .. abrange tOeios os serviços e pro- abrange apenas algumas áreas
serviços prestados
divulgados aos usuários reais e não divulgados aos usuanos dutos ou tOdas aS etapas dos da unidade de informação ou
potenciais reais e potenciais projetos algumas fases dos projetos
serviços prestados nvalíação
apresentam alto indice de apresentam baixo índice de é elaborado relatório anual não é elaborado relatório ou é ela-
utilização utilização analitico borado apenas relatório
serviços prestados
especlalizados, airigidos às ne- convencionais, não direcionados quantitativo
l\Viillação
cessidades dos usuários ao público-alvo fornece subsídios (informação/ não fornece su bsídíos ao plane-
serviços prestados em constante avaliação conhecimen to ao planejamento jamento
não são aValiadOr Continua)

54 55
I I

Pelo diagnóstico, compara-;se o estado encontrado com o es- Quadro 2. Etapas do diagnóstico
tado desejado, avalia-se a eficácia com base em algum padrão
ETAPAS
estabelecido (a satisfação do usuário, por exemplo) e procuram- Preparação
ATIVIDADES
Análise de objetivos, metas e prioridades da unidade de
se caminhos para diminuir a distáncia entre a situação existen- informação (caso não existam, sua definição)
te e a situação desejada. Identificação dos aspectos da unidade de informação a
serem avaliados
O diagnóstico é parte do desenvolvimento organiza.cional; é Definição da equipe que deverá liderar o processo
de avaliação e capacitação dessa equipe
a linha de base para o plano de ação da organização. A luz dos Esclarecimen to de todo o pessoal da unidade de informação
dados nele levantados são recomendadas mudanças na organi- em relação aos objetivos e formas de desenvolvimento do
diagnóstico
zação, que podem referir-se a: objetivos e estratégias (por exem- Revisão de literatura
1~laboração do projeto do
plo, desenvolver um novo produto); habilidades, conhecimento diagnóstico
Definição dos objetivos do diagnóstico
Formulação do problema ou de questões de pesquisa
e atitudes do pessoal (por exemplo, necessidade de certas habi- Identificação das hipóteses de trabalho, se houver
Definição da metodologia a ser utilizada para a coleta de
lidades para o trabalho em grupo); processos interpessoais e dados (instrumentos de coleta, métodos e procedimentos)
intergrupais (por exemplo, padrões de liderança); estruturas Definição da amostragem e forma de aplicação de ques-
tionários e/ou entrevistas para as pesquisas de campo
organizacionais (por exemplo, divisão em departamentos); e Definição de indicadores ou medidas de desempenho
Elaboração de cronograma do processo
tecnologias. O diagnóstico pode, ainda, recomendar uma série hnplementação do diagnóstico 1) Coleta de dados
de intervenções que permitam implantar essas mudanças, in- Consulta a relatórios, manuais de serviço e outros do-
cumentos produzidos na instituição e na unidade de
clusive programas de treinamento, mediação de conflitos, rede- informação
finição de responsabilidades e atribuições; aprimoramento da Consulta à literatura publicada sobre o serviço de
informação em causa
comunicação e redefinição de métodos e técnicas de trabalho. Entrevistas com funcionários do serviço de informação
(com base em objetivos claramente delineados e roteiro
previamente preparado)
4.2 Etapas do diagnóstico Questionários a usuários potenciais e reais da unidade de
infonnação (com base em objetivos claramente delineados e
O desenvolvimento do diagnóstico exige uma série de atividades questões previamente preparadas e testadas)
2) Tabulação, análise e interpretação dos dados
que podem ser agrupadas em três principais etapas, que se Hierarquização dos problemas encontrados
encontram sintetizadas no quadro 2. Recomendações de propostas de solução viáveis para os
problemas encontrados
3) Redação final do diagnóstico
Inclui a redação de um documento resumido (documento
4.2.1 Preparação gerenciaI)
4) Apresentação e discussão do diagnóstico
A etapa de preparação do diagnóstico tem por objetivo esta- • com o pessoal da unidade de informação
belecer um cenário organizacional que encoraje a avaliação e com o pessoal da organização
mação está vinculada
qual a unidade de infor-
à

assegure que o pessoal conheça os componentes básicos do


processo de avaliação. Não começa, portanto, com a coleta de
O diagnóstico reúne informações para aprofundar conhe-
dados, mas com a análise ou definição de objetivos e metas I Imento e pode ter foco específico ou ser exploratórío. O diag-
tanto da organização quanto da unidade de informação, com a 1\ stico exploratório é um tipo de mapeamento que perpassa
identificação de aspectos ou das áreas a serem avaliadas e lodos os componentes de uma unidade de informação - estru-
com o treinamento do pessoal, incluindo aqui tanto os que lura, atividades, recursos, processos, produtos e usuários _,
participarão diretamente do processo de avaliação - e que pre- 11rmitindo uma primeira aproximação do serviço. O diagnóstico
cisam ter conhecimento dos aspectos, tópicos e técnicas refe- ti foco específico também analisa o conjunto, mas aprofunda-
rentes a essa avaliação - quanto dos que serão avaliados, no
no foco selecionado, que pode ser um serviço (por exemplo, o
sentido de tentar reduzir a resistência ao processo e conseguir
rviço de referência), uma estratégia (por exemplo, a comu-
uma atitude cooperativa.

56 57
nicação), um produto (por exemplo, o site), dentre outros possi nálise e à crítica e ser capaz de coletar, analisar e interpretar
veis focos. s dados obtidos.
Em qualquer tipo de diagnóstico, é indispensável definir, No segundo caso, os consultores necessitam de alguns mem-
no contexto dos objetivos e metas da organização e da uni bros da organização para auxiliar no planejamento do diagnós-
dade de informação, as prioridades desta, que irão determina!' tico,juntar e analisar dados, fornecer feedback e planejar ações
os aspectos a serem focalizados em primeiro lugar ou mais m resposta a esse feedback. Em ambos os casos, é importante
cuidadosamente na avaliação. A partir de uma evidência obje que se tenha em mente que o diagnóstico exige competência
tiva ou subjetiva identifica-se a área, estreitando-a para um écnica. No entanto, a eficácia de um ou outro tipo de avaliação
problema com objetivos claros e questões de pesquisa viáveis. lepende do contexto em que se realiza.
Para essa atividade preliminar de identificação de áreas- A avaliação com consultores externos é mais simples e ágil,
problema, há questões gerais que podem ajudar, tais como: mas, muitas vezes, não obtém a credibilidade e o apoio neces-
o pessoal da unidade de informação suspeita que exista ários à implementação de mudanças. Alguns casos de avalia-
um problema? ção de serviços de informação, que tivemos a oportunidade de
• há dados que sugiram problemas nessa área? companhar, no Brasil, foram um fracasso: contrataram-se
• o nível de desempenho baixou ou é inadequado compa- mpresas de consultoria com o objetivo de proceder à avaliação
rado a desempenho anterior? eral da instituição e, no bojo desse trabalho, estavam incluí-
• o custo dos serviços aumentou substancialmente nos dos, naturalmente, os serviços de informação. Por não contarem
últimos meses? om profissionais especializados, essas empresas não tiveram
• houve mudanças na instituição, nos usuários ou em capacidade de analisar o sistema de informação e avaliar o
outros fatores externos, exigindo adequação dos serviços ou desempenho da unidade de informação, ou seja, de desenvolver
atividades? um trabalho competente e eficaz. Como resultado, obtiveram-
os usuários manifestam insatisfação? e relatórios superficiais que, nos aspectos mais técnicos, não
passavam de relatos das opiniões do responsável pelo serviço
Em relação aos objetivos, as questões que se colocam são
de informação. Em suma, despenderam-se recursos, mas não
as seguintes:
foram detectados pontos fracos relativos à parte substantiva
• em que medida os serviços e produtos da unidade de do serviço, ou seja, ao funcionamento em geral, à capacitação
informação contribuem para o cumprimento dos objetivos da do pessoal, à qualidade do processamento técnico, ao atendi-
instituição? mento ao usuário - que nem sequer foi consultado em relação
• em que medida esses serviços e produtos atendem às satisfação com o serviço - e, conseqüentemente, não foram
necessidades de informação de seus usuários? propostas novas soluções. Com o respaldo de um diagnóstico
• os recursos necessários para o andamento desses tido por imparcial e profissional, nada mudou substancial-
serviços e produtos são bem aplicados? mente, como se nada houvesse a ser mudado, conferindo um
qual o grau de mudança possível nesses serviços e/ ou testado de qualidade a serviços que deixavam muito a desejar.
produtos? Desta forma, ou se contratam consultores com notória espe-
Quanto aos atores do processo, o diagnóstico pode ser feito cialização ou se conscientiza e prepara a equipe existente para
pela própria equipe da unidade de informação ou incluir ava- incorporar a suas ações a cultura da auto-avaliação, com revi-
liadores externos. No caso do autodiagnóstico - diagnóstico ão permanente de resultados alcançados.
conduzido pelos membros da organização sem a ajuda de um No caso de se optar por avaliadores externos especializados,
consultor externo - o pessoal tem que estar aberto à auto- o processo de desenvolvimento do diagnóstico tende a atingir

58 59
melhores resultados se também contar com a equipe da unidad . Uma atividade indispensável ao diagnóstico, e que se inicia
de informação, que, ao participar do processo, poderá contribuir ta primeira etapa do processo, é a revisão de literatura.
para o aprofundamento da avaliação. Podemos apontar uma saltamos, acima, a importância da competência técnica do
série de razões favoráveis à participação da equipe no process V liador e reforçamos aqui o ponto de vista de que o diagnós-
de avaliação. Em primeiro lugar, contribui para um melhor I I' é um tipo de pesquisa aplicada, que envolve técnicas, co-
conhecimento do pessoal e dos serviços e produtos e para a 1111 cimento, percepção aguçada, experiência e criatividade. A
percepção das relações entre os vários serviços e atividades I visão da literatura permite conhecer as novas tendências na
da importância da boa interação desses elementos para a efi- I e ,os padrões desenvolvidos e os principais desafios, além

cácia organizacional geraL Além disso, a participação no pro- cI mostrar o que outros fizeram diante de problemas similares,
cesso pode reduzir o medo potencial da avaliação e auxiliar na II lisando as metodologias que foram adotadas, as diversas
futura implementação de estratégias: a inclusão de membros formasde aproximação ao problema e os resultados alcançados.
da equipe no processo de avaliação pode lhes dar a oportuni-
dade de assumir novas responsabilidades, intensificar seu com- 4.2.2 Elaboração do projeto de diagnóstico
promisso com o trabalho, desenvolver e expandir novas habi- ) projeto de diagnóstico é um plano que contém os objetivos
lidades e ampliar seus horizontes profissionais. Por fim, uma cio diagnóstico, o problema ou as questões de pesquisa, as
justificativa prática: em princípio, uma equipe pode realizar 11 póteses de trabalho, a metodologia a ser utilizada para a
melhor e mais rapidamente um diagnóstico do que uma pessoa I I leta de dados, as medidas de desempenho ou os indicadores
sozinha. cI avaliação a serem utilizados e o cronograma do processo.
Essa alternativa exige que estejamos alertas para o perigo
de o estudo perder sua objetividade e gerar insegurança pelo 4.2.2.1 Definição da metodologia a ser utilizada
fato de estarem os avaliadores diretamente envolvidos nas
A metodologia pode ser aqui entendida como o modo pelo qual
atividades e serviços da unidade de informação.
II avaliadores levantarão os dados, ou seja, que fontes de dados,
É preciso ressaltar que a participação do pessoal no diag-
111 trumentos e técnicas serão utilizados nos processos de coleta
nóstico pressupõe, além de vontade de participar e da dispo-
nálise de dados. As decisões referentes à metodologia são
sição de assumir mudanças, competéncia e habilidade para
muito relevantes, pois tanto as fontes de dados quanto as téc-
desenvolver essa atividade. Requer, ainda, um programa de
nicas e procedimentos utilizados interferem nos resultados do
treinamento contínuo da equipe envolvida no diagnóstico, que
li gnóstico.
deve ocorrer ao longo de todo o processo.
A inclusão dos usuários da unidade de informação no pro- O projeto deve deixar bem claros os objetivos da pesquisa,
cesso é desejável e deve ser buscada, sempre que possível, uas hipóteses e suas questões de pesquisa. As hipóteses e
pois é fundamental que a avaliação acolha a opinião do principal questões de pesquisa operacionalizam os objetivos, fornecem
receptor dos produtos e serviços da unidade de informação. lima orientação sobre o que deve ser investigado e limitam a
Além disso, o usuário pode contribuir com dados externos e rea de pesquisa a tópicos gerenciáveis.
novos parãmetros que, em outras situações, dificilmente seriam
obtidos dentro da organização. Finalmente, deve-se lembrar 4.2.2.2 Formulação do problema ou de questões
que a participação dos usuários no processo de diagnóstico de pesquisa
sem dúvida também trará dividdndos políticos, à medida que A atividade referente à formulação do problema ou de ques-
contribui para a mudança de imagem da unidade de informa- l es de pesquisa será desenvolvida com mais facilidade se
ção. houver, por parte do responsável pelo diagnóstico (que pode-

60 61
mos aqui chamar de avaliador ou pesquisador), conhecimento • as obras em línguas estrangeiras levam o dobro do tempo
acumulado em relação ao objeto a ser estudado, o que inclui para serem catalogadas, em comparação com as obras em por-
vivência prática, domínio da literatura sobre o assunto e troca tuguês.
de experiências com especialistas da área. Gil (1995) recomenda Quanto maior o conhecimento que o avaliador tem da área-
que se obedeça a certas regras práticas na formulação do pro- problema a ser investigada, maior a facilidade de formular
blema. Sugere, assim, que o problema: hipóteses. Embora as hipóteses possam se originar de teorias
u pesquisas anteriores, verifica-se que, na maioria das vezes,
• seja formulado como pergunta;
• seja apresentado de maneira clara e precisa, pois, se a Ias derivam da observação dos fatos e das relações que se
pergunta ficar vaga ou for mal-formulada, ficará ininteligível c estabelecem entre eles a partir dessa observação.
A rigor, todo procedimento de coleta de dados depende da
será irrespondível;
• seja empírico, de forma a possibilitar investigações obje- ~ rmulação prévia de uma ou mais hipóteses. Entretanto, em
muitos casos, a avaliação de um serviço ou produto de uma
tivas;
• seja passível de solução, ou seja, o pesquisador deve ter biblioteca ou qualquer outro serviço de informação é explora-
o domínio dos meios para a solução do problema; t ria, isto é, constitui uma primeira tentativa de identificação
d variáveis e fatores relacionados, não havendo conhecimento
• seja delimitado a uma dimensão viável.
uficiente do problema que possibilite a formulação de hipóte-
4.2.2.3 Identificação das hipóteses de trabalho s.
Hipóteses são proposições provisórias a serem testadas, 4.2.2.4 Definição de indicadores ou
suscetíveis, portanto, de serem declaradas verdadeiras ou medidas de desempenho
falsas, podendo, no primeiro caso, trazer a solução ao problema.
Como afirma Gil, o papel mais importante da hipótese na N sta etapa de elaboração do projeto do diagnóstico também
o definidos os indicadores ou as medidas que serão neces-
pesquisa é sugerir explicações para os fatos.
As hipóteses, que tendem a ser mais específicas que as rias e adequadas para descrever o desempenho da área em
questões de pesquisa, especificam relações entre variáveis ou 'preço. Os indicadores, ou as medidas de desempenho, como
níveis de atividades e oferecem uma visão do que o avaliador vimos no capítulo 2, são um meio de determinar em que grau
suspeita encontrar. As questões de pesquisa são questões; aR ( o.bjetivos da unidade de informação são cumpridos, os
hipóteses são afirmações, mas ambas ajudam a estruturar O rvIÇOSexecutados e os materiais colocados à disposição dos
11 uários. Devem ter credibilidade e devem ser válidas e úteis
diagnóstico. Assim, por exemplo, se o problema consiste em
reduzir o tempo de processamento técnico de materiais biblio- 1\ planejamento da unidade de informação e na tomada de
gráficos, as questões que se podem colocar são as seguintes: d cisões; por essa razão, convém utilizar medidas previamente
tabelecidas e padrões já validados na área.
• quais são os passos necessários ao processo de cat -
logação, classificação e indexação de um livro? 4.2.2.5 Planejamento da coleta de dados
• quanto tempo se utiliza para desenvolver esse processo?
• alguns documentos tomam mais tempo do que outros? N projeto do diagnóstico, definem-se, também, as fontes de
I idos e os instrumentos de coleta de dados a serem utilizados.
• quais as dificuldades no resenvolvimento dessas ativi
A oleta de dados é atividade básica do diagnóstico e, por essa
dades?
rnzão, é preciso definir cuidadosamente que dados devem ser
Por outro lado, como hipótese podemos ter, por exemplo: c oletados, por que e como coletá-los.

62 63
titui?ão e da unidade de informação, bem como à estrutura
A coleta de dados pressupõe a consulta a, no mínimo, dois
funcl~na~ ~ aos serviços. A entrevista pode ter por base um
atores: usuários e funcionários da unidade de informação. Em qu~stIOnano ou um roteiro e ser aplicada em conversa formal
relação aos usuários reais, três questões são indispensáveis:
ou mfor~al, ?:ilizando, p~ra isso, gravações ou anotações.
quem são, quais as suas necessidades de informaçã~ e
Questlonarlo. a questionário é composto por um conjunto
expectativas e qual o nível de satisfação em relação ao ~ervlço
de q~estões r:orI?almente apresentadas por escrito às pessoas,
de informação analisado. Esses pontos são fundamentais para
sem l~'lterferen~Ia do avaliador/pesquisador, embora possam
a avaliação e eventual redirecionamento do serviço de infor- tambem ser aplicadas por entrevista. a questionário apresenta
mação, partindo-se do princípio de que, hoje em dia, os acervos
algumas vantagens ~~ ~elação à entrevista, dentre as quais
e serviços precisam ser planejados e desenvolvidos tendo em destacam-se a possibilidade de atingir grande número de
vista as necessidades dos usuários. Há casos em que se faz pessoas e nos lugares mais diversos e a conveniência de não
necessário também ouvir o usuário potencial do serviço de in-
terem de,responder de imediato e de poderem manter o anoni-
formação _ aquele que é público-alvo, mas não utiliza o s~r-
mato e a independência em relação às opiniões do entrevistador
viço. Nesse caso, a abordagem deve incluir questões relacio-
Apresenta, t~?ém, desvantagens, tais como: respostas incom~
nadas ao uso ou a expectativas de uso e ao conhecimento do
pletas, possibilidade de atraso na devolução ou mesmo de não
serviço, como poderá ser verificado nos exemplos citados mais
devolução do questionário, impossibilidade de auxílio ao res-
adiante. pO,ndenteno c~so de dificuldade de compreensão das questões,
Em relação aos funcionários da unidade de informação, é
lem de excluir respondentes que não saibam ler e escrever.
importante que sejam levantados seus perfis (formação, :u~çãO,
atividades, tempo de serviço, etc.), bem como suas oplm.oes e
a ~l~mento-chave para o sucesso do questionário é a clara
lefinição de seus objetivos. Tendo esses objetivos como alvo,
propostas para a melhoria do desempenho da unidade de infor-
cl~ve-see~tar alerta no sentido de não formular questões inú-
mação. t is, o~ s~Ja, questões que não contribuam para o cumprimento
Para a coleta de dados podem ser utilizados vários instru-
dos obJet~vos.fIXa~os.Uma forma de evitar perguntas inúteis é
mentos que vão desde questionário ou entrevista, até obser-
laborar J.ustlficatlvas para cada questão, de modo a assegurar
vação, simples ou participante, e grupo focal.
", p~sqUl~a~or ~ue a pergunta é, de fato, indispensável e que
Entrevista. A entrevista é considerada adequada para a t I ara SUbSldlOS a compreensão e análise do problema, Também
obtenção de informações sobre o que as pessoas sabem, crêem, 1\ ~ devem se~ incluídas questões cujas respostas possam ser
esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ?u obtidas por meio de outras fontes, tais como documentos escritos.
fizeram, bem como sobre suas explicações ou razões a respelt I~forI?~~ões que normalmente são solicitadas em questio-
das coisas precedentes (Selltiz et al., 1987). Apresenta can::o u ~IOSdirigidos aos usuários, referentes, por exemplo, a sexo
grande vantagem a sua flexibilidade, facili~ada, pe.la relaça.o 011 Idade, ,de~emser colocadas sob suspeita, e mantidas apenas
interativa direta com o seu investigado. No diagnostIco da um fore,mindispensáveis à compreensão do problema ou à sua
dade de informação, a entrevista é especialmente útil par \ I () ter,lar sOluçã? Em resumo, deve-se perguntar apenas aquilo
levantar o perfil dos funcionários e de suas atividades, bem '111 _ va ser analisado, ou melhor, coletar somente dados que
como suas opiniões em relação aos diversos aspectos estudado. o trabalhados.
no diagnóstico e suas expectativas e sugestões para um aprl ~ão há tamanho ideal de questionário, mas o bom senso
moramento do desempenho da uriidade. Também é muito ad Indica que não deve ser muito longo, em respeito ao tempo dos
quada para estudos qualitativos de usuários. Além di~so, nn pond~ntes - que talvez por isso nem se dispusessem a
falta de outras fontes, a entrevista também pode ser instru nmpletá-lo - e também dos avaliadores/pesquisadores. É
mento para se levantarem dados relativos ao histórico da iru

