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TÍTULO DA OBRA

EDIÇÃO
EVOLUÇÃO
DO ARCABOUÇO
REGULATÓRIO
R Rum elenda num velique sundenis et plique int, accabor
ibusdamus, et exerferrum erit mo modi unt, at molupiciet DE GOVERNANÇA
CORPORATIVA
ium explia sequi alignatatae senisque cus ea as dolupis pa vi-
tatiure net et doluptatur as eribeat aspelecabo. Hictur autenit,
nus volorem sitaspedit quam re pre porunt fugiam, quoditiunt,
comnim quam quam, volum elis ium earcia nulpa consenis id
quam, con poribea nam rem ut la corent.
IBGC Discute
Evolução do Arcabouço Regulatório
de Governança Corporativa

São Paulo | 2018


O IBGC é uma organização exclusivamente Conselho de Administração
dedicada à promoção da governança corpo-
rativa no Brasil e o principal fomentador das PRESIDENTE
práticas e discussões sobre o tema no país, Ricardo Egydio Setubal
tendo alcançado reconhecimento nacional e
internacional. VICE-PRESIDENTES
Fundado em 27 de novembro de 1995, Henrique Luz e Monika Hufenüssler Conrads
o IBGC – sociedade civil de âmbito nacional,
sem fins lucrativos – tem o propósito de ser CONSELHEIROS
referência em governança corporativa, contri- Doris Beatriz França Wilhelm, Isabella Saboya, Israel Aron
buindo para o desempenho sustentável das Zylberman, Leila Abraham Loria, Richard Blanchet e Vicky Bloch
organizações e influenciando os agentes da
nossa sociedade no sentido de maior trans-
parência, justiça e responsabilidade. Diretoria
Para mais informações sobre o Instituto Alberto Messano e Matheus Corredato Rossi
Brasileiro de Governança Corporativa, visite o
website <www.ibgc.org.br>.
Para associar-se ao IBGC, ligue: Superintendência Geral
(11) 3185-4200. Heloisa Bedicks
CRÉDITOS
Esta publicação foi desenvolvida a partir das discussões e análises de um grupo de trabalho formado por An-
derson Felipe Aedo Pereira, Danilo Gregório, Fernando Silva Moreira dos Santos, Giovanni Paolo Falcetta, Laís
Piasentini Oliva, Lucas Vaz Ferreira Pinto, Maiara Madureira e Valeria Café.
Imagem da capa: Shutterstock.

COORDENAÇÃO
Maiara Madureira

REDAÇÃO
Giovanni Paolo Falcetta e Maiara Madureira

AGRADECIMENTOS
Ao grupo de trabalho, que dedicou, generosamente, seu tempo para o desenvolvimento deste documento.
A Flavia Mouta, Juliana Bonacorsi de Palma, Karen Dagan, Marina Copola de Carvalho, Mercedes Stinco,
Monica Carvalho e Paula Oda pela participação em audiência restrita que debateu o conteúdo do documento.

I59i Instituto Brasileiro de Governança Corporativa


  Evolução do arcabouço regulatório de governança corporativa. / Ins-
tituto Brasileiro de Governança Corporativa. São Paulo, SP: IBGC, 2018.
(Série: IBGC Discute)
 65p.

ISBN: 978-85-99645-65-9

1. Governança corporativa. 2. Regulação. I. Título.

CDD-658.4

Bibliotecária responsável: Mariusa F. M. Loução CRB – 8-9995


Sumário

APRESENTAÇÃO 7

INTRODUÇÃO 9

1. INICIATIVAS DIVERSAS 13
1.1 Documentos de melhores práticas 14
1.1.1 IBGC 14
1.1.2 GT Interagentes 14
1.2 Autorregulação 15
1.2.1 ABRAPP, SINDAP e ICSS 15
1.2.2 AMEC 16
1.2.3 B3 17
1.3 Regulação 18
1.3.1 Regulamentação da Lei Anticorrupção (Lei n° 12.846/2013) 18
1.3.2 Guias CGU de Programas de Integridade 18
1.3.3 Lei das Estatais (Lei n° 13.303/2016) 19
1.3.4 CGPAR 20
1.3.5 CVM 20

2. AS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA NO NOVO CONTEXTO REGULATÓRIO 21


2.1 Medidas relacionadas à administração 22
2.2 Medidas relacionadas à fiscalização e controles 25
2.2.1 Código do IBGC e Código Brasileiro de Governança Corporativa –
Companhias Abertas 25
2.2.2 Programa Destaque em Governança de Estatais 26
2.2.3 Novo Mercado 28
2.2.4 Regulamentação da Lei Anticorrupção e orientações da CGU
para programas de integridade 28
2.3 Medidas de transparência 30
2.3.1 Interesse público 30
2.3.2 Responsabilização pelas informações prestadas 31
2.3.3 Pratique ou Explique 32
2.3.4 Informações sobre fiscalização e controle 32
2.3.5 Informações sobre composição e atuação da administração 32

3. OS MECANISMOS DE ENFORCEMENT 35
3.1 Sanção contratual 35
3.2 Mecanismos reputacionais 35
3.3 Responsabilidade objetiva 36
3.4 Acordos de leniência 38

PERSPECTIVA PRÁTICA 41

CONSIDERAÇÕES FINAIS 45

REFERÊNCIAS 47

ANEXOS
Anexo 1  Quadro comparativo sobre composição do conselho de administração 53
Anexo 2  Quadro comparativo de práticas sobre composição, qualificação e
   competências para comitê de auditoria 57
Anexo 3  Lei Anticorrupção 59
Anexo 4  Histórico da Operação Lava Jato 63
A I 1 2 3 PP CF R AN
Apresentação

Apresentação

A Operação Lava Jato, a maior investigação de corrupção da história do Brasil, vem trazen-
do, desde 2014, luz para os casos de corrupção envolvendo os diversos entes governa-
mentais e setores da iniciativa privada. Ao mesmo tempo, os recentes escândalos impactaram
a sociedade na conscientização sobre a importância da governança corporativa, em uma
inegável inquietação que mobilizou diversos atores da sociedade a buscar mecanismos para
afastar – ou ao menos mitigar – desvios de conduta e atos ilícitos. Ainda que o Brasil já tivesse
uma legislação e regulamentação com mecanismos para a responsabilização de envolvidos
em casos de corrupção, foi esse cenário de escândalos que possibilitou observar um real avan-
ço no arcabouço regulatório de combate à corrupção e a favor da governança corporativa.
Esse documento tem como objetivo fazer um registro histórico do novo arcabouço de go-
vernança corporativa aplicável às companhias de uma forma geral, focando no relato da cons-
trução de diretrizes, seja de regulação, autorregulação ou documentos de melhores práticas. O
olhar específico mergulhou nas novas regras aplicáveis às empresas estatais, que tiveram que
adaptar suas estruturas e documentos à nova realidade trazida com a regulação, mas as empre-
sas privadas também fizeram parte da construção do documento, uma vez que participaram
ativamente das situações investigadas e também tiveram suas práticas questionadas, embora
não sejam o principal objeto dessa narrativa.
Por ser um movimento ainda recente da sociedade e um processo amplo e contínuo, esse
trabalho concentrou-se em avaliar as discussões e a construção de estruturas e políticas no com-
bate à corrupção e em prol da governança corporativa. Traz, ao final, questionamentos sobre os
desafios que virão com tempo e o amadurecimento cultural e moral da sociedade, quanto à cons-
ciência da importância das práticas de governança corporativa para objetivos de longo prazo.

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Introdução

Introdução

A Operação Lava Jato, maior investigação de corrupção da história do Brasil, deflagrada


em 2014, motivou formadores de políticas públicas, órgãos de autorregulação, empre-
sas e segmentos da sociedade civil organizada a buscarem na governança corporativa meca-
nismos para evitar – ou ao menos mitigar – desvios de conduta e atos ilícitos.
À medida que outras investigações como as Operações Zelotes µ e µ Investiga esquema de
corrupção de empresas e pessoas
Greenfield £ ganharam força e novas fases da Lava Jato foram sendo inicia- físicas para evitar autuações por
das, essa busca se intensificou. sonegação fiscal e previdenciária.
Os efeitos da corrupção já somaram cifras astronômicas e afetaram não
só as empresas estatais e privadas investigadas, mas também a sociedade
£ Apura desvios nos fundos de
como um todo e a própria imagem do país no exterior.
pensão de empresas estatais.
Além do impacto financeiro, há também um relevante impacto reputa-
cional. Desde 2012, o índice de percepção da corrupção (IPC) ¤ do Brasil, ava-
liado pela Transparência Internacional, vem se deteriorando. Em 2017, o Brasil ¤ O índice avalia a percepção
de corrupção em uma escala que
ficou na 96ª posição, junto com Colômbia, Indonésia, Panamá, Peru, Tailândia vai de zero (mais corrupto) a 100
e Zâmbia, atrás de países como Timor Leste, Sri Lanka, Burkina Faso, Ruanda e (menos corrupto). A amostra de
Arábia Saudita, considerados menos corruptos. A percepção da corrupção ten- países analisados gira em torno
de 175 a 180 países, que são
de a ser mais negativa quando existe um debate efetivo sobre o tema (algo ranqueados de acordo com sua
que deveria ser visto como positivo), o que abre espaço para questionar o índi- pontuação. Assim, quanto mais
ce. Contudo, é inegável que esse resultado afeta a percepção de confiança no próximo do início do ranking,
menos corrupto o país é.
país e a reputação e valor das companhias, ainda que indiretamente.
É complexo determinar o impacto da percepção de corrupção no valor
das empresas, mas a queda no preço das ações de empresas listadas em bolsa nos permite ter

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
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Introdução

uma noção do problema. Mesmo que diver- resultados. Ainda assim, é perceptível a impor-
sas variáveis possam impactar o movimento tância que investidores e agentes de mercado
acionário, fato é que as ações de emissão atribuem a essas práticas, em especial quando
da JBS após a delação premiada de Joesley há adesão a segmentos especiais de governan-
Batista tiveram uma desvalorização de mais ça corporativa.
de 31% em um único dia e que a Petrobras, Os segmentos especiais da bolsa de va-
após a deflagração da Operação Lava Jato, lores brasileira – (Bolsa, Brasil e Balcão - B3) –
chegou a ter seu valor de mercado reduzido Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado – permitem o
em 85,5% desde seu pico monitoramento das companhias listadas e o
µ A máxima histórica foi histórico, em 2008 µ. enforcement na hipótese de descumprimen-
registrada em 21 de maio de 2008, Também é difícil me- to das obrigações previstas nos respectivos
quando a estatal atingiu o valor de
mercado de R$510,3 bilhões. Em dir a geração de valor gerada regulamentos. Com efeito, 75% das ofertas
18 de janeiro de 2016, quando o pela adoção de boas práticas públicas iniciais de ações (IPOs) foram rea-
valor das ações caiu a menos de de governança corporativa, lizadas no nível mais alto, o Novo Mercado,
R$ 5,00, a petroleira valia apenas
R$ 73,7 bilhões. uma vez que tal análise envol- desde sua criação, em 2000, o que demons-
veria a exclusão de diversas tra que a adesão a segmentos especiais é pra-
variáveis, podendo distorcer ticamente uma exigência dos investidores.

Conflito de interesses

N o caso específico das estatais tem-se,


além do impacto da corrupção, os
efeitos da interferência governamental na
e transmissoras de energia elétrica, buscando
uma redução média de 20% na tarifa de ener-
gia dos consumidores em troca da renovação
administração das companhias e da falta de antecipada das concessões. A despeito de a
transparência quanto aos limites da atuação medida atingir todo o setor e não apenas es-
do Estado. tatais, merece destaque o caso da Eletrobras.
Um exemplo dessa interferência foi a Na assembleia geral para deliberação da re-
edição da Medida Provisória 579, de 2012 £, novação da concessão houve a participação
que criou as bases para a renovação dos con- da União, fato que foi inclusive considerado
tratos de concessão de usinas, distribuidoras ilegal pela Comissão de Valores Mobiliários
(CVM). A autarquia condenou o acionista con-
£  Segundo a Medida Provisória 579, as concessões
retornariam ao poder concedente se o concessionário não trolador ao pagamento de multa de R$ 500
aceitasse uma remuneração a ser calculada pela Agência mil por violação ao artigo 114, §1º da Lei
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que incluiria somente nº 6.404/1976 – que dispõe sobre conflito
custos de operação e manutenção.
de interesses.

Além do impacto da corrupção, as empresas estatais sofrem com os


efeitos da interferência governamental na administração das companhias
e da falta de transparência quanto aos limites da atuação do Estado.

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
A I 1 2 3 PP CF R AN
Introdução

Por que a Lava Jato?


Para compreender a busca pelo reforço da governança de empresas estatais, é necessário
!
ressaltar o papel da Operação Lava Jato. A maior investigação de corrupção e lavagem de
dinheiro da história do país tem como foco os desvios de recursos, estimados em bilhões
de reais, da maior estatal brasileira, a Petrobras. Dentre as diversas linhas de investigação,
algumas têm relação direta com questões cruciais de governança corporativa: a indepen-
dência e as responsabilidades do conselho de administração, notadamente no que se
refere a funções de monitoramento e seleção de diretores.
A Lava Jato investiga desde o cartel formado por empreiteiras contratadas pela
Petrobras, até o pagamento de propinas a funcionários da empresa e pessoas “que
integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter
os diretores da Petrobras”.
Veja mais no anexo 4.

Diante desse panorama e da percepção a se movimentar para promover mudanças no


de que a responsabilização de agentes de arcabouço de governança corporativa. O esfor-
governança µ e a adoção de efetivas práticas ço abrange não só a legislação e regulamenta-
de conformidade (compliance) e de adminis- ção em vigor, mas também a autorregulação e
tração de conflitos de interesses poderiam ter outras iniciativas de adoção voluntária.
mitigado o risco de práticas ilegais e a mag- Se, de um lado, as discussões tiveram
nitude dos prejuízos, diversos agentes – polí- início no âmbito das estatais, considerando
ticos, da sociedade e do mercado – passaram os desvios causados por motivações políticas,
a prestação de serviços públicos essenciais e
o peso na economia brasileira, de outro, em-
µ Agentes de governança são indivíduos e órgãos
envolvidos no sistema de governança, como sócios,
presas privadas também tiveram suas práti-
administradores, conselheiros fiscais, auditores, etc., cas questionadas uma vez que participaram
conforme definição do Código das Melhores Práticas de ativamente dos fatos investigados pela Lava
Governança Corporativa do IBGC (2015, p. 13).
Jato e de outros escândalos.

