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Motor
André da Silva Mello
Comportamento Motor
Vitória
2010
Presidente da República Reitor Diretor do Centro de
Luiz Inácio Lula da Silva Prof. Rubens Sergio Rasseli Educação Física e Desporto
Valter Bracht
Ministro da Educação Vice-Reitor
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Física EAD/UFES
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Thiago Dutra
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SuMÁrIo
05 Carta ao Aluno
07 Introdução
64 Referências
6
Carta ao aluno
Caro(a) aluno(a) do Prolicen,
7
que vocês viram na disciplina de Desenvolvimento Humano, a divergên-
cia gravita em torno de três grandes matrizes epistemológicas. A inatista,
que pressupõe que os fatores que determinarão o comportamento motor já
estão dados a priori na herança genética. Nessa perspectiva, o meio tem
pouca influência sobre o comportamento motor, uma vez que o script que
irá determiná-lo ao longo do ciclo de vida já está escrito no DNA dos in-
divíduos. Já a perspectiva empirista (mais conhecida na Psicologia como
comportamentalista, ambientalista ou behaviorista) admite que o meio tem
a prerrogativa sobre o comportamento motor do ser humano. É como se
nascêssemos como uma tábula rasa, um papel em branco e, passivamente,
absorvêssemos o que o ambiente nos imputa. Essa perspectiva supervalo-
riza os processos educacionais, admitindo a possibilidade de “moldar” os
sujeitos de acordo com as intenções pedagógicas preestabelecidas. Por fim,
a perspectiva dialética, sinergista ou interacionista pressupõe que há uma
convergência dos fatores ambientais, sociais e culturais com os fatores
biológicos na configuração do comportamento motor dos seres humanos.
Um quarto desafio posto é de natureza metodológica, já que o nosso ob-
jeto de estudo pressupõe uma interlocução das teorias/pressupostos com
as vivências práticas no processo de construção dos conhecimentos, fato
que se torna prejudicado na modalidade de ensino a distância.
Apesar dos desafios apresentados, o tema do fascículo incide sobre uma
dimensão do comportamento humano na qual todos nós temos uma vasta
experiência. Talvez essa experiência não tenha se constituído de forma
sistematizada no curso de diferentes trajetórias de vida. Contudo, sem
sombras de dúvidas, a nossa ação motora sobre o ambiente físico e socio-
cultural e a ação deste sobre a nossa maneira de se movimentar é que nos
permitiu chegar ao nosso estágio atual de desenvolvimento. Por isso, na
medida do possível, vamos tentar reportar os conceitos sobre o compor-
tamento motor às experiências que vivenciamos no cotidiano das nossas
vidas, tanto no contexto formal de educação quanto fora dele.
Por fim, ressalto a importância dos conhecimentos relativos ao campo
do comportamento motor no processo de formação de professores de Edu-
cação Física, seja na compreensão da dimensão motora do comportamento
humano, seja nos processos de intervenção pedagógica associados à cul-
tura de movimento nos diferentes contextos de atuação profissional.
8
IntroDuÇÃo
Embora a relação da área do comportamento experimental. São estudos laboratoriais que, an-
motor com a Educação Física seja bastante profí- corados no argumento da fidedignidade, buscam
cua, ela não vem ocorrendo de maneira harmônica. isolar as variáveis que incidem sobre o fenômeno
O livro “Educação Física Escolar: fundamentos investigado. Dessa forma, essas pesquisas acabam
de uma abordagem desenvolvimentista” (TANI perdendo a validade ecológica, ou seja, não re-
et al., 1988) é uma das obras pioneiras no ce- presentam os fenômenos associados ao compor-
nário nacional que apontam as contribuições do tamento motor da mesma maneira que eles se
campo do comportamento motor para sistema- manifestam em situações concretas de ensino-
tizar a intervenção da Educação Física no con- aprendizagem. Além disso, grande parte desses es-
texto escolar, em especial nas séries iniciais do tudos se constituiu como pesquisas básicas e não
Ensino Fundamental. Independentemente do seu estabelece relação direta com os processos peda-
caráter inovador da época, a proposta desenvol- gógicos vivenciados no cotidiano das aulas de
vimentista foi contestada pelas correntes críticas Educação Física. Portanto, o esforço empreendido
da Educação Física brasileira, que a acusavam de neste fascículo foi o de estabelecer uma interlo-
“reducionista e positivista”, pois privilegiava a cução dos conhecimentos produzidos no campo
dimensão biológica na compreensão do compor- do comportamento motor com as situações de
tamento motor, renegando a um plano secundá- ensino-aprendizagem vivenciadas nos diferentes
rio as dimensões sociais e culturais que incidem contextos de intervenção da Educação Física.
sobre o movimento humano. Além disso, não podemos confundir a área do
Na tentativa de superar essa lacuna, Manoel comportamento motor com a própria Educação
(2008) afirma que o ser humano não se movi- Física. Os conhecimentos produzidos nessa área
menta, mas age no ambiente em que está inserido. precisam ser contextualizados com outros conhe-
Há uma diferença substancial entre movimento e cimentos no processo de intervenção pedagógica
ação. O primeiro pode ser explicado pela Física dos professores. Tendo como referência a lingua-
como deslocamento do corpo no espaço e se aplica gem utilizada nas Diretrizes Curriculares para as
a qualquer objeto, por exemplo, uma bola rolando licenciaturas em Educação Física, podemos situar
em um campo de futebol. Já a ação é um movi- os conhecimentos relacionados com o comporta-
mento tipicamente humano, pois está impregnado mento motor na dimensão procedimental, ou seja,
de sentidos, de significados, de história, de cultura, um conhecimento que auxiliará os alunos no do-
de afeto e de subjetividades. Portanto, ao lidarmos mínio de uma atividade da cultura de movimento
com o comportamento motor humano, é impossí- que eles não possuíam, por exemplo, fazer uma
vel separá-lo dessas dimensões que o constituem. bandeja no basquete, realizar um passo de dança
Historicamente, as pesquisas sobre o compor- ou dar uma estrelinha na capoeira. Com isso, não
tamento motor têm assumido uma conotação estamos eximindo a Educação Física da tarefa de
9
abarcar conhecimentos relativos às dimensões toras. Já o controle motor focaliza os mecanismos
conceituais e atitudinais associadas ao seu objeto essenciais que regulam e controlam o movimento
de estudo. Mas, afinal, qual é a especificidade da humano. A divisão da área do comportamento
área do comportamento motor? Essa área se preo- motor em subáreas só é viável para fins didáticos,
cupa em estudar a dimensão motora do comporta- pois, na manifestação do fenômeno motor dos se-
mento humano. Cabe ressaltar que a compreensão res humanos, essas subáreas interagem reciproca-
do comportamento motor não está desvincu- mente, sendo impossível separá-las.
lada das outras dimensões que constituem o ser Como foi anunciado na apresentação deste fas-
humano, como a social, a cognitiva e a afetiva, cículo, a construção do conhecimento sobre o
contudo, ao priorizar a dimensão motora do com- comportamento motor ocorrerá a partir da interlo-
portamento, essa área do conhecimento enfatiza cução com a Educação Física. Sendo assim, em um
as particularidades inerentes ao movimento hu- primeiro momento, focalizaremos questões relati-
mano. Essa área está dividida em três subáreas, vas ao desenvolvimento motor e, posteriormente,
conforme ilustra a Figura 1: trataremos da aprendizagem motora, com ênfase
A subárea do desenvolvimento motor busca nos aspetos associados ao “Ensino aprendizagem
compreender as alterações que ocorrem no com- das habilidades motoras”, campo de pesquisas do
portamento motor dos indivíduos ao longo do seu comportamento motor aplicado à Educação Física.
ciclo de vida, desde a concepção até a morte. A Questões inerentes ao controle motor serão evo-
aprendizagem motora estuda os fatores subjacen- cadas na discussão sobre o desenvolvimento e a
tes ao processo de aquisição das habilidades mo- aprendizagem motora.
COMPORTAMENTO MOTOR
10
11
1 DESEnVolVIMEnto
Motor
[...] a capacidade para realizar movi- res humanos. Posteriormente, discutiremos como
mentos atua como um parâmetro de os estudos nesse campo do conhecimento têm se
controle para o desenvolvimento de vá- desenvolvido, apontando as principais perspecti-
rios sistemas: cognitivo, afetivo e social. vas teóricas sobre o tema. Por fim, apresentaremos
Mudanças no controle do movimento uma sequência do desenvolvimento motor, ressal-
servem de gatilho para desencadear tando os seus desdobramentos para a intervenção
mudanças nessas outras dimensões do pedagógica do professor de Educação Física em di-
comportamento do bebê e da criança ferentes contextos sociais.
(MANOEL et al., 2001, p. 34). O objetivo do capítulo é caracterizar, de forma
sucinta, o “estado da arte” sobre o desenvolvi-
Neste capítulo, focalizaremos o desenvolvimento mento motor. Portanto, não há a preocupação em
motor ressaltando as implicações dos conhecimen- sistematizar uma única perspectiva teórica sobre o
tos produzidos nesta subárea para a prática pe- fenômeno abordado, tampouco apresentar um ar-
dagógica em Educação Física. Em um primeiro gumento linear. Dessa forma, serão trabalhados
momento, conceituaremos o nosso objeto de estudo alguns conceitos e pressupostos que, do ponto de
e apresentaremos algumas características presen- vista teórico, são contraditórios, mas expressam a
tes no processo de desenvolvimento motor dos se- abordagem multifacetada sobre o tema em questão.
