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QUÍMICA APLICADA
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Geiza Oliveira
Federal University of Rio de Janeiro
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QUÍMICA
APLICADA
Josimar Ribeiro
Rafael de Queiroz Ferreira
Geiza Esperandio de Oliveira
Vitória
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Gerência
Inclui bibliografia.
Daniel Dutra Gomes
ISBN:
Editoração
1. Química. I. Ferreira, Rafael de Queiroz. II. Oliveira, Geiza
Marianna Schmidt
Esperandio de. III. Título.
Ilustração
CDU: 54
Alex Furtado
Capa Copyright© 2012. Todos os direitos desta edição estão reservados ao ne@ad. Nenhuma parte deste material
Alex Furtado poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia
autorização, por escrito, da Coordenação Acadêmica do Curso de Graduação em Química, na modalidade a distância.
Marianna Schmidt
A reprodução de imagens de obras em (nesta) obra tem o caráter pedagógico e cientifico, amparado pelos limites
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polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra), sendo toda
reprodução realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil.
SUMÁRIO
MÓDULO 1
PRODUTOS INORGÂNICOS
1. ÁCIDO SULFÚRICO 9
1.1 UMA BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O ÁCIDO SULFÚRICO 9
1.2 O PROCESSO DE CONTATO: FABRICAÇÃO DO ÁCIDO SULFÚRICO 13
4. SIDERURGIA 55
4.1 HISTÓRICO RESUMIDO 55
4.2 MINÉRIO DE FERRO 57
4.3 REDUÇÃO DO MINÉRIO USANDO OUTROS PROCESSOS 63
4.4 PRODUÇÃO DE AÇO 65
MÓDULO 2
PRODUTOS ORGÂNICOS
5. REFINO DE PETRÓLEO 75
5.1 HISTÓRICO RESUMIDO 75
5.2 PETRÓLEO 76
5.3 REFINO DO PETRÓLEO 77
5.4 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO 78
5.5 PROCESSOS DE CONVERSÃO 81
5.6 PROCESSOS DE TRATAMENTO 83
5.7 PROCESSOS AUXILIARES 85
6. PETROQUÍMICOS E POLÍMEROS 89
6.1 HISTÓRICO RESUMIDO 89
6.2 INDÚSTRIA PETROQUÍMICA 90
ÁCIDO SULFÚRICO 7
1
ácido
sulfúrico 1
Uma breve introdução sobre o ácido sulfúrico
A substância conhecida como ácido sulfúrico (veja Figura 1.1) foi descoberta na Idade
Média pelo alquimista medieval, de origem francesa, Jabir Ibn Hayyann, também
conhecido como GEBER. Entretanto, consta em algumas fontes bibliográficas a infor-
marmação de que o alquimista italiano Ibn Zakariya Al-Razi, que viveu durante o
século IX, seja o descobridor dessa substância.
Segundo o alquimista Al-Razi, o ácido sulfúrico era obtido pela decomposição de
sulfato de ferro (II) heptaidratado (FeSO4·7H2O) e/ou sulfato de cobre (II) pentaidratatdo
(CuSO4·5H2O) em óxido de ferro (II) e de cobre (II), respectivamente, produzindo água
e dióxido ou trióxido de enxofre (SO2 ou SO3). A reação entre a água e o SO2 ou SO3
produz uma solução ácida, devido à formação do ácido sulfuroso ou sulfúrico, respecti-
vamente. O ácido sulfuroso é lentamente oxidado pelo oxigênio do ar a ácido sulfúrico:
ou
ou
ÁCIDO SULFÚRICO 9
Então, em meio aquoso, ocorre a formação de uma solução ácida, como podemos
verificar na representação das seguintes reações químicas:
Como o sulfato de ferro (II) heptaidratado e o sulfato de cobre (II) eram conhecidos
como Vitriolum Goslariense e Copper Vitriol, devido à popularização deste método
de obtenção do ácido sulfúrico, esse ácido ficou conhecido como o nome de Spiritus
Vitrioli (ou liquor vitrioli acidus primus), preparado nos passos que envolviam a for-
mação do dióxido de enxofre e de Oleum Vitrioli (ou liquor vitrioli acidus secundus),
preparado nos passos que envolviam a formação de trióxido de enxofre.
A preparação do ácido sulfúrico utilizando salitre (nitrato de potássio, KNO3) foi
primeiramente descrita por Valentinus, no século XV. Entretanto, em algumas fontes
históricas consta que o cientista Johann Glauver também preparou o ácido sulfúrico
pela queima de enxofre com salitre na presença de fogo, no século XVII. Existem rela-
tos que informam que o farmacêutico Joshua Ward começou em 1736 a produção de
ácido sulfúrico em larga escala, empregando o método proposto por Johann Glauver.
Em 1746, John Roebuck de Birmingham (Inglaterra), introduziu a câmara de
chumbo ao processo de Ward. A vantagem de usar essas câmaras estava no fato de
elas serem fortes, pouco custosas e podiam ser feitas em estruturas maiores que as de
vidros que eram utilizadas anteriormente. Com algumas melhorias, o método permitiu
a industrialização efetiva da produção de H2SO4, tronando-o o método padrão por
aproximandamente dois séculos. Contudo, a solução ácida produzida por esse méto-
do continha somente uma pequena proporção de ácido sulfúrico (teor = 35 – 40 %).
Melhoramentos introduzidos pelos químicos Joseph-Louix Gay-Lussac e John Glover
perminitiram um aumento da concentração para 78 %.
Hoje em dia todo o fornecimento mundial de ácido sulfúrico concentrado é fabri-
cado por meio do processo conhecido como PROCESSO de CONTATO patenteado em
1831, pelo comerciante de vinagre britânico John Roebuck.
O ácido sulfúrico é o produto químico inorgânico de maior produção mundial, sua
produção anual está acima de 4x1010 kg, somente nos Estados Unidos. Pelo baixo custo
do ácido sulfúrico, seu uso é comum na indústria, particularmente para a produção
de fertilizantes, petroquímicos, tintas e detergentes. A fórmula estrutural e de bolas
de uma molécula de ácido sulfúrico é mostrado na Figura 1.1. Podemos observar na
10 QUÍMICA APLICADA
representação da fórmula estrutural, que as distâncias médias de ligações entre os
átomos de enxofre e oxigênio são diferentes, por exemplo, no caso de ligação simples
a distância média de ligação S—O é 157,4 pm (1 picômetro = 10-12 metro) e, no caso de
ligação dupla, a distância média de ligação S = O é 142,2 pm.
O O
142,2 pm
S H
O 157,4 pm O
97 pm
Figura 1.1. Fórmula estrutural do ácido sulfúrico. As bolas na cor vermelha representam os átomos de
oxigênio, na cor branca os átomos de hidrogênio e na cor amarela o átomo de enxofre.
O ácido sulfúrico é um líquido oleoso, sem cor, corrosivo que ferve (e se decompõe)
a 300 ºC. Ele tem três importantes propriedades químicas: é um ácido de BrØnsted for-
te, um agente desidratante e um agente oxidante. Como exemplo de propriedade de-
sidratante, podemos citar a reação entre ácido sulfúrico concentrado com a sacarose.
Ao entrar em contato com o açúcar, o ácido é rapidamente desidratado se decompondo
produzindo uma massa espumosa de coloração negra, que é devido à presença dos
átomos de carbono, representado pela seguinte reação química:
ÁCIDO SULFÚRICO 11
MERCADO BRASILEIRO
DE ÁCIDO SULFURICO
9.000
8.000
7.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1055 1060 1065 1070 1075 1080 1085 1000 1005 2000 2005
PRODUÇÃO CAPACIDADE CONSUMO
A Tabela 1.1 mostra algumas indústrias no Brasil que produzem ácido sulfúrico. Como
podemos observar, as empresas encontram-se nas regiões Sudeste, Norte e Nordeste, sen-
do que a maioria delas está instalada na região Sudeste.
12 QUÍMICA APLICADA
O processo de contato:
fabricação do ácido sulfúrico
Devido ao desenvolvimento da indústria de corantes na Europa no final do século XIX
e início do século XX o processo de contato tornou-se muito importante em virtude da
necessidade de um ácido mais concentrado para a etapa de sulfonação. Na Europa, entre
os anos de 1900 a 1925, foram construídas diversas usinas de produção de ácido sulfúrico
que utilizavam a metodologia de contato, usando como catalisador a platina, a qual foi
substituída em meados dos anos 20 por um composto químico constituído por vanádio.
Basicamente, tal tecnologia envolve as seguintes etapas:
· obtenção do dióxido de enxofre (SO2);
· conversão catalítica do dióxido de enxofre a trióxido de enxofre (SO3);
· absorção do trióxido de enxofre.
ÁCIDO SULFÚRICO 13
Filtro da
secagem
entrada de ar
Torre de
absorção
Torre de
Torre de óleo
Queimador Vapor
de enxofre
Resfriador
do ácido de Resfriador
secagem de óleo
Bomba de óleo
PSO 3
equação 1.12 Kp =
PSO 3 × PO2 1 2
14 QUÍMICA APLICADA
12
10
1/K p 6
0
300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
Temperatura / ºC
Figura 1.4. O inverso da constante de equilíbrio para a reação de formação de trióxido de enxofre em
função da temperatura.
ÁCIDO SULFÚRICO 15
Para se produzir No conversor de quatro etapas, cada estágio apresenta quantidades distintas de cata-
uma tonelada de
ácido sulfúrico 100 lisador, assim temos: 1 estágio – 19 % de catalisador – conversão aproximada de 56 %;
% são necessários: 2 estágio – 25 % de catalisador – conversão aproximada de 87 %; 3 estágio – 26,7 % de
30 kg de enxofre; ~
27 m3 de água; um
catalisador – conversão aproximada de 99,1 % e finalmente no último estágio – 28,9 %
gasto em termos de catalisador – conversão aproximada de 99,7 %.
de eletricidade da
ordem de 10 kWh; Entrada nº 1
consumo de vapor
de 1.000 kg; uma
B
mão-de-obra de
0,18 homens-hora
e finalmente um
custo de aproxima-
damente 5 % do
capital. q A
Saída nº 1
B
B Entrada nº 2
q A
B Saída nº 2
B Entrada nº 3
q A
B Saída nº 3
B Entrada nº 4
q A
B Saída nº 4
Figura 1.5. Típico conversor em quatro etapas produzido pela empresa Monsanto Co, adaptado da ref. 3.
A - Catalizador de vanádio; B - visor; q - suporte de quartzo.
16 QUÍMICA APLICADA
ABSORVEDORES DE SO3: Não se pode absorver o trióxido de enxofre em água, pois o
contato entre essas duas substâncias produz uma névoa ácida difícil de ser absorvida. É de
conhecimento notório que o ácido sulfúrico com concentração de 98,5 - 99,0 % é o agente
mais eficiente para a absorção de trióxido de enxofre. Antes de o gás ser expelido para o
ambiente, ele passa por um sistema com absorvedores de SO3 que contêm esse ácido. A
reação química a seguir representa essa etapa do processo:
A Figura 1.6 ilustra um típico eliminador de névoa do tipo Brink feito em fibra de
vidro. Esse equipamento é usado nas indústrias de ácido sulfúrico durante o processo
de concentração do ácido e nos fumos da chaminé.
Gases puros
Espelho
H2SO4 rec.
ÁCIDO SULFÚRICO 17
ATIVIDADES
18 QUÍMICA APLICADA
Construindo e fixando o conhecimento
1. Uma usina geradora de eletricidade queima óleo cru que contém cerca de 1,5 % de
enxofre em massa. A equação química que representa a formação de dióxido de enxofre
durante a queima do óleo cru é:
S( s ) + O2 ( g ) SO2 ( g )
a) Qual a massa de SO2 formado quando se queima 2,0 kg de óleo cru?
b) Em condições normais de pressão e temperatura (25 ºC e 1,0 atm), qual será o volume
ocupado pelo SO2 formado no item a? Dados: PV = nRT; R = 0,082 m3·atm·kmol-1·K-1
2. SHREVE, R. N., BRINK Jr., J.A.; Indústria de Processos Químicos, vol. Único, trad. 4a
edição; Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, RJ, 1997.
5. DUNN, J. P., STENGER JR, H. G., WACHS, I. E.; Oxidation of sulfur dioxide over suppor-
ted vanadia catalysts: Molecular structure-reactivity relationships and reaction kinetics.
Catalysis Today, 51, 301-318, 1999.
A indústria de soda-cloro constitui uma das maiores tecnologias eletroquímicas do mundo. Por
ser um processo eletrointensivo, classificado como o segundo maior consumidor de eletricidade,
já que, em 2006, foram utilizados 2.400 bilhões de kWh e em 2010, a energia elétrica representou
pouco mais de 45 % do custo total de produção do setor. O consumo específico de energia elétrica
por unidade eletrolítica é bastante significativo e varia de acordo com a tecnologia de produção,
situando-se entre 2,8 MWh/t – 3,6 MWh/t. A Figura 2.1 ilustra o perfil evolutivo do consumo espe-
cífico de energia (MWh por tonelada) pelo setor cloro-soda entre os anos de 2000 a 2010.
3,50
3,30
3,20
3,10
3,00
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Ano
Figura 2.1. Consumo energético em MWh/tonelada de cloro em função do ano. Fonte: Abiclor.
24 QUÍMICA APLICADA
Capacidade Instalada
Mercúrio
15%
Diafragma 22%
Membrana
63%
Processo
Cl2
eletrolítico
Figura 2.3. Fluxograma do processo de produção de cloro e hidróxido de sódio mediante a eletrólise da
solução de cloreto de sódio (NaCl).
Distribuição
Metalurgia
Têxtil
Outros
Papel e Celulose
Sabões/Detergentes
Química/Petroquímica
Exportação
Alimentos
Figura 2.4. Perfil percentual do consumo de soda cáustica em 2010. Fonte: Abiclor.
26 QUÍMICA APLICADA
Fabricação do cloro e da soda cáustica
CÉLULA DE DIAFRAGMA
A representação esquemática do processo de produção de cloro e soda cáustica por meio
da eletrólise de uma solução salina é mostrada na Figura 2.5. A salmoura é introduzida na
região do ânodo e os íons cloretos são oxidados a cloro por meio da passagem de corren-
te entre o cátodo e o ânodo. Os íons de sódio migram do ânodo para o cátodo através da
membrana separadora. No cátodo, ocorre a reação de redução do hidrogênio formando o
gás hidrogênio e NaOH cujas reações são representadas nas equações a seguir:
1 1
Reação Global: NaCl( aq ) + H 2O( l ) → NaOH ( aq ) + 2 H 2 ( g ) + 2 Cl2 ( g ) equação 2.3
Cloro Hidrogênio
Cl2
Salmoura H2
Cl2 H2
Cl2 H2
H 2O Cl2
H2
NaCl NaCl H2
Cl2 Cl2
H2 H2O H+ + OH-
H2O H 2O H2O
H 2O
NaCl NaOH
Na+ H2O H2O H2O
OH- Na+
Na+ Na+ Na+
Na +
NaOH NaCl
NaCl Na+ + Cl- OH- Na+
H2O
Solução resultante
Figura 2.5. Representação esquemática do processo de fabricação de cloro e hidróxido de sódio a partir
da eletrólise da salmoura (solução salina – H2O + NaCl).
As cubas de diafragma produzem aproximadamente três quartos da soda cáustica nos Es-
tados Unidos. Na operação de uma cuba de diafragma típica, o cloreto de sódio ou de potássio,
quase saturado e a aproximadamente 60 - 70 ºC é admitido no compartimento anódico e passa,
através de um diafragma para o compartimento catódico, onde se forma o álcali. O escoamento é
continuamente mantido no diafragma na direção do cátodo, graças a uma diferença de pressão.
A Figura 2.6 mostra o fluxograma típico de uma indústria de produção de cloro e soda
cáustica. A primeira parte do processo de fabricação do cloro e da soda cáustica utilizando
célula de diafragama é a purificação da salmoura. Sendo eliminado inicialmente os íons
cálcio, ferro e magnésio pela adição de carbonato de sódio e hidróxido de sódio à solução
de NaCl. Esse procedimento é útil, pois diminui o entupimento do diafragma, o que poderia
elevar a tensão da célula e, além disso, a adição de NaOH favorece a obtenção de uma soda
cáustica mais pura. Por causa da adição da base é preciso neutralizar a solução utilizando
em geral ácido clorídrico. A salmoura, então, é transferida para as células eletrolíticas para
que possa ocorrer a eletrólise. Cada célula eletrolítica usa de 3,0 a 4,5 V, por isso, são liga-
das em série, para aumentar a voltagem de cada grupo.
O processo de eletrólise apresenta em média uma eficiência da ordem de 50 %, por
isso, a solução de NaOH está contaminada com NaCl, sendo assim, faz-se necessário
recuperar o cloreto de sódio que não foi processado durante a eletrólise. A solução de
NaOH com concentração entre 10 - 12 % é concentrada em um sistema de evaporação
em estágios múltiplos. Esse sistema esta acoplado a um separador de sal e a um sedi-
mentador, então, após passar pelo sedimentador, o sal é levado a um filtro lavador. O
sal é separado da solução de soda cáustica devido à sua baixa solubilidade em solução
de NaOH a 50 %, a qual é de 1 % de NaCl em NaOH. Finalmente, o sal recuperado pode
ser reutilizado na preparação de uma nova solução de NaCl no início do processo.
A soda cáustica a 50 % concentrada que sai do sistema de evaporação em estágios
O cloro úmido não múltiplos e separador pode ser concentrada a 70 - 75 % em outro evaporador de es-
deve ser operado
tágio simples, usando pressões da ordem de 5,0 – 7,0 atm. Mas, durante essa etapa o
em tubulação feita
em ferro ou aço, sistema precisa de tubulação com camisa de vapor, pois pode ocorrer solidificação da
pois ele pode atacar solução dentro da tubulação. Posteriormente, a soda cáustica pode seguir para tanques
esses metais. Por
isso, nessa fase do de sedimentação ou para o sistema de produção de escamas, ou seja, as escamadeiras.
processo o ideal No outro lado, o cloro que sai da parte superior da célula eletrolítica está arras-
é trabalhar com
materiais mais tando com ele vapor de água. Para retirar a água do gás cloro primeiramente, o gás é
resistentes, tais resfriado o que favorece a condensação da maior parte do vapor de água, contudo, ele
como: poliéster
ou PVC (cloreto de ainda apresenta uma quantidade muito grande de água, para deixá-lo seco é preciso
polivinilo). passar o cloro em um sistema de torre que contém ácido sulfúrico, um agente desidra-
tante, que vai retirar toda a umidade do gás cloro.
28 QUÍMICA APLICADA
Célula Evaporadores a
eletrolítica múltiplos efeitos Filtro
Lavagem
Aquecedor Depósito Aquecedor
da salmoura Reagentes Separador
da salmoura da salmoura
Salmoura NaOH NaCl
diluída
H2SO4 NaOH
Saída de Resfriador Vapor concentrada
Torre Ca e Mg do cloro
Saída do
Secagem
Resíduo Cristalizador
Tambor de
H2SO4 expansão
Caldeirão de
acabamento Tanque de
sedimentação
Cloro liquefeito Escamadeira
Vapor
Figura 2.6. Fluxograma do processo de fabricação de cloro e soda cáustica, adaptado da ref. 1.
CÉLULA DE MERCÚRIO
A Figura 2.7 ilustra uma célula de mercúrio, em geral a célula é feita em aço na sua parte
inferior com lados de borracha revestidas em aço. A célula apresenta 5 pontos de entrada
e saída de reagentes e produtos os quais são: saída e entrada da solução de salmoura,
entrada de mercúrio e a saída de amalgama de Hg-Na, e saída do gás cloro produzido no
ânodo. Os eletrodos na parte superior da célula são chamados ânodos e são ajustáveis e o
mercúrio (que forma o cátodo da célula) flui na parte inferior com um ângulo de inclina-
ção. A corrente flui a partir do fundo de aço para o mercúrio.
A salmoura (NaCl + H2O) entra na extremidade superior e entra em contado com o
ânodo, o qual pela aplicação de uma diferença de potencial eletrolisa os íons cloretos pro-
duzindo o gás cloro, que flui a partir da porção superior da calha e então sai. Os íons de
sódio presentes em solução migram para o cátodo e reagem com o mercúrio para formar
amálgama de sódio (uma liga de mercúrio e de sódio), que flui para fora da célula pela
extremidade inferior dentro de um tanque cilíndrico vertical. Entre 0,25 % a 0,5 % de
amálgama de sódio é produzida na célula. As seguintes reações químicas para o processo
são apresentadas por meio das equações a seguir:
Por sua vez, o amálgama de sódio-mercúrio que sai da primeira célula eletrolítica
entra em uma segunda célula eletrolítica (célula secundária) em que agora o amál-
gama torna se o ânodo e o outro eletrodo (cátodo) em geral é feito em aço (ou ferro)
ou grafita. Para que a reação de formação de hidróxido de sódio ocorra é injetado em
contracorrente água purificada. O gás hidrogênio formado no cátodo, saturado com
vapor de água, sai pela parte superior, juntamente com os vapores de mercúrio. A soda
cáustica então flui para fora da célula com uma concentração entre 40 - 50 %. Para
se aumentar a concentração do NaOH é preciso aumentar a temperatura de operação
da segunda célula. Em temperaturas acima de 100 ºC é possível obter uma solução de
hidróxido de sódio com concentração entre 70 - 75 %.
Algumas células são concebidas com saída de cloro e escoamento de anólito a
partir da caixa final, que são separadas no tanque de salmoura esgotada. O mercúrio,
a partir da decomposição, é bombeado de volta para a primeira célula. A seguir são
apresentadas as equações que representam as reações químicas para a segunda célula:
30 QUÍMICA APLICADA
O gás de hidrogênio que é formado a partir das células de cloro-álcali é normal-
mente utilizado para a produção de ácido clorídrico ou utilizado como combustível
para produzir vapor. No caso do hidrogênio, produzido pelas células de mercúrio, o
mesmo precisa primeiramente ser purificado através do processo de congelamento
(resfriamento), porque apresenta contaminação por mercúrio. Durante o resfriamento
o mercúrio é separado do gás e, então pode ser devolvido para a primeira célula ele-
trolítica. Esse processo não é suficiente para remover todo o mercúrio presente no gás,
assim, em geral, o hidrogênio passa por um tratamento secundário para remover o
traço de mercúrio que ainda persiste. Esse tratamento consiste em passar o hidrogênio
em uma coluna contendo peneira molecular. Finalmente, o gás hidrogênio é compri-
mido em cilindro.
Em casos especiais, em virtude da solicitação de hidrogênio quase puro que con-
tém pequenas quantidades de oxigênio, algumas plantas podem aquecer o hidrogênio
sobre um catalisador de platina (para remover o oxigênio por reação com o hidrogênio
para formar água), e assim, obter um gás hidrogênio altamente puro.
Entre as décadas de 1930 e 1960, várias toneladas de resíduos de mercúrio foram
despejadas na Baía de Minamata, no Japão. Milhares de pessoas que viviam ao seu
redor foram envenenadas por metilmercúrio em virtude do consumo de peixe conta-
minado. As vítimas sofreram severos danos neurológicos, que mais tarde ficou conhe-
cido como Doença de Minamata. Ao todo, milhares de pessoas foram atingidas e mais
de 900 morreram.
Cloro
Ânodo (+)
Salmoura
Saída de
salmoura Hg e Na
Hg e Na
Hg saída
entrada
A CÉLULA DE MEMBRANA
A Figura 2.8 mostra uma montagem esquemática de uma célula eletrolítica baseada na
tecnologia de membrana polimérica. Como podemos observar, numa célula de mem-
brana, uma membrana que troca íons separa o compartimento anódico do compar-
timento catódico. A membrana separadora é formada geralmente por uma estrutura
em forma de bi-camada feita de ácido perfluorocarboxílico ou perfluorossulfônico,
formando um “sanduíche” entre o ânodo e o cátodo. A solução salina saturada é in-
troduzida no compartimento anódico, onde o cloro, por sua vez, é liberado. Então, os
íons de sódio migram para o compartimento catódico. Ao contrário das células de dia-
fragma, apenas os íons de sódio e água migram através da membrana. Os íons cloreto,
que não sofreram a reação de oxidação no ânodo, e os demais íons inertes presentes
em solução permanecem na região anódica sem atravessar a membrana.
Soda cáustica diluída (32 %) é introduzida no compartimento cátodo, onde os íons
de sódio reagem com os íons hidroxilas, produzidos durante a reação de formação e
desprendimento de gás hidrogênio pela redução das moléculas de água. Assim, a con-
centração da solução inicial de soda cáustica a 32 % fica mais concentrada em virtude
da formação de mais moléculas de hidróxido de sódio (soda cáustica), ou seja, a con-
centração da solução de soda cáustica passa a ser de aproximadamente 35 %. O gás hi-
drogênio umidificado sai do compartimento catódico pela parte superior. Uma parte do
produto de soda cáustica é retirada do compartimento catódico e vai para o sistema de
evaporação e a outra parte é diluída para 32 % e retorna para o compartimento catódico.
A Tabela 2.3 ilustra a comparação em relação ao consumo de energia e eficiência
das diferentes tecnologias usadas para produção de cloro e soda.
32 QUÍMICA APLICADA
Ânodo
Cloro Hidrogênio
Cátodo
e e
Cl- OH
H2O
NaCl
Figura 2.8. Esquema da célula eletrolítica usando membrana para separa ânodo e cátodo
Tabela 2.3. Comparação entre as diferentes tecnologias para produção de cloro e soda cáustica.
Diafragma Membrana Mercúrio
Densidade de corrente de operação
0,9 – 2,6 3,0 – 5,0 8,0 – 13,0
(kA/m2)
NaOH (% m/m) 12 33 – 35 50
.Concentração de soda
cáustica menor que no
processo de mercúrio;
.As matérias-primas
precisam ser de
alta pureza;
Diagrama 2.1. Relação de vantagens e desvantagens do uso das células de eletrólise com membrana polimérica
Tabela 2.3. Comparação entre as diferentes tecnologias para produção de cloro e soda cáustica.
Diafragma Membrana Mercúrio
Densidade de corrente de operação
0,9 – 2,6 3,0 – 5,0 8,0 – 13,0
(kA/m2)
NaOH (% m/m) 12 33 – 35 50
34 QUÍMICA APLICADA
Entretanto, os eletrodos de grafite apresentavam um grande problema durante
longos tempos de operação nas células eletrolíticas, ou seja, as placas de grafite so-
friam desgastes constantes o que resultava em um aumento da sobretensão da célula,
devido ao aumento da distância ânodo-cátodo, o que leva a um aumento do custo
de operação. Para sanar o problema, a produção tinha que ser interrompida para que
os eletrodos fossem ajustados a uma distância adequada de operação. Isso motivou
a busca de eletrodos com estruturas mais resistentes ao desgaste, assim, os ânodos
dimensionalmente estáveis, ADE® (do inglês, Dimensionally Stables Anode, DSA®)
foram desenvolvidos para substituir os eletrodos de grafite. O metal platina e suas
ligas tais como: Pt/Ir ativando titânio apresentavam excelente resistência à corrosão
durante longos períodos de eletrólise com solução de salmoura. No entanto, esses
ânodos ainda apresentavam um tempo de vida útil curto e um custo elevado, devido à
utilização de platina e irídio (metais nobres).
A história dos eletrodos conhecidos como ânodos dimensionalmente estáveis, se
funde com a importância da utilização do RuO2 como material eletroativo que recobre
a superfície do eletrodo. Os trabalhos que relatam essa história podem ser verificados
numa série de artigos produzidos por Trasatti e Hayfield. A primeira patente dos ADE®
apareceu em 1965 e uma segunda em 1967 e foram propostas por Henri Bernard Beer
que revolucionaram a indústria de cloro-álcali.
Nessas patentes, Beer descreve o método de preparação dos eletrodos pela técnica
de decomposição térmica de precursores de cloretos sobre um substrato de titânio, o
qual ficava revestido com os óxidos do grupo da platina ou óxidos metálicos não no-
bres, tais como: TiO2, SnO2, etc. Estes ânodos foram inicialmente usados em células de
mercúrio da Denora, e exibiram baixa tensão da célula e uma vida longa.
Consequentemente, ao longo dos anos, a maioria das plantas que utilizavam a
tecnologia das células de diafragma em todo o mundo, foi convertida para estes tipos
de eletrodos como ânodo. A Figura 2.9 ilustra alguns tipos de eletrodos utilizados
atualmente nas diferentes células.
Tabela 2.5. Determinações e metodologias usadas na verificação da qualidade do produto soda cáustica.
Determinações Método
Ferro Espectrofotométrico visível
Carbonato Potenciométrico e Volumétrico*
Teor de clorato Volumétrico
Taxa de sulfato (Na2SO4 < 0,05 % /massa) Volumétrico
Alcalinidade total (% NaOH e Na2O) Espectrofotométrico/Volumétrico
Mercúrio (0,05 até 10 mg/kg) Absorção atômica por Ccama
Espectrofotométrico visível com molibdato
Sílica (SiO2 < 10 mg/kg)
de amônio
*Titulação com solução padronizada de HCl.
Fonte: Abiquim; ABNT.
