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Capitalismo

 dependente:  três  golpes.  


Miguel  Borba  de  Sá  
Instituto  PACS/Jubileu  Sul  

Após ser eleita em 2010 para a Presidência da República e figurar na capa da


revista Forbes em setembro de 2012 como símbolo (capitalista) de mulher em posição de
poder mundial1, Dilma Rousseff (PT) tornou-se, em menos de dois anos, alvo de intensa
campanha midiática de difamação, cujo objetivo declarado era culpá-la pela suposta “mais
grave crise econômica da história do país”2. Desde sua reeleição em 2014, as oposições de
direita ao seu governo dedicaram-se a inviabilizar sua gestão mediante um bloqueio
legislativo no congresso nacional, além de pressioná-la pelo judiciário (tradicionalmente
elitista) e desestabilizá-la através da imprensa e organizações conservadoras da sociedade
civil brasileira. Em maio de 2016 conseguiu-se afastar, temporariamente, a presidenta eleita
e um novo governo, encabeçado pelo vice Michel Temer tomou posse, dando início a uma
série de cortes de direitos e à reformas econômicas de caráter ultraliberal. Antes festejada
pelas elites corporativas, Dilma terminou sofrendo um verdadeiro golpe, ou melhor, três: um
de azar, outro de traição e, por fim, também um golpe de ideologia.

O golpe de azar veio com a brusca inversão no comportamento dos preços do


petróleo no mercado mundial, ao qual estão atrelados uma série de outros preços
importantes para a economia brasileira, em especial o das commodities agrícolas e
minérios. A trajetória ascendente das cotações petrolíferas parecia inabalável desde a
grande alta iniciada em 2003, concomitante à invasão norte-americana do Iraque, seguida
das sanções contra Irã e Rússia e da destruição da Líbia em 2010 - totalizando quatro dos
maiores produtores mundiais afastados do mercado, em maior ou menor grau, durante
quase uma década. No entanto, os preços que alcançavam U$ 140 por barril às vésperas
da crise financeira de 2008 caíram drasticamente e, após uma recuperação tímida, voltaram
a baixar com força em 2016, sendo cotados a menos de U$ 30. A economia brasileira
refletiu parte dessa queda, experimentando retrações em seu crescimento, assim como a
de outros países latino-americanos como Equador, Bolívia e, principalmente, Venezuela,
que dependem demasiadamente da renda advinda das exportações hidrocarburíferas e
preços a ela cominados. Analistas de relações econômicas internacionais apontam para a
sobre-oferta, somada a uma “guerra de preços” 3, atrelada à “guerra cambial” e, sobretudo,
transformações geopolíticas de fundo no mapa do Oriente Médio e Cáucaso, como fonte de
tamanha alternância para baixo no patamar de preços4.

Tomando este último ponto como particularmente relevante, pode-se entender o


golpe de azar sofrido por Rousseff: a manobra geopolítica envolvendo o preço do petróleo
(já usada com sucesso contra a antiga União Soviética nos anos 1980) não tinha o Brasil
como alvo. O objetivo norte-americano e de seus aliados na OPEP, em especial a Arábia
Saudita, era antes de tudo enfraquecer os regimes russo, iraniano e, com sorte, propiciar a
conveniente caída do governo bolivariano na Venezuela também. No entanto, tais
economias-alvo conseguiram sobreviver aos ataques imperiais, a duras penas, assim como
suas lideranças políticas, que nos três casos mencionados também envolveram a aplicação
direta de sanções econômicas – o rublo chegou a desvalorizar 50% entre 2014 e 20155. O
resultado desta guerra cambial-petroleira internacional continua indefinido no Oriente Médio
e nas bordas da Ásia Menor entre Rússia e Irã mas, na América Latina, seus efeitos
colaterais surtiram efeito político imediato: o discurso da “crise econômica” (bem distinto da
crise real, por sinal) serviu de substrato para as tentativas de golpe no Brasil, Equador e
Venezuela, assim como para a vitória presidencial de um representante direto do
empresariado associado ao capital transnacional na Argentina. No caso do Brasil, que não
era alvo prioritário desta estratégia, a repercussão da queda brusca dos preços6 acabou
somando-se a outros fatores, em especial uma forte crise na Petrobras7 que possivelmente
reduziu a quantidade de dinheiro disponível para corrupção e gerou, com isso, uma
insatisfação generalizada na elite política que gozara desde os anos 1990 de considerável
liquidez para seus negócios pessoais8. O resultado foi a precipitação da queda de Rousseff,
tida como indesejável pela oposição de direita há menos de um ano9.

O segundo golpe foi eminentemente político, o que significa dizer que se tratou de
um clássico golpe de traição palaciano: um complô armado no seio do próprio governo, em
conluio com setores mais reacionários da oposição de direita ao PT no congresso,
simbolizados pelas “bancadas da bala, da bíblia e do boi”10, e na sociedade civil, onde se
organiza uma “nova direita” nas igrejas e suas empresas associadas, nos círculos militares
mais conservadores e, claro na grande mídia corporativa e demais aparatos ideológicos
neoliberais. O fato do PT ter se esforçado, desde que chegou ao poder, para agraciar como
pudesse os mais variados setores do empresariado nacional e estrangeiro não significa que
essa tarefa seja, na prática, realizável: é impossível contemplar a todos os capitalistas ao
mesmo tempo, especialmente em tempos de “crise”. O fator petróleo antes mencionado
serve como indicador para esta mudança no comportamento do empresariado:
gradativamente, um por um, os diferentes setores e associações corporativas transitaram
em direção à “solução” para a crise apresentada pelos setores políticos dispostos a tomar
de assalto o poder executivo nacional para si: o impeachment de Rousseff e o fim da era PT
no governo federal.