12
Desenvolvimento Motor:
conceito e características
13
É comum a associação dos termos desenvolvimento e crescimento,
como se ambos se reportassem ao mesmo fenômeno. Embora se relacio-
nem, crescimento e desenvolvimento são processos distintos. O período
de crescimento e de desenvolvimento é integrado pela maturação, que
abarca mudanças no tamanho e na capacidade funcional do organismo.
Para Haywood e Getchell (2004, p.19):
Figura 4
Desenvolvimento
cefalocaudal
2 meses 5 meses recém-nascido 2 6 12 25
idade fetal anos
14
Pelo fato de não ter o seu desenvolvimento atrelado somente às leis
biológicas (naturais), o ser humano é o “animal” menos pronto ao nascer.
O nosso cérebro, por exemplo, só está 30% formado quando nascemos.
Ao final do primeiro de vida ele se encontra a 70% do seu tamanho final
e, ao final do segundo ano de vida, chega a 80%. A sua maturidade total
só se efetiva, aproximadamente, aos 12 anos de vida. O desenvolvimento
sensório-perceptivo estabelece estreita relação com o controle motor. À
medida que o nosso sistema nervoso central amadurece, importantes alte-
rações ocorrem na maneira como percebemos o ambiente e agimos sobre
ele, por exemplo:
Figura 5
Desenvolvimento
sensório-perceptivo
15
Embora a maturação (mecanismo regulatório endógeno) seja impor-
tante no processo de desenvolvimento motor do ser humano, ela não é
o único fator interveniente nesse processo. Há uma interação recíproca
entre os fatores ambientais, os individuais e aqueles relacionados com as
diferentes tarefas motoras. É na interseção desses fatores que o desenvol-
vimento motor se efetiva. Universalidade e alteridade são duas dimensões
distintas, muitas vezes antagônicas, mas estão presentes simultaneamente
no desenvolvimento motor da espécie humana.
A presença dessas duas dimensões pode ser percebida nos quatro planos
genéticos de desenvolvimento postulados por Vygotsky.1 Esse autor russo,
alinhado às perspectivas interacionistas, afirma que o desenvolvimento
humano se processa na inter-relação dos planos filogenéticos e ontoge-
néticos (que possuem um determinismo biológico, por isso são mais sus-
cetíveis às leis universais), com os planos sociogenéticos e microgenéticos
(que se constituem de maneira muito específica e singular, em decorrência
dos arranjos sociais e culturais específicos).
Embora seja um princípio não compartilhado por todos os autores do
campo, a intransitividade expressa a relação entre universalidade e alte-
ridade no desenvolvimento motor. Segundo esse princípio, o desenvolvi-
mento motor é um processo ordenado e sequencial, em que a ordem das
mudanças é a mesma para todos; o que varia é a velocidade de progressão
dessas mudanças. Nesse sentido, podemos, por exemplo, constatar que al-
gumas crianças começam a andar antes do que outras, mas jamais uma
criança correrá antes de andar. A ordem das mudanças está atrelada à ma-
turação do organismo, enquanto a velocidade de progressão dessas mu-
danças vincula-se às vivências adquiridas no ambiente sociocultural.
As imagens da Figura 6 ilustram como diferentes culturas organizam a
criação dos seus bebês, o que certamente trará consequências muito parti-
culares para o desenvolvimento motor deles:
Figura 6
Diferenças contextuais
1. Para maiores informações sobre o autor, consultar o fascículo de Psicologia da Educação.
16
As restrições individuais também trazem marcas bastante singulares ao
processo de desenvolvimento motor dos indivíduos. Essas restrições são
de duas naturezas: estruturais e funcionais. As restrições estruturais são
limitações individuais associadas à estrutura corporal dos seres humanos
(peso, altura, massa corporal etc.), enquanto as restrições funcionais são
limitações qualitativas, relacionadas com as funções que a estrutura cor-
Figura 7
poral desempenha. Restrição estrutural
A Figura 7 ilustra uma situação de restrição estrutural. Nela se percebe Cristopher Tronco - (mexicano)
um nadador que nasceu sem os braços e sem uma perna e precisa adaptar nasceu sem braços e com apenas
uma perna - competidor de
a sua estrutura anatômica para realizar a tarefa de nadar: natação no Parapan-Americano
17
bém é possível perceber que, devido às suas especificidades, elas mobilizam
diferentes capacidades para a sua realização.
Figura 8
Diferentes tarefas motoras
18
Caracterização do campo de estudos
em desenvolvimento motor
19
dos indivíduos; e outra, chamada de orientação ao processo, que busca
explicar os aspectos intervenientes nessas mudanças. A primeira se con-
centra na descrição das mudanças nos resultados do desempenho motor (O
que muda? Quando muda?), enquanto a abordagem orientada ao processo
investiga as mudanças no padrão de desenvolvimento motor de maneira
qualitativa (Como muda? Por que muda?). A abordagem orientada ao pro-
duto também se preocupa em descrever as mudanças num dado compor-
tamento motor ao longo do tempo.
Manoel (2005) afirma que as questões básicas que orientam as pesqui-
sas em desenvolvimento motor podem ser expressas nas seguintes inda-
gações: o que muda? Quando muda? Como muda? Por que muda? Para
esse autor, a área já deu muita atenção as duas primeiras indagações, e o
desafio na atualidade consiste em compreender a natureza das mudanças
que ocorrem no processo de desenvolvimento motor, ou seja, em explicar
os mecanismos subjacentes a essas mudanças.
Os estudos sobre o desenvolvimento motor, quando orientados ao pro-
cesso, envolvem a compreensão de sistemas complexos. Manoel e Con-
nolly (apud MANOEL, 2005) afirmam que há dois modos de descrição
que caracterizam os estudos sobre o desenvolvimento motor orientados ao
processo. São eles: o modo dinâmico e o modo simbólico. Para esses auto-
res, o modo dinâmico e o simbólico interagem de forma complementar na
compreensão da complexidade motora:
20
senvolvimento dos aspectos físicos e motores do comportamento humano.
Para Gesell (apud MANOEL, 2005, p. 36), “[...] o desenvolvimento motor
abarcaria aquelas mudanças no comportamento resultante de modifica-
ções internas geradas pela maturação”. Nesse sentido, as experiências não
seriam determinantes na promoção das mudanças motoras. Entretanto,
essa perspectiva vem perdendo força no campo acadêmico desde 1970,
quando pesquisas evidenciaram a importância da experiência no processo
de desenvolvimento motor. Assim, tanto as modificações internas (matu-
ração), quanto as experiências agem decisivamente no desenvolvimento
da dimensão motora do ser humano.
Gallahue e Ozmun (2005) classificam as teorias sobre o desenvolvimento
em quatro estruturas conceituais. São elas: a) Fase-estágio; b) Tarefa De-
senvolvimentista; c) Marco Desenvolvimentista; e d) Teorias Ecológicas
do Desenvolvimento Humano, que se divide em dois ramos: Sistemas Di-
nâmicos e Ambiente Comportamental. A seguir, descreveremos resumida-
mente os pressupostos de cada uma dessas estruturas conceituais:
21
normativo, mas não dão conta de explicar as especificidades e as singula-
ridades que ocorrem nesse processo.
22
inseridos. Essa perspectiva apresenta duas vertentes: a) Teoria dos Sistemas
Dinâmicos – considera o organismo humano um sistema auto-organizado
e alega que as mudanças desenvolvimentistas não são lineares e contínuas,
não acontecem, necessariamente, de forma regular e hierárquica, pois não
obedecem a uma direção previsível a níveis mais complexos de organização
e de competência motora; e b) Teoria do Ambiente Comportamental – parte
da premissa de que não é o ambiente físico e social que determina o com-
portamento motor, mas sim a interpretação que o sujeito faz desse ambiente.
Nesse sentido, não é o sujeito e nem é o ambiente que tem a prerrogativa do
desenvolvimento, mas a relação subjetiva que este mantém com seu o meio.
23
mun (2001). Os autores Gallahue e Ozmun (2005) afirmam que muitos
pesquisadores desenvolvimentistas estão preocupados em descrever e ca-
talogar dados a respeito do desenvolvimento motor, com pouco interesse
em modelos que expliquem teoricamente como esse fenômeno se processa.
A sequência do desenvolvimento motor é representada por diferentes
modelos. Os modelos mais conhecidos na área de Educação Física são os
propostos por Harrow (1983), Seaman e DePauw (1982) e Gallahue e Oz-
mun (2001). Os autores Gallahue e Ozmun (2005) afirmam que muitos
pesquisadores desenvolvimentistas estão preocupados em descrever e ca-
talogar dados a respeito do desenvolvimento motor, com pouco interesse
em modelos que expliquem teoricamente como esse fenômeno se processa.