36 QUÍMICA APLICADA
ATIVIDADES
2. Explique por que a célula de mercúrio está sendo retirada do mercado e em seguida
descreva quais são os problemas relacionados a esse tipo de tecnologia.
5. Descreva quais são os materiais que revestem os eletrodos que são colocados no com-
partimento anódico em uma célula de diafragma. Qual é a função deste material durante
a eletrólise da salmoura?
Referências
1. SHREVE, R. N., BRINK Jr., J.A.; Indústria de Processos Químicos, vol. Único, trad. 4ª. edição;
Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, RJ, 1997, 717p.
2. WONGTSCHOWSKI, P.; Indústria Química – riscos e oportunidades, 2ª. Edição revista e am-
pliada; Edgard Blücher LTDA; São Paulo, SP, 2002, 306p.
5. http://www.abiquim.org.br
6. http://electrochem.cwru.edu/encycl/art-b01-brine.htm
7. BOMMARAJU, T. V.; OROSZ, P. J.; SOKOL, E. A. Brine Electrolysis. Process Technology Op-
timization, Inc. New York, NY, 2007.
9. TRASATTI, S. Physical Electrochemistry of Ceramic Oxides. Electrochim. Acta 1991, 36, 225-
241.
10. HAYFIELD, P. C. S. Development of the Noble Metal/Oxide Coated Titanium Electrode. Part
I: The Beginning of the Story. Platin. Met. Rev. 1998, 42, 27-33.
11. HAYFIELD, P. C. S. Development of the Noble Metal/Oxide Coated Titanium Electrode Part
II: The Move to Platinum/Iridium to Ruthenium Oxide Electrocatalyst. Platin. Met. Rev. 1998,
42, 46-55.
12. HAYFIELD, P. C. S. Development of the Noble Metal/Oxide Coated Titanium Electrode Part
III: Coated Titanium Anodes in Widely Ranging Oxygen Evolving Situations. Platin. Met. Rev.
1998, 42, 116-122.
14. BEER, H. B. Electrode for Use in Electrolytic Process, British Patent, 1,195,871, 1967.
15. http://www.denora.com.br.
17. O’BRIEN, T. F.; BOMMARAJU, T. V., HINE, F. Handbook of Chlor-Alkali Technology, Sprin-
ger, New York, NY, 2005.
40 QUÍMICA APLICADA
indústria cerâmica
e de cimento 3
Indústria cerâmica
Os primeiros registros do uso de materiais cerâmicos são milenares e remetem ao
antigo Egito e a China, há cerca de 5000 anos a.C. Dentre os antigos fragmentos
cerâmicos encontrados por arqueólogos, podemos destacar a cerâmica vidrada que
trazia o nome do rei Mens do Egito e o túmulo do imperador Qin Shihuang e seus
soldados de terracota. Outras civilizações que apresentaram registros importantes
na história da cerâmica foram os babilônios e os assírios, que no século VI a.C. utili-
zavam a cerâmica com ladrilhos esmaltados em azul, cinza azulado e creme e ainda
relevos decorados, bem como os persas, por meio da fabricação de objetos em argila
cozida em alto brilho e das cores obtidas misturando óxido metálico, método ainda
usado atualmente. Ao longo dos tempos, a cerâmica foi evoluindo e ganhando os
nossos dias, mas não sem contar com os esforços dos gregos, romanos, chineses,
ingleses, italianos, franceses, alemães e americanos, que apesar de possuírem uma
tecnologia em decoração avançada para a época, apresentavam uma produção ba-
sicamente artesanal.
Assim, por muitos séculos os materiais cerâmicos foram sinônimos de produtos
luxuosos e exclusivos. Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, a produção de
produtos cerâmicos, tais como: lajota e azulejos, apresentou um desenvolvimento
industrial considerável com o advento das técnicas de produção. A possibilidade de
produzir em escala industrial baixou os preços e os tornou acessíveis a grande parte
da população. Na fase final desse período, os revestimentos cerâmicos foram usados
principalmente para satisfazer necessidades funcionais, tais como de higiene e de
limpeza e desse modo, empregados em banheiros e cozinhas. Com a evolução rápida
do processo produtivo, a cerâmica passou a ser uma opção para outros ambientes
domésticos.
No Brasil, o uso de materiais cerâmicos teve início no século XVII, com a im-
portação de azulejos em estilo barroco, de Lisboa. Esse uso se intensificou no século
XIX, devido à dependência cultural, econômica e política de Portugal. Do mesmo
modo que em Portugal, no Brasil o revestimento cerâmico tinha um alto custo, sen-
do aplicado, em sua maioria, nos interiores das construções.
Atualmente, o Brasil é um grande produtor de revestimento cerâmico e a indús-
tria cerâmica brasileira tem grande importância para o país, tendo participação no
PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS
Várias são as matérias-primas usadas na produção dos diversos segmentos da in-
dústria cerâmica, no entanto, a argila, o feldspato e a areia são as principais maté-
rias usadas na fabricação dos produtos clássicos.
As argilas são silicatos de alumínio hidratados, formados pela ação do intempe-
rismo nas rochas ígneas. Elas podem ser encontradas próximos a rios, muitas vezes
formando barrancos nas margens e apresentam-se nas cores branca e vermelha. A
argila forma uma família de minerais filossilicáticos hidratados, aluminosos de bai-
xa cristalinidade e diminutas dimensões (partículas menores do que 1/256 mm ou 4
µm de diâmetro), composta pela caulinita (Al2O3·2SiO2·2H2O), montmorilonita ((Mg,
Ca)O·5SiO2·nH2O), ilitas (K2O, MgO, Al2O3, SiO2, H2O todas em proporções variáveis),
dentre outras. Apresentam-se geralmente estáveis, nas condições termodinâmicas e
geoquímicas da superfície terrestre ou de crosta rasa.
Do ponto de vista cerâmico, as argilas são plásticas e moldáveis quando suficien-
temente fragmentadas e úmidas. Por outro lado, são rígidas quando secas, e vitrosas
quando queimadas em temperaturas elevadas. Em quase todas as argilas usadas na
indústria de cerâmica, o mineral básico é a caulinita, embora às vezes se use a bento-
nita, cuja base é a montmorilonita, quando se deseja uma maior plasticidade. Como as
argilas apresentam uma grande variação de suas propriedades físicas e na quantidade
de impurezas (quantidades variáveis de feldspato, quartzo, óxidos de ferro, etc.) que
contêm, é necessário realizar um processo de beneficiamento das mesmas.
Geralmente, esse beneficiamento refere-se às operações unitárias de natureza fí-
sica, tais como a separação granulométrica por peneiramento ou decantação seleti-
va, filtração e secagem. A purificação química também pode ser usada para produzir
42 QUÍMICA APLICADA
materiais de elevada pureza, como a alumina e o óxido de titânio.
O feldspato é o principal fundente empregado nas formulações cerâmicas. Ele
pode estar presente na argila da jazida ou pode ser adicionado conforme a neces-
sidade. Os três tipos mais comuns de feldspatos usados na produção de produtos
cerâmicos são os potássicos (K2O·Al2O3·6SiO2), os sódicos (Na2O·Al2O3·6SiO2) e os
cálcicos (CaO·Al2O3·6SiO2). A seguir, apresenta-se a equação referente a reação quí-
mica de formação da caulinita a partir de um feldspato potássico:
Além dos três minerais descritos anteriormente, diversos outros componentes são
usados na produção de cerâmicas, tais como: os fundentes — bórax (Na2B4O7·10H2O);
barrilha (Na2CO3); fluorita (CaF2); óxido de chumbo; óxido de ferro; dentre outros
e os refratários — alumina (Al2O3); magnesita (MgCO3); calcário (CaCO3); dolomita
(CaMg(CO3)2); dentre outros.
Para exemplificar essas conversões a principal reação química que ocorrem durante
o aquecimento da caulinita (que é uma das argilas mais usada na produção de materiais
Na prática, uma massa cerâmica real contém muito mais ingredientes e, por-
tanto, as reações químicas envolvidas são muito mais complicadas, já que existirão
outras espécies presentes no produto final. Assim, qualquer corpo cerâmico é com-
posto por uma matriz vitrificada e cristais de mulita e cristobalita. Essa matriz vi-
trificada é formada pelo processo de vitrificação durante o aquecimento, e este grau
de vitrificação depende das quantidades relativas de óxidos refratários e de óxidos
fundentes presentes na composição, da temperatura e do tempo de aquecimento.
A fase de vitrificação é muito importante no processo de produção de materiais
A presença
de compostos cerâmicos, uma vez que atua como ligante na porcelana e atribui-lhe transparência.
fundentes Contudo, uma vitrificação muito intensa destrói a qualidade dos refratários.
tende a baixar a
temperatura de A partir do grau de vitrificação, ou a progressiva redução da porosidade, é pos-
formação da mulita. sível classificar os produtos cerâmicos em:
· diversos graus de vitrificação: cerâmicas brancas;
· pouca vitrificação: produtos estruturais de cerâmica, também conhecidos como
cerâmica vermelha;
· pouca vitrificação: refratários;
· vitrificação completa: esmaltes e vidros.
44 QUÍMICA APLICADA
Indústria de cimento
O cimento é um material cerâmico que, em contato com a água, produz uma rea-
ção exotérmica de cristalização de produtos hidratados, ganhando assim resistência
mecânica. A palavra cimento é originada do latim caementu, que designava na
velha Roma uma espécie de pedra natural de rochedos não esquadrejada. A origem
do cimento remonta há cerca de 4500 anos. Os imponentes monumentos do Egito
antigo já utilizavam uma liga constituída por uma mistura de gesso calcinado. As
grandes obras gregas e romanas, como o Panteão e o Coliseu, foram construídas
com o uso de solos de origem vulcânica da ilha grega de Santorino ou das proximi-
dades da cidade italiana de Pozzuoli, que possuíam propriedades de endurecimento
sob a ação da água.
O grande passo no desenvolvimento do cimento foi dado em 1756 pelo inglês
John Smeaton, que conseguiu obter um produto de alta resistência por meio de cal-
cinação de calcários moles e argilosos. Em 1818, o francês Vicat obteve resultados
semelhantes aos de Smeaton, pela mistura de componentes argilosos e calcários. Ele
é considerado o inventor do cimento artificial. Em 1824, o construtor inglês Joseph
Aspdin queimou conjuntamente pedras calcárias e argila, transformando-as num
pó fino. Percebeu que obtinha uma mistura que, após secar, tornava-se tão dura
quanto às pedras empregadas nas construções. A mistura não se dissolvia em água
e foi patenteada pelo construtor no mesmo ano, com o nome de cimento Portland,
que recebeu esse nome por apresentar cor e propriedades de durabilidade e solidez
semelhantes às rochas da ilha britânica de Portland.
No Brasil, a primeira tentativa de aplicar os conhecimentos relativos à fabrica-
ção do cimento Portland ocorreu aparentemente em 1888, quando o comendador
Antônio Proost Rodovalho empenhou-se em instalar uma fábrica em sua fazenda
em Santo Antônio, em São Paulo. Posteriormente, várias iniciativas esporádicas de
fabricação de cimento foram desenvolvidas, como a pequena instalação produtora
que chegou a funcionar durante três meses em 1892 na ilha de Tiriri, na Paraíba e a
usina de Rodovalho que operou de 1897 a 1904, voltando em 1907 e extinguindo-se
definitivamente em 1918. Em Cachoeiro de Itapemirim , o governo do Espírito San-
to fundou, em 1912, uma fábrica que funcionou até 1924, sendo então paralisada,
voltando a funcionar em 1936, após modernização.
Todas essas etapas não passaram de meras tentativas que culminaram, em 1924,
com a implantação, pela Companhia Brasileira de Cimento Portland, de uma fábrica
em Perus, município localizado no estado de São Paulo, cuja construção pode ser
considerada como o marco da implantação da indústria brasileira de cimento. As
primeiras toneladas foram produzidas e colocadas no mercado em 1926. Até então,
o consumo de cimento no país dependia exclusivamente do produto importado. A
46 QUÍMICA APLICADA
dimensão dos grânulos fique compreendida entre 3 e 30 mm. Simultaneamente à
moagem ocorre um processo de adição de outros materiais: areia (SiO2), cinzas de
pirite (Fe2O3), e bauxite (Al2O3), de forma a obter as quantidades pretendidas dos
compostos que constituem o “cru”: cálcio, sílica, alumínio e ferro, essenciais para
o fabricação do cimento. A moagem do “cru” pode ser realizada em um moinho de
bolas. Os silos de armazenagem do material moído e da farinha crua também têm a
função de homogeneização, que é muito importante para a economia de energia e
um fator determinante para qualidade do produto final.
Depois da moagem do “cru” vem a operação de cozedura ou clinquerização,
que origina, por reações químicas complexas, um produto granulado denominado
clínquer. Antes do “cru” dar entrada no forno, ele tem que ser progressivamente
aquecido até à temperatura de 850 - 900 ºC. Esse processo de aquecimento ocorre
na torre de ciclones que é constituída por vários ciclones sobrepostos verticalmente,
em que cada um, é constituído por um cilindro e um cone na parte inferior, con-
forme esquematizado no desenho da Figura 3.2. O ar quente e poeiras provenientes
do forno entram pela parte superior do ciclone inferior segundo uma tangente ao
cilindro. Devido à configuração do ciclone, as partículas precipitam através da parte
inferior enquanto que o ar quente parcialmente purificado escapa pela parte supe-
rior, passando ao ciclone imediatamente acima onde ocorre o mesmo processo até
que, no último ciclone, o gás é liberado a uma temperatura de 900 ºC arrastando
consigo, uma quantidade mínima de poeiras encaminhado-as para os eletrofiltros.
Gás
Poeiras e
gases quentes
Poeiras
ATIVIDADES
50 QUÍMICA APLICADA
Construindo e fixando o conhecimento
1. Explique por que os produtos cerâmicos foram considerados por muitos séculos ma-
térias de exclusividade e luxo e em seguida descreva os fatos que possibilitam a quebra
desse paradigma.
3. VAN VLACK, L. H. Propriedades dos materiais cerâmicos. Ed. Edgard Blücher LTDA., São
Paulo, 1973, 318p.
Figura 4.1. Fornalha pré-histórica encontrada no Parque Kruger, África. Fonte: http://blogdaprehistoria.
blogspot.com/ - acessado em 20/12/2011
Os fornos mais antigos já encontrados datam do ano 500 a.C. nas Ilhas Britânicas
e na Alemanha. Fornos de processos mais evoluídos foram encontrados na Índia e
Japão por volta de 500 d. C. A Europa na Idade Média já considerava de extrema im-
portância comercial a produção do ferro. A “forja catalã” era extensivamente utilizada
nessa época para a redução direta do minério de ferro, que produzia um material duro
e quebradiço, usado na produção de armas brancas pesadas de difícil manejo.
