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Depois da Tempestade

Ricardo Amorim

Nos últimos 7 anos, o Brasil viveu o período mais intenso e desafiador de


toda sua democracia. Presenciamos o fim de um ciclo de crescimento seguido
de mudanças drásticas na economia global e vários erros de irresponsabilidade
do governo. Isso causou uma crise institucional, social e econômica que levou o
país a mais um processo de impeachment.
Nesta obra, o craque da economia Ricardo Amorim guiará você a um fiel
relato de como tudo isso aconteceu até chegarmos ao impeachment. Ano após
ano, o leitor mergulhará dentro do estouro dessa crise e ao mesmo tempo poderá
ver tudo com uma perspectiva histórica. Tudo isso com breves, claras e firmes
opiniões de como o país deve se portar após o término dessa fase apocalíptica.
Quer entender melhor o panorama dos últimos anos, até o impeachment da
presidente Dilma Rousseff? Então embarque nessa jornada com o 12!

A história da formiga e a cigarra… de novo?!


O autor inicia no ano de 2009, quando o ciclo global de economia era
outro. O Brasil era visto como uma potência exportadora de matéria-prima, a
China se tornava uma potência estabelecida e os EUA sentiam os efeitos da
crise que devastou sua economia.
Internamente, essa nova ordem global trazia boas coisas. Investimentos
pesados eram feitos em todo o país. Ao mesmo tempo, muito dinheiro ia para as
áreas estratégicas de infraestrutura e educação.
E apesar de o Brasil apesar de ter crescido pouco neste ano, conseguiu
entrar de vez no famoso clube dos BRICS, termo cunhado para determinar o
grupo de países grandes e emergentes. Era esperado que, dentro de poucas
décadas, esse grupo assumiria a liderança do comércio mundial.
O Brasil sofreu menos consequências da crise global, porém inúmeras
reformas na economia já eram necessárias. Não se sabia até quando que as
commodities puxariam a economia do país para cima.

Retomada do Brasil pós-crise


Apesar do ano de 2009 não ter sido fácil, o ano de 2010 começou muito
bem para o Brasil. Tivemos dados muito positivos do consumo das famílias e
comprovamos o que os economistas já vinham estudando: a ascensão enorme
da população pobre para a classe média e as exportações de matérias-primas
chegando a um patamar nunca antes visto. Ao término do ano, encerramos com
um crescimento de 7,5% do PIB.
A entrada de Dilma
Dilma começou o governo prometendo a implantação da CPMF, um
fantasma que assombrou o bolso do brasileiro por muitos anos. Além disso, a
promessa do governo Dilma a foi de manter o conservadorismo fiscal e o tripé
econômico adotado por Lula e herdado de FHC. Outro compromisso dela foi o
de manter a política de aumento do salário mínimo.
A grande aposta da época foi que Dilma era vista como uma líder mais
técnica do que Lula e que, com isso, o Brasil daria um salto de qualidade na
gestão da máquina pública do país.

A 6ª economia do mundo e as responsabilidades do país


Em 2011, o primeiro ano de Dilma, ela teve um grande desafio: fazer a
indústria continuar a crescer. Porém, ela não diminuiu as nossas reservas
internacionais, o que demonstrou sua falta de visão sobre o que ocorria no setor.
Ela também não propôs melhorias significativas na educação, já que não tentou
resolver o problema da má distribuição do acesso educacional. Especialistas
apontam essa como a principal causa da nossa má distribuição de renda.
O empreendedorismo do Brasil sofreu um salto enorme nos últimos anos.
Causado em boa parte pela ascensão dos MEI (microempreendedores
individuais), que tirou 6 milhões de pessoas da informalidade. Mas o que
melhoraria o cenário geral para abrir empresas? Diminuição de gastos, controle
da inflação e melhor ambiente de negócios. Justamente ações que o governo
não fez.
Vimos, também, o paternalismo estatal entrar em evidência, com a
ampliação dos subsídios que o governo deu para as grandes empresas. Esse
programa pode ser comparado ao bolsa-família, pois, durante seu início, ele
garante a sobrevivência do beneficiário. Depois, porém, desestimula que o
indivíduo busque trabalhar seu potencial e melhorar.
E os resultados dessa política começaram a aparecer na economia, que
em 2011, já sentia sinais de uma grave diminuição que duraria muitos anos.
Somente com condições políticas e muita coragem, este estado paternalista
poderia ser desmontado.

