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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS


ECONÔMICAS
Aluno: Matheus Ferreira dos Reis
Disciplina: Tecnologia e Desenvolvimento
Professor: Felipe Queiroz Silva

O presente texto consiste em uma resenha do texto "Recursos naturais e estratégias


de desenvolvimento no Brasil", escrito por Carlos Frederico Rocha, compondo o capítulo
23 do livro "Indústria e Desenvolvimento Produtivo no Brasil". O estudo exposto pelo
autor visa estabelecer uma conceituação para o que o autor denomina de “potenciais de
desenvolvimento”. Nesse sentido, o autor leva em conta que desenvolvimento econômico
e mudanças estruturais são dois processos interdependentes e que os fatores que
ocasionam à mudança estrutural são os mesmos que influenciam no crescimento de longo
prazo. De modo geral, há duas forças que desempenham papel fundamental na
determinação das mudanças estruturais: o primeiro é o crescimento da produtividade
(lado da oferta); e o segundo são os deslocamentos da demanda (lado da demanda).
A autor divide o trabalho em algumas sessões, onde a primeira, após a introdução,
tem como foco analisar o arcabouço analítico do estudo dando ênfase as forças capazes
de influenciar às mudanças estruturais. Sendo assim, por meio do estudo de Kruger (2008)
o autor elucida o papel de quatro forças propulsoras das mudanças de distribuição setorial
entre emprego e do produto, são elas: (i) crescimento da produtividade; (ii) elasticidade-
renda da demanda; (iii) taxa de acumulação; e (iv) relação capital-trabalho.
Desse modo, a indústria é colocada no centro do processo dinamizador por possuir
as particularidades essenciais para pôr em ação as forças propulsoras citadas e, além disso,
seu desenvolvimento foi considerado como crucial para gerar crescimento. Isso porque,
como mencionado pelo autor, a indústria, com relação a outros setores, possui uma maior
relação capital-trabalho, ou seja, esse ramo em específico demonstrou maior
produtividade do que outros, impulsionando as taxas de acumulação de capital das
economias que se desenvolviam por meio desse setor. Esse processo ainda foi capaz de
incrementar o nível de renda dessas economias e gerar uma elasticidade-renda da
demanda maior que um para os bens industrializados.
Contudo, é apontado certo decrescimento de produtividades das economias mais
desenvolvidas a partir dos de 1960. Posto isto, diversos autores, como Baumol, buscaram
elucidar esse problema, com foco no que pode ser denominado de hipótese de Baumol,
que ocorre quando a mão de obra de determinado setor é expulsa em decorrência do
crescimento da produtividade do próprio setor (labor push). Contrariamente, temos da
terceira lei de Kaldor, a proposição de que alguns setores podem absorver a demanda por
trabalho de outros (labor pull). Essas duas hipóteses foram testadas por Alvarez-Cuadrado
e Proschke, que analisam essa relação para o setor agrícola dos EUA e de alguns países
europeus, verificando-se que os períodos em que a elasticidade-renda da demanda foi
superior a um, houve o funcionamento da hipótese de Kaldor e, contrariamente, quando
houve estagnação do tamanho do setor, por conta dos aumentos de produtividade, temos
prevalência da proposição de Baumol.
Ademais, Rocha cita que as ideias apresentadas no parágrafo anterior estão
presente na literatura recente sobre o tema de desindustrialização. Assim, no início do
processo de industrialização, a economia sofre um processo de aumento da sua
capacidade industrial por conta da elevada elasticidade-renda da demanda. Nesse cenário,
a economia sofre o que, de acordo com o trabalho de Alvarez-Cuadrado e Proschke, seria
o efeito labor pull, pois a indústria passa atrair mão-de-obra de outros setores. Por outro,
lado, com o passar do tempo, o aumento da produtividade industrial, reduz a participação
da mão de obra e, consequentemente, a economia sofrerá o efeito labor push.
Intrínseco ao tema de desindustrialização, são apresentados alguns autores que
relatam certa preocupação com a inserção dos países em desenvolvimento como agentes
comerciais. Isso porque, para esses autores, haveria certa precariedade no
crescimento/desenvolvimento desses países, uma vez que o comercio global estaria
acarretando um processo de sobrevalorização da moeda e, consequentemente, elevando
o custo relativo do trabalho por conta das variações da relação câmbio-salário. Nesse
sentido, alguns desses autores relataram que processo de sobrevalorização tinha origem
em dois fenômenos: o primeiro seria por conta dos diferenciais de produtividade entre os
setores de vantagem comparativa e o seguindo seria por conta do uso excessivo da taxa
de juros como mecanismo para atingir as metas de inflação o que, por consequência, atraia
capitais estrangeiros e causava sobrevalorização da moeda. De modo geral, para esses
autores a única solução para esses países em desenvolvimento é o processo de
desvalorização para que haja retomada do crescimento no setor industrial e, à vista disso,
a economia desfrute dos benefícios correlatos ao desenvolvimento industrial.
Todavia, autores como Prebisch e Thirlwall, argumentam, por meio de algumas
equações, que os efeitos da desvalorização seriam apenas temporários e para que o efeito
seja contínuo, seria necessário que houvesse constantes desvalorizações ou que o custo
médio do trabalho da economia diminuísse com relação ao mundo.
Por outro lado, há uma outra maneira na qual os efeitos das desvalorizações podem
ser usufruídos de maneira continua e que vale a pena pontuar: e isso seria com uma
especialização da pauta exportadoras dos países em desenvolvimento em direção aos
setores que possuem maior elasticidade-renda da demanda. Entretanto, há uma ressalva
ser feita, pois mudanças de especialização dependem de fatores de capacitação e
aprendizado endógenos ao processe de desenvolvimento de um país, ou seja, é um
processo de construção demasiadamente longo, sendo que, atualizações dessas
capacitações são essenciais para auxiliar os países a reduzir a distância da fronteira
mundial e, consequentemente, auxiliar no crescimento econômico.
Na seção três do texto o autor tem por objetivo relatar o desempenho comercial
do Brasil, de modo mais geral, consiste em elucidar os fatos do país ter apresentado
expressivos superávits comerciais desde o início dos anos 2000. Tendo como primeiro
fato a relação comercial com a China, país para o qual o Brasil tem destinado boa parte
das exportações de commodities nos últimos anos. Sendo válido ressaltar que não é um
caso isolado somente para o nosso país, a China se tornou nas últimas duas décadas
parceira comercial de inúmeras outras nações e possui uma influência significativa sobre
os preços das comodities, sendo responsável pelo crescimento dos preços dessas e pela
melhoria dos termos de troca do Brasil, o que em parte explica os superávits citados no
começo deste parágrafo.
Além disso, é válido destacar o modo pelo qual as exportações chinesas ganharam
competitividade no mercado internacional e reduziram a fatia de mercado das economias
desenvolvidas. De modo geral, esses país se baseou seu desenvolvimento nas indústrias
de montagem onde detinha significativas vantagens de custos, logo, os países que
possuíam vantagens nesse mesmo ramo perderam espaço por conta da competitividade
chinesa. O gigante asiático ainda tirou proveito de processos de transferência tecnológica
para fomentar ainda mais a especialização de processos mais elaborados.
Em contrapartida, temos a China como importadora que se centrou na compra de
produtos primários, fazendo com que boa parte da demanda mundial fosse deslocada para
seus interesses e, por esse lado, o Brasil, bem como outros países latinos, foram eficientes
em atender essa demanda. Essa eficiência brasileira apresenta duas características
inerentes: (i) ótimo desempenho do mercado produtor de commodities; e (ii) queda
constante, a partir de 2000, da participação nas exportações mundiais de bens intensivos
em trabalho. Tal resultado apontado pelo autor em seu texto pode relevar indícios de uma
especialização (reprimarização) da pauta brasileira com a finalidade de atender as
demandas comerciais chineses, que por um lado gera crescimento dos setores internos
relacionados, mas por outro gera extrema dependência interna com relação aos preços das
comodities, além do baixo valor agregados dos bens que estão sendo vendidos.
