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2.

ORIGEM E EVOLUÇÃO
O automóvel, além de ser considerado a máquina que moveu o mundo, concentra na história de
sua produção um padrão representativo de todo o gerenciamento das cadeias logísticas
mundiais. Desde Henry Ford, antes da primeira grande guerra mundial, com o seu conhecido
Ford “T”, passando por Alfred Sloan na década de 30 com o surgimento da GM, avançando com
o advento da Toyota a partir da década de 40 até o surgimento do complexo automobilístico da
Ford, em Camaçari-BA, muitas mudanças ocorreram na forma de gerir o fluxo de materiais e o
atendimento às necessidades dos clientes.

Assim como em outras áreas do conhecimento, os estudos sobre a área logística foram sendo
desenvolvidos de maneira constante e gradual, mas é possível apontar alguns marcos
importantes na história de sua evolução, que separam momentos históricos diferentes. Ballou
(1993) e Ching (1999) apontam uma classificação evolutiva com marcos claros e distintos,
porém é sempre importante lembrar que estes momentos não se desdobram igualmente em
todas as partes do globo, já que algumas regiões se desenvolvem antes das outras.

Antes de 1950

A década de 50 foi, de fato, fundamental para o desenvolvimento dos estudos por um simples
fato: a Segunda Guerra Mundial. Apesar das massivas perdas de vida e de recursos que
compõem as guerras, é inegável o aporte de tecnologia que consequentemente surge dos
grandes confrontos bélicos.

Observando sob o ponto de vista da logística, acrescenta-se o fato de que a Segunda Guerra foi
totalmente desenvolvida no continente europeu, sendo que grande parte das forças aliadas
tiveram que se locomove de outro continente, em uma época na qual os transportes não eram
tão desenvolvidos: os vôos transoceânicos e as comunicações ainda não tinham atingido o
estado atual de conforto. Por isso, o sucesso de qualquer operação militar implicava
necessariamente uma boa organização dos seus recursos materiais, movimentação de suas
tropas e armamentos, muitas vezes até em segredo, para garantir o sucesso da estratégia.

Antes da década de 50 a logística era muito pouco explorada nos meios empresariais. É claro
que havia gestão das atividades logísticas, mas isto ocorria de forma totalmente fragmentada,
sem uma coordenação única. Atividades como transporte, produção, estoques, fornecimento,
distribuição, etc. ficavam sob responsabilidades diferentes, sem um gestor de logística. Assim,
interesses diferentes causavam choques de políticas e de setores. Tenhamos como exemplo o
caso de um gestor de produção, cujo principal interesse está na manutenção de sua eficiência
produtiva e de seus baixos custos de produção, que consequentemente estará defendendo uma
boa quantidade de estoques de matérias primas, levando em consideração as previsões mais
otimistas possíveis. Já o gestor financeiro estará muito preocupado com o capital imobilizados
nos estoques e as oportunidades que estarão perdendo nas aplicações financeiras, brigando
sempre por uma menor quantidade de ativos nos estoques.

Este tipo de conflito ocorria com frequência entre os setores: transporte brigando com
produção, compras em atrito com estoques, etc. A tabela abaixo apresenta uma representação
da distribuição de responsabilidade e objetivos entre os setores:

Fonte: STOLLE, John F. apud Ballou, 1993.

Entretanto, já existiam alguns trabalhos de pioneiros em estudos logísticos empresariais. Arch


Shaw (1912) e Fred Clarck (1922) derivam estudos de áreas como marketing para falar da
importância da distribuição e transportes na criação de mercado e demanda.

Décadas de 50 a 70

O período após uma guerra é normalmente marcado por grandes transformações e novas
oportunidades. É neste ambiente que os estudos sobre administração e marketing continuam a
se desenvolver e temas como distribuição e logística voltam a ser abordados.

Os avanços obtidos na área de logística começam a ser aplicados nas empresas potencializados
por novos recursos tecnológicos. As descobertas na área de matemática, computação, pesquisa
operacional, o movimento pela qualidade total, a teoria dos sistemas, entre outros fatores,
começam a gerar resultados crescentes para as empresas.

Lewis, Culliton e Steele publicam em 1956 um trabalho onde demonstram que o transporte
aéreo, com seu alto custo, poderia ser compensado com menores custos de estoques de
segurança de materiais. Este trabalho e esta compensação acabam criando o conceito de custo
total logístico, que trará mais unidade ao estudo do setor, buscando uma integração e uma visão
mais sistêmica.

Um conhecido professor da área de Marketing, Paul Converse, em 1954 apontou a falta de


preocupação com a distribuição física. Peter Drucker, famoso escritor da área de negócios,
afirma que a distribuição está entre as áreas mais desprezadas e promissoras da América.

Neste momento histórico pós-guerra, além das mudanças populacionais, com o contínuo
crescimento demográfico nas cidades e o crescimento dos subúrbios dos grandes centros
urbanos, o perfil de consumo da população também passava por grandes ajustes. O consumidor
começa a adotar uma postura de “cliente exigente”, fomentada pelo aumento da concorrência e
novos tipos de produtos são demandados. Não basta mais aquele produto padrão único de baixo
preço, como o automóvel Ford Modelo “T”. O cliente quer variedade e poder de escolha,
exigindo mais opções de compra, o que significa maior flexibilidade na produção e controle de
estoques diversificados.