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
A I 1 2 3 PP CF R AN
Iniciativas Diversas

Iniciativas Diversas

A governança corporativa passou a ser central na pauta de discussões de combate a


corrupção, em relação tanto a estatais quanto a empresas privadas diante do cenário
conturbado descrito anteriormente. Por isso, diversos agentes do mercado passaram a se mo-
vimentar para fortalecer o arcabouço regulatório sobre o assunto.
O tema, que já era prioritário para alguns agentes como o IBGC, a Associação de Investi-
dores no Mercado de Capitais (AMEC) e a B3, em ações coordenadas ou isoladas, difundiu-se.
Em 2013, líderes de 11 entidades ligadas ao mercado de capitais (Abrapp, Abrasca,
ABVCap, Amec, Anbima, Apimec, B3, Brain, IBGC, Ibri e Instituto Ibmec) criaram o Grupo de
Trabalho (GT) Interagentes, com o objetivo construir uma agenda positiva de governança cor-
porativa e fortalecimento de mecanismos de proteção a investidores, visando a ampliação de
fontes de financiamento e a atração de investimentos para o país.
Na esfera pública, os Poderes Executivo e Legislativo deram andamento a processos nor-
mativos que estavam suspensos, como a Lei Anticorrupção e sua regulamen-
tação e o estatuto jurídico das estatais.
&  M. Mohallem e C. Ragazzo
Somente em 2015, mais de 140 proposições legislativas foram apre- (coordenadores), Diagnóstico
sentadas, abordando pelo menos um dos seguintes temas: regras de licitação, Institucional: Primeiros Passos para
financiamento eleitoral, corrupção ativa e passiva e crimes contra a adminis- um Plano Nacional Anticorrupção,
2017, p. 130.
tração pública &.

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Iniciativas Diversas

1.1 Documentos de melhores práticas

D estacamos a seguir documentos cria-


dos com o propósito essencialmente
educativo por organizações privadas. Eles se
O IBGC também publicou documentos
específicos para sociedades de economia mis-
ta, três deles em 2015: uma carta de opinião,
diferem da regulação e autorregulação tradi- uma carta-diretriz
cionais por não contarem com mecanismos e um caderno de &  IBGC, Carta de Opinião
formais de adesão nem de supervisão. boas práticas & – n. 3: Governança de
Sociedades de Economia
com o propósito de Mista, 2015; IBGC, Carta
1.1.1 IBGC apresentar reco- Diretriz n. 5: Sociedades
O Código das Melhores Práticas de Gover- mendações con- de Economia Mista, 2015;
IBGC, Caderno 14: Boas
nança Corporativa do IBGC é o documento forme a realidade Práticas de Governança Cor-
mais completo sobre o tema e guia as dis- e necessidades ca- porativa para Sociedades
de Economia Mista, 2015.
cussões em diversos fóruns especializados racterísticas dessas
no assunto desde sua primeira edição, instituições, cons-
em 1999. tantemente sujeitas a interesses potencial-
Sua quinta edição foi lançada em 2015 mente divergentes e conflitantes – do Estado
e refletiu as preocupações e discussões le- e dos sócios privados.
vantadas por escândalos de corrupção envol- Em 2017, o IBGC desenvolveu publi-
vendo agentes públicos e privados. O código cações de orientação voltadas para órgãos de
buscou “estimular o uso consciente e efetivo fiscalização e controle, como o guia de com-
& IBGC, de instrumentos de governança, focando a pliance e o guia para comitês de auditoria &.
Código das essência das boas práticas” &.
Melhores
Práticas de A importância da ética foi tratada como &  IBGC, IBGC Orienta: Compliance à Luz da Governança
Corporativa, 2017; IBGC, IBGC Orienta: Orientações sobre
Governança uma das premissas do código e aspecto Comitês de Auditoria, 2017.
Corporativa,
transversal a todos os princípios e práticas de
2015, p. 13.
governança, a partir da definição do concei-
to de deliberação ética Ü. A palavra “ética”
e suas variações (ético, antiético) aparecem 1.1.2 GT Interagentes
trinta vezes nessa edição, contra três na edi- O GT Interagentes deu início ao desenvolvi-
ção anterior, de 2009. mento do Código Brasileiro de Governança
Corporativa – Companhias
Abertas & (CBGC) em 2014, &  GT Intera-
inspirado pelo modelo “prati- gentes, Código
Brasileiro de
Ü Uma deliberação ética é aquela que ou explique” µ, adotado Governança
que considera, em todo processo de por 45 de 56 códigos de dife- Corporativa –
tomada de decisão, tanto a identida- rentes mercados analisados. Companhias
Abertas, 2016.
de da organização quanto os impac- A percepção de que o
tos das decisões sobre o conjunto de mercado brasileiro precisava
suas partes interessadas, a sociedade fortalecer suas práticas de governança o le-
em geral e o meio ambiente, visando
ao bem comum (IBGC, Código das
µ Na abordagem “pratique ou explique”, a companhia
Melhores Práticas de Governança não precisa seguir a prática recomendada de boa
Corporativa, 2015, p. 17). governança, desde que apresente uma explicação para o
não cumprimento.

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Iniciativas Diversas

vou a seguir a mesma abordagem consagra- companhias listadas em bolsas de valores,


da internacionalmente. sejam elas estatais ou privadas. No entanto,
O Código Abrasca de Autorregulação e alguns de seus trechos fazem menções espe-
Boas Práticas das Companhias Abertas inspi- cíficas a empresas estatais, como o princípio
rou a estrutura do Código Brasileiro de Gover- 1.8: “A orientação das atividades da compa-
nança Corporativa – Companhias Abertas, e o nhia pelo acionista controlador, de modo que
Código das Melhores Práticas de Governança atenda ao interesse público que justificou a
Corporativa, do IBGC, que acabava de ser ree- criação da sociedade de economia mista,
ditado, seu conteúdo. deve ser conciliada com os interesses dos
O Código Brasileiro de Governança Cor- demais acionistas e investidores nos valores
porativa – Companhias Abertas é aplicável a mobiliários da companhia (p. 26).”

Práticas Recomendadas para Estatais


1.8.1 O estatuto social deve identificar clara e precisamente o interesse público que
!
justificou a criação da sociedade de economia mista, em capítulo específico.
1.8.2 O conselho de administração deve monitorar as atividades da companhia
e estabelecer políticas, mecanismos e controles internos para apuração dos eventuais
custos do atendimento do interesse público e eventual ressarcimento da companhia
ou dos demais acionistas e investidores pelo acionista controlador”.

1.2 Autorregulação

N a seara da autorregulação, em que a


adesão às regras é voluntária, mas su-
jeita a um monitoramento formal e à aplicação
1.2.1 ABRAPP, SINDAP e ICSS
Em 2016, a ABRAPP, o Sindicato Nacional das
Entidades Fechadas de Previdência Comple-
de sanções em caso de descumprimento, me- mentar (SINDAP), e o Instituto de Certificação
recem destaque as atuações da Associação Bra- dos Profissionais de Seguridade Social (ICSS)
sileira das Entidades Fechadas de Previdência lançaram o Código de Autorregulação em
Complementar (ABRAPP), da AMEC e da B3. As Governança de Investimentos, tendo como
iniciativas da ABRAPP e da AMEC contemplam público-alvo os fundos de pensão.
o papel dos investidores como fiscalizadores da Ao elaborar o código e também criar
atuação dos controladores e administradores, um mecanismo de reconhecimento, que se
ao passo que as da bolsa de valores concen- daria por meio da concessão de um selo a
tram-se nos controles internos das empresas µ. quem voluntariamente aderisse ao Código
e se submetesse a um processo de auditoria,
µ  Embora tanto a iniciativa de ABRAPP, SINDAP e ICSS a preocupação do trio de entidades foi “dar
quanto a da AMEC sejam pontuadas neste capítulo, não
trataremos especificamente de seus respectivos documentos
uma resposta à sociedade, tendo em vista
ao analisar as regras e práticas do novo arcabouço de os recentes acontecimentos envolvendo
governança corporativa, devido às suas especificidades gestão de investimentos em Entidades Fe-
em não abordar exclusivamente companhias.
chadas de Previdência Complementar (...)

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Iniciativas Diversas

diminuindo incertezas, contribuindo para Assim, foram estabelecidos princípios


aumentar a confiança de todos os agentes como a manutenção de padrões elevados de
e, principalmente, dificul- ética e integridade e a ado-
&  ABRAPP, Código de Autorre- tando a rotina daqueles que ção de “práticas que fortale- &  ABRAPP,
gulação em Governança de Inves- se beneficiavam com a falta çam a relação fiduciária com Código de
timentos, 2016, p. 3. Entidades já Autorregula-
aderentes ao Código da ABRAPP: de informação e simboliza- os participantes, assistidos, ção em Go-
Centrus, Ceres, Derminas, Ecos, vam fonte de risco sistêmi- patrocinadores, instituido- vernança de
Faelba, Fundo Paraná, Mútuoprev, co contra a transparência de res, sociedade civil e demais Investimentos,
Previ, Regius, Sabesprev e VWPP. 2016, p. 7.
mercado” &. partes interessadas” &.

! Dentre as obrigações previstas no código da ABRAPP, destacam-se:


• adoção de uma estrutura de governança contendo as atribuições de cada
órgão relacionado às decisões de investimentos, definindo as regras a se-
rem seguidas;
• criação de uma política de investimentos, que deve abranger as etapas dos
processos de gestão e monitoramento de investimentos;
• segregação de funções entre responsáveis pela gestão e controle; e
• elaboração de uma política de gestão de riscos, contendo os principais riscos
identificados na gestão de investimentos e o seu processo de monitoramento
e mitigação de perdas financeiras e danos de imagem, entre outros.

1.2.2 AMEC um conjunto de indivídu- &  AMEC,


A AMEC, que congrega investidores institu- os. Eles são stewards dos Código AMEC
de Princípios
cionais, especificamente gestores de fun- recursos de terceiros. O e Deveres dos
dos de ações e multimercados, e tem por que quer dizer que ‘tomam Investidores
objetivo atuar na defesa dos direitos dos conta’ dos valores mobiliá- Institucionais
– Stewardship,
acionistas minoritários das companhias rios (...)” &. 2016, p. 5.
abertas, divulgou o Código AMEC de Prin- Diante disso, após a
cípios e Deveres dos Investidores Institucio- elaboração de uma minuta,
nais – Stewardship. submetida à discussão em audiência pública,
Para a entidade, os investidores ins- e da realização de um roadshow e de deba-
titucionais precisariam demonstrar sua tes com a CVM, foi divulgado um documento
responsabilidade de forma mais adequada reunindo um conjunto de princípios e orien-
e assumir papel central na defesa da sus- tações sobre a melhor forma de atender ao
tentabilidade do mercado financeiro. Nas dever fiduciário.
palavras da própria AMEC, “[o] papel dos Além do documento com orientações,
investidores institucionais não pode ser foi criado um mecanismo reputacional para
dissociado do dever fiduciário pactuado ao reconhecer os investidores que, voluntaria-
assumir a gestão de recursos em nome de mente, aderissem ao Stewardship Code – o

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
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Selo Stweardship. Dessa forma, a AMEC re- µ  Já aderiram ao Código da AMEC: Aberdeen
Standard, Argucia Capital Management, BB DTVM,
aliza, anualmente, o monitoramento dos BNDESPAR, Bridge Trust, Cartica, Claritas, FUNCEF,
investidores que aderirem ao Stewardship Fundação CESP, Hermes, Itaú, Leblon Equities, Petros,
Code µ, premiando os melhores relatórios. Robeco, Santander Asset Management, Teorema, Victoire.

Os princípios elencados pelo código da AMEC são :


(i) implementar e divulgar um programa de stewardship;
!
(ii) implementar e divulgar mecanismos de administração de conflitos de interesses;
(iii) considerar aspectos ambientais, sociais e de governança (ASG) nos seus pro-
cessos de investimento e atividades de stewardship;
(iv) monitorar os emissores de valores mobiliários investidos;
(v) ser ativo e diligente no exercício dos seus direitos de voto;
(vi) definir critérios de engajamento coletivo; e
(vvi) dar transparência às suas atividades de stewardship.

1.2.3 B3 O debate partiu de uma pesquisa rea­


lizada pela B3 sobre os princípios interna-
1.2.3.1 Programa Destaque em cionais sobre estatais, merecendo ênfase os
Governança de Estatais da Organização para a Cooperação e Desen-
Uma das principais autorreguladoras do mer- volvimento Econômico (OCDE) e da Corpo-
cado, a B3 criou um programa específico para ração Andina de Fomento (CAF) e as práticas
estatais, como resposta à necessidade de recu- adotadas por outros países e companhias
perar a imagem e a credibilidade destas em- estrangeiras.
presas. Em setembro de 2015, a bolsa lançou
o Programa Destaque em Governança de Esta- 1.2.3.2 Novo Mercado
tais (Destaque Estatal). Trata-se de um mecanis- Depois do lançamento do Programa Desta-
mo de certificação que em Governança de Estatais, a B3 passou
das estatais que, µ  Atualmente, há cinco a conduzir discussões sobre a revisão do Novo
estatais certificadas pelo
voluntariamente µ, Programa Destaque Estatal:
Mercado, em 2016. Ao longo desse processo,
desejarem a ele Petrobras, Banco do Brasil, percebeu-se uma grande preocupação com
aderir, adotando as Eletrobras, BB Seguridade a evolução do segmento especial, cujas prá-
e Petrobras Distribuidora.
práticas de gover- ticas de governança estavam muito aquém
nança previstas. daquelas previstas internacionalmente.
Os estudos para o projeto se iniciaram O regulamento foi inteiramente refor-
antes mesmo de a Operação Lava Jato vir à mulado, passando a ter um capítulo específico
tona, mas as discussões foram lançadas em sobre fiscalização e controles e a exigir diver-
abril de 2015 e envolveram representantes de sos documentos internos à companhia – com
entes da federação, empresas estatais, entida- a definição, inclusive, dos respectivos conteú-
des de mercado e especialistas. dos mínimos esperados.

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
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Iniciativas Diversas

1.3 Regulação

N esta seção, elencamos leis, normas


e orientações emanadas pelo Poder
Executivo.
empresas devem ser avaliados para fins de
redução de sanções ou celebração de acor-
dos de leniência.

