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O segundo golpe foi eminentemente político, o que significa dizer que se tratou de
um clássico golpe de traição palaciano: um complô armado no seio do próprio governo, em
conluio com setores mais reacionários da oposição de direita ao PT no congresso,
simbolizados pelas “bancadas da bala, da bíblia e do boi”10, e na sociedade civil, onde se
organiza uma “nova direita” nas igrejas e suas empresas associadas, nos círculos militares
mais conservadores e, claro na grande mídia corporativa e demais aparatos ideológicos
neoliberais. O fato do PT ter se esforçado, desde que chegou ao poder, para agraciar como
pudesse os mais variados setores do empresariado nacional e estrangeiro não significa que
essa tarefa seja, na prática, realizável: é impossível contemplar a todos os capitalistas ao
mesmo tempo, especialmente em tempos de “crise”. O fator petróleo antes mencionado
serve como indicador para esta mudança no comportamento do empresariado:
gradativamente, um por um, os diferentes setores e associações corporativas transitaram
em direção à “solução” para a crise apresentada pelos setores políticos dispostos a tomar
de assalto o poder executivo nacional para si: o impeachment de Rousseff e o fim da era PT
no governo federal.
A provável retomada dos preços do petróleo até o fim do ano de 2016 (nem os EUA,
nem seus aliados podem suportar um preço tão baixo por muito mais tempo) fez com que
um desacreditado grupo de políticos, notadamente corruptos, lograsse atrair o apoio das
elites econômicas para sua manobra golpista a tempo, ou seja, antes que os preços (e as
receitas governamentais) subissem novamente. A permanência e o nível de estabilidade do
novo regime puramente neoliberal brasileiro depende, em grande parte de quanto a
economia internacional voltará a crescer – e quando. Caso os sinais de reaquecimento (nos
EUA e China, especialmente) não voltem a aparecer logo, é possível que a coalizão
temporária de interesses que foram reunidos em torno do linchamento de Rousseff se
desfaça em meio a uma crise verdadeiramente institucional, cujos desdobramentos ainda
não se pode prever, mas já que são prudentes de se temer: diante de um possível “caos”
social e da polarização política crescente, ataques de comandos proto-fascistas à militantes
de esquerda estão se tornando comuns11 e quando houver uma resistência mais decidida
dos movimentos, a escalada de conflitos pode abrir a porta para soluções de força e
exceção a fim de desatar o Nó Górdio do impasse político que se avizinha. As gravações do
ex-ministro, Romero Jucá, revelam a proximidade de “generais” do Exército com a
articulação golpista, em diálogo que se referia nominalmente à ações repressivas já
desenhadas contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST)12.
O terceiro e último golpe sofrido por Rousseff foi o mais grave de todos, pois é o
mais profundo e com conseqüências mais duradouras para a sociedade brasileira,
especialmente para sua esquerda política. Trata-se do golpe de ideologia que criou as
condições de possibilidade sem as quais o afastamento de uma presidenta da república
seria impensável. É este golpe ideológico que deve nos interessar mais, pois é ele que
confirma o caráter reacionário da operação política em curso. Uma análise discursiva pode
capturar a ideologia do golpe neoliberal como se fosse enunciada da seguinte forma:
1. O PT é um governo de esquerda que, portando, incha a máquina pública com gastos sociais
populistas, com o aparelhamento do governo por seus “companheiros” partidários, sindicais e
dos movimentos sociais, Isso causa, invariavelmente, corrupção e ineficiência na gestão.
2. O Brasil vive atualmente “a mais grave crise econômica de sua história”, com “inflação
galopante” e “10 milhões de desempregados”. E a culpa é do governo petista, que não teria
sido capaz [neoliberal] o suficiente em sua gestão econômica, ou quando tentou ser (com o
ajuste fiscal de Joaquim Levy, em 2015) já era tarde demais. A culpa da crise foi, nessa
lógica, o esquerdismo “bolivariano” do PT.
3. O melhor exemplo que desta conexão esquerda-corrupção-crise seria o caso das “pedaladas
fiscais de Dilma”.
5. A médio e longo prazo a lição que fica é direta: se não quisermos entrar de novo numa grave
crise, o único caminho é resistir às tentações do “populismo de esquerda”, simbolizadas no
curto prazo por Lula e o PT, mas posteriormente, por qualquer liderança ou movimento
político que tenha raízes populares, contra-hegemônicas ou anticapitalistas.
Este terceiro golpe continua em curso. E parece que irá se afirmar independente do
desfecho do processo de impeachment no Senado Federal. E é contra ele que devemos
lutar. Ele se aprofundará caso o governo Temer consiga se afirmar, mas também
permanecerá intacto caso Rousseff volte a ocupar o lugar para o qual foi escolhida pelo
voto popular. E esta é a dificuldade que o momento coloca: como resistir a um golpe
ideológico que não parece encontrar um adversário ideológico de peso, à sua altura.
Enquanto a esquerda, moderada ou radical, seguir aceitando os termos do debate impostos
pela direita; enquanto o terreno discursivo estiver tomado pelo senso-comum capitalista, é
provável que neoliberalização da sociedade brasileira torne-se um processo automático e
virtualmente sem-fim à vista.
Prova disso é que mesmo sem saber o que fazer com o “discurso da crise” até que o
PT seja confirmadamente deposto do executivo federal, o empresariado monopolista
nacional, dependente e associado ao capital estrangeiro, segue expandindo suas atividades
e investimentos no Brasil. Ao contrário do que informa o “discurso da crise” e desafiando os
prognósticos de muitos analistas de mercado, alguns megaempreendimentos industriais
começam – na contra-mão da versão ideológica dominante da história recente do país – a
dar resultados contábeis favoráveis justamente nesta hora. É o caso do Porto do Açú, no
Rio de Janeiro, complexo industrial-logístico idealizado por Eike Batista e agora gerido por
um fundo de investimentos norte-americano (Prumo Logística Global), que passou a
reportar seus primeiros lucros no segundo semestre de 201517 e novamente em 201618.
Outro exemplo pode ser visto na postura da ThyssenKrupp, a centenária gigante alemã do
ramo do aço e seus derivados. Em entrevista recente19, Paulo Alvarenga, CEO da
subsidiária da empresa no Brasil (ThyssenKrupp Industrial Solutions) revelou que mesmo
diante dos transtornos e prejuízos advindos com a problemática Companhia Siderúrgica do
Atlântico (TKCSA), no Rio de Janeiro, os alemães continuam acreditando que podem
“conseguir bons negócios no país” e que a “companhia está fortalecendo sua área de
soluções industriais para trazer ao país as tecnologias oferecidas no exterior”. Para o
mercado de óleo e gás, o executivo afirma, entusiasmado, que a empresa “observa as
chances de negócio no Brasil” devido às “oportunidades existentes na região”. Trata-se de
uma movimentação típica do capitalismo dependente, na qual as empresas monopolistas,
especialmente as transnacionais, utilizam a crise econômica para aumentar suas fatias de
mercado e seu poder sobre um sistema econômico como um todo.
Sem isso, parece inútil formar apressadamente “frentes de esquerda” que, não
surpreendentemente, mal conseguem se enraizar e cujos atos de repúdio ao governo
golpista e às políticas neoliberais têm sido esvaziados. Atos voluntaristas e honrosos, mas
vitoriosos apenas no plano puramente estético e que permanecem derrotados na disputa
por hegemonia, propriamente dita, nas dimensões política e social. O dilema que persiste é
que não basta criticar o PT pra sempre. Menos ainda sem que a crítica tenha um conteúdo
inequivocamente anti-capitalista que possa ser comunicável na sociedade de massas. Até
lá, como somente as críticas neoliberais ao PT conseguem espaço na “opinião pública”, a
tática vacilante da esquerda radical acaba sendo uma em que sua fixação em combater o
governismo volta-se contra ela própria na forma de uma critica generalizada à esquerda em
si, a tudo na esquerda, todos as/os militantes de qualquer área ou setor, a ponto de nem
mesmo lutadores sociais combativos quererem mais assumir tais rótulos (esquerda,
socialismo, militantes) para si. O que sobra no senso-comum é que se algo está errado no
país, e no mundo, então a culpa deve ser da própria esquerda, um estado ideológico de
coisas que bloqueia a formação de blocos históricos contra-hegemônicos e sólidos.
É preciso enfrentar frontalmente esse dilema. Ele não é simples e a resposta não
virá toda de uma vez, terá que ser construída na prática. Se não queremos repetir o projeto
do PT, qual projeto queremos? O mesmo do PT só que sem corrupção? Isso é o que os
próprios petistas falaram durante os anos 90 inteiros, que seu diferencial era a “ética na
política”, enquanto iam aos poucos cedendo terreno ideológico para as diversas ‘verdades’
hegemônicas do mundo do capital em tempos de globalização. Não deu certo: não parece
ser possível fazer concessões pontuais ao imaginário capitalista sem correr o risco de
terminar dominado por este mesmo imaginário algum tempo depois – e pelos poderes
materiais que o sustentam política e financeiramente. Diante disso, uma das tarefas da
esquerda atual que parece mais urgente, antes de fundar, cindir ou re-fundar mais
organizações, frações ou coletivos, é exercitar a crítica das manifestações contemporâneas
da ideologia liberal de forma mais sistemática e atenta. Identificar as operações ideológicas
dos agentes da direita é condição necessária para recuperar a “autonomia cultural” que
Marx considerava como pré-condição inescapável para não se perder nos labirintos da
política burguesa22.
Um aspecto que não resolve tudo, mas certamente está fazendo falta, é a
incorporação da dimensão internacional em nossas análises da realidade. Quando
aparecem, tem sido na forma de traços escolhidos aleatoriamente para confirmar algum
argumento pré-concebido, como por exemplo no paralelo tantas vezes feito entre a luta pelo
Geizi Park em Istambul com as Jornadas de Junho, em 2013 – sem, no entanto, tratar de
NENHUM aspecto da política ou da história turcas além daquele aparente paralelismo. Este
método é a senha para estabelecimento de comparações espúrias que não enriquecem as
análises. Apenas parecem confirmar a ilusão analítica e as tática duvidosas, que muitas
vezes podem estar erradas (como estavam em junho de 201323). Mas a pior parte não
acontece quando se tenta comparar transnacionalmente sem muito rigor, mas quando se
permanece ignorando olimpicamente a situação internacional, o que é mais comum. Não se
trata de mero fetichismo por este ou aquele “nível de análise”, mas do reconhecimento de
que não se pode fazer uma política anti-capitalista hoje sem ter plena noção do que
significa e como opera o imperialismo em sua atual fase de expansão global, que supera
em muito o que a imaginação de Lênin, Luxemburgo ou Kautsky poderiam conceber há um
século atrás.
Um sintoma recorrente desta debilidade analítica e tática que a cada dia mais cobra
seu preço é a falta de solidariedade lamentável que a esquerda brasileira continua
apresentando em relação às investidas agressivas do imperialismo yankee contra o
processo bolivariano na Venezuela. Existe certa vergonha ou timidez que contamina
diversos intelectuais, setores e organizações da esquerda quando o tema é a Venezuela. A
ignorância acerca do significado geopolítico dos ataques ao chavismo pelos EUA mostra o
quanto ainda estamos despreparados para enfrentar o rolo compressor imperial-capitalista
de nosso tempo histórico em nosso lugar latino-americano.
1
Ver
revista
FORBES
(set/2014),
disponível
em:
http://www.forbes.com/sites/carolinehoward/2012/08/22/the-‐worlds-‐
100-‐most-‐powerful-‐women-‐2012-‐this-‐year-‐its-‐all-‐about-‐impact/#1216e8fc3dee
2
A
afirmação
é
notadamente
falsa,
como
qualquer
historiador
econômico
seria
capaz
de
demonstrar,
sem
dificuldades.
Além
de
ignorar
a
Grande
Depressão
dos
anos
1930,
a
expressão
“história
do
Brasil”
faz
o
leitor
se
perguntar
se
os
períodos
colonial
e
imperial
estariam
incluídos
neste
apanhado
histórico
que,
caso
incluídos,
tornam
a
tese
ainda
mais
esdrúxula,
diante
da
crise
permanente
a
que
é
submetida
qualquer
economia
vítima
do
pacto
colonial.
Ver
a
reportagem
da
Folha
de
São
Paulo
(16/03/2016),
que
ao
tentar
endossar
essa
tese
acaba
desmentindo-‐a:
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/03/1749299-‐recessao-‐economica-‐atual-‐deve-‐ser-‐a-‐pior-‐da-‐historia-‐do-‐
brasil.shtml.
Ver
também
a
fala
de
cada
senador
na
votação
do
impeachment,
confirmando
que,
a
fim
de
dar
força
à
campanha
de
difamação,
fizeram
o
mesmo
discurso
propagandístico,
que
substituiu
o
rigor
da
análise
da
realidade
empírica
sobre
a
economia
nacional
em:
http://g1.globo.com/politica/processo-‐de-‐impeachment-‐de-‐
dilma/noticia/2016/05/saiba-‐o-‐que-‐disseram-‐os-‐senadores-‐na-‐votacao-‐do-‐processo-‐de-‐impeachment.html
3
Ver
reportagem
elucidativa
do
jornal
britânico
conservador
The
Telegraph
em
10/02/2016,
em:
http://www.telegraph.co.uk/finance/12150638/Russian-‐oil-‐giant-‐hits-‐out-‐at-‐Opec-‐price-‐war.html.
