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Resumo - crise de 2015/2016

CONTEXTO HISTÓRICO

Governo Lula:

Esse período da história política brasileira se iniciou em 1 de janeiro de 2003, com a


posse de Luís Inácio Lula da Silva à presidência. Seu mandato se estendeu até o dia 31 de
dezembro de 2010. O governo Lula registrou um crescimento de 32,62% do PIB e de
23,05% da renda per capita. O governo contou com um aumento do preço de preço de
commodities em 2010, contando com uma agressiva expansão do PIB de 7,5% após uma
brusca queda em 2009, único ano de seu mandato em que o PIB retraiu. A época também
foi marcada pelo controle da inflação, que era de 12,53% quando o ex-presidente assumiu e
5,90% quando seu mandato acaba. Além disso, durante esse período o Brasil sediou os
Jogos Pan-Americanos e foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo de 2014 e dos
jogos Olímpicos de 2016. Devido ao seu ótimo último ano, a expansão econômica e política
social do ex-presidente, como a criação do Bolsa Família, do programa Fome Zero, O
governo Lula terminou com aprovação recorde da população, com a avaliação positiva
superior a 80%.

Governo Dilma:

Quanto aos avanços sociais, há certo consenso sobre ganhos importantes em


termos de redução de desemprego, moderada melhoria na distribuição de renda (maior nos
rendimentos de trabalho e menor ao se incluir rendas de capital e de propriedade) e um
maior acesso dos segmentos de mais baixa renda a serviços públicos e equipamentos
básicos. Contudo, houve uma inflexão no rumo da política econômica, em meio à
deterioração no cenário externo (crise internacional e desaceleração da economia chinesa).
O governo começou a adotar um conjunto de medidas que ficaram conhecidas como a
“Nova Matriz Econômica” (NME): redução na taxa Selic pelo Banco Central (de 12,5% para
7,5%) , desvalorização do real (de 25% entre agosto de 2011 a maio de 2012), uso
intensivo do BNDES com linha de crédito subsidiado para financiar investimentos, aposta na
reindustrialização com o Plano Brasil Maior, desonerações fiscais (em particular da folha de
pagamentos), plano para infraestrutura (Programa de Investimentos em Logística – PIL),
reforma do setor elétrico, adoção de controles de capitais, represamento de preços
monitorados (energia e petróleo), e protecionismos. Por fim, em 2015, já no início da
segunda gestão, Dilma dá um “cavalo-de-pau” na política econômica, adotando o
questionável discurso de “contração fiscal expansionista”, com um conjunto de medidas que
incluíram um ajuste fiscal do lado do gasto público, uma elevação ainda maior na taxa de
juros, reajuste acelerado nos preços administrados (energia e petróleo), e eliminação do
crédito subsidiado.

Escândalo Pasadena-Petrobras:

Este escândalo emergiu durante as investigações da “Operação Lava-Jato", cujas


investigações foram realizadas pela Polícia e Justiça Federais, que apuravam corrupção
nos contratos da empresa Petrobrás. Descobriu-se que diretores da petrolífera, num
esquema gigantesco de corrupção, sem necessidade comercial ou técnica, adquiriram a
refinaria de Pasadena na Califórnia por um valor de mercado injustificavelmente alto,
considerando o mercado petrolífero da época. Com a delação premiada de alguns dos
diretores envolvidos, soube-se que os valores pagos a mais foram desviados e distribuídos
entre partidos políticos e os próprios diretores da Petrobrás, criando grave prejuízo, não
apenas à imagem internacional do Brasil e de sua maior empresa, como, também, prejuízos
financeiros à petrolífera e seus acionistas, que até hoje não foram sanados, porquanto,
inclusive, não se tratou do único escândalo descoberto. Até hoje, tramitam diversas ações
de acionistas minoritários, especialmente nos EUA e no Brasil, para que a empresa lhes
compense os prejuízos sofridos e responsabilizem os maus gestores.