SIDERURGIA 55
Apenas ao redor do ano 1450 se começou a produção de um intermediário denomi-
nado ferro gusa, pois era possível se alcançar maiores temperaturas durante o processo.
Assim o ferro absorvia maior quantidade de carbono, oriunda do carvão vegetal, que
escorria de forma mais fluida, permitindo um manuseio melhor. A posterior oxidação
do ferro gusa permitia a obtenção de um aço de melhores propriedades mecânicas, o
que permitiu a fabricação de armas brancas mais leves, além de armas de fogo, como
os canhões. Data do ano de 1640 o uso do primeiro alto-forno para a produção de ferro
gusa. Apesar do grande avanço tecnológico trazido pelo domínio da siderurgia nessa
época, a necessidade de usar 4 kg de carvão vegetal para a produção de 1 kg de ferro
causou uma enorme devastação das florestas. Isso fez a madeira aumentar muito de
preço além de provocar restrições legais em relação a exploração da madeira.
Contudo, em 1710, na Inglaterra, surgiu o uso do coque, que é um derivado do
carvão mineral, como substituto ao carvão vegetal. Isto gerou um novo e importante
impulso na siderurgia. Porém, foi com a chegada da máquina a vapor, em 1870, que
a siderurgia se tornou uma das mais importantes atividades econômicas e industriais
dos países civilizados e esse parâmetro é usado até hoje para medir o grau de desen-
volvimento de um país.
No Brasil, o primeiro grande fato relacionado à siderurgia ocorreu em 1812 com
a primeira corrida brasileira de ferro gusa realizada na Vila de Congonhas - MG que
atingiu seu auge quando da inauguração da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
que possuía o único alto-forno do país em Volta Redonda – RJ. Atualmente, o parque
siderúrgico brasileiro é composto de 27 usinas, administradas por oito grupos em-
presariais: ArcelorMittal Brasil, Gerdau, CSN, Usiminas, SINOBRAS, V&M do Brasil,
Villares Metals e Votorantim Siderurgia.
56 QUÍMICA APLICADA
Minério de ferro
O ferro é encontrado na natureza, principalmente, na forma de óxido, embora possa
também ser encontrado como carbonatos e sulfetos, em menor ocorrência e até, ra-
ramente, na forma nativa. O ferro é o segundo metal de mais abundante, perdendo
apenas para o alumínio. Os minérios de ferro são:
Magnetita: óxido de ferro cuja fórmula química é Fe3O4 (mais especificamente FeO.
Fe2O3), com um teor nominal de ferro de 72,4 %, porém com teor real da ordem de 50
a 70 %. Essa diferença se deve a presença de ganga no minério. Este tipo de minério
apresenta coloração cinza escura a negra, bem como propriedades magnéticas, uma
vantagem tecnológica que torna mais fácil a concentração deste tipo de minério nas
etapas de beneficiamento.
Hematita: óxido de ferro cuja fórmula química é Fe2O3, com um teor nominal de Ganga corresponde
a todos os outros
69,5% de ferro, mas um teor real na faixa de 45 a 68 %. É o tipo mais comum de
minerais encontra-
minério de ferro e apresenta coloração avermelhada. dos no minério que
não têm interesse
comercial. Geral-
Limonita: composta, principalmente, de hematita hidratada, cuja fórmula química mente, a ganga
é Fe2O3·H2O, podendo conter de 1 a 3 moléculas de hidratação, portanto seu teor é prejudicial à
economicidade da
nominal de ferro também pode variar. O teor real de ferro encontra-se na faixa lavra por diminuir
de 20 a 50 % de ferro e apresenta uma coloração marrom, sendo considerado um o teor, dificultar
a extração ou o
minério relativamente pobre em ferro. beneficiamento do
minério.
Siderita: composta por FeCO3 com um teor nominal de 48,3 % de ferro e um teor
real variando de 10 a 40 % de ferro. Minério de baixa ocorrência, normalmente
associado à hematita.
SIDERURGIA 57
1) Calcinação a 800 °C, para a desidratação da limonita
o
C
equação 4.1 Fe2O3 .H 2O( s ) 800
→ Fe2O3( s ) + H 2O( g )
e a calcinação da siderita
o
C
equação 4.2 FeCO3( s ) 800
→ FeO( s ) + CO2 ( g )
58 QUÍMICA APLICADA
Figura 4.2 Esquema de um alto-forno mostrando a distribuição de temperatura e as principais reações
em cada parte
SIDERURGIA 59
inertes da ganga saindo pela parte superior do alto-forno por carreamento dos gases
produzidos. Os gases saem na parte superior do alto-forno a 300 °C e seus principais
componentes são CO2 e CO, sendo a proporção de CO/CO2 da ordem de 2 a 3. Esses gases
são, geralmente, aproveitados no pré-aquecimento do ar a ser insuflado no alto-forno.
REAÇÕES NO ALTO-FORNO
A redução do minério de ferro em um alto-forno ocorre durante a queda da carga só-
lida, ou seja, ao redor de 10 segundos. A redução é realizada por uma série de reações
de acordo com a zona do forno (temperatura) alcançada.
A zona de redução indireta está localizada na parte superior do alto-forno e possui
temperaturas na faixa de 100 a 700 °C. Nessa zona, praticamente toda a hematita é
reduzida a magnetita, conforme reação química apresentada na equação 4.5:
o
C
equação 4.5 6 Fe2O3( s ) + C( s ) 500
→ 4 Fe3O4 ( s ) + CO2 ( g )
A zona de redução direta está situada a cerca de meia altura do alto-forno e possui
temperaturas da ordem de 700 a 1500 °C. Nessa zona, a magnetita é reduzida a ferro
metálico esponjoso, conforme a reação química apresentada na equação 4.6:
.000 º C
equação 4.6 Fe3O4 ( s ) + 4C( s ) 1 → 3Fe( s ) + 4CO( g )
.530 º C
equação 4.7 Fe( s ) 1 → Fe(l )
.800 º C
equação 4.8 2C( s ) + O2 ( g ) 1 → 2CO( g )
60 QUÍMICA APLICADA
A redução direta da segunda etapa é uma síntese de redução intermediária da
magnetita (Fe3O4) à wustita (FeO) que posteriormente é reduzida a ferro, conforme as
reações químicas representadas nas equações 4.9 e 4.10:
.000 º C
Fe3O4 ( s ) + C( s ) 1 → 3FeO( s ) + CO( g ) equação 4.9
o
.000 C
3Fe2O( s ) + 3C( s ) 1 → 3Fe3 + 3CO( g ) equação 4.10
com ΔH = +105 kcal·mol-1 e ΔG = -33 kcal·mol-1. A soma das etapas (eq. 4.7 e eq. 4.8),
de acordo com a lei de Hess, permite obter os produtos representados na eq. 4.6.
Um segundo mecanismo que poderá acontecer na zona de redução direta corres-
ponde à formação de CO2 intermediário, conforme as reações químicas representadas
nas equações 4.11, 4.12 e 4.13:
.000 º C
2 Fe3O4 ( s ) + C( s ) 1 → 6 FeO( s ) + CO2 ( g ) equação 4.11
.000 º C
6 FeO( s ) + 3C( s ) 1 → 6 Fe( s ) + 3CO2 ( g ) equação 4.12
.000 º C
4CO2 ( g ) + 4C( s ) 1 → 8CO( g ) equação 4.13
A soma das três equações anteriores, segundo a lei de Hess, também produzirá
a reação química representada na equação 4.6. De forma idêntica, a reação química
representada na equação 4.8 pode ser desdobrada nas reações químicas representadas
pelas equações 4.14 e 4.15:
.800 º C
C( s ) + O2 ( g ) 1 → CO2 ( g ) equação 4.14
.800 º C
CO2 ( g ) + C( s ) 1 → 2CO( g ) equação 4.15
.000 º C
Fe3O4 ( s ) + 4CO( g ) 1 → 3Fe( s ) + 4CO2 ( g ) equação 4.16
.000 º C
4CO2 ( g ) + 4C( s ) 1 → 8CO( g ) equação 4.17
SIDERURGIA 61
Novamente, a soma dessas duas equações, de acordo com a lei de Hess, deverá
produzir a reação química representada na equação 4.6.
Todas essas reações mostradas até agora são classificadas como as reações princi-
pais de um alto-forno. Porém, também podem ocorrer reações secundárias, dentre as
quais merecem destaque a calcinação do fundente, representada por meio das equa-
ções 4.18, 4.19 e 4.20, e a redução paralela dos óxidos de silício e manganês da ganga,
pelas equações 4.21 e 4.22, respectivamente:
.000 º C
equação 4.18 CaCO3( s ) 1 → CaO( s ) + CO2 ( g )
.000 º C
equação 4.19 CO2 ( g ) + C( s ) 1 → 2CO( g )
.000 º C
equação 4.20 CaCO3( s ) + C( s ) 1 → CaO( s ) + 2CO( g )
.800 º C
equação 4.21 SiO2 ( s ) + 2C( s ) 1 → Si(l ) + CO( g )
.800 º C
equação 4.22 MnO( s ) + C( s ) 1 → Mn(l ) + CO( g )
62 QUÍMICA APLICADA
Redução do minério usando
outros processos
Sem dúvida, a redução utilizando um alto-forno é o principal processo de produção
de ferro, contudo, muitas vezes este tipo de instalação é inviável, pois requer gran-
des áreas e enormes investimentos. Buscando-se alternativas surgiram os chamados
processos diretos, alguns produzindo ferro gusa e outros produzindo ferro sólido de-
nominado ferro esponja. Porém, esses processos correspondem apenas a uma parcela
pequena da produção de ferro e aço. Os principais processos não-convencionais para
a redução de minério de ferro são apresentados a seguir.
PROCESSO WIBERG-SÖDEFORS
O processo Wiberg-Södefors foi desenvolvido em 1918 na cidade de Södefors na Suécia
por Martin Wiberg e baseia-se na redução direta do minério de ferro para obtenção
do ferro esponja, o que permite que as temperaturas envolvidas no processo sejam da
ordem de 1000 °C, bem menores que as temperaturas máximas atingidas no alto-forno
(1800 °C). Nesse processo são usados dois agentes redutores: o gás hidrogênio (H2) e o
monóxido de carbono (CO), na proporção de 1:2, respectivamente. Os gases redutores
são formados em uma torre adjacente chamada carburator que é aquecida eletricamente
usando dois eletrodos de grafita. O carburator é alimentado por coque com alto teor de
enxofre (baixa qualidade) que reage com vapor de água a 1100 °C para produzir os gases
redutores conforme apresentado por meio da equação 4.23:
.100 º C
C( s ) + H 2O( g ) 1 → H 2 ( g ) + CO( g ) equação 4.23
SIDERURGIA 63
Os gases redutores produzidos são conduzidos a uma coluna de dolomita quei-
mada, para retirada do enxofre que estava contido no coque. Esse enxofre reage com
o hidrogênio formado pela reação representada pela equação 4.23 formando ácido
sulfídrico, H2S, que reage com o cálcio da dolomita formando CaS. Após a retirada de
enxofre, a mistura redutora é encaminhada para o forno de redução onde reage com
o minério em sistema contracorrente, como ocorre no alto-forno, à mistura entra pela
parte inferior do forno e a carga pela parte superior. A redução ocorre conforme as
reações químicas ilustradas pelas equações 4.24 e 4.25, na parte superior do forno:
ºC
equação 4.24 Fe2O3( s ) + CO( g ) 900
→ 2 FeO( s ) + CO( g )
ºC
equação 4.25 Fe2O3( s ) + H 2 ( g ) 900
→ 2 FeO( s ) + H 2O( g )
.000 º C
equação 4.26 FeO( s ) + CO( g ) 1 → Fe( s ) + CO2 ( g )
.000 º C
equação 4.27 FeO( s ) + H 2 ( g ) 1 → Fe( s ) + H 2O( g )
Nesse tipo de processo as unidades operacionais têm capacidade média de 300 t/dia.
64 QUÍMICA APLICADA
PROCESSO FERRO-H (FERRO HIDROGÊNIO)
No processo Ferro-H somente o H2 é usado como agente redutor do minério de ferro
e utiliza um sistema de leito fluidizado, por meio do qual o minério em pó é mantido
em suspensão por uma corrente ascendente de gases. Portanto, o minério deve ser be-
neficiado até a obtenção de um pó bem fino. O H2 é produzido pela reação do metano
com o vapor de água, representado pela equação 4.28, e o CO formado na reação é
separado, fazendo-se o gás produzido atravessar uma mistura de monoetanolamina e
em seguida por uma solução de acetato de cobre e amônia à 50 atm de pressão. O H2
puro é então inserido no forno de redução promovendo as seguintes reações químicas:
º C ,30 atm
3Fe2O3( s ) + H 2 ( g ) 600
→ 2 Fe3O4 ( s ) + H 2O( g ) equação 4.29
º C ,30 atm
Fe3O4 ( s ) + 4 H 2 ( g ) 600
→ 3Fe( s ) + 4 H 2O( g ) equação 4.30
As unidades de produção desse processo costumam ser pequenas e caras, com capaci-
dade da ordem de 10 t/dia.
Produção de aço
Os aços são soluções sólidas intersticiais de carbono no ferro, com o teor de carbono
variando de 0,02 a 2 %. Muitas vezes os aços são referidos como ligas ferro – carbo-
no, contendo como impurezas o enxofre e o fósforo em teores abaixo de 0,05 %. Os
aços isentos de elementos de liga adicionados de forma intencional são chamados aço
ao carbono e os que contêm elementos adicionados de forma intencional, tais como,
níquel, cromo, molibdênio, entre outros, são ditos aço-liga. Os aços ao carbono são
muito mais baratos e fáceis de produzir que os aços-liga. As propriedades do aço, e
consequentemente suas aplicações, são altamente dependentes do teor de carbono
presentes nesses. Aços com teores de carbono abaixo de 0,2 % são chamados de aços
doces. Além disso, elementos de liga também podem alterar de forma muito signifi-
cativa as propriedades do aço. A produção do aço a partir do ferro gusa ocorre pela
redução de diversos elementos, conforme dados apresentados na Tabela 4.1.
SIDERURGIA 65
Tabela 4.1. Faixas típicas de composição química (em peso) de ferro gusa e aço doce.
Elementos Ferro Gusa (%) Aço Doce (%)
Carbono 3-4 0,02-0,1
Silício 1-3 0,02-0,1
Manganês 0,5-1,5 0-0,02
Enxofre 0,01-0,2 0,01-0,1
Fósforo 0,05-2 0,05-2
Fonte: Campos Filho, 1981.