Figura 9
Sequência do desenvolvimento motor
As Fases do Desenvolvimento Motor
Fonte: Gallahue e Ozmun (2001)
24
A primeira etapa no processo de desenvolvimento motor descrito por
Gallahue e Ozmun (2001) é Fase Motora Reflexiva. Reflexos são movimentos
involuntários, controlados subcorticalmente e que desencadeiam o processo
de desenvolvimento motor dos indivíduos. Os movimentos reflexos surgem,
aproximadamente, no quarto mês de vida intrauterina e prevalecem no
comportamento motor do bebê até o primeiro ano, quando começam a ser
inibidos. Nessa fase, a criança obtém informações sobre o ambiente que a
circunda por meio dos reflexos primitivos, que formam a base das informa-
ções sensoriais e dos reflexos posturais, que, embora pareçam voluntários,
não o são; apenas são ensaios de ações neuromotoras para mecanismos es-
tabilizadores, locomotores e manipulativos que serão usados mais tarde com
controle consciente. A fase motora reflexiva é dividida em dois estágios. No
primeiro, de codificação, as informações sensoriais são reunidas e armaze-
nadas e, no segundo estágio, denominado de decodificação, as informações
sensoriais são processadas. As imagens da Figura 10 demonstram alguns re-
Figura 10
flexos de proteção e de postura presentes no comportamento motor do bebê: Movimentos reflexos
25
dessa fase é denominada de pré-controle e perdura do primeiro ao segundo
ano de vida. Nessa etapa, há a diferenciação entre sistema sensorial e sistema
motor, aparecendo os primeiros padrões fundamentais de movimento: loco-
motores2 arrastar, engatinhar e andar); manipulativos3 (alcançar, pegar e lar-
gar); estabilizadores4 (erguer a cabeça, o tronco, sentar e ficar de pé).
Antes de Prosseguir...
De zero a dois anos, faixa etária que abarca a fase dos movimentos re-
flexos e a fase dos movimentos rudimentares, muitas crianças já iniciaram
o seu processo de escolarização. Dessa forma, a Educação Física, compo-
nente curricular da Educação Infantil, precisa sistematizar a sua ação pe-
dagógica para intervir nesse período. Nesse sentido, proponha elementos
típicos da cultura infantil (parlendas, brinquedos cantados, brincadeiras
historiadas, brinquedos populares etc.) que atendam às seguintes deman-
das relacionadas com as fases em questão (as orientações mais específicas
sobre essa atividade estão na plataforma):
Demandas Atividades
Atividades que estimulem o
mecanismo perceptivo-motor
Atividades que permitam a exploração
do ambiente e o desenvolvimento da
criatividade pela criança
Manuseio de objetos que permitam a
coordenação olho-mão
Brincadeiras que explorem habilidades
simples relacionadas com os seguintes
padrões de movimento: locomotores,
manipulativos, estabilizadores
26
A fase motora fundamental ou das habilidades básicas vai dos dois aos
seis anos de idade e é considerada como o período crítico no processo de
desenvolvimento motor. Considerando que, no desenvolvimento motor, as
aquisições futuras incorporam as aquisições motoras anteriores, as habili-
dades básicas são fundamentais para a constituição das habilidades espe-
cíficas. Pesquisadores, no campo do desenvolvimento motor, afirmam que,
depois da fase das habilidades básicas, não há ações originalmente novas,
pois o que ocorre após essa fase é o refinamento das habilidades básicas
e a sua aplicação em um contexto ambiental específico ou são combina-
ções de habilidades básicas aplicadas a um contexto ambiental singular.
Wickstrom (apud GALLAHUE; OZMUN, 2001, p. 434) reforça essa ideia ao
afirmar que “[...] o refinamento do padrão e variações na forma de estilo
ocorrem à medida que se alcança maior precisão, controle e exatidão, po-
rém, o padrão motor básico, permanece inalterado”. A diversificação e a
complexificação das habilidades básicas contribuem para o aumento da
variabilidade da ação. Segundo Tani (2008, p. 317), o desenvolvimento
motor ótimo implica
27
Figura 11
Relação das habilidades
Habilidades Básicas
Locomoção Manipulação Estabilidade
Caminhar Arremessar Inclinar
Correr Chutar Girar
Pular Rebater Balançar
Saltar Rolar (um objeto) Virar
28
temente do atleta experiente que, mesmo com um marcador, consegue
realizar a bandeja, pois tem diferentes recursos motores para superar a
marcação durante a realização da sua ação. A diversificação e a comple-
xificação das habilidades básicas ampliam o repertório motor das crian-
ças, dando-lhes a oportunidade de atingir os objetivos das tarefas motoras
que se apresentam em seu cotidiano de diferentes formas.
Na intenção de materializar esses conceitos, sistematize jogos e brinca-
deiras que atendam aos seguintes objetivos relacionados com a diversifi-
cação e complexificação das habilidades básicas:
Diversificar a habilidade de
arremessar por meio de jogos e/ou
brincadeiras (3 atividades)
29
damentais para desempenhar habilidades especializadas. Os mo-
vimentos ganham forma, precisão e controle mais específicos;
A AMPULHETA
Modelo de Desenvolvimento Motor durante
o Cilco da Vida de Gallahue
Hereditariedade Ambiente
FASE MOTORA
ESPECIALIZADA
Figura 12
Ampulheta do desenvolvimento motor
Fonte: Gallahue e Ozmun (2001)
FATORES
30
A Figura 12 exibe o modelo da ampulheta, que explica a dinâmica do
desenvolvimento motor proposta por Gallahue e Ozmun (2001). Nesse mo-
delo, fatores como a hereditariedade e o ambiente são considerados como
a “areia” dentro da ampulheta. A influência hereditária é fixa, já está tra-
çada no código genético, por isso tem tampa. A influência do ambiente
não tem “tampa”, podendo-se acrescentar areia inúmeras vezes durante o
processo de desenvolvimento. São essas duas dimensões (genética e meio)
que movem os debates há décadas no campo do desenvolvimento motor,
não havendo consenso entre os pesquisadores acerca de qual dessas di-
mensões tem a prerrogativa sobre o desenvolvimento.
As fases do desenvolvimento motor constituem-se em importantes pa-
râmetros para a intervenção da Educação Física no contexto da Educação
Infantil, auxiliando o professor a identificar as demandas motoras especí-
ficas relacionadas com cada fase. Cabe ressaltar que essas fases são ape-
nas “trilhas” e não devem ser tomadas como uma regra fixa, como algo
imutável no processo de desenvolvimento motor da criança, uma vez que
o desenvolvimento dessa dimensão do comportamento é marcado pela di-
versidade, pela descontinuidade, pela variabilidade do desempenho e he-
terogeneidade (MANOEL, 2008).
Visto dessa forma, um novo elemento ganha força na compreensão do
processo de desenvolvimento motor e, consequentemente, nos processos
de intervenção do professor de Educação Física: o contexto do desenvolvi-
mento. Ao considerarmos que movimento é diferente de ação, pois o pri-
meiro refere-se apenas ao deslocamento do corpo no espaço, enquanto o
segundo é um movimento constituído de sentidos, de significados, de cul-
tura e de intersubjetividade, ou seja, é um fenômeno tipicamente humano,
torna-se necessário, na abordagem sobre a cultura de movimento no con-
texto escolar, considerar a intencionalidade do sujeito e o ethos5 da comu-
nidade em que ele está inserido. Na perspectiva em que o contexto da ação
assume papel central no processo de desenvolvimento motor, o sujeito é
considerado ator do seu próprio desenvolvimento. Dessa forma, em vez de
trabalhar com movimentos estereotipados, preconcebidos e mecanizados,
as intervenções da Educação Física, no contexto escolar, deveriam valori-
zar as ações em que os indivíduos resolvam problemas e tomem decisões
em situações relacionadas com as suas experiências motoras. Para Manoel
(2008, p. 482-483), uma nova perspectiva para compreensão do processo
de desenvolvimento motor deve considerar os seguintes aspectos:
5. “[...] conjunto de padrões comportamentais – gestos, rituais, danças, expressões corporais etc. – típicas de uma determinada cultura” (MANOEL, 2008, p. 485).
31
1 · Desenvolvimento é um processo de construção em que o su-
jeito é ator do seu próprio desenvolvimento. Para a visão siner-
gética do desenvolvimento, a questão central para o estudo e a
intervenção sobre o desenvolvimento é a compreensão de como
a experiência é construída pelo bebê, pela criança, pelo jovem,
pelo adulto e pelo idoso.
