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Governo Dilma (2011 - 2014)

Conjuntura Internacional

A crise iniciada em 2008 ainda se fazia presente em 2011, principalmente nos EUA e na
Europa.

EUA: A vigorosa expansão monetária nos EUA (US$4,0 trilhões), não surtia o efeito
desejado, pois no novo mundo globalizado, a livre circulação de capitais financeiros acabou
por retirar de dentro do país, parte considerável da moeda posta em circulação. Havia
países proporcionando mais rentabilidade.

Europa: Na Europa, mais keynesiana, uma combinação de expansão monetária e políticas


fiscais expansionistas, sobretudo aumento dos gastos públicos, também não surtia o efeito
desejado.
1 – Parte da moeda posta em circulação também saiu da Europa à procura de maiores
rentabilidades.
2 – A expansão dos gastos públicos era mais direcionada para a solvência dos sistemas
bancários de cada país. Assim, acima de tudo, estava repondo as perdas bancárias e
quitando compromissos, muitos dos quais fora da Europa.

Conjuntura Nacional

As exportações do Brasil começaram a perder fôlego em 2011, seja diretamente, pela


redução das exportações direcionadas para os EUA e à Europa, seja indiretamente, pela
redução das exportações à China.

Tsunami monetário: a entrada de capitais no Brasil pelo SCK estava em crescimento,


graças a soma das expansões monetárias nos EUA e na Europa com as taxas de juros
praticadas no Brasil (em torno de 11% a.a), especialmente altas se comparadas com as
baixas taxas de juros daqueles países em crise. Isso valorizou a Taxa de Câmbio.

A partir de 2012, a TC começa a desvalorizar lentamente. Continua havendo a entrada de


produtos importados, o que era muito bem visto pelos países em crise e mantinha a inflação
sob relativo controle, mas criava dificuldades crescentes para a produção industrial
nacional.

A partir do segundo semestre de 2012, dois problemas se somam à redução das


exportações:
- queda do PIB industrial e o consequente desemprego no setor.
- o consumo dá mostras de saturação, principalmente por conta do endividamento das
famílias.
Para reverter a situação, o governo amplia o intervencionismo que já vinha desde o final do
período Lula:
1) Manutenção de isenções tributárias.
2) Redução (por dispositivo legal), das taxas de juros ao consumidor do BB e da CEF.
3) Intervenção direta nos preços da energia elétrica. Manteve a intervenção nos preços
dos combustíveis.
4) Expansão do crédito às empresas => BNDES.
● Foram implementadas políticas de estímulo ao crédito, com o objetivo de
facilitar o acesso das empresas a financiamentos para exportação. Foram
disponibilizadas linhas de crédito especiais, com taxas de juros mais baixas e
prazos mais longos, visando aumentar a competitividade das empresas
brasileiras no mercado internacional.
5) Lançamento do PAC 2.
● O objetivo do PAC 2 era promover o crescimento econômico, reduzir as
desigualdades regionais e fortalecer a infraestrutura do país. Ele envolveu
investimentos em diversos setores, como transporte, energia, habitação,
saneamento básico, saúde, educação, entre outros. Algumas das principais
características e iniciativas do PAC 2 foram:
- Infraestrutura de Transportes: O programa previa investimentos na
expansão e modernização da infraestrutura de transporte, incluindo
rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Foram projetadas obras de
ampliação de estradas, construção de novas ferrovias, melhorias em
terminais portuários e expansão dos aeroportos.
- Programa Minha Casa, Minha Vida: O PAC 2 incluiu a continuidade
do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, que visava a
construção e aquisição de moradias populares para famílias de baixa
renda. O programa tinha como objetivo reduzir o déficit habitacional e
estimular o setor de construção civil.
- Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades: Foi lançado o
Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades, que previa
investimentos em saneamento básico, urbanização de assentamentos
precários, mobilidade urbana e infraestrutura social em áreas
urbanas.
- Energia e Sustentabilidade: Foram realizados investimentos em
energia, incluindo projetos de geração de energia renovável, como
hidrelétricas, parques eólicos e energia solar. Também foram
promovidas ações voltadas para a sustentabilidade ambiental e a
eficiência energética.
6) Medidas de estímulo à indústria: O governo lançou programas e incentivos voltados
para a indústria, visando aumentar a produção e melhorar a competitividade dos
produtos brasileiros no exterior. Foram adotadas medidas como desonerações
fiscais, redução de impostos sobre insumos industriais e investimentos em
infraestrutura.
7) Negociações comerciais: O governo também buscou ampliar e fortalecer as relações
comerciais com outros países, por meio de negociações de acordos e parcerias
comerciais. Foram realizadas missões e visitas a países estratégicos, com o objetivo
de abrir novos mercados para os produtos brasileiros e diversificar as exportações.
Consequências (2013 - 2014):
- As reduções das taxas de juros ao consumidor não obtiveram os resultados
esperados, pois o endividamento das famílias já estava próximo do teto.
- As intervenções nos preços da energia elétrica e dos combustíveis atingiram a
rentabilidade das empresas daqueles setores e teria consequências negativas no
futuro.
- A expansão do crédito às empresas foi viabilizada através de algumas operações de
capitalização do BNDES, cujos custos e riscos recaem sobre o tesouro => dívida
bruta x dívida líquida=> cunhado o termo “pedalada fiscal” (Pedalada fiscal é uma
prática contábil questionável em que o governo adia o repasse de recursos para
bancos públicos e/ou estatais para melhorar temporariamente suas contas fiscais.
Essa prática permite que o governo apresente uma aparência de saúde financeira,
enquanto posterga pagamentos que deveriam ser realizados de forma regular. Essa
prática ficou mais conhecida no Brasil durante o governo da presidente Dilma
Rousseff, quando foi identificada uma série de manobras contábeis que adiavam o
repasse de recursos para bancos estatais, como o Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal. Essas manobras permitiam ao governo melhorar artificialmente
o resultado fiscal, ocultando o déficit público.)
- A soma das isenções tributárias (receitas) com a expansão dos gastos públicos
(despesas), começou a abalar o equilíbrio fiscal.

