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RESUMO
Com o objetivo de apresentar um histórico da criação de regiões metropolitanas no
Maranhão, o texto resgata as condicionalidades institucionais implicadas neste e a partir
deste mecanismo intergovernamental. O recorte temporal compreende o período entre a
promulgação da Constituição de 1988 e o Estatuto da Metrópole, sancionado em janeiro de
2015. Tratam-se, pois, de períodos e marcos jurídico-legais distintos, que produzem efeitos
diretos sobre a proposição e a criação de regiões metropolitanas em todo o Brasil, logo,
também no Maranhão.
1 INTRODUÇÃO
1
O estado conta com municípios inseridos na Região Integrada de Desenvolvimento da Grande Teresina,
criada por lei federal. Assim como as RMs, Aglomerações Urbanas e Microrregiões, as Regiões Integradas
de Desenvolvimentos correspondem às “unidades territoriais urbanas”, nos termos do Estatuto da Metrópole.
referidos, porém a escala de análise adotada circunscreve-se ao campo de atuação do
Estado do Maranhão.
Elementos do âmbito jurídico-legal também serviram para definir o recorte
temporal utilizado. O marco inicial é o ano de promulgação da atual Constituição Federal
(BRASIL, 1988), pois a lei, além de redefinir o pacto federativo, estabeleceu um novo
referencial para a institucionalização de RMs no Brasil. Quanto ao limite final do recorte,
ele coincide com a data em que entrou em vigor a lei denominada Estatuto da Metrópole,
ou seja, janeiro de 2015. Logo, trata-se de dois divisores históricos que delineiam
mudanças no quadro normativo para a governança metropolitana no país.
Com base nesse recorte temporal e nas respectivas normas legais consideradas, a
exposição dos resultados da pesquisa começa por uma breve apresentação do contexto
histórico que modelou o tratamento da questão metropolitana na Constituinte de 1988 e nas
estaduais de 1989. Adicionalmente, são discutidas algumas iniciativas governamentais
promovidas no âmbito do Executivo Federal, no intuito de fazer um pequeno paralelo com
a evolução do número de RMs criadas no Brasil depois de 1988.
Na seção seguinte, remete-se diretamente ao objetivo geral aqui proposto, ou seja,
apresentar um histórico da criação de RMs no Maranhão. O resgate de propostas e
condicionalidades institucionais implicadas nesse processo é tratado sob o prisma da escala
estadual. Após breve quadro histórico com os processos que configuraram as bases
jurídico-legais para criação e regulamentação de RMs no estado, a exposição se subdivide
em duas partes: a primeira versa sobre mudanças estabelecidas no âmbito do Poder
Legislativo Estadual; enquanto a segunda trata das ações por parte do Executivo Estadual e
de prefeituras envolvidas.
A terceira e última seção antes da conclusão, analisa algumas determinações
postas pelo Estatuto da Metrópole que repercutem sobre a criação de RMs no Maranhão. O
esforço não tem a pretensão de abordar todas as novas condicionalidades estabelecidas por
este dispositivo, a não ser as que ajudam a responder quais os espaços maranhenses se
enquadram na definição de “região metropolitana” adotada pela lei federal, em especial no
que tange às RMs criadas na esfera do Poder Legislativo do Maranhão.
Criadas em 1967 pelo regime militar, as RMs, embora sob a jurisdição do estado
membro, sempre estiveram associadas aos objetivos de centralização e controle
do território que marcaram os anos de autoritarismo. [...] Assim, a criação das
RMs e sua dependência dos recursos e das decisões federais, aliadas ao formato
de gestão que constrangia o papel dos municípios que as integravam, marcaram
sua trajetória e as associaram a formas pouco pluralistas, centralizadoras e
autoritárias de gestão. Essas marcas e essa trajetória contrariavam frontalmente o
clima que dominou o final dos anos 1980 e a agenda da redemocratização.