Conferir
também
notícias
da
imprensa
especializada
no
setor,
em:
http://oilprice.com/Energy/Energy-‐General/Why-‐Saudi-‐Arabia-‐Will-‐Not-‐
Win-‐The-‐Oil-‐Price-‐War.html
4
Ver
reportagem
da
rede
norte-‐americana
CBS
de
01/06/2016,
em:
http://www.cbsnews.com/news/has-‐opec-‐won-‐the-‐
oil-‐price-‐war/.
Para
uma
visão
de
esquerda
sobre
o
tema,
ver
a
matéria
do
Socialist
Worker
de
01/02/2016,
em:
https://socialistworker.org/2016/02/01/what-‐you-‐should-‐know-‐about-‐the-‐oil-‐price-‐war
5
Fonte:
http://g1.globo.com/economia/mercados/noticia/2014/12/rublo-‐despenca-‐e-‐operadores-‐russos-‐veem-‐sombras-‐
da-‐crise-‐de-‐1998.html.
Segundo
a
revista
brasileira
EXAME,
a
desvalorização
foi
de
60%
em
2014.
Ver:
http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/rublo-‐despenca-‐e-‐pressiona-‐vladimir-‐putin
6
A
Petrobras
precisa
de
um
preço
de
U$45
para
cobrir
os
custos
de
sua
produção
(break
even)
da
camada
Pré-‐Sal,
somente
conseguindo
auferir
lucros
se
os
barris
forem
vendidos
(bem)
acima
deste
patamar.
Ver
reportagem
do
Financial
Times
sobre
o
tema,
que
também
demonstra
a
confiança
da
Shell
na
recuperação
dos
preços,
em:
http://www.ft.com/cms/s/0/e8c07066-‐d3ec-‐11e5-‐969e-‐9d801cf5e15b.html#axzz4DpWFZY5U
7
A
crise
na
petroleira
estatal
brasileira
não
pode
ser
dissociada
das
manobras
de
espionagem
industrial
envolvendo
a
empreiteira
norte-‐americana
Halliburton,
suspeita
de
roubo
de
informações
sigilosas
da
camada
pré-‐
sal,
em
2008.
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,roubo-‐de-‐dados-‐da-‐petrobras-‐foi-‐espionagem-‐diz-‐pf,127128
.
Como
é
sabido,
a
Halliburton
é
comandada
por
Dick
Cheney,
ex-‐vice
presidente
dos
EUA
durante
o
governo
de
George
W.
Bush,
quando
invadiram
militarmente
o
Iraque
e
depois
o
reconstruíram
a
partir
de
contratos
exclusivos
da
empreiteira
de
Cheney,
que
lucrou
U$
39
bilhões
com
a
operação.
A
respeito,
ver:
http://www.dailykos.com/story/2014/6/18/1307821/-‐Dick-‐Cheney-‐
Neocon-‐War-‐Profiteer
O
esquema
completo
de
espionagem
acabaria
sendo
revelado
em
2013
por
Edward
Snowden,
ex-‐funcionário
da
Agência
de
Segurança
Nacional
(NSA)
dos
EUA,
que
trouxe
à
público
a
intensa
manobra
de
espionagem
que,
coincidentemente
(ou
não)
veio
à
tona
justamente
no
mesmo
instante
em
que
montou-‐se
a
Operação
Lava-‐Jato,
da
Polícia
Federal,
que
utilizou-‐
se
de
escutas
até
então
tidas
como
impensáveis,
dos
mesmos
celulares
grampeados
pela
NSA,
incluindo
o
da
própria
presidenta
da
república.
Ver:
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/09/petrobras-‐foi-‐espionada-‐pelos-‐eua-‐
apontam-‐documentos-‐da-‐nsa.html
8
O
Brasil
pode
não
ser
totalmente
dependente
de
preços
de
petróleo
assim,
mas
a
Petrobras
certamente
é,
como
todas
as
petroleiras,
o
que
certamente
diminuiu
o
dinheiro
disponível
para
corrupção
e
causou
desarranjos
na
elite
política.