A provável retomada dos preços do petróleo até o fim do ano de 2016 (nem os EUA,
nem seus aliados podem suportar um preço tão baixo por muito mais tempo) fez com que
um desacreditado grupo de políticos, notadamente corruptos, lograsse atrair o apoio das
elites econômicas para sua manobra golpista a tempo, ou seja, antes que os preços (e as
receitas governamentais) subissem novamente. A permanência e o nível de estabilidade do
novo regime puramente neoliberal brasileiro depende, em grande parte de quanto a
economia internacional voltará a crescer – e quando. Caso os sinais de reaquecimento (nos
EUA e China, especialmente) não voltem a aparecer logo, é possível que a coalizão
temporária de interesses que foram reunidos em torno do linchamento de Rousseff se
desfaça em meio a uma crise verdadeiramente institucional, cujos desdobramentos ainda
não se pode prever, mas já que são prudentes de se temer: diante de um possível “caos”
social e da polarização política crescente, ataques de comandos proto-fascistas à militantes
de esquerda estão se tornando comuns11 e quando houver uma resistência mais decidida
dos movimentos, a escalada de conflitos pode abrir a porta para soluções de força e
exceção a fim de desatar o Nó Górdio do impasse político que se avizinha. As gravações do
ex-ministro, Romero Jucá, revelam a proximidade de “generais” do Exército com a
articulação golpista, em diálogo que se referia nominalmente à ações repressivas já
desenhadas contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)12.

O terceiro e último golpe sofrido por Rousseff foi o mais grave de todos, pois é o
mais profundo e com conseqüências mais duradouras para a sociedade brasileira,
especialmente para sua esquerda política. Trata-se do golpe de ideologia que criou as
condições de possibilidade sem as quais o afastamento de uma presidenta da república
seria impensável. É este golpe ideológico que deve nos interessar mais, pois é ele que
confirma o caráter reacionário da operação política em curso. Uma análise discursiva pode
capturar a ideologia do golpe neoliberal como se fosse enunciada da seguinte forma:

1. O PT é um governo de esquerda que, portando, incha a máquina pública com gastos sociais
populistas, com o aparelhamento do governo por seus “companheiros” partidários, sindicais e
dos movimentos sociais, Isso causa, invariavelmente, corrupção e ineficiência na gestão.

2. O Brasil vive atualmente “a mais grave crise econômica de sua história”, com “inflação
galopante” e “10 milhões de desempregados”. E a culpa é do governo petista, que não teria
sido capaz [neoliberal] o suficiente em sua gestão econômica, ou quando tentou ser (com o
ajuste fiscal de Joaquim Levy, em 2015) já era tarde demais. A culpa da crise foi, nessa
lógica, o esquerdismo “bolivariano” do PT.

3. O melhor exemplo que desta conexão esquerda-corrupção-crise seria o caso das “pedaladas
fiscais de Dilma”.

4. A solução para “salvar” o Brasil, portanto, é o afastamento imediato da presidenta (e a asfixia


de todo tipo de esquerdismo no governo e na sociedade) abrindo as portas para a
implementação de um plano econômico ultra-ortodoxo capaz de recuperar a confiança dos
mercados.

5. A médio e longo prazo a lição que fica é direta: se não quisermos entrar de novo numa grave
crise, o único caminho é resistir às tentações do “populismo de esquerda”, simbolizadas no
curto prazo por Lula e o PT, mas posteriormente, por qualquer liderança ou movimento
político que tenha raízes populares, contra-hegemônicas ou anticapitalistas.

Visto desta perspectiva, o golpe ideológico atinge à toda a esquerda e segmentos


em luta. Não fere somente o PT e as esquerdas atuais, mas também as futuras. Não só as
brasileiras, como as latino-americanas também, ao redefinir os termos do debate em uma
direção firmemente conservadora e identificar no bolivarianismo a fonte de todos os males
econômicos e políticos do nosso continente. Ao endossar tão rapidamente o “discurso da
crise” propagado pela direita, as oposições de esquerda ao governo de Rousseff acabaram
contribuindo para um golpe contra elas mesmas: sem um contra-discurso nítido, unificado e
comunicável sobre as verdadeiras raízes capitalistas da crise, termina-se reforçando
inadvertidamente o conteúdo da ideologia neoliberal que identifica na falta, e não no
excesso, de capitalismo (mercados, privatizações, flexibilização...) a explicação para toda e
qualquer crise. Alguns dentre nós o fizeram conscientemente, por mero oportunismo, dada
uma situação em que prometia dividendos políticos para quem instrumentalizasse o
ressentimento com a “crise da Dilma” para si. Outros o fizeram por despreparo e
ingenuidade frente ao ataque ideológico violento que, por sinal, continua sua escalada de
discursos e atos de ódio contra tudo o que contenha mínimas referencias à esquerda, ao
socialismo, ao feminismo, à negritude, ao amor livre, à natureza, aos direitos humanos... e
até à cor vermelha em si13.

