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FUNDAMENTOS DA

QUÍMICA INORGÂNICA

Autoria: Lucile Cecília Peruzzo

1ª Edição
Indaial - 2021

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jairo Martins
Jóice Gadotti Consatti
Marcio Kisner
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
P471f

Peruzzo, Lucile Cecília

Fundamentos da química inorgânica. / Lucile Cecília Peruzzo – Indaial:


UNIASSELVI, 2021.

187 p.; il.

ISBN 978-65-5646-455-8
ISBN Digital 978-65-5646-456-5

1. Química inorgânica. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da


Vinci.

CDD 546

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
Metais, não Metais, Gases Nobres e Introdução
À Química do Estado Sólido......................................................... 7

CAPÍTULO 2
Compostos de Coordenação..................................................... 75

CAPÍTULO 3
Química Bioinorgânica.............................................................. 133
APRESENTAÇÃO
Acadêmico, bem-vindo à disciplina de Fundamentos da Química
Inorgânica!

Se a química orgânica é definida como a química dos compostos de


hidrocarbonetos e dos derivados, a química inorgânica pode ser descrita,
amplamente, como a de "todas as outras coisas". Isso inclui todos os elementos
restantes na tabela periódica, incluindo o carbono, que desempenha um papel
importante em muitos compostos inorgânicos.

A química organometálica é um ramo muito grande e de rápido crescimento,


o qual une ambas as áreas, considerando compostos que contêm ligações diretas
de metal-carbono e incluem a catálise de muitas reações orgânicas.

A química bioinorgânica faz a ponte entre a bioquímica e a química


inorgânica, e a química ambiental inclui o estudo de compostos inorgânicos e
orgânicos. Como pode ser imaginado, o reino inorgânico é, extremamente, amplo,
e fornece áreas, essencialmente, ilimitadas para a investigação.

A química inorgânica lida com substâncias que possuem, virtualmente, todos


os tipos conhecidos de características físicas e estruturais.

Nosso livro didático será dividido em três capítulos. No Capítulo 1,


começaremos com uma revisão dos metais, dos não metais e dos gases nobres,
e com uma discussão a respeito de substâncias que existem no estado sólido,
como matrizes estendidas, ao invés de unidades moleculares. Existem muitas
substâncias importantes que não são moleculares. A maioria dos próprios
elementos é não molecular. Assim, mais da metade dos elementos é metal, a partir
dos quais as matrizes compactadas de átomos são mantidas juntas, por elétrons
deslocalizados, enquanto outros, como carbono, silício, germânio, fósforos
vermelho e preto e boro, envolvem redes infinitas de ligações mais localizadas.

No Capítulo 2, estudaremos os metais de transição. Na terminologia


moderna, tal compostos são chamados de compostos de coordenação. A química
dos compostos de coordenação é uma importante e desafiadora área da química
inorgânica moderna. Esse interesse foi gerado pela descoberta das atividades
antibacteriana, fúngica e cancerígena de vários compostos de coordenação.

Finalmente, no Capítulo 3, trataremos da química bioinorgânica. Pode ser


definida como a ciência que lida com o estudo da reatividade química de elementos
e de compostos inorgânicos em sistemas biológicos. O foco principal são os íons
metálicos, com interesse na
​​ interação deles com os ligantes biológicos e nas
importantes propriedades químicas que são capazes de exibir e de transmitir a
um organismo. Essas propriedades incluem catálise, sinalização, regulação,
detecção, defesa e suporte estrutural (LIPPARD, 1994).

Conectaremos a química de materiais inorgânicos a algumas das aplicações


atuais e emergentes, especialmente, sob o domínio da química em nanoescala.
Interessante, não é mesmo?!

Convidamos você a iniciar os estudos desse maravilhoso universo de


elementos químicos e das propriedades tão importantes.

Prof.ª Dra. Lucile Cecília Peruzzo


C APÍTULO 1
Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado
Sólido
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

• Descrever as diferenças entre metais e não metais.


• Identificar um elemento, se metal ou não metal, dadas as propriedades.
• Ditar as reações de metais com oxigênio, água e alguns ácidos e bases
comuns.
• Analisar as reações de não metais com oxigênio.
• Organizar os metais em ordem de reatividade e construir séries.
• Relacionar a composição, a estrutura e as propriedades dos sólidos.
• Compreender que, quando átomos, íons e moléculas não têm energia
suficiente para escapar da influência dos vizinhos, formam sólidos com arranjos
característicos.
• Classificar os sólidos cristalinos com base na natureza das forças de ligação.
• Diferenciar materiais cristalinos e amorfos.
Fundamentos da Química Inorgânica

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Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Em casa, na rua, no trabalho, estamos rodeados de metais e de não metais.
Na cozinha, usamos metais e não metais. Os utensílios são feitos de metais, como
ferro, alumínio, zinco e cobre. Nossos recipientes de armazenamento podem ser
feitos de materiais não metálicos, como plásticos e vidro. Assim, metais e não
metais são parte integrante das nossas vidas.

Além das situações da vida cotidiana, metal e não metal são, industrialmente,
muito importantes. Eles desempenham um papel fundamental na nossa economia
nacional. Você já deve ter ouvido falar das várias indústrias de ferro e de aço, das
de zinco e de cobre e das de alumínio, estabelecidas no nosso país. Existem,
basicamente, indústrias de base metálica. Além disso, você, também, já ouviu
ter conhecimento das plantas ácidas e das fábricas de fertilizantes. Estas são
indústrias baseadas em não metais. Todos esses metais e não metais são obtidos
de minerais.

A maioria dos elementos químicos é metal. Muitos têm as propriedades


comuns de ser brilhantes, muito densos e com altos pontos de fusão. Os metais
tendem a ser dúcteis (podem ser transformados em fios finos) e maleáveis ​​(podem
ser martelados em folhas finas). São bons condutores de calor e de eletricidade.
Todos eles são sólidos à temperatura-ambiente, exceto o mercúrio. Em reações
químicas, perdem elétrons, facilmente, para formar íons positivos. É possível citar,
como exemplos de metais, a prata, o ouro e o zinco (MANNING, 2008).

Os não metais incluem gases nobres (He, Ne, Ar, Kr, Xe, Rn), hidrogênio (H),
oxigênio (O), nitrogênio (N), flúor (F), cloro (Cl), bromo (Br) líquido e elementos
sólidos, como carbono, enxofre, fósforo e iodo. Os não metais, exceto os gases
nobres, compartilham, prontamente, os elétrons. Os átomos são unidos por
ligações covalentes, ou seja, átomos que compartilham os elétrons externos.
Frequentemente, formam moléculas diatômicas, como H2, Cl2, N2, moléculas
maiores, como P4 e Sg, ou moléculas gigantes, ou seja, uma rede de átomos de
volume indefinidamente grande, a exemplo do carbono na forma de grafite ou de
diamante (HABASHI, 2010).

Os gases nobres são compostos, apenas, de átomos individuais, sendo


monoatômicos. Com temperatura e pressão-ambiente, são não reativos. Devido à
falta de reatividade, por muitos anos, foram chamados de gases inertes ou raros.
No entanto, os primeiros compostos químicos, contendo os gases nobres, foram
preparados em 1962 (FEITOSA; BARBOSA; FORTE, 2016).

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Fundamentos da Química Inorgânica

Embora os gases nobres sejam constituintes, relativamente, menores da


atmosfera, o gás natural contém quantidades substanciais de hélio. Por causa da
baixa reatividade, o argônio é, frequentemente, usado como uma atmosfera não
reativa (inerte) para soldagem e em lâmpadas. A luz vermelha, emitida pelo néon,
em um tubo de descarga de gás, é usada em luzes de néon.

Os não metais são, geralmente, quebradiços, opacos, têm pontos de fusão


baixos e maus condutores de calor e de eletricidade. Em reações químicas,
tentam ganhar elétrons para formar íons negativos. Exemplos de não metais são
hidrogênio, carbono e nitrogênio.

Estamos cercados por sólidos e os usamos, com maior frequência, em


comparação aos líquidos e aos gases. Para diferentes aplicações, precisamos
de sólidos com propriedades amplamente diferentes. Essas propriedades
dependem da natureza das partículas constituintes e das forças de ligação.
Portanto, o estudo da estrutura dos sólidos é importante. A correlação entre
estrutura e propriedades ajuda na descoberta de novos materiais sólidos e com
propriedades desejadas, como supercondutores de alta temperatura, materiais
magnéticos, polímeros biodegradáveis para embalagens, sólidos biocompatíveis
para implantes cirúrgicos etc. (NCERT, 2007).

Neste capítulo, abordaremos as principais características e as propriedades


relevantes de metais, de não metais e de gases nobres. Entenderemos que,
nos sólidos, os diferentes arranjos possíveis de partículas geram vários tipos de
estruturas. A correlação entre a natureza das interações, dentro das partículas
constituintes, e as várias propriedades dos sólidos, também será explorada.

2 METAIS
Para saber se um determinado elemento é um metal ou não, isso depende de
algumas das propriedades dele. Que propriedade ou combinação de propriedades
define um metal? Para o químico, um elemento é um metal se o óxido reage, com
ácidos, para dar sais, mesmo que a classificação química seja, rigorosamente,
aplicável, apenas, aos elementos dos grupos principais da tabela periódica. Os
elementos dos blocos d e f são, em qualquer caso, considerados metais. Para um
físico, um elemento é um metal se apresenta boa condutividade elétrica. Esse
critério abrange metais diferentes, como o sódio e o ouro (DELFINO; SACCONE,
s.d.).

Na Tabela Periódica apresentada a seguir, os metais estarão posicionados à


esquerda, enquanto, à direita, estarão os não metais. Elementos que apresentam

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Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

comportamento químico limítrofe entre os metais e os não metais (por exemplo,


semimetais Be e Al, cujos óxidos têm um caráter anfotérico) serão destacados
na 1a, enquanto a 1b elencará elementos com um comportamento limítrofe em
relação à condutividade elétrica (B, Si etc.).

Em Química, uma substância de caráter anfótero é aquela


capaz de reagir com comportamento ácido ou básico. Substâncias
anfotéricas podem ser moléculas, íons ou compostos de coordenação
que reagem com bases e com ácidos. A água é um exemplo de
substância anfotérica.

FONTE: <https://www.britannica.com/science/amphoterism>.
Acesso em: 24 abr. 2021.

