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SÍRIA: A ÚLTIMA GUERRA DE OBAMA*

Ao contrário do que o senso-comum costuma propagar, o fim da Guerra Fria


em 1989/1991 não alterou por completo a totalidade das políticas internacionais
estratégicas dos EUA, chegando mesmo a aprofundar certas tendências já em
operação.1 Nas relações com o chamado 3º Mundo, os tomadores-de-decisão em
Washington seguiram operando sem grandes modificações em seus modelos
analíticos. Neste tipo de análise, os “interesses americanos” na África, Ásia e América
Latina são apresentados como “universais”, tornando sua persecução por meios
diplomáticos, bélicos ou secretos uma obrigação justificada de antemão. A era das
intervenções humanitárias aberta pela Nova Ordem Mundial dos anos 1990 não
escapou a este padrão. E hoje analistas de diferentes origens denunciam-na, providos
de farta documentação, como uma era de ‘imperialismo humanitário” (BRICMONT,
2006; CHOMSKY, 2008; EVANS, 2001).

De fato, vistas em retrospecto, é difícil negar que o intervencionismo das tropas


da OTAN na Sérvia (1998), Iraque (2003), Haiti (2004) e Líbia (2009), sempre narrado
como ação em defesa da humanidade, tenha servido mais para avançar a
determinados interesses geopolíticos e econômicos emanados das capitais ocidentais,
do que realmente a salvar vidas ou melhorar a qualidade delas nas partes do mundo
que as receberam. Mas o discurso da “responsabilidade de proteger” (R2P 2) se impôs,
conforme atestado pelo rápido sucesso editorial e político de defensores da doutrina
do intervencionismo ocidental, como Samantha Power (2001; 2002). Como esquecer
das alusões feitas entre a Bósnia e o Kosovo com os campos de concentração
nazistas; das “armas de destruição em massa” que supostamente Saddam Hussein
usaria contra civis inocentes; da “catástrofe humanitária” no Haiti de Aristide 3; e das
“atrocidades cometidas por Kadafi” contra seu próprio povo, que supostamente se
rebelara na cidade de Benghazi?4 Além de assinalar a seletividade eticamente
duvidosa frente à calamidades de igual urgência e gravidade, é preciso perguntar com
insistência e cobrar respostas dos defensores do intervencionismo ocidental: qual é o
resultado concreto, para a população comum, do Iraque, da Líbia e, atualmente, da
Síria, das operações de remoção forçada dos “ditadores” de seus países?

Diante das ruínas, dos mortos e da destruição de sociedades inteiras, seria de


se esperar que a narrativa mudasse. Mas ela se aprofunda. No caso atual da guerra
contra a Síria, a conhecida estratégia de troca de regime “não-cooperativo”
(HINKELAMMERT, 1979, pp. 86-114) no Terceiro Mundo novamente ganha a
roupagem discursiva de uma “crise humanitária” causada por um “ditador cruel”, que
precisaria deixar o poder imediatamente para que vidas sejam salvas e os direitos
humanos respeitados. Aleppo aparece sendo a nova Benghazi. O lema “Assad must
go”5 passou a ser repetido ad nauseam por autoridades em Washington e Londres.
Nem que fosse por meio de extremistas islâmicos armados pelo ocidente e seus
estados-cliente no Oriente Médio, faltou-lhes acrescentar.

Qual é, portanto, a verdade sobre a guerra contra a Síria? O único modo de


descobri-la é perguntar-se sobre quem é visto como o principal inimigo dos “interesses
americanos” na ótica dos estrategistas yankees para o Oriente Médio. A resposta não
é difícil de encontrar: trata-se dos nacionalismos árabes e de determinados tipos “não-
cooperativos” de pan-arabismo6. Ao contrário do que a idéia de uma Guerra ao Terror
leva a supor, desde os tempos da Guerra Fria a maior ameaça, na avaliação de
influentes estrategistas, aos “interesses norte-americanos” no mundo árabe, não
provém de grupos islâmicos extremistas como a Al Qaida e o Daesh/ISIS (Estado
Islâmico), mas de regimes estatais nacionalistas fora da órbita imediata da Pax
Americana. Não se sabe se tal estado-centrismo é excesso de realismo7 ou falta dele.
Mas tais regimes “não cooperativos” são considerados especialmente ameaçadores se
conseguirem unir-se política e economicamente uns aos outros e, mais ainda, se
estiverem localizados em rotas comerciais importantes (Egito, Síria) ou possuírem
fontes abundantes de matérias-primas estratégicas como o petróleo e gás natural
(Líbia, Iraque, Irã).