Lava Jato:

A Operação Lava Jato foi uma iniciativa contra a corrupção e lavagem de direito
ocorrida no Brasil inicialmente em 2014. Representa um conjunto de investigações com
mais de mil mandados judiciais expedidos contra organizações criminosas formadas por
agentes públicos, empresários e doleiros. As organizações criminosas tinham esquemas
complexos de corrupção e lavagem de dinheiro, com envolvimento massivo na política
brasileira, que levaram a investigação a apontar irregularidades até mesmo na Petrobras,
maior estatal do país, e em diversas obras de infraestrutura que o governo vinha realizando.

Pela magnitude do processo, repercutido em nível internacional, por representar


uma das maiores operações de combate à corrupção, este trouxe consequências à
economia nacional. Para a ABED (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia),
a operação contribuiu negativamente na criação de um ambiente de incertezas econômicas
que suspenderam o consumo e o investimento em diversas áreas. É o caso do ramo da
construção civil, que vinha crescendo em desenvolvimento tecnológico e geração de
empregos, e em 2019 apresentou uma retração de 28% comparada ao início da operação.
Assim como a Petrobras, que era responsável por grande parte dos investimentos
produtivos no Brasil, e sendo completamente desestruturada no cenário internacional,
apresentou uma forte retração em relação a estes investimentos.

Além disso, pela forte influência da Petrobras e das grandes construtoras envolvidas
neste escândalo no PIB nacional, além da paralisação de obras, corte geral de
investimentos e demissões em larga escala nos setores de óleo, gás e construção civil, é
estimado um impacto de 2.5% negativo no PIB nacional devido às consequências da
operação.

Em suma, a Operação Lava Jato deflagrou escândalos de um parâmetro econômico


altíssimo, o que propiciou um cenário de forte insegurança política e econômica no Brasil,
tanto em nível nacional quanto internacional, gerando consequências em setores produtivos
de grande importância na economia brasileira, e uma desestruturação de empresas com
forte influência no PIB.

CAUSA EXTERNA

Crise de 2008:

A crise de 2008 afetou a economia mundial de maneira drástica e repentina. Porém,


a maneira como influenciou na economia brasileira não se deu especificamente pela crise,
mas sim pela resposta da gestão brasileira quanto a uma crise de nível global. Isso ocorreu
pelo fato das medidas, além de serem equivocadas, foram prolongadas, trazendo assim um
processo de desindustrialização e um furo enorme das contas públicas brasileiras. Em
suma, em um cenário de decadência global, em que os países se encontravam em um
ambiente de contração dos gastos públicos para se prepararem com o impacto da quebra
da maior economia global, o Brasil, que era atrasado em pauta de aplicações econômico-
financeiras, introduzia políticas de renúncias fiscais.

Os governantes, visando conter a crise em um parâmetro nacional, tendo em vista a


escassez de crédito no mercado brasileiro ocasionada pela crise internacional, deram início
a diversas medidas de redução de impostos, visando o aumento do consumo,
congelamento do preço do petróleo, subsídio das tarifas de energia elétrica e ampliação das
desonerações. Além disso, houve redução do IPI para automóveis, eletrodomésticos e
materiais de construção, redução do IOF, estímulo ao crédito através dos bancos públicos,
e redução das alíquotas dos depósitos compulsórios, alteração na cobrança do IRPF.
Embora naquele momento tenha sido ótimo para o cidadão brasileiro e pra economia do
país, que obteve um grande aquecimento, aumentando o crédito das empresas e dando o
poder de aquisição à população, assim como postos de trabalho, a visão a longo prazo
dessas medidas trouxe consigo consequências inevitáveis. Por exemplo, o brasileiro que
teve a chance de obter um financiamento que visava a anos, principalmente pela aquisição
de um novo emprego mais bem remunerado, futuramente vem a perder esse posto de
trabalho com a crise nacional, tornando-se impossibilitado de quitar seu financiamento,
mesmo que retome seu antigo cargo, especialmente após a desvalorização do real durante
a crise, sendo assim, torna-se inadimplente.