FIGURA 1 – TABELA PERIÓDICA DOS ELEMENTOS


(a) classificação química

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Fundamentos da Química Inorgânica

b) classificação física

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/tabela-periodica/>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Aproximadamente, 80, dos elementos químicos conhecidos na tabela


periódica, são metálicos. Mais de três quartos dos metais são usados​​
industrialmente, mas apenas oito estão disponíveis a um custo baixo e em
quantidade suficiente para servir de base para materiais comuns da engenharia:
cobre, ferro, chumbo e estanho, usados ​há milhares de anos e em várias formas
metálicas; e alumínio, magnésio, níquel e zinco, adições, relativamente, novas.
Os metais apresentam propriedades físicas que variam, significativamente, com a
posição do metal na tabela periódica (DEFINO; SACCONE, s.d.).

Os metais têm densidades variáveis, de 0,534 para o lítio a 22,48 g/cm3


para o ósmio. As temperaturas de ponto de fusão, à pressão-ambiente, variam de
-38,8° C, para Hg, o único metal líquido à temperatura-ambiente, e para césio e
gálio, que fundem a 28,4 e a 29,8 oC, a 3422 ° C, para o tungstênio (W) (FEITOSA;
BARBOSA; FORTE, 2016).

A dureza dos metais pode variar amplamente, desde metais macios, como
lítio (Li), sódio (Na) e chumbo, (Pb), a metais duros, como o tungstênio (W) etc.

Os metais são sólidos não transparentes, que exibem um brilho particular. A


cor não varia muito: do cinza azulado do chumbo (Pb) e do zinco (Zn) ao branco
da prata (Ag), com a única exceção de dois metais coloridos: ouro (Au) e cobre
(Cu).

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Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

FIGURA 2 – ALGUNS METAIS

FONTE: <https://intl.siyavula.com/read/science/grade-7/the-periodic-table-of-
elements/09-the-periodic-table-of-elements?id=toc-id-5>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A ductilidade (propriedade de serem, facilmente, transformados em fios) e a


maleabilidade (propriedade de serem transformados em lâminas) são típicas dos
metais em oposição à fragilidade de outros sólidos (sólidos iônicos) (BORGES;
ALVES, 2017).

Vários metais podem ser classificados em função das propriedades e das


aplicações:

• Metais leves Li, Be, Mg, Al, Ti (usados ​​em ligas leves).
• Metais refratários Zr, Hf, V, Nb, Ta, Mo, W, Re (pontos de fusão elevados).
• Metais de solda macios Ga, In, Sn, Pb, Sb, Bi.
• Ligas de metais ferrosos Ti, V, Nb, Cr, Mo, W, Mn.
• Metais preciosos Ru, Os, Rh, Ir, Pd, Pt, Ag, Au.

A família dos metais preciosos resiste à ação de muitos produtos químicos e,


portanto, são usados como
​​ joias e padrões monetários. Prata (Ag) e Ouro (Au),
com o Cobre (Cu), também, são chamados de metais de cunhagem, devido ao
amplo uso em moedas e em medalhas.

Muitas das propriedades dos metais, incluindo, grande raio atômico e


baixas energias de ionização e de eletronegatividade, devem-se ao fato de que

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Fundamentos da Química Inorgânica

os elétrons da camada de valência podem ser removidos facilmente. Como os


elétrons de valência podem se mover livremente, os metais são bons condutores
de calor e de eletricidade (KOWENJE, 2017).

Nos metais, como esses elétrons de valência não estão, fortemente, ligados
ao núcleo, fazem ligações do tipo metálica. Nesse tipo de ligação, cada átomo,
em um cristal de metal, contribui com todos os elétrons na camada de valência
para todos os outros átomos no cristal. Outra maneira de ver esse mecanismo
é imaginar que os elétrons de valência não estão, intimamente, associados a
átomos individuais, mas, em vez disso, movem-se entre os átomos dentro do
cristal. Portanto, os átomos individuais podem "deslizar" uns sobre os outros,
embora permaneçam, firmemente, mantidos juntos pelas forças eletrostáticas
exercidas pelos elétrons. Por isso, muitos metais podem ser transformados em
folhas finas (maleáveis) ou em fios finos (dúcteis) (DOE-HDBK, 1993). Quando
uma diferença de potencial elétrico é aplicada, os elétrons se movem, livremente,
entre os átomos, e uma corrente flui.

FIGURA 3 – ELÉTRONS LIVRES NOS METAIS - LIGAÇÃO METÁLICA

FONTE: <https://quimicagabrielpelotas.webnode.com/conteudo-de-quimica/
liga%C3%A7%C3%B5es-quimicas2/>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Pode-se pensar em um metal como uma grande quantidade de cátions


mantidos juntos por um “mar’’ de elétrons. Esse modelo explica muitas das
propriedades físicas. Por exemplo, os metais conduzem eletricidade porque os
elétrons do ‘’mar’’ podem responder a uma diferença de potencial aplicada, e se
movem além dos cátions estacionários (ATKIS; JONES, 2012).

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Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

2.1 PROPRIEDADE QUÍMICA DOS


METAIS
As propriedades químicas de um material são muito importantes,
particularmente, no que diz respeito à capacidade de resistência à corrosão.

A corrosão é definida como a destruição ou a deterioração de um material,


devido à reação ao ambiente. Esses materiais incluem metais, como ferro, cobre
etc., e não metais, como cerâmica, plástico, borracha etc. A corrosão pode ser
rápida ou lenta. Por exemplo, o aço é, gravemente, atacado, em poucas horas,
pelo ácido politiônico, enquanto, por outro lado, os trilhos da ferrovia, geralmente,
apresentam leve ferrugem ao longo de muitos anos. A corrosão destrói os objetos
feitos de metais e as ligas, mas o mundo moderno precisa desses materiais. Cerca
de 80 por cento das paradas não programadas e das quebras, nas indústrias, são
devidas à corrosão (SHARMA, 2012).