1.3.1 Regulamentação da Lei An- 1.3.2 Guias CGU de Programas


ticorrupção (Lei n° 12.846/2013) de Integridade
Em razão dos compromissos assumidos pelo A partir de 2015, o Ministério da Transparên-
Brasil frente a convenções internacionais, cia e a Controladoria-Geral da União (CGU)
em especial a Convenção das Nações Uni- passou a publicar orientações, normas e pro-
das contra Corrupção (UNODC), a Convenção cedimentos complementares para avaliação
Interamericana de Combate à Corrupção da de programas de integridade, em linha com
Organização dos Estados Americanos (OEA) a Lei nº 12.846 e o Decreto 8.420.
e a Convenção sobre o Combate da Corrup- Além da Portaria 909, de 2015, vale
ção de Funcionários Públicos lembrar a série de guias contendo dispo-
µ  Relembrando que, no Brasil, Estrangeiros em Transações sições para auxiliar as empresas a criar ou
não há a responsabilidade criminal Comerciais Internacionais da aprimorar seus programas de integridade
da pessoa jurídica (com exceção de
questões ambientais). OCDE, foi proposta uma legis- em consonância com as melhores práticas
lação específica para permitir sobre o assunto, de modo a prevenir, detectar
a responsabilização de pesso- e remediar a ocorrência de atos lesivos à ad-
£  A lei se aproxima de outras
legislações internacionais por as jurídicas, nos âmbitos civil ministração pública.
sua aplicação extraterritorial - o e administrativo µ, pela prá- O guia Programas de Integridade – Di-
que também é considerado uma tica de atos cometidos contra retrizes para Empresas Privadas, o primeiro
inovação do diploma legal.
a administração pública na- da coleção, prevê cinco pilares dos programas
cional ou estrangeira £. de integridade, consolidando e reconhecen-
Após aproximadamente três anos de do muitas das estruturas de compliance já
tramitação, em agosto de 2013, foi aprovada utilizadas globalmente.
a Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei
Anticorrupção. A responsabilização prevista
nesta lei é objetiva, isto é, independe da de-
monstração de dolo ou culpa na prática do ato Ü Conjunto de mecanismos e proce-

lesivo à administração pública, e não exclui a dimentos internos de integridade,


responsabilidade individual subjetiva de seus auditoria e incentivo à denúncia de
dirigentes ou administradores ou de qual- irregularidades e na aplicação efeti-
quer outra pessoa física autora, coautora ou va de códigos de ética e de conduta,
partícipe do ato ilícito. políticas e diretrizes com objetivo
No entanto, foi em janeiro de 2015, de detectar e sanar desvios, fraudes,
após a repercussão da Operação Lava Jato, irregularidades e atos ilícitos prati-
que a lei foi regulamentada em nível fede- cados contra a administração públi-
ral, por meio do Decreto nº 8.420/2015. O ca, nacional ou estrangeira (Decreto
decreto trouxe parâmetros pelos quais pro- nº 8.420/2015, art. 42).
gramas de integridade Ü instituídos pelas

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Iniciativas Diversas

Cinco pilares do programa de integridade

5 pilares
do PROGRAMA DE INTEGRIDADE

1o 2o 3o 4o 5o
COMPROMETIMENTO Monitoramento
Instância Análise de Regras e
E APOIO DA contínuo
responsável perfil e riscos instrumentos
ALTA DIREÇÃO

Fonte: CGU, Programas de Integridade – Diretrizes para Empresas Privadas, 2015, p. 7.

A CGU continua desenvolvendo publicações relacionadas aos programas de integrida-


de da Lei Anticorrupção. Entre elas estão:
!
• Guia Prático de Gestão de Riscos para a Integridade;
• Manual Prático para Avaliação de Programas de Integridade em Processo Ad-
ministrativo de Responsabilização de Pessoas Jurídicas;
• Guia Prático de Implementação de Programa de Integridade Pública;
• Manual para Implementação de Programas de Integridade no Setor Público;
• Guia de Integridade Pública;
• Guia de Implantação de Programa de Integridade em Empresas Estatais;
• Cartilha - Integridade Para Pequenos Negócios,
• Cartilha - Proteja a sua Empresa contra a Corrupção;
• Cartilha - Empresas Brasileiras no Exterior; e
• Guia Prático de Gestão de Riscos para a Integridade.

Todos os guias podem ser consultados no website: <http://www.cgu.gov.br/Pu-


blicacoes/etica-e-integridade/colecao-programa-de-integridade>.

1.3.3 Lei das Estatais da empresa pública, da sociedade de econo-


(Lei n° 13.303/2016) mia mista e de suas subsidiárias, nos termos
A Lei de Responsabilidade de Estatais, pro- do artigo 173 da Constituição Federal de
mulgada em 30 de junho de 2016, teve o 1988. Contudo, como havia clamor popular
objetivo de estabelecer o estatuto jurídico para proteger as estatais de expropriações

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µ  Segundo o artigo 173 da Consti- indevidas, a lei foi além do de 2015 – foram mais de 15, desde então –,
tuição Federal, o estatuto jurídico das
conteúdo mínimo obrigatório
estatais deveria dispor sobre (i) sua fun-
quando voltou a ser bastante ativa.
ção social e as formas de fiscalização disposto pelo diploma cons-
pelo Estado e pela sociedade; (ii) a titucional µ e também previu 1.3.5 CVM
sujeição ao regime jurídico próprio
das empresas privadas; (iii) licitação e
regras relacionadas à transpa- Também merece destaque a movimentação
contração de obras, serviços, compras rência e à organização interna da CVM como reguladora do mercado de
e alienações, observados os princípios de fiscalização e controles. capitais. A autarquia federal, cuja atuação
da administração pública; (iv) a
constituição e o funcionamento dos O texto legal determi- abrange tanto empresas privadas quanto
conselhos de administração e fiscal; nou que os entes federativos estatais, desde que tenham registro de com-
e (v) os mandatos, a avaliação de realizassem a regulamenta- panhia aberta, atualizou a Instrução CVM
desempenho e a responsabilidade dos
administradores. ção da lei em até seis meses 480/2009, que trata do registro de emissores
de sua promulgação, permi- de valores mobiliários admitidos à negocia-
tindo a criação de um regime ção em mercados regulamentados e de seu
simplificado para as estatais que tivessem regime informacional, exigindo diversas
apresentado receita operacional bruta inferior informações adicionais relacionadas a gover-
a R$ 90 milhões no exercício anterior. De modo nança corporativa, inclusive no que se refere
geral, os decretos são bastante semelhantes à a controles internos.
lei, dispensando as companhias menores das Dentre as novas exigências está a en-
práticas cuja adoção não é obrigatória. trega obrigatória do informe de governança
corporativa, no qual as companhias devem
1.3.4 CGPAR dizer se praticam as recomendações do Có-
Em paralelo ao trabalho legislativo, a União digo Brasileiro de Governança Corporativa –
Federal passou a aproveitar melhor a Comis- Companhias Abertas, ou, se não as seguem,
são Interministerial de Governança Corpo- informar o porquê. O modelo “pratique ou
rativa e de Administração de Participações explique” permite que a emissora tenha uma
Societárias – a CGPAR. maior flexibilidade para a adoção das práticas
A comissão, composta pelos Ministros recomendadas e que os investidores tenham
de Estado do Planejamento, Orçamento e um retrato mais fiel da realidade de gover-
Gestão, da Fazenda e o Chefe da Casa Civil nança efetivamente adotada pelas empresas.
da Presidência da República, foi criada em Para as estatais, a CVM criou nova seção
£  A Comissão janeiro de 2007 £ para tratar de matérias no formulário de referência para que fossem
foi criada
relacionadas à governança corporativa nas prestadas informações sobre as atividades de-
por meio do
Decreto nº empresas estatais federais e da administra- senvolvidas para o atendimento ao interesse
6.021/2007, ção de participações societárias da União. público que justificou sua criação e sobre o
que desenhou
as linhas
As primeiras resoluções da comissão re- processo de formação de preços e regras apli-
mestras de lacionadas ao aprimoramento das práticas de cáveis à fixação de tarifas. A exigência está em
sua atuação. governança corporativa foram divulgadas em linha com o disposto no Programa Destaque
dezembro de 2010 e tratavam dos órgãos de em Governança de Estatais, elaborado pela
controles internos das estatais, em especial da B3, e com as recomendações já recorrentes no
auditoria interna, e das melhores práticas para Ofício Circular CVM/SEP, divulgado anualmen-
o conselho de administração. A comissão só di- te com a finalidade de orientar as companhias
vulgou novas resoluções sobre o tema a partir sobre a prestação de informações.

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As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório

As Práticas de
Governança Corporativa no
Novo Contexto Regulatório

O s pilares de governança corporativa, ilustrados pelo IBGC desde a primeira edição de


seu código, permeiam as iniciativas regulatórias recentes. A cada reforma legislativa,
publicação ou novo projeto de autorregulação, esses pilares são reforçados.
De acordo com o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, os princípios
básicos são:
• Transparência: Consiste no desejo de disponibilizar para as partes interessadas as
informações que sejam de seu interesse, e não apenas aquelas impostas por dispo-
sições de leis ou regulamentos. Não deve restringir-se ao desempenho econômi-
co-financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que
norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à otimização do valor da
organização.
• Equidade: Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e de-
mais partes interessadas, levando em consideração seus direitos, deveres, necessida-
des, interesses e expectativas.
• Prestação de contas (accountability): Os agentes de governança devem prestar con-
tas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo
integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e
responsabilidade no âmbito dos seus papéis.
• Responsabilidade corporativa: Os agentes de governança devem zelar pela viabili-
dade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de
seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração,

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As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório

no seu modelo de negócios, os di- mercado, de seus acionistas, da concorrência


versos capitais (financeiro, manufa- e até mesmo de sua função social, conforme
turado, intelectual, humano, social, determinado pelos artigos 116 e 154 da Lei
ambiental, reputacional etc.) no cur- Societária (Lei nº 6.404/1976) µ.
to, médio e longo prazos. Descendo ao nível das práticas de go-
vernança corporativa, que podem permear
A prestação de contas e a responsabi- mais de um princípio, é possível agrupar
lidade corporativa foram os princípios mais os aprimoramentos em três grupos – admi-
fortalecidos no cenário pós Lava Jato. As no- nistração, fiscalização e controles, e transpa-
vas práticas relacionadas a controles internos rência. Nas seções a seguir, destacaremos as
reforçam as consequências que os agentes principais alterações ocorridas em decorrên-
de governança devem sofrer em razão de cia dos acontecimentos pós 2014 no regime
seus atos e omissões e permitem a redução aplicável (ou potencialmente aplicável) às
das externalidades negativas no curto, médio empresas estatais.
e longo prazos.
O informe do código de governança e µ  “Art. 116. Parágrafo único. O acionista controlador
toda a documentação exigida de estatais são deve usar o poder com o fim de fazer a companhia
realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e
exemplos de evolução no quesito transpa- tem deveres e responsabilidades para com os demais
rência. Por sua vez, o princípio da equidade acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com
é protegido à medida em que são criadas a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses
deve lealmente respeitar e atender”.
regras para maior representatividade de “Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições
acionistas minoritários ou mesmo para a que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e
limitação da atuação de acionistas controla- no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do
bem público e da função social da empresa”.
dores, que poderiam agir em detrimento do

2.1  Medidas relacionadas à administração

U m dos grandes problemas identifica-


dos nas empresas estatais foi o risco
político inerente às indicações para atuação
ções. Além disso, seus membros deveriam
ter autoridade, experiência, competência e
independência necessárias para realizar suas
em conselhos de administração e corpos exe- funções de orientação estratégica dos negó-
cutivos. A evolução foi no sentido de buscar a cios e de acompanhamento das atividades
moralização das indicações, baseando-as em da administração, além, é claro, de observar
critérios objetivos e pré-definidos e de fazer os deveres fiduciários impostos pela legisla-
com que as estatais passassem a ter conse- ção em vigor. Da mesma forma, a diretoria e
lhos que atuassem de forma alinhada ao in- o conselho fiscal devem ser compostos por
teresse da companhia. pessoas qualificadas e comprometidas com o
No contexto brasileiro, as iniciativas exercício de suas atribuições.
públicas e privadas de aprimoramento de go- Diante disso, de forma geral, o Código
vernança corporativa avançaram no sentido de Melhores Práticas de Governança Corporati-
de recomendar ou exigir que o conselho de va do IBGC, o Código Brasileiro de Governan-
administração observasse, em sua composi- ça Corporativa – Companhias Abertas, o Novo
ção, diversidade de experiências e qualifica- Mercado, a Lei nº 13.303/2016 e o Programa

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Destaque em Governança de Estatais estabe- estatuto social ou da política de indicação


leceram dois componentes principais para da companhia.
tratar a questão: (i) a existência de um perfil De modo específico, a Lei nº 13.303/2016
para indicação de conselheiros, diretores e e o Programa Destaque em Governança de
membros do conselho fiscal; e (ii) a verifica- Estatais estabeleceram uma série de veda-
ção da aderência dos candidatos aos requisi- ções para participação na alta administração
tos previstos. da companhia. Representantes de Minis-
Previu-se, assim, que, para a seleção térios ou Secretarias de Estado não podem
de membros do conselho de administração, participar do conselho de administração, e
de seus comitês, da diretoria e do conselho representantes de órgãos reguladores, di-
fiscal, fossem estabelecidos critérios míni- rigentes estatutários de partidos políticos e
mos relacionados à composição do órgão titulares de mandatos no Poder Legislativo
como um todo e aos indivíduos especifica- não podem assumir cargos no conselho de
mente. Tais critérios deveriam constar do administração e diretoria.

Requisitos para membros

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO COMITÊ DE AUDITORIA


EXTERNOS INDEPENDENTES INDEPENDENTES OUTRAS EXIGÊNCIAS

coordenador
100% participação relevante 100% ou maioria
Código IBGC* independente

coordenador
CBGC* Maioria 1/3 Maioria independente

mínimo de 3,
Sem previsão 20% ou 2 1 ou mais
Novo Mercado* sendo 1 independente

1 conselheiro
Destaque Estatal* Sem previsão 30% Maioria independente

Sem previsão 25% mínimo de 3,


Lei no 13.303/2016* Maioria máximo de 5

* Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC, Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias
Abertas, Novo Mercado, Programa Destaque em Governança de Estatais e Lei no 13.303/16

Além dos cuidados gerais com a in- independência de um membro. Enquanto os


dicação de administradores, cabe lembrar outros diplomas estabelecem que basta a de-
a exigência de que a composição do órgão claração em ata de que determinado membro
conte necessariamente com membros inde- é independente, o Regulamento do Novo Mer-
pendentes. cado passou estabelecer uma avaliação em três
O Novo Mercado, isoladamente, trouxe níveis: autodeclaração, avaliação do conselho
uma novidade: a forma de caracterização da de administração e deliberação assemblear.

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! Avaliação em três níveis do Novo Mercado


Em primeiro lugar, o membro indicado ao conselho de administração deve fazer uma
autoavaliação e declarar se é independente ou não. Caso se enquadre em uma das
hipóteses que tem o potencial de colocar sua independência em xeque, deve funda-
mentar sua interpretação.
A autodeclaração do membro indicado ao conselho deve ser levada à adminis-
tração da companhia – diretamente ao conselho de administração ou indiretamente ao
comitê de elegibilidade. Estes órgãos seriam responsáveis por analisar a independência
do candidato confirmando ou não a autodeclaração apresentada e a inserir sua conclu-
são – também fundamentada – na proposta da administração para a assembleia geral.
Por fim, a confirmação da independência viria com a deliberação assemblear,
que teria, como subsídio para sua decisão, as declarações do candidato e do conselho
de administração. Somente então haveria a identificação do membro independente
tanto no formulário de referência como na ata da reunião que o elegeu.

AUTOAVALIAÇÃO

AVALIAÇÃO DO CONSELHO

DELIBERAÇÃO EM ASSEMBLEIA

CONSELHEIRO INDEPENDENTE DO NOVO MERCADO

Considerando que o conselho de admi- tação das responsabilidades do órgão em


nistração é um dos principais componentes publicações do IBGC e no Código Brasileiro
de governança das companhias, buscou-se de Governança Corporativa – Companhias
a construção de um órgão engajado e efe- Abertas no que se refere a conduta ética nas
tivo, cabendo destacar: (i) a necessidade organizações.
de instituição de processo de avaliação da
administração; (ii) a implantação de cultura µ  Também já previstos no Código de Melhores
Práticas de Governança Corporativa do IBGC, no
de treinamento de administradores µ na Regulamento do Novo Mercado, no Código Brasileiro
posse e periodicamente, em relação a temas de Governança Corporativa – Companhias Abertas, no
diversos como a Lei Societária, mercado de Programa Destaque em Governança de Estatais e na Lei
nº 13.303/2016.
capitais, conformidade, etc; e (iii) a explici-

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2.2 Medidas relacionadas à fiscalização e controles


2.2.1 Código do IBGC e volvendo o conselho de administração, o
Código Brasileiro de Governança comitê de auditoria, o conselho fiscal, a au-
Corporativa – Companhias Abertas ditoria independente e a auditoria interna.
O código do IBGC trouxe diversas recomen- Em comparação à edição de 2009, houve
dações e práticas relacionadas às funções aumento da clareza sobre o que se espera
de gerenciamento de riscos, controles in- de códigos de conduta, canais de denúncias
ternos e conformidade (compliance), en- e comitês de conduta.

Compliance no sistema de governança corporativa

ÃO (COMPULSÓRIA E FACU
ENTAÇ LTATI
EGULAM VA)
R
   

Sócios

Auditoria Conselho de
Administração Conselho Fiscal
Independente

Auditoria Secretaria de
Interna Governança

C. Auditoria Comitês

Função de Diretor- Comitê de


Compliance** -Presidente Conduta*

Diretores


   

         
    PARTES
  INTERESSADAS
  MEIO
AMBIENTE

* O IBGC entende que comitês devem ser órgãos de assessoramento ao conselho de administração, formados por conselheiros, com exceção do
comitê de conduta, que pode ser composto por membros da diretoria e outros níveis hierárquicos da organização.
** A intermediação entre a função de compliance e o conselho de administração pode ser feita pelo comitê de auditoria, quando existente.
Fonte: IBGC, Compliance à Luz da Governança Corporativa, 2017, p. 22.

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Tais práticas foram integradas, com estar em conformidade com os princípios do


adaptações decorrentes das discussões no Committee of Sponsoring Organizations of
âmbito do GT Interagentes, ao Código Bra- the Treadway Commission (COSO), reconhe-
sileiro de Governança Corporativa – Com- cidos como modelo para o desenvolvimento,
panhias Abertas e ao Informe do Código de implementação e condução dos controles in-
Governança, de modo que as companhias ternos e para a avaliação de sua eficácia, sen-
deverão se tornar transparentes quanto aos do aplicados amplamente em todo o mundo.
mecanismos adotados. As medidas estabelecidas no programa
determinam que os controles internos de-
2.2.2 Programa Destaque em vem estar presentes em três linhas de defesa:
Governança de Estatais (1ª) ação dos administradores e empregados,
A B3 estabeleceu regras de fiscalização e con- por meio da implementação cotidiana de
troles bastante objetivas no Programa Desta- controles internos; (2ª) função de compliance
que em Governança de Estatais. O programa e riscos; e (3ª) auditoria interna e comitê de
estabeleceu que a estrutura de controle deve auditoria estatutário.

Modelo das três linhas de defesa

Órgão de Governança / Conselho / Comitê de Auditoria

Alta Administração

Auditoria Externa
1a Linha de Defesa 2 a Linha de Defesa 3a Linha de Defesa Regulador
Controle Financeiro
Medidas
Controles de Controle
da Gerência Segurança
Interno Auditoria Interna

Gerenciamento de Riscos

Qualidade

Inspeção

Conformidade

Fonte: IIA, Declaração de Posicionamento do IIA: As Três Linhas de Defesa no Gerenciamento Eficaz de Riscos e Controles, 2013, p. 2.

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Controles internos e as três linhas de defesa


• A implantação da primeira linha de defesa causa impacto no dia a dia da es-
!
tatal e envolve a adoção cotidiana de controles internos por parte de todos
os seus integrantes, além de uma segregação de funções que faça com que
as decisões sobre matérias relevantes sejam levadas a instâncias mais altas
dentro da companhia.
• Já a implantação da segunda linha de defesa inclui a implantação da função
de compliance e riscos com estrutura e atribuições suficientes para avaliar o
cumprimento da legislação e regulamentação em vigor, bem como das polí-
ticas e processos internos da estatal.
• A terceira linha de defesa trata da criação de uma estrutura mais independen-
te do dia a dia da companhia e, portanto, capaz de avaliar a efetividade dos
processos de controle instalados. Com esse objetivo, a estatal deveria instalar
uma auditoria interna e um comitê de auditoria estatutário (CAE).

Com a preocupação de evitar a adoção atividades de auditoria. Para assegurar uma


de práticas de governança para “cumprir ta- atuação completa e para evitar a proliferação
bela” (“box ticking”), a B3 estabeleceu requi- de normas aplicáveis ao órgão, a B3 estabele-
sitos para que os responsáveis pela função ceu que sua composição e atribuições devem
de conformidade (compliance) e a auditoria observar a Instrução CVM 308/1999, alterada
interna atuassem de forma independente. pela Instrução CVM 509/2011, que dispõe
Assim, a área responsável por compliance sobre o tema. Além disso, o órgão deve ser
deve ser liderada por um diretor estatutá- composto de maioria de integrantes indepen-
rio com atuação independente, não pode dentes e contar com ao menos um membro
acumular funções operacionais e financei- independente do conselho de administração
ras e deve possuir orçamento e estrutura para garantir que os assuntos relevantes se-
adequados às suas atividades e ao porte da jam sempre levados a este colegiado.
companhia, com adequação atestada pela Além das estruturas de fiscalização e
auditoria interna e divulgada no formulário controles, o programa previu duas políticas
de referência. A auditoria interna, por sua vez, essenciais para o estabelecimento de um
deve ser vinculada ao conselho de adminis- processo sólido de tomada de decisões: a po-
tração, diretamente ou por meio de um co- lítica de transações com partes relacionadas e
mitê de auditoria, dispor de titular protegido a política de gerenciamento de riscos.
por mecanismos de independência e dispor A determinação de elaboração e im-
de orçamento e estrutura suficientes ao de- plementação da política de transações com
sempenho de suas funções, com adequação partes relacionadas visou garantir que (i) as
atestada pelo comitê de auditoria estatutário. transações fossem realizadas em linha com
Em relação ao comitê de auditoria es- as condições pré-estabelecidas, no melhor
tatutário, sua adoção auxilia o conselho de interesse da estatal e adstritas ao escopo de
administração no exercício de suas funções, seu objeto social; e (ii) fossem divulgadas
permitindo que este tenha acesso a um re- detalhadamente com a tempestividade ade-
lato detalhado sobre o monitoramento das quada. Já a política de gerenciamento de

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riscos garante o estabelecimento prévio de Apesar de a lei ser tão severa, foram
um processo de identificação, mensuração, previstos mecanismos que podem, eventual-
avaliação e monitoramento dos riscos a que mente, mitigar as sanções aplicáveis: é o caso
determinada estatal está sujeita, guiando, da existência de programas de integridade não
assim, a atuação dos agentes de governança. obrigatórios que podem reduzir diretamente a
multa em até 4% se implementados.
2.2.3 Novo Mercado As diretrizes para a implementação
O Regulamento do Novo Mercado tem o e avaliação desses programas de inte-
mesmo tom do Programa Destaque em Go- gridade foram previstas no Decreto nº
vernança de Estatais, determinando a adoção 8.420/2015 Ü. Segundo o decreto, não
de medidas das três linhas de ação do COSO, basta a existência e aplicação de um pro-
como a adoção de um código de conduta, da grama de compliance qualquer; seria
função de conformidade (compliance), da au- necessário que ele atendesse comprova-
ditoria interna e do comitê de auditoria. No damente alguns requisitos e que fosse es-
entanto, dada a heterogeneidade das compa- truturado, aplicado e atualizado de acordo
nhias listadas no segmento, as práticas foram com as características e riscos particulares
bastante simplificadas, a ponto de facilitar a às atividades de cada pessoa jurídica.
adoção adequada por empresas de diferen- O Guia de Integridade do Ministério
tes portes. Ainda assim, há a exigência de: (i) da Transparência e Controladoria Geral da
função de compliance que não acumule fun- União (CGU), por sua vez, é outra fonte que
ções operacionais ou financeiras; (ii) auditoria pode ser utilizada pelas companhias para a
interna, que pode ser terceirizada; e (iii) um implementação de programas de integrida-
comitê de auditoria, estatutário ou não. de. O guia – que também elucida que cada
empresa deve criar ou adaptar o seu progra-
2.2.4 Regulamentação da Lei An- ma às suas atividades, características e riscos
ticorrupção e orientações da CGU particulares – trouxe orientações de como as
para programas de integridade empresas devem implementar e avaliar as
A Lei Anticorrupção estipulou os potenciais políticas e procedimentos de controles inter-
atos lesivos à administração pública e tornou nos, listando os principais normativos que
possível a aplicação de penalidades bastante considera relevantes para o programa de in-
severas àqueles que incorrem nas práticas tegridade e dando especial atenção a outros
ali descritas. No âmbito administrativo, por elementos importantes de um sistema robus-
exemplo, as sanções podem chegar a 20% to de integridade, como comunicação e trei-
do faturamento bruto da pessoa jurídica do namento, a utilização de canais de denúncias,
último exercício anterior ao da instauração a aplicação de eventuais medidas disciplina-
do processo administrativo. res e a ocorrência de ações de remediação.

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Ü Parâmetros de avaliação do programa de integridade, de acordo


com o Decreto nº 8.420/2015
I comprometimento da alta direção da pessoa jurídica, incluídos os conselhos,
evidenciado pelo apoio visível e inequívoco ao programa;
II padrões de conduta, código de ética, políticas e procedimentos de integrida-
de, aplicáveis a todos os empregados e administradores, independentemen-
te de cargo ou função exercidos;
III padrões de conduta, código de ética e políticas de integridade estendidas,
quando necessário, a terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de servi-
ço, agentes intermediários e associados;
IV treinamentos periódicos sobre o programa de integridade;
V análise periódica de riscos para realizar adaptações necessárias ao programa
de integridade;
VI registros contábeis que reflitam de forma completa e precisa as transações da
pessoa jurídica;
VII controles internos que assegurem a pronta elaboração e confiabilidade de
relatórios e demonstrações financeiras da pessoa jurídica;
VIII procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito de pro-
cessos licitatórios, na execução de contratos administrativos ou em qualquer
interação com o setor público, ainda que intermediada por terceiros, tal como
pagamento de tributos, sujeição a fiscalizações, ou obtenção de autorizações,
licenças, permissões e certidões;
IX independência, estrutura e autoridade da instância interna responsável pela
aplicação do programa de integridade e fiscalização de seu cumprimento;
X canais de denúncia de irregularidades, abertos e amplamente divulgados a
funcionários e terceiros, e de mecanismos destinados à proteção de denun-
ciantes de boa-fé;
XI medidas disciplinares em caso de violação do programa de integridade;
XII procedimentos que assegurem a pronta interrupção de irregularidades ou
infrações detectadas e a tempestiva remediação dos danos gerados;
XIII diligências apropriadas para contratação e, conforme o caso, supervisão, de
terceiros, tais como, fornecedores, prestadores de serviço, agentes intermedi-
ários e associados;
XIV verificação, durante os processos de fusões, aquisições e reestruturações so-
cietárias, do cometimento de irregularidades ou ilícitos ou da existência de
vulnerabilidades nas pessoas jurídicas envolvidas;
XV monitoramento contínuo do programa de integridade visando seu aperfei-
çoamento na prevenção, detecção e combate à ocorrência dos atos lesivos
previstos no art. 5o da Lei no 12.846, de 2013; e
XVI transparência da pessoa jurídica quanto a doações para candidatos e par-
tidos políticos.