Protecionismo e os pés do tripé econômico serrados


Em 2012, o consumidor brasileiro já começou a sentir fortemente as
consequências das ações do governo para proteger a economia, resistir contra
as regras do mercado e ir contra a livre atuação do capitalismo.
Vimos um encarecimento dos produtos e serviços locais e a perda da
capacidade de compra do brasileiro. O resultado disso foi que o nosso
consumidor invadiu outros países, principalmente os Estados Unidos.
Além disso, a sociedade como um todo começou a perceber a falta de
manobras do governo para conter a crise iniciante. Apesar disso, os dados do
mercado imobiliário apontaram que a bolha não passou de um alarme falso.
O que vimos de mais assustador nesse ano, foram as ações do governo
para serrar os pés do tripé econômico. Aquele criado firmemente em 1999 para
resolver os eternos problemas de estabilidade econômica do Brasil.
Vimos o governo aumentar a influência sobre o Banco Central, diminuir
as taxas de juros apesar da inflação acima da meta e fazer medidas para
controlar o câmbio; causando dificuldades para as metas de superávit primário.
O resultado foi um crescimento de apenas 1% no ano, a frente apenas do nosso
vizinho Paraguai.

Guerra ao capitalismo, protestos e o pré-sal


Em 2013, a indústria brasileira caiu ao menor patamar desde 2008. Os
investidores internacionais já não achavam atrativo investir no Brasil por conta
das regulações e intervenções do governo para limitar o lucro e atuação das
empresas em diversos setores.
O país sofreu também com os protestos de junho de 2013. A partir das
reclamações do aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público em São
Paulo, a população se levantou e foi para as ruas reivindicar muitas outras
demandas, como a melhora da educação e saúde.
Os governos em todos os níveis recuaram com os aumentos e deram
algumas benesses neste momento crítico, mas os danos principais já estavam
causados. Enquanto isso, a presidente Dilma estimulava o confronto às ideias
de oposição ao seu governo e não conseguia buscar conciliação com líderes
políticos para consertar os rumos incertos do país.
Foi aprovada uma lei histórica para destinar os recursos do pré-sal para a
educação e saúde e o Brasil conseguiu uma solução para isso. Apenas no papel.
Já a produção de petróleo, não conseguiu aumentar significativamente.
Em termos de comparação, entre 2009 e 2016, os EUA aumentaram sua
produção petrolífera de 5 milhões de barris para 9 milhões. Já o Brasil aumentou
de 2 milhões de barris para apenas 2,1 milhões no mesmo período. Isso é
resultado das intervenções governamentais que causaram a perda de
capacidade de investimento da empresa. Ganhamos no papel e perdemos no
mundo real.

Estagnação econômica, educação frágil e eleição


O ano de 2014 começa com economia brasileira já demonstrando um
aumento significativo do desemprego. Além disso, já começamos a sofrer
pesadamente com os sinais mais fracos resultantes da baixa produtividade do
trabalhador brasileiro. Quando o país crescia a taxas maiores, não nos
preocupamos em aumentar esse indicador; e era neste momento que o país
precisava dele.
A educação financeira no Brasil é muito ruim. A maioria da população cai
na tentação de gastar mais do que deve e não entende a política perversa de
juros que vivenciamos desde sempre. Mesmo profissionais formados e com boa
renda cometem este erro. O resultado disso é que os níveis de endividamento
começaram a crescer vertiginosamente em todas as camadas sociais. O governo
teve sua participação no problema, com suas políticas de estímulo ao consumo.
Infelizmente essas políticas não foram acompanhadas de um estímulo à
produção.

Com a eleição de 2014, os candidatos prometeram muito mais coisas do que


poderiam executar. Ocorreu muita demagogia e grande parte dos problemas não
foi atacada de frente por eles. Preferiram dizer o que os eleitores gostariam de
ouvir. No curto prazo, isso significa que os protestos de junho de 2013 teriam
suas demandas atendidas. No longo prazo, significava que a sociedade toda
sairia perdendo.

O país rachado e Dilma parte 2


Nos últimos quatro anos do governo Dilma, as contas brasileiras se
deterioraram muito e o Brasil foi o país que menos cresceu na américa latina. E
o pior é que no ano de 2015 o governo precisou fazer o reajuste das tarifas, que
não foram aumentadas devido à eleição. E isso abalou muito a confiança dos
empresários e dos consumidores, chegando ao menor nível em todo o período
de avaliação. Isso causou também um desgaste praticamente irreversível da
presidente, que apesar de ter mudado a condução da economia, não se mostrou
disposta a mudar sua postura política.
Após o processo eleitoral, o país se dividiu como nunca. Muitos
responsabilizaram a vitória de Dilma pelos votos nas áreas mais pobres e menos
avançadas do país. Realmente, os dados confirmam que áreas onde as famílias
são mais vulneráveis, foram as que mais destinaram votos para a petista. Porém,
há de se ressaltar que o problema da crise é vivenciado por todos e existe a
necessidade de união para resolver isso. Por outro lado, a parte boa de todo o
processo eleitoral é que os brasileiros aprendem a ser mais críticos e a
acompanhar mais de perto os seus políticos.