Modifica outras propriedades, como a resistência ao desgaste e à fadiga. Os


agentes químicos são, sobretudo, os ácidos que atacam os metais. Por exemplo,
o ácido clorídrico ataca o ferro e o zinco a frio, enquanto o ácido sulfúrico é
decomposto por estes. O ácido nítrico ataca a maioria dos metais, exceto o ouro e
a platina (MARTINS; PEREIRA, 2010).

Agora, entenderemos algumas reações químicas comuns dos metais.

1. Reação dos metais com o oxigênio: A maioria dos metais reage com o
oxigênio e forma óxidos. O oxigênio é um não metal muito reativo, que consegue
reagir com quase todos os demais elementos químicos. A reação é, em geral,
denominada de queima ou combustão, e produz óxidos de vários tipos (FELTRE,
2004).

4Na(s) + O2(g) ⎯⎯→ 2Na2O(s)


2Mg(s) + O2(g) ⎯⎯→ 2MgO(s)
4Al(s) + 3O2(g) ⎯⎯→ 2Al2O3(s)

Os óxidos de metais são básicos por natureza, pois reagem com a água e
formam bases, por exemplo, Na2O, CaO, MgO, K2O etc.

2. Reação de metais com ácidos: Os metais reagem com ácidos comuns,


como HCl diluído e H2SO4 diluído com produção de H2 (NIOS, 2008).

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Fundamentos da Química Inorgânica

Mg(s) + 2HCl(aq) ⎯⎯→ MgCl2(aq) + H2(g)


Zn(s) + H2SO4(aq) ⎯⎯→ ZnSO4(aq) + H2(g)

A reação da fita de Mg com HCl diluído será representada a seguir:

FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO DO PROCEDIMENTO


EXPERIMENTAL DA REAÇÃO DE MG COM HCL DILUÍDO

FONTE: <https://www.nios.ac.in/media/documents/secscicour/
English/Chapter-27.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

3. Reação de metais com água: Muitos metais reagem com água para
formar hidróxidos. Os hidróxidos são básicos por natureza. O sódio e o potássio
reagem com a água fria (NIOS, 2008).

2Na(s) + 2H2O(l) ⎯⎯→ 2NaOH(aq) + H2(g)


2K(s) + 2H2O(l) ⎯⎯→ 2KOH(aq) + H2(g)

Magnésio reage com água quente.

Mg(s) + H2O(l) ⎯⎯→ Mg(OH)2(aq) + H2(g)

Metais, como Al ou Fe, reagem ao aquecimento com água ou vapor. Nessas


condições, os metais formam óxidos metálicos.

2Al(s) + 3H2O(g) ⎯⎯→ Al2O3(s) + 3H2(g)


Fe (s) + 4H2O(g) ⎯⎯→ Fe3O4(s) + 4H2(g)

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Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

4. Reação de metais com bases comuns: Alguns metais, como alumínio e


zinco, reagem com bases comuns (NIOS, 2008).

Sn(s) + 2NaOH(aq) + H2O(l) ⎯⎯→ Na2SnO3(s)


Zn(s) + 2NaOH(aq) ⎯⎯→ Na2ZnO2(s)

2.2 CORROSÃO DOS METAIS


Como você sabe, os metais reagem com o ar e formam os óxidos. Essa
tendência de formação afeta as propriedades físicas e químicas. Você consegue
imaginar um exemplo na observação do dia a dia? Você já deve ter observado os
pregos enferrujados na sua casa, as grades de ferro ou o portão enferrujado no
jardim, devido à oxidação do ferro. Ainda, uma camada verde sobre uma moeda
de cobre antiga. Essa camada verde é devida à oxidação, que leva à formação de
óxido de cobre, o qual é, finalmente, convertido em carbonato de cobre básico na
superfície. Todos esses processos de oxidação de metais são conhecidos como
corrosão (TALBOT; TALBOT, 2018).

O fenômeno da corrosão consiste no processo de deterioração dos materiais


metálicos por meio de reações químicas e eletroquímicas, pois esses materiais
buscam atingir um estado de menor potencial de energia (SALAZAR-JIMÉNEZ,
2015).

Os produtos que se formam a partir do processo de corrosão, na superfície


do material, podem afetar, negativa ou positivamente, as propriedades do
material, dependendo da natureza e das condições que o cercam. No caso do
ferro (e de outros metais), o produto que se forma é conhecido como ferrugem,
e tem densidade menor do que o metal-base, o que faz com que se desprenda
da superfície, consumindo o material. Por outro lado, para outros tipos de metais,
como alumínio, níquel ou cromo, produtos de corrosão têm uma densidade maior
do que o material de base, formando uma camada sólida e estável na superfície,
evitando que a corrosão se espalhe, protegendo-o. Esse processo é conhecido
como passivação, fenômeno que dá o nome de inoxidável a um material, como
aços inoxidáveis ​​(REVIE, 2011; SCHWEITZER, 2010 apud SALAZAR-JIMÉNEZ,
2015).

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Fundamentos da Química Inorgânica

FIGURA 5 – FENÔMENO DA PASSIVAÇÃO DO AÇO INOXIDÁVEL

FONTE: <https://www.grupohumma.com.br/biblioteca/
Passiv_farma.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A capacidade do aço inoxidável de resistir à corrosão é atribuída à formação


de um filme de superfície passivo insolúvel, relativamente, não reativo, enriquecido
de óxido-hidróxido de cromo, que se forma, naturalmente, na presença de
oxigênio (autopassivação).

2.3 PROPRIEDADES ESTRUTURAIS E


FÍSICAS DOS METAIS
A razão pela qual os metais e as ligas diferem tanto de outros elementos,
e mais, geralmente, de sólidos não metálicos, depende da ligação metálica
característica que está na base da estrutura. Além das definições física e química
dos metais, a presença de uma ligação metálica caracteriza e define os sólidos
metálicos.

Todos os metais, muitos materiais cerâmicos e certos polímeros formam


estruturas cristalinas sob condições normais de solidificação. Os materiais sólidos
podem ser classificados, de acordo com a regularidade com a qual os átomos ou
íons estão dispostos uns em relação aos outros. Um material cristalino é aquele
no qual os átomos estão situados em uma matriz repetitiva ou periódica ao longo
de grandes distâncias atômicas, isto é, a ordem de longo alcance existe, de modo
que, após a solidificação, os átomos se posicionam em um padrão tridimensional
repetitivo, no qual cada um está ligado aos átomos vizinhos mais próximos.

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Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Quando livres, ou como entidades separadas sem vizinhos, cada um


desses átomos é composto de um núcleo feito de prótons (partículas carregadas
positivamente) e de nêutrons (partículas sem carga), fora dos quais estão os
elétrons (partículas carregadas negativamente), agindo como se estivesse
girando em torno de um eixo. Os elétrons existem, estatisticamente, em vários
níveis de energia em relação ao núcleo, alguns deles, fortemente, ligados a um
átomo individual, enquanto outros, aparentemente, estão, relativamente, livres
para se mover. Os metais podem ser considerados, convenientemente, uma
matriz de íons positivos, através dos quais os elétrons livres estão em movimento
(DEFINO; SACCONE, s.d.).

O brilho característico dos metais é devido à mobilidade dos elétrons que


formam o ‘’mar’’. Uma onda de luz incidente é um campo magnético oscilante.
Quando atinge a superfície do metal, o campo elétrico da radiação empurra os
elétrons móveis para a frente e para trás. Os elétrons que oscilam irradiam a luz,
e vemos isso como o brilho – essencialmente, uma reemissão da luz incidente.
Os elétrons oscilam, de acordo com a luz incidente, logo, geram luz da mesma
frequência. Em outras palavras, a luz vermelha refletida em uma superfície
metálica é vermelha, e a luz azul é refletida como luz azul. Por isso, a imagem em
um espelho – uma camada fina de metal sobre o vidro – mostra um retrato fiel do
objeto refletido (ATKINS; JONES, 2012).

FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO DA INCIDÊNCIA DE LUZ DE UMA


DETERMINADA COR SOBRE A SUPERFÍCIE DE UM METAL

FONTE: <https://www.erasolar.com.br/efeitofotoeletrico/>. Acesso em: 24 abr. 2021.

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Fundamentos da Química Inorgânica

Pode se perceber que, quando a luz de uma determinada cor atinge a


superfície de um metal, os elétrons da superfície oscilam, de acordo com a luz
incidente. Esse movimento de oscilação dá origem a uma onda eletromagnética,
a qual percebemos como a reflexão da fonte.

2.4 REATIVIDADE DOS METAIS E


SÉRIE DE ATIVIDADE
Os metais têm, sempre, tendência para ceder elétrons, consequentemente,
oxidam-se e agem como redutores. Os químicos, comparando vários metais,
conseguem determinar quais são os metais que têm alta tendência e quais os
que têm baixa tendência para ceder elétrons (FELTRE, 2004). Daí, surgiu a fila da
reatividade, ou fila de tensões eletrolíticas, apresentada a seguir:

FIGURA 7 – SÉRIE DE REATIVIDADE DOS METAIS

FONTE: Adaptada de Feltre (2004)

Quando o Fe é colocado em uma solução de CuSO4, substitui o Cu da


solução, de acordo com a seguinte reação: Fe(s) + CuSO4(aq) FeSO4(aq)
+ Cu(s).

Por outro lado, quando colocamos um fio de prata em uma solução de


CuSO4, nenhuma reação ocorre, porque a prata é menos reativa do que o cobre
(NIOS, 2008):
Ag(s) + CuSO4(aq) Não há reação.

No entanto, quando um fio de cobre é mergulhado em uma solução de


AgNO3, a prata é substituída e depositada nesse fio. A reação é a seguinte:
Cu(s) + 2AgNO3(aq) 2Ag(s) + Cu(NO3)2(aq).

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Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Isso indica que o cobre é mais reativo do que a prata. Em geral, um metal
mais reativo desloca um menos reativo da solução de sal.

Ao observar essas reações, diremos que o Fe é mais reativo do que o Cu e o


cobre é mais reativo do que a prata. Se pegarmos a solução de metais diferentes
e colocarmos outros metais nessa solução, podemos comparar a reatividade
dos metais entre si. A disposição deles, na ordem decrescente de atividade, é
conhecida como série de atividade ou reatividade, e eletroquímica.

Os metais podem ser selecionados, de acordo com as reatividades. Segue


uma seleção de alguns metais comuns e das respectivas reatividades com água,
ar e ácidos diluídos. Um metal mais reativo desloca um menos reativo de um
composto.

