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AULA 1

LOGÍSTICA EMPRESARIAL E
CADEIA DE SUPRIMENTOS

Prof. Sérgio Luiz Pirani


INTRODUÇÃO

A Cadeia de Suprimentos e a Logística Empresarial

As transformações ocorridas nas últimas décadas – como abertura para


entrada de capitais de vários países, extinção de fronteiras econômicas e de
circulação de capital, assim como inserção de novas empresas em inúmeros
países, deram um novo formato à economia mundial. No Brasil, não foi diferente:
nossas empresas sofreram um grande impacto tecnológico e econômico com o
ingresso de novas corporações em todas as esferas da economia, como
montadoras automobilísticas, empresas do ramo do agronegócio (produção e
comercialização), de tecnologia da informação, operadores logísticos etc.
Elas vieram com características mais agressivas, pois já estavam
acostumadas com a forte concorrência de classe mundial, ao contrário das
empresas brasileiras, até então protegidas por uma bolha de benefícios
governamentais, como a proteção de entrada de corporações estrangeiras e
produtos importados (quando estes entravam, eram taxados com impostos
altíssimos que praticamente inviabilizavam a importação de produtos
estrangeiros).
Dentro desse contexto, vamos abordar a logística empresarial e a cadeia
de suprimentos numa ótica de evolução e transformações através dos anos.

TEMA 1 – A EVOLUÇÃO DA LOGÍSTICA AO LONGO DAS DÉCADAS

A logística praticada pelas empresas na atualidade é uma releitura daquela


vivenciada na Segunda Guerra Mundial, a qual se preocupava em colocar
suprimentos, alimentação, munição, água, medicamentos e no deslocamento de
pessoal no momento certo e na quantidade adequada para atender a todas as
necessidades de cada frente de batalha. Bowersox e Closs (2008, p. 26-27)
argumentam que antes da década de 1950 as empresas executavam
normalmente a atividade logística de maneira puramente funcional. Não existia
nenhum conceito ou teoria formal de logística integrada.
As empresas perceberam a eficiência dos processos praticados pelo setor
de logística naquele período da guerra e trouxeram esse conceito para dentro
delas. Tais processos se voltaram para a administração da logística nas
organizações focadas no fornecimento de suprimentos, gestão de materiais,

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expedição e distribuição de produtos. Essas aplicações ficaram evidenciadas a
partir da década de 1990, e, conforme afirmam Fleury, Wanke e Figueiredo (2006,
p. 20),
a logística, no Brasil, passou por extraordinárias mudanças [...].
Descreve ainda que o movimento de modificações da logística era o elo
perdido da modernização empresarial no Brasil. A explosão do comércio
internacional, a estabilização econômica produzida pelo Real e as
privatizações da infraestrutura foram os fatores que mais impulsionaram
esse processo de transformações.

As mudanças ocasionadas pela nova formatação econômica mundial


refletiram diretamente nos processos logísticos nas empresas, as quais tiveram
que mudar seu modo de pensar em relação a eles na intenção de minimizar todos
os custos envolvidos em cada um. Dessa forma, perceberam que a logística tinha
seus processos integrados, ou seja, havia um relacionamento entre todos os
setores da organização como financeiro, compras, marketing e produção, que até
então eram considerados distintos, cada um cumprindo a sua função de forma
praticamente isolada dentro da organização.
Podemos observar na Figura 1, a seguir, a evolução dos processos
logísticos. Na década de 1960, as ações eram fragmentadas, pois ainda não havia
o pensamento de integração dos processos para uma eficiência final. Apenas a
partir da década de 1980 – e, mais precisamente, na década de 1990 – houve
teve início a integração, não só da administração de materiais e distribuição física,
mas sim de todos os processos.
A internet já despontava como fator indispensável para agilizar os
processos, pois já havia um sistema de informação que mostrava grande agilidade
no tempo de resposta. A partir do ano 2000, o sistema de informação se firmou
como fator decisivo para a eficácia e agilidade nas transações e processos
logísticos. Com as novas tecnologias, que veremos mais adiante – como o
Enterprise Resource Planning (ERP), ou Sistema Integrado de Gestão –, esse
sistema de gestão possibilitou a integração efetiva de todos os setores da
empresa, possibilitando uma comunicação não só interna da empresa, mas
também integrando os processos dos fornecedores, independentemente de sua
localidade.