65
64
I firam. a gradações de frequencia
..- . Em amb
importante, ainda, que as questões obedeçam a um orde- evitar o excesso de níveis de rad _ os os casos, deve-
namento lógico, iniciando-se o questionário pelas questões fusão ao respondente Vei g açao, que pode trazer con-
relativas à identificação do respondente. Ainda quanto à ordem I caliza com facilidad· ja-se, p~r ex~mplo,esta questão: 'Você
, e, o matenal bibli -fi
das questões, Gil (1999) recomenda que se adote a técnica do I propusermos apenas as alt ti lOg~aICOque procura?'
_ erna lvas slm ou n -
'funil': cada questão se relaciona com a antecedente e a espe- I ost a, nao estaremos colh d ao como res-
I. terpretação do probl en o elementos suficientes para a
cifica. ema e a sugestã d 1-
A forma de apresentação da pergunta é também muito que complementemos com um por quêê o S e so uçoes, mesmo
importante. As questões podem ser abertas, isto é, sem suges- rmos a gradação com as alternativa e, no entanto, prop';l-
tões de respostas pelo pesquisador, ou fechadas, em que se /I('zes, os resultados tend erao _ a ser mais s sempre,
f nunca
.. e as
apresentam alternativas predefinidas de respostas. Avantagem 111 nte se complementados na d _. e icazes, principal-
da questão aberta é dar liberdade 'aos respondentes para s por quê? Por outro lad ' suas ultimas alternativas, pelo
. o, uma gradaçã . d
expressarem sem restrições. Uma das desvantagens é qu I( r exemplo com as altem ti. ao mais etalhada, como
, a vas sempr< '
muitas pessoas não querem despender tempo e esforços para uuase nunca e nunca poder _ t: e, quase sempre, às vezes,
,a orerecer a bi üid d
responder e muitas questões acabam ficando em branco ou •I nte, interferindo na preci - d _~ IgUI a e ao respon-
O' isao a análise
incompletas. Além disso, deve-se levar em consideração que () exceSSIVOnúmero de alternativ .
processo de tabulação e interpretação dessas respostas é muito • 1 ervado, com muita fre üên i as pro?ostas pode ser
mais complexo. As questões fechadas possibilitam cruzament orno no exemplo que se s~gue~ a, em questoes de avaliação,
de dados e facilitam a tabulação e a análise de dados. Desta V oce- considera
. o atendimento da biblioteca
forma, ao se elaborar o questionário, é preciso definir quais a 1
questões que devem ser abertas, avaliando-se, em cada cas , O excelente
vantagens e desvantagens dessa opção, considerando as cara O muito bom
terísticas do público a que se dirige o questionário e as possibl O bom
lidades de tabulação, análise e interpretação dos dados col
O regular
tados. Uma boa saída, necessária em muitos casos, consisl
em se apresentarem perguntas fechadas, mas seguidas peln O ruim
pergunta 'por quê?'. Essa solução, de um lado, facilita o pr O muito ruim
cesso de tabulação e, de outro, fornece elementos para a anális O péssimo
e interpretação desses dados.
Na elaboração do questionário, deve-se evitar incluir dun (N nfundir
ste exemplo,
ores oonexcessiv.o numero
- de alternativas, além
perguntas em uma (por exemplo, 'você conhece e utiliza \ I 1\ S respostas : pro~:~~~~~~r~~u::l~O grau de subjetivida-
biblioteca da empresa?'), pois isso leva à falta de precisão ti por resultar ineficaz como s:bs~a.° dos r~~ultados, que
perda de consistência nas respostas. Pela mesma razão, devt 111- e como resultado da tabula ã ídio a ~nah~es, pois ob-
se sempre evitar as conjunções e e ou (por exemplo, 'você COI\ v ibilizam a interpretação É' ç o dados tao dispersos que
sidera o espaço da biblioteca suficiente e adequado?'). Re (I li Ias respostas pela redu' ã l:portante f?rçar a concentra-
menda-se, também, evitar questões ambíguas, pouco objetivo 1II I' m dados mais dI'fe Ç? das alternativas, de forma a se
l' rencia os No e 1 .
II ci nte manter três alt
ou genéricas, que dificilmente agregarão valor ao questionário I erna tivas
lvas - boxemp o 1acima, .seria
Outro ponto que merece ser analisado cuidadosamente 1\ I I quatro _ muito bom b ~' regu ar e rulm-
' om, regular e rulm ·d
elaboração do questionário refere-se à formulação de quest " 1guns autores defend em que o numero _ - conSI
ímpar erando
de alterna-
opinativas que envolvam avaliação, ou de questões que I

67
66
tivas convida o respondente a escolher a alternativa do meio. questões, permitindo agrupar aspectos ou diferentes serviços
As escalas de gradação são, portanto, muito úteis nos questi- ef t»: produtos, ou mesmo diferentes tipos de materiais, como
onários, mas devem ser construídas com cuidado. Da mesma no exemplo que se segue:
forma, deve-se planejar adequadamente o intervalo das esca- Assinalar 0$ tipos de serviços e/ou produtos da biblioteca que você
las, como nos exemplos que se seguem: conhece e/ ou utiliza
Qual a freqüência de uso da biblioteca? Serviços Conhece? Utiliza? Se usa, está satisfeito?

Sim Não Sim Não Sim Em parte


D Todos os dias Não
Base de dados local
D Mais de uma vez por semana Consulta local ao acervo
de livros e periódicos
D Uma vez por semana
Consulta local ao acervo de
D Uma vez por mês música (CDS. fitas-cassete),
fotolitos, slides, vídeos, etc.)
D Eventualmente. Por quê? Consulta local ao acervo de
audiovísual (vídeos, DVDS)
Assinale em que faixa etária você se situa Empréstimo de materiais

D Menos de 7 anos Empréstimo entre bibliotecas


Orientação individual a
D de 7 a 10 anos trabalhos de pesquisa
Cursos de treinamento para
D de 11 a 14 anos uso dos recursos informa-
cionais disponíveis
D de 15 a 18 anos
D mais de 18 anos No exemplo acima, a alternativa possível para o conteúdo das
Assinale há quanto tempo trabalha nesta biblioteca três últimas colunas seria perguntar sobre o grau de satisfação
D há menos de 1 ano om os produtos/ serviços, oferecendo como alternativas, por
xemplo: muito satisfeito, razoavelmente satisfeito e insatisfeito.
D de 1 a 3 anos
Aquestão pode prever um espaço para comentário que permita
D de 4 a 10 anos os respondentes complementar ou justificar suas respostas.
D há mais de 10 anos Essa mesma questão pode ser feita exclusivamente para
Ressalte-se que, muitas vezes as escalas são definidas com materiais do acervo, permitindo situar os pontos fortes e fracos
interesses específicos e que não precisam, sempre, apresentar de cada uma das coleções, ao invés de colhermos opiniões gené-
intervalos regulares, mas intervalos significativos para o assun- ricas sobre a totalidade do acervo, que desconsideram suas
to em tela. diferenças de qualidade.
De forma a garantir a confiança nos dados coletados, é im- Ainda em relação ao acervo, cabe, em grande parte dos casos,
portante, ainda, que, além de formuladas com clareza, as ques- xplicitar o critério de avaliação, como, por exemplo:
tões sejam objetivas e não induzam determinadas respostas. Se as respostas às duas primeiras questões forem afirmativas,
Nocaso de questões que ofereçam múltiplas alternativas, é tam- expresse sua opinião sobre cada coleçào da biblioteca
bém necessário orientar o respondente - escolha apenas uma Coleções Conhece? Utiliza? Considera Considera Considera
pertinente? representativa? atualizada?
alternativa ou assinale tantas alternativas quanto desejar ou a
Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não
questão permite múltipla escolha. Essa orientação é indispensá-
Livros
vel para garantir a validade das respostas e evitar inconsistências.
Periódicos
O uso de quadros muitas vezes auxilia na formulação de

68 69
Trata-se, nesse caso, de questão mais complexa, cuja eficácia de vista e favorece a participação ativa, contribuindo para a
dependerá do nível de formação e discernimento do respondente. obtenção de informações relevantes - revelações, opiniões,
Alguns tipos de usuários tendem a expressar satisfação com sentimentos, impressões e atitudes - que talvez não fossem
os serviços prestados, porém é importante ressaltar que ex- manifestadas em entrevistas individuais e, muito menos, em
pressões de satisfação, embora possam ser gratificantes para questionários escritos.
o pessoal e sejam importantes para atestar o reconhecimento A dinãmica do grupo focal permite que o avaliador capte
do público por esforços empreendidos, não são úteis para me- como o assunto é percebido pelos participantes. Dados e infor-
lhorar a qualidade dos serviços. Por essa razão, é preciso: mações gerados pelo grupo focal, ao serem analisados, podem
fazer a pergunta certa para quem, de fato, usou o serviço; ajudar no planejamento, na tomada de decisões, na avaliação
convidar o entrevistado a ser crítico; de programas, produtos e serviços, no desenvolvimento de mo-
• concentrar-se em um serviço por vez, e não no todo, delos ou teorias e na construção de questionários para coletas
mesmo para comentários, críticas e sugestões; de dados posteriores. Ao interpretar os dados coletados, os
• utilizar técnicas como: apontar o melhor e o pior aspecto avaliadores geralmente buscam padrões, relações e tendências
nos diversos serviços; apontar critérios de qualidade (por exem- e tentam extrair conclusões sobre as opiniões emitidas. Ao
plo, em relação a um boletim: cobertura, periodicidade, rele- final, elaboram um relatório com os resultados do grupo focal.
vância, conteúdo, formato, distribuiçâo, etc.); fazer perguntas Essa técnica, que, só a partir dos anos 1990 começou a ser
como 'o que você gostaria que a biblioteca fizesse, que ela nâo aplicada em estudos na área da ciência da informação e cuja
faz hoje?' utilização ainda é pouco freqüente no Brasil, tem-se mostrado
No conjunto, o questionário deve ser suficientemente ferramenta poderosa para, dentre outras aplicações, levantar
abrangente para checar todos os aspectos necessários à com- necessidades e expectativas de usuários de serviços de infor-
preensão do problema, levando-se sempre em conta os objetivos mação e para avaliar a capacidade dos serviços de atenderem
predeterminados. a essas necessidades. Aplicações que têm como público-alvo
do grupo a equipe de informação também têm sido utilizadas
Grupo focal. Grupo focal é uma técnica de pesquisa qua- com sucesso para avaliar desempenho, atitude em relação ao
litativa, não-diretiva, desenvolvida para coletar dados e infor- trabalho, resistências a inovações ou efeitos de mudanças
mações que reflitam opiniões, conhecimentos, percepções e organizacionais.
preocupações de pequenos grupos sobre determinado assun-
to. Requer a definição do problema a ser avaliado, o estabele- Observação. A observação é elemento fundamental no diag-
cimento de critérios norteadores das discussões, a elaboração nóstico, sobretudo na fase de coleta de dados. Pode ser simples,
de uma lista de questões abertas que servirão de base às dis- quando o avaliador observa os fatos que ocorrem na situação
cussões, a reunião de um pequeno grupo relativamente homo- studada. Nesse caso, é pouco sistemática e pode ajudar muito
gêneo de indivíduos que compartilhem conhecimentos, expe- m estudos exploratórios, em que os objetivos da pesquisa não
riências ou características e a existência de um moderador ou stão bem especificados. Já a observação participante pressu-
facilitador para conduzir a discussão e encorajar a participa- põe que o avaliador assuma o papel de membro do grupo. Apre-
ção de todos e a interação do grupo, além de participar da enta alto grau de inserção na situação analisada, ao contrário
análise das informações registradas. de outras formas de coleta de dados que preservam o anonimato
Por trabalhar com pequenos grupos, a técnica do grupo os envolvidos. Verifica-se que quanto mais tempo um obser-
focal ajuda a criar um ambiente em que as discussões fluem vador participante passar no espaço que estuda, menos influ-
soltas, encoraja seus participantes a expressarem seus pontos ncia exercerá sobre o comportamento e a atitude das pessoas,

70 71
pois as mesmas, ainda que no início sejam pouco naturais, 4.2.2.6 Definição da amostragem e da forma de
passam a agir naturalmente depois de certo tempo, sem se aplicação de questionários e/ou entrevistas
preocupar com o observador. Nessas condições, será pouco para as pesquisas de campo
provável ocorrer distorção na pesquisa. Embora na observação Apesquisa de campo, quando lida com um universo numeroso,
participante se trabalhe mais com dados qualitativos do que deve ser feita por amostragem, ou seja, com uma pequena
quantitativos e se registre o que é observado, nenhuma pes- parte dos elementos que compõem esse universo ou população.
quisa está livre dos vieses do pesquisador, nem mesmo as pes- A falta de tempo e de recursos para se coletarem dados de
quisas quantitativas. A observação participante é, geralmente, todas as fontes de informação de uma determinada população
pesquisa indutiva, embora parta de hipóteses preliminares justificativa suficiente para se trabalhar com amostras. A
formuladas antes da coleta de dados. No entanto, as hipóteses partir do exame da amostra, podem-se fazer inferências sobre
são revistas à medida que transcorre a pesquisa e analisam- população, ou o conjunto. Por essa razão, identificar uma
se os casos negativos, aqueles que apresentam dados que refu- boa amostra é uma das melhores formas de se garantir a
tam a hipótese. Em serviços de informação, a observação par- qualidade dos dados e a precisão dos resultados obtidos.
ticipante permite o estudo tanto do desempenho do pessoal, O projeto da amostra implica as seguintes etapas: definição
quanto do uso do acervo ou dos serviços da unidade de informa- do universo, escolha do tipo de amostragem e determinação
ção, no momento em que a ação ocorre, incluindo perguntas do tamanho da amostra. Os tipos básicos de amostragem são
súbitas, anotações de comentários em voz alta ou reclamações, probabilística - amostragem em que se pode especificar para
comportamento, pedidos de orientação aos funcionários, etc. ada elemento da população a probabilidade de ser incluído
Outras fontes. Outras informações fundamentais para o na amostra - e a não-probabilística - amostragem pela qual
diagnóstico podem ser extraídas de fontes diversas como não é possível estimar a probabilidade de cada elemento ser
relatórios, regimentos, regulamentos, planos de trabalhos, etc. incluído na amostra.
Esses documentos podem fornecer dados relativos ao acervo, Os tipos de amostragem probabilística mais usuais são:
desde a aquisição até a circulação, aos recursos humanos, asual ou aleatória simples, sistemática (escolhida por critério
financeiros e materiais e aos serviços. stabelecido a priori pelo pesquisador), e estratificada (utilizada
Os relatórios, quando respaldados em instrumentos de quando a população se apresenta dividida em diferentes estra-
mensuração adequados, constituem importante fonte de dados t s ou categorias).
para subsidiar o planejamento. No entanto, nem sempre cons- Os tipos mais comuns de amostragem não-probabilística
tituem fontes confiáveis, pois, muitas vezes, não passam d o: amostragem acidental - construída por acessibilidade
contagens que não fazem sentido, ou de estatísticas descui- ou conveniência, ou seja, pela facilidade de acesso que o pes-
quisador tem aos elementos, sendo, por esse motivo, destituída
dadas.
11 rigor estatístico; e amostragem proposital ou por tipicidade,
Triangulação. Nenhum método de coleta de dados é ade-
quando se seleciona um grupo da população que, conforme
quado a todos os problemas, pois cada instrumento de coleta
I formações disponíveis, seja considerado representativo de
apresenta um tipo de limitação. Por essa razão, a combinação
t da a população, garantindo, com isso, a inclusão na amostra
de diferentes formas de coleta de dados pode trazer melhores
11 elementos nas proporções em que ocorrem na população.
resultados, pois garantirá a credibilidade pela 'triangulação',
A amostragem estatística deve apresentar, como carac-
isto é, pela possibilidade de confirmação de dados com o uso
t rísticas, representatividade, nível de confiança e seleção
de outras técnicas ou em outras fontes.
nleatória. A representatividade da amostra em relação ao uni-
V rso ou à população deve ser avaliada pelo grau de fidedig-

72 73
nidade de traços e características da amostra em relação caso, pode ser necessário incluir no projeto de diagnóstico a
ãqueles apresentados pela população. A confiabilidade é o grau especificação dos recursos necessários à sua implementação.
em que os mesmos resultados são produzidos em ~m~str~s Antes da implementação do díagnõstíco é indispensável que
diferentes da mesma população; tem a ver com a consistência, ~e proceda ao esclarecimento de todo o pessoal da unidade de
estabilidade e precisão dos dados. mformação a ser avaliada em relação aos objetivos e formas
Esses fatores, ao lado do tamanho do universo a ser pes- de desenvolvimento do diagnóstico.
II I quisado e do erro máximo permitido, determina~ o tamanho
da amostra. É conveniente que, na definição do tipo de amos- 4.2.3 Implementação do diagnóstico
tragem e no cálculo da amostra, se conte com a assessor~a de
estatísticos, pois, em muitos casos, essas atividades eXIge~ Esta etapa envolve basicamente duas grandes subetapas: a
procedimentos estatísticos especializados. Em todo o caso, e coleta de dados e a análise e interpretação desses dados. A co-
leta de.dados é uma etapa eminentemente prática, que consiste
útil lembrarmos aqui que a literatura especializada apresenta
na aphcação da metodologia prevista no projeto do diagnóstico.
fórmulas para cálculo de tamanho de amostra que podem ser
De,pende de três ações integradas: ler, ver e ouvir (Gil, 1999),
utilizadas pelos pesquisadores.
pOISenvolve, como vimos, a consulta a relatórios manuais de
ser:viços e o,utros documentos produzidos na ins~ituiçãO e na
4.2.2.7 Planejamento da implementação
do projeto do diagnóstico umdade de mformação, bem como à literatura publicada sobre
o,serviçode informação em apreço, mas requer, também, entre-
A última atividade no processo de elaboração do diagnóstico vistas com funcionários do serviço de informação e a aplicação
refere-se às formas de implementação da pesquisa. Envolve a de questionários a usuários potenciais e reais da unidade de
elaboração do cronograma, a definição das atividades a se~em informação. Pode-se servir, também, sobretudo para a coleta
executadas por cada um, a definição da coordenação da equipe, de dados qualitativos, da observação participante e do grupo
a aplicação do pré-teste e a definição dos recursos que serão focal.
necessários ao desenvolvimento do diagnóstico. Para proceder à análise e interpretação dos dados a unidade
Fluxogramas e cronogramas permitem o monitor,:,-men~odo ~e informação tem acesso aos resultados do proce~so de ava-
processo pelo coordenador da pesquisa. Devem incluir as hação e emite julgamentos de valor sobre serviços e atividades
tarefas a serem executadas, quem vai executá-Ias e o temp que devem ser modificados e sobre a forma de modificá-Ios.
de execução de cada uma delas. Trata-se de um momento de reflexão e análise em que se tenta
A aplicação do pré-teste ou do teste-piloto é U1~a~tividad ompreender e interpretar a situação encontrada e identificar
preliminar à implementação do projeto e tem por ob]et1~otesta I" s problemas, suas causas e conseqüências.
o desenho e a metodologia do projeto, a fim de garantir a ad
quação dos instrumentos ou processos a ~er~m util~dos, bem Esse processo envolve uma análise relativa à atitude dos
como medir o tempo a ser gasto na avaliação, O pre-teste do diferentes indivíduos ligados ao serviço de informação em rela-
questionário permite detectar, por exemplo, a complexidac1 ão aos problemas encontrados e às alternativas de solução
das questões, a falta de clareza ou de precisão das mesmas, 11 desses problemas. Com isso, podem-se identificar as forças
necessidade de desmembramento das questões e a ordem dela I
C voráveis e contrárias à mudança, respondendo, por exemplo,
dentre outros aspectos. questões como: quais as pressões internas e externas para a
Um bom projeto de avaliação depende, naturalmen~e, dt mudança e quais os focos de resistência? Há interesses e
disponibilidade de tempo, de recursos humanos, financeiros ( nec~ssidades comuns que possam ser a base para um trabalho
materiais e de fatores políticos. Por essa razão, dependendo do onjunn, no sentido de solucionar o problema?