66 QUÍMICA APLICADA
Processo LD: semelhante ao conversor Bessemer, exceto pelo fato do forno não apre-
sentar caixa inferior de sopragem, que é feita através de uma lança, um tubo oco,
introduzido pela boca do forno. Esse processo foi desenvolvido na Áustria no ínicio
do século XX e seu nome, LD, refere-se às duas fábricas que primeiro o usaram, Linz
e Donawitz. No estado do Espírito Santo a antiga Companhia Siderúrgica do Tubarão
(CST), atual Arcelor Mittal, opera com este tipo de processo em sua aciaria.
Processo Kaldo: derivação do processo LD, com rotação do forno, o que permite
melhor homogeneização do banho de ferro gusa que se oxida a aço. Esse processo
foi desenvolvido na Suécia pelo Prof. Kalling na cidade de Domnarfvert, que uniu
a primeira sílaba de seu nome à primeira sílaba da cidade para nomeá-lo KALDO.
Processo Rotor: o mais eficiente dos processos usando oxigênio puro e deriva do
processo Kaldo, com um forno giratório e duas lanças para soprar o oxigênio. Essa
disposição permite carregar o forno com até 30 % de sucata.
Processo Spray: baseia-se na oxidação gota-a-gota do ferro gusa e por isso apre-
senta altíssima eficiência, porém o custo do aço produzido por esse processo é
extremamente elevado.
SIDERURGIA 67
ATIVIDADES
68 QUÍMICA APLICADA
Construindo e fixando o conhecimento
1. Quais são os principais tipos de minério de ferro e quais os teores de ferro presentes em
cada um deles?
5. Como está dividido, em zonas, um alto-forno? Quais as principais reações que ocorrem
em cada zona?
9. Qual impureza causa fragilidade a frio no aço? E qual causa fragilidade a quente? Por
que esses fenômenos acontecem?
10. Explique em que situação deve-se empregar tijolos refratários ácidos e básicos em um
conversor.
Referências
1. CAMPOS FILHO, M. P. Introdução a Metalurgia Extrativa e Siderurgia. Ed. LTC / FUNCAMP,
Campinas, SP, 1981, 153p.
2. CANTO, E. L. Minerais, Minérios, Metais, De onde vêm? Para onde vão?. 2ª Edição, Ed. Mo-
derna, São Paulo, SP, 2010, 143p.
FABRICAÇÃO DE CLORO E SODA CÁUSTICA 71
72 QUÍMICA APLICADA
O 2
D U L
M Ó
REFINO DE PETRÓLEO 75
Petróleo
A origem da palavra petróleo é latina e significa petra (pedra) e oleum (óleo), ou seja
óleo de pedra. O petróleo consiste de uma distribuição de moléculas com estruturas
químicas e massas molares diferentes. Os principais componentes do petróleo são os
hidrocarbonetos, ou seja, substâncias compostas apenas de carbono e hidrogênio. De
acordo com a estrutura os hidrocarbonetos podem ser classificados em saturados ou
parafinas, insaturados ou olefinas, aromáticos ou arenos. Os hidrocarbonetos parafí-
nicos ainda podem ser divididos em normais ou n-parafinas, ramificados e cíclicos
ou naftênicos. Contudo, outros elementos químicos podem aparecer na composição
do petróleo, na forma de compostos orgânicos, os mais comuns são o oxigênio, o
nitrogênio e o enxofre. Metais também podem compô-lo na forma de sais orgânicos.
Os principais grupos de componentes do petróleo são os hidrocarbonetos saturados,
hidrocarbonetos aromáticos, resinas e os asfaltenos, determinados por meio da análise
de SARA (Saturados, Aromáticos, Resinas e Asfaltenos). Dentre essas frações os hi-
drocarbonetos saturados e parafinas são os principais formadores de depósito, mas os
asfaltenos e as resinas também podem formar deposição.
Em geral, existem três características principais na classificação do petróleo: os
tipos de hidrocarbonetos envolvidos, o teor de enxofre e a densidade. Em relação ao
tipo de hidrocarboneto envolvido o petróleo pode ser: parafínico (com mais de 75 %
de n-alcanos), parafínico-naftênico (de 50 -7 0 % de n-alcanos e mais 20 % de ciclo-
alcanos), naftênico (com mais de 70 % de cicloalcanos), aromático intermediário (com
mais de 50 % de hidrocarbonetos aromáticos), aromático-naftênico (com mais de 35
% de naftênicos), aromático-asfáltico (com mais de 35 % de asfaltenos e resinas). Em
relação ao teor de enxofre os petróleos podem ser classificados como doces, quando
possuem menos de 0,5 % de enxofre em sua massa, semi-doces ou semi-azedos quan-
do possuem um teor de enxofre na faixa de 0,5 a 2,0 % e azedos ou ácidos quando
possuem um teor de enxofre maior do que 2,0 %. A classificação do petróleo por sua
densidade se dá através do grau API, desenvolvido pela American Petroleum Institute,
que relaciona a densidade do petróleo de acordo com a equação 5.1:
141, 5
equação 5.1 API = −131, 5
dr (60 / 60)
76 QUÍMICA APLICADA
Tabela 5.1. Classificação do grau API para petróleos
Petróleo Densidade (kg/m3) Grau API
Leve 870 > 31,1
Médio 920 - 870 22,3 – 31,1
Pesado 1000 - 920 10,0 – 22,3
Extra-pesado > 1000 < 10,0
Fonte: Szklo e Uller, 2008.
Refino do petróleo
Os produtos comerciais derivados do petróleo são obtidos a partir de seu proces-
samento, que é realizado em várias etapas, e é nomeado refino. Portanto o refino
compreende uma série de operações físicas e químicas interligadas para o aprovei-
tamento máximo do potencial energético do petróleo. Os processos de refino podem
ser classificados como: processos de separação, processos de conversão, processos de
tratamento e processos auxiliares.
Os processos de separação são técnicas de natureza física que têm por meta separar
o petróleo em suas frações básicas ou isolar em uma fração previamente produzida um
grupo específico de compostos. Nesses processos não ocorrem nenhuma modificação
química nos compostos. Podemos citar como exemplos desses processos: destilação
atmosférica, destilação a vácuo, desasfaltação a propano, desaromatização a furfu-
ral, desparafinização a MIBC (metilisobutilcetona), desoleificação a MIBC, extração de
aromáticos e adsorção de parafinas lineares.
Os processos de conversão são de natureza química e visam modificar a compo-
sição de uma fração com o objetivo de lhe agregar valor. Essas modificações ocorrem
por reações químicas de cisão, reagrupamento ou reestruturação. Essas reações podem
ocorrer em condições de temperatura e pressão elevadas, além da presença de catali-
sadores para facilitar o processo reacional. São processos de conversão: craqueamento
térmico, viscorredução, coqueamento retardado, craqueamento catalítico, hidrocra-
queamento catalítico, alquilação catalítica e reforma catalítica.
Os cortes obtidos dos processos de separação e conversão costumam conter as
impurezas oriundas do petróleo, principalmente compostos de enxofre e nitrogênio.
Essas impurezas aumentam a acidez e, portanto, a corrosividade do petróleo, além de
lhe gerarem odor desagradável, de alterarem sua coloração e de formarem compostos
poluentes. Os processos de tratamento são, portanto, empregados com o objetivo de
melhorar a qualidade dos produtos por meio da redução dessas impurezas, sem cau-
sar profundas modificações nas frações. São exemplos de processos de tratamento:
REFINO DE PETRÓLEO 77
os processos de adoçamento (transformação de compostos corrosivos de enxofre em
outros menos corrosivos) e os processos de dessulfurização (remoção total do enxofre).
Os processos auxiliares têm como objetivo fornecer insumos para possibilitar a ope-
ração ou efetuar o tratamento de rejeitos dos outros tipos de processo citados anterior-
mente. São exemplos de processos auxiliares: a geração de hidrogênio (para produzir
matéria-prima para as unidades de hidroprocessamento) e a recuperação de enxofre
(gerado a partir da combustão de gases ricos em H2S). Ressalta-se, no entanto, que insu-
mos de uma refinaria são as utilidades, tais como vapor, água, energia elétrica, ar com-
primido, distribuição de gás e óleo combustível, tratamento de efluentes, dentre outros.
Processos de separação
DESTILAÇÃO
A destilação é o processo básico de separação do petróleo, por meio do qual inicial-
mente há a vaporização e posteriormente a condensação dos componentes do óleo cru
(hidrocarbonetos e impurezas) devido à ação de temperatura e pressão. Esse processo
baseia-se nas diferenças entre os pontos de ebulição dos diversos constituintes do pe-
tróleo, devido principalmente à diferença de massa molar existente entre eles. Portanto
o objetivo principal da destilação é a separação do petróleo em suas frações básicas de
refino, tais como gás combustível, gás liquefeito, nafta, querosene, gasóleo atmosfé-
rico (óleo diesel), gasóleo de vácuo e resíduo de vácuo. Os rendimentos da destilação
são variáveis dependendo do tipo de petróleo processado. A unidade de destilação de
uma refinaria é composta por uma dessalgadora e pelo menos uma torre de destilação
atmosférica, mas pode conter também uma torre de destilação a vácuo. Um esquema
de uma torre de destilação atmosférica é mostrado na Figura 5.1.
A destilação atmosférica deve ocorrer a uma temperatura máxima de 400 °C para
evitar a formação de produtos de craqueamento térmico. Em geral, o petróleo é pré-
-aquecido antes de ser introduzido na torre de destilação, na zona de vaporização ou
zona de flash. Os produtos são retirados em determinados pontos da coluna dependem
da temperatura máxima de destilação de cada fração. Em condições de pressão pró-
xima à atmosférica, pode-se separar o petróleo em diesel, querosene e nafta pesada
como produtos laterais de uma torre de destilação. Nafta leve e GLP são produtos de
topo, condensados e separados fora da torre. Como produto de fundo, obtém-se o resí-
duo atmosférico, do qual ainda podem ser extraídas frações importantes em processos
posteriores. As principais frações obtidas em uma unidade de destilação são apresen-
tadas na Tabela 5.2.
78 QUÍMICA APLICADA
Torre de destilação
Gás
gás
nafta
gasolina
querosene
óleo diesel
óleo combustível
asfalto
Asfalto
Tabela 5.2. Principais frações obtidas em uma unidade de destilação de uma refinaria de petróleo.
Corte ou fração Temperatura de corte (°C) Hidrocarbonetos
Composto principalmente por metano e
Gás combustível < 40
etano (C1-C2)
Gás liquefeito de Composto principalmente por propano e
< 40
petróleo (GLP) butano (C3-C4)
Nafta 20 a 220 Composto por C5-C10
Querosene 150 - 300 Composto por C10-C15
Gasóleo atmosférico 100 - 400 Composto por C13-C25
Gasóleo de vácuo 400 - 570 Composto por C25-C38
Resíduo de vácuo > 570 Composto por >C38
Fonte: Thomas, 2004 e Antunes, 2007
REFINO DE PETRÓLEO 79
EXTRAÇÃO COM SOLVENTE
O resíduo de vácuo possui um gasóleo de alta viscosidade que não pode ser obtido por
destilação, mas pode ser recuperado usando a extração com solventes. A desasfaltação
a propano é feita usando propano líquido a alta pressão como agente de extração. O
principal produto é o óleo desasfaltado, que pode ser incorporado ao gasóleo de vá-
cuo na produção de combustíveis, sendo então enviado à unidade de craqueamento
catalítico. No caso de se produzir lubrificantes, o óleo desasfaltado constitui um óleo
básico brightstok ou óleo de cilindro, que deve ter sua qualidade melhorada, sendo a
viscosidade a propriedade de maior importância.
A desaromatização a furfural é outro processo de extração com solvente realizada
na produção de lubrificantes, em que o furfural é usado como solvente de extração de
compostos aromáticos polinucleados de alto peso molecular. O objetivo desse processo
é aumentar do índice de viscosidade dos óleos lubrificantes, pois quanto maior esse
valor, menor será a variação da viscosidade do produto com a temperatura. O produto
principal do processo é o óleo desaromatizado. O processo é bastante semelhante à
desasfaltação, contendo seções de extração, recuperação de solvente do extrato e re-
cuperação de solvente do refinado.
A desparafinação a MIBC também é uma operação de extração com solvente efe-
tuada na produção de lubrificantes. A presença de parafinas lineares aumenta o ponto
de fluidez do lubrificante, dificultando seu escoamento. Essa propriedade é, princi-
palmente, importante quando se utilizam óleos lubrificantes a baixas temperaturas
e há maior chance de ocorrer a precipitação das parafinas. As parafinas devem ser
extraídas do óleo por meio de um solvente (metilisobutilcetona) que proporcione a
diluição do mesmo enquanto precipita as parafinas. O produto final do processo é o
óleo desparafinado.
A desoleificação a MIBC é um processo idêntico à desparafinação, apenas realizada
em condições mais severas, visando à remoção do óleo retido na parafina, de forma a
obtê-la como um produto comercial. O produto principal é a parafina mole, que pode
ser usada na produção de geleias, óleos, vaselinas e outros produtos farmacêuticos,
bem como ser reprocessada por meio de craqueamento. Um produto secundário é a
parafina dura, que pode ainda ser processado na unidade de hidrotratamento.
O processo de extração de aromáticos visa retirar os aromáticos leves, como ben-
zeno, toluenos e xilenos (conhecidos como BTX’s), da gasolina atmosférica ou da
corrente vinda da reforma catalítica, pois estas frações possuem um alto valor de
mercado na indústria petroquímica, e são comercializados a preços duas ou três vezes
superiores ao da nafta. A extração é feita usando tetraetilenoglicol (TEG), ou N-me-
tilpirrolidona (NMP) associada ao monoetilenoglicol (MEG), ou o Sulfolane® (dióxido
de tetrahidrotiofeno).
80 QUÍMICA APLICADA
Processos de conversão
CRAQUEAMENTO TÉRMICO (CT) É o mais antigo entre os processos de conversão,
surgindo logo após a destilação. O processo consiste na quebra de moléculas da carga,
usando elevadas temperaturas e pressões, para a produção de gasolina e GLP como
produto principal e gás combustível, óleos leve e residual e coque como subprodutos.
Atualmente, o craqueamento térmico é um processo em desuso, devido ao apareci-
mento do craqueamento catalítico, mais econômico e de operação mais simples.
REFINO DE PETRÓLEO 81
e gasóleo pesado de craqueamento (óleo decantado ou óleo combustível). Trata-se de
um processo de grande versatilidade e alta rentabilidade, que exige um investimento
inicial alto. Seu produto principal é a gasolina de alta octanagem, obtida na faixa
de 50 % a 60 % em volume em relação à carga processada. Quando o catalisador é
atravessado por uma corrente gasosa, como a carga vaporizada, seu comportamento
se assemelha ao de um fluido, por isso do nome craqueamento catalítico fluidizado.