Correta ou não, esta visão prevalece na política externa dos EUA há décadas.
E também na de seu aliado preferencial na região, Israel, que prefere vizinhos imersos
em guerras civis do que Estados árabes fortes e aliados contra si. Além deles, hoje há
mais atores interessados em mudar o mapa geopolítico do Oriente Médio. A produção
do caos terrorista islâmico onde antes havia regimes estáveis, seculares e fora da
órbita de controle ocidental (Iraque, Líbia e Síria) atualmente também encaixa bem nas
visões estratégicas do governo da Turquia sob o AKP8, que vê na destruição do
arranjo geopolítico anterior um possível risco mas também uma grande oportunidade
para afirmar-se como potência regional e consolidar seu objetivo supremo, que é
impedir a formação de um Estado nacional curdo (ou Curdistão), levando o país –
único membro islâmico da OTAN – a adotar uma política pendular no que tange ao
conflito na Síria. Por fim, completando o realinhamento de forças imperialistas e
subimperialistas na região, temos as monarquias do golfo pérsico (Catar, Bahrein,
Omã, Kuwait) que, lideradas pelo regime saudita, exportam armas, guerrilheiros e
capital, além de uma ideologia militante, o salafismo/wahabismo, para os grupos
terroristas islâmicos que promovem a desestabilização contínua do Iraque e Síria, com
destaque para o Exército Islâmico (Daesh/ISIS) e para a Jabhat Al-Nursa, ex-afiliada
da Al-Qaida e atualmente rebatizada como Jabhat Fatah Al-Sham9.
Do outro lado, em oposição a este realinhamento das forças imperialistas e
seus clientes regionais, estatais e não-estatais, formou-se outra coalização, que
também reúne atores políticos e militares de diferentes naturezas. Trata-se do eixo
formado pelos governos estatais da Síria, Irã e Rússia, somados ao “Partido de Deus”
libanês Hezbollah, que possui forte braço armado. Eventualmente, recebem o apoio de
setores iraquianos xiitas ligados ao atual governo do primeiro-ministro Heider al-Abadi,
também empenhado em conter o extremismo islâmico sunita em seu próprio país.
Completando o quadro, existe a atuação não-unificada das forças curdas na Síria e no
Iraque que ora recebem apoio norte-americano, ora são fustigadas pela força aérea
turca (da OTAN, portanto), ora estabelecem táticas conjuntas porém temporárias com
a oposição síria, Damasco ou Bagdá a fim de combater o terrorismo islâmico. Com
efeito, durante meia década de conflito em solo sírio, as Unidades Populares de
Proteção (YPG) curdas, com seu exército de mulheres (YPJ) à frente, foram as únicas
que pareceram ser capazes de deter o avanço do Estado Islâmico em vários
momentos críticos. O mapa abaixo mostra essa configuração de forças, traduzido pelo
diagrama que o segue10:
Esta configuração de alianças é instável, por certo, mas segue enquadrando
conflitos políticos em outros teatros de operação da região, como no Iêmen, onde o
governante, sunita e não-eleito, preferido pelos sauditas foi expulso do país por um
levante armado dos ‘rebeldes’ Houthis, xiitas, apoiados pelo Irã. A retaliação saudita,
com armamento britânico e norte-americano, tem sido genocida. Assim como na Síria,
a guerra no Iêmen – que mata uma criança a cada 10 minutos, segundo a UNICEF 11 -
também trata-se de uma proxy war (“Guerra por Procuração”) entre potências
regionais com projetos hegemônicos em choque e apoiados por aliados longínquos,
mas poderosos.

Ela ajuda a entender porque não falta espaço na grande mídia norte-americana
e publicações de think-tanks de Washington alertando contra a expansão de um
“Império Iraniano”12 no Oriente Médio ou transmitindo uma imagem macabra do
“regime dos aiatolás” em Teerã, ou de Bashar al Assad e outros governantes “não-
cooperativos” do 3º Mundo. No entanto, é bem raro encontrar narrativas com igual
olhar crítico sobre o regime saudita e as demais monarquias do golfo, todos aliadas
dos EUA e brutalmente violadores dos direitos humanos de seus cidadãos, em
especial das mulheres. Jamais ouviu-se um chamado sobre a “responsabilidade de
proteger” inocentes oprimidas em Cizre, Sanaa, Riad ou no Bahrein13.

É de se lembrar que o “eixo do mal” do presidente George W. Bush,


inicialmente composto por Irã, Iraque e Coréia do Norte, no famoso discurso do Estado
da União de Janeiro de 2002, passou a incluir, em maio do mesmo ano, Líbia, Síria e
Cuba14 (sim, Cuba!), como estados patrocinadores do terrorismo e perseguidores de
armas de destruição em massa. Nós na América Latina conhecemos bem a imagem
negativa e o boicote ativo que sempre tentaram fazer pesar sobre a Cuba “não-
cooperativa” desde a revolução de 1959. O que nos leva também a jamais esquecer
que na versão dominante nos EUA a sangrenta Guerra do Vietnã foi travada em nome
da defesa do Vietnã do Sul contra um “regime opressor” do Norte e seus “infiltrados
subversivos” do Viet Cong, cuja vitória levaria a um terrível ‘efeito dominó’ sobre todo o
sudeste asiático e deveria ser evitada a todo custo, em nome do bem-estar do ‘mundo
livre’ - isto é, o mundo sob sua hegemonia capitalista.

Mesmo que os “regimes nacionalistas” de Kadafi, Assad e Saddam Hussein já


não almejassem questionar com vigor a hegemonia dos EUA e seus aliados do golfo
no mundo árabe, a simples existência degenerada de estados laicos “não-
cooperativos” em uma região tão estratégica como o Oriente Médio já é motivo para se
usar todo tipo de tática – incluindo a “tática suja” de armar terroristas – para minar a
estabilidade política e social que países como Líbia, Iraque, Síria desfrutavam. A
esquerda radical árabe nunca logrou enfrentar tais regimes com sucesso; mas a direita
ultra-conservadora islâmica, com apoio imperial, está riscando-os do mapa, um a um.

Deste modo, acreditar como valor de face na versão dominante de que há uma
guerra civil na Síria iniciada exclusivamente pela brutalidade de um ditador que tenta
conter violentamente uma versão local da “Primavera Árabe” é simplesmente
inaceitável. Se no começo houve uma breve aparição de forças populares e de
esquerda questionando o regime de Assad, rapidamente elas foram suplantadas pela
enchente de jihadistas advindos de todas as partes do mundo árabe, com a
conivência, financiamento e o armamento das potências regionais envolvidas na
coalizão (sub)imperialista que tenta derrubar o governo em Damasco e por fim ao
estado nacional sírio como um todo. Por isso, não se trata de uma guerra civil, mas de
uma invasão terrorista transnacional sustentada por regimes hostis (Turquia e Arábia
Saudita à frente), que inunda permanentemente o território sírio (e iraquiano) de
combatentes mercenários e fanáticos religiosos nada “moderados”, advindos de toda
parte do mundo árabe – que exporta assim parte de seu descontentamento social
doméstico para a Síria – e também de países asiáticos e até mesmo europeus:
Fonte: http://www.dianaswednesday.com/2015/12/syria-2015/