Em 2013
Começa a operação Lava-Jato, que acabaria por desvendar as práticas políticas no âmbito
do presidencialismo de coalizão estabelecido na CF de 1988. Em paralelo, um protesto pelo
aumento nos preços do Metrô de São Paulo dá início a uma série de manifestações, de
motivação difusa, que toma conta de várias cidades do Brasil.

Eleições 2014
As eleições de 2014 deram início a um impressionante processo de polarização política,
que se ampliou e se estende até os dias atuais. As contas públicas apresentavam uma
previsão de superávit primário de 0,75% do PIB. No entanto, poucos dias após a vitória de
Dilma Rousseff, em novembro, o Ministro Mantega Anuncia, para surpresa de muitos, que o
resultado primário seria na verdade um déficit de 0,8% do PIB, 1,5p.p abaixo do esperado.
Sem entender a significativa diferença nos números, especialistas se debruçaram sobre as
contas públicas e descobriram que o governo federal havia tomado empréstimos junto aos
seus bancos, o que é expressamente proibido pela LRF.

Conjuntura internacional 2014


Em 2014, a crise iniciada em 2008 já apresentava melhoras e um certo grau de retomada
da economia, tanto nos EUA quanto na Europa, esta com destaque à Alemanha.
Entre os países europeus com maiores problemas, Portugal, Espanha e Itália, estão
cumprindo as exigências, com sacrifícios, do trio formado pelo FMI, BCE e BIRD. Suas
economias estão menores, mas apresentam uma certa estabilização. Já a Grécia continua
enfrentando problemas, pois no âmbito interno o país está convulsionado e a população
sofre com as duras medidas determinadas pela tríade. Muitos são contra e existem até
propostas de saída da UE e da Zona do Euro

Conjuntura nacional 2014


Em termos mais gerais, por conta do desequilíbrio nas contas públicas, que agora se tornou
o foco, Levy tentará conduzir uma redução do intervencionismo estatal na economia e
resolver a questão do desrespeito à LRF. A obtenção de superávits primários voltou a ter
prioridade e Levy pretendia obter 1,2% do PIB em 2015 e pelo menos 2% em 2016 e 2017.
Para combater o desequilíbrio fiscal, havia duas alternativas:
- expansões monetárias => podem gerar inflação, ampliar o endividamento público e
até enfraquecer a moeda.
- políticas fiscais e/ou monetárias contracionistas => gerarão recessão. (escolha de
Levy)