6. Ubiquidade: repertório de ações motoras que nos permite interagir diariamente em nossos meios físico e social.
32
ATIVIDADE AVALIATIVA
33
2 aPrEnDIZaGEM
Motora
Neste capítulo, a nossa discussão será focali- tágios em que a aprendizagem ocorre e as suas
zada na aprendizagem motora, o que não signi- implicações para a aquisição e estabilização das
fica que questões relativas ao desenvolvimento e habilidades motoras. Também serão apresenta-
ao controle motor sejam descartadas. Aliás, esse das, em linhas gerais, as principais teorias que
último campo estabelece uma estreita relação explicam o processo de aprendizagem e controle
com os conhecimentos produzidos na aprendiza- do movimento. Posteriormente, evidenciaremos os
gem motora. Em um primeiro momento, apresen- fatores intervenientes nesse processo e, por fim,
taremos alguns conceitos e características gerais traremos à tona discussões associadas ao campo
sobre essa área do comportamento motor, evi- “Ensino aprendizagem de habilidades motoras”,
denciado os limites e as possibilidades que ela que estuda a aplicabilidade das pesquisas básicas
oferece para a intervenção pedagógica dos pro- em aprendizagem motora nas situações concretas
fessores de Educação Física em seus diferentes relacionadas com a prática pedagógica do profes-
contextos de inserção social. Discutiremos os es- sor de Educação Física.
34
Aprendizagem Motora: conceitos
e características gerais
7. Maiores detalhes sobre os sistemas de classificação das habilidades motoras veremos adiante.
35
[...] conjunto de processos associados à prática ou à experiên-
cia, conduzindo a mudanças relativamente permanentes para
executar performance habilidosa (SCHMIDT, 1988, p. 153).
36
racterísticas observáveis do movimento que permitem ao professor inferir
sobre o processo de aprendizagem motora dos seus alunos.
Mudanças na aprendizagem são relativamente permanentes, não são
transitórias, subsistem às mudanças de outras condições ou à passagem do
tempo. Os processos de aprendizagem motora estão associados à memória
de longa duração, por isso, mesmo que não pratique, uma pessoa não es-
quece o que aprendeu. Por exemplo, um sujeito que aprendeu a andar de
bicicleta na infância, mesmo que não ande durante toda a adolescência,
não terá esquecido essa habilidade na fase adulta. É óbvio que, depois de
um longo período de inatividade, ele apresentará insegurança e receio nas
primeiras tentativas, mas os seus programas motores permanecerão intac-
tos. A inserção da palavra “relativamente” no conceito se deve ao fato de
que, caso não aconteça nada de extraordinário na trajetória de vida das
pessoas, como um acidente vascular cerebral que afete as regiões respon-
sáveis pelas aprendizagens, elas se manterão.
Embora as contribuições da aprendizagem motora sejam bastante sig-
nificativas para a área da Educação Física, historicamente essa relação
vem se constituindo de forma conturbada. O principal foco de tensão
nessa relação são os pressupostos epistemológicos que subsidiam a pro-
dução de conhecimentos no campo da aprendizagem motora. Tais conhe-
cimentos se vinculam a uma matriz comportamentalista,8 que concebe
o ser humano como “um processador de informações”. O desafio para a
aprendizagem, nessa perspectiva, consiste em fornecer os estímulos ade-
quados para produzir as respostas desejadas e suprimir aqueles que pro-
duzem respostas indesejadas. Ao conceber o ser humano apenas como
um “processador de informações”, as dimensões cultural, social, afetiva
e subjetiva que incidem sobre os processos de ensino-aprendizagem das
habilidades motoras são ignoradas.
De acordo com Oliveira (1997), as teorias sobre a aprendizagem motora
têm assumido um caráter não-histórico, neutro e universal, desconsiderando
as diferenças culturais entre os indivíduos. Já Daolio (1997, p. 22) afirma:
8. Ver o fascículo da Psicologia da Educação para relembrar os pressupostos associados à perspectiva comportamentalista.
37
Outro problema que tem dificultado um diálogo mais próximo entre a
área da aprendizagem motora e a Educação Física é a natureza das pes-
quisas produzidas nessa área que, em sua grande maioria, se constituem
como pesquisas básicas, pois buscam explicar o fenômeno da aprendi-
zagem, mas não estabelecem uma relação direta com as necessidades e
as demandas que professores encontram no cotidiano das suas aulas.
Como a comunicação entre a comunidade científica e os professores
é restrita, muitos conhecimentos produzidos na área da aprendizagem
motora são inteligíveis a estes, constituindo-se em um emaranhado de
teorias que pouco contribuem para a prática pedagógica vivenciada nas
escolas, nos clubes, nos projetos sociais e em outros contextos de inser-
ção da Educação Física.
Primeiro modelo
EEEEEEEEEEAAAAAAAAAAA
38
a proposta de Fitts e Posner (1967). Para esses autores, a aprendizagem
ocorre em três estágios. São eles:
1° Estágio: Cognitivo
39
ção de marcação por zona no handebol, o professor orienta o seu aluno:
“Preste atenção nos adversários que entrarem neste setor da quadra”. É
importante salientar que, à medida que a aprendizagem se processa, os
focos de atenção se alteram. Por exemplo, uma pessoa que está apren-
dendo a se esquivar na capoeira. Em um primeiro momento da aprendiza-
gem, os focos são internos, como prestar atenção ao posicionamento dos
braços, à flexão das pernas e do quadril etc. À medida que o movimento
se automatiza, os focos passam para o ambiente, como prestar atenção à
direção, altura e velocidade do golpe do oponente.
2° Estágio: Associativo
3° Estágio: Autônomo
10. O feedback intrínseco (proprioceptivo e exteroceptivo) são informações sensórias produzidas pelo sujeito durante a execução de uma habilidade motora.
11. Licinius Crassus foi um general do Triunvirato Romano que cometeu um grande erro de estratégia, levando o seu exército à destruição total.
40
A aprendizagem motora na perspectiva
do processo adaptativo
INSTABILIDADE ESTABILIDADE
HABILIDADE
MOTORA
ESTABILIDADE INSTABILIDADE
Figura 15
Processo adaptativo
12. Modelos que consideram o processo de aquisição das habilidades motoras como fi nito. No caso do modelo proposto por Fitts e Posner (1967), esse
processo se encerraria com a automatização da habilidade.
41
Para que uma habilidade alcance níveis mais complexos de organi-
zação, é necessário que haja variabilidade na sua execução. A variabili-
dade é um aspecto inerente ao comportamento motor humano. Manoel
e Connolly (1995) denunciam que a variabilidade tem sido considerada,
no contexto da aprendizagem motora, como um ruído, um fator nega-
tivo para o desempenho, que deve ser reduzido ou eliminado para que a
aprendizagem tenha êxito. A variabilidade é uma fonte de instabilidade
do sistema e exerce um papel fundamental na emergência de novos es-
tados de organização desse sistema. Por isso, à medida que a habilidade
se estabiliza,13 é recomendável que se varie a sua prática, para que haja
a desestabilização dessa habilidade e a sua posterior (re)estabilização em
níveis mais complexos de organização.
Embora a inserção de perturbações seja um procedimento desejável na
prática de habilidades que já foram estabilizadas, é preciso ter critérios
claros para inseri-las de forma adequada. O excesso de perturbação pode
gerar o colapso na estrutura da habilidade, por isso duas questões se tor-
nam fundamentais: como e quando inserir as perturbações? Para Ugrino-
witsch e Tani (2005), em situações em que se estudam as inter-relações
entre os tipos e os níveis de perturbações, verificou-se que existe uma
organização hierárquica entre elas. Essa hierarquia resulta em perturbar
inicialmente as capacidades perceptivas, depois as capacidades motoras
e, finalmente, as capacidades perceptivo-motoras. No estágio de pré-es-
tabilização, não é possível haver uma adaptação à perturbação, porque
a estrutura da habilidade ainda não foi formada. A inserção das pertur-
bações é aconselhável nos estágios de estabilização e superestabilização
da habilidade motora.
Estudos sobre a hierarquização dos níveis de perturbação (TANI, 2000;
BENDA, 2001), indicam que, no estágio de estabilização, devemos, num
primeiro momento, introduzir as perturbações perceptivas e, posterior-
mente, as perturbações motoras. No estágio de superestabilização, as per-
turbações perceptivas e motoras devem ser introduzidas simultaneamente.
A superestabilização não está na uniformidade da resposta e sim na ca-
pacidade da habilidade em se adaptar às perturbações. A Figura 16 de-
monstra a relação entre o nível de estabilização e o tipo de perturbação,
auxiliando o profissional de Educação Física na inserção de perturbações
que contribuam para estabilizar as habilidades em níveis cada vez mais
complexos de organização:
42
Figura 16
Relação entre
estabilização e
Nível
Nível de
de estabilização
estabilização Pré-Estabilização Estabilização Superstabilização perturbação
(Habilidade (Habilidade (Habilidade muito
Tipo deperturbação inconsistente) consistente) consistente)
14. Feedback são informações sensoriais captadas no organismo (propriocepção) ou no ambiente (exterocepção) que ajudam a compatibilizar a ação com
as alterações ambientais que ocorrem durante a execução das habilidades motoras. No processo de aprendizagem motora, o feedback fornece parâme-
tros ao iniciante para a realização das próximas ações.
43
A fim de superar as lacunas apresentadas pela Teoria do Circuito Fe-
chado, Keele formulou o conceito de Programa Motor, que pode ser compre-
endido como um “[...] conjunto pré-estruturado de comandos musculares
que executa o movimento na ausência de feedback periférico” (SCHMIDT,
1983, p. 205). Nessa perspectiva, para cada movimento aprendido, há um
programa motor correspondente armazenado na memória. Assim como a
Teoria do Circuito Fechado, a perspectiva do Programa Motor foi criticada
por não explicar o problema de estocagem, ou seja, como a memória ar-
mazenaria uma quantidade imensa de programas motores.
