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Resumo: O trabalho analisa implicações da lei federal denominada Estatuto da Metrópole sobre a
banalização da criação de Regiões Metropolitanas (RMs) no país. Estudou-se o caso do Maranhão, a
partir da perspectiva que entende essas regiões como meios institucionais pelo quais atores políticos
territorializam o espaço para viabilizarem seus objetivos. Como conclusão, constatou-se que a lei
federal freou as tentativas de se criar novas RMs no Maranhão, porém não inviabilizou a expansão do
número de municípios da Grande São Luís; o que pode vir a ocorrer também nos outros estados,
significando não o fim das “metrópoles de papel”, mas o crescimento territorial das já existentes.
Abstract: The paper analyzes the implications of the federal law called the Metropolis Statute on
the banalization of Metropolitan Regions (RM) creation in the country. It was studied the case of
Maranhão, from the perspective that understands these regions as institutional means by which
political actors territorialize the space to make possible its objectives. As a conclusion, it was verified
that the federal law restrained the attempts to create new RMs in Maranhão, but did not prevent the
expansion of the number of municipalities of Grande São Luís; Which can also occur in other states,
meaning not the end of the "paper metropolis", but territorial growth of the already existing ones.
1 – Introdução
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- Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro -
UFRJ. E-mail de contato: celestinocordeiro@yahoo.com.br
A análise proposta, em certa medida, responde se com o EM o surgimento
das metrópoles de papel tende a ser contido ou não, frente às definições da lei sobre
RMs e Aglomeração Urbana (AU) pautadas na observância de condições espaciais
para as quais a instituição dessas regiões foi pensada. Para tanto, o caso estudado,
o do Maranhão, é emblemático porque foi o primeiro estado a criar uma RM e tem
reagido estrategicamente, na esfera do legislativo e do executivo, às possibilidades
e limitações implicadas pelo EM.
Quanto à perspectiva teórica adotada, está situada no campo da Geografia
Política e parte do entendimento de que é ininterrupta a relação entre espaço e
política, pois esta não escapa às contingências e condicionalidades dos espaços
onde atua ou visa atuar, bem como estes são transformados por políticas
institucionais (cf. CASTRO, 2005). O trabalho, portanto, atem-se aos meios
institucionais pelos quais atores políticos territorializam o espaço para viabilizarem
seus objetivos. No caso, trata-se de territórios instituídos para o exercício da
governança interfederativa. (Já em relação aos objetivos almejados via instituição
metropolitana, sua análise escapa ao escopo e limites desta apresentação).
Para exposição dos resultados, a banalização da criação de RMs no Brasil é
descrita na seção seguinte, de modo a demonstrar sua abrangência nacional e
cronologia. Depois é apresentada uma análise do EM, no que se refere às
condicionalidades impostas pela lei sobre a criação de RMs, especificamente as
definições e critérios identificadores dos espaços que formalmente podem ser assim
reconhecidos ou enquadrados como AUs, para efeito de apoio federal a tais arranjos
territoriais. Com isso, e baseando-se em estudos do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), procede-se o exercício proposto para o caso maranhense,
seguido do seu resultado e da conclusão do estudo.
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“Art. 157 [...] § 10 - A União, mediante lei complementar, poderá estabelecer regiões metropolitanas,
constituídas por Municípios que, independentemente de sua vinculação administrativa, integrem a mesma
comunidade sócio-econômica, visando à realização de serviços de interesse comum.” (BRASIL, 1967).
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As RIDEs podem ser consideradas uma espécie de institucionalização metropolitana que abrange mais de um
Estado-membro e, por isso, instituída por ato do Governo Federal, conforme os artigos 21, inciso IX, 43 e 48,
inciso IV, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Atualmente há as RIDEs do Distrito Federal e Entorno (GO
e MG), Grande Teresina (PI e MA) e Petrolina-Juazeiro (PE e BA).
Fonte: Leis de criação das respectivas RMs.
Frente a tais números, e vendo apenas pelo prisma da lei, estaríamos diante
de uma realidade nacional marcada por espaços urbanos metropolitanos distribuídos
em quase todos os estados brasileiros – ficaria de fora apenas três, entretanto um
deles, o do Piauí, conta com uma RIDE. Porém, o rápido crescimento do número
RMs formais não corresponde à realidade espacial do fenômeno metropolitano no
país, quando consideradas as análises sobre a urbanização do espaço brasileiro.
Dentre essas pesquisas, estão as da série Regiões de Influência das Cidades –
REGIC, produzidas pelo IBGE, referentes aos anos de 1972, 1987, 2000 e 2007 4.
Segundo a última pesquisa REGIC (IBGE, 2008), até 2007, existiam no país
12 cidades com características metropolitanas5, todas constituindo sede de suas
respectivas RMs ou, no caso de Brasília, RIDE. Mas isso não significa que em
outras cidades brasileiras os processos urbanos não estavam ou estejam formando
espaços metropolitanos, fato empírico que justificaria instituí-los enquanto RMs. Em
vários casos é justamente o que ocorre, porém em outros a espacialidade dos
municípios, que foram incluídos em RMs, não figura em efetiva metropolização.
Azevedo e Guia (2004) observa que na maior parte das legislações estaduais
não houve a preocupação em condicionar a instituição de RMs a critérios técnicos
pautados nas características espaciais da metropolização. Segundo Firkowski (2011,
p. 9), por mais passível de questionamento, esse tipo de exigência “permite uma
prevalência da discussão técnica sobre a política, na medida em que a criação de
uma região metropolitana não depende exclusivamente da vontade e do interesse
de grupos ou de políticos”. Então, frente a tal contexto legislativo e à banalização da
criação de RMs por ele viabilizado, o projeto de lei federal nº 3640/2004 ganhou
força e tornou-se lei em 2015, cuja análise aqui proposta segue abaixo.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS