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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Roberto Alexandre da Silva Junior

"A CRISE NO BRASIL"

Resenha do artigo de Perry


Anderson apresentada para a disciplina
História do Brasil Republicano: do Estado
Novo aos dilemas do Brasil Contemporâneo,
no curso de licenciatura em História, da
Universidade Federal do Maranhão –
UFMA.
Prof. Me. Wagner Cabral da Costa

São Luís/MA 2017


O historiador inglês, Perry Anderson, no dito artigo, toma para si a difícil tarefa
de analisar a tamanha “teia” de ambientação, entre os fatores que culminaram na atual
crise política e econômica no Brasil. Situação essa, que por vias de interpretação, tem em
seus tons cômicos e dramáticos, permanecido viva entre os debates fervorosos nos quatro
cantos da nossa República, sistema esse, que tem na prática brasileira suas
particularidades, em relação com os demais países que o adotaram (como é bem dito no
artigo, em nenhum lugar o Executivo se separou tanto do Legislativo como no Brasil).
Então, para entender, como se deu as atuais polarizações, que em diversas facetas se auto
intitulam (um posicionamento mais contundente) e a pejorativizar o oposto (com termos
chulos e piadista), com já clássicos personagens que encabeçam militâncias, partidárias
ou populares (ou os dois juntos). Assim, para situar personagens marcantes, de Lula à
Moro, de Dilma à Cunha, movimentos sociais e religiosos, de escândalos como o
“Mensalão” ao “Petrolão”, além da “Lava-Jato” e seus diários protagonistas. Anderson
concatena toda essa confusão a partir da crise financeira e recessão econômica que em
2008, no governo Lula, desestabilizou uma economia global, que era tida como sólida. A
eleição de 2010, vencida por Dilma Russeff, escolhida por Lula, ainda demonstrava uma
popularidade, desfrutou de um índice de aprovação de 75% em meados do primeiro
mandato, algo que em 2014, não aconteceu. Analisando esse período, em que três meses
após a apertada reeleição, a imagem que mais se via em veículos de comunicação, eram
de grandes manifestações, “panelaços” e “buzinaços”.
Como chegou a esse ponto? Para responder, Perry faz um amplo contexto
econômico, que amiúdes pode ser exemplificado, com um crescimento de 7,5% em 2008,
para apenas 1% em 2012, além do velho fantasma da inflação, que trazia consigo fortes
traumas e nenhuma saudade, ultrapassando os 6% em 2013. Rapidamente a aprovação do
governo caiu para a metade. E reagindo ao fim da bonança do comércio exterior, o
consumo doméstico também entrou em declínio. Um baque na principal estratégia do PT,
que foi expandir a demanda interna ao aumentar o poder de compra das classes populares.
Sem o retorno esperado, em 2011, o alvo da nova matriz econômica foi estimular a
economia a partir de um aumento nos investimentos, o que resultou com dois maiores
bancos privados do Brasil, Itaú e Bradesco, valendo duas vezes a Petrobrás e da Vale, as
duas principais empresas extrativas do país. Ainda assim, não foi suficiente para manter
o apoio dos industrialistas e dos banqueiros. Contra essa frente, os sindicalistas ficaram
mais ativos no governo Dilma. Entre as estratégias para melhorar os indicativos que
demonstram os resultados obtidos pelos projetos de governo, a compra de eletrônicos,
bens de consumo e veículos foram estimuladas (a compra de automóveis recebeu
incentivos fiscais). A bolha de consumo se transformou numa dramática bolha
imobiliária, Entre 2005 a 2014, o crédito para a especulação imobiliária e construção civil
aumentou vinte vezes; em São Paulo e no Rio de Janeiro os preços por metro quadrado
quadruplicaram. Mas isso, por sua vez, não reduz a escala da crise a qual o PT está agora
envolto, que não é apenas econômica, mas também política.
A conjectura da crise econômica e política, é compreendido com toda a
representação sobre o PT, que apesar de toda a moderação da campanha de Lula na
presidência, era visto – e ainda é – como um partido radical, posicionado à esquerda do
verdadeiro pântano que domina o Legislativo. O PT tentou compensar a falta de parceiros
naturais, criando assim um sistema de estímulos materiais para cooperações dentro do