Diante dos problemas apresentados por essas duas teorias, Schmidt
(1975) propôs um modelo híbrido para explicar o processo de controle
motor e de aprendizagem motora: a Teoria do Esquema. Essa teoria in-
corpora princípios das teorias anteriormente citadas, só que, ao invés de
propor um programa motor específico, propugna a existência de um pro-
grama motor generalizado, ou seja, mantém a ideia de um planejamento
central para a ação, mas só que esse planejamento conserva registrado na
memória apenas os parâmetros invariantes do movimento. Os parâmetros
específicos de uma determinada ação são estabelecidos pouco antes da sua
execução pelo feedback intrinseco.15 Nessa perspectiva, em vez de arma-
zenar a estrutura específica de uma ação, o indivíduo estoca regras gerais
que estabelece relação com outras ações. Essas regras gerais são chama-
das de “esquemas”. Schmidt e Wrisberg (2001, p. 165) definem o programa
motor generalizado como
44
controle central e propõe o conceito de “estrutura coordenativa”, em que o
movimento é aprendido e controlado por meio de unidades auto-organiza-
das de ossos, músculos e articulações, que atuam em interação com as de-
mandas ambientais e as características específicas da tarefa a ser realizada.
Fatores intervenientes no
processo de ensino-aprendizagem
das habilidades motoras
Quem? (o aprendiz)
AAo considerar as necessidades, as possibilidades, os interesses e as ex-
pectativas de cada indivíduo no processo de ensino-aprendizagem das ha-
bilidades motoras, negamos a ideia de “sujeito universal”, ou seja, a noção
de que todos são iguais e possuem as mesmas demandas nesse processo.
É preciso que os professores tratem seus alunos em sua singularidade, não
generalizando métodos e procedimentos. O conceito de zona de desenvol-
vimento proximal, cunhado por Vygotsky e que vocês viram na disciplina
de Psicologia da Educação, é muito útil para pensarmos a intervenção do
professor. Segundo esse conceito, a boa intervenção é aquela que incide
sobre a zona de desenvolvimento proximal dos indivíduos, ou seja, sobre
uma “faixa” que fica um pouco além dos conhecimentos que os sujeitos já
45
internalizaram e que sozinhos não conseguem transitar, pois necessitam
da mediação de alguém mais experiente. No caso da aprendizagem das
habilidades motoras, é necessário que identifiquemos o nível de desen-
volvimento real dos indivíduos com quem vamos lidar para proporcionar
intervenções pedagógicas adequadas, pois submeter os aprendizes a situ-
ações que estão muito além ou aquém das suas possibilidades de realiza-
ção gera a desmotivação e a consequente perda de interesse pelo objeto
da aprendizagem.
Portanto, é preciso identificar as experiências prévias dos sujeitos em
relação à habilidade que estão aprendendo. Essas experiências podem se
manifestar em diferentes dimensões. As experiências podem ser motoras,
nesse caso há uma transferência positiva do padrão de movimento de si-
tuações anteriores para a nova situação. Por exemplo, uma criança que,
durante a sua infância jogou muita “queimada”, possivelmente aprovei-
tará padrões do arremesso desse jogo na aprendizagem do arremesso do
handebol. As experiências também podem estar circunscritas na dimensão
perceptiva. Por exemplo, a recepção do saquei de vôlei (manchete) e a re-
cepção do saque de tênis são duas habilidades completamente distintas do
ponto de vista da biomecânica do movimento, entretanto pode haver uma
transferência positiva de uma situação para a outra em termos perceptu-
ais, já que ambas trabalham com a noção espaço-temporal. A transferên-
cia de experiência também pode ocorrer na dimensão conceitual, em que
conceitos relacionados com a noção espacial podem ser aproveitados de
uma situação para outra. Por exemplo, manter distância adequada entre os
companheiros do mesmo time.
O nível de maturação do aprendiz em relação à habilidade a ser apren-
dida é outra variável importante a ser considerada. Por mais que se “treine”,
dificilmente uma criança andará aos seis meses, pois, nessa idade, o seu
sistema osteomuscular ainda não está pronto para realizar essa habilidade.
Nesse caso, há um desequilíbrio entre a demanda da tarefa e a possibili-
dade do indivíduo em executá-la. Dessa forma, é preciso identificar o de-
senvolvimento maturacional do aprendiz para oferecer-lhe intervenções
condizentes com as suas possibilidades de realização.
A motivação também interfere decisivamente no processo de aprendi-
zagem das habilidades motoras. Devido ao seu caráter subjetivo, a moti-
vação para a ação varia de uma pessoa para outra. Dificilmente alguém
aprenderá algo que não deseja, por isso é fundamental que o professor
estabeleça uma relação dialógica com seus alunos para identificar o ní-
vel de interesse deles em relação aos objetos da aprendizagem. Além dos
46
aspectos pessoais, a motivação também perpassa pelas questões cultu-
rais. Betti e Liz (2003), ao discutirem sobre o desinteresse do jovem pela
Educação Física, ao chegar nas séries finais do Ensino Fundamental,
afirmam que, apesar das mudanças de natureza psicossocial da juven-
tude, essa área continua com os mesmos modelos educacionais de déca-
das atrás. Esse autor constatou que os jovens, fora do ambiente escolar,
possuem um grande interesse pelas atividades físicas e esportivas, con-
tudo não encontram motivação para as atividades que são desenvolvidas
nas aulas de Educação Física.
O nível das capacidades que os indivíduos apresentam para a realização
de determinadas habilidades é outro fator decisivo no processo de apren-
dizagem. Magill (2000, p. 302) define capacidade como “[...] um traço ou
qualidade geral do indivíduo relacionada ao seu desempenho numa diver-
sidade de habilidades ou de tarefas [e aponta que] [...] uma diversidade de
capacidades motoras diferentes está subjacente ao desempenho de habi-
lidades motoras”. Quando se trata da seleção de atletas para o esporte de
rendimento, as capacidades são critérios decisivos. É bastante improvável
que uma pessoa que possua baixa velocidade de reação se torne um velo-
cista. Entretanto, a Educação Física escolar não está interessada em for-
mar atletas de alto nível, mas sim em desenvolver as potencialidades dos
alunos, apesar das suas possíveis limitações. Grande parte das capacidades
são geneticamente determinadas e pouco modificáveis com a prática ou a
experiência. Em uma linguagem metafórica, as capacidades representam o
hardware que os indivíduos trazem consigo no processo de aprendizagem
das habilidades motoras.
Schmidt e Wrisberg (2001, p. 42) a caracterizam como “[...] traços es-
táveis e duradouros que, na sua maior parte, são geneticamente determi-
nados e que embasam a performance habilidosa dos indivíduos”. Algumas
capacidades são mais “treináveis” do que outras, ou seja, são mais susce-
tíveis a alterações em decorrência da prática ou da experiência. É impor-
tante que o professor identifique as capacidades relacionas às habilidades
que ele irá ensinar e verifique no aprendiz em que níveis essas capacidades
se encontram. Por exemplo, um aprendiz da capoeira encontrará dificul-
dades em realizar um “macaco”16 (habilidade), se tiver pouca flexibilidade
(capacidade) da coluna vertebral. Não estamos afirmando que um indi-
víduo com pouca flexibilidade na coluna não possa realizar um macaco,
mas indicando que se trabalhe essa capacidade para que a execução da
habilidade seja viável.
16. Movimento coreográfico da capoeira que exige um alto grau de flexibilidade da coluna vertebral.
47
Grosso modo podemos dividir as capacidades em duas grandes catego-
rias: físicas e perceptivas. Entretanto, para fins didáticos, utilizaremos o
modelo proposto por Gallardo (2000), que classifica as capacidades em três
grupos, como mostra a página ao lado.
ATIVIDADE AVALIATIVA
Qual? (a tarefa)
Qual a melhor forma de se ensinar uma habilidade? É melhor fragmen-
tar essa habilidade (prática parcial) ou trabalhá-la como um todo (prática
global)? A resposta correta para essas questões é: “Depende”. Não deve-
mos ensinar todas as habilidades da mesma forma, pois algumas variáveis
são importantes para escolhermos qual o melhor método a ser empregado
no processo de ensino-aprendizagem. Dentre as variáveis que interferem
nesse processo, a natureza da habilidade a ser ensinada é fundamental. As
habilidades motoras possuem características distintas que determinam a
melhor maneira de ensiná-las. Na intenção de conhecermos melhor essas
características, abordaremos alguns critérios propostos pelos pesquisado-
res no campo da aprendizagem motora (MAGILL, 2000; SCHMIDT; WRIS-
BERG, 2001; GALLARDO, 2000) para classificar as habilidades motoras,
apontando as suas implicações para o processo de ensino-aprendizagem.