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Figura 1 – Evolução logística a partir de 1960

Fonte: Platt; Klaes, 2010, p. 227.

Na visão voltada para a integração logística (setores), ficou evidenciado


que as informações advindas do setor de marketing sobre mercado, sociedade
(comportamento do consumidor) e tendências refletiam diretamente no setor de
produção, pois eram fatores cruciais para a programação de produção. Ora, se é
necessário produzir, então deve-se comprar materiais que, por sua vez, carecem
de capital (finanças). O foco volta-se, assim, para os custos de cada um dos
processos, e a intenção é minimizá-los com vistas a juntar a eficiência e eficácia
logística para atingir a efetividade, ou seja, a excelência no final da cadeia no
intuito de atender ao cliente final, superando as expectativas dele.

TEMA 2 – A CONTRIBUIÇÃO DA LOGÍSTICA NO INCREMENTO DA


COMPETITIVIDADE EMPRESARIAL

Com a leitura realizada até aqui, podemos perceber que a logística entra
em cena como um dos setores da organização capaz de torná-la referência em
relação à qualidade em serviços, compras, recebimentos, entregas, logísticas de
processos de produção, tornando-se, assim, um setor-chave.
Mas para que logística atinja a efetividade, todos os seus processos devem
ser integrados, ou seja, todos os setores devem ter comunicação integrada em
tempo real, conforme ilustrado na Figura 2. Dessa forma, poderão extinguir ou
minimizar qualquer tipo de restrição em qualquer um dos processos logísticos a
fim de evitar problemas na cadeia final, que é o atendimento ao cliente.

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Figura 2 – Integração dos processos logísticos

Crédito: Hilch / Shutterstock.

A integração dos setores logísticos só se tornou realidade após o advento


da rede de mundial de computadores e a comunicação entre as máquinas, quando
estas ficaram acessíveis não só às empresas, mas também aos cidadãos no final
da década de 1990. Antes disso, o setor de compras de uma organização, por
exemplo, utilizava o telefone, que era caro para a época, ou o telegrama para
passar ordens de compras e se comunicar com a matriz ou onde havia a
necessidade do material.
Muitas vezes, as empresas necessitavam de escritórios avançados para
ficar próximos dos locais onde se concentravam os principais fornecedores. Isso
permitia que fizessem as negociações de forma presencial, mas encarecia assim
ainda mais o processo de compras.
Veja que estamos falando de apenas um setor (processo) dentro da cadeia
logística. Isso explica a preocupação com os custos e a integração dos processos
para minimizar qualquer custo inerente aos processos em toda a cadeia logística
como seleção de fornecedores, compras, recebimentos, guarda de produtos,
movimentação, transportes, distribuição etc.

2.1 Vantagem competitiva, a logística como setor estratégico

Na atualidade, a concorrência entre as empresas ocorre de forma nunca


presenciada na história das organizações, por isso ser diferente e eficaz tornou-