Saindo do âmbito governamental, a queda do dólar naquele momento também foi


causa vital da crise instaurada posteriormente. O brasileiro se sentia mais atraído a
importações pela queda no preço, e as viagens ao exterior passaram a ser mais baratas e
atrativas. Era a possibilidade de vivenciar algo novo e a aquisição de produtos
supostamente melhores. O problema é que a indústria brasileira ficou desamparada pela
falta de demanda, impedida de competir com as indústrias internacionais, o que
vulnerabilizou ainda mais a economia e propiciou o processo de desindustrialização, com o
fechamento de fábricas, entregando cada vez mais o Brasil à dependência econômica das
commodities.

Sendo assim, é importante frisar que as medidas estabelecidas pelo governo


brasileiro naquele momento foram sim ótimas para a população, em curto prazo.
Possibilitaram a aquisição de bens e consumos a grande parte da população, o
investimento desde o micro ao macro empresário, e diversos outros benefícios que, de
modo geral, aqueceram fortemente a economia do país. Porém, o despreparo, a falta de
visão em nível internacional, e a inconsciência de um parâmetro a longo prazo trouxeram
acompanhados desse aquecimento fortes consequências à economia. Segundo a auditoria
da Receita Federal, se as políticas de desoneração tributária tivessem se prolongado até
2018, assim como o mandato da presidente Dilma, num período de 8 anos o Brasil deixaria
de arrecadar R$458 bilhões, valor que poderia custear o programa Bolsa Família durante 17
anos. Além dos problemas populacionais futuramente gerados, de redução da renda,
redução do valor da moeda, desemprego, e diversos outros fatores.

CAUSAS INTERNAS

Desvalorização do real:

Naquele momento, a falta de visão global da economia brasileira e instabilidade


política do país ocasionou um dos mais drásticos cenários possíveis. O Brasil se conteve
em plano nacional, mas a ausência de planejamento (investimento em dólar, políticas de
câmbio flutuante etc.) em nível internacional propiciou uma situação em que o real não
acompanhou a política flutuante do câmbio desenvolvido pelos economistas na moeda
americana, resultando nesse cenário que até hoje, apesar de diversas reviravoltas, se
constitui de uma desvalorização completa da moeda brasileira em nível de mercado global.

Frequentemente, a população brasileira se atenta como problemática da


desvalorização do real em relação ao dólar como sendo um malefício que atinge apenas a
classe dos investidores, daqueles brasileiros que estão viajando para fora do país, ou
aqueles que compram produtos importados. Porém, na realidade este é um malefício que a
partir de uma cadeia de progressão atinge a toda a população brasileira.

Inicialmente, a partir da alta do dólar o fator mais visível para grande parte da
população são as altas dos preços. Primeiramente, por um motivo óbvio: a desvalorização
do real ocasiona o cenário em que para a compra daquele determinado produto que detém
um valor específico, será necessária uma maior quantidade da moeda para compor esse
determinado valor, que antes uma quantidade menor já atingiria. Porém, esse é um fator
robusto, o descaso é muito maior: a importação de insumos e peças utilizadas nas
indústrias, que propiciam o funcionamento de grande parte da economia, fica mais alto,
resultando numa alta nos preços que influencia desde a precificação da matéria-prima até o
produto final que chega ao consumidor; a partir da valorização do dólar, os commodities
produzidos em território nacional passam a ter seu valor reduzido internacionalmente, pela
consequente desvalorização da moeda brasileira, sendo assim, os países que detém a
moeda americana, conseguem importar uma quantia maior, pelo mesmo preço que
anteriormente importavam uma quantia reduzida, o que gera uma demanda muito mais alta
de exportação dentro do mercado brasileiro, resultando em uma fartura para os países
importadores, e carestia de produtos no mercado nacional, ocasionando uma menor
concorrência e diminuição da oferta com a alta de preços no mercado interno. Ademais, a
desvalorização do real proporciona uma barreira contra investidores estrangeiros, deixando
o mercado nacional à deriva dos investidores brasileiros. Nesse momento, os investidores
não se sentem confortáveis em investir no mercado brasileiro, primeiro pela população não
deter o poder de compra para gerar lucro ao seu investimento, que precisa ser altíssimo
para converter em algum lucro em escala internacional, segundo pela alta taxa de risco dos
investimentos nacionais com a instabilidade da moeda. Não há caminho alternativo, a
desvalorização cambial impõe um aumento da precificação de todo e qualquer serviço
prestado ou produto adquirido dentro do mercado econômico interno, cenário vivenciado
pelo país durante os últimos anos que se propagou a crise.
Derretimento de preço internacional das commodities em 2015:

Em 2015 houve o fim do BOOM das comodities, aumentando seu impacto e


arrecadação de impostos. O Brasil caminhava para um déficit de R$110 bi. Tudo se iniciou
em 2003, com a entrada do Lula no poder. Havia: apreciação cambial, que se trata da
valorização da moeda em relação às outras, juros internacionais baixos, que ampliou a
entrada de muitos investidores e empresas no mercado brasileiro e o aumento dos preços
das commodities (café, soja, petróleo etc.), o que aumentou o preço dos produtos
exportados brasileiros e, consequentemente, maior renda para os exportadores.

Entretanto todas essas condições favoráveis desapareceram praticamente na


mesma medida em que surgiram. O agravamento da aversão aos riscos nos mercados
globais aliado à desvalorização do petróleo e do minério de ferro. Os responsáveis por
essas desvalorizações são o quadro fraco de atividade global e uma oferta muito robusta
dessas matérias-primas. Com isso, os preços das ações de empresas mineradoras e
petrolíferas caiu muito, seguidos do Ibovespa. Ademais, o dólar (maioria dos contratos eram
feitos por essa moeda) já voltava a ganhar espaço no mundo, com os investidores
procurando segurança. A somatória desses fatores foi o que gerou o derretimento do valor
das comodities, uma vez que os investidores estavam fugindo da insegurança financeira, e
o aumento do déficit público.

Diminuição excessiva da taxa de juros:

A taxa de juros (quantia que um tomador de empréstimo paga ao credor para usar
seu capital) do país é estabelecida pelo banco central em conjunto com o ministério da
fazenda. A redução das taxas de juros adotada pelo governo brasileiro, tendo em vista o
incentivo do crescimento econômico e a oferta de crédito no país poderia ter tido bons
resultados. Contudo, a estratégia foi utilizada em excesso pelo governo brasileiro, gerando
inflação e aumento nas taxas de inadimplência, assim, contribuindo para a crise econômica.

O reajuste dessas consequências por meio do aumento dos juros demora para fazer
efeito na economia, aumentando ainda mais seus impactos negativos.

Crescimento por meio do consumo:


Até 2014 foram adotadas uma série de medidas para estimular o consumo, como a
expansão do crédito fácil. Isso gerou uma espécie de bolha de "consumo". Em 2014, com o
aumento do desemprego e enxugamento do crédito, essa bolha estourou, catalisando a
brusca recessão econômica e endividando milhões de brasileiros.

Enormes gastos do governo em obras com pouco retorno financeiro:

O governo brasileiro adotou uma forte política intervencionista a partir de 2011,


aumentando grandiosamente os gastos governamentais. Os principais representantes
desses gastos foram a copa do mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, no Rio de
Janeiro. Apesar dos eventos estimularem a economia em sua vigência, eles também
contribuíram para o aumento da inflação e aumentaram a dívida do Estado. Ademais, das
grandes construções realizadas para esses eventos, algumas são verdadeiros elefantes
brancos. Muitos estádios de grande capacidade ficaram subutilizados após a realização dos
jogos em 2014, como os estádios das cidades de Manaus, Cuiabá, Brasília que, em
fevereiro de 2015, já tinham causado um prejuízo superior à 10 milhões de reais.