Governo Michel Temer (abril de 2016 - 2018)

O foco permaneceu no desequilíbrio fiscal e algumas tentativas de reformas mais profundas


foram apresentadas ao Congresso, com destaque para a denominada reforma trabalhista,
para o limite dos gastos públicos (PEC 255/55) e para a reforma da previdência.
Meirelles procurou ganhar fôlego e espaço para administrar as contas públicas e conseguiu
a aprovação do Congresso para um déficit público de R$180 bilhões em 2016. A ideia era ir
reduzindo o déficit paulatinamente até 2022. Em paralelo, a baixa atividade econômica
reduziu as pressões inflacionárias e permitiu decisões (COPOM) de redução da taxa básica
de juros.
As acusações de corrupção citadas acabaram com qualquer chance de uma administração
econômica séria. Para garantir a própria sobrevivência, o governo abriu os cofres públicos
ao fisiologismo do Congresso e os gastos públicos permaneceram num nível que impedia
melhores resultados nas contas públicas.
Governo Bolsonaro (2018 - 2022)

Conjuntura internacional
Em 2019, o mundo persistia nas baixas taxas de crescimento, incluindo a China. Havia
problemas mundiais provocados pela concentração de renda, derivada dos processos da
globalização econômica e intensificada pelos impactos das novas tecnologias no mercado
mundial de trabalho. O aumento da pobreza provoca fluxos de migração das áreas mais
pobres para as mais ricas. Mais do que nunca, a ordem econômica mundial vem sendo
crescentemente questionada, com efeitos políticos marcantes e ressurgência de teses
nacionalistas e da xenofobia
O presidente americano Donald Trump empreendeu uma política comercial de confronto e
todos se preocupam com a “guerra comercial” entre as duas maiores economias, EUA e
China. Uma intensa disputa pelo novo tipo de poder, calcado no domínio das tecnologias,
está em curso e há um encaminhamento para um mundo tripolar, com a inclusão da Rússia.
Esta se aproximou da China e além de parcerias tecnológicas e no setor petrolífero, as duas
nações têm trabalhado numa alternativa ao US$ como moeda mundial de referência.

Conjuntura nacional
O Brasil tem sido conduzido pelo ideárioliberal, embora este não seja totalmente do agrado
do presidente. Como liberal, Guedes, Ministro da Economia, se concentra no desequilíbrio
fiscal, mais precisamente, no déficit primário (desde 2014), na dívida pública e no tamanho
do setor público. Tem também chamado a atenção para os problemas do pacto federativo.
Suas políticas econômicas, portanto, se concentram em reformas estruturais do setor
público:
- reforma da previdência => aprovada.
- reforma tributária.
- reforma administrativa.

Mudança Estrutural
O baixo crescimento econômico brasileiro(baixa inflação), proporcionou ao Bacen a
possibilidade de conduzir um processo de redução (a partir de 2016) da taxa básica de
juros, sem precedente na história. No entanto, a redução da Selic, somada à baixa
mobilidade de capitais da economia brasileira, levou a um trade-off estrutural.
● taxa de juros menor => taxa de câmbio maior

O efeito inflacionário advindo da desvalorização do câmbio agora tem duas causas:


- O encarecimento dos produtos importados, em moeda nacional => causa tradicional.
- O encarecimento dos produtos nacionais de exportação => mercados globalizados
=> preços em US$ => Tc maior => preços em R$ mais caros.

Os ajustes na política cambial, permitindo conta em US$ no exterior, deram margem à


possibilidade de diferenças crescentes entre o DÓLAR EMBARCADO e o DÓLAR
CONTRATADO. Tais diferenças são muito influenciadas pelas conjunturas.
● Dólar embarcado: Refere-se à taxa de câmbio utilizada nas transações de
importação ou exportação de bens físicos. É o valor pelo qual as mercadorias são
compradas ou vendidas em moeda estrangeira (geralmente o dólar) no momento do
embarque. Essa taxa pode variar de acordo com as condições do mercado e é
aplicada nas operações de comércio exterior.
● Dólar contratado: Diz respeito a uma taxa de câmbio pré-acordada entre as partes
envolvidas em um contrato futuro ou uma operação de câmbio a prazo. Nesse caso,
as partes estabelecem antecipadamente uma taxa de câmbio para uma data futura,
independentemente das condições cambiais no momento da execução do contrato.
O dólar contratado é utilizado em operações de hedge cambial, em que empresas
ou investidores buscam proteger-se contra a volatilidade do câmbio.