É certo que nem todos os que defenderam o impeachment se alinham com a


totalidade da agenda neoconservadora que está na ofensiva atualmente. Talvez somente
os mais fervorosos admiradores de Bolsonaro reúnam todos os ingredientes do discurso de
direita que aspira à hegemonia no Brasil hoje. Mas se entendermos que o poder do golpe
ideológico que afastou Rousseff depende de certa totalidade discursiva, então fica fácil
compreender que qualquer capitulação frente a um dos seus componentes terminou
servindo, metonimicamente, como rendição efetiva diante do projeto político
ultraconservador como um todo. Era preciso ter denunciado todos e cada um dos tropos do
discurso ideológico golpista com firmeza, e sem exceção, enquanto era tempo.

A aceitação passiva da cunhagem escandalosa pela grande mídia de um termo


nunca antes utilizado - “pedaladas fiscais” - foi o erro mais grave do PT e da esquerda
radical fora do governo. Assim que as “pedaladas” (termo não pertencente ao jargão técnico
contábil14) firmaram-se como significante-mestre que articula em torno de si os outros
componentes do discurso, neste instante, o golpe tornou-se possível, quiçá inevitável15. O
termo disseminou-se com velocidade incontrolável por capas de jornais, pronunciamentos
no congresso e verbalizações do judiciário, debates televisivos e radiofônicos, conversas
cotidianas na rua e até mesmo chegou a constar no pedido oficial de impeachment lido por
Eduardo Cunha16 ao aceitar o processo na Câmara dos Deputados, em retaliação ao apoio
do PT ao processo que pedia a cassação de seu mandato por haver mentido em relação à
contas na Suíça (apresentado pela bancada do PSOL, semanas antes). Sobre as contas na
Suíça ninguém quis ou conseguiu forjar nenhum neologismo político incriminador (suiçada,
por exemplo), como haviam sido as “pedaladas” em relação à presidenta. Resultado:
Rousseff caiu; mas Cunha seguiu bem mais resiliente.

Este terceiro golpe continua em curso. E parece que irá se afirmar independente do
desfecho do processo de impeachment no Senado Federal. E é contra ele que devemos
lutar. Ele se aprofundará caso o governo Temer consiga se afirmar, mas também
permanecerá intacto caso Rousseff volte a ocupar o lugar para o qual foi escolhida pelo
voto popular. E esta é a dificuldade que o momento coloca: como resistir a um golpe
ideológico que não parece encontrar um adversário ideológico de peso, à sua altura.
Enquanto a esquerda, moderada ou radical, seguir aceitando os termos do debate impostos
pela direita; enquanto o terreno discursivo estiver tomado pelo senso-comum capitalista, é
provável que neoliberalização da sociedade brasileira torne-se um processo automático e
virtualmente sem-fim à vista.

O grande responsável por este cenário temeroso é o próprio PT, em especial a


figura de Lula, que se esforçou durante mais de uma década para impor aos movimentos
sociais e setores populares a ideologia do capitalismo em suas mais variadas versões
(consumo, crescimento, empreendedorismo, modernização, patriotismo, filantropia) como
se fossem os horizontes máximos a que poderíamos aspirar. Foi este edifício ideológico
capitalista que desabou, com toda sua ingratidão burguesa, sobre o próprio PT de Lula
quando a tarefa de neoliberalização das mentes já estava suficientemente avançada,
tornando o petismo descartável em nível de governo federal. O sucesso capitalista de Lula
e Rousseff passou para ambos; mas o capitalismo em si permanece mais forte do que
antes. Esse é o pior golpe.

Prova disso é que mesmo sem saber o que fazer com o “discurso da crise” até que o
PT seja confirmadamente deposto do executivo federal, o empresariado monopolista
nacional, dependente e associado ao capital estrangeiro, segue expandindo suas atividades
e investimentos no Brasil. Ao contrário do que informa o “discurso da crise” e desafiando os
prognósticos de muitos analistas de mercado, alguns megaempreendimentos industriais
começam – na contra-mão da versão ideológica dominante da história recente do país – a
dar resultados contábeis favoráveis justamente nesta hora. É o caso do Porto do Açú, no
Rio de Janeiro, complexo industrial-logístico idealizado por Eike Batista e agora gerido por
um fundo de investimentos norte-americano (Prumo Logística Global), que passou a
reportar seus primeiros lucros no segundo semestre de 201517 e novamente em 201618.
Outro exemplo pode ser visto na postura da ThyssenKrupp, a centenária gigante alemã do
ramo do aço e seus derivados. Em entrevista recente19, Paulo Alvarenga, CEO da
subsidiária da empresa no Brasil (ThyssenKrupp Industrial Solutions) revelou que mesmo
diante dos transtornos e prejuízos advindos com a problemática Companhia Siderúrgica do
Atlântico (TKCSA), no Rio de Janeiro, os alemães continuam acreditando que podem
“conseguir bons negócios no país” e que a “companhia está fortalecendo sua área de
soluções industriais para trazer ao país as tecnologias oferecidas no exterior”. Para o
mercado de óleo e gás, o executivo afirma, entusiasmado, que a empresa “observa as
chances de negócio no Brasil” devido às “oportunidades existentes na região”. Trata-se de
uma movimentação típica do capitalismo dependente, na qual as empresas monopolistas,
especialmente as transnacionais, utilizam a crise econômica para aumentar suas fatias de
mercado e seu poder sobre um sistema econômico como um todo.