Controle seletivo da inflação:

A seletividade do controle inflacionário era notável durante o governo PT, visto que
os governantes optavam pelo controle específico daqueles bens cuja atuação era direta no
dia a dia dos trabalhadores: eram os casos de setores como da alimentação, água, energia,
etc. Devido a isso, ambientes como o industrial, sofreram carência desse controle
inflacionário, o que propiciava naquele momento um grande aumento na precificação, com
taxas de juros altas, e mantinha o interesse dos investidores distante, pela não atratividade
das taxas, desestimulando a inovação e dificultando o empreendedorismo.

Quando a crise estoura, o controle seletivo da inflação, que mantinha uma visão boa
do governo, teve fim, dando início a um cenário de caos econômico: a sociedade via seu
poder de compra deixando de existir, as taxas inflacionárias sobem em todos os setores,
produtos e serviços sobem seus preços. As dívidas surgem e a sociedade passa a
compreender as consequências de todo aquele processo vivenciado na economia.

Desoneração tributária em 2014:

A política de desoneração tributária é a renúncia fiscal pelo governo em relação a


algum produto ou serviço, objetivando equilibrar a economia (quando há necessidade). Em
2014, na tentativa de reduzir a altíssima taxa de desemprego e estimular a indústria
nacional, de forma a torná-la competitiva, também, no mercado internacional, considerada a
variação do dólar, o Brasil implementou este tipo de política de forma excessiva, sem muitos
critérios técnicos e por muito tempo. Uma das ações que inviabilizaram a política foi a
prolongada desoneração do setor elétrico, obrigando os brasileiros, nos anos subsequentes,
a custear esses equívocos econômicos, que também provocaram gravíssima crise de
desemprego e da situação fiscal do país. Tais implicações foram alguns dos fatores
determinantes do processo de impeachment que ocorreu posteriormente.

CONSEQUÊNCIAS

Impeachment e descarrilhamento econômico:

Ao engendrar mudanças na política de juros e cambial, com redução drástica da


taxa Selic e do spread dos bancos, o governo Dilma 1/2, conforme o próprio ex-Ministro da
Fazenda Guido Mantega, foi uma ofensiva do governo contra três grandes obstáculos ao
regime produtivo brasileiro: os juros elevados, a taxa de câmbio apreciada e os altos custos.
Acabaria por tensionar a relação com os representantes de tal segmento financista-rentista.

Para além das rusgas com a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), em


junho de 2013 eclodiram protestos generalizados pelas capitais do país, responsáveis por
uma clivagem fundamental dividindo o governo Dilma. O clima político do país foi
redesenhado pelo episódio. A queda na popularidade da mandatária colocou o governo
federal numa postura defensiva, com recuos na matriz – como a retomada do aumento dos
juros pelo Banco Central ainda em meados de 2013 – e “o início da mobilização da classe
média, que acabaria por ter papel decisivo na queda de Dilma”.

Esta nova janela de oportunidades fez boa parte do empresariado se descolar


definitivamente da coalizão governista e protestar veementemente contra a política
econômica vigente. Ainda assim, Dilma vence as eleições de 2014, embora por estreita
margem (51,8% dos votos ante 48,2% de Aécio Neves). Ao considerarmos os estratos
sociais médios, a oposição passou a gozar de margem mais favorável de apoio e
representantes, com a polarização regional e de renda, insinuadas nos pleitos de 2006 e
2010, se acentuando. A fracionalização partidária na Câmara dos Deputados se ampliou
(com aumento considerável dos partidos pequenos e queda da bancada petista), trazendo
correlação de forças mais complexa, heterogênea e representativa das dificuldades que
viriam pela frente na conciliação entre Legislativo e Executivo.
Reeleita após dura campanha com críticas à agenda ortodoxa-liberal de Neves,
Dilma agora anunciava um representante do setor financeiro (Joaquim Levy) na Fazenda; e
adotava o programa econômico derrotado nas urnas. Tal mudança levou à acusação de um
genuíno “estelionato eleitoral”, com protestos de massa se intensificando nas ruas ante o
aprofundamento da recessão e insatisfação com a mandatária, cujo índice de rejeição
saltou de 30% para 70% entre setembro de 2014 e setembro de 2015 (Datafolha, 2018).
Numa perspectiva societal, ficava marcada a definitiva erosão do apoio das classes médias
ao PT; bem como adesão destas aos protestos com atores e movimentos políticos de direita
e entidades empresariais.