COVID-19
Uma grande externalidade mundial, derrubou a oferta agregada e a demanda agregada,
pois os cidadãos tiveram que se isolar para evitar o contágio e, deste modo, não puderam
executar convenientemente os seus papéis de colaboradores da produção e consumidores.
A economia mundial é atingida pelos dois lados e uma brutal recessão se instala.

Medidas eleitorais
- Proposta de emenda constitucional que estabeleceu estado de emergência para
criar uma série de benefícios 3 meses antes da eleição
- Ações para subsidiar o diesel, a gasolina e o gás e ainda expansão de programas
sociais (bolsa Brasil)
- Usou desse estado de emergência para quebrar o teto de gastos
- Antecipação do pagamento de aposentados, saque do FGTS, linhas de crédito
empresarial, auxílio para caminhoneiros e taxistas.
O debate econômico contemporâneo (2019 - 2023)

É possível que as forças do mercado, por si só, consigam resolver a má distribuição da


renda (classes sociais e geográfica), a baixa competitividade do mercado e as ineficiências
econômicas (concentração de renda, por exemplo)?
Keynes, o grande idealizador do intervencionismo estatal, estabeleceu alguns limites para
esse intervencionismo. Ao começar a teorizar sobre isso no contexto da Crise de 1929,
havia apenas a teoria vigente do liberalismo, que dizia que crises seriam impossíveis. Mas,
aconteceu. Aí quando Keynes começou a teorizar sobre esse assunto, ele defende que:
estamos em crise, então temos capacidade ociosa a ser preenchida. Então, é válido que o
governo intervenha na economia injetando dinheiro para fazer a economia acelerar. Quando
a economia crescer e preencher essa capacidade ociosa, é um crescimento sem inflação
porque você está meramente preenchendo ociosidades, o custo de produção segue
constante. O perigo de inflação é quando se chega na capacidade máxima, e aí para dar
conta desse excedente da capacidade máxima é necessário contratar mais gente, por
exemplo, e o custo começa a subir, podendo ser repassado para os preços finais do produto
e gerar inflação. Mas, fez essas análises sobre economias desenvolvidas, não considerou
as especificidades e problemas estruturais das economias subdesenvolvidas.

Política Monetária

1. Eficácia como medida anti-inflacionária


A política monetária mais usada no Brasil para conter preços é a taxa básica de juros, em
que o governo a manipula no sentido de controlar a velocidade de circulação da moeda, o
crédito, o consumo, a demanda etc. E, portanto, tentar controlar a inflação. O primeiro
problema que existe no Brasil é uma formação de preços muito peculiar. Tem efeitos
diferentes sobre os 3 tipos de preços no Brasil:
Preços Administrados: É uma herança das privatizações, sobretudo as feitas pelo FHC.
Naquela época, o Plano Real ainda era jovem, tentando se consolidar. Privatização
implicava em entrada de capital estrangeiro, e os investidores estrangeiros estavam com
medo do recente passado brasileiro de inflação, e desejavam alguma garantia de que, caso
houvesse inflação, tivessem uma garantia. E aí nos contratos de privatização ficou acertada
uma correção especificada, um índice de correção inflacionário. Aqueles preços que foram
definidos por esses contratos, que tinham correção própria, são chamados de preços
administrados, os quais sofrem influência do controle da taxa de juros básica, mas é uma
influência baixa. Se o governo teme uma pressão inflacionária e busca aumentar a taxa de
juros para impedir isso, vai ter efeito muito indireto sobre os preços administrativos.
Tradables: produtos e serviços que têm concorrência direta dos importados. A taxa de juros
influencia, mas a taxa de câmbio influencia mais. Ou seja, taxa de juros tem influência
indireta, via taxa de câmbio, uma vez que se você levanta a taxa de juros, há maior entrada
de divisas atraídas, o que tende a baixar a taxa de câmbio. Abaixando a taxa de câmbio, os
produtos importados entram mais barato, fazendo maior concorrência com os produtos
nacionais, o que tende a reduzir os preços dos mesmos.
Nontradables: sofre maior influência da taxa de juros. São aqueles produtos e serviços que
não sofrem pressões externas, competições estrangeiras. Desde serviços mais simples
como cabelereiro, limpeza etc. até os produtos que nós produzimos, como alimentos
agrícolas. Crédito vai ser mais caro, por exemplo.