(SOUZA, 2004, p. 70)
Parte dos recursos onerosos e não onerosos dos Programas do MCidades deverão
ser destinados aos municípios das Regiões Metropolitanas que foram eleitas
como prioridades pelo Governo Federal e estão no centro de ações transversais,
que envolvem vários ministérios. (BRASIL, 2005, p.5-6)
TÍTULO IX
ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS
Art. 19. Fica criada a Região Metropolitana da Grande São Luís, com a
abrangência, organização e funções definidas em lei complementar.
Parágrafo único. Lei complementar criará a Região Metropolitana de Pedreiras,
nos termos do disposto neste artigo.
2
Certamente, o termo “conturbação” foi inserido equivocadamente, no lugar de “conurbação”, conceito que
será aqui discutido em seção mais adiante.
integrantes e por representantes do Poder Executivo Estadual, estes nomeados pelo
governador em exercício e em igual número dos representantes municipais.
Em relação ao quarto acontecimento ocorrido no âmbito legislativo durante o
período considerado, em 2008 a institucionalização da RMGSL volta à pauta política com
o projeto de Lei Complementar Estadual de Nº 009. A proposta era incluir o município de
Bacabeira e, consequentemente, modificar a composição do Conselho metropolitano, que
passaria a contar com a participação do prefeito e do presidente da Câmara do novo
município, além do secretário de Estado e Planejamento, Orçamento e Gestão – este em
substituição ao Gerente de Estado de Planejamento, Orçamento e Gestão.
No entanto, mesmo aprovado pela Assembleia Legislativa do Maranhão, o projeto
de lei foi vetado no ano seguinte, pelo então governador do estado. Para fundamentar o
veto, alegou-se que “[...] o legislador estadual condicionou a adesão de qualquer município
à prévia aprovação por parte da respectiva Câmara Municipal”, conforme mensagem
publicada no Diário da Assembleia (MARANHÃO, 2009).
Dentro do recorte temporal aqui tratado, o quinto e último fato proveniente de
deliberações no âmbito legislativo do Estado do Maranhão foi a sanção da Lei
Complementar nº 153, do dia 10 de abril de 2013. Através desta, a abrangência da RMGSL
foi ampliada, passando a abarcar os municípios de Bacabeira, Rosário e Santa Rita (Figura
3), além da composição do Conselho metropolitano, para contemplar a participação dos
representantes governamentais dos novos municípios.
Figura 3 – Mapa dos municípios integrantes da RMGSL
Fonte: Elaborado conforme as respectivas leis estaduais
Aliás, no que tange o órgão gestor previsto para a região, a configuração dada pela
nova lei acabou sendo vetada, com base no Estatuto da Cidade, por não ter previsto a
participação popular, como consta no seguinte parecer:
Em maio de 2003, a então Gerência Regional de São Luís, criada para atuar sobre
a Microrregião da Aglomeração Urbana de São Luís (composta por São José de Ribamar,
Paço do Lumiar, Raposa e a capital), passa a ser denominada de Gerência de
Desenvolvimento da Região Metropolitana – doravante designada apenas por Gerência
Metropolitana. Com tal decisão, parecia que finalmente a questão “metropolitana” no
Estado tomaria um rumo mais operacional. Porém, no que diz respeito à atuação desse
órgão, isso não aconteceu.
A Gerência Metropolitana foi criada a partir da Lei Nº 7.878, de maio de 2003,
que dispunha sobre a Reorganização Administrativa do Estado, entre outras providências.
Assim definido, o órgão passa a abranger todos os municípios que constitui a RMGSL,
portanto, compreendendo o município de Alcântara, além dos quatro municípios que
competia à antiga Gerência Regional de São Luís. Mas, apesar do recorte regional adotado
e da referência à instância metropolitana, a iniciativa não se constituiu em uma experiência
intergovernamental para tratar de temas supramunicipais.
Em levantamento de ações realizadas pela Gerência Metropolitana, constatou-se
que das onze obras identificadas todas estavam localizadas estritamente na capital
maranhense (CORDEIRO, 2007). O caráter municipal dessas obras, em detrimento do
recorte regional e metropolitano, não se deve propriamente à localização, e sim em função
das demandas a que respondiam. A maioria das obras atendia a demandas de bairros
(pavimentação asfáltica, drenagem urbana, melhoria de praças públicas) ludovicenses,
apesar de algumas, por envolverem fluxos supramunicipais (de usuários ou efluentes
líquidos), beneficiarem direta ou indiretamente a um público não restrito a São Luís, como
a Passarela do Samba, Elevado Alcione de Nazaré e estação de tratamento de esgoto.