FIGURA 8 – EXEMPLOS DE ALGUNS METAIS E DE


REATIVIDADE COM AR, ÁGUA E ÁCIDOS DILUÍDOS

FONTE: <https://www.compoundchem.com/wp-content/uploads/2015/03/
The-Reactivity-Series-of-Metals.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Depois de entender a série de atividades, você pode considerar os metais


em três categorias:

21
Fundamentos da Química Inorgânica

• parte inferior da série de atividades (ou seja, metal de baixa reatividade);


• parte intermediária da série de atividades (metal de reatividade média);
• parte superior da série de atividades (metal de alta reatividade).

Os metais, na parte inferior da série de atividades, são muito pouco reativos.


Por exemplo, o mercúrio, que é obtido como HgS (cinábrio), pode ser extraído
facilmente:

2HgS(s) + 3O2(g) -> 2HgO(s) + 2SO2(g)


Calor

Em aquecimento posterior, o HgO é decomposto em mercúrio e em oxigênio:

2HgO(s) -> 2Hg(l) + O2(g)


Calor

Metais, na parte inferior da série de atividades, como Ag, Au etc., são menos
reativos, encontrados no estado nativo. Sem dúvida, alguns deles, também, são
tidos no estado combinado.

Já no meio da série de atividade, como ferro, zinco, chumbo etc., são,


moderadamente, reativos. Estão presentes, geralmente, como sulfureto ou
carbonato na natureza. Antes da redução, esses minérios são convertidos em
óxidos, pois é fácil reduzir os óxidos de metal. Por exemplo, no caso do zinco,
obtemos a seguinte reação (NIOS, 2008):

(i) 2ZnS(s) + 3O2(g) -> 2ZnO(g) + 2SO2(g)


Calor

(ii) ZnCO3(s) -> ZnO(s) + CO2(g)


Calor

Os óxidos de metal são reduzidos ao metal correspondente, usando carbono:

ZnO(s) + C(s) Zn(s) + CO(g)

Aqui, o ZnO é reduzido a Zn (processo de oxirredução).

22
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

3 NÃO METAIS
Os não metais representam cerca de 11% da tabela periódica. De acordo
com Feitosa, Barbosa e Forte (2016), têm um comportamento bem mais
diversificado do que os metais. Não apresentam brilho característico. Não são
maleáveis, nem dúcteis, e têm, como principal característica, a eletronegatividade
(tendência a receber elétrons). Esses elementos não conduzem corrente elétrica
ou calor (são isolantes). Em geral, apresentam quatro ou mais elétrons na última
camada. Assim, possuem tendência para receber elétrons (redução), tornando-se
íons negativos (ânions).

Em condições normais de temperatura e de pressão, alguns não metais


são encontrados como gases, alguns, como sólidos, e, um, como líquido. O
fato de tantos não metais existirem como líquidos ou gases significa que estes,
geralmente, têm pontos de fusão e de ebulição, relativamente, baixos, em
condições atmosféricas normais. Quanto à natureza química, os não metais,
principalmente, os mais eletronegativos, tendem a reagir com os metais para
formar os sais iônicos. Isso se dá devido à facilidade que esses elementos têm em
completar o subnível p, ganhando elétrons para adquirir estabilidade eletrônica
semelhante a um gás nobre (FEITOSA; BARBOSA; FORTE, 2016): metal + não-
metal → sal.

2Fe(s) + 3Br2 (l) → 2FeBr3 (s)

3.1 APLICAÇÕES DOS NÃO METAIS


Atente-se a algumas aplicações dos principais não metais.

QUADRO 1 – PRINCIPAIS APLICAÇÕES


Não metal Aplicação

A maior parte do fósforo é usada


para fazer ácido fosfórico H3PO4,
aplicado na fabricação de fertili-
zantes fosfatados.

O fósforo branco, como (P4S3), é tido


na indústria de fósforos. Os fosfatos
são adicionados aos detergentes
porque ajudam na remoção da suji-
dade.

23
Fundamentos da Química Inorgânica

O enxofre é usado na agricultura


para controlar fungos e pragas. Ain-
da, na fabricação de pólvora, uma
mistura de enxofre, carvão e nitrato
de potássio.

A maior parte do enxofre é conver-


tida em ácido sulfúrico, conhecido
como o rei dos produtos químicos,
presente para fazer vários outros.
O hidrogênio é muito comum na
fabricação de gás amônia, poste-
riormente, utilizado na fabricação de
ureia (fertilizante). O hidrogênio é um
constituinte de muitos combustíveis
industriais.

O silício é frequente na fabricação de


transistores, chips para computado-
res e células fotovoltaicas. Serve, na
indústria siderúrgica, para desoxidar
o aço e produzir aço resistente à cor-
rosão de alta qualidade.

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/l/jesc103.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

3.2 REAÇÃO QUÍMICA DOS NÃO


METAIS
1. Reação de não metais com oxigênio, água e alguns ácidos e bases
comuns:

Os não metais reagem com o oxigênio para formar os óxidos:

S(s) +O2(g) → SO2(g)


C(s) +O2(g) → CO2(g)

24
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

2H2(g) +O2(g) → 2H2O(l)

Segundo Feitosa, Barbosa e Forte (2016), em geral, os óxidos de não metais


são de natureza ácida ou, após serem dissolvidos em água, formam ácidos, como
é caso do dióxido de carbono, presente na água carbonatada e na da chuva,
que são mais ácidas, devido à presença do ácido carbônico (H2 CO3): óxido não-
metálicos + água → ácido.