74 75
Com esses subsídios, podem-se implementar estratégias não se sustenta. Isto leva à entropia, ou seja, à tendência das
para melhorar o desempenho desses serviços ou atividades e organizações para o desgaste.
levantar soluções viáveis, o que implica definir o que deve ser A avaliação do ambiente externo procura avaliar o contexto
mudado para solucionar problemas e melhorar a eficácia, bem informacional da área, bem como as necessidades de
como identificar as melhores formas de se introduzirem as informação não expressas ou não supridas por outros servi-
mudanças necessárias. ços. Avalia o que existe em termos de oferta de informações e
Por meio da análise e interpretação dos dados, procura-se serviços em determinada área, a que públicos se destina, como
compreender a natureza e as causas dos problemas suscitados, está operando e eventuais custos e identifica o que falta.
o que pode ser feito aprofundando análises e comPa:a~do dado.s Essa análise abrange tanto os serviços prestados por outras
levantados, avaliando planos de trabalho e relatonos, anali- instituições como os serviços disponíveis em meios eletrônicos.
sando o histórico da instituição e da área de informação, ou
No caso de avaliação de contexto para bibliotecas públicas
recorrendo à literatura. ou comunitárias, além do diagnóstico efetuado in loco para
Após a análise dos dados e a identificação dos pro~lemas, determinar necessidades da comunidade e elementos conjun-
deve-se proceder à hierarquização desses problemas e as reco- turais - políticos, culturais e econômicos, educacionais, etc.
mendações de propostas de soluções viáveis para eles, que - favoráveis à implantação é indispensável que se levantem
constituirão um guia importante na definição das prioridades indicadores sociais de fontes secundárias, tais como os do
do planejamento. . _ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para dados
A complexidade desta etapa de implementação do diagnós- demográficos;DataSus, para dados de saúde; Instituto Nacional
tico está diretamente ligada à complexidade da unidade de de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) ,
informação a ser avaliada. Para facilitar essa tarefa, tentamos para dados de educação, dentre outros. Os dados secundários
isolar alguns aspectos, que consideramos fundamentais para geralmente se encontram na internet, como é o caso dos dados
orientar a avaliação de um serviço de informação. Esses as- mencionados, mas muitas vezes estão disponíveis em bases
pectos estão, a seguir, arrolados como subsídios para a ava- de dados locais ou publicações das organizações responsáveis.
liação e são, em muitos casos, apresentados sob forma de ro-
teiro e checklist, que pode ser ampliada ou resumida d~pen- Análise da instituição mantenedora. Para que a unidade
dendo do tipo e da natureza do serviço de informação analisado. de informação possa ter um bom desempenho, é preciso que
s profissionais conheçam a instituição - sua estrutura orga-
nizacional, seu funcionamento, suas políticas, suas lideranças
4.2.3.1 Subsídios para a avaliação do contexto formais e informais - e identifiquem suas necessidades
informacional, da estrutura organizacional informacionais. Para tanto, alguns passos são indispensáveis
e dos recursos humanos nos responsáveis pela unidade de informação, quais sejam:
Análise do ambiente. Considerando-se que, da mesma forma • levantamento da missão, da estratégia, das políticas e
elosobjetivos da instituição e como esses se articulam com os
que o planejamento, a avaliação não existe desvin~ul~d~ .de
objetivos da unidade de informação;
seu contexto, qualquer processo de avaliação precisa imciar
pela análise do ambiente, procurando-se identificar oportu- • levantamento dos principais programas e projetos da
instituição, avaliando as possibilidades de os serviços e
nidades e ameaças à unidade de informação. .
produtos da unidade de informação lhes darem apoio;
A organização não existe isolada, nem consegue mars s~r
auto-suficiente hoje em dia: há uma constante troca de energia • estudo dos recursos humanos da organização; o públi-
(O interno da organização constitui os usuários 'potenciais'
com o ambiente e, quando isto deixa de ocorrer, a organização

76
77
dos serviços de informação, e, por isso, é importante levantar de avaliar a natureza das atividades e a dimensão da unidade
seu perfil. As questões que se seguem podem ser úteis no de informação, podendo ser utilizado o seguinte roteiro:
direcionamento desse estudo do público interno da organização:
• quais os serviços públicos e os serviços internos da
quem e quantos são? o que fazem? quaís as suas necessidades unidade de informação?
de informação? informam-se? como? para quê? usam alguma
• o que falta?
biblioteca ou serviço de informação?
• o que pode ser desativado ou fundido?
• análise da estrutura organizacional da instituição e da
• qual a relação entre os serviços e o nível de integração
situação da unidade de informação dentro dessa estrutura entre eles?
(próxima das instáncias decisórias? adequada à consecução
de seus objetivos?) As fontes de dados para essa análise são: planos de trabalho,
• conhecimento da cultura organizacional - levantar relatórios, histórico, organograma, manuais de serviço, flu-
estilos de comportamento, valores e atitudes e como interagem, xogramas, normas e procedimentos, entrevista ou questionário
e avaliar, também, como esses elementos podem se refletir no com funcionários e entrevista ou questionário com usuários.
dia-a-dia da organização, no que se refere ao tratamento e uso O confronto das respostas dos diversos funcionários entre
da informação. si e com as respostas dos usuários e de todos esses dados com
as observações e com os demais dados levantados permitirão
Análise da unidade de informação (estrutura organiza- uma avaliação mais cuidadosa e imparcial.
cional e poder decisório). A análise da estrutura organizacio-
nal da unidade de informação deve iniciar pela avaliação de Análise de recursos humanos. Essa análise tem por objetivo
sua localização na estrutura da instituição mantenedora, identificar a quantidade de pessoas pertencentes ao quadro
identificando até que ponto isso faVorece seu desempenho e da área de informação, a categoria ou o cargo dessas pessoas,
crescimento futuro. Nocaso de unidades mais complexas, deve- carga horária, formação e atribuições. Uma análise dos salários
se avaliar sua estrutura organízacional, levando em consi- e das formas de contratação também é conveniente, à medida
deração os seguintes aspectos: departarnentalização (identificar que esses dados podem ser indicadores da valorização dos
os critérios para o agrupamento de atividades); centralização profissionais da área e constituir fatores de seu descontenta-
versus descentralização (identificar qtrais os serviços que são mento, afetando, muitas vezes, seu bom desempenho.
centralizados e quais os que são descentralizados, bem como Recomenda-se proceder a uma comparação do perfil do cargo
as justificativas para as alternativas esscolhidas]: amplitude de com o perfil do funcionário, avaliando sua adequação à função
comando (analisar este aspecto, focalizando a tendência atual e eventuais necessidades de treinamento, educação continuada
de redução de níveis decisórios). ou rodízio. Nessa oportunidade, é importante que se identifi-
O estudo do poder decisório consiste em analisar as for- quem satisfações/insatisfações dos funcionários em relação
mas ou estilos de gestão e o grau de participação do pessoal às atividades desempenhadas e que se levantem suas opiniões
nas decisões. Deve também avaliar o grau de integração entre e propostas para a melhoria do desempenho da unidade de
os vários setores da unidade de infon:nação e entre os vários informação. Esses dados, com muita freqüência, revelam
projetos, bem como o grau de integraçào de ambos com a orga- funcionários em desvio de função, outros subutilizados, outros
nização como um todo e com projetos específicos. marginalizados e ansiosos por uma oportunidade de parti-
cipação, outros, ainda, desestimulados ou desinteressados.
Análise de serviços. Em continuidade à análise da estrutura As fontes de dados para essa avaliação incluem desde planos
organizacional, devem-se mapear os serviços existentes, afim de trabalho, relatórios, histórico, organograma, manuais de

78 79
/rviÇO' fluxogramas, normas e procedimentos até entrevistas
e grupos focais com funcionários e usuários.
O confronto das respostas dos diversos funcionários entre
pertinência, atualização, estado de conservação, qualidade
conteúdo (credibilidade do autor, bibliografia básica, o
'clássicos', necessidades do usuário), satisfação dos usuárioe
si e com as respostas dos usuários, e de todas essas informa- e dos profissionais. '
ções com as observações e os demais dados levantados per- As bases de dados não podem deixar de ser mencionadas
mitirá avaliação mais cuidadosa e imparcial, pois nenhum mé- quando se estudam os recursos informacionais de determinada
todo de coleta de dados dá conta, sozinho, de todos os proble- unidade de informação. Essas bases de dados podem referir-
mas. Como mencionamos no início do capítulo, cada instru- se ao acervo de uma biblioteca ou serviço de informação, ou
mento de coleta de dados apresenta um tipo de limitação. Por constituir bases referenciais, que remetem a outros acervos
isso, a combinação de diferentes instrumentos pode trazer ou apenas indicam a existência do documento. Em qualquer
melhores resultados, pois garantirá a credibilidade desses dos casos, a avaliação das bases de dados deve levar em consi-
dados pela 'triangulação', isto é, pela possibilidade de confir- deração sua estrutura e seu funcionamento e utilizar as se-
mação de dados em outras fontes. guintes fontes de dados: planos de trabalho, relatórios, manuais
O resultado dessa análise permitirá não apenas avaliar se de serviço e manuais do sistema (documentação do sistema),
o pessoal é suficiente e adequado, mas também delinear estudos comparativos, observação participante para análise
programas de desenvolvimento de recursos humanos, tendo do desempenho da base, entrevistas e/ ou questionários aplica-
em vista a melhoria do desempenho da equipe. Nesse sentido, dos a funcionários e usuários reais e potenciais.
o diagnóstico não se limita a apresentar os sintomas, mas Os critérios de avaliação a serem seguidos abrangem os
constitui, por si só, uma interferência, uma mudança. seguintes aspectos: precisão na recuperação da informação
(dispositivos de busca), facilidade de acesso e de respostas,
4.2.3.2 Subsídios para a avaliação dos recursos rapidez de acesso, ambiente amigável, consistência, atua-
informacionais, dos processos e dos produtos lização, produtos, possibilidade de imprimir listagens ou gravar
Avaliação de recursos informacionais. A avaliação de em disquete, possibilidade de converter para arquivos de
recursos informacionais não se limita apenas à análise dos editores de texto ou HTML, convertibilidade, padronização (pa-
acervos, mas inclui também as informações disponibilizadas drões de dados e comunicação de dados), custo, satiafação do
por meio de bancos de dados locais, bem como aquelas aces- pessoal, e satisfação dos profissionais.
síveis por redes locais ou pela internet. A internet constitui recurso informacional indispensável em
A avaliação de acervo aqui proposta tem o objetivo de possi- qualquer unidade de informação. Os critérios de avaliação do
bilitar uma visão abrangente de todas as coleções e uma avalia- acesso à internet devem levar em consideração os seguintes
ção do desenvolvimento desse acervo e do nível de satisfação pontos: facilidade de acesso, rapidez de acesso, ambiente ami-
do usuário. Para a análise do acervo, são utilizadas as seguintes gável, custo, possibilidade de imprimir ou gravar em disquete,
fontes de dados: planos de trabalho, relatórios, políticas de for- e satisfação do usuário e dos profissionais.
mação e desenvolvimento do acervo, manuais de serviço, estu-
dos comparativos, exame do material, entrevistas ou questio- Avaliação de processos. Nesse item devem ser considerados
nários aplicados a funcionários e usuários reais e potenciais. os processos tradicionais que caracterizam os serviços de
Os critérios de avaliação do acervo, que podem auxiliar na biblioteca - aquisição, processamento técnico, atendimento,
criação de indicadores de qualidade, são os seguintes: facilidade referência -, mas outros processos mais específicos também
de acesso, diversidade de suportes (tipos de materiais), abran- podem ser abordados, tomando-se a proposta que se segue
gência (analisada em relação aos diferentes tipos de materiais), como modelo geral. A avaliação dos processos consiste em:

80 81
análise das finalidades dos diferentes processos, análise das Os aspectos a serem avaliados quanto ao processamento
rotinas, análise dos recursos e análise dos produtos (quantidade técnico envolvem:
e qualidade). Para tanto, utiliza as seguintes fontes de dados: • análise geral do conjunto de atividades, a fim de verifi-
planos de trabalho, relatórios, histórico, organograma, manuais car: em que consistem, como são executadas, e o nível de
de serviço, fluxogramas, normas e procedimentos, entrevista centralização ou descentralização;
ou questionário com funcionários e com usuários, e observação. • avaliação das políticas de processamento técnico, caso
Os aspectos a serem avaliados em relação à aquisição in- existam;
cluem: • levantamento das responsabilidades do pessoal envol-
• análise geral da atividade e das rotinas, procurando vido com as diversas atividades, procurando identificar quem
responder às seguintes questões: em que consistem? como são define prioridades e quem desempenha as diversas atividades
feitas? as decisões e a execução dos serviços são centralizados (avaliação de desempenho, competência técnica, competência
ou descentralizados? quais as vantagens em um e em outro na especialidade);
casos? • levantamento do tempo médio de processamento de cada
• análise das políticas de formação e desenvolvimento de tipo de material;
coleções, caso existam; • levantamento da quantidade de obras processadas por
• levantamento de informações sobre quem indica obras a ano / pessoa;
serem adquiridas e sobre quem desempenha a atividade; • levantamento do nível de atraso no processamento
análise de desempenho (competência); (quantidade de obras não processadas ou parcialmente pro-
• análise do tempo médio que se leva entre a indicação e a cessadas) e de suas causas;
aquisição efetiva da obra; • avaliação da agilidade do processo (adequação das bases
• verificação da agilidade do processo, utilizando como de dados, rapidez de consulta e precisão de controle);
possíveis indicadores a adequação das bases de dados, a rapidez • verificação do nível de padronização;
de consulta e a precisão na descrição dos documentos, quando • análise dos materiais de apoio ao trabalho (tabelas de
for o caso, e na recuperação de dados; catalogação e classificação, vocabulários, etc.) e de sua ade-
• estudo das formas de aquisição; quação e pertinência aos objetivos;
• avaliação do apoio de informática para o serviço; • avaliação do apoio da informática (análise do desempe-
• levantamento da quantidade de obras adquiridas ao ano nho e manutenção do software, manutenção do equipamento);
e sua comparação com obras indicadas ou publicadas; • avaliação do índice de satisfação do usuário com o serviço;
• avaliação dos subprodutos: emissão de notificação a • avaliação do índice de satisfação do pessoal com o serviço;
quem solicita a obra; boletim de novas aquisições, etc.; • levantamento de sugestões dos usuários e do pessoal;
• levantamento do nível de satisfação dos usuários com • relação do serviço de processamento técnico com outros
os serviços e com o acervo; erviços internos (especificar);
levantamento do nível de satisfação e opiniões do pessoal; • relação do serviço de processamento técnico com outras
• análise da relação do serviço de aquisição com outros Instituições (especificar).
serviços internos (especificar); Os aspectos a serem avaliados em relação aos serviços de
• análise da relação desse serviço com a instituição tendimento exigem:
(especificar);
• análise geral do conjunto de atividades;
• análise da relação desse serviço com outras instituições
análise das políticas de atendimento e do regulamento;
(especificar).

82 83
• análise das rotinas; • levantamento da quantidade de usuários e de questões
• identificação de quem desempenha as diversas atividades de referência por ano;
e análise de seu desempenho; • avaliação do índice de satisfação do usuário - qualidade
• estudo de tempos; das respostas;
• avaliação da agilidade do processo (adequação das bases • levantamento e avaliação de sugestões do pessoal;
de dados, rapidez de consulta e precisão de controle); • levantamento e avaliação de sugestões dos usuários;
• verificação do nível de padronização; • análise da relação do serviço de referência com outros
• levantamento da quantidade de obras consultadas ou serviços internos;
emprestadas por ano; • análise da relação do serviço de referência com outras
análise do empréstimo entre bibliotecas (como é feito, áreas da instituição;
quem faz, quanto tempo requer, quais as normas que o regem); • análise da relação do serviço de referência com outras
• avaliação dos subprodutos: emissão de notificação de instituições.
atrasos, empréstimo entre bibliotecas;
• avaliação do índice de satisfação dos usuários; Avaliação dos produtos. Entendem-se como produtos das
• avaliação do índice de satisfação dos profissionais; unidades de informação tanto as publicações e o site da unidade
• levantamento e avaliação de sugestões dos atendentes; de informação quanto outras formas de divulgação e comu-
• adequação do horário de atendimento; nicação, como palestras, cursos, atividades de extensão e
avaliação da relação do atendimento com outros serviços projetos. Dada a diversidade e a especificidade desses produtos,
da unidade de informação; não cabe aqui a análise detalhada de cada caso, razão pela
• avaliação da relação do atendimento com outras áreas qual explicitamos apenas critérios voltados para a análise das
da instituição; publicações. É preciso, entretanto, ressaltar dois aspectos
• avaliação do serviço de atendimento em suas relações fundamentais que devem nortear a avaliação desses produtos:
com outras instituições. seus objetivos e seu público-alvo. Seja qual for o produto que
esteja sendo analisado, devem-se ter em mente seus objetivos
Para uma avaliação da área de referência, faz-se necessário: e avaliá-lo com base nos resultados esperados, confrontando-
• análise geral das atividades; os com os resultados, de fato, obtidos. Da mesma forma, seja
• análise das rotinas, identificando a existência de rotinas qual for o produto analisado, deve-se levar fortemente em
desnecessárias e formas de eliminá-Ias; consideração a opinião do público que se pretendia beneficiar
• levantamento relativo ao pessoal encarregado das com aquele produto, no sentido de se avaliar qualitativamente
diversas atividades e análise de desempenho (competência téc- os resultados alcançados.
nica, conhecimento da área de assunto); As fontes de dados necessárias à avaliação dos produtos
• estudo de tempos de respostas; das unidades de informação incluem: análise de conteúdo (da
• verificação do nível de agilidade do processo (adequação publicação, do projeto, do serviço, etc.), manuais de serviço,
das bases de dados, rapidez de consulta e precisão de controle); fluxogramas, normas e procedimentos, entrevista ou ques-
• controle quantitativo e qualitativo das questões não tionário com funcionários e com usuários.
respondidas (por que não foram respondidas? que providên- Os critérios adotados para avaliação das publicações devem
cias podem ser tomadas?); incluir a análise dos seguintes itens: contexto da área - exis-
• análise das formas e procedimentos voltados para orien- tência de publicações similares (convencionais ou eletrõnicas),
tação ou treinamento de usuários; pertinência aos objetivos da biblioteca, releváncia na área,

84 85
abrangência, qualidade de conteúdo (credibilidade, autoridade), ciso, em primeiro lugar, que os bibliotecários conheçam seus
atualização, periodicidade, tiragem, distribuição, formato, satis- usuários reais - aqueles que já utilizam o serviço - e poten-
fação do cliente, satisfação do pessoal, custo e preço. ciais - aqueles a quem o serviço se destina, mas que não o
A definição de critérios para avaliação de sites é da maior utilizam. Também é indispensável que os usuários conheçam
relevãncia em qualquer ambiente organizacional. O assunto os serviços e produtos da unidade de informação. O grande
está na pauta de discussão de áreas de informação, comuni- problema é que, em geral, esses pré-requisitos não são atendidos.
cação e marketing de empresas e organizações. Pesquisas têm Como conseqüência, encontramos, de um lado, serviços e
sido desenvolvidas para o aprimoramento de métodos de acervos subutilizados, por não corresponderem à demanda real
avaliação de sites e estudos comparativos em determinados e, de outro, necessidades informacionais não satisfeitas.
segmentos são comumente efetuados para início do processo Encontramos os profissionais da informação ainda exces-
de avaliação. Nesses casos, definem-se alguns aspectos a serem sivamente voltados para a informação convencional, desen-
observados e estabelecem-se pontuações para classificá-los volvendo ações ineficazes, como no exemplo citado por Figuei-
dentro das diferentes variáveis, quais sejam: título, lay-out redo, em que o profissional empenha-se em desenvolver grandes
(atratividade, legibilidade, equilíbrio), conteúdo (releváncia, coleções, acreditando que suprimento cria demanda, ou que a
atualização, adequação de linguagem ao público-alvo), ferra- demanda é relacionada ao tamanho da biblioteca.
menta de busca (existe ou não? é simples e eficaz?), navegação Há, inequivocamente, dois passos para a solução desse
(interatividades, links, facilidade de utilização) e 'fale conosco' problema: conhecer os usuários e saber como usam informa-
(existe ou não? são respondidos?). Esse estudo pode-se realizar ção e capacitá-los a utilizar eficientemente a biblioteca ou
por meio de entrevistas individuais ou em grupo, bem como de serviço de informação. Faz-se necessário, portanto, desenvolver
questionários aplicados ao público usuário do site e a especia- estudos de uso e de usuários, programas de educação ou treina-
listas. A análise de dados quantitativos que indicam a utilização mento do usuário e programas de divulgação. Mas isto apenas
do site também não deve ser negligenciada. Dados como número não basta: é preciso, também, alterar os modos de funciona-
de acessos (visitas e páginas vistas), número de postagens nas mento da unidade de informação, capacitando-a a fornecer
seções interativas ('fale conosco', forum, etc.) e número de serviços eficazes.
downloads de publicações eletrônicas são as estatísticas mais O conhecimento do usuário é indispensável, tanto para o
comumente registradas e analisadas. planejamento de novos serviços de informação, como, também,
para o aprimoramento dos serviços já existentes.
4.2.3.3 Subsídios ao estudo de usuários Figueiredo distingue estudo de uso e estudo de usuários.
potenciais e reais Por estudo de uso, entende a coleta sistemática de dados sobre
Pelo diagnóstico, compara-se o estado encontrado com o estado o sistema - suas atividades, operações, pessoal, uso e usuá-
desejado, avalia-se a eficácia com base em algum padrão rios, em um dado momento ou em um período de tempo. O
estabelecido e procuram-se caminhos para diminuir a distáncia estudo de usuário, de outra parte, preocupa-se em entender
entre a situação existente e a situação desejada. as necessidades informacionais, preferências, opiniões e
A satisfação do cliente é um dos critérios mais importan- avaliações de usuários e não-usuários a respeito de serviços
tes para avaliar a eficácia e a qualidade do serviço. A quali- oferecidos ou a serem oferecidos. O grupo de não-usuários,
dade é entendida aqui como algo 'sentido' pelo usuário (algo a segundo essa autora, inclui os que não conhecem o acervo ou
que ele atribui valor) e é também uma característica do serviço serviços, os que não têm acesso ou não sabem utilizá-lo, os
em si. que não confiam no serviço e os que não sabem que precisam
Segundo Figueiredo (1990), para que isso aconteça, é pre- de informação.