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se uma necessidade. Essa busca por se distinguir de forma eficaz foi evidenciada
por Porter (1989, p. 31), que denomina a estratégia como “vantagem competitiva”
e evidencia que esta não pode ser compreendida observando-se a empresa como
um todo. Ela tem origem nas inúmeras atividades distintas que uma empresa
executa no projeto, na produção, no marketing, na entrega e no suporte de seu
produto.
Assim, as empresas buscam diferenciar seus serviços ou produtos, de
modo que os tornem diferentes, únicos e difíceis de ser copiados pelos
concorrentes. Essa diferenciação constitui uma vantagem competitiva em relação
aos seus pares que estão no mesmo ramo de atividade e tem como intuito gerar
valor para o consumidor.
Observe que a logística é considerada estratégica dentro das
organizações, pois trata dos fluxos de informações e materiais; para o fluxo de
materiais, não há geração de valor, e sim de despesas, mas é item necessário
dentro dos processos logísticos, daí a gerência desses fluxos ser importante com
o propósito de minimizar qualquer custo inerente a tais atividades.
Tenha em mente que para uma organização realizar suas atividades, como
a comercialização de produtos, estes, antes de tudo, passam por inúmeros
processos como projeto, pesquisa de mercado, lançamento, manufatura,
estocagem, venda e entrega. A cadeia de valores genérica é usada nesse
contexto para demonstrar de que modo uma cadeia de valor pode ser construída
para uma empresa, refletindo as atividades específicas que ela executa (Porter,
1989, p. 33).
Observe a Figura 3, a seguir, que ilustra a cadeia de valores genérica criada
por Porter, e veja que as atividades primárias estão relacionadas à logística
interna, operações, logística externa, marketing e vendas e serviços. Assim,
podemos perceber a importância estratégica dos processos logísticos dentro de
uma organização, como também devemos identificar os cuidados em gerenciar
esses processos para que criem valor ao consumidor final, ou seja, que lhe deem
poder de compra no final da cadeia, com um produto de qualidade e preço
competitivo.

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Figura 3 – Cadeia de valores genérica

Fonte: Porter, 1989, p. 35.

Observe também que as atividades de apoio não são menos importantes,


pois uma empresa que não possua uma infraestrutura adequada e uma tecnologia
ideal para que as operações aconteçam, que o pessoal não seja qualificado e que
a aquisição de produtos não seja de qualidade e preço competitivo, compromete
toda a cadeia de valores e as atividades primárias dela.

TEMA 3 – PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES LOGÍSTICAS

A importância do planejamento das atividades logísticas está ligada


diretamente ao sucesso da organização, uma vez que a eficiência dos processos
deve ser voltada para a minimização de custos e a eficiência no nível de serviço.
A decisão de como a empresa estabelecerá uma política de entregas e
pontualidade e os níveis de demanda para exatidão dos pedidos e
comercialização dos produtos devem ficar muito claros para todos os funcionários
e para a cadeia de fornecedores. A definição sobre qual canal de distribuição
adotar, optando por uma relação direta empresa x cliente, ou utilizando
distribuidores ou, ainda, adotando centros de distribuições próprios e suas
localizações, é fator decisivo para o sucesso dos processos condizentes com a
distribuição e a relação com os clientes.
O investimento em um sistema de gerenciamento de informações é outro
fator que deve constar como prioritário no planejamento dos processos logísticos
(software adequado às necessidades da organização). Isso se explica pelo fato

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de que as atividades integradas são extremamente complexas (veja a Figura 4) e
não só dependem da empresa, uma vez que há compras, manufatura,
armazenamento de materiais (matéria-prima e produtos acabados) que podem
ser terceirizados em parte ou no todo.

Figura 4 – Sistema de Informação Gerencial – comunicação integrada

Crédito: Phipatbig / Shutterstock.

O planejamento dos modais (tipos de transporte – aeroviário, rodoviário,


aquaviário, ferroviário e dutoviário) a serem utilizados (conforme ilustrado na
Figura 5), é outro aspecto bastante importante, uma vez que os custos de
transporte são significativos e podem comprometer a competitividade da empresa
em relação aos concorrentes.

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Figura 5 – Modais de transportes

Crédito: Iam_Anupong / Shutterstock.

O planejamento das necessidades de materiais está fortemente


relacionado ao setor de marketing, uma vez que a previsão da demanda para que
seja a mais assertiva possível precisa de informações agregadas, ou seja, que os
dados tenham o maior número de informação possível dos clientes (nome, idade,
renda particular e da família, se tem carro, se tem animais de estimação etc.).
Somente com a exatidão das informações o setor de compras e o de produção
atenderão aos anseios dos clientes.
Há outros fatores de planejamento que devem ser considerados como
gestão de estoques, compras e relacionamento com os fornecedores, gestão do
mapeamento da cadeia de suprimentos. Eles não serão tratados neste momento,
mas receberão atenção especial posteriormente.