Para os setores monopolistas estrangeiros e seus sócios-menores brasileiros, “crise”


é sempre uma oportunidade (às vezes deliberadamente fabricada) para aumentar o grau de
concentração e centralização de capitais em determinados setores e atores-chave.
Entender bem esta dinâmica é fundamental para tentar resistir à ela, coisa que não foi bem
realizada pelos que depositaram esperança que a “crise econômica” pudesse deter o
processo de transformação de alguns territórios (como São João da Barra, no noroeste
Fluminense, ou a Baía de Sepetiba, ao sul do estado) em enclaves industriais-exportadores,
responsáveis pela expropriação das comunidades locais e a destruição acelerada das
condições naturais anteriormente existentes. Portanto, não é a crise capitalista que irá
interromper a marcha da modernização conservadora; aliás, pelo contrário, ela tende a
induzir novas rodadas, mais freqüentes e profundas, de associação dependente no âmbito
do capitalismo brasileiro. Os investidores mudam, os projetos seguem.

Diante deste cenário, as esquerdas brasileiras parecem um tanto desorientadas com


relação à interpretação dos fatos e à qual tática adotar. Muitos afirmavam até a véspera da
votação da câmara (17/Abril) que não havia um golpe em curso. Outros insistem nesta tese
até hoje, com maior ou menor timidez, o que é surpreendente diante das revelações dos
próprios conspiradores vazadas à imprensa e que confirmam o golpe20, assim como das
declarações do próprio presidente interino em sua conta do Twitter a respeito21. A falta de
um discurso próprio sobre a economia do país e sobre a verdadeira natureza da crise que
assola aos trabalhadores e trabalhadoras está cobrando um preço caro. Ao embarcar na
crítica direitista do PT, num processo iniciado com as “Jornadas de Junho de 2013” e
repetido novamente em 2015-2016, as esquerdas brasileiras oferecem um serviço gratuito
ao imperialismo e ao próprio projeto petista de se firmar como única alternativa possível, já
que dentro da ordem, ao neoliberalismo extremado que o governo Temer busca
representar. É o espectro político como um todo movendo seu centro de gravidade
decididamente para a direita, num movimento que inclui, perigosamente, também a
esquerda radical.

Está na hora da esquerda radical (aquela à esquerda do PT) recuperar os termos do


seu próprio discurso sobre a realidade, que lhes foram roubados pela ideologia dominante.
Não dá para esperar o PT fazer isso, pois ele não irá fazer nenhuma guinada à esquerda.
Mas é preciso fazermos algo nós mesmos, deixando de nos escusar eternamente via o
bode expiatório petista, sem que tenhamos logrado ao menos articular um discurso que
explicasse às massas que o problema do PT foi ter abandonado o socialismo, e não que
seu erro foi tê-lo implementado, como o senso-comum reacionário atualmente apregoa com
sucesso espantoso. Mas é um sucesso que depende em parte de nós: se o paradoxo de
viver em uma sociedade macharthista sem que haja comunismo real não foi desmascarado;
se o Olavo de Carvalho influencia a cada dia mais jovens com suas teses esdrúxulas sobre
a conspiração comunista mundial que uniria o PT às FARC ao PC chinês (e sabe-se lá mais
à qual alucinação), se tudo isso cresce ininterruptamente, em algo estamos errando
grosseiramente.Temos que assumir nossas responsabilidades também. Enquanto não
aprendermos a criticar o PT sem jogar água no moinho da extrema-direita, melhor seguir
criticando apenas a direita que se assume enquanto tal.