86 87
Os estudos de usuários precisam, portanto, identificar quem que momento a interferência do bibliotecário poderia ser
usa o serviço (usuários reais) e quem não o usa. No primeiro oportuna e contribuir positivamente para o desempenho de
caso, a pesquisa deve ser desenvolvida enfocando os serviços sua função. Essa preocupação justifica-se pelo desconhe-
ou coleções que utiliza, os motivos pelos quais os utiliza e de cimento característico da maioria das pessoas em relação aos
que forma. Também deve ser investigado o grau de satisfação serviços e recursos que a unidade de informação, seja uma
do usuário com cada serviço ou tipo de coleção oferecidos, e biblioteca, centro de documentação ou serviço de informação,
identificadas as necessidades não atendidas dos usuários. pode lhes oferecer. Esse desconhecimento decorre da pouca
É importante ressaltar que há uma tendência do usuário vivência que se tem de biblioteca no Brasil, ou, pior, em alguns
em expressar satisfação com os serviços, principalmente com casos, da experiência negativa com esses serviços, resultante
aqueles fornecidos 'gratuitamente' - o que aponta para um do estado precário em que se encontram as bibliotecas públicas
alto índice de toleráncia e baixo índice de exigência. Isso e pela quase inexistência de bibliotecas escolares.
acontece, com muita freqüência, na avaliação de acervo e Se o estudo dos usuários reais contribui para o aprimora-
serviços por usuários de bibliotecas públicas, particularmente mento dos serviços prestados e a definição de metas que res-
por estudantes. Contentam-se com pouco, desde que encon- pondam diretamente aos anseios desses usuários, o estudo
trem algum material para fazer seus trabalhos escolares, e, dos usuários potenciais possibilita, por sua vez, a definição de
principalmente, desde que dele possam tirar cópias xerográ- estratégias no sentido de incluí-Ios na cadeia de informação,
ficas. Sondagens que, há anos, vimos empreendendo demons- ampliando o espectro de abrangência da unidade de informação.
tram que esses usuários pedem pouco, usam pouco e, geral- As fontes de informação para o estudo de uso e usuários
mente, consideram-se satisfeitos.* No entanto, qualquer são os documentos administrativos - relatórios, planos de
indivíduo um pouco mais esclarecido pode facilmente perceber trabalho, regulamentos e estudos técnicos - e, também, como
a quantidade de deficiências de muitas dessas bibliotecas, vimos no item 4.2.2.5, as entrevistas, os questionários, os
particularmente em relação a acervo e espaço fisico. Essa si- grupos focais e a observação. Quanto aos relatórios, vale des-
tuação tende a se modificar em outros tipos de bibliotecas, tacar novamente um aspecto já tratado no capítulo 3, ou seja,
que contem com usuários mais preparados e que tenham uma a necessidade de um planejamento adequado para se definirem
noção do que possa ser um serviço de informação. Nesses casos, as estatísticas que serão necessárias a determinada unidade
a avaliação do usuário adquire maior importãncia no desenvol- de informação, especificar as manipulações dessas estatísticas
vimento do diagnóstico. que mais têm condições de representar o que ocorre na unidade
No caso dos não-usuários, a pesquisa deve preocupar-se, de informação, padronizar a definição dos termos utilizados
primeiramente, em identificá-los, bem como em levantar as de forma a garantir sua maior confiabilidade, e desenvolver
razões pelas quais não utiliza o acervo ou os serviços de instrumentos administrativos para facilitar a coleta e a ela-
determinada unidade de informação. Deve também tentar boração de relatórios (formulários, periodicidade, etc.).
levantar as necessidades informacionais desses não-usuários, A avaliação do usuário é um ato subjetivo e suas neces-
partindo do pressuposto de que precisam de algum tipo de sidades informacionais estão em constante mutação, portanto
informação. Nesse processo de pesquisa, é de grande utilidade faz-se necessária a utilização de mais de uma fonte de coleta
a análise de suas atividades profissionais a fim de detectar em de dados e a elaboração periódica de diagnósticos.
Ainterpretação de dados para o diagnóstico pressupõe asso-
. Muitas dessas pesquisas de campo têm sido elaboradas, sob minha ciações e combinações de forma a potencializarem o significado
supervisão, por alunos do Curso de Biblioteconomia e Documentação da desses dados que, muitas vezes, isoladamente não fazem ne-
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, na disciplina
nhum sentido. Assim, por exemplo, um dado que relate o cresci-
Planejamento Bibliotecário.

88 89
mento do número de usuários atendidos pela unidade de infor inclusive objetivos, justificativas, hipóteses e metodologia (ins-
mação, para ter significado, deve ser analisado em relação ao trumentos de coleta de dados, amostragem, etc.).
crescimento do número de usuários potenciais, o que possibi Em seguida, deve apresentar dados relativos à instit~ição
litaria verificar se houve aumento deste e quantos usuários qual está subordinada a unidade de informação, pod endo
reais deixaram de ser atendidos. incluir um pequeno histórico, missões e objetivos, área d~ ati-
Na análise e interpretação de dados do diagnóstico referen vidade, análise da estrutura organizacional, pessoal (qu e ge-
tes aos usuários, é de grande utilidade o conhecimento de ralmente são usuários potenciais da unidade de informaçã.o).
pesquisas realizadas, muitas delas relatadas na literatura. /\ Situado o contexto organizacional da unidade de info .rma-
esse respeito, relata-nos Figueiredo que resultados de estudos ção, é necessário situá-Ia em seu contexto informacional . Isto
de uso indicam alguns aspectos que podem servir de subsídios ignifica analisar o estado da informação na área (font~s de
a novos estudos de usuários, quais sejam: informação, bibliotecas, bases de dados) o que envolve a at:\.álise
• pequena porcentagem da coleção consegue satisfazer à de eventuais sistemas ou redes a que esteja ligada ou d~ ati-
maioria da demanda; vidades cooperativas de que participe. Seguem-se a deSCrição
• pequena proporção da população potencial de usuários análise dos objetivos, da estrutura, dos recursos (hum~nos
é responsável pela maior parte do uso de determinado sistema' físicos, financeiros, materiais e informacionais) e dos serviço~
• há correlação entre o uso interno e o uso externo do produtos da unidade de informação. Por fim, deve trazer <:lados
acervo e dos serviços; sobre os usuários potenciais e reais da unidade de inform~ção,
• usuários de certa especialidade têm comportamentos inclusive dados quantitativos e qualitativos, com base, em
homogêneos de uso; informações levantadas a partir de estudo do perfil d~sses
• materiais atuais são mais utilizados; usuários, bem como de suas expectativas e níveis de satis:fação
• o uso passado é indicador de uso futuro. com os serviços oferecidos.
A identificação dos fatores que influenciam o uso da irifor- A parte final consiste nas conclusões, que devem fazer
mação também constitui um subsídio importante para o plane- referência às hipóteses e questões de pesquisa levantadas, e
jarnento de estudos de usuários. Esses fatores são: atividade apresentar uma reflexão sobre os dados levantados, alnar-
do usuário, área de especialidade, ambiente organizacional, rando-os pelo cruzamento de informações e por observqções
ofertas alternativas de informação, hábitos, gostos e necessi- que mereçam destaque. Seguem-se as recomendações, que
dades. Por outro lado, questões relacionadas à divulgação do delineiam rapidamente possíveis propostas de intervellção,
~ce~o e serviços e à forma de organização da coleção, que têm fornecendo subsídios ao desenvolvimento de um plan., de
implicações diretas, respectivamente, no conhecimento da trabalho ou projeto específico.
unidade de informação e na facilidade de acesso ao material Nos anexos, devem ser incluídos modelos de questionários
também são relevantes para a avaliação do uso. Por fim, ques- e de roteiros de entrevistas, quadros e tabelas, e outros dados
tões relacionadas às políticas e aos regulamentos do serviço que complementem o texto.
também devem ser avaliadas por afetarem o uso dos recursos
informacionais e o comportamento do usuário. 4.4 Outras providências
Naturalmente o processo de avaliação não se encerra no docu-
4.3 Roteiro para a apresentação do diagnóstico mento. Algumas providências são absolutamente indisP~nsá_
O documento final que contém o diagnóstico deve apresentar, veis para garantir que o diagnóstico seja lido e possa gerar
na parte introdutória, dados relativos ao projeto de diagnóstico, planos e projetos que interfiram na realidade encontrada.

90 91
A primeira providência é a redação de um documento resu-
mido, que denominamos documento gerencial. Como o nome
5
indica, é um documento sintético dirigido ao alto escalão da
instituição que abriga a unidade de informação e que deve
acompanhar a versão completa do diagnóstico.
Outro passo consiste em promover uma apresentação formal
Planejando o projeto
e uma discussão do diagnóstico com o pessoal da unidade d
informação. Com isso, pretende-se que os problemas e soluções
encontrados sejam compreendidos e discutidos com o pessoal
envolvido, a fim de garantir a continuidade do processo ?e 5.1 o que é projeto?
planejamento. Todo o esforço, nesse momento, deve ser feito PROJETO é a unidade elementar do processo de planejamento,
no sentido de que os problemas não fiquem apenas no papel, constituindo-se em um conjunto de ações e recursos para a
por mais difícil que seja o movimento em direção à mudança. consecução de objetivos concretos, perfeitamente especificados
e destinados a gerar benefícios. Um projeto surge em resposta
a um problema ou conjunto de problemas concretos previa-
mente identificados. Vimos, em capítulo anterior, que o diag-
nóstico é a forma mais adequada de identificar esses problemas
em organizações ou em determinada realidade social. É a partir
da análise e da priorização dos problemas que surgem as idéias
para solucioná-los. Essas idéias, transformadas em ações,
podem constituir instrumentos de mudança. As ações, para
gerarem transformação, precisam ser sistematizadas. Essa
sistematização é o projeto.
São muitos os tipos de projeto que podem ser desenvolvidos
numa unidade de informação, tais como: estruturação ou rees-
truturação; formação e desenvolvimento de acervo; tratamento
da informação; informatização (de toda a unidade de informa-
tização ou de determinadas áreas); modernização; capacitação
de recursos humanos; disseminação da informação; formação,
ampliação ou desenvolvimento de público; criação ou aprimo-
ramento de produtos e serviços, dentre outros.
Quanto maior o conhecimento da realidade social e do
contexto em que será aplicado o projeto, maior a sua probabi-
lidade de sucesso. No caso de projetos de criação de novos
serviços, os dados a serem coletados incluem o levantamento
e a análise das expectativas dos diferentes públicos que pre-
tendem atingir, direta ou indiretamente, bem como uma análise
cuidadosa de contexto. Assim, por exemplo, um projeto de
biblioteca pública em determinado município deve levar em

92 93
conta a quantidade e o perfil de seus públicos, considerando e consiste na mobilização de meios e recursos para sua
aspectos como distribuição demográfica por faixas etárias, nível implementação, inclusive a capacitação da equipe;
de escolaridade, ocupações profissionais, uso de tempo livre 3. desenvolvimentojimplementação: é o momento da
as condições gerais de vida no município. Importa, então, co- prática, da efetiva realização do projeto;
nhecer as características demo gráficas e os indicadores sociais 4. avaliação: embora ocorra durante todo o processo de im-
existentes - Índice de Desenvolvimento Humano do Município plementação do projeto, identificando-se como acompanha-
(IDH-M),índice de analfabetismo e índices educacionais do mento ou monitoramento, tem, no momento de encerramento
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio do projeto, a função de verificar em que medida se atingiram
Teixeira (INEPjMEC), índices de saúde (DataSusjMinistério da os resultados previstos. Essa avaliação gera informação e estí-
Saúde, e outros) - as questões sociais mais prementes no mulo para o desenvolvimento de novas idéias e soluções, que
município e as possibilidades de articulação ou de parcerias. poderão gerar novos projetos, ou para o aprimoramento do
Com esse conhecimento da realidade é que devem ser cons- mesmo projeto.
truídas as propostas para determinado município, contribuindo Visto dessa forma, o projeto é um ciclo de conquistas e apren-
para que a alternativa escolhida seja, de fato, uma resposta a dizados, como quer Armani (2000): a prática decorrente da
necessidades do município e seja articulada às demais esferas implementação do projeto e de sua avaliação provoca reflexão
da vida social do cidadào, contribuindo para seu atendimento e permite nova compreensão da realidade e novos aprendizados
integral. a partir dos quais novas soluções são encontradas.
Deve-se elaborar um projeto sempre que se tenha um
objetivo cujo alcance dependa de um esforço orquestrado, qu 5.3 Etapas do processo de elaboração do projeto
vá além da realização de atividades rotineiras e que pressu- 5.3.1 Definição do objeto e dos objetivos
ponha a vontade e a disposição para mudar. Planejar o projeto Para Kisil (2001), o processo de elaboração de um projeto "é
é tomar decisões que permitam implementá-lo. Sem planeja- um mergulho em idéias, oportunidades, dificuldades, desco-
mento, não se pode iniciar um projeto, acompanhar se 1 bertas sobre acertos e erros, sobre pontos fortes e fracos, sobre
desenvolvimento e avaliar seus resultados. pessoas envolvidas" (p.19). Esse processo se inicia, insistimos,
com a avaliação diagnóstica, que vai permitir a identificação
5.2 Fases do projeto dos problemas e a definição da abrangência ou das áreas de
As fases do projeto são os principais momentos de seu ciclo d intervenção.
vida. Essas fases não seguem um caminho rigorosament Com base nesses conhecimentos, sistematizados no
linear, pois são partes de um processo dinàmico e interativo. diagnóstico, parte-se para a definição do objeto e dos objetivos
A maioria dos autores identifica cinco fases no ciclo de vida do do projeto. Essa etapa inclui a escolha do público-alvo e a
projeto, quais sejam: definição dos objetivos específicos e das metas a serem alcan-
1. elaboração ou preparação do projeto: trata-se do mo- çadas. É o momento privilegiado de discussão de idéias, de
mento de concepção do projeto, que se fundamenta em um oluções e de caminhos. É, também, a hora da definição do
diagnóstico e na identificação da oportunidade da intervenção; partido do projeto, ou seja, da explicitação dos conceitos e dos
nessa fase, definem-se os objetivos e o foco do projeto e s princípios que servirão de base a seu desenvolvimento.
especificam as formas de atingir esses objetivos, conforme O processo de definição de objetivos exige, como ressalta
detalhado no item 5.3, a seguir; Maximiano (2002), a definição do escopo, da abrangência ou
2. estruturação: esta etapa pressupõe a aprovação do projeto do foco do projeto. A definição de foco delimita a área de atuação
o alcance do projeto e é fator relevante para sua exeqüi-

94 95
bilidade. Esse autor é enfático ao afirmar que "projetos sem do projeto. Assim, para ilustrar, embora prazos e recursos
foco não são projetos" (p.47). humanos sejam dois itens distintos do projeto, são interdepen-
Os projetos geralmente comportam um objetivo geral e dentes: à medida que se aumenta o número de profissionais
objetivos específicos. O objetivo geral identifica resultados finais na equipe, por exemplo, reduz-se a duração do projeto. Nesse
esperados, ou, em outras palavras, indica, de forma abrangente, caso, a decisão que deverá constar do projeto será tomada a
o que se pretende conseguir com a execução do projeto. Ao se partir de uma avaliação dessas variáveis conjugadas com
formularem objetivos, devem ser considerados seis princípios: aspectos relacionados ao cronograma de desembolso ou àdispo-
coerência: os objetivos do projeto devem ser coerentes nibilidade de postos de trabalho (computadores, suficiência
com os objetivos e a política da organização; de espaço, etc.) para uma equipe mais numerosa.
necessidade: os objetivos devem ser definidos em função
de necessidades e expectativas identificadas junto a todos os 5.3.2 Planejamento das ações e atividades
envolvidos no projeto (os stakeholders); A segunda etapa do processo de planejamento do projeto inclui
aceitabilidade: os objetivos devem ser aceitáveis para o 'como fazer': ações a serem desenvolvidas, atividades dispos-
as pessoas envolvidas no projeto, ressaltando-se aqui, nova- tas no tempo e no espaço, e estratégias e métodos de trabalho
mente, a importáncia da participação dos responsáveis pela a serem utilizados.
execução e dos que sofrerão os resultados da ação; O processo de planejamento das ações e atividades ge-
exeqüibilidade: não devemos nos atribuir missões ralmente parte dos objetivos específicos. São eles que vão
impossíveis; os objetivos devem ser viáveis, exeqüíveis; determinar as ações a serem desenvolvidas para que sejam
• motivação: as pessoas envolvidas no processo devem cumpridos. Da mesma forma, a partir da definição das ações,
estar motivadas para implementá-lo e a organização, como um determinam-se que atividades serão necessárias para que as
todo, para acolhê-lo; referidas ações sejam realizadas.
• simplicidade: ainda que se trate de um projeto de alta No planejamento das ações, atividades e resultados, é
complexidade, seus objetivos devem ser expostos de forma importante identificar fatores externos relevantes para o êxito
simples e clara, de modo a garantir sua compreensão pelo do projeto. Se esses fatores forem condição para que os re-
elementos envolvidos no projeto, por seus patrocinadores ultados sejam alcançados, devem ser transformados em resul-
por seus beneficiários. . . tados a serem perseguidos. Se for alta a probabilidade de não
Os objetivos específicos são desdobramentos do objetiv correrem conforme os interesses do projeto, há alto risco de o
geral e contribuem para para dar maior clareza em relação a inviabilizarem e, nesse caso, recomenda-se mudar totalmente
que se pretende com o projeto. Os objetivos específicos referem estratégia de intervenção do projeto.
se a resultados parciais a serem alcançados e orientam a. Nesta etapa, define-se também o seqüenciamento das ativi-
ações para que o projeto atinja seu objetivo geral. dades, já que seu desenvolvimento precisa levar em conta as
Adefinição dos objetivos específicos permite a determinação lnterligações entre as atividades e seu encadeamento lógico.
das metas do projeto, entendidas estas como a quantificação I efinida a seqüência das atividades, estima-se o período de
do objetivo, em espaço e tempo determinados. duração delas e se elabora o cronograma do projeto, que vai
É importante ressaltar que, a partir dessa primeira etapa,
ituar as atividades no tempo. O cronograma apresenta como
embora o processo de elaboração do projeto exija um fluxo V ntagens permitir detectar o início e o fim de cada evento
lógico e racional, nem sempre o planejamento das etapas st (nção, atividade ou etapa), verificar a sucessão dos eventos e
desenvolverá de forma linear, podendo, os vários elemento, I pontar os que se desenvolvem simultaneamente , facilitando ,
interagir, em certos momentos, numa construção dinámi 1\
« m isso, o gerenciamento do projeto e a administração de