Caso caísse, Assad seria substituído por um “regime” muito mais violador dos
direitos humanos que o seu, especialmente o das mulheres: a Lei da Sharia islâmica,
conforme entendida e praticada pelo wahabismo. Basta ver o que acontece nos
territórios dominados pelo Estado Islâmico: decapitações, mercados de mulheres,
escravas sexuais, extermínio dos cristãos, crianças-soldado 15... Aleppo foi invadida por
essa barbárie e por isso agora está sendo liberada pelas tropas de Damasco, com
apoio russo. Devemos comemorar este fato: foi o começo do fim da dor de seus
residentes. Ninguém nesta cidade, ou em Palmira, sentirá saudades dos jihadistas.
Quase todos dos que sobraram hoje apegam-se ao “regime de Assad” mais
fortemente do que antes deste lamentável conflito imperialista se iniciar. O governo
desfruta de maior legitimidade interna a cada vez que o projeto imperial de destruir e
repartir em pedaços a Síria fica mais nítido. Ao reconhecer isto pode-se acessar a
verdadeira natureza da guerra na Síria: trata-se, na realidade, de uma guerra contra a
Síria16.

Por este motivo, quem desempenhará o papel-chave no destino da guerra


contra a Síria é Estado (no sentido ampliado) norte-americano e, claro, Israel, primus
inter pares dentre os aliados de Washington na região. Os EUA podem impedir que o
conflito continue, caso haja uma revisão nas premissas de sua estratégia de
segurança global. Hoje, os grupos terroristas estão em quinto lugar na lista oficial de
ameaças à segurança nacional dos EUA, atrás de Rússia, China, Irã e Coréia do
Norte17. A mesma lista, não surpreendentemente, se repete em pesquisa de opinião
popular nos EUA, realizada pelo Instituto Gallup, em Fevereiro de 2016 18. Não se sabe
de nenhum cidadão ou soldado ocidental assassinado por esses quatro Estados em
décadas. Mas o último colocado desta lista comete atentados constantes e letais em
todo mundo ocidental, desde o 11 de Setembro até os recentes ataques em Paris,
Nice, Bruxelas, Berlim... É preciso, portanto, que os governantes norte-americanos
rompam com a ambiguidade operacional que esta visão acarreta, a qual os obriga a
políticas contraditórias: ora uma caçada até a morte por seu ex-aliado Osama Bin
Laden no Paquistão, ora um suporte tácito e material para a mesma al-Qaida através
da al-Nursa na Síria; ora combate o Exército Islâmico no Iraque enquanto,
paralelamente, soma esforços com esta mesma organização na vizinha Síria para
derrubar o presidente Assad; vende armas de guerra para a Turquia ao passo em que
manda soldados yankees para lutar junto aos curdos do YPG, alvos destas mesmas
armas.

Não será possível entender o que está em jogo na atual guerra contra a Síria
sem destacar o papel jogado pelo capitalismo anglo-americano na região 19. A Guerra
contra a Síria não acontece num vácuo histórico e contextual. Sem a Guerra contra o
Iraque, iniciada em 2003, a atual não aconteceria. De certa forma, é uma continuação
daquele conflito, uma vez que o discurso imperial é o mesmo e seu principal ator, o
Estado Islâmico, surgiu dos escombros produzidos pela aventura de Bush e Blair
contra um “ditador” perigoso em Bagdá. Crer que o sofrimento humano em Aleppo é
causado por mais um “eixo do mal” nomeado pelos poderes imperialistas é capitular
frente às representações dominantes sobre o “Oriente”. Elas estão vivas, lembra-nos
Gayatri Spivak (1988). E, por isso, o Orientalismo segue como a chave-de-leitura
dominante no “ocidente” sobre o que pode ser sabido e o que é proibido poder/saber
sobre a guerra atual. O palestino Edward Said (2003) já descrevia as engrenagens
deste tipo de poder que hoje está por trás dos eventos na Síria:

Orientalism can be discussed and analyzed as the corporate institution for dealing with
the Orient – dealing with it by making statements about it, authorizing views of it,
describing it, by teaching it, settling it, ruling over it: in short, Orientalism as a Western
style for dominating, restructuring, and having authority over the Orient (SAID, 2003, p.
4).