A retórica liberal crítica ao intervencionismo imputado ao PT – responsável pelos


erros que haviam levado o país até a crise – ganhava força. No plano político, a
concatenação de um Congresso mais conservador e um novo presidente da Câmara
(Eduardo Cunha) colidindo diretamente com o Executivo obstaculizava um consenso
mínimo entre as agendas dos dois poderes. É neste cenário que a figura do vice-presidente
Michel Temer ganha força: ante a impopularidade e as dificuldades de interlocução da
mandatária, se torna articulador político relevante ao fazer a intermediação junto ao
Congresso e em particular junto ao PMDB – cada vez mais descolado de Dilma – para
aprovação de medidas liberalizantes e de austeridade

Antipetismo/Antipartidarismo e a eleição de 2018:


Estudos de comportamento antipartidário se desenvolvem em torno de duas
abordagens principais. O primeiro enfoca o partidarismo negativo, entendido como a
rejeição dos eleitores a um determinado partido ou grupo de partidos. O segundo está
principalmente preocupado com uma síndrome mais ampla de descontentamento político e
rejeição generalizada dos partidos e da política partidária.

Embora o partidarismo negativo possa às vezes reforçar as diferenças ideológicas


entre diferentes grupos de eleitores, é improvável que os antipartidários generalizados
desenvolvam preferências e lealdades políticas estáveis ao longo do tempo. Além disso,
partidários puramente negativos muitas vezes diferem de eleitores ideológicos partidários
com uma identidade compartilhada de "nós contra eles"

A eleição presidencial de 2018 no Brasil oferece um cenário ideal para estudar como
esses diferentes tipos de atitudes moldam o comportamento do eleitor. Contra todas as
probabilidades, o populista de extrema direita Jair Bolsonaro derrotou os principais partidos
do Brasil, capitalizando o descontentamento dos eleitores com o baixo desempenho
econômico e corrupção generalizada da nação. Embora os analistas políticos tenham
enfatizado o antipetismo - a disposição cada vez mais negativa dos eleitores em relação ao
maior partido de esquerda do Brasil, o PT (Partido dos Trabalhadores), como um fator
importante por trás do tsunami eleitoral de 2018, é crível que o partidarismo negativo conta
apenas uma parte da história. De fato, pesquisas anteriores baseadas no Estudo Eleitoral
Brasileiro e nas pesquisas LAPOP (Latin american Public Opinion Project) indicam que o
antipartidarismo generalizado aumentou nos últimos anos, e esse grupo constitui uma
parcela considerável dos eleitores do Brasil. Os estudiosos muitas vezes não conseguiram
separar o antipetismo dessas atitudes anti-sistema mais amplas, o que levou à suposição
questionável de que a competição partidária no Brasil se estruturou em torno da
bipolaridade PT / anti-PT.

Além do crescimento de sentimento anti-partidários, a candidatura de Bolsonaro se


beneficiou do aumento da polarização, expressa na rejeição do Partido dos Trabalhadores
por uma parte significativa do eleitorado

Dados e estruturação (LAPOP 2019):

A categoria de partidários do PT (petistas) foi criada a partir método de identificação


de opinião partidária do LAPOP, a partir da pergunta de identificação: “Atualmente você
simpatiza com algum partido político? Com qual partido você simpatiza?”. Petistas são
aqueles que responderam que eles se identificam com o Partido dos Trabalhadores (PT).
Entrevistados que se identificam com outros partidos, mas que não são “antipetistas”, foram
classificados como “outros partidários” (Other Partisans no gráfico). Finalmente,
entrevistados que não se identificam com nenhuma das partes, mas não são antipartidários
( Anti-partisan no gráfico) nem antipetista, foram colocados em uma categoria residual
denominada “apartidários” (Non-partisans no gráfico).

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