Corte de gastos, terceirização e a lava-jato


Com um novo ministro da fazenda, o governo prometeu que faria os cortes
urgentes para aumentar a confiança do mercado. A ideia principal era manter
uma meta de superávit das contas públicas em 1,2%. Esses cortes envolviam
muitas situações desconfortáveis para o governo, como mexer na política de
salário mínimo e em gastos tidos como prioritários. E o problema não foi somente
esse: para cumprir seu objetivo, o governo aumentou a tributação em muitos
setores, incluindo o imposto de renda sobre todos os indivíduos.
Com o trabalhador brasileiro sentindo a perda real de renda nos últimos
anos, surge a necessidade de mudança na lei trabalhista. Afinal, de 100% da
força trabalhadora que temos, apenas 51% está empregada. A outra grande
parte está entre os que não procuram emprego e os que não conseguem renda
comprovada. Esse ambiente difícil é explicado pela dificuldade em empregar.
Para se ter uma ideia, a cada R$2 pagos pelo empregador, apenas R$1 vai direto
para o empregado. Apesar de mal vista pelos sindicatos, a terceirização pode
diminuir essa diferença acima e ter muitos benefícios para o trabalhador.
A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de
dinheiro que o Brasil já teve. Já apurou-se que volume de recursos desviados
dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, chegam a bilhões de reais. Além
disso, entra em jogo a expressão econômica e política dos indivíduos poderosos
suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia.
No primeiro momento, foram investigadas 4 organizações criminosas de
doleiros. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas do esquema
envolvendo a Petrobras. Grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam
propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos há pelo menos
dez anos. O processo ainda está em curso, com dezenas de prisões e,
principalmente, o agravamento da crise política e econômica do país.

Resumo de como o país chegou onde chegou e o que fazer de agora em


diante
Chegamos até aqui a partir de várias situações que formam um círculo
vicioso e perverso:
• Os políticos gastam dinheiro que não possuem para manterem-se
no cargo - isso causa falta de credibilidade e as pessoas compram dólares para
se proteger;
• O preço do dólar dobra e a inflação dispara;
• Para evitar que os preços e importações subam demais, o Banco
Central mexe na taxa de câmbio - isso tira ainda mais a credibilidade do governo;
• Além de mexer na taxa de câmbio, o governo aumenta a taxa de
juros, o que desencadeia o aumento da dívida pública - com isso, o Brasil perde
o grau de investimento;
• Com juros mais caros e crédito difícil, as vendas diminuem;
• O resultado é que o PIB despenca e os políticos precisam gastar
mais.
Agora, o país deve tomar atitudes para criar um círculo virtuoso e voltar a
crescer:
• De imediato, deve reduzir drasticamente os gastos públicos - isso
melhoraria as contas e principalmente a credibilidade e confiança do investidor;
• O investidor pode se aproveitar das oportunidades, já que o país
está relativamente barato para investir;
• Com mais investimentos, é provável que haja mais emprego e mais
consumo;
• Com mais vendas, o PIB aumenta e puxa a arrecadação para cima;
• Enquanto isso, a procura por dólares cai e os produtos importados
barateiam, o que diminui a inflação;
• O BC diminui a taxa de juros e estimula ainda mais o consumo;
• As contas nacionais melhoram com a maior arrecadação.
Os novos líderes
Mudanças duradouras não acontecem de uma hora pra outra. Razões
políticas e econômicas da crise já foram levantadas. Porém, uma razão estrutural
ainda não foi falada, que é a falta de formação de novas lideranças no país.
Grande parte dos problemas que tivemos foi ocasionada pela nossa inabilidade
de propor novas agendas e reformas.
A falta de liderança da presidente, que ocasionou sua derrocada, é o
maior exemplo. Ela entrou como candidata pelo partido por não haver outras
opções, e saiu por ter deixado o país também sem escolha. Enquanto isso, os
políticos oposicionistas ficaram manchados pelas denúncias de corrupção e com
medo do grande dano que a operação lava-jato causou em suas reputações.
Metade dos congressistas está sendo investigada pela justiça.
O setor empresarial, por sua vez, se beneficiou das ações estatais por
muitos anos e se manteve calado. Foi uma escolha covarde, ao invés de manter
uma postura combativa. O vácuo de lideranças também pode ser visto em todas
as categorias.
A parte boa é que sempre quando houveram graves crises políticas e
econômicas no Brasil, tivemos mudanças significativas com o aparecimento de
novos líderes. É necessário, então, aproveitar essa oportunidade e discutir como
é o novo perfil de liderança que o país precisa para preencher o vazio recente.
São necessárias três qualidades essenciais de nossos líderes hoje:
valores éticos para que não se repitam episódios recentes de corrupção, paixão
pelo propósito de vencer desafios; e visão de longo prazo para não resolver
apenas os problemas mais urgentes, mas manter o sonho das futuras gerações.

Notas finais
Depois de tanta informação negativa e constatações às quais ninguém
gosta de chegar, o autor conseguiu abranger os desafios que o país enfrenta
para colocar a casa em ordem. Depois da tempestade que passamos, espera-
se uma recuperação econômica forte e constante. Mas para isso precisamos de
tempo, esforço planejado e muita coordenação dos líderes que conduzirão o país
a partir de agora.

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