Sem isso, parece inútil formar apressadamente “frentes de esquerda” que, não
surpreendentemente, mal conseguem se enraizar e cujos atos de repúdio ao governo
golpista e às políticas neoliberais têm sido esvaziados. Atos voluntaristas e honrosos, mas
vitoriosos apenas no plano puramente estético e que permanecem derrotados na disputa
por hegemonia, propriamente dita, nas dimensões política e social. O dilema que persiste é
que não basta criticar o PT pra sempre. Menos ainda sem que a crítica tenha um conteúdo
inequivocamente anti-capitalista que possa ser comunicável na sociedade de massas. Até
lá, como somente as críticas neoliberais ao PT conseguem espaço na “opinião pública”, a
tática vacilante da esquerda radical acaba sendo uma em que sua fixação em combater o
governismo volta-se contra ela própria na forma de uma critica generalizada à esquerda em
si, a tudo na esquerda, todos as/os militantes de qualquer área ou setor, a ponto de nem
mesmo lutadores sociais combativos quererem mais assumir tais rótulos (esquerda,
socialismo, militantes) para si. O que sobra no senso-comum é que se algo está errado no
país, e no mundo, então a culpa deve ser da própria esquerda, um estado ideológico de
coisas que bloqueia a formação de blocos históricos contra-hegemônicos e sólidos.
É preciso enfrentar frontalmente esse dilema. Ele não é simples e a resposta não
virá toda de uma vez, terá que ser construída na prática. Se não queremos repetir o projeto
do PT, qual projeto queremos? O mesmo do PT só que sem corrupção? Isso é o que os
próprios petistas falaram durante os anos 90 inteiros, que seu diferencial era a “ética na
política”, enquanto iam aos poucos cedendo terreno ideológico para as diversas ‘verdades’
hegemônicas do mundo do capital em tempos de globalização. Não deu certo: não parece
ser possível fazer concessões pontuais ao imaginário capitalista sem correr o risco de
terminar dominado por este mesmo imaginário algum tempo depois – e pelos poderes
materiais que o sustentam política e financeiramente. Diante disso, uma das tarefas da
esquerda atual que parece mais urgente, antes de fundar, cindir ou re-fundar mais
organizações, frações ou coletivos, é exercitar a crítica das manifestações contemporâneas
da ideologia liberal de forma mais sistemática e atenta. Identificar as operações ideológicas
dos agentes da direita é condição necessária para recuperar a “autonomia cultural” que
Marx considerava como pré-condição inescapável para não se perder nos labirintos da
política burguesa22.

Um aspecto que não resolve tudo, mas certamente está fazendo falta, é a
incorporação da dimensão internacional em nossas análises da realidade. Quando
aparecem, tem sido na forma de traços escolhidos aleatoriamente para confirmar algum
argumento pré-concebido, como por exemplo no paralelo tantas vezes feito entre a luta pelo
Geizi Park em Istambul com as Jornadas de Junho, em 2013 – sem, no entanto, tratar de
NENHUM aspecto da política ou da história turcas além daquele aparente paralelismo. Este
método é a senha para estabelecimento de comparações espúrias que não enriquecem as
análises. Apenas parecem confirmar a ilusão analítica e as tática duvidosas, que muitas
vezes podem estar erradas (como estavam em junho de 201323). Mas a pior parte não
acontece quando se tenta comparar transnacionalmente sem muito rigor, mas quando se
permanece ignorando olimpicamente a situação internacional, o que é mais comum. Não se
trata de mero fetichismo por este ou aquele “nível de análise”, mas do reconhecimento de
que não se pode fazer uma política anti-capitalista hoje sem ter plena noção do que
significa e como opera o imperialismo em sua atual fase de expansão global, que supera
em muito o que a imaginação de Lênin, Luxemburgo ou Kautsky poderiam conceber há um
século atrás.

Um sintoma recorrente desta debilidade analítica e tática que a cada dia mais cobra
seu preço é a falta de solidariedade lamentável que a esquerda brasileira continua
apresentando em relação às investidas agressivas do imperialismo yankee contra o
processo bolivariano na Venezuela. Existe certa vergonha ou timidez que contamina
diversos intelectuais, setores e organizações da esquerda quando o tema é a Venezuela. A
ignorância acerca do significado geopolítico dos ataques ao chavismo pelos EUA mostra o
quanto ainda estamos despreparados para enfrentar o rolo compressor imperial-capitalista
de nosso tempo histórico em nosso lugar latino-americano.

Sem a crítica da ideologia imperial-capitalista não produziremos táticas nem


estratégias adequadas, uma vez que não estaremos equipados para diferenciar
corretamente adversários de possíveis aliados. Não saberemos nem ao certo classificar
quem é de direita e quem seria de esquerda em cada momento histórico, um alerta já feito
por estudiosos do sistema-mundo há 40 anos atrás:

As lutas políticas de etno-nações ou segmentos de classes dentro de


fronteiras nacionais são, certamente, o pão com manteiga diário da política
local. Mas seus significados ou conseqüências só podem ser frutiferamente
analisados se soletrarmos as implicações de suas atividades
organizacionais ou demandas políticas para o funcionamento da economia-
mundo. Isso também torna possível, quem sabe, uma avaliação mais
racional destas políticas em termos de algum conjunto de critérios de
24
julgamento, como “esquerda” e “direita”.

Desconhecer seu oponente (o capitalismo em sua fase imperialista) é o primeiro


passo para sucumbir frente às suas armadilhas. Não saber ao certo qual política adotar em
âmbito internacional traz apenas uma certeza para a esquerda que se pretende radical no
Brasil: a da manipulação pelo inimigo. Pois uma verdade que permanece imutável é que
quem pratica política mas não sabe ao certo qual objetivo está perseguindo, certamente
estará seguindo a política de alguém que saiba.
Referencias e fontes:

                                                                                                               
1
 Ver  revista  FORBES  (set/2014),  disponível  em:  http://www.forbes.com/sites/carolinehoward/2012/08/22/the-­‐worlds-­‐
100-­‐most-­‐powerful-­‐women-­‐2012-­‐this-­‐year-­‐its-­‐all-­‐about-­‐impact/#1216e8fc3dee  
2
  A   afirmação   é   notadamente   falsa,   como   qualquer   historiador   econômico   seria   capaz   de   demonstrar,   sem   dificuldades.  
Além  de  ignorar  a  Grande  Depressão  dos  anos  1930,  a  expressão  “história  do  Brasil”  faz  o  leitor  se  perguntar  se  os  períodos  
colonial  e  imperial  estariam  incluídos  neste  apanhado  histórico  que,  caso  incluídos,  tornam  a  tese  ainda  mais  esdrúxula,  
diante  da  crise  permanente  a  que  é  submetida  qualquer  economia  vítima  do  pacto  colonial.    Ver  a  reportagem  da  Folha  de  
São   Paulo   (16/03/2016),   que   ao   tentar   endossar   essa   tese   acaba   desmentindo-­‐a:  
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/03/1749299-­‐recessao-­‐economica-­‐atual-­‐deve-­‐ser-­‐a-­‐pior-­‐da-­‐historia-­‐do-­‐
brasil.shtml.   Ver   também   a   fala   de   cada   senador   na   votação   do   impeachment,   confirmando   que,   a   fim   de   dar   força   à  
campanha   de   difamação,   fizeram   o   mesmo   discurso   propagandístico,   que   substituiu   o   rigor   da   análise   da   realidade  
empírica   sobre   a   economia   nacional   em:   http://g1.globo.com/politica/processo-­‐de-­‐impeachment-­‐de-­‐
dilma/noticia/2016/05/saiba-­‐o-­‐que-­‐disseram-­‐os-­‐senadores-­‐na-­‐votacao-­‐do-­‐processo-­‐de-­‐impeachment.html  
3
 Ver  reportagem  elucidativa  do  jornal  britânico  conservador  The  Telegraph  em  10/02/2016,  em:  
http://www.telegraph.co.uk/finance/12150638/Russian-­‐oil-­‐giant-­‐hits-­‐out-­‐at-­‐Opec-­‐price-­‐war.html.  Conferir  também  
notícias  da  imprensa  especializada  no  setor,  em:  http://oilprice.com/Energy/Energy-­‐General/Why-­‐Saudi-­‐Arabia-­‐Will-­‐Not-­‐
Win-­‐The-­‐Oil-­‐Price-­‐War.html  
4
 Ver  reportagem  da  rede  norte-­‐americana  CBS  de  01/06/2016,  em:  http://www.cbsnews.com/news/has-­‐opec-­‐won-­‐the-­‐
oil-­‐price-­‐war/.  Para  uma  visão  de  esquerda  sobre  o  tema,  ver  a  matéria  do  Socialist  Worker  de  01/02/2016,  em:  
https://socialistworker.org/2016/02/01/what-­‐you-­‐should-­‐know-­‐about-­‐the-­‐oil-­‐price-­‐war  
5
  Fonte:   http://g1.globo.com/economia/mercados/noticia/2014/12/rublo-­‐despenca-­‐e-­‐operadores-­‐russos-­‐veem-­‐sombras-­‐
da-­‐crise-­‐de-­‐1998.html.   Segundo   a   revista   brasileira   EXAME,   a   desvalorização   foi   de   60%   em   2014.   Ver:  
http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/rublo-­‐despenca-­‐e-­‐pressiona-­‐vladimir-­‐putin  
6
 A  Petrobras  precisa  de  um  preço  de  U$45  para  cobrir  os  custos  de  sua  produção  (break  even)  da  camada  Pré-­‐Sal,  somente  
conseguindo   auferir   lucros   se   os   barris   forem   vendidos   (bem)   acima   deste   patamar.   Ver   reportagem   do   Financial   Times  
sobre   o   tema,   que   também   demonstra   a   confiança   da   Shell   na   recuperação   dos   preços,   em:  
http://www.ft.com/cms/s/0/e8c07066-­‐d3ec-­‐11e5-­‐969e-­‐9d801cf5e15b.html#axzz4DpWFZY5U  
7
  A   crise   na   petroleira   estatal   brasileira   não   pode   ser   dissociada   das   manobras   de   espionagem   industrial   envolvendo   a  
empreiteira   norte-­‐americana   Halliburton,   suspeita   de   roubo   de   informações   sigilosas   da   camada   pré-­‐   sal,   em   2008.  
