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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA DO ORIENTE CONTEMPORÂNEO
PROF. DR. FERNANDO CAUDURO PUREZA

DISCENTE: Fernando Glaybson do Nascimento Santos (20180032311)

FICHAMENTO: AMIN, Samir. “2011: Primavera Árabe?”. In: Temporalis, Brasilia (DF),
ano 10, n. 20, 2013. p. 221-252.

p. 221 Samir Amin inicia o texto nos situando na discussão que perpassa todo o artigo:
com os novos fluxos de lutas progressistas no mundo árabe, uma superação do
capitalismo irá acontecer? ou o passado irá se repetir, as lutas serão
desmobilizadas e esses países irão seguir no lugar de periferia dominada? A
partir disso, ele explica que tentará fazer um estudo de caso, já que abordar
todas as lutas nos variados locais diferentes poderia condicioná-lo ao perigo das
generalizações. Assim, estudaremos aqui o Egito, que é um lugar chave para a
“evolução geral da região”.

p. O autor segue dizendo que o Egito foi o primeiro país periférico a tentar
122-124 emergir, antes mesmo da China e do Japão, ainda no século XIX, e depois em
quase metade do século XX. Em todas as tentativas, seus planos foram
frustrados pelo grande dominante do momento, seja a Grã-Bretanha, seja hoje
pelos Estados Unidos. A estratégia é sempre similar: reforçar os grupos
dominantes passadistas, extremamente reacionários, ligados à versão mais
reacionária do Islã (salafista wahhabista) a tomar o poder e desmobilizar e
despolitizar o povo engajado na luta. Entre 1919 e 1967 muitas lutas emergiram
e, apesar do período de Nasser ser o mais conhecido hoje, ele representa apenas
os últimos anos de uma série de reivindicações diversas, muitas vezes bem mais
progressistas. Um exemplo importante citado é o “parêntese” que ocorre durante
a Segunda Guerra Mundial, em que a Grã-Bretanha não mexe tanto com a
política do Egito, o que abre força para muitos grupos revolucionários
(comunistas), atrelado ao operariado e pequenos camponeses. Esse levante,
quando percebido enquanto perigoso, é rapidamente abafado pela ditadura de
Sedki Pacha, mobilizando a Irmandade Muçulmana.

p. Ao tratar do período de Nasser, a partir de 1954, o autor destrincha sobre como


225-227 a frente antiimperialista que ele faz, acaba favorecendo o imperialismo. Ao
ignorar boa parte das lutas que vieram antes, para formar a revolução egípcia,
com um poder pouco interessado na participação das massas, progressista, mas
não-socialista, ele esgota os próprios meios e, em pouco tempo, se vê
encurralado pela mobilização em Israel, feita pelos EUA. A derrota em 1967
sela o fim dos fluxos do século XX, entregando o Egito a um refluxo de quase
cinquenta anos. Assim, Israel expande o domínio sobre a Palestina com a ajuda
do Egito e dos países do Golfo. Os que vieram após Nasser, desmantelam o
sistema econômico que ele visou construir e criam algo incoerente, submisso
aos interesses de fora. Apesar do que diz o Banco Mundial, o Egito é um país
rico, mas com má distribuição de renda, sendo assim extremamente desigual.
Para manter esse período de “estabilidade” pós-1967, o Estado usa de uma
máquina policial monstruosa. Com a predominância de uma ideologia do Islã
Político reacionário, que domina todos os meios, o país não consegue fazer
frente aos desafios do mundo moderno. Quando surge a guerra contra o
terorismo, está do lado de Washington.