29
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A I 1 2 3 PP CF R AN
As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório

2.3 Medidas de transparência

J á se transformou em chavão uma frase dita


pelo ex-juiz da Suprema Corte dos Estados
Unidos (EUA), Louis Brandeis, ao defender a
da empresa e o Estado pode ser responsabili-
zado por abuso de poder de controle caso sua
atuação vá além dos limites estabelecidos,
transparência no sistema financeiro de seu nos termos do artigo 238 da Lei Societária.
país: “a luz do sol é o melhor dos desinfetantes”. A transparência tem um papel essencial
O disclosure, além de um dos pilares de neste ponto: são as informações divulgadas
governança corporativa, permeia quase todas ao mercado que permitem ao investidor ante-
as demais práticas, ao permitir a fiscalização da cipar o possível comportamento do acionista
atuação dos administradores e controladores controlador, calcular o risco do investimento
pelos acionistas e pelo mercado, ao propiciar e realizar o desconto correspondente no va-
bases para uma eventual responsabilização, e lor de mercado de uma companhia. Quando
ao fornecer subsídios para o cálculo do risco do o disclosure não é suficiente, a percepção de
investimento e, assim, do valor da companhia. risco é maior e, consequentemente, o des-
Ademais, no âmbito da regulação e au- conto sobre o valor da companhia.
torregulação, a transparência é essencial para Além disso, a identificação do interesse
permitir a verificação da adoção das estrutu- público que justificou a criação da empresa
ras obrigatórias. Isso ficou bastante visível no permite a atuação eficiente de órgãos como o
Programa Destaque em Governança de Esta- conselho de administração, diretoria e conse-
tais, em que foi criada uma medida sobre o lho fiscal, e a fiscalização da atuação do con-
aprimoramento do formulário de referência trolador público e dos administradores pelos
prevendo, por exemplo, que a companhia acionistas e demais interessados.
divulgue informações sobre a avaliação da Para o IBGC, a atuação das empresas
administração e treinamentos. Cabe lembrar, estatais deve ser pautada pela consecução de
neste ponto, que a B3 pode determinar a um mandato e objetivos claramente delinea-
divulgação de outros documentos que com- dos e protegidos da interferência política do
provassem a efetiva adoção das medidas con- governo vigente. A quinta edição do Código
templadas no programa. das Melhores Práticas de Governança Corpo-
rativa recomenda que “o interesse público da
2.3.1 Interesse público sociedade de economia mista seja claramen-
A Lei Societária (Lei nº 6.404/1976) permi- te identificado em seu objeto social, em ca-
te que o Estado persiga o interesse público pítulo específico do estatuto social, e receba
que justificou a criação da estatal, de modo ampla divulgação (p. 26)”.
que a interferência governamental é legal e Desde a promulgação da Lei das Esta-
legítima até certo ponto. No entanto, tal in- tais (Lei nº 13.303/2016), a identificação do
terferência deve ser limitada à “razão de ser” interesse público a ser perseguido pela estatal

A transparência tem um papel essencial: são as informações divulgadas ao


mercado que permitem ao investidor antecipar o possível comportamento
do acionista controlador, calcular o risco do investimento e realizar o
desconto correspondente no valor de mercado de uma companhia.

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As Práticas de Governança Corporativa no Novo Contexto Regulatório

deve estar presente em diversos documentos,


como no formulário de referência (na hipótese A B3 exige carta anual de políticas
de companhias abertas), no informe de go-
públicas subscrita pelos membros
vernança corporativa, na carta anual subscrita
pelos membros do conselho de administração do conselho de administração, além de
(art. 8º, II da Lei nº 13.303/2016), e na carta informações extras no formulário
anual de governança corporativa (art. 8º, VIII, de referência. A Lei das Estatais exige
da Lei nº 13.303/2016). documento anual similar ao
A carta anual de políticas públicas, exigido pela B3.
subscrita pelos membros do conselho de ad-
ministração, e a carta anual de governança cor-
porativa foram inseridas na Lei nº 13.303/2016
inspiradas na primeira minuta do Programa
Destaque em Governança de Estatais. A minu- 2.3.2 Responsabilização pelas
ta exigia maior transparência por meio de três informações prestadas
documentos (além do relatório de sustentabi- A principal preocupação da B3 e da Lei das Es-
lidade): o formulário de referência, que deve tatais – envolver e responsabilizar os membros
ser aprimorado em alguns pontos; o FAQ, um do conselho de administração na definição e
documento novo que deve trazer, de forma di- condução do interesse público que justificou
dática, perguntas e respostas sobre os limites a criação da estatal – acabou ensejando maior
de atuação da estatal; e a carta anual, subscrita responsabilidade para os membros do órgão.
pelos membros do conselho de administração, Pela lei, eles somente seriam signatários dos
que devem se comprometer com as metas pú- compromissos de interesse público; pelo de-
blicas para o exercício social corrente. creto, e, consequentemente, pelo Programa
Ao longo das discussões, percebeu-se Destaque em Governança de Estatais, eles
que havia proliferação de informações de passariam a ser responsáveis por todas as in-
mesmo conteúdo e natureza em documentos formações divulgadas: definição do interesse
diferentes, o que não representava uma boa público, estrutura de controle, fatores de risco,
relação de custo-benefício. Diante disso, a B3 dados econômico-financeiros, comentários
passou a exigir, na versão final do Programa dos administradores sobre o desempenho,
Destaque em Governança de Estatais, apenas políticas e práticas de governança corporativa
a carta anual subscrita pelo conselho de ad- e descrição da composição e da remuneração
ministração e aprimoramentos no formulário da administração.
de referência. Além da definição do interesse público,
A lei manteve a previsão de duas cartas praticamente todos os diplomas criaram novas
diferentes – o que era plenamente justificá- fontes de informação sobre aspectos variados.
vel, tendo em vista que uma das cartas con- Código de conduta, política de divulgação de
solidava as informações mais relevantes do informações, política de transações com partes
formulário de referência, documento aplicá- relacionadas, entre outros, passaram a estar
vel exclusivamente às companhias abertas –, previstos, muitas vezes com um conteúdo
mas, considerando o mesmo problema iden- mínimo, no Código Brasileiro de Governança
tificado pela B3, o Decreto nº 8.945/2016, Corporativa – Companhias Abertas, no novo
que regulamentou a lei no âmbito federal, Regulamento do Novo Mercado, e, especifica-
criou um documento único, abrangendo o mente, no Programa Destaque em Governan-
conteúdo das duas cartas anuais. ça de Estatais e na Lei nº 13.303/2016.

31
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2.3.3 Pratique ou Explique segue, demonstrando se há alguma alterna-


O Código Brasileiro de Governança Corporati- tiva adotada. Já a carta de governança cor-
va – Companhias Abertas é a mais ampla me- porativa, exigida pela Lei nº 13.303/2016,
dida relacionada à transparência. Por meio e que também deveria contemplar infor-
do informe de governança, as companhias mações sobre controles internos, deixa a
abertas com ações listadas em bolsa passa- companhia livre para esclarecer as práticas
ram a ter que deixar claro ao mercado pra- adotadas, a despeito de ser utilizada para a
ticamente todas as práticas adotadas. Neste verificação da adoção das estruturas obriga-
documento, no entanto, ao invés de dar tórias pela lei.
ampla liberdade para que a empresa preste O Programa Destaque em Governança
informações, já há a indicação de quais estru- de Estatais, por sua vez, exigiu a transparên-
turas seriam ideais do ponto de vista de go- cia sobre os controles internos das estatais
vernança corporativa, cabendo à companhia certificadas, determinando, ainda, a divul-
indicar se as adota ou justificar por que não gação do número de denúncias recebidas
as adota integralmente. por descumprimento do código de conduta.
A B3 utiliza as informações do formulário de
2.3.4 Informações sobre referência e outros documentos públicos da
fiscalização e controle empresa estatal para verificar o cumprimen-
É possível notar que a transparência acaba to das medidas previstas no programa.
sendo uma ferramenta bastante importan-
te para todas as dimensões de governança 2.3.5 Informações sobre composição
corporativa, uma vez que permite que os e atuação da administração
acionistas, investidores e outros agentes Quanto às informações sobre a administra-
acompanhem sua implementação. ção das estatais, o maior destaque se refere à
Permeando as práticas de fiscaliza- divulgação do processo de escolha dos candi-
ção e controles por meio da transparência, datos à administração.
a CVM passou a exigir, no quadro 5 do for- Essa escolha deve ser fundamentada
mulário de referência, que fossem contem- no processo de seleção, nos critérios previstos
pladas informações sobre o programa de no estatuto social e na política de indicação,
integridade, definido por meio do Decreto sendo que a transparência desse processo é
nº 8.420/2015. Neste ponto, independen- essencial para permitir a verificação do cum-
temente da estrutura adotada pela compa- primento da política adotada.
nhia, o programa deve estar integralmente Dessa forma, tanto a lei como o progra-
descrito no formulário, cabendo aos investi- ma determinaram que haja uma instância
dores avaliar sua adequação e suficiência e responsável pela verificação da adequação
calcular o risco do investimento. do perfil dos indicados à referida política,
O informe de governança e a Lei das qual seja, um comitê de indicação ou de
Estatais vão na mesma linha. No entanto, elegibilidade. A ata desse comitê deve ser
enquanto a companhia tem liberdade para divulgada na íntegra, contemplando, inclu-
descrever suas práticas de controles internos sive, eventuais manifestações divergentes
no formulário de referência, no informe de de seus membros.
governança, a companhia tem que esclare- A Lei nº 13.303/2016 também se inspi-
cer se segue as práticas indicadas no Código rou na versão inicial do Programa Destaque
Brasileiro de Governança Corporativa – Com- em Governança de Estatais no que tange à
panhias Abertas ou justificar por que não as transparência da atuação dos órgãos de go-

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vernança, por meio da divulgação de atas determinou que os estatutos ou regimentos


de reuniões. Dessa forma, a lei exige que as das empresas determinem que as atas (de
atas do comitê de auditoria estatutário sejam quaisquer órgãos da administração) sejam
sempre divulgadas, podendo ser na forma divulgadas na íntegra diante da solicitação
de extrato quando envolverem assuntos de um dos membros do órgão. Dessa forma,
sensíveis à companhia. Diante do risco de a a defesa do interesse da companhia em não
empresa sempre divulgar atas no formato de divulgar a informação cabe à maioria do cole-
extrato, a B3 criou um mecanismo diferente: giado, que pode impedir a divulgação.

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Os Mecanismos de Enforcement

Os Mecanismos de Enforcement

O s mecanismos de enforcement podem envolver a responsabilização cível, penal, admi-


nistrativa ou mesmo contratual.

3.1 Sanção contratual

É o caso do Regulamento do Novo Mercado, em que a não adoção das estruturas de con-
troles internos pode ensejar a aplicação de sanções, que vão desde a advertência até a
deslistagem compulsória do segmento, obrigando o acionista controlador a realizar oferta pú-
blica para adquirir as ações de titularidade dos demais acionistas por valor justo, determinado
em laudo de avaliação. A regra já é aplicável às companhias que se listarem no segmento após
2 de janeiro de 2018, mas para as companhias listadas antes desse período, a regra somente
passará a ser exigida após a realização de assembleia geral ordinária em 2021.

3.2 Mecanismos reputacionais

U m mecanismo bastante diferente é aplicado pela B3 no âmbito do Programa Desta-


que em Governança de Estatais e pelo Ministério do Planejamento, Desenvolvimento
e Gestão no âmbito do Índice de Governança da Secretaria de Coordenação e Governança
de Estatais (IG-SEST) Ü: considerando o impacto da corrupção na reputação das companhias,

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Os Mecanismos de Enforcement

Ü O IG-SEST é um instrumento desenvolvido pela Secretaria de Coordenação e Gover-


nança das Empresas Estatais (SEST), que busca conformidade com as melhores práticas
de mercado e maior nível de excelência para as empresas estatais federais de controle
direto da União (dependentes e não dependentes).
O objetivo do indicador é avaliar o cumprimento dos requisitos exigidos pela Lei
nº 13.303/2016, regulamentada pelo Decreto nº 8.945/2016, e as diretrizes estabele-
cidas nas Resoluções da CGPAR.
Os ciclos de acompanhamento são trimestrais e o IG-SEST é apurado em três
dimensões: i) gestão, controle e auditoria; ii) transparência das informações; e iii) con-
selhos, comitês e diretoria. Cada dimensão é composta por blocos que, por sua vez,
contêm itens de avaliação.
Além disso, todos os grupamentos receberam “pesos” segundo o seu grau de
relevância, acuidade e complexidade de execução, além de segmentação por setor de
atuação e por porte das empresas. Assim, as empresas estatais são classificadas em
quatro níveis de governança, conforme o índice obtido.

o mesmo mecanismo passou a ser utilizado cedida com base em uma análise anual dos
para tentar recuperar sua imagem, substi- documentos da companhia, enviados e di-
tuindo um enforcement baseado em san- vulgados. O formulário de referência e a carta
ções. As empresas que adotarem melhores anual servem de base para a análise, e, caso
práticas são reconhecidas por isso e o não se verifique que alguma prática não é mais
cumprimento delas é divulgado, o que gera adotada ou não é adotada de maneira efeti-
um custo de imagem para elas. va, a B3 poderá colocar a certificação em revi-
No caso do IG-SEST, o enforcement se são ou retirá-la.
dá por meio da divulgação constante da nota Além da análise anual da certificação,
relativa à avaliação da companhia – no caso há um monitoramento periódico com base
de uma redução, fica visível para o mercado em comunicações da companhia ou em notí-
que a companhia deixou de atender os requi- cias divulgadas pelo mercado. A partir dessas
sitos da lei. notícias, a B3 pode colocar o certificado em
No caso do Programa Destaque em revisão e até verificar se as práticas são efeti-
Governança de Estatais, a certificação é con- vamente adotadas.

3.3 Responsabilidade objetiva

U ma das novidades da Lei Anticorrup-


ção relacionada ao enforcement é a
possibilidade de responsabilização objetiva
nistração, sem prejuízo da responsabilidade
individual. Essa multa pode chegar a 20% do
faturamento bruto da pessoa jurídica infrato-
da pessoa jurídica, que pode ser multada ra no último exercício anterior ao da instaura-
pela prática de atos lesivos à administração ção do processo administrativo e não afasta
por seus funcionários ou membros da admi- outras sanções no âmbito judicial.