TEMA 4 – O PAPEL CONSOLIDADO DA LOGÍSTICA NAS EMPRESAS

Vimos anteriormente que a logística iniciou seu papel de forma mais efetiva
na década de 1990, mas ainda existiam inúmeros processos logísticos que eram
muito deficientes, como a distribuição e entrega de produtos acabados. Por mais
que adotassem técnicas de gestão e novas tecnologias de processos e
informações, as organizações encontravam uma infraestrutura péssima.
No Brasil, as empresas se deparam com uma infraestrutura precária e que
compromete a eficiência logística. As rodovias, embora tenham melhorado, ainda

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carecem de muita melhoria para se chegar ao estado de “bom”. Os portos, por
sua vez, deixam a desejar, pois entre a oferta e a demanda de cargas há inúmeros
gargalos (algum tipo de restrição ao sistema) que comprometem os prazos de
entrega e recebimentos de mercadorias.
A burocracia brasileira é item marcante em comentários dos empresários,
pois causa grande morosidade nos processos de embarque e desembarque de
mercadorias. Os aeroportos ainda carecem de grandes investimentos para que
esse modal se torne mais competitivo; embora seja eficiente, ainda o seu custo
torna impraticável o seu uso por inúmeras empresas.

4.1 A consolidação do papel da logística nas empresas

A consolidação da afirmação do papel da logística nas empresas se deu de


fato quando houve o avanço de inúmeras tecnologias integradas, tanto de gestão
como de processos. Novas tecnologias de compras, como o Electronic Data
Interchange (EDI) – ou Troca Eletrônica de Dados (utilizado para compras) –,
transelevadores para movimentação de materiais, miniloads e veículos guiados
automaticamente, otimizaram os processos logísticos de forma nunca vista antes.
Foram estabelecidas novas formas de compra e venda, em que há uma
central de vendas e o parceiro que está instalado na plataforma faz a entrega (um
vende e outro entrega), tornando assim as entregas mais ágeis. Além disso, há
entregas realizadas por drones, minicentros de distribuições dentro de grandes
cidades que abastecem pequenos transportadores elétricos para as distribuições
dos produtos em locais onde veículos como caminhões pequenos ou vans não
podem acessar (Figura 6).

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Figura 6 – Transportadores elétricos de mercadorias

Crédito: acervo do autor.

Podemos perceber que os processos logísticos se consolidaram nas


empresas atreladas à alta tecnologia, fazendo com que vençam barreiras como
trânsito congestionado, além de movimentação eficiente de materiais, novos
meios de comprar e vender e rapidez na entrega do produto ao cliente final.

TEMA 5 – A LOGÍSTICA INTEGRADA AO MUNDO

As possibilidades que temos na atualidade de integração com o mundo


foram muito facilitadas pela internet, mas não só isso facilitou o nosso
relacionamento com o resto do mundo. As viagens se tornaram mais baratas,
muitos produtos hoje são voltados para o mundo – antes conseguíamos distinguir
com facilidade o que era um produto importado e um nacional. As empresas
perceberam que, para tornar os processos produtivos mais eficientes, era
necessário padronizar o “gosto mundial”; assim, um produto já não é produzido
para determinada nação, mas sim para o mundo, tornando-o extremamente
barato, pois as quantidades fabricadas são enormes, diluindo os custos de
produção e logísticos.
Outra forma de produzir que trouxe grande eficiência tanto na produção
como na logística foi o sistema de produção em redes, também denominado redes
de cooperação empresarial, uma vez que há trocas de conhecimentos nas
relações. Segundo Balestrin e Verschoore (2008, p. 76), o termo foi adotado para