p. 228- A partir de 2007 inicia um novo fluxo de lutas: greves operárias, resistências
231 camponesas e protestos democráticos das classes médias, à exemplo do Kefaya,
vão criando a ambientação perfeita para uma nova fase. Os componentes desse
movimento são os jovens politizados, muitas vezes ligados ao segundo
componente, as forças da esquerda radical, e, por fim, aqueles reunidos pelas
classes médias democratas. No geral, têm três objetivos em comum: restaurar a
democracia; criar um política social que pense o povo e uma política
internacional independente. Esse movimento é diverso, sendo geralmente
situado à esquerda. As classes médias do movimento são compostas por
bloguistas, crentes na democracia burguesa defendida por Washington, e
comumente vítimas das conspirações desagregadoras da CIA, que visam separar
para dominar. Nesse período houve muita repressão, mas as massas não
desistiram, o que deixou Obama e Hillary Clinton sem opção a não ser largar
mão do Mubarak e seus cúmplices, que logo caíram. A entrada da classe
operária e dos sindicatos independentes na luta, assim como de uma parcela
desorientada das massas, gera debate para saber quem fará alianças eficazes
com esses grupos. Muitos partidos de esquerda tem agido nesse sentido.

p. Ao tratar do bloco reacionário, Amin descreve-o como uma burguesia corrupta,


232-235 intrincada com o aparato político, aliado dos EUA, composta por camponeses
ricos (que ganharam muito no período de Nasser, inclusive), exército, polícia,
civis, pequenos empresários médios e religiosos. A verdadeira elite:
multi-bilionários. Um elemento importante ainda é esse exército, que se vende
como neutro, mas que perdeu muito espaço para a polícia e aparentemente está
relegado aos bastidores dos movimentos contrarrevolucionários.

p. No que concerne ao Islã Político, o autor esmiúça detalhes sobre a Irmandade


235-238 Muçulmana, dominadora da educação, justiça e televisão egípcia. Sua ideologia
é passadista, reacionária e anti democrática, mas para conter e servir de via às
reivindicações atuais do povo, tem tentado se vender enquanto democrática,
moderada e favorável aos padrões sociais “progressistas”. Desde o início, é fiel
aos interesses do mercado exterior, recebeu forte apoio dos EUA e o certificado
de “democracia” na Arábia Saudita (proprietária). A verdade é que nunca
apoiará um Egito democrático, mas pode dissimular algo do tipo. Aliada dos
salafistas, estabelece contra a frente do islã sufista (sufi), que não é arcaica ou
dogmática e traz características laicizadas em seu discurso. Costumava ser
predominante no Egito. O wahhabismo que permeia o salafismo é o puro suco
de uma teocracia criminosa disfarçada de moderada. Estado perfeito para a
Irmandade e o imperialismo estadunidense.

p. 239- Nesta seção do texto, Amin aponta para a estratégia que tem sido usada pelos
EUA, Israel e Arábia Saudita para desmobilizar as lutas: o modelo paquistanês
para legitimar a irmandade muçulmana: “o exército (islâmico) nos bastidores e
o governo civil assumido por um(uns) partido(s) islâmico(s) eleito(s)” (p.29).
Os EUA sabem que o Egito é uma região chave para seu domínio global, porque
ele pode levantar forças impossíveis no Oriente Médio ao estimular a
solidariedade dos povos árabes e o reconhecimento do Estado palestino por
Israel. Assim, reduzir o Egito à insignificância é a meta. Para isso, a Irmandade
é capaz até de criar braços nos sindicatos e organizações campesinas para
desmobilizar os movimentos. O aspecto religioso deve ser enfatizado porque é
em momentos de grande fluxo de lutas que a religião é movida para o segundo
plano. Assim, o uso da mesma para a despolitização deve ser crucial. Desde sua
derrota nas eleições dos estudantes que a Irmandade arquitetava formas de não
sair do aparelho político nas eleições seguintes.

p. Fazendo um importante apelo nessas páginas, citando Mao, o autor move nossas
244-250 considerações para o sul global, região dos países subalternos do capitalismo. É
nele, também, onde algo novo pode florescer: a superação desse sistema. Ao
citar uma série de exemplos do mundo Árabe, mas também da Ásia, África e
América Latina, Amin nos leva a entender que somos força importantíssima
para essa mudança. Por isso, quando acontecem grandes movimentos libertários
nesses lugares, EUA e Europa movem céus e terra para favorecer forças
opressoras, e, mesmo quando apoiam alterações, são alterações que não alteram
nada. Assim se dá com os aparatos da OTAN e as intervenções sob o pretexto
do direito internacional ditado pelos países sede do capitalismo ocidental.
Assim, a primavera dos povos do sul é, segundo a visão de Amin, o outono do
capitalismo.

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