Impactos nos custos a médio/longo prazo

Taxa de juros aumenta -> custos aumentam -> preços aumentam.


O aumento da taxa de juros, no médio/longo prazo, vai ter efeito sobre os custos. Se você é
uma empresa que trabalha com capital de terceiros (a maioria), ela paga juros sobre o
mesmo. Se você usa pouco, o impacto dos juros nos custos vai ser baixo. Mas, se usar
muito, chega um determinado momento em que o empresário coloca aquele custo que está
pagando no custo total, e esse custo total vai impactar o preço final, ainda mais em
mercados pouco competitivos como o brasileiro. Juros altos, então, se permanecer muito
tempo, vai perdendo sua eficácia anti-inflacionária, até que chega em um determinado
ponto em que começa a ser inflacionário, a partir do momento em que começa a se acoplar
aos custos totais. No médio e longo prazo porque se o juros sobe, mas logo desce, não
impacta tanto nos custos. O pão tem embutido no seu custo a farinha, o salário do padeiro,
fermento etc. Além disso, se o juros permanecer alto por muito tempo, vai ter embutido o
juros também. No curto prazo, tem efeito anti-inflacionário, mas, ao longo do tempo, passa a
ser inflacionário, na medida em que os custos mais altos implicados pela taxa de juros alta
impactam os preços.

Nova proposta teórica (John Cochrane/André Lara Resende)


In = Ir + P (em oposição a M x V = P x Y)
Normalmente, a questão de inflação se relaciona à teoria quantitativa da moeda. A nova
proposta busca se opor a isso. In é a taxa de juros nominal, Ir é a taxa de juros real, P é
inflação. Se juros sobe 10%, mas a inflação subiu 8%, o juro real vai ser 2%. Isso porque a
teoria versa sobre as expectativas, em que quando um governo atua via política monetária
manipulando a taxa básica de juros, ele manipula a taxa nominal, e não a real. A ideia é
manipular a real, mas manipula na nominal. Quando o governo mexe nisso, os teóricos
dessa teoria acham que as expectativas vão acabar atingindo a inflação. “Ih, o governo
aumentou a taxa de juros, então está esperando a inflação subir. Vamos fazer uma
remarcação de preços preventiva”. A manipulação por parte do governo da taxa de juros
nominal (aumentando a mesma) acaba gerando expectativas que levarão à remarcação de
preços preventiva.

A grande pergunta é, então: política monetária, sobretudo taxa básica de juros, é eficiente
no combate à inflação? Para responder essa pergunta, temos que considerar esses
questionamentos acima (46’).
2. Efeitos fiscais da política monetária (taxa de juros básica aumentada gera
desequilíbrio fiscal)
Desequilíbrio fiscal -> aumento da dívida pública
OBS.: alguns acreditam que este é o maior problema atual, desde o Joaquim Levy no
Ministério da Fazenda em 2015 e seus sucessores, todos eles acham isso. A taxa básica de
juros mais alta, afinal de contas, vai aumentar a dívida pública, e esse maior gasto com a
dívida pública incorre em desequilíbrio fiscal.

3. Efeitos da política monetária na taxa de câmbio e nas reservas internacionais


Taxa básica de juros aumenta, atrai capitais estrangeiros -> taxa de câmbio tende a reduzir
(sck).
Taxa de juros não é a única variável para mexer na taxa de câmbio, mas é importante,
sobretudo no Brasil.

Reservas internacionais: qual a origem?


Temos grandes reservas internacionais, mas é preciso saber quanto das reservas são
oriundas do Saldo da Conta Corrente (SCC), e quantas são do Saldo da Conta Capital
(SCK).

SCC: desejável, parte da reserva que vem do SCC é saudável, porque não envolve passivo
nenhum. Brasil exportou mais e importou menos, tendo saldo positivo. As divisas que
entram no país têm de ser convertidas para Real, porque não pode circular outra moeda no
território nacional, e aí as divisas entram nas reservas do país; No SCK, há um passível
atrelado. O capital foi atraído, por exemplo, pela taxa de juros mais alta oferecida pelo
Brasil. Compram títulos, por exemplo, do governo brasileiro, e aí o investidor estrangeiro
tem algo a receber da gente. Envolve um passivo por isso. Vai ter um dia que o estrangeiro
vai pegar o dinheiro de volta.
Entender o percentual das reservas que vieram do SCC ou do SCK é importante, mas mais
importante é a proporção entre eles.
Ainda há a questão dos custos de manter as reservas, que tem a ver com a diferença entre
a taxa de juros brasileiro e a taxa de juros externa. Isso porque quanto maior for a diferença
entre elas, maior será o custo financeiro que se paga. O Bacen não pode investir esse
dinheiro da reserva no Brasil, porque se não vai estar colocando ele em circulação, e
reserva não faz parte da base monetária em circulação. Então, vai investir lá fora, e a
diferença entre a taxa de juros daqui e a externa influenciam nos custos.
Ainda tem a questão da taxa de câmbio. Com o câmbio desvalorizado como o de agora, as
reservas (que estão em dólares) implicam em ganhos para o Bacen, porque em dólares
permanecem a mesma, mas, quando contabilizadas em reais, subiram muito.
Política Cambial

1. Flutuante

Hoje, o câmbio é flutuante, mas não muito, porque tem uma banda que o Bacen não
divulga, porém intervém quando atinge níveis determinados.
Tem impacto negativo nos setores menos competitivos, problema que vem enfrentando
nosso parque industrial por conta da taxa de câmbio mais baixa.
Agrobusiness brasileiro faria efeito holandês sobre o resto da economia? Efeito holandês é
que na crise do petróleo, com o aumento exponencial do preço do petróleo, viabilizou-se
novas províncias de exploração, como no Golfo do México e no Mar do Norte. Este último é
dividido entre alguns países, dentre eles a Holanda. Na parte holandesa, há mais gás do
que petróleo. Então, a Holanda em poucos anos se tornou uma grande produtora e
exportadora de gás. A exportação da Holanda subiu muito, alavancada pelo gás. Ao
exportar mais, entre mais divisas, o que reduz a taxa de câmbio. Aí tem que ver se os
outros setores da economia holandesa conseguem competir nesse ambiente de taxa de
câmbio mais baixa. Alguns não conseguiram competir. A eficiência extremamente maior de
um setor (no caso holandês, o gás), começou a prejudicar os demais. Esse efeito holandês
seria enfrentado no Brasil com o agronegócio, como o setor mais eficiente e com alta
competitividade no exterior?

2. Administrado
O problema do câmbio administrado é a necessidade de reservas (e o Brasil tem), e a
questão dos custos das reservas. Brasil tem hoje um misto de flutuante e administrado.

Mobilidade de capitais: o câmbio como ativo financeiro

Financeirização internacional é uma das causas da polarização política internacional que o


mundo vive hoje. Derivativos de derivativos, especulação financeira, todos os ativos reais
podem ser transformados em derivativos, entrando em especulações que se espalham por
todo o mundo, isso é um problemão.
Países perdem autonomia no uso das políticas econômicas, sobretudo nas políticas
monetárias. Entra fluxo de capital, sai fluxo de capital, tudo isso está além do controle do
país muitas vezes (podem ser motivos externos ao país). Saídas e entradas abruptas de
capital prejudica as políticas monetárias. Para atenuar esses impactos, uma das coisas que
o Brasil fez foi aliviar a obrigatoriedade de todo agente econômico brasileiro que
conseguisse dólares (por meio de exportação, por exemplo), ter de trazê-los para o território
brasileiro. Isso foi aliviado desde 2006, 2007. Isso é positivo porque permite aos agentes
decidirem a melhor maneira de trazer o fluxo de capitais para o país. Muitas vezes as
empresas coordenam com o governo.
Polarização política
Tem muito a ver com a questão da mobilidade de capitais, nesse mundo globalizado.

A) Governo Jair Bolsonaro (2019 – atualmente)


Em 2019, o mundo persistia nas baixas taxas de crescimento, incluindo a China (ainda é
relativamente alto com relação aos demais países, mas é baixa com relação a dos anos
anteriores). Além disso, há problemas mundiais provocados pela concentração de renda,
derivada dos processos da globalização econômica e intensificada pelos impactos das
novas tecnologias no mercado mundial de trabalho. O aumento da pobreza provoca fluxos
de migração das áreas mais pobres para as mais ricas. Mais do que nunca, a ordem
econômica mundial vem sendo crescentemente questionada, com efeitos políticos
marcantes e ressurgência de teses nacionalistas e da xenofobia.