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Penalidades aplicadas com base na Lei Anticorrupção

GOVERNO FEDERAL OUTRAS ESFERAS ADMINISTRATIVAS

23 (R$ 12 milhões) 7 10 (R$ 6 milhões) 4

•  Multas    •  Publicações extraordinárias


* Números até janeiro de 2018.
Fonte: Adaptado do Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU)

Tanto no âmbito administrativo quan- à pessoa jurídica aos seus administradores e


to judicial as sanções podem ser aplicadas sócios com poderes de administração.
de forma isolada ou cumulativa, conforme a A possibilidade de aplicação de san-
natureza e gravidade dos ilícitos praticados. ções também acaba sendo reforçada à
Em quaisquer casos, a responsabilização ad- medida que o prazo prescricional dos atos
ministrativa ou judicial da pessoa jurídica não previstos na Lei Anticorrupção é de cinco
afasta o seu dever de reparar integralmente anos contados da data da ciência da infração
os danos causados à administração pública. pelo ente público responsável por requerer a
Ademais, a aplicação das sanções previstas na aplicação das sanções; ou, no caso de infra-
Lei Anticorrupção não afeta os processos de ção permanente ou continuada, do dia em
responsabilização e aplicação de penalidades que tiver cessado, sendo interrompido com
decorrentes de atos de improbidade adminis- a instauração de processo para apuração da
trativa ou de atos ilícitos previstos em outras infração. O prazo prescricional, portanto, só
leis ou normas sobre licitações e contratos começa a correr quando o Poder Público tiver
administrativos, como a Lei nº 8.666/1993 e ciência dos fatos, independentemente de
a Lei nº 12.462/2011. Isso significa que a em- quando estes tenham ocorrido.
presa pode sofrer as sanções administrativas Por fim, as sociedades controladoras,
e continuar respondendo ações judiciais com controladas, coligadas ou, no âmbito do
diferente fundamento jurídico, mas baseado respectivo contrato, as consorciadas são so-
nos mesmos fatos. lidariamente responsáveis pela prática dos
Além das penas severas, a Lei Anticor- atos previstos na Lei Anticorrupção, sendo
rupção prevê a desconsideração da perso- tal responsabilidade restrita ao pagamento
nalidade jurídica nas hipóteses em que a da multa e reparação integral do dano. Isso
empresa tenha sido utilizada com abuso de tem impacto direto no método de organiza-
direito para facilitar, encobrir ou dissimular a ção societária das empresas e nas associações
prática dos atos ilícitos ou para provocar con- que são feitas com outras companhias, já que
fusão patrimonial, sendo, neste caso, esten- podem atrair responsabilidade por atos co-
didos todos os efeitos das sanções aplicadas metidos em outras pessoas jurídicas.

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3.4 Acordos de leniência

O s acordos de leniência são firmados


pela autoridade de órgão ou entidade
pública e a pessoa jurídica que cometeu ato
ráveis das multas aplicáveis e evitado sanções
como a proibição de participar de licitações
públicas, contratar com a administração pú-
ilícito contra a administração pública, nacio- blica, bem como de receber incentivos, sub-
nal ou estrangeira, mas se dispõe a auxiliar sídios, subvenções, doações ou empréstimos
nas investigações. de entidades da administração pública.
A celebração de tais acordos vem ala- A despeito de seus benefícios – para
vancando as investigações das autoridades os infratores e para as investigações – a
públicas ao permitir a célere identificação celebração de acordos de leniência não é
dos ilícitos e dos demais envolvidos, ao mes- tão simples, pois envolve, além do atendi-
mo tempo em que garante a recuperação de mento de outros requisitos, a colaboração
ativos e exige que as pessoas jurídicas cola- efetiva com as investigações ou com o
boradoras cessem os ilícitos e adotem as me- processo administrativo, sendo que dessa
lhores práticas de integridade. colaboração deve resultar a identificação
Com os acordos, as pessoas jurídicas dos envolvidos e a obtenção célere de evi-
colaboradoras têm obtido reduções conside- dências dos ilícitos.

Lei anticorrupção. Acordo de leniência

REQUISITOS

Cessar a prática da Admitir a participação Cooperar com as Fornecer informações que


irregularidade investigada na infração investigações comprovem a infração

POSSÍVEIS BENEFÍCIOS

Isenção da obrigatoriedade Isenção da proibição de receber Redução da multa Isenção da atenuação da


de publicar a punição do Governo Federal incentivos, em até 2/3 proibição de contratar com
subsídios, empréstimos a administração pública
(inclusive bancos) (inidoneidade)

COMPETÊNCIA REPARAÇÃO COMPLIANCE


PRAZO Exclusiva da CGU A empresa tem o A empresa deve adotar,
180 dias prorrogáveis no âmbito do Poder dever de reparação aplicar ou aperfeiçoar um
Executivo Federal. do dano. programa de integridade.
Fonte: CGU, 2018

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A competência, segundo a Lei Anticor- querendo a aplicação das sanções judiciais


rupção, para a celebração de acordo de leni- previstas na Lei de Improbidade Administra-
ência com as pessoas jurídicas colaboradoras tiva – Lei nº 8.429/1992 em âmbito federal) µ Portaria
é da autoridade máxima de cada órgão ou firmaram portaria conjunta µ para permitir a CGU/AGU nº
2278/2016.
ente público. No entanto, quando se fala de participação da AGU nas comissões de nego-
combate à corrupção, um único fato pode ciação dos acordos de leniência com a CGU.
caracterizar infração a mais de um diploma No mesmo sentido, o Tribunal de Contas da
legal, fazendo com que outros órgãos tam- União (TCU) também vem conduzindo es-
bém sejam competentes para a instauração forços para fiscalizar e avalizar os acordos de
de processos e para a aplicação de sanções. leniência conduzidos pela CGU, buscando ga-
Por esse motivo, alguns entes têm rantir que os danos causados ao erário sejam
buscado conduzir as negociações de ma- ressarcidos, já que a celebração do acordo de
neira coordenada com os demais órgãos leniência não exime a pessoa jurídica de tal
que possuem competência para aplicar dever, conforme prevê a Lei Anticorrupção.
sanções sobre os atos ilícitos objeto dos O Ministério Público Federal, por sua vez,
acordos de leniência. competente para a instauração de ações civis
Para dar segurança jurídica e efetivi- públicas e para celebrar acordos de leniência,
dade aos acordos de leniência Ü, CGU e também vem atuando, sempre que possível,
Advocacia-Geral da União (AGU – entidade de forma coordenada com as demais autori-
competente para ingressar em juízo re- dades competentes.

Ü “Até o momento, o Ministério da Transparência (CGU), em conjunto com a Advoca-


cia-Geral da União (AGU), assinou cinco acordos de leniência com empresas investiga-
das pela prática dos atos lesivos previstos na Lei Anticorrupção (nº 12.846/2013) e dos
ilícitos administrativos previstos na Lei de Licitações (nº 8.666/1993).
Os valores a serem ressarcidos envolvem os pagamentos de multa, dano e
enriquecimento ilícito”, e somam cerca de R$ 4,57 bilhões. “Outros 19 acordos de
leniência estão em andamento, com previsão de que pelo menos dois deles sejam
concluídos até o final de 2018. O retorno estimado de recursos aos cofres públicos é
de aproximadamente R$ 10 bilhões.”
É possível acessar os detalhes e documentos de cada acordo no website:
<http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabilizacao-de-empresas/lei-anticorrupcao/
acordo-leniencia>. 

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Perspectiva Prática

Perspectiva Prática

A pós a promulgação da Lei das Estatais, as empresas estatais passaram a buscar o apri-
moramento da governança corporativa para se adequarem ao texto da lei até o prazo de
30 de junho de 2018.
Uma pesquisa realizada pela Deloitte, em parceria com o Instituto dos Auditores Internos
do Brasil (IIA), traz uma perspectiva quantitativa da realidade de algumas empresas. Realizada
entre dezembro de 2017 e abril de 2018, isto é, período anterior ao fim do prazo estipulado
para adequação à Lei das Estatais, a pesquisa entrevistou 77 empresas estatais e sociedades de
economia mista, sendo 19% delas federais, 59% estaduais e 22% municipais.
A avaliação levou em conta o que já estava adequado nas empresas e a expectativa do
que seria adequado dentro e fora do prazo. Um ponto de destaque é a porcentagem de em-
presas com estruturas e práticas de auditoria interna (69%) já adequadas – enquanto aquelas
com comitê de auditoria estatutário definido é de apenas 28%, apesar da alta expectativa de
adequação até o prazo.
Dentre os principais desafios, o item “treinamento e capacitação” é apontado como a
maior adversidade pelos entrevistados (53%) e a “pouca maturidade em relação a governança,
riscos e controles” (34%) vem em segundo lugar. Entretanto, quase um terço (32%) declarou
que não observou qualquer desafio ou barreira relevante nesse processo.

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Perspectiva Prática

Atendimento aos requisitos da Lei das Estatais (%)


69      19   9 3
Estruturas e práticas
de auditoria interna 67        26 3 4
Conselho fiscal
67      19   9  5
Plano de negócios
61           31 4  5
Canal de denúncias
57             34  5  4
Código de conduta e integridade
51                43 3  4
Composição do conselho de
administração e diretoria
51              37 4    8
Requisitos de transparência
47               39 4     11
Comitê de elegibilidade
Estrutura e práticas de 44                38       12    6
controles internos
36              35           24   5
Estruturas e práticas de
gestão de riscos
34                       60 5 1
Contratos e licitações
28                        61  6  5
Comitê de auditoria estatutário
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

• Encontra-se adequado  • Antes de 30/06/2018   • Após 30/06/2018  • Não sei


Fonte: Deloitte e IIA, Governança em Empresas Estatais – Desafios e Estratégias para Adequação aos Requerimentos da Lei nº 13.303/16,
2018, p. 5.

Principais desafios para a adequação à Leis das Estatais


(em %; respostas múltiplas)

Tratamento e capacitação dos envolvidos 53


Pouca maturidade em relação a governança, riscos e controles 34
Restrições orçamentárias 23
Dificuldade para mensurar o valor agregado dessas iniciativas 23
Pouca clareza em relação a requerimentos e formas de implementação 23
Falta de suporte administrativo ou tecnológico 19
Tema não é prioritário para os níveis diretivos 14
Outros 9
Não foram observados desafios ou barreiras relevantes 32
0 10 20 30 40 50 60
Fonte: Deloitte e IIA, Governança em Empresas Estatais – Desafios e Estratégias para Adequação aos Requerimentos da Lei nº 13.303/16,
2018, p. 5.

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Perspectiva Prática

Desde a fase de adaptação das empresas se adequar conforme a regulação, mas também
à lei, a SEST, o Conselho de Defesa dos Capitais internalizar a cultura da governança. Comple-
do Estado (CODEC) em São Paulo e a Prefeitura mentando os dados da pesquisa, os três órgãos
de São Paulo são importantes atores para que as relatam suas experiências e os desafios encontra-
empresas estatais a nível federal, estadual e mu- dos na adequação aos requerimentos da lei por
nicipal, respectivamente, consigam não apenas partes das empresas acompanhadas por eles.

Empresas estatais federais

D e acordo com o secretário da SEST,


Fernando Soares, em 2015, o resulta-
do das estatais federais foi de R$ 32 bilhões-
resultados mencionados pelo secretário, ele
conta que 100% das estatais de controle di-
reto da União (isto é, 47 empresas) possuem
negativos. Em 2016, o resultado já foi bem agora plano de auditoria, relatório de audi-
melhor, e em 2017, as estatais federais con- toria interno, canal de denúncia e auditoria
seguiram alcançar R$ 25 milhões. “Apesar de interna vinculada ao conselho de adminis-
nem tudo ter sido resultado direto da Lei das tração, e completa: “Todas essas mudanças
Estatais, em alguma medida ela foi relevante. são frutos da Lei das Estatais, sendo possível
E é isso o que nos move e vai continuar nos que estruturas, processos e documentos vies-
movendo enquanto estivermos nessa fun- sem a ser implementados nas empresas. Não
ção” – disse o secretário em evento realizado pode haver retrocesso, mesmo em algo que
no Insper em 16 de agosto de 2018. Entre os não tenha sido perfeito”.

Estatais Federais

QUANTIDADE
Controle indireto • 97

47 • Controle direto

ORÇAMENTO, EM BILHÕES DE REAIS RESULTADO LÍQUIDO, EM BILHÕES DE REAIS

1.600 30
1.554 25,4
1.501 20

10
1.500
0
4,5
1.439
-10
1.400 -20
1.370 1.404
-30
-32
1.300 -40
2014 2015 2016 2017 2018 2015 2016 2017
Fonte: Adaptado de Ministério do Planejamento, Boletim das Empresas Estatais Federais, n. 5, 2017.

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A I 1 2 3 PP CF R AN
Perspectiva Prática

Empresas estatais estaduais

A nível estadual, Fabio Maia, coordena-


dor do CODEC, conta que uma mu-
dança possível de se verificar  nas empresas
apenas 47% das empresas já tinham um co-
mitê de elegibilidade definido até o momento
da avaliação, o esforço para implementar essa
estatais estaduais foi o cuidado maior na sele- observância se deu por meio da criação de um
ção dos administradores. “Em termos práticos, comitê de elegibilidade em cada uma das es-
o próprio rito de eleição mudou depois da Lei tatais estaduais para conselho de administra-
das Estatais, isto é, os requisitos e impedimen- ção, conselho fiscal e diretoria (seja naquelas
tos para diretores e conselheiros ficaram mui- com faturamento maior ou menor do que R$
to maiores/rigorosos do que antes.” Segundo 90 milhões). Ele também destacou que um
ele, o grande impacto para as estatais estadu- tempo atrás não existia discussão sobre gover-
ais foi a observância desses requisitos, e a des- nança, mas atual­mente sim, ainda que esse
peito da pesquisa da Deloitte, que aponta que avanço seja por causa do marco regulatório.

Empresas estatais municipais

N a prefeitura de São Paulo, o secretá-


rio-adjunto de Fazenda, Luis Felipe
Arellano, revela que o maior aprendizado
selho de administração como membro ou
presidente. Se por um lado isso garantia
um alinhamento da empresa com a políti-
no novo cenário proporcionado pela Lei nº ca pública, o que é positivo, por outro lado
13.303/2016 foi a internalização de uma cul- não permitia a existência de um filtro entre
tura de maior governança, “não só de trans- a pressão de natureza política e os interesses
parência para atender requisições de órgãos de de os diversos acionistas da empresa muni-
controle, mas de procedimentos mais ade- cipal. “A cultura de governança que acabou
quados para um alinhamento de interesses, sendo trazida para o setor público favore-
isto é, uma preocupação maior com outros ceu a reflexão de que essa situação não é
interesses que não exclusivamente do ente adequada. Muitas das diretrizes divulgadas
controlador público”. Observando o históri- desde 2013 só estão sendo implantadas e
co das empresas municipais, era frequente surtindo efeitos agora, porque a percepção
que o secretário da pasta fosse o presidente da importância da governança foi aumen-
da empresa e também fizesse parte do con- tando aos poucos”.