9
Conferir
as
declarações
do
senador
tucano
Aloísio
Nunes,
em
seminário
do
iFHC,
em
março
de
2015,
reproduzidas
em
reportagem
do
jornal
Valor
Econômico
de
15/03/2015,
disponível
em:
http://www.valor.com.br/politica/3944096/nao-‐
quero-‐o-‐impeachment-‐quero-‐ver-‐dilma-‐sangrar-‐diz-‐tucano
10
Ver
reportagem
do
Estado
de
S.
Paulo
em
25/04/2016:
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bancadas-‐da-‐bala-‐-‐
da-‐biblia-‐e-‐do-‐boi-‐pressionam-‐temer,10000027834;
Ver
também
reportagem
da
revista
Carta
Capital,
de
14/04/2015,
disponível
em:
http://www.cartacapital.com.br/revista/844/bbb-‐no-‐congresso-‐1092.html
11
Em
17
de
Junho
de
2016,
um
comando
proto-‐fascista
camuflados
com
capuzes
e
roupas
militares
invadiu
o
campus
da
Universidade
de
Brasília
munidos
de
bombas
e
outras
armas,
além
de
entoarem
cantos
racistas,
homofóbicos.
Seu
alvo
era
uma
confraternização
estudantil
que
ocorria
no
centro
acadêmico
de
sociologia.
da
universidade:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2016/06/18/interna_cidadesdf,536839/unb-‐investiga-‐
protesto-‐com-‐ataques-‐homofobicos-‐e-‐racistas-‐no-‐campus.shtml.
No
início
de
Julho
de
2016,
um
estudante
negro,
LGBT,
bolsista,
de
esquerda
e
imigrante
da
região
norte
do
país
foi
morto
a
pauladas
dentro
do
alojamento
estudantil
da
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro.
O
assassinato
fora
premeditado
e
executado
conforme
um
email
de
ameaças
enviado
ao
estudante
dias
antes
do
crime.
Ver
reportagem
do
jornal
O
DIA,
que
reproduz
na
íntegra
o
email
dos
suspeitos
do
assassinato:
http://odia.ig.com.br/rio-‐de-‐janeiro/2016-‐07-‐04/email-‐para-‐
estudantes-‐da-‐ufrj-‐ameaca-‐vamos-‐comecar-‐por-‐um-‐certo-‐aluno.html
12
O
trecho
da
gravação
é
o
seguinte:
“JUCÁ
-‐
[Em
voz
baixa]
Conversei
ontem
com
alguns
ministros
do
Supremo.
Os
caras
dizem
'ó,
só
tem
condições
de
[inaudível]
sem
ela
[Dilma].
Enquanto
ela
estiver
ali,
a
imprensa,
os
caras
querem
tirar
ela,
essa
porra
não
vai
parar
nunca'.
Entendeu?
Então...
Estou
conversando
com
os
generais,
comandantes
militares.
Está
tudo
tranquilo,
os
caras
dizem
que
vão
garantir.
Estão
monitorando
o
MST,
não
sei
o
quê,
para
não
perturbar.”,
disponível
em:
http://g1.globo.com/politica/operacao-‐lava-‐jato/noticia/2016/05/em-‐gravacao-‐juca-‐sugere-‐pacto-‐para-‐deter-‐lava-‐jato-‐diz-‐
jornal.html
Além
disso,
mal
havia
sido
confirmado
o
afastamento
de
Rousseff,
os
ruralistas
já
pediam
uso
do
exército
contra
os
movimentos
camponeses,
novamente
mencionando
o
MST.
Ver:
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/ruralista-‐vai-‐
propor-‐a-‐temer-‐para-‐exercito-‐atuar-‐contra-‐mst
13
Ver
matéria
do
Globo
(s/d)
sobre
polêmica
envolvendo
uma
escola
de
Brasília
que
pediu
para
os
alunos
usarem
vermelho
por
um
dia,
em
meio
a
uma
atividade
contra
o
mosquito
da
Aedys
Egypt,
mas
que
causou
reação
dos
pais,
que
acusaram
a
escola
de
politizar
seus
filhos
em
favor
do
PT.
Disponível
em:
http://oglobo.globo.com/brasil/bilhete-‐pedindo-‐
que-‐pais-‐mandem-‐filhos-‐vestidos-‐de-‐vermelho-‐para-‐escola-‐gera-‐polemica-‐1-‐19058810
14
De
onde
vem,
então,
o
termo
“pedalada”?