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redes interorganizacionais por conciliar o conceito de rede, que representa os
relacionamentos profícuos entre um conjunto de empreendimentos individuais, e
o de cooperação, que constitui o fundamento que norteia as ações dos agentes
envolvidos. Veja como é interessante o que trata Castells (2007, p. 119, grifo do
original) sobre o tema:
Uma nova economia surgiu em escala global no último quartel do século
XX. Chamo-a de informacional, global e em rede para identificar suas
características fundamentais e diferenciadas e enfatizar sua interligação. É
informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou
agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem
basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente
a informação baseada em conhecimentos. É global porque as principais
atividades produtivas, o consumo e a circulação, assim como seus componentes
(capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação, tecnologia e
mercados) estão organizados em escala global, diretamente ou mediante uma
rede de conexões entre agentes econômicos. É rede porque, nas novas
condições históricas, a produtividade é gerada, e a concorrência é feita em uma
rede global de interação entre redes empresariais.
Isso nos remete ao porquê da integração dos processos logísticos e o
grande interesse das organizações em se aliarem a parceiros de outros
continentes em busca de menores custos de produção para se tornarem mais
competitivas em mercados mundiais. Surge, assim, uma nova forma de produção:
grandes empresas do ramo calçadista, por exemplo, não têm foco na fabricação
de produtos, mas sim na pesquisa, no desenvolvimento e na distribuição deles
para o mundo.
Corporações com essa característica procuram o país que produzirá o seu
produto com o menor custo – isso pode ocorrer em qualquer país do mundo. A
empresa, então, tem seu foco voltado para a logística e o desenvolvimento do
produto, na busca de maior eficiência na geração de valor ao consumidor final,
sem que comprometa a margem de lucro dela.
Como você pode perceber, a internacionalização da economia trouxe
grandes preocupações voltadas tanto para o processo produtivo quanto para os
logísticos, na busca de as empresas se tornarem mais eficientes e mais
competitivas em relação aos concorrentes. Elas estão em um esforço constante
de identificar novas estratégias, e a parceria entre organizações foi uma

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possibilidade bem vista por muitas, pois perceberam os benefícios trazidos por
uma relação com esse perfil, ocorrendo troca de conhecimentos, tecnologias e
novos processos de transformações, por exemplo.

5.1 A logística e a sua missão na organização

A missão da logística nas organizações é cumprir o conceito que lhe é


proposto e que envolve informação, transporte, gestão de estoques e
armazenagem de materiais, com um empenho integrado dos processos tendo
como foco criar valor para o cliente com o menor custo total possível.
Então, para que cumpra a sua missão na organização, a logística deve
estabelecer políticas de níveis de serviços, voltadas ao atendimento dos clientes,
seja interno, seja externo, suprindo as necessidades deles em tempo, quantidade
e qualidade desejadas. Bowersox e Closs (2008, p. 23) sustentam que é possível
alcançar qualquer nível de serviço logístico se a empresa estiver disposta a alocar
os recursos necessários. No ambiente operacional atual, o fator restritivo é
econômico, e não tecnológico.
Percebemos com certa facilidade que a tecnologia está disponível, basta
ter capital para investir em tudo o que se achar necessário para as necessidades
da organização. Essa é justamente a restrição. São poucas as empresas que
podem arcar com os custos da implantação de tecnologia de ponta, mas há
soluções acessíveis para todas as necessidades, como também existem
softwares de gestão voltados à logística que são customizados em relação às
demandas de cada organização, facilitando assim o acesso à tecnologia de ponta
com um custo suportável. A Figura 7 ilustra a complexidade tecnológica.

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Figura 7 – Visão geral de processos logísticos integrados em rede mundial

Crédito: Travel Mania / Shutterstock.

A função dos serviços logísticos é buscar entre o que é determinado como


prioridade de serviços versus custos. Numa situação hipotética de um sistema
produtivo em que há falha no sistema de abastecimento, não por falta de matéria-
prima, mas por ineficiência do serviço logístico, no caso o de suprimentos, há
ainda a tomada de decisão em interromper a produção, prejudicando a jusante da
cadeia logística (consumidores), ou procurar um novo fornecedor para a urgência
e arcar com custos mais elevados e cumprir o contrato já firmado. Percebeu como
é importante que os serviços tenham uma sincronização com a cadeia de
fornecimento em tempo real?
Assim, podemos perceber que o desempenho das operações logísticas
está diretamente ligado a um ciclo em que os atores são o comprador, o
fornecedor e o tempo de entrega do produto à empresa compradora. Quanto maior
o nível de serviço gerado pelo fornecedor, maior também será o nível de serviço
da empresa transformadora, formando assim uma sincronização na cadeia e
gerando uma relação de confiança nas transações.
Veja que há até certa confusão entre qualidade e confiança, pois se você
confia é porque tem qualidade, e se tem qualidade, logo você confia. Assim, para
gerar confiança ao seu comprador, o fornecedor deverá assegurar qualidade no
produto que oferece, entregando-o com pontualidade e sempre dentro das
necessidades, tempo e quantidade em relação ao que foi solicitado.
Dentro desse contexto, há uma ressalva feita por Bowersox e Closs (2008,
p.24) quando descrevem que existem empresas que costumam ser