É salutar que o mesmo Edward Said que se propunha a analisar o Orientalismo


“como discurso” afirmava que a guerra contra Saddam Hussein certamente não teria
acontecido caso o Iraque fosse “o maior exportador mundial de bananas ou laranjas”,
em vez de petróleo (SAID, 2003, p. xvi). As representações e suas consequências
materiais andam sempre juntas, daí o título cuidadoso de seu livro posterior, “Cultura &
Imperialismo” (SAID, 1994). Não podemos jamais esquecer disto. Talvez a guerra
contra a Síria hoje tenha mais a ver com o traçado de gasodutos estratégicos do que
gostaríamos de admitir20. Mas ela não ocorreria sem a roupagem ideológica
humanitária, portanto cínica, com que só as disputas imperialistas são capazes de
revestir-se. Acreditar hoje na defesa da democracia e direitos humanos praticada por
uma coalização em que se destacam Arábia Saudita, Catar e Turquia é semelhante a
acreditar, nas vésperas da 1ª Guerra Mundial nas justificativas do Reich alemão ou do
czarismo russo que usavam, com igual hipocrisia, do autoritarismo alheio como motivo
para entrar na guerra imperialista.

Como fase superior do capitalismo (LENIN, 2011), o imperialismo tem uma


lógica própria. Na era dos “monopólios generalizados” (AMIN, 2013, p. 15-45) a
procura interminável por matérias-primas, mercados consumidores e projetos
absorvedores de capital exportado pelo centro da economia mundial tende a
aumentar, sem fim à vista. E acirram-se assim as competições e contradições do
imperialismo, sua permanente “crise”, levando também ao atual estado permanente de
guerra contra os povos do 3º Mundo e a pilhagem de suas riquezas naturais. A guerra
contra a Síria será a última guerra de Obama, mas certamente não dos EUA no
Oriente Médio num futuro previsível, onde seguirão promovendo sua visão como
universal – à força, se necessário. Amaldiçoada por seus recursos naturais e rotas
estratégicas, esta região deve continuar palco das trágicas consequências que a
civilização capitalista tem para lhe oferecer: um permanente choque de interesses, de
classes, frações, religiões, potências mundiais e regionais. Economicamente, não
existe centro sem periferia. E, discursivamente, sem o caos no Oriente, o Ocidente
não possui seu Outro21. Não reconhece a si mesmo, nem pode existir.

***

São Paulo, 29 de Dezembro de 2016

*Miguel Borba de Sá é doutorando em Relações Internacionais na PUC-Rio e membro


do Laboratório Interdisciplinar de Estudos Internacionais da UFRRJ, do Instituto PACS
e da Rede Jubileu Sul; também é filiado ao PSOL-RJ. Este artigo, no entanto, é de
inteira responsabilidade do autor e não representa a posição de nenhuma das
instituições das quais faz parte.

Referências:
Amin, S. (org.) A crise do imperialismo. Rio de Janeiro: Graal, 1977.

___________ . The implosion of contemporary capitalism. New York: Monthly Review Press, 2013.

___________ . The Reawakening of the Arab World: Challenge and Change in the Aftermath of the Arab
Spring. New York: Monthly Review Press, 2016.
ASSMAN, H (org). Trilateral: a nova fase do capitalismo. Petrópolis: Vozes, 1979.

BRICMONT, J. Humanitarian Imperialism: Using Human Rights to Sell War. New York: Monthly Review
Press, 2006.

CHOMSKY, N. Humanitarian imperialism: The New Doctrine of Imperial Right. Monthly Review, v. 60, n. 4,
2008.

ESCOBAR, A. La invención del Tercer Mundo: Construcción y deconstrución del desarrollo. Caracas:
Editorial Perro y la rana, 2007.

EVANS, T. The politics of human rights. London: Pluto Press, 2001.

HARMAN, C. The Prophet and the proletariat. International Socialism Journal, nº 2, vol. 64,1994.

HINKELAMMERT, F. “O credo econômico da Comissão Trilateral”. In: ASSMAN, H (org). Trilateral: a nova
fase do capitalismo. Petrópolis: Vozes, 1979.

LENIN, V. Imperialismo: etapa superior do capitalismo. Campinas: FE UNICAMP, 2011.