A
única
resposta
que
existe
é:
do
hábito
da
presidenta
Rousseff,
registrado
pela
imprensa
diariamente,
de
andar
de
bicicleta
a
fim
de
exercitar-‐se
pelas
manhãs.
As
fotos
de
uma
mulher
em
posição
de
poder
(recordar
da
capa
da
FORBES)
divertindo-‐se,
fora
de
casa,
tornou-‐se
insuportável
para
o
senso-‐comum
machista
brasileiro,
que
automaticamente
associou
a
“crise
econômica”
ao
desleixo
ou
ao
prazer
feminino
de
Rousseff,
que
seria
supostamente
culpada
pela
crise
exatamente
por
preferir
divertir-‐se
na
rua
do
que
ficar
“recatada
e
no
lar”,
cuidando
da
família
brasileira.
Trata-‐se,
portanto,
de
um
dispositivo
discursivo
que
conquistou
rápida
aderência
e
difusão
justamente
por
contemplar
os
instintos
patriarcais
característicos
da
sociedade
brasileira.
15
Para
uma
explicação
pormenorizada
do
conceito
de
“significante-‐mestre”
e
de
sua
importância
para
uma
análise
discursiva
da
ideologia,
ver:
LACLAU,
Ernesto.
La
razón
populista.
Buenos
Aires:
Fondo
de
Cultura
Económica,
2005.
(especialmente
pp.163-‐197)
16
O
termo
já
aparece
sem
sequer
estar
acompanhado
por
aspas
indicativas
de
sentido
conotativo
em
matéria
d’O
Globo,
do
mesmo
dia,
sobre
a
abertura
de
processo
por
Cunha.
Ver:
http://oglobo.globo.com/brasil/cunha-‐aceita-‐pedido-‐de-‐
impeachment-‐contra-‐dilma-‐18202665
17
Ver
reportagem
de
O
GLOBO
de
14/05/2015,
disponível
em:
http://g1.globo.com/rj/norte-‐
fluminense/noticia/2015/05/porto-‐do-‐acu-‐em-‐sao-‐joao-‐da-‐barra-‐rj-‐registra-‐lucro-‐de-‐r-‐37-‐milhoes.html
18
Conferir
a
página
virtual
da
própria
empresa,
no
endereço:
http://prumo.riweb.com.br
19
Fonte:
http://www.petronoticias.com.br/archives/85201
20
JUCÁ,
Romero.
Op.
Cit.,
nota
nº
11.
21
A
frase
de
Temer
no
Twitter
foi
uma
tentativa
de
explicar
seu
veto
à
utilização
por
Rousseff
do
avião
presidencial
durante
a
tramitação
do
processo
de
afastamento
no
Senado:
“Ela
não
está
no
exercício
da
presidência,
portanto
não
tem
atividades
de
natureza
governamental”;
“E
ademais
disso,
pelo
que
sei,
a
senhora
presidente
utiliza
o
avião,
ou
utilizaria,
para
fazer
campanha
denunciando
o
golpe”.
Conferir
matéria
da
UOL
Notícias,
de
22/06/2016,
disponível
em:
http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-‐noticias/2016/06/22/dilma-‐utilizaria-‐o-‐aviao-‐para-‐fazer-‐campanha-‐
denunciando-‐o-‐golpe-‐diz-‐temer.htm
22
ENGELS,
Friedrich;
MARX,
KARL.
“Mensagem
ao
Comitê
Central
à
Liga
dos
Comunistas”.
In:
karl
marx
e
friedrich
engels.
Textos.
São
Paulo:
Edições
Sociais/Editora
Alfa-‐Ômega,
1977
(pp.83-‐92).
23
Para
uma
visão
do
autor
sobre
as
(hoje
nem
tão
reivindicadas
assim)
Jornadas
de
Junho,
ver
artigo
publicado
em:
http://www.jubileusul.org.br/nota/2058.
Uma
crítica
similar,
porém
mais
sofisticada
teoricamente,
pode
ser
lida
no
artigo
de
Felipe
Demier,
disponível
em:
http://blogconvergencia.org/?p=2805
24
WALLERSTEIN,
Immanuel.
“
The
Rise
and
Future
Demise
of
the
World
Capitalist
System:
Concepts
for
Comparative
Analysis”.
In:
Comparative
Studies
in
Society
and
History,
vol.
6,
nº
4,
1974
(p.406)
–
Tradução
livre.
[Original
em
inglês
disponível
em:
http://bev.berkeley.edu/ipe/readings/Wallerstein.pdf]