Em 2004, a Gerência Metropolitana foi extinta, tendo como justificativa a
sobreposição de objetivos entre esta e outros órgão estaduais. No âmbito do Poder
Estadual, outra iniciativa similar, isto é, no sentido de criação de um órgão gestor
específico para tratar da questão metropolitana, só seria retomada recentemente, em janeiro
de 20113, pois, nesse ano, foi criada a Secretaria-Adjunta de Assuntos Metropolitanos 4
(SAAM).
Segundo a então secretária da pasta, em entrevista concedida na época, o órgão
tinha a missão de formular estratégias de desenvolvimento territorial-regional e implantar a
gestão metropolitana no Maranhão, com prioridade para a Grande São Luís. Para tanto, em
janeiro de 2013, foi elaborado um documento com as diretrizes e critérios a serem
considerados. Além disso, uma minuta de lei foi construída para propor alterações na
regulamentação da Grande São Luís. Isso porque, e ainda segundo a entrevistada, havia um
entendimento de que a Lei Complementar 069/2003 deveria ser revisada, por não conter
todos os instrumentos necessários à gestão metropolitana (CORDEIRO, 2014).
Quanto ao tratamento da questão “metropolitana” no âmbito dos governos
municipais no Maranhão, São Luís chegou a criar um órgão próprio para a matéria, já no
ano de 2002. Através da Lei Municipal Nº 4128, de 23 de dezembro de 2002, a Prefeitura
de São Luís institui a Secretaria Municipal de Articulação e Desenvolvimento
Metropolitano – SADEM, cuja justificativa seria a necessidade de se implantar a gestão
metropolitana da Grande São Luís.
Assim, a SADEM é o órgão municipal de São Luís responsável pelos assuntos
relacionados à gestão metropolitana, devendo assessorar o Prefeito na “formulação e
implantação de política pública pertinente à sua área de competência”, além de representar
o Município “nas questões afins à Região Metropolitana” (SÃO LUÍS, Lei nº 4128, de 23
de dezembro de 2002, 2002, Art. 1ª, § 1º e 2º). Na prática, a atuação da secretaria não foi
suficiente para estabelecimento da cooperação interfederativa de cunho metropolitano
prevista. Além disso, segundo Moreira (2013), o órgão encontrava, em 2013, sem
secretário e, portanto, não operante.
Em relação aos demais municípios, não foram identificados órgãos criados com
finalidade similar à da SADEM. As iniciativas tomadas, como a criação de comissões,
acordos de cooperação e atuação em debates públicos sobre a temática, não serão
analisadas, por não se tratarem de condicionalidades institucionais – a não ser como capital
social local que tem tornado mais ricas as discussões sobre o tema. Não obstante, quaisquer
3
No ano anterior o Governo do Estado já havia criado, através da Medida Provisória Nº 082, de 14 de
dezembro de 2010, o cargo de Secretário-Adjunto de Assuntos Metropolitanos, o que já indicava uma
articulação previa em torno da questão.
4
A Secretaria-Adjunta de Assuntos Metropolitanos constava como uma das Unidades de Atuação
Programática da Casa Civil do Maranhão, conforme Decreto nº 27.209, de 03 de janeiro de 2011, do
Executivo estadual. Em 2013, porém, foi realocada para a Secretaria de Estado das Cidades e
Desenvolvimento Urbano – SECID, segundo informação dada pela então secretária da pasta.
que sejam as iniciativas tomadas nas esferas municipais e na estadual, com o advento do
Estatuto da Metrópole elas passam a ter um novo marco de referência, tanto para as
anteriormente estabelecidas como as futuras.