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,roubo-­‐de-­‐dados-­‐da-­‐petrobras-­‐foi-­‐espionagem-­‐diz-­‐pf,127128  .  Como  é  sabido,  a  
Halliburton   é   comandada   por   Dick   Cheney,   ex-­‐vice   presidente   dos   EUA   durante   o   governo   de   George   W.   Bush,   quando  
invadiram  militarmente  o  Iraque  e  depois  o  reconstruíram  a  partir  de  contratos  exclusivos  da  empreiteira  de  Cheney,  que  
lucrou  U$  39  bilhões  com  a  operação.  A  respeito,  ver:  http://www.dailykos.com/story/2014/6/18/1307821/-­‐Dick-­‐Cheney-­‐
Neocon-­‐War-­‐Profiteer  
O  esquema  completo  de  espionagem  acabaria  sendo  revelado  em  2013  por  Edward  Snowden,  ex-­‐funcionário  da  Agência  
de   Segurança   Nacional   (NSA)   dos   EUA,   que   trouxe   à   público   a   intensa   manobra   de   espionagem   que,   coincidentemente   (ou  
não)   veio   à   tona   justamente   no   mesmo   instante   em   que   montou-­‐se   a   Operação   Lava-­‐Jato,   da   Polícia   Federal,   que   utilizou-­‐
se   de   escutas   até   então   tidas   como   impensáveis,   dos   mesmos   celulares   grampeados   pela   NSA,   incluindo   o   da   própria  
presidenta   da   república.   Ver:   http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/09/petrobras-­‐foi-­‐espionada-­‐pelos-­‐eua-­‐
apontam-­‐documentos-­‐da-­‐nsa.html  
8
 O  Brasil  pode  não  ser  totalmente  dependente  de  preços  de  petróleo  assim,  mas  a  Petrobras  certamente  é,  como  todas  as  
petroleiras,  o  que  certamente  diminuiu  o  dinheiro  disponível  para  corrupção  e  causou  desarranjos  na  elite  política.  
9
  Conferir   as   declarações   do   senador   tucano   Aloísio   Nunes,   em   seminário   do   iFHC,   em   março   de   2015,   reproduzidas   em  
reportagem   do   jornal   Valor   Econômico   de   15/03/2015,   disponível   em:   http://www.valor.com.br/politica/3944096/nao-­‐
quero-­‐o-­‐impeachment-­‐quero-­‐ver-­‐dilma-­‐sangrar-­‐diz-­‐tucano  
10
 Ver  reportagem  do  Estado  de  S.  Paulo  em  25/04/2016:  http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bancadas-­‐da-­‐bala-­‐-­‐
da-­‐biblia-­‐e-­‐do-­‐boi-­‐pressionam-­‐temer,10000027834;   Ver   também   reportagem   da   revista   Carta   Capital,   de   14/04/2015,  
disponível  em:  http://www.cartacapital.com.br/revista/844/bbb-­‐no-­‐congresso-­‐1092.html  
11
 Em  17  de  Junho  de  2016,  um  comando  proto-­‐fascista  camuflados  com  capuzes  e  roupas  militares  invadiu  o  campus  da  
Universidade  de  Brasília  munidos  de  bombas  e  outras  armas,  além    de  entoarem  cantos  racistas,  homofóbicos.  Seu  alvo  era  
uma   confraternização   estudantil   que   ocorria   no   centro   acadêmico   de   sociologia.   da   universidade:  
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2016/06/18/interna_cidadesdf,536839/unb-­‐investiga-­‐
protesto-­‐com-­‐ataques-­‐homofobicos-­‐e-­‐racistas-­‐no-­‐campus.shtml.    
No  início  de  Julho  de  2016,  um  estudante  negro,  LGBT,  bolsista,  de  esquerda  e  imigrante  da  região  norte  do  país  foi  morto  
a  pauladas  dentro  do  alojamento  estudantil  da  Universidade  Federal  do  Rio  de  Janeiro.  O  assassinato  fora  premeditado  e  
executado  conforme  um  email  de  ameaças  enviado  ao  estudante  dias  antes  do  crime.  Ver  reportagem  do  jornal  O  DIA,  que  
                                                                                                               