O catalisador usado no FCC é um pó muito fino com alta área superficial, à base de
sílica (SiO2) e alumina (Al2O3) que tem como funções: permitir que as reações químicas
ocorram sob condições de pressão e temperatura bem inferiores às observadas para o
craqueamento térmico; funcionar como agente de transporte do coque depositado em
sua superfície para o regenerador, onde ocorre geração de calor por meio da queima
do coque; funcionando como agente de transferência de calor, da zona de combustão
para a zona de aquecimento e vaporização da carga.
82 QUÍMICA APLICADA
peno, os butenos e pentenos. Obtém-se, assim, uma gasolina sintética usada como
combustível de aviação ou gasolina automotiva de alta octanagem.
Alguns parâmetros operacionais afetam a produtividade do processo, tais como: a
relação isobutano/olefinas, que deve ser mantida em um valor alto para evitar a poli-
merização das olefinas; a temperatura de reação, que dependerá do catalisador usado
(de 5 °C a 10 °C para o H2SO4, e de 27 °C a 38 °C para o HF); o tempo de reação, que
dependerá do tempo de residência da mistura catalisador/hidrocarbonetos no reator,
da relação catalisador/hidrocarbonetos (constante na faixa de 1 a 2) e da eficiência da
mistura; a pressão de trabalho, que influencia o desempenho dos catalisadores, mesmo
não sendo uma variável de processo.
Processos de tratamento
TRATAMENTO CÁUSTICO Consiste no uso de solução aquosa de NaOH ou KOH para
lavar uma determinada fração de petróleo, eliminando-se compostos ácidos de enxofre,
tais como H2S e mercaptanas (R-SH) de baixos pesos moleculares. A carga desse tipo de
tratamento compõe-se de frações leves: gás combustível, GLP e naftas. Nesse tipo de tra-
tamento há um grande consumo de hidróxido o que gera um elevado custo operacional.
REFINO DE PETRÓLEO 83
cobalto em leito fixo ou solubilizada na solução de hidróxido, que permite a retirada
das mercaptanas e oxidando-as a dissulfetos.
84 QUÍMICA APLICADA
Processos auxiliares
GERAÇÃO DE HIDROGÊNIO Os processos de hidrotratamento e hidrocraqueamento
das refinarias de petróleo usam o gás hidrogênio em abundância, e algumas o produ-
zem nas unidades de reforma catalítica. Contudo, a unidade de reforma catalítica não
consegue produzir H2 em quantidades suficientes para atender as demandas do HDT
e HCC. Por isso, em refinarias que possuem unidades de HDT e HCC faz-se necessário
a instalação de uma unidade de geração de hidrogênio, operando segundo reações de
oxidação parcial das frações pesadas ou de reforma das frações leves com vapor d’água.
A reforma com vapor é a rota de obtenção de hidrogênio escolhida pela Petrobras
em suas refinarias. Nesta rota os hidrocarbonetos são rearranjados na presença de va-
por e catalisadores, gerando o gás de síntese, uma mistura de CO e H2. Mais hidrogênio
é posteriormente gerado através da reação do CO com excesso de vapor, após a absor-
ção do CO2 produzido em monoetanolamina.
ATIVIDADES
REFINO DE PETRÓLEO 85
Construindo e fixando o conhecimento
1. O que é o petróleo e quais suas principais impurezas?
2. Determine o grau API de um petróleo cuja densidade é 0,9234 g/dm3 e em seguida ex-
plique como esse petróleo pode ser classificado.
5. Com relação aos tipos de processos, como está dividido o refino do petróleo?
6. Qual a unidade que caracteriza uma planta de refino de petróleo? Que frações são reti-
radas em uma torre de destilação atmosférica a 250 ºC? E a 430 °C?
8. Cite dois processos de conversão cujo objetivo seja a produção de gasolina de alta oc-
tanagem.
PETROQUÍMICOS E POLÍMEROS 89
qual o controle das empresas é compartilhado, em proporções iguais, pela Petroqui-
sa, por um sócio privado nacional e por um sócio privado estrangeiro.
Com a implementação do Programa Nacional de Desestatização, acelerado na
década de 1990, o modelo vitorioso até os anos 1980 começou a ser desmontado.
Por isso, a Petroquisa foi obrigada a alienar a maior parte de suas participações so-
cietárias e perdeu o papel de planejadora e arquiteta da política industrial do setor
petroquímico nacional.
Atualmente, perspectivas promissoras de investimento no setor petroquímico
envolvem duas iniciativas de grande porte: o Complexo Gás-Químico do Rio de Ja-
neiro e o Polo Petroquímico de Paulínia.
Indústria petroquímica
A indústria petroquímica atua principalmente por três rotas que definem os produ-
tos petroquímicos: a produção de olefinas e derivados, a de compostos aromáticos e
derivados e a de gás de síntese e derivados, conforme o esquema representativo da
cadeia produtiva mostrado na Figura 6.1. O uso de olefinas merece destaque, sendo
o eteno, o propeno, o buteno e o butadieno são as matérias-primas de maior im-
portância. Normalmente, altos investimentos devem ser realizados em plantas que
utilizam matérias-primas mais pesadas, que requerem craqueamento para obtenção
dos produtos petroquímicos. Dessa forma, se matérias-primas mais leves são em-
pregadas o investimento necessário é menor. Por outro lado, uma maior diversidade
de produtos pode ser gerada a partir do emprego de matérias-primas mais pesadas.
90 QUÍMICA APLICADA
Eteno
Metanol
Propeno
Gás de síntese
Buteno
Aromáticas
Amônia
Btadieno
Figura 6.1. Representação esquemática da cadeia produtiva dos produtos petroquímicos básicos
Portanto, quanto maior a massa molar da matéria-prima, mais fácil seu craque-
amento. Assim, parafinas saturadas e alcanos são mais fáceis de serem craqueados.
Contudo, o craqueamento pode ser conduzido em qualquer tipo de matéria-prima
visando alcançar um máximo de produção de olefinas e aromáticos associada a uma
alta seletividade, além de se obter um mínimo de moléculas lineares pequenas, meta-
no e hidrocarbonetos lineares com mais de cinco átomos de carbono. Logo, os tipos
de produtos petroquímicos produzidos são altamente influenciados pela natureza dos
hidrocarbonetos, pela temperatura de reação e pelo tempo de residência no processo
de quebra. Os produtos finais da indústria petroquímica podem ser agrupados em seis
categorias: plásticos, elastômeros, fibras, fertilizantes, solventes e especialidades.
ETENO
O eteno, também chamado de etileno, é a principal matéria-prima da indústria petro-
química devido a seu baixo custo, ampla disponibilidade e alta pureza. Essa impor-
tância é consequência de suas propriedades e de aspectos econômicos, dentre os quais
se destacam: sua estrutura simples e com reatividade alta; produção relativamente
barata; facilidade de produção a partir de qualquer hidrocarboneto por craqueamento,
com alto rendimento; pequena quantidade de subprodutos produzidos por reações do
etileno com outros compostos em comparação às reações com outras olefinas (por
exemplo, as reações com Cl2, HCl, O2 e H2O). Portanto, produtos de grande importância
são obtidos com alto rendimento e baixo custo de produção.
As reações químicas, da substância eteno, são responsáveis pela produção de cerca
PETROQUÍMICOS E POLÍMEROS 91
de 30 % de todos os produtos petroquímicos, sendo o óxido de etileno e o dicloroetano
os compostos mais importantes. Os derivados do eteno são usados nas mais diversas
aplicações, tais como: plásticos, anticongelantes, solventes, material de vestuário, etc.
Dentre as reações possíveis de serem realizadas com o etano destacam-se: oxidação,
carbonilação oxidativa, cloração, hidratação, alquilação, oligomerização e polimeri-
zação. Dois exemplos de sequência de produção partindo do eteno são: a produção
do óxido de etileno e subsequente obtenção de outros produtos comerciais como eti-
lenoglicois, etanolaminas e alcoóis etoxilados; e a produção do 1,2-dicloroetano, pela
cloração direta do eteno, para obtenção do cloreto de vinila e posterior polimerização
e obtenção do poli(cloreto de vinila), o PVC. A cadeia produtiva do eteno é represen-
tada por meio do esquema mostrado na Figura 6.2.
Etanol Acetaldeído
Detergentes
CH3CH2OH CH3CHO
CH3-CH2-Cl
Alcoóis Cl-CH2-CH2-Cl Ácido acrílico
Etoxilatos Poliacrilatos
Lineares CH2=CHCOOH
PROPENO
O propeno, também chamado de propileno, é a segunda matéria-prima de maior importância
na indústria petroquímica, perdendo posição apenas para o eteno. O propeno nunca é obtido
como produto principal, sendo, portanto um subproduto de reações de craqueamento, com
cerca de dois terços obtidos nas refinarias e um terço no craqueamento da nafta e do etano.
Praticamente todas as reações conduzidas com o eteno podem ser realizadas com
o propeno. Merecem destaque as reações de: oxidação, cloração, hidratação, alquila-
ção, adição de ácidos orgânicos, oxiacilação (reação com ácido acético e oxigênio),
hidroformilação (reação com CO e hidrogênio), metátese ou desproporcionação ca-
talítica (reação de conversão do propeno a outras olefinas, de massa molar distinta).
São exemplos de aplicações de compostos obtidos a partir do propeno: a produção de
92 QUÍMICA APLICADA
plásticos e resinas a partir da acrilonitrila (obtida da reação do propeno com amônia
e oxigênio) e a produção de glicerol e propileno glicol, para fabricação de espumas de
poliuretano, resinas de poliéster, cosméticos, fluidos de freio, plastificantes, xaropes e
detergentes, a partir do óxido de propileno (obtido na reação do propeno com ácido
hipocloroso e Ca(OH)2 ou através de epoxidação). A cadeia produtiva do propeno é
representada por meio do esquema mostrado na Figura 6.3.
Cloreto de Alila
Glicerol
CH2=CHCH2CL
BUTENOS E BUTADIENOS
Os butenos e butadienos são obtidos como subprodutos de processos de refino de pe-
tróleo e durante a produção do eteno, por reações de craqueamento. Eles são usados
como matéria-prima para uma quantidade de produtos químicos menores que os ob-
tidos do eteno e do propeno, porém grandes quantidades são manufaturadas dos pro-
dutos obtidos dessas olefinas, tais como o metil-t-butil-éter, a adiponitrila, o 1,4-bu-
tanodiol e o polibutadieno. Os butenos são mais empregados na indústria química que
o butadieno, que é mais usado na produção de borracha sintética para a fabricação de
pneus. A partir dos n-butenos, produz-se o 2-butanol, que é usado na obtenção da me-
tiletilcetona, também chamada de acetona, amplamente usada como solvente. O buta-
dieno (CH2=CH–CH=CH2) é usado na produção do cloropreno [CH2=C(Cl)CH=CH2], que
forma um polímero resistente a óleo e solvente, uma borracha denominada neoprene.
Quando o butadieno reage com ácido adípico [HOOC(CH2)4COOH] e amônia é produzi-
da a hexametilenodiamina [H2N–(CH2)6–NH2], conhecido comercialmente como Nylon
6/6. As reações com buteno e butadieno incluem a oxidação, hidratação, metátese,
isomerização, dimerização, oligomerização, epoxidação e carbonilação das olefinas.
PETROQUÍMICOS E POLÍMEROS 93
AROMÁTICOS
Os principais compostos aromáticos produzidos na indústria petroquímica são o ben-
zeno, o tolueno e os xilenos, também conhecidos como BTX’s, e são obtidos, principal-
mente, nas unidades de reforma e craqueamento catalítico das refinarias. A reatividade
dos componentes do BTX’s, que permite sua utilização na indústria, está relacionada ao
anel benzênico. De forma geral, os compostos aromáticos são passíveis de reações de
substituição eletrofílica. Dentre as reações possíveis que esses compostos podem sofrer
estão: alquilação ou desalquilação, cloração, nitração, oxidação, hidrogenação, metá-
tese e carbonilação, dos quais se originam produtos principais ou intermediários, que
podem reagir de forma semelhante para síntese dos produtos finais.
GÁS DE SÍNTESE
O gás de síntese é uma mistura de dois gases fortemente redutores, o H2 e o CO,
sendo produzido, primordialmente, pela reforma a vapor de água do gás natural,
mas pode ser obtido também a partir de outras fonte s de hidrocarbonetos, tais como
esterco, carvão e resíduos de petróleo cru. A proporção de H2 e CO na mistura não é
fixa e é fortemente dependente do tipo de carga, do método de produção e do des-
tino a ser dado ao gás. O gás de síntese é um intermediário importante na produção
de diversos produtos finais, tais como metanol e amônia, duas substâncias químicas
mais importantes baseadas no gás de síntese.
O metanol é produzido por meio de uma reação catalítica entre os próprios cons-
tituintes do gás de síntese. Normalmente, adiciona-se CO2 ao meio para exaurir o
excesso de hidrogênio do gás de síntese, de forma a se obter uma proporção de 3:1
de H2:CO. As reações químicas de obtenção do metanol a partir do gás de síntese são
representadas pelas equações 6.1 e 6.2:
O metanol pode então ser usado com diversos fins industriais, tais como: oxidação
catalítica para síntese de formaldeído (CHOH); reação com HCl na fase gasosa produzindo
cloreto de metila (CH3Cl); reação de carbonilação produzindo ácido acético (CH3COOH),
reações de adição com isobuteno ou isoamilenos produzindo éteres, dentre outras.
A amônia é produzida por meio da reação do hidrogênio com o nitrogênio at-
mosférico catalisada por ferro através do processo Harber, conforme reação química
representada pela equação 6.3:
94 QUÍMICA APLICADA
N 2 ( g ) + 3H 2 ( g ) Fe→ 2 NH 3( g ) equação 6.3
DETERGENTES
Os detergentes foram desenvolvidos como substitutos do sabão e rapidamente ganharam
mercado, especialmente após Segunda Guerra Mundial. Os detergentes são produzidos
na indústria utilizando vários produtos em busca de melhorar suas propriedades tenso-
ativas. Os tensoativos, também chamados de surfactantes, são a matéria-prima principal
dos detergentes e são derivados do petróleo. Os tensoativos possuem a propriedade
de modificar as características físico-químicas de sua superfície ou das interfaces de
separação com outros meios. Quando são dissolvidos ou dispersos em um meio líqui-
do permanecem preferencialmente na interface, modificando sua tensão interfacial. Os
tensoativos são também conhecidos como compostos anfifílicos, devido à existência
de regiões de polaridades distintas em suas moléculas, uma cabeça polar e uma cauda
apolar, conforme representação esquemática mostrada na Figura 6.4.