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excessivamente otimistas ao assumir compromisso com um desempenho de
serviço ao cliente entre básico ou “médio”. A incapacidade de atender de maneira
consistente a uma meta básica de serviço excessivamente alta pode resultar em
maiores problemas operacionais para o cliente do que no caso de metas menos
ambiciosas serem estabelecidas desde o início.
Você pode perceber que os autores tratam da falta de planejamento, mas
há ainda outro fator que pode comprometer as operações de uma organização:
trabalhar com um único fornecedor, principalmente se a matéria-prima for
considerada estratégica para a produção, ou seja, a produção para se ela faltar.
Alguns anos atrás, houve uma greve dos funcionários da Receita Federal,
e muitas empresas ficaram sem seus produtos, que eram exclusivamente
importados de países asiáticos, e não havia nenhum outro fornecedor dentro do
Brasil que pudesse suprir as necessidades delas; em poucos dias não havia
produtos no mercado. Marcas conhecidas deixaram de vender, e muitos clientes
migraram para outras que ainda estavam disponíveis no mercado. Essa migração
pode levar o cliente a experimentar outras novidades e a eficiência dos produtos
do concorrente e não voltar mais para a marca que tinha costume de utilizar.
Você percebeu que a missão da logística numa organização extrapola os
limites de seus processos? Consegue compreender que as consequências de
falta de produtos vão além da perda de uma venda e chegam à perda de um
cliente ao longo de um ciclo de consumo que pode durar anos?
A missão da logística firma-se em disponibilizar o produto na hora certa, na
quantidade solicitada e na qualidade esperada pelo consumidor sempre com o
intuito de superar as expectativas do consumidor final. Portanto, o planejamento
realizado com esmero em cada etapa da rede, tanto a montante – ou para trás –,
como no caso de fornecedores, como a jusante – ou para frente –, como no caso
dos clientes finais (veja a Figura 8), é considerado fator crucial para o sucesso do
cumprimento da missão da logística nos processos operacionais e de serviços
dentro de uma organização.

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Figura 8 – Clientes fazendo compras em um shopping

Crédito: Syda Productions / Shutterstock.

Assim se reafirma a importância da integração dos processos logísticos


para o sucesso dos serviços prestados pelas organizações, pois na logística o
tempo não é só dinheiro, mas um referencial de qualidade na prestação de
serviços. Quanto menor o tempo de um processo, mais responsiva será a cadeia
logística, mais rápida será a resposta e mais feliz ficará o cliente.

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REFERÊNCIAS

BALESTRIN, A.; VERSCHOORE, J. Redes de cooperação – estratégias de


gestão na nova economia. Porto Alegre: Bookman, 2008.

BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. Logística empresarial: o processo de


integração da cadeia de suprimento. 6. reimpr. São Paulo: Atlas, 2008.

CASTELLS, M. A sociedade em rede – A era da informação: economia,


sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

FLEURY, P. F.; WANKE, P.; FIGUEIREDO, K. F. (Org.). Logística empresarial:


a perspectiva brasileira. 8. reimp. São Paulo: Atlas, 2006.

PLATT, A. A.; KLAES L. S. Utilizando o Sistema Integrado de Gestão (ERP) no


apoio ao ensino de logística e Gestão da Cadeia de Suprimentos. Revista de
Ciências da Administração, v. 12, n. 28, p. 224-241, set./dez. 2010.

PORTER, M. E. Vantagem competitiva – criando e sustentando um desempenho


superior. 34. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1989.

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