96 97
recursos. No quadro 2, apresenta-se, a título de ilustração, processo de sensibilização e comprometimento com a missão
um exemplo de resumo do planejamento das ações, inclusive do projeto e seus resultados, além do treinamento em métodos
e procedimentos. A capacitação constitui, assim, um fator fun-
o cronograma.
damental para o sucesso do projeto.
É também nesta etapa que se inicia o processo de definição
dos recursos necessários ao projeto. Como mencionamos acima,
5.3.4 Planejamento da avaliação
a elaboração do projeto é um processo integrado cujos ele-
mentos devem ser cuidadosamente equacionados para se A quarta etapa consiste na definição das formas de moni-
chegar aos resultados esperados. A duração de qualquer ativi- toramento e avaliação do projeto. Planejar a avaliação contribui
dade, por exemplo, é determinada pela quantidade de pessoas para que os objetivos sejam alcançados, para se acompanhar
e recursos destinados ao projeto, bem como pela qualidade ou a evolução dos trabalhos, perceber eventuais riscos antes que
competência dessas pessoas. Definir o perfil dos profissionais eles se manifestem, corrigir erros e avaliar resultados parciais.
que desempenharão as várias atividades do projeto também Para medir resultados, é preciso definir indicadores que mos-
se faz necessário, levando-se em conta que, em geral, embor trem em que medida os resultados esperados foram alcançados.
não obrigatoriamente, maior competência poderá também Esses indicadores podem ser objetivos e quantitativos e,
significar maior custo. Ressalte-se que o tipo de procedimento nesse caso, são fáceis de coletar e monitorar. Podemos citar,
(o 'como fazer) bem como a qualidade desejada do produto OLl como exemplo: número de usuários, número de consultas, nú-
serviço interferem na escolha do perfil da equipe, no tempo d mero de empréstimos, número de obras adquiridas, dentre
duração do projeto e nos recursos materiais a serem definidos. outros. Podem, ainda, ser qualitativos, quando expressam a
Espaço fisico e aspectos legais também poderão interferir na qualidade do resultado. É o caso, por exemplo, de indicadores
soluções a serem propostas no projeto. tais como: aumento da capacidade de busca de informação
sem necessidade de ajuda do bibliotecário, melhoria do acesso
5.3.3 Planejamento da capacitação da equipe de à informação, melhoria da qualidade do tratamento da informa-
implementação do projeto ção, melhoria da qualidade do acervo, dentre outros. Em geral,
es~e tiI;>0de indicadores exige coleta de informações subjetivas,
O ideal será planejar as ações e atividades do projeto com 1\ opinativas,
participação da equipe de implementação. Esse nível de parti
cipação da equipe na fase de elaboração do proj.eto au~e~t~ (I Além da construção dos indicadores, esta etapa prevê a
seu comprometimento com os resultados do projeto e rmmmiz I definição de seus respectivos meios de verificação, ou seja,
os riscos, as dificuldades e os desentendimentos na fase dI das fontes de dados a serem utilizadas para a coleta de dados,
implementação das ações. O tempo que se investe, portanto, bem como dos instrumentos a serem utilizados para a coleta e
nas discussões sobre o projeto - sua concepção e seus proccd o registro. Ao final desta etapa, estará pronto o plano de avalia-
mentos - é, geralmente, recuperado na fase de implementaç (I, ção, que inclui o monitoramento de processos e a avaliação de
pois as principais decisões já terão sido tomadas pelo grupo resultados e de impacto, discutidos no capítulo 2.
No entanto, isso nem sempre é viável, pois, muitas vezes, \I
projeto é desenvolvido por consultores externos e a equipe 5.3.5 Planejamento das estratégias de disseminação
contratada somente após a aprovação do projeto. Nesse c (I, e comunicação relacionadas ao projeto
a melhor alternativa será proceder à apresentação detalharlu Alguns projetos prevêem ações específicas de comunicação e
do projeto à equipe e dar espaço para sua discussão, no boi" disseminação, com a finalidade de compartilhar informações
de um programa de capacitação, que deve prever também \1111 conhecimentos adquiridos durante o processo de desenvol-

98 99
vimento do projeto ou como produto dele. Esse comparti- ao desenvolvimento do projeto, além de diárias, prêmios, passa-
lhamento de informações e conhecimentos pode ocorrer com o gens e outras despesas de locomoção.
público do projeto ou com a sociedade em geral, bem como As despesas de investimento incluem aquisição de mate-
com outras áreas da organização, ou em outras organizações rial permanente (mobiliário e equipamento), reformas e obras.
ou contextos, tendo em vista a possibilidade de reeditar o projeto Aespecificação dessas despesas resulta da avaliação cuidadosa
ou desenvolver modelos e políticas públicas na área. A quinta da necessidade de mudança no espaço fisico (ampliação, refor-
etapa do projeto compreende, assim, a definição das estratégias ma, adaptação) e nas instalações, de forma a possibilitar a
de disseminação e de comunicação relacionadas ao projeto. implementação do projeto.
A qualidade da avaliação e da comunicação é particular- A denominação das categorias de despesas pode variar
mente importante no caso de projetos com financiamento ou ligeiramente nas diferentes organizações e é importante que o
com parceiros externos, situação em que a eficiência, a eficá- projeto respeite a denominação vigente, sobretudo porque será
cia e o impacto dessas ações precisam ser mensurados e di- utilizada no processo de prestação de contas da organização.
vulgados, e em que a visibilidade dos resultados é reconheci- No caso de projetos financiados por terceiros - agentes finan-
da como garantia de continuidade do financiamento ou patrocínio. ciadores e outros parceiros - deve ser respeitada a denomi-
nação utilizada por estes, adequando-a para os processos inter-
5.3.6 Planejamento dos recursos nos. Havendo vários parceiros no projeto, é indispensável que
se especifiquem as diferentes contribuições de cada um.
A sexta etapa compreende a definição dos recursos humanos, Todas as despesas previstas no orçamento devem ser
fisicos, materiais, institucionais e organizacionais, que viabi- cuidadosamente registradas ao longo da elaboração do docu-
lizarão o projeto, e a elaboração do orçamento. mento e devem constar da documentação do projeto, que reúne
Ao [mal dessa etapa, será possível definir os custos do projeto os parãmetros e os preços usados como referência no projeto.
e, se necessário, o cronograma de desembolso. Recomenda-se Essa documentação deve servir como memória dos cálculos e
que o quadro de recursos seja construído a partir das ativi- embora não conste do documento final do projeto, é indispen-
dades: identificam-se as tarefas envolvidas em cada atividade sável na negociação com eventuais financiadores, bem como
e todos os recursos humanos, fisicos e materiais necessários à no posterior gerenciamento do projeto.
sua realização; em seguida, com base em parámetros de custo A necessidade de recursos que não envolvam custos dire-
previamente definidos pela equipe, discriminam-se os recursos tos para o projeto, como é o caso de recursos institucionais e
financeiros, ainda por atividade. organizacionais, também deve ser levantada nessa fase de
Finalmente, o quadro é analisado em bloco (poisvários itens planejamento.
servem a mais de uma atividade) e os recursos são agrupados Os recursos institucionais referem-se a mecanismos (con-
a fim de consolidar o quadro final e dar elementos para a mon- vênios, acordos, comissões, etc.) e a normas/legislação que
tagem do orçamento, que reúne as despesas por categorias, viabilizem ou favoreçam o projeto e serão ou não necessários
quais sejam: recursos humanos, despesas operacionais ou de dependendo da natureza do projeto e das condições institu-
custeio e despesas de capital ou investimento. cionais .
Em recursos humanos, incluem-se as despesas com a equipe . O~ recursos organizacionais referem-se à estrutura orga-
do projeto (pessoal permanente, pessoal temporário, consul- nizacional necessária ao desenvolvimento do projeto, consi-
torias e estagiários) e com programas de treinamento ou capaci- derando-se que nem sempre os órgãos existentes dão conta
tação que se façam necessários. As despesas operacionais ou das funções que deles espera o projeto. Nesse caso, uma rees-
de custeio incluem material de consumo e serviços necessários truturação administrativa pode ser necessária, tanto para criar

100 101
novos serviços quanto para desativar ou fundir serviços constitui importante instrumento de comunicação, tanto inter-
existentes, ou, ainda, modificar as atividades a serem na, para uso da equipe, quanto externa, para uso pedagógico,
desempenhadas pelas diversas áreas. estratégico e político e para a captação de recursos.
Grandes projetos de informação muitas vezes não são bem Não há um modelo predeterminado de roteiro, pois cada
sucedidos por terem subestimado a importãncia desses tipo de projeto pode conter determinadas informações e espe-
recursos. O que com freqüência acontece é não conseguir o cificações muitas vezes determinadas por formulários próprios,
projeto a infra-estrutura necessária à sua implantação def como no caso de projetos de captação de recursos junto a agên-
nitiva, que é garantia de sua continuidade. Com isso, o projeto cias financiadoras.
pode até chegar a ser desenvolvido, mas dura apenas enquanto O roteiro sugerido a seguir não é exaustivo, mas contempla
houver alguém que o lidere e, literalmente, o sustente. Sem os componentes fundamentais geralmente encontrados nos
ser institucionalizado, ou seja, sem estar realmente incorporado projetos. Deve ser adaptado à natureza e às finalidades do
à instituição e assumido por ela, pode ser visto apenas como projeto, bem como às exigências dos eventuais financiadores. ...•
um projeto pessoal, e, de fato, assim é, em muitos casos, e tem
O texto deve ser claro, objetivo e sucinto. Em alguns casos,
dias contados.
o uso de quadros e tabelas permite uma compreensão mais
5.3.7 Redação do projeto imediata do que se pretende e pode substituir longos textos.
Pode-se, por exemplo, utilizar a matriz de projeto, que permite
A última etapa consiste na redação do projeto e será desenvol visualizar os objetivos específicos encadeados com as ações e
vida quando todo o conteúdo do projeto tiver sido discutido (' atividades necessárias para alcançá-los e com os indicadores
definido. O projeto deve ser capaz de comunicar, em um s de desempenho e resultados para sua avaliação e monitora-
documento, todas as informações referentes à implementação mento. Indicam-se, ainda, nessa mesma matriz as datas de
das ações. Para tanto, deve responder a determinadas questões, início e fim de cada atividade.
cujas respostas constituirão as partes que comporão o doeu
mento, conforme sugere o quadro abaixo: 5.4.1 Identificação do projeto
Queat6ea Partes do documento
Dentre os elementos normalmente utilizados para identificar
um projeto, destacam-se os seguintes:
O que vai ser feito? Objeto e objetivos
Por que e para que ser feito? Justificativas
• Título do projeto
Que produtos ou serviços resultarão do projeto? Serviços/produtos • Área de atuação
Como será feito? Etapas (Ações e atividades] Programa e subprograma (caso seja parte de um
Quem fará? Recursos humanos programa mais amplo)
Com que meios? Recursos materiais, físicos, ete.
Órgão responsável/ coordenador
Quando será feito? Cronograma
Quanto custará? Custo total do projeto
• Responsável/ coordenador
Como será feito o monitoramento e a avaliação? Sistema de avaliação • Órgão executor
Período de abrangência (datas previstas para início da
implantação e término do projeto)
5.4 Roteiro para a apresentação do projeto Custo total
O documento que sistematiza o projeto resulta, como vimos, • Data de elaboração do projeto
de um processo de planejamento. À medida que permite
visualizar a totalidade da ação, bem como seu detalhamento,

102 103
5.4.2 Sumário executivo contexto deve descrever as condições socioeconõmicas e os
O sumano executivo ou resumo do projeto tem a finali- ?rinc~pais problemas sociais da região onde o projeto vai se
dade de permitir ao financiador ou aos responsáveis pela apro- msenr, as características da população local (número de habi-
vação do projeto a compreeensão geral da proposta e sua abran- t~nt~s, distribuição por faixa etária, grau de escolaridade, prin-
gência. Permite determinar se a proposta é pertinente às linhas cipais ocupações, etc.) bem como os esquipamentos educa-
de financiamento aprovadas ou aos objetivos, prioridades e cionais, culturais e de lazer existentes e as condições de acesso
estratégias da organização, ou, ainda, a questões sociais que da população a esses equipamentos.
se pretendem solucionar. Deve ser claro, preciso e sucinto, Essa análise deve se fundamentar em indicadores sociais
contemplando, em, no máximo, uma lauda, todas informações- significativos, que dêem conta de situar o problema enfocado
chave sobre o projeto. pelo projeto.

5.4.3 Apresentação da organização 5.4.5 Objetivos


Este item deve conter dados gerais sobre a organização res- Relacio.na~-se aqui os obj~tivos do projeto, ou seja, o que se
ponsável pelo projeto (natureza, histórico resumido, missão, . quer atingir com o projeto. E importante que não se confundam
objetivos, estrutura, corpo dirigente, perfil de seus técnicos, os objetivos da unidade de informação com os objetivos do
etc.) bem como sobre a unidade de informação e principais projet.o: Este item pode ser subdividido em objetivos gerais e
ações. específicos, conforme mencionamos no item 5.3.1.
A unidade de informação deve ser aqui bem caracterizada,
o que implica esclarecer a que órgão está subordinada, quais 5.4.6 Público-alvo
são as suas finalidades e seus principais agrupamentos de Descrevem-se aqui as características dos beneficiários diretos
funções ou atividades, e quem é seu usuário real e potencial, e indiretos do projeto.
dentre outros aspectos. Caso o projeto trate de um setor dentro
da unidade de informação, essas explicações devem chegar 5.4.7 Justificativas
até o setor de interesse. Essa parte do projeto é fundamen- Asjust.ificativas devem demonstrar a necessidade de realização
talmente descritiva e utiliza como subsídios dados extraídos do projeto, bem como sua capacidade de transformar a reali-
do diagnóstico. dade, apontada nos itens relativos à análise do contexto e da
organização.
5.4.4 Análise de contexto É por meio das justificativas que podemos convencer nosso
A análise de contexto apresenta diferentes vertentes, de- interlocutor de que o projeto vale a pena - é o espaço para o
pendendo da natureza do projeto e da organização respon- marketing do projeto. Nesse sentido, devem ser aqui apre-
sável. No caso de bibliotecas ou serviços de informação espe- sentadas as vantagens decorrentes da implantação do projeto
cializados, é importante que se avalie o ambiente informacional de forma a obtermos uma resposta definitiva para a questão:
da área temática de atuação, o que permite identificar defi- para que o projeto?
ciências e potencialidades, bem como pontos fortes, tais como Asjustificativas devem ser fundamentadas por dados levan-
fontes de informação e serviçosjá existentes. Esse mapeamento tad.os no diagnóstico, que permitirão comprovar as vantagens
contribui para evitar duplicação de esforços bem como para da lmplantação do projeto. Além dos dados qualitativos, de ca-
promover articulações para o desenvolvimento do projeto. ráter mais subjetivo, serão sempre úteis os dados quantitativos
No caso de bibliotecas públicas, por exemplo, a análise de (pessoas a serem beneficiadas, custo e maximização de uso

104 105
dos recursos informacionais, etc.). Dados extraídos de indi- imediata do conjunto do projeto e sua situação no tempo. Se-
cadores sociais e da literatura especializada também podem gue-se uma sugestão:
ser de grande utilidade como suporte às justificativas.
Ao ressaltar a relevància do projeto para a solução dos pro- Ações Ativi- Mês e ano Mês e ano Mês e ano Mês e ano
dades
blemas apontados no diagnóstico, as justificativas devem pro- semanas semanas semanas semanas

curar enfatizar o impacto do projeto, a vantagem estratégica qu I' 2" 3' 4' I" 2' 3" 4' I' 2" 3" 4" I" 2" 3" 4"
Discri- Discri-
poderá trazer, os beneficios sociais que deverá trazer, etc. Além minar minar
disso, devem ser fundamentadas em critérios de viabilidad as as ao-
ações vida-
do projeto, destacando os seguintes aspectos: oportunidade, des
possibilidades concretas de se cumprirem prazos, coerência
com políticas gerais da instituição, compatibilidade com o
contexto social, econômico, técnico e político vigente e possibi- 5.4.10 Recursos
lidade de aceitação por parte dos envolvidos (usuários c Todo projeto exige recursos para sua implementação. Embora
funcionários envolvidos nas ações). freqüentemente esse termo seja vinculado a recursos finan-
ceiros, nem sempre recursos implicam investimentos. Recursos
5.4.8 Etapas podem ser entendidos como o conjunto de meios ou instru-
Devem-se discriminar as ações a serem desenvolvidas, deta- mentos que possibilitarão o desenvolvimento do projeto.
lhando-se as atividades, bem como os resultados e metas a
serem alcançados. Explicitam-se aqui os procedimentos (méto- 5.4.10.1 Recursos institucionais
dos, técnicas e regras) e normas (comandos diretos de curso Neste item, especificam-se as mudanças necessárias para
de ação a seguir) adotadas. adequar os instrumentos em vigor às necessidades do projeto
Conforme sugestão abaixo, essas informações podem ser e propõe-se a elaboração e aprovação de novos instrumentos
formatadas em tabela, de modo a permitir a visualização do jurídico-administrativos que permitam sua implementação.
encadeamentos dos objetivos específicos com as ações e destas
com as atividades, os resultados e metas a serem alcançados. 5.4.10.2 Recursos organizacionais
Referem-se à estrutura organizacional necessária ao desen-
Objetivos Ações Atividades Resulta- Responsá- Início da Firnda Obser-
especificos dos e vel(eis} atividade atividade vações volvimento do projeto, considerando-se que nem sempre os
metas
órgãos existentes dão conta das funções que deles espera o
Discriminar Discrimi- Relacionar Relacionar Relacionar Data pre- Data pre-
todos os ob- naras todas as resultados os respon- vista para uistapara projeto. Nesses casos, uma reestruturação administrativa pode
jetiuos espe- aç6es ne- atividades e metas sáueis por o início da o término
cificos do cess6rias necessárias previstos cada atividade da atiui-
ser necessária, tanto para criar novos serviços como também
projeto aocum- para que a para cada atividade dade para desativar ou fundir serviços existentes, ou, ainda, modi-
primento açtlo se atividade
de cada realize ficar as atividades a serem desempenhadas pelas diversas áreas.
objetivo

5.4.10.3 Recursos físicos


5.4.9 Cronograma Deve-se discriminar no projeto a área física necessária à sua
implementação. Nesse caso, convém indicar a área física dis-
O cronograma apresenta as atividades necessárias à imple-
ponível e prever a área complementar necessária. A área física
mentação do projeto, situando-as no tempo. Prefere-se a repre-
necessária deve ser justificada em função de projeções e de
sentação gráfica do cronograma, por facilitar a apreensã
levantamento de padrões existentes tanto na literatura quanto

106 107
em casos práticos estudados. Não inclui apenas a criação de 5.4.11 Orçamento
novos espaços, mas também reformas, ampliações, adaptações O orçamento, de acordo com Maximiano (2002), é a estima-
e planejamento de novo lay-out. tiva dos custos do projeto. Deve ser apresentado em quadro
que indique os recursos necessários à execução do projeto,
5.4.10.4 Recursos humanos especificados, por item, elemento ou categoria de despesa, e
Trata-se do pessoal necessário ao desenvolvimento do projeto, por fonte, isto é, por origem de recursos, pois nem todos provêm
podendo ser especialmente contratado para o projeto. Neste da mesma fonte. Todos os custos do projeto devem ser aqui
caso, devem ser indicadas as formas de contratação e detalhada discriminados e não só aqueles para os quais for preciso finan-
a duração de cada contrato. Deve-se detalhar o salário para ciamento externo. Deve ficar clara a contribuição de cada
cada função, não deixando de computar, quando for o caso, os parceiro do projeto e, no caso de projetos de financiamento, a
encargos sociais. Os recursos humanos necessários devem ser contrapartida da própria organização executante.
justificados em função de estudos de tempo e movimento e de Geralmente, além do orçamento, é necessário elaborar o
padrões internacionais ou locais. É necessário que se discri- cronograma de desembolso ou cronograma fisico-financeiro,
minem os requisitos para cada função solicitada, de acordo que deve apresentar os custos previstos no orçamento, por
com o perfil de atividades a serem desenvolvidas, inclusive item de despesa, distribuídos ao longo do período de desen-
nível de escolaridade, especializações em determinadas áreas volvimento do projeto, de forma a permitir a definição do período
temáticas, conhecimento de línguas, experiência anterior, etc. exato em que a liberação de recursos deverá ocorrer. A apre-
sentação desse cronograma costuma ser exigida por muitos
5.4.10.5 Recursos materiais frnanciadores, sobretudo pelos que que trabalham com parcela-
O projeto deve conter a previsão de recursos materiais neces- mento de recursos, mas, independente disso, é ferramenta
sários à sua execução. Esses recursos incluem material de indispensável ao gerenciamento do projeto.
consumo e material permanente, e devem ser discriminados
dentro de cada categoria, conforme recomendamos abaixo. 5.4.12 Sistema de avaliação
Material de consumo. Nesta alínea incluem-se material de Descreve-se, aqui, o sistema de avaliação e monitoramento ou
escritório e outros bens não-patrimoniais. Recomenda-se acompanhamento do projeto, ou seja, a metodologia, as estra-
especificar os itens necessários, estimar o custo de cada um e tégias e o instrumental necessários ao acompanhamento e
definir em que etapa do projeto eles serão necessários. avaliação do processo de implementação do projeto e dos resul-
Material permanente. Constituem material permanente o tados alcançados. Apresenta indicadores quantitativos e
mobiliário, o equipamento e, conforme as normas vigentes na qualitativos definidos para cada ação, a serem utilizados para
organização, o material documentário necessário ao desen- monitorar o processo e avaliar os resultados.
volvimento do projeto, sendo recomendável incluir-se tanto o É elemento indispensável ao bom andamento e ao sucesso
material existente como aquele a ser solicitado. É preciso que do projeto, já que permite a correção de eventuais desvios
se levantem especificações técnicas e custos do mobiliário e durante o processo bem como a revisão de procedimentos e a
do equipamento que se pretende adquirir. Como no item an- realimentação do projeto, de forma a não se desviar dos obje-
terior, é preciso que se defina o momento em que cada elemento tivos e metas traçados.
previsto deverá ser adquirido. O sistema de avaliação pode ser resumido em uma matriz
avaliativa, contendo os aspectos a serem avaliados e os
indicadores a serem utilizados, conforme esta sugestão:

108 109
S.
-(/)0
g. (/)
Pl •..•.
g ~ ~o
-gs:
t::! () Pl ~8
C "
o ~
p ::':::l '" ~ ~ ~.
::to _
(I) Pl (I) '" a.
C C
O '"
::l o, >: '" C
'"
•.•.00 '"
(I) (/) (/)
•..•.
Ctl0t%l
::l 'O o.. a ;3 ~ §" ~
(I) (I) (I)
~ ~ B ~ ~
O -
(I) O
<:
(I) ~ ~:. ~"
'c c " c. C
~ ::h S ~.~~
'"C
'"
Pl' ::l 'f
>-1 Pl ()
•..•.
::l O
~
Pl' Pl
.......•.
() ::l S ~ ~ ~" "R~tJ
"
c.
0..>-1(I) CJI ~ Êf ~ ~- ~ ~. 1\'

S O Pl :,:.
~g.
t::g. 2 o
rn
°en
't:l CI)
s
O
(I) >-1 'O
- O (I)
~ s:: ::l

••••
(o)
~'~~~a[
li) ~ '~. 7-
"
'"
>-'
>-' g.o ~ > 88<;>tJ -e
o ()O s:: •..•. ::s
(I) ::l til
~§<~'} 3. ~
~ ~ Q ::;- ~ õ'

'O.Q
S tn Õ' ~
O
O cn ~ c..
S.<'O " '"
"'c.
~"
(J) ~
>-1
(il Pl' S fII §. ~~
(I)
::l
S Pl
«) ;; o
(/) o 0'
~;
Pl' O (I)
O ::l (/) " c.
c, ~. O '"".o "
O o, s::
'O~o.. '""'",~
<-o
>-1 Pl O r!.~
.g o, o
(1)' O s::
e+ (/) S "'0
? Pl (I)
o. O'
"'" '"":!
cr'::l
(/) ,.....
O O '?
1 (/)

Quadro 3. Resumo do planejamento de um projeto a partir do objetivo específico


Objetivo Ações Resultados Atividades Cronograma (meses)

4 15 161 71 si 91 10 I III 12

Ampliação Desenvolver Ter a bibliote- . Criar e s de comunica ão folhetos e cartazes