CO2 (g) + H2 O(l) → H2 CO3 (aq)

O trióxido de enxofre forma o ácido sulfúrico com água:

SO3(g) + H2O(l) → H2SO4(l) (ácido sulfúrico).

O pentóxido de dinitrogênio forma o ácido nítrico com água:

N2O5(g) + H2O(l) → 2HNO3(l) (ácido nítrico).

H2SO4 e HNO3 são ácidos muito importantes e desempenham um papel


fundamental nas indústrias.

O ácido sulfúrico é o produto químico inorgânico mais


amplamente usado ​​na fabricação de muitos outros. É fabricado pela
combustão de enxofre com ar seco para formar dióxido de enxofre
(SO2) e, em seguida, trióxido de enxofre (SO3), produzido por meio de
uma conversão catalítica. Finalmente, o ácido sulfúrico é obtido após
a absorção de SO3 na água. É um agente oxidante forte, portanto,
reage, violentamente, com bases, combustíveis, materiais redutores,
água e compostos orgânicos com a evolução do calor. É altamente
corrosivo para o mais comum dos metais, e forma um gás inflamável/
explosivo. O ácido sulfúrico é usado, principalmente, na fabricação
de fertilizantes, de pigmentos orgânicos, de explosivos e muito mais.
Como um eletrólito potente, é comum em banhos de galvanoplastia,
para decapagem, e para operações na produção de ferro e de aço.
Além disso, é amplamente visto como solvente para minérios e como
catalisador na indústria do petróleo BAUMEISTER; GIARDINELLA;
CORONADO, 2012).

25
Fundamentos da Química Inorgânica

• Ácido nítrico

É um líquido fumegante, de incolor a castanho-claro, com um odor acre


sufocante. É o segundo ácido industrial mais importante, um agente altamente
oxidante, utilizado na fabricação de produtos químicos, explosivos, fertilizantes,
decapagem de aço e limpeza de metais. No entanto, o maior uso do ácido nítrico
é para a produção de fertilizantes. Reage, violentamente, na presença de bases
fortes, de agentes redutores e de fluidos combustíveis, como terebintina, carvão e
álcool, e de compostos orgânicos. É corrosivo para os metais, formando um gás
inflamável ou explosivo (BAUMEISTER; GIARDINELLA; CORONADO, 2012).

Devido à natureza ácida, muitos óxidos não metálicos reagem, diretamente,


com bases, para formar sais:

SO2(g) + 2NaOH(aq) → Na2SO3(aq) + H2O(l)


SO3(g) + 2NaOH(aq) → Na2SO4(aq) + H2O(l)
CO2(g) + 2NaOH(aq) → Na2CO3(aq) + H2O(l)

Dentre os não metais, alguns elementos recebem grande destaque,


como é o caso do oxigênio, localizado na família VIA, ou grupo 16 (família dos
calcogênios). Existem duas formas alotrópicas importantes de oxigênio: O2 ou
dioxigênio (chamado, comumente, de oxigênio) e ozônio (O3). O ozônio, que
possui um cheiro pungente e é tóxico, é encontrado na alta atmosfera e no ar
poluído das grandes cidades, onde causa problemas respiratórios, principalmente,
em crianças. O ozônio pode ser preparado a partir do oxigênio, via um processo
endotérmico (FEITOSA; BARBOSA; FORTE, 2016):

3O2 (g) → 2O3 (g) ∆H = 284,6 kJ.

Todas as reações químicas envolvem energia. A energia é usada


para quebrar ligações em reagentes e é liberada quando novas
ligações se formam nos produtos. Em uma reação endotérmica, é
necessária mais energia para quebrar as ligações nos reagentes
do que a liberada quando novas ligações se formam nos produtos.
Uma entrada constante de energia, geralmente, na forma de calor, é
fundamental para manter uma reação endotérmica em andamento. A
energia deve ser, constantemente, adicionada, porque não é liberada
o suficiente quando os produtos se formam para quebrar mais
ligações nos reagentes.

FONTE: <https://pdf4pro.com/view/endothermic-reactions-whippany-
park-high-school-4e242e.html>. Acesso em: 24 abr. 2021.

26
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

4 METALOIDES OU SEMIMETAIS
De acordo com Feitosa, Barbosa e Forte (2016), embora a IUPAC não
recomende mais essa classificação na tabela dela, os químicos continuam
utilizando os termos metaloides ou semimetais para designar os elementos que
apresentam propriedades intermediárias entre os metais e os não metais. O silício
(Si), por exemplo, tem brilho metálico, mas não é maleável, e, sim, quebradiço. Os
demais representantes dessa classe são: boro (B), germânio (Ge), arsênio (As),
antimônio (Sb) e telúrio (Te). Os metaloides, principalmente, o silício, destacam-
se, na indústria eletrônica, por serem semicondutores empregados na fabricação
de circuitos integrados e de chips de computadores.

1 - Os metais são utilizados pela capacidade de executar


determinadas funções. São, largamente, comuns em edifícios,
como suporte estrutural, para conter e levar líquidos quentes e
frios, conduzir eletricidade e calor, excluir o ambiente externo (e
conter alguns ambientes internos) e providenciar uma aparência
agradável. Nesse contexto, analise a seguinte situação: Suponha
que você entra em uma sauna com uma corrente de ouro no
pescoço. Tem-se, pouco tempo depois, a sensação de acentuado
aquecimento nessa região do corpo. O fenômeno ocorre como
consequência da:

FONTE: <https://engenhariacivilfsp.files.wordpress.com/2012/05/
mci-metais_2010.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

a) Temperatura mais elevada da pele.


b) Ligação metálica da corrente de ouro.
c) Transferência de calor do metal para a pele.
d) Transferência de elétrons da pele para o metal.
e) Transferência de calor da pele para o metal.