Ademais, a análise da estrutura das exportações brasileiras tende a rejeitar o
argumento no parágrafo anterior. Primeiro, porque se leva em conta que Brasil não perdeu
competitividade nos setores que já vinha se desenvolvendo, mas a negociação comercial
com a China que possibilitou oportunidades de negócios que gerou expansão em
determinados setores. Além disso, é válido mencionar que o crescimento das comodities
agrícolas industriais e do petróleo não são provenientes da simples existência de terra e
possibilidades de negócios, mas configura a existência de um, como denominado pelo
autor, núcleo tecnológico considerável. Para tanto, o autor menciona os estudos da
Embrapa (no caso celulose) e da Petrobras (no caso do petróleo).
Portanto, a competividade adquirida por esses setores está longe de ser adquirida
de forma espontânea ou pela simples existência de recursos naturais e é por meio do
processo de acumulação de capacitações e aprendizados que esses setores seguiram
trajetórias de desenvolvimento parecida com a de ramos industriais bem-sucedidos.
Assim, é conveniente citar a importância do aprendizado desses setores e como isso
impacta positivamente na balança comercial. Os dados elucidados pelo autor destacam os
crescentes superávits nos segmentos em que os processos de fluxo são consideráveis, mas
por outro releva os déficits adquiridos nos ramos em que os processos de montagem são
a regra (setores intensos em tecnologia).
Posteriormente, o autor resgata que a existência de uma elasticidade renda maior
que um é fundamental parra que determinados setores sejam considerados como
dinâmicos. Isso porque, esses setores irão funcionar como atratores de mão de obra, por
conta dos maiores salários e, por último, irão fornecer as divisas necessárias para o país.
Contudo, o autor traz evidências, contrariando algumas crenças, de que a especialização
industrial, por si só, não gerará os resultados desejados em termos de crescimento, dada
a existência de diversos outros setores, ou seja, a existência de diversas elasticidades-
renda da demanda. Além disso, há não há evidências reais de que algum bem possa
conviver com alta elasticidade-renda da demanda por um longo período de tempo, pois a
produtividade desse setor aumentará e, como visto, a mão de obra desse setor tenderá a
se deslocar para outro com maior elasticidade-renda da demanda. Sendo que, o problema
está em garantir elevadas taxas de crescimento da demanda, de modo geral, para isso
acontecer seria necessário grandes feitos inovativos e o autor argumenta que o Brasil não
está preparado para isso, devido a participação na indústria de montagem ser incipiente.
Por último, o autor traz na última seção o autor apresenta o caso da Suécia que,
comparativamente a países europeus como a Inglaterra, era um país atrasado e com um
nível de renda menor. Contudo, essa situação muda após a segunda guerra mundial
quando esse país foca seus esforços na indústria de recursos naturais e, tal como o Brasil,
com o passar do tempo se empenha na acumulação de conhecimentos capazes de gerar
inovações na indústria intensiva em recursos naturais.
Destarte, é o autor conclui que um ponto importante para no que tange a redução
da demanda, quando alguns setores estão mais consolidados, é a diversificação de
produtos. Nesse sentido, no caso do Brasil que apresenta significativos aumentos de
produtividade na indústria de recursos naturais, a saída para gerir um crescimento
equilibrado de longo prazo reside na diversificação de produtos, da mesma maneira que
ocorreu com a Suécia no pós-segunda guerra. Contudo, é válido ressaltar que, tal como o
processo de aumento da produtividade setorial, o processo de diversificação requer a
capacitação como elo dinamizador básico.

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