po uso da e implantar ca conhecida Distribuir peças de comunicação
biblioteca
pelos alu-
nos de pôs-
graduação
campanha
de divulga-
ção da bi-
blioteca
c:
por todos os
~~~~!' ~Distribuir
nários ao fim
~Criar release para divul~acão em iornal da universidade
release para publicação
Criar banner no site institucional para divulgar a biblioteca e
I I

de um semestre estimular seu uso


Desenvolver Ter conseguido I ,Elaborar programa de treinamento, especificando conteúdo,
e implantar que 50% dos I-lnetodologia e duração
programa de alunos ativos Articular-se com a coordenação da pôs-graduação para discutir
treinamento de pós-gradu- a proposta e conseguir horário para ministrar o programa
de usuários ação t~nham t,Articular-se com orientadores da pós-graduação para incorporar o uso
dirigido a participado l110s recursos informacionais disponiveis na biblioteca na pesquisa
alunos de
>-' do p~g~a Articular-se com professores da pás-graduação para incorporarem o
pós-gradua-
>-' :r!~:e: US~ ~os recursos inforrnacio~ais dispon~veis na biblioteca ao
ção
>-' implantação cotIdiano do processo de ensmo-aprendIZagem
eparar a equipe encarregada de rmnistrar o programa
Preparar as apresentações e ministrar o treinamento
Preparar e implantar programa de visitas monitoradas à biblioteca
voltadas às várias linhas de oesouísa da pós-zraduacão e imolantá-Io
Desenvolver Ter conseguido Desenvolver no site área exclusiva e espaços interativos voltados
área que 50% dos a alunos da pós-graduação
exclusiva al~os ativos ~ Divulgar o site e estimular o uso da área exclusiva
no site Pos~gradU,::o Dispanibilizar no site manuais e publicações sobre metodologia
~:na ':'e~~x- - da pesquisa e normas de apresentação de trabalhos acadêmicos
clusiva do site no Divulgar programa de treinamento no síte e estimular as ins-
primeiro se- criçães no programa
mestre de im- Atualizar conteúdos
plantação

Obs.: Pode ser acrescentada coluna para indicar os responsáveis pelo desenvolvimento de cada atividade. O cronograma pode constituir quadro separado,
contendo apenas a coluna atividades e os períodos de desenvolvimento do projeto. Nesse caso, constam do quadro-resumo apenas as datas de início e fim previstas
para cada atividade.
6 oestado critico. Apreocupação com o espaço para o crescimento
das coleções é tão grande que uma recomendação internacional
indica que 20% do espaço das estantes seja mantido desocu-
pado, para permitir a inserção de novos materiais. A ocupação
Planejamento de espaço físico desse espaço 'de reserva' indica que se está entrando em 'área
crítica' e que é hora de replanejar o espaço. Assim, o bibliote-
cário responsável pelo desenvolvimento do acervo deve ter,
dentre outras atribuições, a de monitorar o crescimento da
6.1 Quando o espaço constitui preocupação? coleção,o que inclui o monitoramento do espaço para seu armaze-
A CRIAÇÃOde uma nova biblioteca ou serviço de informaçã I
namento. Esse monitoramento possibilita que decisões e provi-
além da definição do modelo conceitual e do planejamento do dências sejam tomadas, em tempo oportuno, de modo a evitar
estrutura organizacional, das ações a serem desenvolvidas (' a surpresa da falta de espaço para colocar as novas aquisições.
dos recursos humanos, financeiros e materiais, exige o plan A falta de espaço ou sua inadequação para as pessoas afeta
jamento do espaço fisico, de modo a garantir condições favor funcionários e usuários, e pode causar conflitos e dificuldade
veis ao pleno desenvolvimento da proposta pretendida. Do mes de relacionamento entre as pessoas, baixa produtividade, baixa
mo modo, quando se verifica, em um serviço existente, que () qualidade de atendimento, insatisfação, alta rotatividade de fun-
espaço está restringindo ou dificultando o desempenho das ativi cionários e baixa freqüência de usuários. Os mesmos problemas
dades, é preciso proceder à avaliação do espaço e buscar soluções. poderão também estar presentes se a questão não for a falta,
O objetivo do planejamento de espaço é chegar a um edifl mas a inadequação de espaço, ou seja, quando apresentar baru-
cio de biblioteca inteligente, entendendo-se como tal aquele lho, desconforto térmico, mobiliário inadequado, equipamento
que maximiza a eficiência dos ocupantes - a equipe de trabalho obsoleto ou sem manutenção, falta de segurança, etc.
e os usuários - e permite gerenciamento eficaz dos recurso A mudança de conceito da unidade de informação muitas
com menor tempo e esforço. vezes gera a necessidade de reestruturação ou redimensio-
A necessidade de planejamento de espaço, no caso de ser namento do espaço, como decorrência da revisão da função da
viços existentes, é motivada por cinco fatores básicos que podem biblioteca/ unidade de informação na organização e de como
aparecer isolados ou conjugados: a falta de espaço para cresci seus novos objetivospodem ser traduzidos em alocação de espaço.
mento da coleção, a falta de espaço para usuários ou funcioná A ampliação da comunidade atendida pela biblioteca tam-
rios, a mudança de conceito (missão/função/finalidade), a aro bém leva a uma revisão das necessidades de espaço, a fim de
pliação da comunidade a ser atendida e a criação de novos abrigar um número maior de pessoas ou públicos com exigên-
serviços. cias diversas em relação à ocupação e ao uso do espaço.
A falta de espaço para o crescimento da coleção costuro" Finalmente, a criação de novos serviços em unidades exis-
ser um problema antes de ser percebido. Quando atinge o e tentes pode implicar a necessidade de adaptação ou a ampliação
tado crítico, ou seja, quando é concretamente percebida ou de espaço, a fim de garantir condições adequadas a seu desen-
vista por qualquer pessoa, a situação já é muito grave. POI volvimento com qualidade.
isso, é preciso que o problema seja detectado antes de atingi I'
6.2 Programa de necessidades fisicas
Este capítulo foi elaborado com a colaboração da arquiteta Heloisa Limn
6.2.1 O que é?
Herkenhoff, mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo É indispensável que as necessidades que justifiquem e ali-
da Universidade de São Paulo e sócia da BlochSó Arquitetura, em São Paulo. mentem o projeto de um novo edificio, de uma reforma ou am-

112 113
pliação sejam documentadas de modo claro e sem ambigüidade. 6.2.2 Quem elabora o programa de necessidades?
Para isso é que se elabora o programa de necessidades, que Seja qual for o tamanho do projeto, o ideal é que se forme,
fornecerá elementos para que o arquiteto prepare o estudo pre- desde o início, um grupo de trabalho para planejamento do
liminar e, após aprovação, desenvolva o anteprojeto arquitetõ- espaço, cuidando da elaboração do programa de necessidades
nico. e do acompanhamento de todos os passos do desenvolvimento
Em uma biblioteca oU serviço de informação, o programa do projeto. Esse grupo, normalmente formado pelo bibliotecário,
deve descrever suas finalidades e características, seus usos, por um representante dos usuários, por um representante da
funções e operações, bem como todos os fatores que possam área administrativa da instituição e por um arquiteto, definirá
afetar a qualidade dos serviços, de modo a contemplar as cuidadosamente o que se pretende, bem como as etapas e os
expectativas do cliente em relação ao novo espaço. O cliente, recursos necessários. Dependendo da complexidade da institui-
neste caso, é a equipe da biblioteca ou do serviço de informa- ção, esse grupo pode ser ampliado de forma a envolver represen-
ção, colocada aqui na situação de tradutora e mediadora das tantes dos setores abrangidos pelo projeto. O envolvimento e a
necessidades dos usuários. O programa de necessidades reúne participação da equipe da biblioteca ou serviço de informação,
e formaliza, em um só documento, as informações que deverão dando suporte ao grupo de trabalho, é essencial para a quali-
servir de base às demais etapas do projeto. dade funcional do projeto.
Não há programas de bibliotecas que sejam iguais. Não há Nesse grupo multiprofissional, cada componente traz sua
modelos e não existe a biblioteca ideal porque há uma série de contribuição - o arquiteto, sua visão tridimensional; o biblio-
variáveis que interferem no projeto, tais como: cultura da tecário, o domínio do conceito e das funções; e o usuário, suas
organização em que se localiza o serviço; natureza e finalidades expectativas de uso do espaço. A cooperação de todos os partici-
do serviço; existência ou não de acervo e, em caso positivo, pantes do grupo de trabalho exige que cada membro conheça
diversidade desse acervo; faixa etária, nível de escolaridade e e respeite as funções e responsabilidades específicas de cada
necessidades do usuário; padrões de uso; perspectivas futura~; um no processo de elaboração do programa. A boa interação
além das variáveis que dizem respeito a restrições ou caracten- desses atores é fator fundamental para o sucesso do projeto.
ticas dos espaços existentes ou previamente destinados aos O grupo de trabalho deve estar consciente da complexidade
serviços, bem como às restrições financeiras. Existe, assim, inerente a um projeto arquitetõnico e deve estar aberto a todas
uma ampla gama de soluções em função de múltiplas variáveis. as variáveis que concorrem para o desenvolvimento do pro-
Por essa razão, é preciso que todas essas variáveis sejam cuida- grama. A flexibilidade que deve caracterizar a posição do grupo
dosamente levantadas e detalhadas no programa, mesII10 que, começa na fase de concepção do programa e deve garantir que
eventualmente apresentem contradições. Caberá ao arquiteto todas as funções da biblioteca ou serviço de informação sejam
equacionar esses conflitos e apresentar soluções. . contempladas, equacionando-as com outras variáveis, tais
Aelaboração do prograrria precede, obrigatoriamente, o inícI~ como: custo da construção ou manutenção, recursos finan-
do projeto e o esforço a ser investido na sua elaboração esta ceiros disponíveis, restrições de espaço ou de soluções em edi-
diretamente relacionado à complexidade da biblioteca ou serviço ficiosjá existentes, dimensões ou topografia do terreno, dentre
de informação. É esse o II1omento oportuno para se proced~r outras. Nesse sentido, funções tradicionalmente desenvolvidas
ao levantamento de necessidades e expectativas e para reunIr em espaços distintos podem, por exemplo, vir a ser concebidas
todas as informações que possam ser úteis para alimentar .a para serem desenvolvidas em espaços integrados, o que pode
concepção do projeto arquitetõnico. E o programa de necesSI- trazer redução na área total construída e, conseqüentemente,
dades é o canal adequado para isso. menor custo da obra e maior facilidade de manutenção e gestão
da biblioteca ou serviço de informação.

114 115
É importante ressaltar que o papel do bibliotecário em pro- de um edifício de biblioteca ou serviço de informação. Por essa
jetos de construção ou de reforma e ampliação não se esgota razão, é um conceito que deve ser incorporado pelo grupo de
na elaboração do programa de necessidades. Cabe-lhe, também, trabalho desde o início do processo de planejamento do espaço
dar assessoria ao arquiteto para a elaboração do estudo preli- e que, em momento algum, pode ser abandonado. Flexibilidade
minar e acompanhar todo o processo de elaboração do projeto, pode ser aqui entendida como a capacidade de adaptação do
bem como a execução da obra. espaço a novos usos ou funções com um mínimo de inconveni-
ência e custo.
6.2.3 Que decisões precedem a elaboração do programa? O conceito de flexibilidade, neste contexto, diz respeito, basi-
A elaboração do programa pressupõe, obrigatoriamente, que a camente, a dois aspectos: mudança e crescimento. A mudança
biblioteca ou qualquer outro tipo de unidade de informação já reflete o dinamismo da biblioteca e sua abertura a novas
tenha sua estrutura conceitual definida. Isto vale dizer que tecnologias, a novos públicos e a novas funções, que dependerão
sua missão, objetivos, estrutura organizacional, público a ser de suas relações dentro e fora da instituição. Noentanto, mesmo
atendido e acervo e serviços a serem prestados devem ser defi- que não haja mudanças drásticas em relação às funções e
nidos apriori e apoiar-se em políticas claras e bem compreen- serviços prestados, há uma tendência ao crescimento contínuo,
didas pela equipe de planejamento. É preciso que se ressalte em quase todos os tipos de bibliotecas, em razão, principal-
que os programas de necessidades fisicas são únicos, 'persona- mente, da ampliação gradual do acervo e, em alguns casos, do
lizados', pois refletem o conjunto de decisões políticas, admi- aumento do número de usuários ou do uso mais intenso de
nistrativas e técnicas assumidas pelos profissionais envolvidos seus recursos.
no gerenciamento da unidade. Para Faulkner-Brown (1997), a flexibilidade garante a li-
Antes de iniciar a elaboração do programa é também neces- berdade de se utilizar determinado espaço de várias formas, o
sário determinar o período de projeção das necessidades de que pressupõe áreas amplas e abertas, sem elementos que as
espaço, isto é, deve ficar claro para quanto tempo o prédio obstruam, ou espaços com funções fixas que impeçam seu
será projetado, levando-se em consideração que as bibliotecas, uso por funções diferentes das inicialmente previstas. A flexibi-
geralmente, são organismos em permanente crescimento. Para lidade deve ser observada na estrutura do edificio, no lau-out,
tanto, é preciso que se tenham defmido, conforme mencionamos nas instalações, no mobiliário e no acabamento. Assim, por
acima, as políticas de crescimento e as metas pretendidas em exemplo, podem colaborar para a flexibilidade do edificio a
termos de acervo, as funções e atividades a serem desempe- ausência de paredes internas, a redução de colunas, a ausência
nhadas, os públicos a serem atendidos e o tamanho pretendido. de desníveis, a climatização uniforme, a ausência de mobiliário
fixo, a diversidade de acabamentos, dentre outros.
6.2.4 Princípios ou indicadores? Espaço compacto. Um espaço compacto, que facilite a cir-
Existem algumas características que devem ser observadas culação de usuários e de funcionários, bem como dos materi-
no planejamento do espaço fisico, que, mais do que dados ais do acervo, é sempre desejável. Torna-se, entretanto, um
teóricos, constituem qualidades desejáveis dos edifícios. Trata- imperativo quando se dispõe de uma equipe de trabalho peque-
se de princípios, pois devem ser considerados como diretrizes na e que, por isso, acumula diferentes atividades. O espaço
gerais do projeto, mas são também indicadores, à medida que deve ser planejado de modo a facilitar o desenvolvimento de
indicam grau de qualidade e servem para avaliar se o projeto é todas essas atividades e contribuir para o aumento de eficiência
adequado ao uso que se espera do edifício. e produtividade, bem como reduzir o esforço físico e mental da
equipe.
Espaço flexível. Flexibilidade é o requisito mais importante

116 117
Espaço diversificado. O espaço deve respeitar as divcr lações que implicarri altos custos de manutenção onde não há
sas necessidades decorrentes de seus usos e funções. Assim. recursos sistemáticos para isso, como em órgãos da adminis-
por exemplo, devem ser oferecidas diferentes soluções do tração pública. A conseqüente falta de manutenção acarreta a
armazenamento de acervo adequadas a cada tipo de mate deterioração do edifício, prejudica o acervo e afasta o público.
rial. Da mesma forma, devem ser oferecidas diferentes opçõ I Medidas simples, tais como melhorar a ventilação natural,
de acomodação para consulta ao acervo, de acordo com au maximizar o uso da luz do dia, empregar materiais que facilitem
necessidades e preferências dos usuários. a limpeza, dentre oütras, colaboram para a redução do custo
Espaço acessível. Este princípio refere-se tanto ao acesso de manutenção.
ao .edificio quanto ao acesso aos serviços desejados. No pri
Espaço que proIllova a preservação dos materiais. Trata-
melro caso, pode incluir aspectos como:
se de princípio fundamental em serviços de informação que
• . sua localização na cidade e facilidades de transporte possuam coleções de documentos, como é o caso de bibliotecas,
coletivo, no caso da biblioteca pública; arquivos e centros de documentação. Consiste em prover o
• localização na organização: se biblioteca escolar ou edifício de condições ambientais que, além de oferecer conforto
universitária, proximidade das salas de aula e de espaços d ao usuário, garantam a preservação do acervo. Os aspectos
convivência; se especializada ou corporativa, proximidade da referentes a este princípio estão tratados detalhadamente no
áreas de trabalhos técnicos; item 6.2.5, que se segue.
• facilidade de localizar o edifício: um caminho claro bem
defínido, que conduza à entrada da biblioteca ou serviço d
informação. 6.2.5 Questões de preservação
Nem sempre os aspectos relativos à conservação preventiva
No segundo caso, é desejável que, uma vez dentro d I(
biblioteca ou serviço de informação, o usuário tenha facilidad dos acervos é levada em conta quando se projetam edifícios
de localizar, com uma planta fácil e compreensível e sem para bibliotecas, arquivos e centros de documentação e isso
necessitar de orientação complementar, seus principais grupos acaba gerando problemas intermináveis para o gerenciamento
de atividades, como, por exemplo, o atendimento, a referência, das coleções e sua preservação. O tempo e os recursos que se
a catalogação, dentre outros. investem em soluções paliativas, depois de os serviços serem
instalados no novo edifício, poderão ser evitados se os biblio-
Espaço organizado. O espaço deve permitir e estimular o tecários souberem incorporar questões relativas à preservação
contato adequado do usuário com o acervo e os serviços. Em no programa de construção desses edifícios.
uma biblioteca, por exemplo, a organização ou disposição física Por outro lado, levar em conta as questões relacionadas à
das coleções deve favorecer seu acesso pelos usuários e esti- preservação no programa desses edifícios pode ajudar na redu-
mular o seu uso.
ção dos custos de manutenção das coleções, que são altamente
Espaço confortável. O espaço de uma biblioteca deve, antes significativos no orçamento geral de bibliotecas, arquivos e cen-
de tudo, ser agradável, se se deseja que seja freqüentado. Uma tros de documentação. Optando por soluções de espaço adequa-
série de elementos do projeto concorre para este requisito, das e especificando materiais e acabamento que requeiram
dentre os quais podemos destacar a iluminação, a acústica, o pouca manutenção, podem-se melhorar as condições de
nível de umidade e temperatura e o mobiliário. preservação das coleções e, ao mesmo tempo, reduzir custos a
Espaço econômico. Este princípio refere-se não apenas longo prazo, mesmo que exijam algum investimento adicional
ao custo da construção, mas também da manutenção. Não no momento da construção. Muitos dos problemas de infestação
são raras as soluções arquitetõnicas, ou de mobiliário e insta- de insetos e fungos que têm ocorrido em bibliotecas e arquivos

118 119
poderiam ter sido evitados ou minimizados, se tivessem sido a maioria dos bibliotecários e arquitetos está geralmente
previstos ao se projetar o edifício. Da mesma forma, o cuidado preocupada com a qualidade acústica, a durabilidade, a funcio-
com os níveis de luz, com a localização das janelas e com a nalidade e a estética. Nem sempre aspectos ligados à preser-
fíltragem de raios ultravioleta pode evitar desgaste das coleções vação são levados em consideração. Trinkley alerta-nos para o
e do mobiliário. Por fím, soluções preventivas contra incêndios fato de que muitos produtos químicos presentes em alguns
ou para melhorar a segurança podem reduzir custos de seguro materiais são muito prejudiciais aos acervos, além de afetarem
e diminuir riscos de danos pessoais e materiais. Por essa razão, as pessoas, especialmente as que são alérgicas. Esse autor
parece-nos oportuno destacar aqui algumas questões que de- destaca, particularmente, os danos que podem ser causados
vem ser analisadas quando do planejamento de um novo espaço pelo formaldeído, gás incolor que pode ser encontrado em al-
ou de reformas de espaços já existentes. guns materiais têxteis, em aglomerados, em compensados de
No caso de construção de um novo edifício, o ideal é que a madeira, em laminados baseados em papel ou fibra plástica e
preservação seja um critério a ser considerado desde o início em determinadas tintas, fibras de vidro e plásticos.
do processo de seleção do local. Nesse sentido, devem ser evita- O uso da madeira não é recomendável para o armaze-
das zonas de risco, tais como aquelas sujeitas a inundações, namento das coleções. Segundo Trinkley, não há madeira algu-
ou áreas altamente sujeitas à poluição atmosférica; devem ma aceitável e revestimentos confiáveis quanto à sua ação de
também ser evitados terrenos pantanosos, excessivamente úmi- vedação para proteger as coleções da biblioteca do contato com
dos. Entretanto, quando não se puder evitar a construção de grande variedade de ácidos e gases nocivos.
uma biblioteca em área inadequada, devem ser buscadas solu- Os metais acabam sendo a opção para estantes e armá-
ções técnicas que resolvam ou atenuem o problema, como pro- rios, desde que apresentem revestimento de esmalte cozido de
mover a perfeita drenagem do terreno, evitar o armazenamento alta qualidade, pois, do contrário, emitirão altos níveis de for-
de coleções nas áreas subterráneas ou no andar térreo, dentre maldeído. Outra alternativa está no emprego de revestimentos
outras. em pó, que eliminam as emissões de gases. Burgi (1986) sugere
Um segundo aspecto a ser considerado diz respeito à o uso de móveis de aço com pintura polimerizada em fornos de
estrutura do edifício, que, do ponto de vista da preservação, alta temperatura, que, segundo ele, é acabamento normal em
deve servir, segundo Trinkley (1997), como um 'envelope'- móveis de aço de boa qualidade.
barreira entre o ambiente interno controlado e o ambiente Quanto aos têxteis, além de ser necessário levar em consi-
externo instável- e como um 'filtro' - que permita a entrada deração sua capacidade de combustão, é preciso analisar seus
controlada de luz, calor, umidade e outros elementos exter- níveis de concentração de produtos químicos, bem como o nível
nos. Esse aspecto deve ser considerado tanto no caso de cons- de emissão de formaldeído. ,I
trução de um novo edifício, quanto de reforma. Neste caso, Em relação ao piso, considera-se ideal aquele que, além de
deve-se estimular o arquiteto a buscar soluções que melhorem bonito e silencioso, não exala nenhum poluente nocivo, não
a eficiência térmica da estrutura existente, contribuindo para favorece a infestação de insetos, é impermeável e resistente à
um ambiente interno estável, com níveis aceitáveis de tem- água, à prova de fogoou autoextinguível e requer fácil manuten-
peratura e umidade relativa do ar. ção.
Unia questão que nem sempre recebe a atenção necessária Quanto à preservação, o concreto (se tratado para evitar o
diz respeito à necessidade de preparo do terreno e de trata- desprendimento de poeira), o mármore, a cerãmica e a pedra,
mentos termicidas, que mantenham a área livre de resíduos se corretamente instalados, são aceitáveis. Nocaso da madeira,
de madeira e outros materiais orgànicos. seus principais aspectos negativos referem-se, como vimos, à
No que diz respeito ao acabamento interno e ao mobiliário, emissão de gases pelo adesivo utilizado em sua instalação, à

120 121
retenção de água por ocasiao de eventual inundação e < dificuldades que oferece quanto à proteção contra incêndios e
combustão. O vinil, muito usado em bibliotecas, e o linóle à ventilação. Trinkley recomenda a colocação de aspersores de
apresentam apenas um motivode preocupação, que é a emissão água bem próximos entre si e de pequenas aberturas entre as
de gases pelos adesivos utilizados. unidades de estantes compactas de modo a permitir a penetra-
Os carpetes merecem atenção à parte, devido à quantidade ção da água; com isso, também se conseguirá melhorar a venti-
de pontos negativos que apresentam. Em primeiro lugar, utili- lação e reduzir problemas de mofo e bolor.
zam adesivos que emitem grande variedade de componentes Quanto à cobertura, é oportuno lembrar que infiltrações
orgãnicos voláteis, além do formaldeído, e podem conter, em constituem grandes desafios na construção e manutenção de
sua composição, alta concentração desse produto. Alémdisso, edificios de bibliotecas e arquivos, o que se deve principal-
constituem excelente esconderijo para poeira e insetos, mente à qualidade dos sistemas construtivos utilizados. Essa
apresentam dificuldade de limpeza, pois, além de muita mão- qualidade depende de cuidados especiais que garantam cober-
de-obra, requerem o uso de equipamento especial e lavagens turas estanques, impermeabilização adequada, pingadeiras e
periódicas que resultarão em retenção de água, elevando os soleiras junto às esquadrias, calhas bem dimensionadas, dentre
níveis de umidade relativa e propiciando a proliferação de mofo. outros.
Por essas razões, as vantagens apontadas para o uso do carpet O projeto deve ser muito cuidadoso quanto às instalações
(beneficios acústicos, questões estéticas, por exemplo) são hidráulicas, procurando, sobretudo, evitar tubulações nas
insignificantes em face dos prejuízos que pode acarretar. áreas de acervo, exceto as destinadas aos sistemas de asper-
Aspecto importante a ser considerado em unidades qu são contra incêndio. Em muitos edifícios, tubulações deficien-
armazenam acervos de documentos é a questão das cargas. tes ou indequadas podem ser responsáveis por infiltrações, I I

Livros, quando reunidos, são mais pesados do que se possa elevados níveis de umidade e crescimento de mofo.
Também oculta e não menos sujeito a cuidados especiais é I I
imaginar, e o mesmo vale para jornais, revistas e outros
documentos em suporte de papel.' Avalie-se, então, o peso d a rede elétrica. Deve-se ter em vista sua funcionalidade e
uma estante de discos fonográficos de vinil, os velhos elepês também as situações de emergência, com a instalação de dis-
ainda comumente encontrados em bibliotecas! positivos de desligamento imediato, para a prevenção de aci-
Alertar o arquiteto para essas sobrecargas é indispensável, dentes, bem como recurso que assegure o fornecimento de
pois cada biblioteca, dependendo da natureza e dó tipo de energia nessas situações. Ressalte-se a importáncia de prever
acervo, bem como da sua distribuição no espaço previsto, da flexibilidade nos pontos das redes elétrica e lógica (cabeamento
projeção de crescimento e de possíveis formas compactas de e ligações para redes de computadores), permitindo a ampliação
armazenamento, terá uma necessidade específica em relação dos pontos e a expansão da rede.
ao cálculo de cargas. A iluminação também constitui aspecto fundamental a ser
Em relação ao armazenamento compacto, visto hoje como tratado no programa de construção ou reforma, de um lado,
solução pela maioria das bibliotecas, é importante lembrar as pelo conforto que deve proporcionar a funcionários e usuários
e, de outro, pela interferência na vida das coleções.
As fontes geralmente utilizadas na iluminação interna são
. Segundo Trinkley (1990, p.27). "livros normais pesam de 11,3 a 13,6 quilos a luz natural e as lâmpadas fluorescentes. A luz natural apre-
por fileira, em uma prateleira de 91,4cm, ocupada em três quartos de sua
capacidade. Periódicos encadernados num arranjo similar pesarão cerca de senta um nível muito elevado de radiação ultravioleta (uv),
25 quilos. Tirando uma média, um corredor com estantes dos dois lados com extremamente prejudicial a materiais de biblioteca. Por isso, é
sete prateleiras e 5,5m de comprimento, com 91,4cm entre as estantes, em preciso evitar a incidência de luz natural sobre as coleções,
um quadrilátero de 6,9m de lado, pesará entre 122 e 269 quilos por metro procurando limitá-Ia às áreas públicas. As lâmpadas fluores-
quadrado (somente os livros, sem incluir o peso das estantes)."

122 123
centes, embora mais frias do que outros tipos de lâmpadas, calor dilata os corpos, causando danos em todo tipo de docu-
também geram calor e emitem radiaçâo uv. . mentos. No caso de materiais fotográficos, por exemplo, o
Toda luz é prejudicial a acervos: provoca o esmaeclmento suporte e a emulsão que os compõem, por terem densidades
de corantes e pigmentos e a deterioração ~e d?cume.ntos em diferentes, dilatarão de maneira diferente, causando trincas
suporte de papel, película e magnéticos. E a mtenslda?e de na imagem.
exposição dos documentos â luz que de~n~ os da~os a s~n O índice de umidade relativa (uRIdo ambiente é elemento
preservação. A radiação UVapenas potenclal~a o efeito r:OCIVO determinante da maior ou menor probabilidade de prolifera-
da luz e, por isso, recomenda-se que um ambiente ~a:oravell ção e crescimento de fungos e insetos. Todos os materiais
conservação de materiais sensíveis reduza a luz visível para higroscópicos, como madeira, couro, têxteis, papel e outros
50 lux e a radiação UVpara não mais que 75 w /lúmen [Trinkley]. são afetados pelos níveis de umidade. O papel, por exemplo,
A iluminação em bibliotecas pode ser ambiental ou de s r tem sua estabilidade dimensional afetada pelos níveis de umi-
viço. Na iluminação ambiental muitas vezes se utiliza a ~u~ dade, que podem provocar deformações ou torná-lo quebradiço.
natural para efeitos estéticos e psicológicos, embora se sair , Em materiais fotográficos, além de ocasionar mudanças na