reproduz   na   íntegra   o   email   dos   suspeitos   do   assassinato:   http://odia.ig.com.br/rio-­‐de-­‐janeiro/2016-­‐07-­‐04/email-­‐para-­‐
estudantes-­‐da-­‐ufrj-­‐ameaca-­‐vamos-­‐comecar-­‐por-­‐um-­‐certo-­‐aluno.html  
12
 O  trecho  da  gravação  é  o  seguinte:  “JUCÁ  -­‐  [Em  voz  baixa]  Conversei  ontem  com  alguns  ministros  do  Supremo.  Os  caras  
dizem  'ó,  só  tem  condições  de  [inaudível]  sem  ela  [Dilma].  Enquanto  ela  estiver  ali,  a  imprensa,  os  caras  querem  tirar  ela,  
essa   porra   não   vai   parar   nunca'.   Entendeu?   Então...   Estou   conversando   com   os   generais,   comandantes   militares.   Está   tudo  
tranquilo,  os  caras  dizem  que  vão  garantir.  Estão  monitorando  o  MST,  não  sei  o  quê,  para  não  perturbar.”,  disponível  em:  
http://g1.globo.com/politica/operacao-­‐lava-­‐jato/noticia/2016/05/em-­‐gravacao-­‐juca-­‐sugere-­‐pacto-­‐para-­‐deter-­‐lava-­‐jato-­‐diz-­‐
jornal.html  
Além   disso,   mal   havia   sido   confirmado   o   afastamento   de   Rousseff,   os   ruralistas   já   pediam   uso   do   exército   contra   os  
movimentos   camponeses,   novamente   mencionando   o   MST.   Ver:   http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/ruralista-­‐vai-­‐
propor-­‐a-­‐temer-­‐para-­‐exercito-­‐atuar-­‐contra-­‐mst  
13
  Ver   matéria   do   Globo   (s/d)   sobre   polêmica   envolvendo   uma   escola   de   Brasília   que   pediu   para   os   alunos   usarem  
vermelho  por  um  dia,  em  meio  a  uma  atividade  contra  o  mosquito  da  Aedys  Egypt,  mas  que  causou  reação  dos  pais,  que  
acusaram   a   escola   de   politizar   seus   filhos   em   favor   do   PT.   Disponível   em:  http://oglobo.globo.com/brasil/bilhete-­‐pedindo-­‐
que-­‐pais-­‐mandem-­‐filhos-­‐vestidos-­‐de-­‐vermelho-­‐para-­‐escola-­‐gera-­‐polemica-­‐1-­‐19058810  
14
 De  onde  vem,  então,  o  termo  “pedalada”?  A  única  resposta  que  existe  é:  do  hábito  da  presidenta  Rousseff,  registrado  
pela  imprensa  diariamente,  de  andar  de  bicicleta  a  fim  de  exercitar-­‐se  pelas  manhãs.  As  fotos  de  uma  mulher  em  posição  
de  poder  (recordar  da  capa  da  FORBES)  divertindo-­‐se,  fora  de  casa,  tornou-­‐se  insuportável  para  o  senso-­‐comum  machista  
brasileiro,   que   automaticamente   associou   a   “crise   econômica”   ao   desleixo   ou   ao   prazer   feminino   de   Rousseff,   que   seria  
supostamente  culpada  pela  crise  exatamente  por  preferir  divertir-­‐se  na  rua  do  que  ficar  “recatada  e  no  lar”,  cuidando  da  
família  brasileira.  Trata-­‐se,  portanto,  de  um  dispositivo  discursivo  que  conquistou  rápida  aderência  e  difusão  justamente  
por  contemplar  os  instintos  patriarcais  característicos  da  sociedade  brasileira.    
15
  Para   uma   explicação   pormenorizada   do   conceito   de   “significante-­‐mestre”   e   de   sua   importância   para   uma   análise  
discursiva   da   ideologia,   ver:   LACLAU,   Ernesto.   La   razón   populista.   Buenos   Aires:   Fondo   de   Cultura   Económica,   2005.  
(especialmente  pp.163-­‐197)    
16
 O  termo  já  aparece  sem  sequer  estar  acompanhado  por  aspas  indicativas  de  sentido  conotativo  em  matéria  d’O  Globo,  
do  mesmo  dia,  sobre  a  abertura  de  processo  por  Cunha.  Ver:  http://oglobo.globo.com/brasil/cunha-­‐aceita-­‐pedido-­‐de-­‐
impeachment-­‐contra-­‐dilma-­‐18202665  
17
Ver  reportagem  de  O  GLOBO  de  14/05/2015,  disponível  em:  http://g1.globo.com/rj/norte-­‐
fluminense/noticia/2015/05/porto-­‐do-­‐acu-­‐em-­‐sao-­‐joao-­‐da-­‐barra-­‐rj-­‐registra-­‐lucro-­‐de-­‐r-­‐37-­‐milhoes.html  
18
 Conferir  a  página  virtual  da  própria  empresa,  no  endereço:  http://prumo.riweb.com.br  
19
 Fonte:  http://www.petronoticias.com.br/archives/85201  
20
 JUCÁ,  Romero.  Op.  Cit.,  nota  nº  11.  
21
  A   frase   de   Temer   no   Twitter   foi   uma   tentativa   de   explicar   seu   veto   à   utilização   por   Rousseff   do   avião   presidencial  
durante   a   tramitação   do   processo   de   afastamento   no   Senado:   “Ela   não   está   no   exercício   da   presidência,   portanto   não   tem  
atividades  de  natureza  governamental”;  “E  ademais  disso,  pelo  que  sei,  a  senhora  presidente  utiliza  o  avião,  ou  utilizaria,  
para   fazer   campanha   denunciando   o   golpe”.     Conferir   matéria   da   UOL   Notícias,   de   22/06/2016,   disponível   em:  
http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-­‐noticias/2016/06/22/dilma-­‐utilizaria-­‐o-­‐aviao-­‐para-­‐fazer-­‐campanha-­‐
denunciando-­‐o-­‐golpe-­‐diz-­‐temer.htm    
22
 ENGELS,  Friedrich;  MARX,  KARL.  “Mensagem  ao  Comitê  Central  à  Liga  dos  Comunistas”.  In:  karl  marx  e  friedrich  engels.  
Textos.  São  Paulo:  Edições  Sociais/Editora  Alfa-­‐Ômega,  1977  (pp.83-­‐92).
23
 Para  uma  visão  do  autor  sobre  as  (hoje  nem  tão  reivindicadas  assim)  Jornadas  de  Junho,  ver  artigo  publicado  em:  
http://www.jubileusul.org.br/nota/2058.  Uma  crítica  similar,  porém  mais  sofisticada  teoricamente,  pode  ser  lida  no  artigo  
de  Felipe  Demier,  disponível  em:  http://blogconvergencia.org/?p=2805  
24
 WALLERSTEIN,  Immanuel.  “  The  Rise  and  Future  Demise  of  the  World  Capitalist  System:  Concepts  for  Comparative  
Analysis”.  In:  Comparative  Studies  in  Society  and  History,  vol.  6,  nº  4,  1974  (p.406)  –  Tradução  livre.  [Original  em  inglês  
disponível  em:  http://bev.berkeley.edu/ipe/readings/Wallerstein.pdf]  
 

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