Molécula de Tensoativo O
O-
Representação Esquemática
Figura 6.4. Molécula de tensoativo e sua representação esquemática mostrando a cabeça polar e a cauda apolar
A atuação das moléculas tensoativas pode ser muito diferente dependendo da natu-
reza química e da estrutura das fases em contato, bem como em função das condições
impostas ou existentes em suas aplicações. Os tensoativos podem ser classificados como
catiônicos, quando de sua ionização resultarem cátions, aniônicos, quando de sua ino-
nização resultarem ânions, não-iônicos, aqueles que não ionizam em presença de água
pois sua solubilidade se deve a formação de ligações de hidrogênio com a água, e anfó-
teros, aqueles que contêm em sua estrutura tanto o radical ácido como o básico.
PETROQUÍMICOS E POLÍMEROS 95
FERTILIZANTES
Os fertilizantes são substâncias minerais ou orgânicas, naturais ou sintéticas, que for-
necem um ou mais nutrientes às plantas. Os fertilizantes primários, produzidos pela
indústria de fertilizantes, têm em sua estrutura nitrogênio, fósforo e potássio. Já os
fertilizantes secundários possuem cálcio, magnésio e enxofre como nutrientes. No Bra-
sil, atualmente, há uma indústria que atende ao consumo de complexos granulados,
supre parte da demanda de fertilizantes nitrogenados e apresenta autossuficiência na
produção de fertilizantes fosfatados. Desta forma, para suprir sua demanda, ocorreu a
implantação de complexos industriais que geram todo o concentrado fosfático, parte
do ácido fosfórico e parte da amônia necessária à indústria brasileira.
Os fertilizantes nitrogenados incluem a ureia (NH2COONH2), o nitrato de amônia, o
nitrato de cálcio e o sulfato de amônia. Em sua produção, amônia e ácido nítrico são
obtidos como produtos intermediários. A produção de ureia é feita a partir da reação
química entre o gás de amônia (NH3), o gás carbônico e o dióxido de carbono (CO2),
conforme reações químicas ilustradas pelas equações 6.4 e 6.5:
A ureia é usada, principalmente, como fertilizante, mas pode ser empregada também na
produção de adesivos e plásticos, bem como em ração animal.
POLÍMEROS
Os polímeros representam a maior demanda da indústria petroquímica e são divididos
em três categorias conforme seu uso final: plásticos, elastômeros e fibras e podem ser
classificados quanto à sua origem em naturais e sintéticos. Os polímeros sintéticos são
produzidos principalmente a partir de fontes petroquímicas e vêm tomando grande es-
paço na nossa vida cotidiana, atuando em substituição a materiais tradicionais, como
metais, ou com usos completamente novos. O polímero é uma macromolécula que pos-
sui unidades químicas repetidas, denominadas mero, que significa parte, em grego, as-
sim a palavra polímero significa muitos meros, ou seja, muitas partes, que são formadas
a partir de reações de polimerização dos monômeros, que significa uma parte. O grau de
polimerização de um dado polímero está relacionado ao número de meros existentes em
sua cadeia, ou seja, ao tamanho da cadeia polimérica.
Com relação ao tipo de síntese os polímeros podem ser classificados como: a) políme-
ros de adição ou de polimerização em cadeia, quando um único mero está envolvido na
reação de polimerização ou b) polímeros de condensação ou de polimerização em etapas,
96 QUÍMICA APLICADA
quando há dois tipos de meros envolvidos na reação. Ressalta-se que polímeros de adição
são obtidos quando os monômeros possuem insaturações e a polimeração é iniciada por
radicais livres, carbocátions e carbânions. Na polimerização em cadeia não há formação
de nenhum outro produto além do polímero. Uma vez iniciada a cadeia, o seu crescimento
é muito rápido, com altos graus de polimerização sendo obtidos logo no início da reação,
mesmo com pouca conversão. Os pesos moleculares são da ordem de 105. Já os polímeros
de condensação são obtidos quando os monômeros apresentam grupos funcionais reati-
vos e, portanto há a reação entre duas moléculas formando o polímero e uma molécula
pequena como subproduto. A cadeia polimérica somente alcança pesos moleculares altos
quando se atingem altas conversões. Esses pesos moleculares são geralmente da ordem de
104. Há ainda os polímeros obtidos a partir de modificação química de outros polímeros.
Os polímeros podem ser classificados de muitas formas diferentes, dependendo da
característica que está sendo analisada. Em relação à estrutura química os polímeros
podem ser classificados em lineares ou ramificados. As ramificações podem ser curtas
ou longas, um grande número de ramificações pode gerar estruturas dendríticas ou mes-
mo um polímero reticulado, formando uma macromolécula única. Essas estruturas são
esquematizadas na Figura 6.5.
Polímero linear(f=2)
-
PETROQUÍMICOS E POLÍMEROS 97
Ainda em relação à estrutura química os polímeros podem ser classificados em ho-
mopolímeros, quando há apenas um tipo de mero envolvido na formação do polímeros,
e copolímeros, quando há dois ou mais tipos de meros envolvidos na formação dos
polímeros. Os copolímeros ainda podem ser classificados, em relação à sua estrutura,
conforme representado na Figura 6.6.
-A-A-A-A-A-B-B-B-B-B-
copolímero em bloco -A-A-A-A-A-A-A-A-A-
B B
B B
-A-B-A-B-A-B-A-B-A-B-
copolímero alternado
B B
B B
B B
-B-B-A-B-A-B-A-A-A-B-
copolímero aleatório
98 QUÍMICA APLICADA
límeros de engenharia são empregados na substituição de materiais clássicos usados
na engenharia, como a madeira e os metais. São exemplos de polímeros de engenharia
o poliacetal, o policarbonato e poli(tetrafluor-etileno).
Quanto à taticidade os polímeros são classificados em isotáticos, quando os gru-
pos funcionais estão todos encadeados no mesmo lado da molécula, sindiotáticos,
quando os grupos funcionais estão encadeados de forma alternada nos lados da mo-
lécula e atáticos, quando os grupos funcionais estão encadeados de forma aleatória
nos lados da molécula.
Os polímeros podem ser obtidos por diferentes técnicas de polimerização, que não
são ligadas a nenhum tipo de polímero específico. A reação de polimerização pode ser
conduzida pela técnica de polimerização em massa, polimerização em solução, polime-
rização em suspensão, polimerização em emulsão e polimerização interfacial.
A polimerização em massa consiste na reação de polimerização na qual o meio
reacional é composto apenas de monômero e iniciador. Já na polimerização em solução
além do monômero e do iniciador há também um solvente solubilizando-os. Quando o
polímero formado é também solúvel no solvente usado, ao final da polimerização deve-
-se precipitar o polímero por meio do emprego de grandes quantidades de um não-sol-
vente. Quando o polímero formado é insolúvel no solvente usado não há a necessidade
de se usar um não-solvente, essa técnica em particular recebe o nome de polimerização
em lama e o polímero obtido pode ser separado por filtração.
Na polimerização em suspensão o meio reacional é composto pelo monômero,
iniciador, meio dispersante (normalmente água) e um agente de suspensão. O monô-
mero é insolúvel no meio dispersante e o iniciador é solúvel no monômero. As gotículas
de monômero são mantidas em suspensão por ação de agitação mecânica e do agente de
suspensão. Além disso, o agente de suspensão evita que as gotículas de monômero, e po-
límero que está sendo formado, grudem umas às outras durante o processo de polimeriza-
ção. A polimerização em suspensão muitas vezes é chamada de polimerização em pérolas.
A polimerização em emulsão ocorre em um meio reacional composto por um
agente de dispersão (normalmente água), um monômero, um iniciador, solúvel no
meio dispersante, e um emulsificante, também chamado de tensoativo ou surfactante.
O emulsificante é composto por uma longa cadeia hidrocarbônica, a qual é hidrofóbi-
ca, e uma extremidade polar — hidrofílica. Em quantidades pequenas o emulsificante
permanece disperso na água e na superfície das gotas de monômero promovendo sua
estabilização. Quando a concentração micelar crítica, CMC, é atingida são forma-
das estruturas ordenadas de emulsificante chamadas de micelas. As micelas têm seus
grupos hidrofílicos orientados na direção da fase aquosa e os grupos hidrofóbicos
orientados para seu interior, fase orgânica devido a presença de monômero. Quando
uma molécula de iniciador entra na micela a reação de polimerização é iniciada, e
continua até que outra molécula de iniciador entre na micela matando o crescimento
PETROQUÍMICOS E POLÍMEROS 99
da primeira cadeia polimérica. A reação de polimerização só será reiniciada se uma
terceira molécula de iniciador entrar na micela. Assim, a polimerização em emulsão
gera polímeros de altas massas molares.
A polimerização interfacial é realizada em policondensações em que cada um dos
monômeros encontra-se dissolvido em uma fase diferente e imiscível, normalmente
uma fase orgânica e uma aquosa. O polímero é formado na interface, e é logo re-
movido a fim de facilitar a polimerização. Essa técnica de polimerização é usada na
produção de fibras e filmes, porém devido à sua dificuldade de condução é ainda um
método restrito a um pequeno número de polimerizações em etapas.
ATIVIDADES
2. Quais são os parâmetros que afetam os produtos finais em uma indústria petroquímica?
4. Quais são os principais produtos obtidos a partir do gás de síntese? Qual a importância
desses produtos na indústria petroquímica?
10. Diferencie polímeros termoplásticos de termorrígidos. Quais desses podem ser recicla-
dos? Justifique sua resposta.
Referências
1. DANTAS NETO, A. e A.; GURGEL, A. Apostila de Refino e Petroquímica. UFRN, Natal,
RN, 2009, 375p.
2. ANTUNES, A. Setores da Indústria Química Orgânica. Ed. e-papers, Rio de Janeiro, RJ,
2007, 242p.
104 QUÍMICA APLICADA
celulose
e papel 7
Uma breve introdução sobre a indústria
de celulose e papel
O papel é um produto renovável, reciclável e biodegradável cujo ciclo de vida está di-
retamente relacionado ao meio ambiente. No Brasil, 100 % da celulose utilizada como
matéria-prima tem origem em florestas plantadas. Por isso, buscar a sustentabilidade
faz parte da gestão de negócio das indústrias de celulose e papel. No setor, o uso sus-
tentável de recursos naturais – como solo e água – é prioridade estratégica e tem como
objetivo garantir a viabilidade do cultivo florestal e, assim, perpetuar suas atividades.
No final do ano de 2008 a crise de crédito desencadeada pelo mercado imobiliá-
rio norte-americano teve um impacto na economia mundial, a qual seguiu em ritmo
de gradual recuperação nos anos seguintes. Contudo, o Brasil foi o único país do
mundo em que a produção de celulose cresceu nesse período. Em 2010, a produção
de celulose passou de 13,3 milhões de toneladas para 14,1 milhões de toneladas
anuais, um aumento de 5,6 %. A produção de papel teve um aumento de 3,9 %
passando de 9,4 milhões para 9,8 milhões de toneladas.
A Tabela 7.1 apresenta os dados relativos ao faturamento anual em milhares de
reais (R$ mil) das indústrias de celulose e papel. Os dados foram obtidos no sítio da
BRACELPA (Associação Brasileira de Celulose e Papel). Essa associação é a entidade
que representa, no Brasil e no exterior, as indústrias nacionais produtoras de celulose
e papel. Atualmente, suas 37 associadas respondem por 100 % da produção brasilei-
ra de celulose e por 85 % da fabricação de todos os tipos de papéis (para imprimir
e para escrever, papel cartão, embalagens, imprensa, papéis para fins sanitários e
papéis especiais, dentre outros), com atividades em 539 municípios de 18 estados
(222 empresas com atividades no setor). Existem no Brasil 2,2 milhões de hectares
de florestas plantadas para fins industriais e 2,9 milhões de hectares de florestas pre-
servadas, sendo que o total de área florestal certificada é de 2,0 milhões de hectares.
Em 2010, o saldo para exportações foi de 6,8 bilhões de dólares com saldo co-
mercial de 4,9 bilhões de dólares no setor. Esse resultado é fruto do investimento,
nos últimos 10 anos, de 12 bilhões de dólares, empregando 115 mil pessoas de forma
direta (68 mil na indústria e 47 mil nas florestas) e 575 mil empregos indiretos.
A Tabela 7.2 apresenta a posição dos países que mais produzem celulose e pa-
pel no mundo. Como podemos observar o Brasil está posicionado em quarto lugar
na produção de celulose no mundo com uma produção de 14.164 mil toneladas
por ano. O primeiro produtor é o Estados Unidos da America, EUA. Em relação a
produção mundial de papel o EUA está posicionado em segundo lugar, sendo que
o primeiro lugar é agora ocupado pela China. O Brasil está posicionado em 10º
lugar com uma produção anual de 9.844 mil toneladas. A Tabela 7.3 apresenta a
comparação entre a área total de alguns países produtores de celulose e papel e a
área de florestas plantadas. Como podemos ver o Japão é o país com maior área de
florestas plantadas (28,3 %) seguido pela Finlândia com 19,4 %, enquanto o Brasil
tem somente uma área plantada de 0,8 %, ou seja, 6.973 mil hectares de florestas.
16
14
12
Milhões de toneladas
10
8 Celulose
Papel
6
0
1970 1980 1090 2007 2008 2009 2010
Figura 7.1. Evolução da produção brasileira de celulose e papel nos últimos 40 anos
26% China
Asia /Oceania
America do Norte
24% América Latina
45% Europa
46%
11%
9%
1% 18%
1% 19%
Exportações
Consumo Próprio
21%
26%
10.500
9.000
46,9%
7.500
6.000
43,5%
4.500
38,3%
3.000
36,5% 34,6%
1.500
0
1990 1995 2000 2005 2010
Partida e
Polpa Mecânica · energia para
descorticada moagem;
· água peneirada
antes de ir para o
esgoto;
· usada em tipos de
Moída em água
papel mais barato,
por exemplo: papel
de jornal, de parede,
Figura 7.6. Esquema mostrando a metodologia do processo utilizado na preparação da polpa de papel de embrulho;
· pode ser
melhorada com
adição de uma
pequena fração de
MATÉRIA-PRIMA polpa química;
· alvejamento:
antigamente
· a madeira é a principal fonte de celulose para a fabricação de papel; - bissulfeto de
· pode ser usado também: algodão, trapos e papel velho (reciclagem); sódio ou cálcio;
recentemente -
· outras fontes: fábricas do tipo – cordoarias; ozônio; oxigênio,
· rejeitos grossos das indústrias têxteis. H2O2, dióxido de
cloro;
· sempre um
Existe uma grande vantagem quando as indústrias usam substâncias a base de oxi- processo caro
– adaptado ao
gênio, tais como: ozônio, peróxido, pois isso permite que o efluente possa ser encami-
material fibroso e o
nhado para a caldeira de recuperação. Procedimento esse que não pode ser feito quando branco almejado.