48
GRUPO I
GRUPO II
GRUPO III
49
Quanto à estabilidade do ambiente
O termo ambiente, nesse caso, refere-se ao contexto da ação (lugar onde
a habilidade é realizada) e ao objeto da ação (caso a realização da habili-
dade envolva a utilização de algum objeto, como uma bola, por exemplo).
Em relação a esse critério, as habilidades podem ser divididas em duas ca-
tegorias: a) Habilidade motora fechada – é realizada em um ambiente está-
vel, que não se altera durante a realização da habilidade. O contexto ou o
objeto esperam pela ação do executante. Alguns exemplos: correr em uma
pista de atletismo, dar uma tacada na sinuca, realizar um solo na ginástica
olímpica; b) Habilidade motora aberta – é realizada em um ambiente ins-
tável, que se altera durante a execução da habilidade. Dessa forma, a ação
do executante está condicionada às alterações do contexto, do objeto ou
de ambos. Alguns exemplos: recepcionar uma bola depois de um saque no
vôlei; chutar uma bola em movimento; correr no meio de uma multidão,
em que é preciso desviar das pessoas a todo o momento.
Há modalidades esportivas em que as habilidades são executadas em
situações fechadas e em situações abertas. No basquete, por exemplo, o
lance livre é uma habilidade motora fechada, já o arremesso com marca-
ção é uma habilidade motora aberta. O critério de estabilidade do ambiente
traz importantes desdobramentos para a intervenção pedagógica. O ensino
das habilidades fechadas requer uma maior atenção aos aspectos internos
do movimento. Nesse caso, privilegia-se a repetição da habilidade em uma
mesma situação, para que ela adquira consistência, ou seja, um padrão de
regularidade na sua execução. Já as habilidades motoras abertas, aquelas
que são típicas dos esportes com bola, exigem uma variabilidade na sua
realização, pois, se trabalharmos a sua execução apenas de uma mesma
maneira, dificilmente ela se adaptará às diferentes circunstâncias presen-
tes nas situações concretas em que essas modalidades ocorrem.
50
– composta por movimento contínuos, que repetem sempre o mesmo ciclo
na sua execução. Alguns exemplos: nadar, correr, andar. Do ponto de vista
pedagógico, esse critério oferece dicas importantes para a intervenção do
professor. Por exemplo, fornecer instrução ao aprendiz durante a execução
de uma habilidade motora discreta é um procedimento inadequado, pois
não há tempo suficiente para que o sujeito utilize o feedback aumentado
(a dica) e altere a sua ação.
17. São vias de controle do movimento que não exigem uma atenção voluntária, a pessoa executa a habilidade sem pensar na mesma.
18. São vias de controle do movimento que exigem atenção voluntária do indivíduo para a execução da habilidade.
51
partes são altamente interdependentes, e é pouco viável realizá-las de ma-
neira separada. Por exemplo, um salto mortal. Já a complexidade se refere
ao número de elementos (partes) de uma determinada habilidade. As ha-
bilidades de baixa complexidade são compostas por um número reduzido
de elementos, por exemplo, um toque do voleibol. As habilidades de alta
complexidade são compostas de vários elementos (partes), por exemplo,
um arremesso no handebol. Magill (2000) propõe que as habilidades de
alta organização e de baixa complexidade sejam trabalhadas pelo método
global19 e as habilidades de baixa organização e de alta complexidade se-
jam trabalhadas pelo método parcial.20
Gentile (apud MAGILL, 2000) propôs um sistema bidimensional de classi-
ficação das habilidades motoras que é muito útil à intervenção pedagógica
do professor de Educação Física. A Taxonomia Bidimensional de Gentile
apresenta importantes subsídios para a efetivação de um processo seguro e
eficaz na aquisição das habilidades motoras. Ao relacionar duas dimensões,
contexto ambiental e função da ação, essa taxonomia fornece parâmetros
de progressão gradativa no processo de ensino-aprendizagem, em que di-
ferentes variáveis são inclusas nesse processo à medida que as habilidades
se estabilizam. Cada dimensão se desdobra em duas categorias e essas em
mais duas. Sendo assim, o contexto ambiental é subdividido em condições
reguladoras e variabilidade intertentativas e a função da ação em transporte
corporal e manipulação de objetos.
As condições reguladoras podem ser estacionárias, quando o ambiente
se apresenta estável, ou em movimento, quando o ambiente se modifica
durante a execução das habilidades. A variabilidade intertentativa se re-
fere à variação na execução de uma habilidade entre uma tentativa e ou-
tra. Dessa forma, uma habilidade pode ser executada sem variabilidade
intertentativa, quando as condições de execução não se alteram de uma
tentativa para outra, ou com variabilidade intertentativa, quando há alte-
ração entre as tentativas. O transporte corporal está associado ao desloca-
mento do corpo de um ponto ao outro.
Nesse caso, uma habilidade pode ser executada sem transporte corporal,
quando executada em um ponto fixo, ou com transporte corporal, desde
que apresente deslocamento do corpo de um ponto ao outro. Por fim, a
manipulação de objetos relaciona-se com a utilização de objetos durante
a execução da habilidade. Uma habilidade motora pode ser executada sem
manipulação de objeto, a exemplo do salto em distância, ou com mani-
pulação, como no salto com vara. Cabe salentar que nem todas as habi-
19. Procedimento pedagógico em que uma habilidade é trabalhada como um todo em seu processo de ensino-aprendizagem.
20. Procedimento pedagógico em que há uma fragmentação da habilidade motora em partes no seu processo de ensino-aprendizagem
52
lidades apresentam as características descritas na taxonomia de Gentile, Quadro 1
Taxonomia Bidimensional
portanto devemos utilizar somente aquelas categorias que se relacionam de Gentile
com a habilidade que pretendemos ensinar. A inter-relação entre as cate- Fonte: Magill (2000)
1 2 3 4
CR: estacionárias CR: estacionárias CR: estacionárias CR: estacionárias
Sem variabilidade Sem variabilidade Sem variabilidade Sem variabilidade
intertentativa Intertentativa intertentativa intertentativa
Sem transporte corporal Sem transporte corporal Com Com transporte corporal Com transporte corporal
Sem manipulação de objeto manipulação de objeto Sem manipulação de objeto Com manipulação de objeto
5 6 7 8
CR: estacionárias CR: estacionárias CR: estacionárias CR: estacionárias
Com variabilidade Sem variabilidade Com variabilidade Com variabilidade
intertentativa Intertentativa intertentativa intertentativa
Sem transporte corporal Sem transporte corporal Com Com transporte corporal Com transporte corporal
Sem manipulação de objeto manipulação de objeto Sem manipulação de objeto Com manipulação de objeto
9 10 11 12
CR: em movimento CR: em movimento CR: em movimento CR: em movimento
Sem variabilidade Sem variabilidade Sem variabilidade Sem variabilidade
intertentativa intertentativa intertentativa intertentativa
Sem transporte corporal Sem transporte corporal Com transporte corporal Com transporte corporal
Sem manipulação de objeto Com manipulação de objeto Sem manipulação de objeto Com manipulação de objeto
13 14 15 16
CR: em movimento CR: em movimento CR: em movimento CR: em movimento
Com variabilidade Com variabilidade Com variabilidade Com variabilidade
intertentativa intertentativa intertentativa intertentativa
Sem transporte corporal Sem transporte corporal. Com Com transporte corporal Com transporte corporal
Sem manipulação de objeto manipulação de objeto Sem manipulação de objeto Com manipulação de objeto
53
transporte corporal e sem manipulação de objeto. Assim, a partir da posição
estática da ginga, realizamos a esquiva de chão. Cabe ressaltar que o estágio
inicial da aprendizagem, também denominado de cognitivo (FITTS; POS-
NER, 1967), exige uma intensa demanda mental do aprendiz na realização
da habilidade. Ele não consegue desvincular sua atenção da ação. Portanto,
nesse estágio, não é apropriado fornecer muitas informações ao iniciante,
sob o risco de desviar a sua atenção dos aspectos importantes para execu-
ção da habilidade, pois o sistema nervoso central não consegue processar
um número muito grande de informações. O aprendiz não consegue detec-
tar o erro e fazer os ajustes necessários, pois o seu feedback intrínseco ainda
não está bem estruturado. Cabe ao professor fornecer o feedback aumentado
(SCHIMIDT; WRISBERG, 2001), indicando o foco de atenção adequado para
a realização da habilidade.
Foco de atenção é o direcionamento da atenção para aspectos relevantes
na produção do movimento. Geralmente, na fase inicial da aprendizagem,
a direção do foco é interna – estreito ou amplo – ao movimento. No caso
específico da esquiva, solicitamos aos alunos que observassem a flexão
das pernas e do quadril, o posicionamento do braço na proteção do rosto
e a inclinação adequada do tronco. Após percebermos que a realização da
esquiva ocorria sem dificuldades, incluímos uma nova exigência à tarefa.
Utilizamos o estágio número 3 da taxonomia. A diferença em relação
ao estágio anteriormente utilizado foi a inclusão do transporte corporal.