POWER, S. Bystandards to genocide: why the United States let the Rwandan tragedy happen. The
Atlantic Monthly, Sept. 2001.

________ .“A problem from hell”: America and the age of genocide. New York: Basic Books, 2002.

SPIVAK, G. “Can the subaltern speak?”. In: CARY, N. (Ed.). Marxism and the interpretation of culture.
Basingtoke: Macmillian Education, 1988.

SAID, E. Culture and Imperialism. London: Vintage Books, 1994.

______. Orientalism. London: Penguin Classics, 2003.

Notas:
1
Sobre as estratégias norte-americanas para o 3º Mundo a partir dos anos 1970, ver Assman (1978, pp.7-15).
2
Para a versão oficial da doutrina de “Responsabilidade de Proteger”, ver:
http://www.un.org/en/preventgenocide/adviser/responsibility.shtml
3
A “renúncia” e “abandono de seu país” por de Jean-Bertrand Aristide (sequestrado e extraditado em um avião militar norte-
americano) em Fevereiro de 2004 foi assim descrita pelo então presidente dos EUA George W. Bush, ao anunciar para a
imprensa o envio imediato de marines para “ajudar a trazer ordem e estabilidade para o Haiti”, que estaria começando “um
novo capítulo de sua história” (…) “quebrando com seu passado”, podem (merecem) ser vistos em:
https://www.youtube.com/watch?v=QMqvXVossB8
4
Para se ter uma sensação do clima eufórico em que tal construção discursiva midiático-governamental foi transmitida, ver
o “discurso da vitória” (imperialista) de David Cameron e Nicolas Sarkozy, em plena Benghazi, no dia 15 de Setembro de
2011. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=wkaqzTfR-BU
5
A frase Assad must go (“Assad tem que sair”, em tradução livre) passou a ser repetida pelas lideranças políticas nos EUA
a partir de 2012. Ver o clipping de declarações em: https://www.youtube.com/watch?v=SSBRk10E5R8
6
Para a percepção dos obstáculos e das ameaças terceiro-mundistas sob a ótica do imperialismo norte-americano, há uma
série de estudos de qualidade na literatura críticas, em diferentes versões, que não necessariamente convergem em suas
percepções táticas, mas que oferecem todas entradas seguras na discussão de modo a evitar cair nas armadilhas
ideológico-midiáticas dominantes. Ver: Amin (1977; 2013); Assman (1979); Escobar (2007) e Harman (1994).
7
No sentido conferido ao termo “realismo” pela teoria de Relações Internacionais.
8
O Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP, em turco) chegou ao poder no início dos anos 2000, logo após ser fundado. É
um partido conservador e religioso (muçulmano), adepto do livre-mercado e outras políticas de corte neoliberal, que
conseguiu desbancar a hegemonia de décadas do kemalismo na política nacional do país. O perfil autoritário tem
prevalecido na condução do Estado turco, que atualmente fecha jornais críticos do governo, persegue jornalistas, processa
parlamentares da oposição e reprime movimentos populares, além de promover uma ofensiva militar devastadora
(genocida) sobre regiões de população curda, dentro e fora da Turquia, sob pretexto de luta contra o que denomina
“terrorismo” do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK). Vale lembrar que ao alimentar grupos armados na Síria e estar no
controle da principal fronteira de fuga do país, o presidente Erdogan exerce poder tanto sobre a produção quanto sobre a
vazão do fluxo de refugiados sobre a Europa, o que lhe confere imenso poder de barganha e certa carta branca para violar
os direitos humanos (curdos, em especial) de forma brutal em seu país e também nos vizinhos Iraque e Síria.
9
Ver, a respeito: https://www.theguardian.com/world/2016/jul/28/al-qaida-syria-nusra-split-terror-network
10
O diagrama não está correto em caracterizar Israel ao centro, uma vez que a política pró-desestabilização da Síria já foi
adotada sem vacilações em Tel Aviv, mesmo que os israelenses evitem tomar parte direta nos conflitos que estimulam.
11
Conferir: http://www.aljazeera.com/news/2016/12/unicef-child-dies-10-minutes-yemen-161212192354606.html
12
Ver um exemplo recente desta narrativa sobre o ‘perigo iraniano’ em:
http://www.thetower.org/article/the-iranian-empire-is-almost-complete-hezbollah-syria-lebanon-iraq/
13
Sobre a situação dos direitos das mulheres na Arábia Saudita, e sobre o respeito aos direitos humanos em geral, veja-se
as impressionantes denúncias feitas por uma das 33 mulheres do rei Abdullah, a princesa Alanoud Al Fayez, que conseguiu
fugir para o exílio em Londres. Se isto é o que se passa na própria família real, imagine-se no resto do reino:
https://www.channel4.com/news/saudi-arabia-king-abdullah-alanoud-al-fayez-daughters-jeddah
14
Ver: http://news.bbc.co.uk/2/hi/1971852.stm
15
Ver, por exemplo: http://www.nydailynews.com/news/world/roughly-3-000-women-girls-sold-isis-sex-slave-market-article-
1.2700156
16
Sobre o projeto imperial de destruição das nações árabes, ver a entrevista do intelectual egípcio Samir Amin, em:
https://normanpilon.com/2016/09/04/samir-amin-the-us-imperial-project-is-to-destroy-the-arab-nations/
Vale lembrar também que durante os primeiros anos de guerra, os EUA e Grã Bretanha não fustigavam de verdade as
forças do Daesh/ISIS na Síria, limitando-se a destruir com ataques aéreos as refinarias de petróleo que o grupo terrorista
ocupava, isto é, refinarias do estado Sírio, que uma vez destruídas não poderiam mais ser reutilizadas pelo governo de
Damasco após uma futura expulsão dos terroristas. O mesmo vale para pontes, estradas, reservatórios, hospitais, escolas e
outros aparelhos de infraestrutura destruídos pela intervenção estrangeira. Ver:
http://www.globalresearch.ca/us-destroying-syrias-oil-infrastructure-under-guise-of-fighting-the-islamic-state-isis/5411310
Por fim, vale lembrar do ataque direto (“acidental”) dos caças norte-americanos à um comboio do exército árabe da Síria
durante as primeiras horas de um cessar-fogo acordado com intermediação russa, matando 62 soldados em 17 de setembro
de 2016, que gerou reação imediata de Damasco e Moscou, além de um bate-boca nada diplomático no Conselho de
Segurança da ONU. Ver:
https://www.rt.com/news/360248-assad-ap-intentional-us-airstrikes/
17
Ver, a respeito:
http://www.businessinsider.com/these-are-the-main-global-threats-for-2016-2016-2.
Para o relatório completo, acesse:
http://www.intelligence.senate.gov/sites/default/files/wwt2016.pdf
18
Conferir a pesquisa em:
http://www.gallup.com/poll/189503/four-nations-top-greatest-enemy-list.aspx
19
Para quem duvida da influência norte-americana nos eventos mais drásticos do mundo árabe, vale lembrar do vazamento
da entrevista da então secretária de Estado Hillary Clinton, que achava estar com as câmeras desligadas, quando
aproveitou para responder (macabra e) ironicamente à acusação de que os EUA tiveram pouco protagonismo na queda e
morte de Kadafi: “We came, we saw, he died”. Veja o vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=Fgcd1ghag5Y
20
Ver o engenhoso argumento de Pepe Escobar (2012) acerca do “Pipelineistan” em:
http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2012/08/201285133440424621.html
21
“Even with all its terrible failings and its appalling dictator (who was partly created by US policy two decades ago), were
Iraq to have been the world's largest exporter of bananas or oranges, surely there would have been no war, no hysteria over
mysteriously vanished weapons of mass destruction, no transporting of an enormous army, navy and air force 7000 miles
away to destroy a countryscarcely known even to the educated American, all in the name of "freedom." Without a well-
organized sense that these people over there were not like "us" and didn't appreciate "our" values the very core of traditional
Orientalist dogma as I describe its creation and circulation in this book there would have been no war” (SAID, 2003, p. xvi).

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