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A I 1 2 3 PP CF R AN
Considerações Finais

Considerações Finais

A ntes da deflagração da Operação Lava Jato e de outras operações correlatas, a legislação


brasileira e a regulamentação já tinham alguns mecanismos para a responsabilização
de envolvidos em casos de corrupção; porém, somente após esse cenário conturbado, houve
um real avanço no arcabouço regulatório anticorrupção e de governança corporativa.
Enquanto antes havia poucos envolvidos nos debates sobre o tema, que eram, em gran-
de parte, capitaneados pelo IBGC e pela B3, as discussões passaram a ocorrer em todas as
searas, seja na esfera pública, seja na esfera privada.
A governança corporativa – cujo termo, aliás, foi incorporado pela primeira vez em uma lei
federal, sendo reconhecido como parte do arcabouço regulatório – passou a ser vista como ferra-
menta para criar obstáculos às práticas irregulares e à atuação de administradores que desviam
a atividade das companhias de seus verdadeiros objetivos. Mas não só isso: a implementação de
um conjunto efetivo de normas, processos e estruturas fez com que as empresas percebessem
que tinham nas mãos um mecanismo de adaptação às mudanças nos ambientes operacionais e
corporativos, de redução dos riscos para níveis aceitáveis e de estabelecimento de um processo
sólido de tomada de decisões, capaz de auxiliar no cumprimento das diretrizes determinadas
pela administração para mitigar os riscos relacionados à realização dos objetivos da estatal.
Dessa forma, após uma primeira fase de discussão envolvendo mecanismos de go-
vernança corporativa, houve uma fase de institucionalização deles. Práticas de fiscalização e
controles foram inseridas em documentos não vinculantes, em regras de autorregulação e
na legislação e regulamentação em vigor; foram criadas mais exigências para a indicação de
membros da administração e para garantir sua atuação de forma efetiva e alinhada aos objeti-
vos da companhia; e, especificamente para estatais, foram criadas determinações para deixar
clara a política pública a ser perseguida pela companhia.

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
A I 1 2 3 PP CF R AN
Considerações Finais

Após a criação dessas normas, iniciou- discussão do projeto de lei das agências re-
-se a fase de implementação. Políticas foram guladoras, que propôs a revogação de um dos
elaboradas, estruturas foram criadas, pro- dispositivos mais importantes da Lei das Es-
cessos internos foram desenvolvidos. Estes, tatais (Lei nº 13.303/2016), a fim de liberar a
aliás, passaram a ter um papel central nas nomeação de dirigentes partidários e seus fa-
empresas, sejam privadas ou estatais: guiar miliares para o comando das estatais, vedação
sua governança. esta alardeada pelos investidores como sinal
Nessa fase de implementação – em que de melhoria na governança destas empresas.
estamos – há algumas incertezas: os meca- Uma crítica merece ser feita desde já:
nismos de enforcement são, de fato, efetivos? a insegurança relativa aos acordos de leniên-
Como será feita a avaliação da implementação cia. Em primeiro lugar, o acordo é adstrito a
das boas práticas de governança corporativa? determinados fatos que devem ser definidos
A resposta a essas questões só surgirá pelo acordante e que não incluem, necessa-
com a aplicação concreta dos novos diplo- riamente, quitação por danos. Além disso, os
mas, no decorrer dos próximos anos. Até o signatários de um acordo perante uma auto-
momento, só foi possível avaliar suas discus- ridade podem continuar expostos a possíveis
sões e a construção de estruturas e políticas. demandas judiciais ou administrativas de
O primeiro ponto de atenção em re- outras autoridades.
lação a essas dúvidas é que ainda não há A coordenação entre autoridades pode
indicadores efetivos para avaliar a imple- ser o ponto mais complicado dos acordos de
mentação das novas práticas de governança leniência, e ela tem dois aspectos bastante
previstas nos documentos de recomendação críticos. O primeiro é o número de entidades
e na legislação e regulamentação em vigor. que podem ser competentes para julgar um
No âmbito da União Federal, o IG-SEST pode mesmo fato e aplicar sanções, proliferando
ser utilizado como um bom exemplo de in- processos. O segundo ocorre quando exis-
dicador de evolução das companhias neste tem pessoas físicas envolvidas, que, em te-
ponto, mas ainda não se vislumbram indica- oria, não são cobertas pelos dispositivos da
dores parecidos em outros entes federativos. Lei Anticorrupção. Nestes casos, o Ministério
Enquanto isso, conta-se com o monitoramen- Público deverá atuar na negociação com os
to por parte dos órgãos responsáveis pelo indivíduos, tornando esses acordos ainda
controle de capitais dos Estados, a exemplo mais complexos.
do Conselho de Defesa dos Capitais do Esta- Enfim, independentemente da aplica-
do (CODEC) em São Paulo, e dos órgãos ex- ção das normas, o maior desafio é fazer com
ternos, como os Tribunais de Contas. que o cumprimento dessas novas obrigações
Outro ponto é que, além da falta de decorra de um movimento cultural, relaciona-
transparência relativa ao monitoramento da do à consciência da importância das práticas
implementação das práticas, ainda existem para seus objetivos de longo prazo, e não ape-
movimentos contrários à evolução do arca- nas para mitigar eventuais responsabilizações.
bouço de governança corporativa. Já expe- É preciso que se passe a viver a gover-
rimentamos esse movimento no âmbito da nança corporativa no dia a dia.

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INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
A I 1 2 3 PP CF R AN
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a organização da Presidência da República e dos Ministérios, a legislação da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) e a legislação da Empresa Brasileira de Infraestrutura
Aeroportuária (Infraero); cria a Secretaria de Aviação Civil, cargos de Ministro de Estado,
cargos em comissão e cargos de Controlador de Tráfego Aéreo; autoriza a contratação de
controladores de tráfego aéreo temporários; altera as Leis nos11.182, de 27 de setembro
de 2005, 5.862, de 12 de dezembro de 1972, 8.399, de 7 de janeiro de 1992, 11.526, de
4 de outubro de 2007, 11.458, de 19 de março de 2007, e 12.350, de 20 de dezembro
de 2010, e a Medida Provisória no2.185-35, de 24 de agosto de 2001; e revoga disposi-
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economia/mercados/noticia/acao-da-jbs-despenca-nesta-segunda-bovespa-fecha-em-
-queda.ghtml>. Acesso em: 19 set. 2018.

51
EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
A I 1 2 3 PP CF R AN
Anexos

Anexo 1 – Quadro comparativo


sobre composição do conselho
de administração
MEMBROS MÍNIMO DE
DEFINIÇÃO
EXTERNOS INDEPENDENTES

Conselheiros externos são aqueles que não possuem relações familiares, de


negócio, ou de qualquer outro tipo com sócios com participação relevante,
grupos controladores, executivos, prestadores de serviços ou entidades sem
fins lucrativos que influenciem ou possam influenciar, de forma significa-
tiva, seus julgamentos, opiniões, decisões ou comprometer suas ações no
melhor interesse da organização.
CÓDIGO DAS O conselho deve divulgar quem são os conselheiros independentes e indi-
MELHORES car e justificar quaisquer circunstâncias que possam comprometer sua inde-
PRÁTICAS DE Participação pendência, tais como: (i) ter atuado como administrador ou empregado da
100%
GOVERNANÇA relevante organização, de sócio com participação relevante ou de grupo de controle,
CORPORATIVA de auditoria independente que audite ou tenha auditado a organização, ou,
DO IBGC ainda, de entidade sem fins lucrativos que receba recursos financeiros signi-
ficativos da organização ou de suas partes relacionadas; (ii) ter atuado, seja
diretamente ou como sócio, acionista, conselheiro ou diretor, em um parcei-
ro comercial relevante da organização; (iii) possuir laços familiares próximos
ou relações pessoais significativas com sócios, conselheiros ou diretores da
organização; ou (iv) ter cumprido um número excessivo de mandatos con-
secutivos como conselheiro na organização.

53
EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
A I 1 2 3 PP CF R AN
Anexos

MEMBROS MÍNIMO DE
DEFINIÇÃO
EXTERNOS INDEPENDENTES

O conselho de administração deve avaliar e divulgar anualmente quem são


os conselheiros independentes, bem como indicar e justificar quaisquer cir-
cunstâncias que possam comprometer sua independência. São consideradas
situações que podem comprometer a independência do membro do conselho
CÓDIGO de administração, sem prejuízo de outras: (i) ter atuado como administrador
BRASILEIRO DE ou empregado da companhia, de acionista com participação relevante ou de
GOVERNANÇA grupo de controle, de auditoria independente que audite ou tenha auditado
Maioria 1/3
CORPORATIVA – a companhia, ou, ainda, de entidade sem fins lucrativos que receba recursos
COMPANHIAS financeiros significativos da companhia ou de suas partes relacionadas; (ii) ter
ABERTAS atuado, seja diretamente ou como sócio, acionista, conselheiro ou diretor, em
um parceiro comercial relevante da companhia; (iii) possuir laços familiares
próximos ou relações pessoais significativas com acionistas, conselheiros ou
diretores da companhia; ou (iv) ter cumprido um número excessivo de man-
datos consecutivos como conselheiro na companhia.

Art. 16. O enquadramento do conselheiro independente deve considerar


sua relação:
I - com a companhia, seu acionista controlador direto ou indireto e seus ad-
ministradores; e
II - com as sociedades controladas, coligadas ou sob controle comum.
§1º Para os fins da verificação do enquadramento do conselheiro indepen-
dente, não é considerado conselheiro independente aquele que:
I - é acionista controlador direto ou indireto da companhia;
II - tem seu exercício de voto nas reuniões do conselho de administração vinculado
por acordo de acionistas que tenha por objeto matérias relacionadas à companhia;
III - é cônjuge, companheiro ou parente, em linha reta ou colateral, até se-
gundo grau do acionista controlador, de administrador da companhia ou de
administrador do acionista controlador; e
IV - foi, nos últimos 3 (três) anos, empregado ou diretor da companhia ou do
seu acionista controlador.
§2º Para os fins da verificação do enquadramento do conselheiro indepen-
dente, as situações descritas abaixo devem ser analisadas de modo a verifi-
NOVO Não há
20% ou 2 car se implicam perda de independência do conselheiro independente em
MERCADO previsão
razão das características, magnitude e extensão do relacionamento:
I - é afim até segundo grau do acionista controlador, de administrador da
companhia ou de administrador do acionista controlador;
II - foi, nos últimos 3 (três) anos, empregado ou diretor de sociedades coliga-
das, controladas ou sob controle comum;
III - tem relações comerciais com a companhia, o seu acionista controlador
ou sociedades coligadas, controladas ou sob controle comum;
IV - ocupa cargo em sociedade ou entidade que tenha relações comerciais
com a companhia ou com o seu acionista controlador que tenha poder deci-
sório na condução das atividades da referida sociedade ou entidade;
V - recebe outra remuneração da companhia, de seu acionista controlador,
sociedades coligadas, controladas ou sob controle comum além daquela re-
lativa à atuação como membro do conselho de administração ou de comitês
da companhia, de seu acionista controlador, de suas sociedades coligadas,
controladas ou sob controle comum, exceto proventos em dinheiro decor-
rentes de participação no capital social da companhia e benefícios advindos
de planos de previdência complementar.

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A I 1 2 3 PP CF R AN
Anexos

MEMBROS MÍNIMO DE
DEFINIÇÃO
EXTERNOS INDEPENDENTES

Art. 38. O conselho de administração da Estatal deverá ser composto por, no


mínimo, 30% (trinta por centro) de Conselheiros Independentes.
§1º “Conselheiro Independente” caracteriza-se por:
I – não ter mantido, nos últimos 3 (três) anos, vínculo de qualquer natureza
com a Estatal ou o Controlador Público que possa comprometer sua inde-
pendência, exceto participação de capital;
II – não ser cônjuge ou parente consanguíneo ou afim até terceiro grau do
Chefe do Poder Executivo, Ministro ou Secretário do Controlador Público ou
de administrador da Estatal;
PROGRAMA
III – não ser ou não ter sido, nos últimos 3 (três) anos, vinculado a sociedade
DESTAQUE EM Não há
30% ou entidade relacionada às pessoas mencionadas no inciso II acima;
GOVERNANÇA previsão
IV – não ser ou não ter sido, nos últimos 3 (três) anos, empregado ou diretor
DE ESTATAIS
da Estatal, de sociedade controlada, coligada ou subsidiária;
V – não ser fornecedor ou comprador, direto ou indireto, de serviços ou pro-
dutos da Estatal, em magnitude que implique perda de independência;
VI – não ser funcionário ou administrador de sociedade ou entida-
de que esteja oferecendo ou demandando serviços ou produtos à
Estatal, em magnitude que implique perda de independência; e
VII – não receber outra remuneração da Estatal além daquela relativa ao
cargo de conselheiro (proventos em dinheiro oriundos de participação no
capital estão excluídos dessa restrição).

Art. 22, §1º. O conselheiro independente caracteriza-se por:


I - não ter qualquer vínculo com a empresa pública ou a sociedade de econo-
mia mista, exceto participação de capital;
II - não ser cônjuge ou parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau ou
por adoção, de chefe do Poder Executivo, de Ministro de Estado, de Secretá-
rio de Estado ou Município ou de administrador da empresa pública ou da
sociedade de economia mista;
III - não ter mantido, nos últimos 3 (três) anos, vínculo de qualquer natureza
com a empresa pública, a sociedade de economia mista ou seus controlado-
res, que possa vir a comprometer sua independência;
IV - não ser ou não ter sido, nos últimos 3 (três) anos, empregado ou dire-
tor da empresa pública, da sociedade de economia mista ou de sociedade
LEI Não há
25% controlada, coligada ou subsidiária da empresa pública ou da sociedade de
Nº 13.303/2016 previsão
economia mista, exceto se o vínculo for exclusivamente com instituições pú-
blicas de ensino ou pesquisa;
V - não ser fornecedor ou comprador, direto ou indireto, de serviços ou pro-
dutos da empresa pública ou da sociedade de economia mista, de modo a
implicar perda de independência;
VI - não ser funcionário ou administrador de sociedade ou entidade que
esteja oferecendo ou demandando serviços ou produtos à empresa pú-
blica ou à sociedade de economia mista, de modo a implicar perda de
independência;
VII - não receber outra remuneração da empresa pública ou da sociedade de
economia mista além daquela relativa ao cargo de conselheiro, à exceção de
proventos em dinheiro oriundos de participação no capital.