O ambiente econômico já não é tão favorável para o crescimento desordenado e a pressão sobre
os lucros tende a ser mais forte. A recessão pós-guerra traz a necessidade de um maior esforço
dos administradores para cortar os custos e, já que a eficiência produtiva tinha sido
extenuantemente trabalhada no início do século, a logística se mostrava um setor de muitas
oportunidades para enxugamento dos custos.

Juntemos agora todo este potencial de melhoria de desempenho com uma forte demanda
empresarial para redução de custos e novas ferramentas computacionais sendo aplicadas à
experiência militar... pronto: temos o início de grandes pesquisas e descobertas em logística. É
nesta época, por exemplo, que Jay Forrester começa os estudos sobre as cadeias de distribuição
e revela o mecanismo de funcionamento das variações de demanda ao longo da cadeia, o famoso
“efeito chicote”.

Décadas de 70 a 90

Observando o cenário mundial neste período, alguns fatos merecem destaque, especialmente
para a logística. O primeiro é a guerra do Vietnã, que pouco a pouco foi ganhando uma
proporção inesperada até mesmo para os mais pessimistas e demandando recursos importantes
daquela que já se tornara a maior economia mundial. Outro fato interessante foi a criação da
OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e o embargo comercial de 1973, que
foi seguido de uma conseqüente alta nos preços do petróleo, que influencia diretamente nos
custos de distribuição e transporte.

O ambiente econômico mundial nesta época demonstrava um período de baixa nas taxas de
crescimento econômico e alta nos índices de inflação. E óbvio que em alguns poucos países,
como foi o caso do Brasil, o crescimento econômico ainda existia (foi o período denominado
“milagre econômico”) e novos empreendimentos eram lançados. Mas, de uma forma mais geral,
o mundo enfrentava o período que ficou conhecido como “estagflação”. Neste cenário, os custos
de produção e transporte se tornavam muito altos, com altas taxas inflacionárias e aumento nos
juros do mercado. Juros altos significam maior custo do capital no tempo, o que, para a
logística, representa maior custo dos estoques.

Contudo, algumas práticas de gestão logística já começam a dar resultado e algumas empresas
começam a se destacar, não apenas pela melhor gestão dos custos totais, mais buscando um
melhor nível de serviço ao cliente. É nesta época que o movimento pela qualidade total começa a
tomar vulto como resposta à forte pressão exercida pela indústria japonesa sobre o mercado
ocidental, especialmente no segmento automotivo e de eletrônicos.

Esta fase é conhecida como semi-maturidade da logística, com novos estudo e novas tecnologias.
A área de logística nas empresas começa a se tornar mais integrada, com um grande aliado que
tende a se tornar mais e mais difundido: os computadores pessoais e a proliferação da
tecnologia de informação.

Após a década de 90

A década de 90 é um dos maiores pontos de inflexão no desenvolvimento do setor. A logística se


torna um grande diferencial para empresas de destaque nos mais diversos setores. O sucesso de
empresas como a Dell Computers, a Wall-Mart, a Amazon.com, a Federal Express, entre outras
é fortemente ligado a melhorias implantadas em sua logística. O número de empresas que criam
diretorias para o setor de logística só demonstra a importância que vem sendo creditada ao seu
trabalho. De um mero centro de custos, o setor passa para um dos principais centros de
resultados a ser explorado.

Fortes mudanças continuam acontecendo na estrutura econômica mundial e no meio


empresarial. O começo da década de 90 começa logo após a queda do muro de Berlim, seguido
do fim do império soviético e término da guerra-fria. Os blocos econômicos continuam se
desenvolvendo, como a Comunidade Européia, a ALCA, etc. Com eles novas formas e comércio
e, por que não dizer de embargos econômicos. A competição ganha novos rumos, tornando-se
global. A Internet e o E-business transformam organizações inteiras e surgem novos players no
comércio mundial.

Neste cenário a logística integrada ganha muito mais força e novos conceitos e estudos vão
surgindo. Nomes e siglas, como Suplly Chain Management (SCM), Efficient Consumer Response
(ECR), Just In Time Distribution (JITD), Vendor Managed Inventory (VMI), Quick Response
(QR), Theory Of Constraints (TOC), Milk Run, etc. se proliferam como formigas no açucareiro.
Junto com a tecnologia de informação, a logística se destaca entre as principais formas de gerar
vantagem na concorrência e, principalmente, como forma de responder à dinâmica
proporcionada pela revolução da informação.

Aos poucos é possível perceber que esta visão histórica do crescimento do setor pode não ser
claramente distinguível em todos os setores e em todas as regiões. Contudo, já dá para perceber
a importância do contexto econômico e social nos modelos de gestão organizacionais,
permitindo assim a visualização de novas tendências e de cenários esperados para o futuro.

POSTADO POR ROGÉRIO FLORES ÀS 16:19 

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