Nessa nova situação, a esquiva não era realizada estaticamente e sim em
movimento, a partir da execução da ginga associada ao deslocamento la-
teral. Percebemos que inicialmente a incorporação desse novo elemento
desestabilizou o padrão anteriormente adquirido, mas, após algumas repe-
tições, houve adaptação à nova estrutura motora (TANI, 2005). Pelo fato
de as condições reguladoras serem estacionárias, o foco de atenção, tanto
no primeiro estágio quanto no terceiro, foram direcionados internamente.
Após a estabilização desse novo padrão de realização da esquiva, acres-
centamos outra exigência, agora uma demanda ambiental.
Utilizamos, como referência, o estágio número 11 da taxonomia. O as-
pecto central desse novo estágio é que a condição reguladora está em movi-
mento. O ambiente não é estável e a habilidade precisa adaptar-se as essas
alterações. Portanto, é imprescindível a percepção do ambiente, pois a exe-
cução da habilidade está atrelada às suas determinações. O foco de atenção
deve ser direcionado a aspectos externos ao movimento. No caso da esquiva,
passamos a trabalhar em duplas, em que um aluno golpeava enquanto o ou-
tro esquivava em situação predeterminada. A execução da esquiva não era
54
estabelecida apenas pelo aluno; estava condicionada à velocidade e à altura
do golpe do seu parceiro. A atenção do aluno foi direcionada para um foco
externo, para a observação da trajetória da perna de quem golpeava.
A última etapa abordada no processo de aquisição da habilidade de es-
quivar corresponde ao estágio número 15 da taxonomia de Gentile. Nela, as
condições reguladoras estão em movimento, há variabilidade intertentativa,
transporte corporal presente e sem manipulação de objeto. A nova variável
em relação ao estágio anterior é a presença de variabilidade intertentativa.
Assim, os golpes eram realizados sem uma predeterminação, aleatoriamente.
Os aprendizes tinham que se esquivar a partir de situações imprevistas. Es-
sas situações simulam uma condição bem próxima do "jogo da capoeira".
As imagens captadas demonstraram que o processo de aquisição da es-
quiva de chão ocorreu de maneira satisfatória no grupo investigado. Ape-
sar das diferenças individuais, todos conseguiram êxito na realização da
nova habilidade. Os relatos individuais também ratificaram as interpre-
tações advindas das imagens, e os participantes conseguiram identificar
o processo gradativo de complexificação ao qual foram submetidos, res-
saltando a sua importância para compreensão, adaptação e segurança na
aquisição da esquiva.
Onde? (o contexto)
O contexto é outra variável importante a ser considerada no processo de
ensino-aprendizagem das habilidades motoras. O contexto pode ser divi-
dido em duas grandes categorias: físico e sociocultural. O contexto físico
está relacionado com as características ambientais onde as habilidades são
realizadas. Por exemplo, as habilidades do vôlei de praia possuem singula-
ridades em relação às do vôlei de quadra. Interferências ambientais, como
o Sol, o vento e a areia, fazem com que a execução das habilidades na
praia se diferencie em relação às habilidades executadas na quadra. Essas
singularidades apresentadas em cada contexto precisam ser contempladas
no processo de ensino-aprendizagem das habilidades.
A outra dimensão contextual, a sociocultural, é bem mais complexa do
que a física e exige dos professores uma leitura social bem elaborada. Par-
tindo do pressuposto de que o ser humano não é universal, biologicamente
determinado, mas é um sujeito social, historicamente situado, é preciso
compreender os “lugares” onde os processos de aprendizagem ocorrem.
Por exemplo, aprender uma habilidade relacionada com a dança no con-
55
texto escolar tem uma conotação completamente distinta do que aprender
em uma academia de dança. O primeiro contexto tem objetivos educacio-
nais mais amplos e já o segundo tem objetivos mais pragmáticos, associa-
dos à aquisição e estabilização da habilidade. Outro exemplo: o ensino de
uma habilidade associada ao ballet em uma escola pública de um bairro
de periferia possui sentidos e significados diferentes do ensino dessa ha-
bilidade em uma escola localizada em um bairro nobre, frequentada pelas
classes sociais de maior poder aquisitivo. Mais uma questão para ilustrar
a complexidade da dimensão sociocultural no processo de aprendizagem
das habilidades motoras: ensinar capoeira para um baiano é a mesma
coisa do que ensiná-la para um japonês? Certamente não. Há implicações
culturais nesse processo que fazem com que a aprendizagem do primeiro
não se constitua da mesma forma que no segundo. Para problematizar
ainda mais: quais são as implicações de se ensinar a capoeira na Educa-
ção Física escolar para alunos evangélicos? Ou ainda: Por quê, no geral, as
meninas norte-americanas jogam futebol melhor do que as meninas brasi-
leiras? Com esses poucos exemplos e questionamentos, é possível perceber
a complexidade da dimensão sociocultural e as suas implicações no pro-
cesso de ensino-aprendizagem das habilidades motoras. A negligência do
contexto sociocultural onde as aprendizagens ocorrem é uma das maiores
lacunas apresentadas pelas pesquisas na área da aprendizagem motora.
Os motivos para a ação dos sujeitos estão diretamente relacionados com
os contextos socioculturais em que estão inseridos, uma vez que as suas
subjetividades são objetivadas pelas influências do meio que fazem parte.
Ensino-aprendizagem das
habilidades motoras
56
básica em aprendizagem motora, numa situação mais próxima
do real, ou seja, da prática profissional (TANI, 2005, p. 113).
A prática
A prática é uma das principais variáveis que o professor pode alterar
no processo de ensino-aprendizagem de habilidades motoras. De maneira
geral, a prática pode ser definida como execução ou repetição de movi-
mentos. Entretanto, em uma análise mais apurada, é possível perceber que
alguns autores divergem dessa ideia geral, fugindo à compreensão de que
prática seja apenas a repetição mecânica de gestos estereotipados. Para
Bernstein (1967, apud TANI, 1999, p. 8), a prática é a repetição do pro-
cesso de solução de problemas motores e não a simples repetição de um
determinado movimento. Tani (1999) entende a prática como exploração
de diferentes alternativas para resolução de situações motoras, que levam
à estabilização de respostas apropriadas a essas situações.
A prática, no processo de ensino-aprendizagem das habilidades mo-
toras, não deve ser uniforme, precisa variar de acordo com uma série
de circunstâncias, como o nível de maturação do aprendiz, o estágio da
aprendizagem em que ele se encontra, a natureza da habilidade a ser en-
sinada e o contexto onde essa aprendizagem acontece. Nesse sentido, o
campo da aprendizagem motora sistematizou diferentes alternativas de
práticas adequadas à variedade de circunstâncias em que esse processo
ocorre. Schmidt e Wrisberg (2001) classificam os diferentes tipos de prática
da seguinte maneira:
57
• Prática Parcial: procedimento de ensino em que uma habilidade é
dividida em partes, em fragmentos. A prática parcial apresenta as se-
guintes variações:
58
é contribuir para a estabilização da estrutura da habilidade por meio da
prática constante.
Em oposição aos modelos de equilíbrio, surge uma nova visão que con-
cebe a aprendizagem como um processo contínuo, alinhado à concepção
geral na ciência que trata dos sistemas abertos. Os sistemas abertos se ca-
racterizam pela troca constante de matéria, energia e informação com o
meio ambiente, o que garante um estado de não equilíbrio e, consequen-
temente, possibilidade de desenvolvimento do sistema. Como já vimos, a
formação de novas estruturas pressupõe instabilidade ou quebra de estabi-
lidade. Na perspectiva da aprendizagem, além da estabilização, admite-se
a formação de estruturas mais complexas a partir daquelas já existentes,
mediante a quebra de estabilidade que induz a outro nível de estabilidade,
em patamar superior de complexidade. Tal perspectiva é denominada de
processo adaptativo e diz respeito à formação de habilidades com estrutu-
ras motoras mais complexas a partir de habilidades já estabilizadas.
O processo adaptativo apresenta duas fases: a primeira, denominada
estabilização, é compreendida como a fase em que se busca a estabilidade
funcional e que resulta na padronização espacial e temporal do movimento
(formação da estrutura); a segunda, por sua vez, conhecida como fase de
adaptação, é aquela em que o sistema se ajusta às perturbações, tanto do
ambiente quanto do próprio sistema. O processo adaptativo é caracteri-
zado pelo ciclo contínuo entre instabilidade-estabilidade-instabilidade da
estrutura da habilidade. Dessa forma, a concepção de prática no processo
adaptativo muda radicalmente em relação aos modelos de equilíbrio.
59
aspectos periféricos da habilidade, sem modificar a sua estrutura. Esse pro-
cesso é denominado de adaptação paramétrica. Em outros casos, a pertur-
bação imposta à execução da habilidade pode extrapolar a flexibilidade
do sistema, exigindo a adaptação em um dos seguintes níveis: adaptação
estrutural, que requer a modificação na estrutura da habilidade, mediante
a reorganização dessa estrutura em níveis superiores de complexidade ou
adaptação auto-organizacional, em que há emergência de uma estrutura
completamente nova.