BRASIL CONTEMPORÂNEO

Conjuntura Internacional
Em 2019, o mundo persistia nas baixas taxas de crescimento, incluindo a China (cresce
ainda, mas não de forma espantosa).
Há problemas mundiais provocados pela concentração de renda, derivada dos processos
da globalização econômica e intensificada pelos impactos das novas tecnologias no
mercado mundial de trabalho. Capitais financeiros circulando livremente traz potencial de
lucros inimagináveis, e os investidores buscaram realizar esse potencial. Mercado financeiro
começou a ganhar preeminência em relação ao capital produtivo. Isso pode trazer
problemas como menor geração de empregos (1 milhão de dólares aplicados no mercado
financeiro gera X de empregos, mas 1 milhão de dólares aplicados no capital produtivo gera
mais). As novas tecnologias se somaram a isso, substituindo os cargos humanos e
aumentando ainda mais o desemprego. Desigualdades do mundo se tornam cada vez mais
óbvias. Pessoas com melhor acesso e relacionamento com as tecnologias têm melhores
empregos e rendas, e poucas pessoas tem isso, o que acentua a concentração de renda. 0
O aumento da pobreza provoca fluxos de migração das áreas mais pobres para as mais
ricas. Mais do que nunca, a ordem econômica mundial vem sendo crescentemente
questionada, com efeitos políticos marcantes e ressurgência de teses nacionalistas e da
xenofobia. A globalização da informação faz com que as pessoas possam se comparar,
comparar as realidades, o que motiva as pessoas a buscarem mudanças de locais.
Trump assume nesse contexto em que há nacionalismo e xenofobia crescentes, com o
capital estadunidense produtivo saindo do território dos EUA porque a globalização permitiu
que se tivesse arranjos produtivos mais favoráveis localizados fora do país. Busca-se
produzir em locais em que a produção é mais barata. Aqueles empregos que esse capital
geraria no território dos EUA passaram a não o ser, havendo um tipo de trabalhador
estadunidense mais ligados às indústrias mais tradicionais (no geral, as pessoas de mais de
40 anos) descontentes com a globalização. O mesmo acontece em outros países
desenvolvidos. A economia começou a crescer mais no setor da indústria de ponta, com
empresas como Apple, Google etc., que emprega, no geral, pessoas jovens. Quem levou o
Trump ao poder foi essa coroada desempregada, com o slogan de “Make America Great
Again”. E o Brexit foi provocado pela mesma história.
O presidente americano Donald Trump empreendeu uma política comercial de confronto e
todos se preocupam com a “guerra comercial” entre as duas maiores economias, EUA e
China. Uma intensa disputa pelo novo tipo de poder, calcado no domínio das tecnologias
está em curso e há um encaminhamento para um mundo tripolar, com a inclusão da Rússia,
com esta se aproximando da China.
Conjuntura internacional desfavorável, e piora com a crise do covid.

Conjuntura Nacional
Visando o apoio do meio empresarial, Bolsonaro escolhe Paulo Guedes para Ministro da
Economia e lhe delega muitos poderes. Assim, Guedes escolhe Roberto Campos Neto para
o Bacen. Durante a campanha eleitoral, os empresários não apoiavam o Bolsonaro, o vendo
com muita desconfiança, até pelo seu posicionamento “””nacionalista””” dele. Apoiaram o
Bolsonaro desde que ele colocasse alguém liberal no controle da economia.
O Brasil tem sido conduzido pelo ideário liberal, embora este não seja totalmente do agrado
do presidente.
Como liberal, Guedes se concentra no desequilíbrio fiscal, mais precisamente, no déficit
primário (o que vem ocorrendo desde 2014 com Levy e Meirelles), na dívida pública e no
tamanho do setor público. Paulo Guedes tem também chamado atenção para os problemas
do pacto federativo (tem estados e municípios que não têm viabilidade econômica para
existir, e essa discussão tem sido mais disseminada agora). Suas políticas econômicas,
portanto, se concentram em reformas estruturais do setor público.