Para saber quais espaços maranhenses estão aptos a serem reconhecidos pelo
Governo Federal como sendo RMs formais, três definições apresentadas no Estatuto da
Metrópole são importantes: “aglomeração urbana”, “metrópole” e “região metropolitana”,
cujas definições estão expressas no Art. 2º da referida lei. Como cada definição está
vinculada a tipos específicos de configurações espaciais, dois estudos sobre o espaço
urbano brasileiro servirão de referência para responder à questão levantada.
Dentre as três definições aqui comentadas, a de aglomeração urbana abarca maior
número de espaços urbanos e toca diretamente em processos e configurações que
justificam o objetivo do Estatuto da Metrópole, isto é, definir diretrizes gerais para o
planejamento, gestão e execução de funções públicas de interesse comum (Art. 1º). Por
aglomeração urbana, a lei assim define: “unidade territorial urbana constituída pelo
agrupamento de 2 (dois) ou mais Municípios limítrofes, caracterizada por
complementaridade funcional e integração das dinâmicas geográficas, ambientais, políticas
e socioeconômicas” (Art. 2º, inciso I). Trata-se, pois, de aspectos marcantes nos espaços
metropolitanos, porém não restritos a estes, como se verá adiante.
Nos termos do Estatuto, quando dada aglomeração urbana passa a configurar
uma metrópole, ela recebe o nome de região metropolitana (Art. 2º, inciso VII). Logo,
para se chegar a esta concepção, a lei apresenta a seguinte definição de metrópole:
[...] espaço urbano com continuidade territorial que, em razão de sua população e
relevância política e socioeconômica, tem influência nacional ou sobre uma
região que configure, no mínimo, a área de influência de uma capital regional,
conforme os critérios adotados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística IBGE (BRASIL, 2015, Art. 2º, inciso V).
Assim, o conceito de metrópole adotado pela Lei Federal de Nº 13.089/2015
compreende: a) o fenômeno de conurbação, na forma de “espaço urbano com continuidade
territorial”; b) a abrangência da influência da cidade, que deve ser nacional ou, no mínimo,
regional, sobre a rede urbana brasileira. E isso tendo como referencial técnico os critérios
adotados pelo IBGE. No entanto, conforme a conceituação utilizada no estudo Regiões de
Influência das Cidades – REGIC - 2007 (IBGE, 2008), as capitais regionais não são
propriamente consideradas como espaços metropolitanos. Então, antes de discutir as
implicações dos conceitos legais de metrópole e, por extensão, o de RM, cabe tecer
comentário acerca da categoria Capital Regional referida pelo Estatuto da Metrópole.
Conforme o REGIC-2007, dentro de uma hierarquia de centros urbanos, composta
por cinco grandes níveis e subdivisões, a categoria Capital Regional está situada logo
abaixo do nível mais alto, o das Metrópoles. Para o estudo, os centros classificados como
capitais regionais não são metrópoles, pois estas apresentam maior porte, intenso
relacionamento entre si e, em geral, uma vasta área de influência direta, isto é, pelo menos
com projeção nacional. Por outro lado, ressalta o estudo, assim como as metrópoles, os
centros regionais possuem fortes relacionamentos com o estrato superior da rede urbana
brasileira, mesmo com áreas de influências mais restritas.
Nessa categoria, somavam-se 70 centros urbanos, cuja concentração de órgãos de
governo e sedes de empresas dotava-os de capacidade de gestão territorial em nível inferior
apenas ao das metrópoles. Além disso, esses centros apresentavam “[...] área de influência
de âmbito regional, sendo referidas como destino, para um conjunto de atividades, por
grande número de municípios” (IBGE, 2008, p. 11). No mais, a categoria é dividida em
três grupos, A, B e C, onde:
Segundo os critérios adotados pelo estudo, o Maranhão conta com duas capitais
regionais: a de São Luís, enquadrada na categoria A; e a de Imperatriz, classificada como
Capital Regional C (ver Figura 2).
Figura 2 - Mapa com as regiões de influência das cidades do Maranhão
Fonte: IBGE (2008, p. 98)
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
IBGE. Regiões de Influência das Cidades 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível
em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/regioes_de_influencia_das_cidades/regic.zip Acesso em: 27
set. 2012.