Corrêa (2001) analisou os efeitos de diferentes práticas na aquisição de
habilidades motoras. Ele realizou experimentos com quatro tipos de prá-
ticas. Foram testadas as práticas constante, randômica, randômica-cons-
tante e constante-randômica. Essa última demonstrou ser mais eficiente
na promoção do processo adaptativo, pois, por meio da prática constante,
é possível promover a formação da estrutura da habilidade (estabilização)
e, pela prática randômica, a formação de novos padrões de movimento, a
partir da estrutura anterior (adaptação). A prática randômica é aquela em
que ocorre um nível alto de interferência contextual, uma vez que várias
tarefas são praticadas conjuntamente, causando interferência uma nas ou-
tras. As pesquisas de Corrêa, Benda e Tani (apud CORRÊA; TANI, 2001)
também evidenciaram que a prática constante-randômica é mais eficiente
na promoção do processo adaptativo do que outros tipos de práticas. Já
Shea e Morgan (1979) constataram que a prática em blocos foi mais efi-
ciente na aquisição das habilidades e a prática randômica mais eficiente
na retenção e transferência da aprendizagem.
60
des categorias. A primeira categoria, denominada de feedback intrínseco,
refere-se às informações sensoriais produzidas pelos próprios indivíduos. O
feedback intrínseco é subdividido em proprioceptivo, quando a informação
sensorial advém do interior do organismo, ou em exteroceptivo, quando
a informação sensorial é captada no ambiente. A segunda categoria, de-
nominada de feedback extrínseco ou aumentado, caracteriza-se pelas in-
formações externas que são fornecidas ao aprendiz por outras pessoas ou
instrumentos. São informações adicionais que, somadas ao feedback intrín-
seco, auxiliam os iniciantes no seu processo de aquisição e estabilização
das habilidades motoras.
O feedback aumentado pode incidir sobre o conhecimento de resulta-
dos, quando focaliza o resultado do desempenho da habilidade, ou pode
incidir sobre o conhecimento de desempenho, quando focaliza as carac-
terísticas da performance que levam ao resultado (MAGILL, 2000). O for-
necimento do feedback aumentado é uma das formas mais eficientes com
que os professores podem contribuir para aprendizagem das habilidades
motoras. Contudo, é preciso observar alguns critérios para que a informa-
ção fornecida seja benéfica. O excesso de informações ou dicas fornecidas
de maneira inadequada pode gerar efeitos negativos para a aprendizagem
das habilidades motoras. Por exemplo, as informações fornecidas imedia-
tamente após a execução das habilidades (feedback instantâneo)interferem
negativamente na aprendizagem. No início da aprendizagem, esse tipo de
informação é prejudicial, pois inibe os indivíduos para que processem o seu
próprio feedback, reduzindo, dessa forma, a capacidade de eles perceberem
os seus próprios erros. Assim, os professores devem retardar por alguns se-
gundos o fornecimento do feedback aumentado, permitindo que os apren-
dizes utilizem as informações advindas do seu feedback intrínseco. Cabe
ressaltar que as informações fornecidas aos aprendizes, após cada tentativa
em realizar uma habilidade, podem gerar a dependência do feedback au-
mentado (SCHIMIDT; WRISBERG, 2001; MAGILL, 2000).
O feedback de desempenho, ou seja, as informações que fornecem parâ-
metros relativos à qualidade do movimento, é prejudicial nas etapas ini-
ciais da aprendizagem, pois os iniciantes não são capazes de interpretar as
características cinemáticas dos seus movimentos, como a velocidade, ace-
leração e o padrão do movimento (SCHIMIDT; WRISBERG, 2001).
O excesso de informações também é prejudicial à aprendizagem, uma
vez que a capacidade de processamento de informações e de memória, es-
pecialmente em crianças e jovens, é limitada. Muitas informações causam
a alta ativação. Esse estado mental, decorrente do excesso de excitação
61
do sistema nervoso central, inibe a aprendizagem. Schimidt e Wrisberg
(2001) preconizam que a alta ativação provoca o estreitamento perceptivo,
levando as pessoas a perderem certos tipos de informação. Também de-
vemos considerar que a capacidade de atenção do ser humano é seriada,
pois focalizamos uma informação de cada vez. Dessa forma, os professores
deveriam restringir suas informações para os aspectos mais relevantes na
produção do movimento relacionados com cada estágio da aprendizagem.
O feedback dde acerto, ou seja, as informações que ressaltam os aspectos
da habilidade realizados com êxito pelo aprendiz, é benéfico à aprendiza-
gem. No início da aprendizagem, esse tipo de informação desempenha uma
função motivadora, contibuindo para incentivar o aprendiz na execução
da habilidade trabalhada. Para Schimidt e Wrisberg (2001), durante o pro-
cesso de aprendizagem das habilidades motoras, o professor deve admitir
uma margem de tolerância em relação aos erros, e as execuções que não
ultrapassem essa margem (parâmetro) podem ser consideradas como ten-
tativas bem-sucedidas, devendo ser incentivadas. Esse autor propõe que,
para cada quatro feedbecks de erro – informação que ressalta as falhas na
execução da habilidade – o professor deve fornecer um feedback de acerto.
As informações breves são mais eficentes no início da aprendizagem. Elas
devem ser curtas e constituídas de poucas palavras (MAGILL, 2000).
No início do processo de aprendizagem motora, o feedback prescritivo
é mais eficiente do que o feedback descritivo. Segundo Schimidt e Wris-
berg (2001, p. 284), o primeiro tipo de feedback “[...] descreve os erros co-
metidos pelos indivíduos durante o desempenho da habilidade e sugere
algumas dicas que o aprendiz deveria fazer para corrigir esses erros”, já o
segundo tipo apenas descreve os erros.
62
63
ALGUMAS PALAVRAS
ANTES DE TERMINAR
Ao longo deste fascículo e dos nossos en- venciados, experimentados, confrontados com as
contros virtuais, discutimos muitos conceitos e demandas concretas encontradas no cotidiano da
pressupostos relacionados com o campo do com- prática pedagógica de vocês e isso leva tempo, não
portamento motor. Talvez a grande quantidade está circunscrito nos moldes de uma disciplina de
de informações trabalhadas nessa disciplina te- 60 horas. Por isso, muito mais do que trazer so-
nha deixado muitos de vocês perplexos, sem sa- luções prontas, a minha intenção foi desafiá-los,
ber o que fazer com elas. Não tenho nehuma apresentando um amplo corpus de conhecimen-
pretensão de que vocês terminem esta etapa do- tos relativos ao campo do comportamento motor.
minando todas as informações apresentadas. O contato com o novo potencializa o nosso desen-
Aliás, concordo com Bondía (2002), que diz volvimento, pois nos desestabiliza e faz com que
que as informações só se transformam em co- busquemos caminhos para solucionar os problemas
nhecimentos quando são mediadas pela experi- impostos.
ência. Informação é o que passam para a gente, Além disso, compartilho com a ideia de consumo
enquanto conhecimento é o que se passa com a produtivo, proposta por Certeau (1994). Para esse
gente. Por isso, para que os pressupostos aqui autor, os dispositivos culturais não são assimilados
trabalhados sejam úteis, eles precisam ser vi- passivamente pelos sujeitos. À sua maneira cria-
64
tiva e inovadora, os praticantes do cotidiano res- As várias comunidades de saber têm,
significam as informações que lhes são passadas assim, uma aptidão notável para ne-
ao seu próprio favor, ou seja, eles se apropriam dos gociar sentidos, encenar presenças,
bens culturais (informações) de acordo com as suas dramatizar enredos, amortizar diferen-
possibilidades e contingências. Dessa forma, cabe a ças, deslocar limites, esquecer princí-
vocês decidirem o que é importante aproveitar das pios e lembrar contingências. É nisso
discussões aqui empreendidas, dando a elas signi- que reside sua dimensão utópica e
ficados singulares no contexto de inserção das suas emancipadora num mundo saturado de
práticas pedagógicas. demonstrações científicas, de necessi-
Despeço-me de vocês não com a sensação de fim dades técnicas e princípios sem fim.
de uma relação pedagógica, mas com a perspectiva
de ampliação de uma rede dialógica, de uma co-
munidade discursiva, em que os sujeitos interagem Um grande abraço a todos(as) e espero, em breve,
para solucionar os problemas que afligem a seu co- revê-los pessoalmente.
tidiano profissional. Como nos diz Boaventura de
Souza Santos (1989, p. 155):
65
REFERÊNCIAS
66
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68
André da Silva Mello
Possui licenciatura plena em Educação
Física pela Universidade Federal do Espírito
Santo (1993); Especialização em Educação
Física Escolar pela Universidade Federal
do Espírito Santo (1994); Mestrado em
Psicologia da Educação pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo
(1999); e Doutorado em Educação
Física pela Universidade Gama Filho/
RJ (2007). Atualmente é professor do
Centro de Educação Física e Desportos da
Universidade Federal do Espírito Santo;
Pesquisador do grupo de pesquisa em
Educação e Educação Física Proteoria
(UFES); e do grupo Semiótica das Atividades
Humanas (UGF); Pesquisa os seguintes
temas: Educação Física na Educação
Infantil; Intervenção da Educação Física
nos Projetos Sociais; Representações sobre
atividades físicas e esportivas.
69
www.neaad.ufes.br
70
(27) 4009 2208