que ela representa uma séria ameaça â durabil~dade dos ma forma e no tamanho, a umidade pode transformar os resíduos
teriais. Por isso, surgem alternativas de aproveltamento ~~n químicos ali presentes em substâncias corrosivas que, gradual-
trolado da luz natural, que vão desde o uso de abóbadas e páti mente, destruirão a imagem registrada. O alto nível de umidade
internos, até o uso de persianas verticais para reduzir a entradn pode, ainda, acelerar a deterioração causada por ácidos no
de luz ou a filtragem de UVcom placas acrílicas ou filmes. papel ou em materiais fotográficos, processo conhecido como
Embora a luz natural possa ser utilizada, com certas prt hidrólise ácida.
cauções, para a iluminação ambiental, ela nunca deve ser ut!l A qualidade do ar também afeta, como vimos, a preser-
zada para a iluminação de serviço. A iluminação de serviço vação dos materiais - partículas sólidas em suspensão podem
ilumina áreas de trabalho, de armazenamento de acervo e dI ser abrasivas, sujar as obras e favorecer o mofo; partículas
leitura e é controlada por três fatores: distribuição espa 111 gasosas em suspensão podem atacar as obras, danificando-
das lâmpadas, intensidade de fontes de luz e distribuiç 11 as. A ventilação é medida fundamental e deve ser garantida,
espectral ou de cor das luzes. É importante ressaltar que, n \ sempre que possível, com a passagem do ar através de filtros
áreas de armazenamento, há necessidade de luz apenas p I \ de alta eficiência que mantenham a circulação nas áreas de
encontrar o material, e não para lê-lo, o que pode reduzir si. 11 armazenamento de coleções e evitem o desenvolvimento de
ficativamente os danos causados âs coleções. Por isso, muit , fungos. A importância da ventilação para a preservação cresce
bibliotecas de acesso fechado e, particularmente, aquelas 111 ainda mais nos casos em que a umidade relativa não puder
coleções de obras raras, ficam, normalmente, às escuras, a 11 ser controlada.
dendo-se as luzes apenas quando se pretende localizar alguu A instalação de qualquer sistema de AVACenvolve altos
item. custos e pressupõe recursos a longo prazo destinados â
Outra questão de preservação que deve ser c~id~da 1111 manutenção. Por essa razão, freqüentemente são lembradas
programa de construção envolve Aquecimento, ventilação AI soluções alternativas que limitam a abrangência dos sistemas
condicionado (AVAC). A temperatura elevada é responsável 11 \I AVAC, restringindo-os a certas áreas da biblioteca, como, por
aumento considerável na taxa de deterioração das obras." I xemplo, a área de acervo ou, de modo ainda mais restrito, a
determinadas partes da coleção, como as de documentos em
• A cada aumento de aproximadamente 7,8 graus Celsius na temperatum,
película. Essa restrição não se aplica a áreas de consulta ou
taxa de deterioração dobra. (Trinkley, 1997, p.43) trabalho e coleções de materiais bibliográficos.

124 125
o dilema fundamental em edificios com a dupla função de reforma ou ampliação devem estar bem fundamentadas e discu-
armazenamento e uso de coleções é conseguir um equilíbrio tidas antes do início da elaboração do programa. Essa reflexão
de temperatura, umidade e circulação do ar que garanta tanto pode constar da parte introdutória do programa, que deverá
o conforto das pessoas como a conservação das coleções. Por enfatizar, sobretudo, os beneficios que o novo espaço poderá
isso, as soluções encontradas variam de acordo com o tipo de trazer a determinada instituição ou comunidade. Também na
acervo existente, com o uso que dele se faz e com os recursos Introdução devem ser explicitados os princípios que devem
disponíveis. nortear o projeto, a que nos referimos no item 6.2.4.
Dois pontos, entretanto, parecem ser consensuais entre os O documento final que contém o programa deve apresentar,
vários especialistas: ainda, os seguintes itens:
a conjunção temperatura elevada-umidade relativa • Informações gerais sobre o contexto ou o ambiente em
elevada cria o ambiente mais nefasto possível à preservação, que se insere a biblioteca
favorecendo o mofo, bactérias, a ação de sais residuais, a desco- • Informações sobre a biblioteca
loração, a oxidação e outras formas de deterioração latentes • Histórico
que se tornam efetivas; • Natureza e finalidades
a umidade é mais importante do que a temperatura e, • Estrutura organizacional
por isso, deve ter prioridade no planejamento da preservação; • Comunidade a ser atendida
se nenhuma medida preventiva for viável na construção do • Acervo existente e previsto
novo edificio, que, ao menos, se armazene a coleção em área • Mobiliário existente e previsto
seca e fresca do edificio ou se utilizem desumidificadores; Descrição dos diferentes ambientes e/ou grupos de ativi-
as flutuações de umidade e temperatura são mais pre- dades e levantamento de seus fluxos e especificações básicas.
judiciais do que níveis estáveis, mesmo que estes sejam ina- Sempre que possível, convém incluir o histórico do cres-
dequados. cimento, ou seja, uma tabela ou curva que abranja uma série
Em resumo, as questões aqui apresentadas propõem qu de 5 ou 10 anos, bem como a projeção de crescimento futuro,
se enfoque a preservação como um elemento essencial no para um mínimo de 10 anos (a Unesco recomenda 25 anos!).
programa de necessidades fisicas da biblioteca, entendida a Isso é válido não apenas para as coleções, mas também para
preservação como uma forma de assegurar a mais longa vida usuários, funcionários, mobiliário e equipamento. É importante
útil possível às coleções. As opções por procedimentos e mate- avaliar a necessidade de novos serviços ou produtos, pois
riais que favoreçam a preservação dos acervos podem implicar podem causar impacto no espaço fisico.
construir a custo mais elevado para manter a custo mais baixo,
decisão que poucos têm a coragem de tomar, pois, por um lado, 6.2.6.1 Informações gerais sobre o contexto ou o
os custos de capital muitas vezes parecem ser mais dificeis d ambiente em que se insere a biblioteca
obter e, por outro, as autoridades preferem ver o prédio pront O documento deve iniciar com informações sobre o ambiente
logo e inaugurá-lo, mesmo que não apresente os níveis d em que está ou em que será instalada a biblioteca. Esse am-
qualidade desejados, pelos ganhos políticos que essa inaugura- biente pode ser analisado sob mais de uma vertente. A pri-
ção pode representar. meira delas refere-se à instituição mantenedora, seja ela em-
presa pública ou privada, instituição de ensino ou instituição
6.2.6 Partes do programa cultural. É importante que se analisem a missão, os objetivos,
Asjustificativas para a proposta de um novo prédio ou de um as políticas, o pessoal e os públicos da instituição, situando-

126 127
se, a seguir, a biblioteca nesse contexto, pois as características tendências. Esse histórico deverá incluir as alterações de espaço
da instituição são fatores determinantes do perfil da unidade ocorridas ao longo do tempo e as razões dessas alterações.
de informação. A segunda vertente consiste no ambiente em Natureza e finalidades. As bibliotecas, nos últimos 20 anos,
que a instituição atua e interage, que também pode ser elemento sofreram grandes mudanças conceituais que implicaram
importante na definição do espaço. Bibliotecas de instituições revisão de suas finalidades e redirecionamento de suas ações.
financeiras, por exemplo, embora sejam diferentes em cada O espaço fisico é particularmente relevante quando está em
instituição, possuem características comuns que as distin- pauta a modernização, ou, ainda melhor, a mudança de concei-
guem, por exemplo, de bibliotecas de arte. to, que, naturalmente, pede como resposta a mudança de per-
No caso de bibliotecas públicas, a organização mantene- cepção, compreendendo tanto sua auto-imagem como sua ima-
dora pode ser uma secretaria ou um departamento de cultu- gem pública.
ra, mas o cenário de fundo é o município. Por essa razão, ' A formação e o desenvolvimento de acervos em alguns casos
indispensável que se levante um perfil do município, o qu deixaram de ser o foco principal de alguns serviços de infor-
inclui não apenas dados estatísticos, mas também outras infor- mação, que passaram a se preocupar com a informação propria-
mações socioeconômicas (dados demográficos, principais ativi- mente dita e com a qualidade de serviços, em função de seus
dades econômicas, taxa de desemprego, renda per capita, con- usuários. O foco em um ou outro aspecto está diretamente li-
dições de habitação, taxa de mortalidade infantil), educacionai gado ao tipo de serviço de informação ou biblioteca. Assim, por
(tipo e quantidade de instituições de ensino nos vários níveis, exemplo, é indiscutível a importância do acervo no caso de
taxa de analfabetismo> taxa de evasão escolar) e culturais (tipo bibliotecas públicas, escolares ou universitárias, que, por sua
e quantidade de equipamentos culturais, veículos de comuni- natureza - e em maior ou menor grau, dependendo da biblio-
cação, áreas de cultura que mereçam especial destaque). A teca - desempenham a função de repositórios de conhecimento
biblioteca pública só faz sentido como espaço deflagrador e fo- registrado e acumulado, que convive com a função de circulação
mentador de ação cultural, razão pela qual é fundamental e uso.
sua articulação com os diversos setores importantes para a Os novos suportes documentais, a informática, o trabalho
vida na cidade. É importante ressaltar que a localização do cooperativo entre diferentes unidades de informação e a con-
edificio e a localização da biblioteca dentro do edificio, além do corrência com outros meios de comunicação e informação
projeto em si, são fatores relevantes para garantir a freqüência obrigaram as bibliotecas a rever suas finalidades. A partir dessa
da comunidade e a referida articulação. reflexão, começaram a surgir bibliotecas e serviços de informa-
ção com características bem peculiares, que respondem às
6.2.6.2 InCormações sobre a biblioteca diferentes necessidades de informação da organização à qual
O programa é o instrumento que fornecerá as informações estão ligadas e de seus usuários. Por essas razões é indispen-
básicas necessárias ao desenvolvimento dos estudos preli- sável que o grupo de trabalho se detenha na análise da natureza
minares. Deve, portanto, trazer elementos que possibilitem o e das finalidades do serviço de informação e que o programa
conhecimento da natureza e dos objetivos da biblioteca e dar de necessidades traga essas informações, de forma a orientar
uma idéia de suas rotinas, de forma a orientar as soluções a adequadamente o desenvolvimento do projeto.
serem apresentadas pelo profissional. Nesse sentido, deve, Estrutura organizacional. A estrutura organizacional da
obrigatoriamente, incluir os seguintes tópicos: biblioteca ou serviço de informação, bem como a descrição de
Histórico. No caso de bibliotecas já existentes, um brev seus setores e de suas atividades básicas, também são funda-
histórico ajudará na compreensão de sua trajetória e de suas mentais para a compreensão da complexidade da unidade de

128 129
informação e para o planejamento de seu espaço. Devem ser (tempo integral ou tempo parcial), em geral se calcula um as-
aqui incluídos os serviços existentes e aqueles a serem criados. sento para cada cinco estudantes matriculados.
Recomenda-se, assim, que constem do programa as seguintes No caso de um novo prédio ou ampliação de um edificio
informações: quais são os serviços existentes e previstos e que existente, é importante contar com monitoramento sistemático
atividades básicas os compõem; que serviços precisam ser do movimento da biblioteca em horários regulares e nos horá-
expandidos, criados, reduzidos, fundidos ou eliminados; quais rios de pico. É preciso levar em conta que é comum ocorrer
e quantos são os funcionários existentes e previstos, especifi- um acentuado aumento do uso do espaço após uma reforma,
cando-se suas categorias e principais atividades. Essas infor- ampliação ou construção de novo prédio. Normalmente, um
mações podem ser expressas no programa por meio de gráficos, novo espaço é mais bonito e confortável, mais adequado e,
facilitando sua compreensão por parte dos responsáveis pelo conseqüentemente, mais atraente, o que acarreta aumento na
desenvolvimento do projeto. Uma possibilidade de expressão taxa de ocupação. Quanto mais satisfatório o espaço, maior
gráfica desses dados é o funcionograma, que consta do item será o seu uso. Pelas razões expostas, no cálculo de assentos
3.2 do anexo. para a biblioteca, deve ser levado em conta o número de usuá-
rios potenciais da biblioteca, não se restringindo, no caso de
Comunidade a ser atendida. Se assumirmos que a uni- serviços existentes, aos freqüentadores habituais. É necessário,
dade de informação deve estar, de fato, voltada para seus também, analisar os hábitos desses usuários, sua disponibi-
usuários, é fundamental que esse item seja cuidadosamente lidade de tempo e os períodos preferidos para uso da biblioteca.
analisado no programa. No caso de serviço existente, há con- Recomenda-se que constem do programa quadros especí-
dições de se fornecerem informações mais detalhadas sobre o ficos, conforme sugerido nos vários quadros constantes do item
perfil desses usuários, destacando-se, basicamente, os se- 1 do anexo.
guintes dados: quantidade, tipo e características dos usuários
potenciais (pessoal ligado à entidade mantenedora, considerado Acervo (tipos de documentos e quantidades existentes
seu público-alvo, ou, no caso de bibliotecas públicas, a comuni- e previstas; previsão de crescimento anual). Vimos que a
dade a ser atendida); quantidade, tipo e características de usuá- definição da política de formação e desenvolvimento de cole-
rios reais, ou seja, daqueles que freqüentam regularmente a ções é indispensável no planejamento de espaço para biblio-
biblioteca. tecas. Em relação ao acervo, embora haja uma tendência a
Em relação à acomodação dos usuários, as questões básicas seu crescimento contínuo, há bibliotecas que definem como
podem ser arroladas a partir das seguintes questões: Quem política o crescimento zero, o que significa que, ao entrar um
são os usuários? O edificio deve oferecer diferentes ambientes certo número de novas obras, descartam-se outras, mantendo-
para consulta em função de categorias de usuários? Devem se sempre o mesmo volume de acervo. Outras bibliotecas trans-
ser oferecidas diferentes formas de acomodação, tais como ferem obras menos consultadas para espaços especiais ou
mesas individuais, espaço para grupos, ou cabines? Quantos bibliotecas-depositárias, em que o custo de manutenção desse
assentos devem ser destinados a cada uma dessas alternativas? acervo seja reduzido, graças a soluções de armazenagem com-
Não há fórmulas para se definir número de acomodações pacta e um mínimo de pessoal para atendimento, fixando um
necessárias em um novo edificio, embora a literatura inter- limite para o crescimento do acervo principal.
nacional aponte alguns padrões que podem nos servir como Existem padrões internacionais para os diferentes tipos de
orientação. Bisbrouck e Renoult (1993)reuniram, por exemplo, bibliotecas, destacando-se, sobretudo, as bibliotecas públicas
padrões verificados em bibliotecas universitárias de países e as universitárias. Bisbrouck e Renoult relatam que o padrão
desenvolvidos e relatam que, embora o número de acomodações para coleções em bibliotecas universitárias era de 100 volumes
dependa da natureza dos cursos e da duração diária deles e um título de periódico corrente por aluno; no Canadá, de 90

130 131
a 95 volumes; na Alemanha, 85 volumes e de 0,6 a um título o binómio preservação versus uso apontado acima), estética
de periódico; e na França, 16 volumes e 0,06 título de periódico, (característica que não deve ser minimizada em relação a
de acordo com estatísticas de 1988. outras), flexibilidade e modularidade (para alguns tipos de
No caso de construção ou reforma de bibliotecas existentes, móveis, tais como estantes e até mesas, que possam, por
o ideal é que se registrem estatísticas. Dados numéricos são exemplo, ser juntadas ou separadas, dependendo do tamanho
indispensáveis quando se trata de acervo, recomendando-se do grupo), ergonomia, praticidade de manutenção e durabili-
particularmente o registro dos seguintes dados: quadro geral dade. Todo o equipamento - de áudio, de imagem fixa (leitor
do acervo, subdividido por tipo de documento, de forma a dar de microfilme ou microficha, projetor de diapositivos), de
um panorama do crescimento do acervo nos últimos anos (de imagem em movimento (projetor de filme, de vídeo, de DVD,
cinco a 10 anos); informações relativas a formas de tratamento monitores), de informática (servidores, microcomputadores,
e armazenamento das diferentes coleções, bem como a formas impressoras, gravadores, escãneres, etc.), de segurança e
de acesso a elas e a seus usos; destaques relativos a coleções outros - deve ser previsto no programa. Tanto os móveis quan-
especiais e a necessidades especiais de segurança e preser- to os equipamentos devem aparecer, no programa, distribuídos
vação; e dados relativos à circulação de materiais (consulta, dentro dos grupos de atividades ou funções, conforme consta
empréstimo, audição, exibição). do item que se segue.
Uma sugestão para a apresentação desses dados encon-
tra-se nos itens 1, 2 e 4 do anexo. 6.2.6.3 Descrição dos diferentes ambientes e grupos de
Mobiliário e equipamento (existente e previsto). A previ- atividades e levantamento de seus fluxos e
são de mobiliário e equipamento é indispensável ao programa. especificações básicas
O mobiliário para armazenamento do acervo deve ser planejado Todos os grupos de atividades da biblioteca ou serviço de
em função do tipo e da quantidade de materiais, bem como do informação, tais como, adquirir material para o acervo, empres-
tipo de acesso a ser oferecido. Deve levar em conta as limitações tar documentos, etc., precisam ser devidamente detalhados
de espaço, que poderão exigir, por exemplo, soluções de armaze- no programa, por meio da descrição de suas características,
namento compacto, como estantes deslizantes, hoje muito rotinas e fluxos, bem como da especificação do mobiliário e do
difundidas, mas não recomendadas para locais de livre acesso equipamento, tanto o existente, quanto o previsto (ver quadros
e com fluxo intenso de usuários. constantes do item 4 do anexo) e dos funcionários e usuários
O perfil do usuário também é fator fundamental, e deve que participarão de cada atividade. Devem, também, constar
abranger tanto o tipo de público - crianças, por exemplo, que deste item do programa eventuais requisitos arquitetõnicos
requerem mobiliário especial tanto para o acervo quanto para ou qualificações que se façam necessárias em cada ambiente,
sua acomodação - quanto as características dos diversos tais como acústica, controle de temperatura e umidade, peso,
pú blicos - tipo de atividades, características de personalidade, pontos de tomada elétrica e lógica (cabeamento, switches, etc.).
tempo médio de permanência nas áreas de consulta - carac- Como vimos, os grupos de atividades poderão ou não corres-
terísticas essas que permitem identificar, por exemplo, prefe- ponder a espaços físicos distintos. Desta forma, a abordagem
rências por trabalho individual ou em grupo, e que, natural- do programa por grupos de atividades, ao contrário das simples
mente, interferem nos tipos de mesas e cadeiras a serem utili- listas de ambientes que geralmente são apresentadas ao
zadas. arquiteto, pode favorecer a inovação, pois quebra a rigidez de
A escolha do mobiliário deve pautar-se pelos seguintes raciocínio imposta por tais listas, abrindo espaço para novas e
critérios: qualidade (da matéria-prima e do acabamento), fun- mais adequadas soluções tanto de arquitetura, quanto de
cionalidade (adequada ao uso pretendido, levando-se em conta mobiliário. O agrupamento por funções ou atividades também

132 133
evita que sejam desconsideradas informações que, embora ANEXO
óbvias e rotineiras para o bibliotecário, possam ser relevantes
para o arquiteto.
Esta parte do programa é muito trabalhosa porque, além Programa de necessidades de espaço
de exigir descrição detalhada, requer um levantamento cui-
dadoso de dados numéricos e informações que serão funda-
físico para bibliotecas
mentais ao desenvolvimento do projeto arquitetõnico. Esse
processo é facilitado pelo uso de formulários que podem ser
preenchidos pelos responsáveis por cada grupo de atividades Como vimos, não há programas de bibliotecas que sejam iguais. Por
e que servirão de base ao programa definitivo. essa razão, seria impossível propormos um modelo de programa. No
É indispensável que se registrem, também, as relações entanto, parece-nos útil sugerir, neste anexo, algumas tabelas que
funcionais entre os diversos grupos de atividades, de modo a podem ser utilizadas para o registro de dados para o programa de
necessidades de espaço físico de bibliotecas. Apenas a título de
fornecer subsídios para um diagrama de relações espaciais.
ilustração, algumas tabelas estão preenchidas com dados pertinentes
a bibliotecas universitárias, sujeitas, portanto, às necessárias adap-
6.3 Recursos disponíveis e limitações tações. Acrescentaram-se, também, algumas questões que podem
Os subsídios fornecidos pelo programa devem possibilitar ser úteis na coleta de dados para a elaboração do programa.
equacionar as dimensões necessárias ao edificio da biblioteca
1. Usuários
e estimar os recursos disponíveis e a viabilidade do projeto, 1.1 Usuário-alvo potencial (pessoal da instituição ou público-alvo)
bem como os prazos necessários ao desenvolvimento do projeto Categoria Quantidade
e ã finalização da obra. 2000 2001 2002 2003 2004
Aluno de graduação
Devem, também, ser, de pronto, levantados problemas que Aluno de pós-graduação
Professor
eventualmente possam significarobstáculo ao desenvolvimento
Total acumulado
do projeto, tais como questões legais e administrativas. Completar quadro com categonas não específícaâas. Se for o caso, subdividir, por exemplo, por cursos
e/ ou periodos.

1.2 Usuários reais


1.2.1 Total de usuários inscritos
Categoria Quantidade

2000 2001 2002 2003 2004


Aluno de graduação
Aluno de pós-graduação
Professor
Total acumulado

Completar quadro com categonas nua especificadas, tais como ex-ufuncs, alunos espeCIatS, funcionários,
..
ete. Se for o caso, subdividir, por exemplo, por cursos ou periodos.

1.2.2 Freqüência diária


Registrar o total de usuários que freqüentam a biblioteca diariamente. Especificar periodos (manhã/
tardei noite), se hnuver esse registro. Incluir dados de anos anteriores, se estiverem disponíveis.

1.2.3 Movimento em horários de pico


Número de usuários simultaneamente, em horários de pico e número máximo de usuários no balcão
simultaneamente.

134 135
1.3 Empréstimos (média diária de materiais emprestados ao longo de uma série de anos) 3.2 Funcionograma
Tipo de material Quantidade média diária
'lnnn 'lnm 'lnno 2nMI 2n04 Diretoria da Biblioteca
Livros Atividades:
Periódicos (fascículos] I. Planejamento
Teses 2. Administração
3. Coordenação e controle
4. Relações internas (na instituição) e externas
Total geral
Pessoal: I bibliotecário [diretor], I secretário e
Completar quadro com materiais não especificados. 50 houver oscilação significatwa em detennmado<> 1 estagiário
períodos (férias, por exemplo, não considerar esse dado na média e mencionar o critério ou calcular
separadamente meses letivos e meses de férias).

o empréstimo informatizado?
é

Qual o tempo médio de empréstimo de cada unidade documental?


Qual o tempo médio que o usuário permanece no balcão de atendimento para empréstimo? Serviço de Atendime nto ao Serviço de Tratamento da Serv iço de Aquisição e
Usuário Informação Difusão
2. Acervo
Quantidade de acervo distribuído por tipo de materiais e analisados ao longo de uma série de anos, de Atividades: Atividades: Ativida des:
forma a permitir observar sua média de crescimento anual. A específícaçao relativa a número de estantes 1. Auxílio a pesquisas 1. Processamento técnico do I. Aqui sição de material para
ou arquivos que o acervo ocupa é relevante para o projeto. 2. Apoio às consultas acervo o acerv o
3. Orientação sobre u so do 2. Preparo do material para 2.lnte rcâmbio de publicações
Tipo de material Quantidade Média de crescimento
acervo, das fontes de circulação 3. Cria ção e manutenção de
aDual
informação e dos serv iços 3. Estruturação de bases de bases de dados específicas
2000 2001 2002 2003 2004 Período: 2000-2004 4. Treinamento de usu ários dados do serv iço
Livros X livros em S. Disseminação selet ivada 4. Desenvolvimento de voca- 4. Elab oração de publicações
X estantes informação bulários 5. Dist ribuição e venda de
Periódicos [fascículos] 6. Circulação Pessoal: public ações
Teses 7. Comutação 2 bibliotecários Pessoa I:
8. Supervisão das cole ções de 4 estagiários 2 bibli otecártos
Total geral
acesso público 4 esta giários
Pessoal:
Completar quadro com materiais não especificados 3 bibliotecários
6 estagiários
Há, no acervo, materiais de pouco uso (por obsolescência, por exemplo)? Especificar categoria e
quantidade.
Há obras raras? Especificar categoria, formas de tratamento, de armazenamento e de acesso. 4. Grupos de atividades
Há materiais audiovisuais (fitas-cassete, vídeos, CD-ROMS, filmes, diapositivos, etc.). Especificar 4.1 Grupo X
quantidade, formas de tratamento, de armazenamento e de acesso. Especificar natureza das atividades desenvolvidas, se lidam diretamente com o público, com que outros
Há mapas? Especificar quantidades e formas de armazenamento. Se estiverem em mapotecas, grupos de atividades se relaciona e quais as especificações necessárias em termos de características
quantificá-las. do espaço, inclusive de condições ambientais.
Há recortes de jornais ou outra documentação impressa ou manuscrita? Especificar quantidade e
mobiliário utilizado para o armazenarnento. 4.1.1 PESSOAL
(pessoal existente e/ ou previsto em cada grupo de atividades, distribuído por categorias)
3. Gráficos organizacionais
3.1 Organograma Período de Categoria Quantidade Atividades básicas
trabalho
Existente Prevista
Bibliotecário I.
2.
3.
I.
2.
3.
I.
2.
3.

Total

Completar quadro com outras categorias. Enfatizar se trabalha diretamente com o público ou em serviços
internos.

136 137
4.1.2 Equipamento
Equipamento existente ou previsto em cada grupo de atividades.
Bibliografia
Especificação Quantidade Quantidade
existente prevista
ARMANI, Domingos. Como elaborar projetos: guia prático para elaboração e ges-
tão de projetos sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2001. (Col. Amencar)
ÃVILA,Célia Maria de (coord.) Gestáo de projetos sociais. 3.ed. rev. São Paulo:
AAPCS,2001. (Col. Gestores Sociais)
BAPTISTA,Myriam Veras. Planejamento: introdução à metodologia do planeja-
mento social. São Paulo: Moraes, 1991.
BARREIRA, Maria Cecília Roxo Nobre. Avaliação participativa de programas so-
ciais. São Paulo: Veras, 2000.
BISBROUCK,Marie-Françoise; RENOULT,Daniel. Construire une bibliothéque
universitaire: de Ia conception à Ia réalisation. Paris: Cercle de Ia Librairie,
1993.
---; CHAUVElNC, Marc (ed.) Inte/ligent library buildings: Proceedings of the
tenth Seminar of the IFLA Section on Library Buildings and Equipment,
4.1.3 Mobiliário The Hague, Netherlands, 24-29 August 1997. München: K.G.Saur, 1999.
Mobiliário existente ou previsto em cada grupo de atividades. (IFLApublications, 88)
Especificação Dimensões Quantidade Quantidade BURGI,Sérgio. Introdução à preseruaçào e conservação de acervos fotográficos:
existente prevista técnicas, métodos e materiais. Rio de Janeiro: FunartejInfoto, 1986.
CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Avaliação de projetos sociais. In: ÃVILA,
Célia M. de (coord.) Gestão de projetos sociais. 3.ed. rev. São Paulo: AAPCS,
2001.
CEPAL.CLADES.Planijicación estratégica de sistemas de información documen-
tales. Santiago de Chile: 1991. (Información y desarrollo, 2)
CHIANCA, Thomaz; MARINO,Eduardo; SCHIESARI,Laura. Desenvolvendo a cul-
tura de avaliação em organizações da sociedade civil. São Paulo: Global,
Instituto Fonte, 2001.
CHIAVENATO, Idalberto. Teoria geral da administração. São Paulo: McGraw- Hill
do Brasil, 1980. 2v.
4.1.4 Características especiais do espaço CUNHA,Murilo Bastos da. Metodologia para estudo dos usuários de informa-
Requisitos arquitetõnicos ou qualificações necesscncs a esse grupo de atividades. ção cientifica e tecnológica. Revista de Biblioteconomia de Brasilia, v. 10, n.
2, p. 5-20, 1982.
DONABEDIAN, Avedis. The criteria and standards of quality. Ann Harbor: Health
Administration Press, 1982.
EMPREENDIMENTOS sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócios para
organizações sociais. São Paulo: Peirópolis, 2001.
FAULKNER-BROWN, Harry. Some thoughts on the design of major library build-
ings. In: BISBROUCK,Marie-Françoise; CHAUVEINC,Marc (ed.) Inte/ligent
library buildings: Proceedings of the tenth Seminar of the IFLASection on
Library Buildings and Equipment, The Hague, Netherlands, 24-29 August
1997. München: K.G. Saur, 1999. (IFLApublications: 88)
FAYOL,Henri. Administração industrial e geral. São Paulo: Atlas, 1978.
FERREIRA,Francisco Whitaker. Planejamento sim e não. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2002.
FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Metodologias para a promoção do uso da infor-
mação: técnicas aplicadas particularmente em bibliotecas universitárias e
especializadas. São Paulo: Nobel, APB,1990.

138 139

Você também pode gostar