ATIVIDADES
3. Quais são as características mais importantes dos três tipos de processos usados para
produzir celulose e papel?
4. Explique por que atualmente as indústrias de celulose e papel prefere-se trabalhar com
branqueadores que não são à base de cloro?
Processamento de alimentos
O processamento de produtos alimentícios é bem semelhante aos demais processos já
apresentados pela tecnologia química, principalmente, quanto aos equipamentos e pro-
cessos tecnológicos envolvidos. Destaque especial é dado aos processos de pasteuriza-
ção, secagem, desidratação, esterilização, congelamento, desenvolvimento de materiais
para armazenamento, manuseio, automação, limpeza e sanitização. Porém, o avanço
mais importante, durante todo século XX, foi o uso do aço inoxidável para o proces-
samento de alimentos. Esse material, resistente à corrosão, permitiu o desenvolvimento
de processos contínuos e automatizados contribuindo com um ambiente asséptico.
De forma genérica, as principais fases do processamento de produtos alimentícios
são: beneficiamento, elaboração, preservação e/ou conservação e armazenamento.
A fase de beneficiamento é a primeira etapa do processamento da matéria-prima
e se divide em: colheita (ou abate), transporte, limpeza, classificação e seleção. Du-
rante a colheita a matéria-prima passa por uma série de procedimentos preliminares
de acordo com a sua origem e destino, sendo em seguida é transportada de forma
adequada para a usina de processamento. Já na usina de processamento, a etapa de
limpeza pode ser realizada pela remoção física de resíduos, separação das partes não
comestíveis e higienização do produto.
As partes rejeitadas A subdivisão por tamanho e granulometria é realizada durante a classificação. Por
são empregadas
tradicionalmente fim, é realizada uma seleção do produto de acordo com o seu destino e de suas quali-
na preparação de dades organolépticas, físicas, químicas e microbiológicas.
subprodutos.
A fase de elaboração é a etapa de maior importância no processamento de ali-
mentos, pois nela se desenvolvem diversas operações de natureza física, química e
biológica que caracterizam os produtos.
A partir do processamento tecnológico de alimentos básicos, tais como o leite, car-
ne, pescado, ovos, frutas e vegetais é possível obter uma variedade maior de produtos.
Os principais processos tecnológicos usados na fase de elaboração são:
· processos físicos: moagem, trituração, esmagamento ou prensagem e aplicação de calor;
· processos químicos: extração por solvente, acidificação, aditivação e salga;
· processos físico-químicos: refinação, hidrolização, dissolução, emulsificação, ca-
ramelização e cristalização;
· processos biológicos: fermentação e maturação.
(a) (c)
(b)
Figura 8.1. Principais modelos de moinhos usados no processamento de alimentos: (a) moinho de bolas,
(b) moinho de martelos e (c) moinho de pedras.
Outra etapa que merece destaque é o processo de extração que pode ser realizada
via processos físicos (prensagem) ou via processos químicos (extração por solvente).
A prensagem é efetuada através de prensas contínuas que consistem em um cesto for-
mado de barras de aço retangulares, distanciados por meio de lâminas. O espaçamento
das barras é regulado para agir como filtro para as partículas da chamada “torta”.
Dentro desse cesto gira uma rosca para comprimir o material. A Figura 8.2 mostra o
desenho esquemático de uma prensa mecânica.
ser realizado por meio de diversos processos, dentre eles: a flambagem, a fervura,
a aplicação de calor seco e a aplicação de calor úmido ou autoclavagem.
Diferente dos demais, na tindalização o aquecimento é feito de maneira des-
contínua. Após o acondicionamento das matérias-primas alimentícias, a serem
submetidas ao tratamento, em recipiente fechado, o produto é submetido ao tra-
tamento térmico. Dependendo de cada produto e do rigor térmico desejado, as
temperaturas variam de 60 a 90 °C, durante alguns minutos. As células bacteria-
nas que se encontram na forma vegetativa são destruídas, porém os esporos so-
brevivem. Depois do resfriamento, os esporos entram em processo de germinação
e depois de 24 horas a operação é repetida. O número de operações pode variar de
3 a 12 vezes até a obtenção da esterilização completa. A vantagem desse processo
é que podem ser mantidos praticamente todos os nutrientes e as qualidades orga-
nolépticas do produto, em proporções maiores do que quando se utilizam outros
tratamentos térmicos.
Por fim, a apertização é a aplicação do processo térmico a um alimento con-
venientemente acondicionado em uma embalagem hermética, resistente ao calor,
a uma temperatura e um período de tempo cientificamente determinados, para
atingir a esterilização comercial. Esse processo corresponde ao aquecimento do
produto já elaborado, envasado em latas, vidros, plásticos ou outros materiais e
relativamente isentos de ar.
(vi) Conservação pela adição de aditivos: apesar de poder contribuir para a con-
servação dos alimentos, deve ser usada com moderação, uma vez que, a ingestão
excessiva de alimentos conservados por aditivos químicos pode provocar pertur-
bações no equilíbrio fisiológico do consumidor.
(vii) Conservação pelo uso da irradiação: sob ponto de vista tecnológico, satisfaz
plenamente o objetivo de proporcionar aos alimentos, a estabilidade química e
microbiológica, condições de sanidade e longo período de armazenamento. No
entanto, ainda apresenta uso limitado.
As condições que levam a uma intensa atividade respiratória da semente são igual-
mente favoráveis ao crescimento das bactérias e mofos, ocasionando a deterioração
dos grãos armazenados. Portanto, as sementes são melhor armazenadas em locais com
baixa umidade, onde o crescimento do mofo e de outros eventuais danos as sementes
serão minimizados.
Os grãos de soja colhidos nos campos são transportados via rodovia ou ferrovia
até as fábricas. Na fábrica são realizados os primeiros controles para a armazenagem
desses grãos, como o teor de umidade, quantidade de material estranho e incidência de
grãos “danificados”. Realiza-se também a pré-limpeza, que nada mais é do que a retira-
da de impurezas mais grossas (galhos, meio grãos, etc.) antes do armazenamento. Essa
etapa é realizada em máquinas especiais dotadas de peneiras vibratórias e visa diminuir
o risco de deterioração e maximizar o espaço útil do silo.
Em seguida, o grão é preparado para extração via uma limpeza, para eliminação
de impurezas vegetais, minerais e metálicas, mediante peneiramento, aspiração e se-
paração magnética. Ele passa também por uma etapa de ruptura, para reduzir os grãos
em pedaços de 1/4 a 1/6 do tamanho do grão inteiro.
Quando se deseja produzir um farelo com alto conteúdo proteico, realiza-se a etapa de
descascamento, seguido do sistema de separação das cascas. Já que os grãos de soja
estão recobertos em média com 8 % de cascas e a operação de descascamento traz a
vantagem do aumento do conteúdo proteico de 44 % para 48 %.
Posteriormente, os grãos passam por um condicionamento térmico por meio de
aquecimento a 65 °C em condicionadores do tipo vertical ou, mais comumente, do tipo
rotativo. Depois, os grãos passam por um processo de laminação para facilitar o rom-
pimento do tecido e das paredes das células, diminuindo a distância entre o centro da
célula e a superfície e aumentando da superfície de saída de óleo. Obtêm-se, desta for-
ma, flocos com 0,2 a 0,4 mm de espessura por um diâmetro equivalente de 10 a 30 mm.
Só então esse material passa por um cozimento para promover o rompimento das
paredes das células e facilitar a saída do óleo. O cozimento ocorre em um aparelho
chamado “chaleira” que é composto por 4 ou 5 bandejas sobrepostas, aquecidas a
vapor direto ou indireto. Durante essa etapa, eleva-se a temperatura dos flocos lami-
nados e se aumenta a umidade do sistema. Com o aumento da umidade dos flocos e o
rompimento das paredes da célula, consegue-se facilitar a saída do óleo. Nas bandejas
superiores as sementes são submetidas ao vapor direto e indireto, já na última bandeja
(ii) Refino. Para ser usado em larga escala pela indústria alimentícia, o óleo bruto
de soja tem que passar pelo processo de refinação. O processo de refinação tem
como finalidade melhorar a aparência, odor e sabor do óleo, o que ocorre devido
à remoção de:
· substâncias coloidais, proteínas fosfatídeos e produtos de sua decomposição;
· ácidos graxos livres e seus sais, ácidos graxos oxidados, lactonas, acetais e
polímeros;
· corantes, tais como clorofila, xantofila, carotenoides;
· substâncias voláteis, tais como hidrocarbonetos, alcoóis, aldeídos, cetonas e
ésteres de baixo peso molecular;
· substâncias inorgânicas, tais como: sais de cálcio e de outros metais, silica-
tos, fosfatos e outras;
· umidade.
ATIVIDADES
Figura 9.1. Papiro de Ebers. Reprodução do Atlas zur Altaegyptischen Kulturgeschichte, publicado em
Leipzig em 1936
ALQUILAÇÃO
A alquilação é definida como um processo de introdução de grupos alquil ou aril (-R)
por reações de substituição ou adição, em compostos orgânicos. São considerados três
tipos de processos, segundo a forma de ligação que se efetua:
C2H5ONa
O H
Na COOC2H5 H5C2 COOC2H5 H5C2 COOC2H5 H5C2 N
C2H5Cl i. C2H5ONa uréia
C C C C C O
6,8 atm ii. C2H5Cl C2H5ONa H5C2 C N
H COOC2H5 H COOC2H5 H5C2 COOC2H5
6,8 atm H
O
Sodiomalonato Etilmalonato Dietilmalonato
de dietila de dietila de dietila Barbital
+ 100% C2H5OH
O ONa O ONa
2 NaOH CO2 Isômeros H2SO4 HO
2 C6H5OH 2 C6H5ONa
100 atm NaO 100 atm HO
Ácido Fenolato
carbólico (Fenol) de sódio 125 oC 125 oC Ácido salicílico
+ 2 H2O + Na SO
2 4
Fenilcarbonato Salicilato
de sódio de sódio
CH3OH
+ C6H5OH + C6H5ONa
H3C O
C
HO
Salicilato de metila
+ H2O
Figura 9.3. Esquema de reações químicas para a preparação do salicilato de metila
CONDENSAÇÃO
Outra conversão química muito importante devido ao seu emprego na fabricação de inúme-
ros produtos farmacêuticos que apresentam estruturas diversas em sua composição é con-
densação. A condensação é uma reação química em que duas moléculas se combinam para
formar uma única molécula, descartando ou não outra molécula menor durante o processo.
Destaque especial é dado à fenolftaleína, um composto amplamente usado como
purgativo, e que também é bastante conhecido na química analítica, especialmente na
análise volumétrica, por ser empregado como indicador do ponto final em titulações
ácido/base. Ele é produzido pelo esquema reacional apresentado na Figura 9.4.
HO
OH
O
C C
H2SO4
2 C6H5OH + O O + H2O(H2SO 4)
10 - 12 h
Fenol C C
120 oC
(fundido) O O
Anidrido ftálico Fenolftaléina
(resfriado)
DESIDRATAÇÃO
A reação de desidratação é um tipo especial de condensação em que durante a combi-
nação de duas moléculas se descarta uma ou mais molécula de água (H2O).
Para exemplificar a desidratação será apresentada a seguir a síntese do éter. Esse
composto é normalmente usado como solvente e, quando purificado, é usado na far-
macopéia como anestésico. O processo de fabricação do éter é bastante simples e se
baseia na ação desidratante do ácido sulfúrico, conforme reações químicas apresenta-
da na equação 9.1:
H2O
equação 9.1 3 C2H4 + 2 H2SO 4 C2H5OSO 3H + (C2H5)2OSO 2 C2H5OH + (C2H5)2O + 2 H2SO 4(H2O)
ESTERIFICAÇÃO (ACETILAÇÃO)
A esterificação é uma reação química reversível na qual um ácido carboxílico reage
com um álcool produzindo éster e água. A esterificação da função fenol do ácido sali-
cílico com anidrido acético, em presença de gotas de ácido sulfúrico como catalisador
é conhecida como acetilação e é a conversão química que serve de base para produção
do ácido acetilsalicílico (AAS). A reação química de síntese do ácido acetilsalicílico é
apresentada na equação 9.2.
OH O COCH3
H2SO4
+ (CH3CO)2O + CH3COOH
equação 9.2 O (catalisador) O
C Anidrido C Ácido
OH acético acético
OH
Ácido Ácido
salicílico acetilsalicílico
OXIDAÇÃO
São denominadas reações oxidação/redução (ou redox) todas as reações químicas que
envolvem a transferência de elétrons entre um composto orgânico e uma espécie oxi-
dante ou redutora. Quando o elemento químico oxigênio (O) é o agente oxidante em
questão e o aumento do número de oxidação ocorre nos átomos de carbono do com-
posto orgânico que originará o fármaco, essa reação é conhecida como oxidação. A
reação de oxidação pode ser ilustrada pelo esquema reacional de produção da isonia-
zida, um fármaco pertencente ao grupo dos antibacterianos que é usado em conjunto
com outros medicamentos para o tratamento da tuberculose.
A ioniazida é produzida pela oxidação da 4-Metilpiridina, de acordo com o esque-
ma reacional representado pela equação 9.4.
N N N
Oxidação H2NNH2
equação 9.4
Hidrazina
CH3 C C
O OH O NH
4-Metilpiridina
Ácido NH2
Isonicotínico Isoniazida
O O
S Cl
CH3
ClSO3H álcali O C O NH
N
+
Ácido NH S N
Clorossulfônico H2N N O N
(excesso)
O NH O NH
C C
2-Amino Acetilsulfadiazina
CH3 CH3 1,3-diazida
Acetanilina Sulfonilcloreto de
p-acetamidobenzeno ferver com
HCl 15%
O NH
H2N S N
O N
Sulfadiazina
Figura 9.5. Esquema de reações químicas para a preparação da sulfadiazina
FERMENTAÇÃO
Como foi mencionado logo no início do capítulo, após a Segunda Guerra Mundial
a biotecnologia passou a ter papel fundamental na produção de fármacos. Assim, a
indústria farmacêutica passou a empregar os processos biológicos dos vegetais e/ou
animais, especialmente dos microorganismos na produção de medicamentos. Esses mi-
croorganismos podem crescer em condições controladas, para produzir diversas subs-
tâncias químicas fundamentais e muitas vezes complexas, tais como: antibiótico, pro-
dutos biológicos (vírus, soro terapêutico, toxina, antitoxina, etc.), hormônios esteróides
e vitaminas. A tecnologia de fermentação envolvida na produção destes compostos já
foi citada no Capítulo 8 e, portanto, não será abordada novamente.
ATIVIDADES