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
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Anexos

Anexo 2 – Quadro comparativo


de práticas sobre composição,
qualificação e competências para
comitê de auditoria
Suporte ao conselho de administração nas seguintes atividades: (i) monitoramen-
to da efetividade e da qualidade dos controles internos da organização; (ii) moni-
toramento do cumprimento das leis, regulamentos e sistemas de conformidade
(compliance) pela organização; (iii) supervisão da estrutura e das atividades de
gerenciamento de riscos pela gestão da organização, incluindo os riscos opera-
100% ou cionais, financeiros, estratégicos e de imagem, em linha com as diretrizes e po-
Ao menos um
CÓDIGO DAS maioria de líticas estabelecidas pelo conselho de administração; (iv) monitoramento dos
dos mem-
MELHORES conselheiros aspectos de ética e conduta, incluindo a efetividade do código de conduta e do
bros deve ter
PRÁTICAS DE independentes canal de denúncias (vide 5.1 e 5.2) (abrangendo o tratamento das denúncias
experiência
GOVERNAN- recebidas) e eventual existência de fraude; (v) monitoramento da qualidade do
comprovada na
ÇA CORPO- Coordenado processo contábil e respectivas práticas contábeis selecionadas, da preparação
área contábil,
RATIVA por conselhei- das demonstrações financeiras e outras informações divulgadas a terceiros;
financeira ou de
DO IBGC ro indepen- (vi) supervisão das atividades da auditoria interna, incluindo a qualidade dos
auditoria
dente seus trabalhos, estrutura existente, plano de trabalho e resultados dos trabalhos
realizados; (vii) suporte ao conselho na contratação ou substituição do auditor
independente e supervisão da sua atuação, estrutura, independência perante
a organização, qualidade e resultados dos seus trabalhos; (viii) avaliação e mo-
nitoramento dos controles existentes para as transações da organização com
partes relacionadas, bem como para a sua divulgação.

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
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Anexos

COMPOSIÇÃO QUALIFICAÇÃO COMPETÊNCIAS


Pelo menos um
CÓDIGO Maioria de dos indepen-
BRASILEIRO membros dentes deve
DE GOVER- independentes possuir experiência
Deve (i) ter entre suas atribuições a de assessorar o conselho de administração
NANÇA comprovada na
no monitoramento e controle da qualidade das demonstrações financeiras, nos
CORPORATI- Coordenado área contábil-socie-
controles internos, no gerenciamento de riscos e compliance.
VA – COM- por conselhei- tária, de controles
PANHIAS ro indepen- internos, financeira
ABERTAS dente e de auditoria,
cumulativamente
Deve (i) opinar na contratação e destituição dos serviços de auditoria independente;
(ii) avaliar as informações trimestrais, demonstrações intermediárias e demonstrações
No mínimo Ao menos um
financeiras; (iii) acompanhar as atividades da auditoria interna e da área de controles
3 membros, membro deve
internos da companhia; (iv) avaliar e monitorar as exposições de risco da companhia;
sendo que ter reconhecida
NOVO (v) avaliar, monitorar, e recomendar à administração a correção ou aprimoramento
ao menos experiência em
MERCADO das políticas internas da companhia, incluindo a política de transações entre partes
um deve ser assuntos de
relacionadas; e (vi) possuir meios para recepção e tratamento de informações acerca
conselheiro contabilidade
do descumprimento de dispositivos legais e normativos aplicáveis à companhia, além
independente. societária.
de regulamentos e códigos internos, inclusive com previsão de procedimentos especí-
ficos para proteção do prestador e da confidencialidade da informação.
Maioria de
PROGRAMA Composição
integrantes in-
DESTAQUE conforme a
dependentes e Atribuições conforme a regulamentação editada pela CVM (Instrução 308/1999,
EM GOVER- regulamentação
ao menos um alterada pela Instrução 509/2011).
NANÇA DE editada pela
conselheiro
ESTATAIS CVM.
independente
Deve (i) opinar sobre a contratação e destituição de auditor independente; (ii) super-
visionar as atividades dos auditores independentes, avaliando sua independência, a
qualidade dos serviços prestados e a adequação de tais serviços às necessidades da
empresa pública ou da sociedade de economia mista; (iii) supervisionar as atividades
desenvolvidas nas áreas de controle interno, de auditoria interna e de elaboração das
demonstrações financeiras da empresa pública ou da sociedade de economia mista;
(iv) monitorar a qualidade e a integridade dos mecanismos de controle interno, das
demonstrações financeiras e das informações e medições divulgadas pela empresa
pública ou pela sociedade de economia mista; (v) avaliar e monitorar exposições de
risco da empresa pública ou da sociedade de economia mista, podendo requerer,
Pelo menos um
Mínimo 3 e entre outras, informações detalhadas sobre políticas e procedimentos referentes a:
dos membros
máximo 5 (a) remuneração da administração; (b) utilização de ativos da empresa pública ou da
LEI Nº deve ter conhe-
sociedade de economia mista; (c) gastos incorridos em nome da empresa pública ou
13.303/2016 cimento em
Maioria de da sociedade de economia mista; (vi) avaliar e monitorar, em conjunto com a adminis-
contabilidade
independentes tração e a área de auditoria interna, a adequação das transações com partes relaciona-
societária.
das; (vii) elaborar relatório anual com informações sobre as atividades, os resultados,
as conclusões e as recomendações do comitê de auditoria estatutário, registrando, se
houver, as divergências significativas entre administração, auditoria independente e
comitê de auditoria estatutário em relação às demonstrações financeiras; (viii) avaliar
a razoabilidade dos parâmetros em que se fundamentam os cálculos atuariais, bem
como o resultado atuarial dos planos de benefícios mantidos pelo fundo de pensão,
quando a empresa pública ou a sociedade de economia mista for patrocinadora de
entidade fechada de previdência complementar; (viii) possuir meios para receber de-
núncias, inclusive sigilosas, internas e externas à empresa pública ou à sociedade de
economia mista, em matérias relacionadas ao escopo de suas atividades.

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Anexo 3 – Lei Anticorrupção

Atos lesivos à administração pública


I. prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente pú-
blico, ou a terceira pessoa a ele relacionada;
II. comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo subvencionar
a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei;
III. comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou
dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados;
IV. no tocante a licitações e contratos:
a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o
caráter competitivo de procedimento licitatório público;
b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licita-
tório público;
c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de vanta-
gem de qualquer tipo;
d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente;
e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação
pública ou celebrar contrato administrativo;
f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações ou
prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem autorização
em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos instrumentos con-
tratuais; ou
g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados
com a administração pública;

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
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V. dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes


públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências reguladoras e
dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional.

Cálculo da multa (percentuais incidentes sobre o faturamento) 

I. Soma
• 1% a 2,5% havendo continuidade dos atos lesivos no tempo;
• 1% a 2,5% para tolerância ou ciência de pessoas do corpo diretivo ou gerencial da
pessoa jurídica;
• 1% a 4% no caso de interrupção no fornecimento de serviço público ou na execução
de obra contratada;
• 1% para a situação econômica positiva do infrator, conforme critério definido no
Decreto;
• 5% no caso de reincidência; e
• 1% a 5% no caso de os contratos mantidos ou pretendidos com o órgão ou entidade
lesado terem valores que variam de um milhão e quinhentos mil reais até mais de um
bilhão de reais, conforme detalhado no decreto.

II. Subtração
• 1% no caso de não consumação da infração;
• 1,5% no caso de comprovação de ressarcimento dos danos;
• 1% a 1,5% para o grau de colaboração da pessoa jurídica com a investigação ou a
apuração do ato lesivo, independentemente do acordo de leniência;
• 2% no caso de comunicação espontânea pela pessoa jurídica antes da instauração do
processo administrativo de responsabilização;
• 1% a 4% para comprovação de a pessoa jurídica possuir e aplicar um programa de in-
tegridade, conforme os parâmetros estabelecidos no Decreto e conforme já analisado
anteriormente; e
• até 2/3 na hipótese de celebração de acordo de leniência pela pessoa jurídica infratora.

Sanções (responsabilidade administrativa)


I. multa; e
II. publicação extraordinária da decisão condenatória

Competência (responsabilidade administrativa)


I. autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário; e
II. CGU (concorrente) no âmbito do Poder Executivo Federal e diante de atos contra enti-
dades estrangeiras.

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A I 1 2 3 PP CF R AN
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Sanções
I. perdimento dos bens, direitos ou valores obtidos direta ou indiretamente com o ato ilícito;
II. suspensão ou interdição parcial das atividades da pessoa jurídica;
III. proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de
entidades da administração pública, por 1 a 5 anos; e
IV. dissolução compulsória da pessoa jurídica, quando tiver sido utilizada com abuso
de direito.

Requisitos para a celebração de acordo de leniência 


I. a pessoa jurídica deve ser a primeira a se manifestar sobre seu interesse em cooperar
para a apuração do ato ilícito;
II. a pessoa jurídica deve cessar completamente seu envolvimento na infração investiga-
da a partir da data de propositura do acordo; e
III. a pessoa jurídica deve admitir sua participação no ilícito e coopere plena e permanen-
temente com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas
expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
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Anexo 4 – Histórico da
Operação Lava Jato

O nome do caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de postos de combustíveis e
lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das or-
ganizações criminosas inicialmente investigadas. Embora a investigação tenha avançado para
outras organizações criminosas, o nome inicial se consagrou.
A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o
Brasil já teve. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior es-
tatal do país, esteja na casa de bilhões de reais. Soma-se a isso a expressão econômica e política
dos suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia.
No primeiro momento da investigação, desenvolvido a partir de março de 2014, perante
a Justiça Federal em Curitiba, foram investigadas e processadas quatro organizações crimi-
nosas lideradas por doleiros, que são operadores do mercado paralelo de câmbio. Depois, o
Ministério Público Federal recolheu provas de um imenso esquema criminoso de corrupção
envolvendo a Petrobras.
Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em
cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da
propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse
suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros
investigados na primeira etapa.

As empreiteiras
Em um cenário normal, empreiteiras concorreriam entre si, em licitações, para conseguir os
contratos da Petrobras, e a estatal contrataria a empresa que aceitasse fazer a obra pelo menor
preço. Neste caso, as empreiteiras se cartelizaram em um “clube” para substituir uma concor-

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
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rência real por uma concorrência aparente. chada. Num segundo momento, o dinheiro
Os preços oferecidos à Petrobras eram calcu- ia do operador financeiro até o beneficiário
lados e ajustados em reuniões secretas nas em espécie, por transferência no exterior ou
quais se definia quem ganharia o contrato e mediante pagamento de bens.
qual seria o preço, inflado em benefício pri-
vado e em prejuízo dos cofres da estatal. O Agentes políticos
cartel tinha até um regulamento, que simu- Outra linha da investigação – correspondente
lava regras de um campeonato de futebol, à sua verticalização – começou em março de
para definir como as obras seriam distribuí- 2015, quando o Procurador-Geral da Repú-
das. Para disfarçar o crime, o registro escrito blica apresentou ao Supremo Tribunal Fede-
da distribuição de obras era feito, por vezes, ral 28 petições para a abertura de inquéritos
como se fosse a distribuição de prêmios de criminais destinados a apurar fatos atribuídos
um bingo (veja aqui documentos). a 55 pessoas, das quais 49 são titulares de
foro por prerrogativa de função (“foro privile-
Funcionários da Petrobras giado”). São pessoas que integram ou estão
As empresas precisavam garantir que apenas relacionadas a partidos políticos responsá-
aquelas do cartel fossem convidadas para veis por indicar e manter os diretores da Pe-
as licitações. Por isso, era conveniente coop- trobras. Elas foram citadas em colaborações
tar agentes públicos. Os funcionários não premiadas feitas na 1ª instância mediante
só se omitiam em relação ao cartel, do qual delegação do Procurador-Geral. A primeira
tinham conhecimento, mas o favoreciam, instância investigará os agentes políticos por
restringindo convidados e incluindo a ga- improbidade, na área cível, e na área criminal
nhadora dentre as participantes, em um jogo aqueles sem prerrogativa de foro.
de cartas marcadas. Segundo levantamentos Essa repartição política revelou-se mais
da Petrobras, eram feitas negociações di- evidente em relação às seguintes diretorias:
retas injustificadas, celebravam-se aditivos de Abastecimento, ocupada por Paulo Rober-
desnecessários e com preços excessivos, to Costa entre 2004 e 2012, de indicação do
aceleravam-se contratações com supressão PP, com posterior apoio do PMDB; de Servi-
de etapas relevantes e vazavam informações ços, ocupada por Renato Duque entre 2003
sigilosas, dentre outras irregularidades. e 2012, de indicação do PT; e Internacional,
ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e
Operadores financeiros 2008, de indicação do PMDB. Para o PGR,
Os operadores financeiros ou intermediários esses grupos políticos agiam em associação
eram responsáveis não só por intermediar o criminosa, de forma estável, com comunhão
pagamento da propina, mas especialmente de esforços e unidade de desígnios para pra-
por entregar a propina disfarçada de dinheiro ticar diversos crimes, dentre os quais corrup-
limpo aos beneficiários. Em um primeiro mo- ção passiva e lavagem de dinheiro. Fernando
mento, o dinheiro ia das empreiteiras até o Baiano e João Vacari Neto atuavam no esque-
operador financeiro. Isso acontecia em espé- ma criminoso como operadores financeiros,
cie, por movimentação no exterior e por meio em nome de integrantes do PMDB e do PT.
de contratos simulados com empresas de fa- Veja a representação gráfica do esquema:

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Lava Jato. Esquema de desvios de recursos da Petrobras

DIRETORIA DE DIRETORIA DE DIRETORIA


ABASTECIMENTO SERVIÇOS INTERNACIONAL
(Indicado pelo PP) (Indicado pelo PT) (Indicado pelo PMDB)
PAULO ROBERTO COSTA RENATO DUQUE NESTOR CERVERÓ

EMPREITEIRAS EMPREITEIRAS EMPREITEIRAS


CONTRATADAS CONTRATADAS CONTRATADAS
PROPINA PROPINA PROPINA

PROPINA PROPINA PROPINA PROPINA PROPINA PROPINA

OPERADOR OPERADOR OPERADOR


ALBERTO YOUSSEF JOÃO VACCARI FERNANDO BAIANO

PROPINA PROPINA PROPINA

POLÍTICOS POLÍTICOS POLÍTICOS


PP/PMDB PT PMDB

As investigações continuam tanto na 1ª instância quanto no Supremo Tribunal Federal.


Fonte: Ministério Público Federal – Entenda o Caso.

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EVOLUÇÃO DO ARCABOUÇO REGULATÓRIO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
TÍTULO DA OBRA
EDIÇÃO
EVOLUÇÃO
DO ARCABOUÇO
REGULATÓRIO
E sta publicação tem como objetivo fazer um registro histó-
rico da evolução do arcabouço regulatório de governança DE GOVERNANÇA
CORPORATIVA
corporativa, com foco nas diretrizes de regulação, autorregula-
ção ou documentos de melhores práticas em prol da governança
corporativa e do combate à corrupção, especialmente aplicáveis
às empresas estatais, que tiveram que se adaptar à nova realida-
de trazida com a regulação.
IBGC Discute

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