Reformas
Reforma da previdência, aprovada em 2019.
Reforma tributária, atingindo a questão do pacto federativo, porque uma das maneiras que
se tem para dar viabilidade econômica para aqueles estados e municípios que não a tem, é
distribuir melhor as receitas.
Reforma administrativa, que busca mudar o funcionamento público e os órgãos públicos.
Essas 2 últimas reformas tiveram as discussões interrompidas por conta do covid.

Mudança Estrutural
O baixo crescimento econômico brasileiro (baixa inflação) proporcionou ao Bacen a
possibilidade de conduzir um processo de redução (a partir de 2016) da taxa básica de
juros, sem precedentes na história. Governo tem agido muito no sentido de reduzir taxa de
juros, o que trouxe redução dos gastos do governo com o pagamento da dívida, apesar de
esta ter aumentado. Mas, mesmo assim, com a redução da taxa de juros, o que o governo
brasileiro gasta para serviço da dívida, teve uma redução expressiva.
No entanto, a redução da Selic, somada à baixa mobilidade de capitais da economia
brasileira, levou a um tradeoff estrutural: taxa de juros menor -> taxa de câmbio maior. Isso
porque por conta da baixa mobilidade de capitais no país, precisamos compensar aquele
dinheiro que não conseguimos atrair pela economia em si pelo investimento financeiro (que,
no geral, em países como o Brasil, são diretamente influenciados pelas taxas de juros). A
partir do momento em que as taxas do Brasil passam a ser muito baixas, capital financeiro
já não entra mais tanto como antes, o que reduz a entrada das divisas e sobe a taxa de
câmbio. Não é a única explicação (Brasil também perdeu investimentos produtivos,
financeiros, problemas políticos graves, covid), mas é uma questão importante. Apesar de
ter suas desvantagens, uma baixa taxa de juros beneficia grande parte da população
brasileira, assim como o setor público como supramencionado. Ademais, taxa de câmbio
maior beneficia os exportadores, porque os produtos brasileiros ficam mais competitivos no
exterior, e os importados ficam mais caros aqui no país.

Crise Econômica
Produção e consumo: as restrições à circulação de pessoas atingem os dois pilares da
economia (produção e consumo). O cidadão não consegue comprimir convenientemente as
suas duas funções econômicas: trabalhador -> produção, lado da oferta da economia;
consumidor -> consumo, lado da demanda.
Questão da enorme quantidade de trabalhadores informais, que não têm renda fixa, não
são assalariados. Alguns até podem ter registro de MEI (Microempreendor individual). São
pessoas que não têm salário certo, com a renda dependendo diretamente do movimento da
economia. Ao mesmo tempo, as grandes empresas também estão sendo atingidas,
sobretudo aquelas que têm custos fixos muito altos (como aviação, hotelaria, grandes
restaurantes, shoppings etc.). E muitas delas, para cortar custos, demitem, aumentando a
massa de pessoas sem salário fixo. Eles compõem grande parte da PEA brasileira,
implicando em enormes gastos com auxílio emergencial e problemas com a previdência,
uma vez que muitos deles não contribuem para a mesma. Muito da solução está no
keynesianismo, intervenções do governo, porque é o agente com mais dinheiro para agir e
as possibilidades monetárias.
Nesse contexto, as linhas de atuação possíveis são 3:
- Priorizar a saúde, em que o governo precisa prover todo o dinheiro necessário para
que a saúde consiga dar ao cidadão o melhor atendimento possível, e isso não está
acontecendo no Brasil. Outra demonstração cabal dos problemas da nossa
sociedade.
- Prover renda ao cidadão autônomo, se não haverá um problema social muito grave.
- Prover dinheiro para as empresas, tendo de separar a linha de auxílio das pequenas
e médias empresas, daquela das grandes empresas. Não pode simplesmente
abandonar as grandes empresas, porque se elas falirem, muita gente será demitida.

O problema é que não há capacidade fiscal para tudo isso. Os levantamentos indicam 500
milhões necessários. Como financiar isso? A grande maioria dos economistas que não são
muito liberais, defendem a expansão monetária, com 3 propostas, cada uma com efeitos
colaterais próprios:
- Uso das reservas dentro de limites possíveis;
- Endividamento com emissão de títulos para captar dinheiro;
- Impressão direta de dinheiro.

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