Congresso e por uma moeda de troca mais barata: ou seja, usando de mesadas para não
usar de lugares específicos dentro do governo. Quando esse esquema veio à tona em 2005,
o chamado escândalo do ‘Mensalão’ (ou seja, de pagamentos mensaisaos deputados) fez
com que Lula perdesse o apoio do eleitorado de classe média e por muito pouco não
terminou precocemente com sua primeira presidência. O PT não teve outra escolha senão
recuar e aceitar a solução que tanto temia em abraçar: o PMDB então entrou no bloco do
governo, garantindo assim alguns importantes ministérios e postos centrais no Congresso,
e assim permaneceu até o primeiro mandato de Dilma e no primeiro ano do segundo
mandato.
Contudo, isso não significa que a corrupção tenha diminuído e sim que ela
aumentou drasticamente. E para entender a força que seu combate reuniu, vamos
acompanhar Anderson na análise desses escândalos. A delação premiada foi introduzida
no Brasil; a prisão cautelar, um antigo poder judiciário usado para lotar as cadeias do país
com pobres, tornou-se pela primeira vez um instrumento aceitável para dobrar aqueles de
classes superiores; e as sentenças na primeira instância não podiam mais ser deferidas por
intervenção do Supremo, o que permitia apressar as prisões. Em 2013, gravações feitas
num caixa de uma empresa de lavagem de carros (um ‘lava-jato’) em Brasília levou à
prisão de um contrabandista com longa ficha criminal. Mantido em Curitiba, na região
Sul, para proteger sua família, esse ‘doleiro’ passou a revelar a escala do sistema de
corrupção da Petrobrás, na qual ele havia sido um dos principais intermediários na
transferência de recursos entre contratantes, diretores e políticos dentro e fora do país. Os
três principais partidos envolvidos – eles eram sete no total – foram o PMDB, o Partido
Progressista (PP, um partido oriundo da Ditadura) e o PT.
Liderando o ataque ao ‘Petrolão’, a equipe investigativa de Curitiba se tornou,
assim como os juízes e policiais de Milão que os inspiravam, verdadeiras estrelas
midiáticas. Jovens, de cara limpa, queixos quadrados, beneficiando-se de seu treinamento
legal em Harvard, o juiz Sergio Moro e o promotor Deltan Dallagnol pareciam saídos
direto de um desses seriados americanos de tribunais. O escândalo da Lava Jato estourou
de fato na primavera de 2014 e sucessivas prisões e acusações chegaram às manchetes
durante a corrida presidencial no outono. Surfando na onda das manifestações massivas
contra Dilma, os dois principais grupos dessa direita radical – ‘Vem Pra Rua’ e
‘Movimento Brasil Livre’ – modelaram suas táticas assimilando elementos do
‘Movimento Passe Livre’, um movimento de extrema-esquerda que desencadeou os
protestos de 2013, inclusive com o MBL deliberadamente fazendo um acrônimo com o
MPL. No horizonte de toda essa situação, há também a ambígua nébula de uma nova
religião. Mais de 20% dos brasileiros atualmente são convertidos a alguma variedade de
protestantismo evangélico. Verdadeiros balcões de negócios que ficam ordenhando o
dinheiro de seus fiéis para erigir verdadeiros impérios financeiros para os seus
fundadores. Numa espécie de Wall Street religiosa – onde ocorrem performances de
melodramáticos exorcismos nos telões e em que os fiéis cantam e oram, ultrapassa mais
de 1 bilhão de Dólares. A bancada evangélica no Congresso, cerca de18% dos deputados,
inclui congressistas de 22 partidos. Seus principais interesses residem em garantir
concessões de rádio e televisão, evasão fiscal para igrejas e acesso à zoneamento urbano
para a construção de monumentos faraônicos.
Essa reflexão, que a cada dia ganha novos contornos e memes, é o retrato da
preocupação que divide o Brasil, a dita “história do tempo presente”, nos assombra, e a
pressão por compreender e interpretar todo o jogo de interesses que constrói a nossa
Unidade Federativa, é o atual fardo dos que escolheram o ofício de historiador.

Artigo publicado originalmente na edição de Abril da London Review of Books


(hFp://www.lrb.co.uk/v38/n08 /perry-anderson/crisis-in-brazil). A tradução é de Fernando
Pureza, para o Blog Junho (hp://blogjunho.com.br/criseno-brasil/).

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