2 - Condutividade é a capacidade de uma solução, de um metal ou


de um gás – em resumo, todos os materiais – de passar uma
corrente elétrica. Todas as substâncias possuem algum grau de
condutividade. Pode ser medida, aplicando uma corrente elétrica
alternada (I) a dois eletrodos imersos em uma solução e medindo
a tensão resultante (V). Com relação à condutibilidade elétrica
dos metais, pode ser explicada, admitindo-se:

27
Fundamentos da Química Inorgânica

a) ruptura de ligações iônicas.


b) ruptura de ligações covalentes.
c) existência de prótons livres.
d) existência de elétrons livres.
e) existência de nêutrons livres.

3 - O crescimento da população mundial e o consumo exagerado


aumentaram a demanda por recursos naturais, afetando,
diretamente, as diversas formas da vida no planeta. A quantidade
de resíduos sólidos gerados pelas atividades industriais, também,
cresceu nas importâncias mundial e ambiental, pois estes são
produzidos por vários tipos de processo, representando milhões
de toneladas por dia em todo o mundo. A disposição adequada de
resíduos passou a ser primordial para a preservação ambiental,
surgindo a necessidade de se desenvolverem mecanismos que
promovam a conscientização e a busca de soluções para a
implantação de tecnologias capazes de minimizar os impactos
decorrentes da disposição dos resíduos no ambiente e reduzir
os custos envolvidos nas atividade. Para auxiliar, a reciclagem
de resíduos é fundamental para a preservação, a conservação e
a redução do consumo de recursos naturais não renováveis do
planeta, pois atende a necessidades da população presente, sem
comprometer a sobrevivência das gerações futuras e do próprio
planeta. Diante desse contexto, analise as quatro caixas a seguir,
que contêm diferentes materiais residuais de uma indústria:

28
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Com o objetivo de efetuar o descarte e a reciclagem corretos,


identifique qual a única caixa que contém apenas metais:

a) A. b) B. c) C. d) D.

4 - Você sabe quanto ingeriu, hoje, por exemplo, de magnésio,


cobre, selênio, zinco ou iodo? Provavelmente, não faça a mínima
ideia, não é mesmo?! Na hora de pensar em uma dieta, essas
substâncias acabam passando quase que, completamente,
despercebidas pela maioria das pessoas, mas, acredite, elas
são fundamentais para a saúde do organismo, e, muitas delas,
estão diretamente relacionadas à saúde cerebral. Nutricionista
e doutora em Neurociência pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Bettina Moritz explica que o desequilíbrio desses
elementos, no organismo, pode contribuir para o surgimento
de patologias mentais severas, como Parkinson, Alzheimer e
depressão. Ainda assim, pouca importância é dada à dosagem
adequada na alimentação. “A vida não é feita só de calorias, e
muitos modismos e dietas comprometem a ingestão desses
micronutrientes”, explica. Na relação de micronutrientes que a
especialista considera essenciais para o bom funcionamento do
cérebro, ela destaca o selênio, o zinco e o magnésio. Esses dois
últimos, em particular, têm preocupado os profissionais da área
da saúde, considerando os níveis inadequados em que aparecem
na dieta da população brasileira, em parte, decorrente da vida
agitada e estressante dos tempos modernos. Contudo, não se
preocupe, a carência dessas substâncias pode ser evitada com
uma dieta equilibrada. De acordo com os especialistas, a melhor
alimentação para o cérebro é aquela rica em frutas, verduras
e alimentos integrais. Peixes e ovos são, também, uma ótima
opção, desde que consumidos com moderação.

FONTE: <https://www.colegiocope.com.br/files/tabela-periodica-caracteristicas-gerais-
determinacao-de-familias-e-periodos-831590.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

29
Fundamentos da Química Inorgânica

Com relação aos nove elementos químicos representados na


figura anterior, assinale a alternativa correta:

a) Todos, com exceção do iodo, são metais.


b) Selênio (Se) e Cromo (Cr) são não metais (ametais).
c) Lítio (Li), Iodo (I) e Magnésio (Mg) são ametais.
d) Cálcio (Ca), Cromo (Cr) e Ferro (Fe) são metais.

5 - Considere um fio de cobre que é mergulhado em uma solução de


AgNO3. A prata é substituída e depositada nesse fio. A reação é
a seguinte:

Cu(s) + 2AgNO3(aq) 2Ag(s) + Cu(NO3)2(aq). Isso indica


que o cobre é mais reativo do que a prata. Em geral, um metal
mais reativo desloca um metal menos reativo da solução de sal.
A disposição dos metais, na ordem decrescente da atividade, é
conhecida como série de atividade ou reatividade. Uma parte
dessa série será fornecida a seguir:

Consultando essa fila, assinale a alternativa cuja reação


química não ocorre:

a) Mg + CuBr2 → Cu + MgBr2. b) Ca + FeSO4 → Fe + CaSO4.


c) Hg + ZnCℓ2 → Zn + HgCℓ2. d) Cu + 2 AgCℓ → 2 Ag + CuCℓ2.

30
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

5 GASES NOBRES
Neste tópico, trataremos dos gases nobres. Hoje, sabemos que, em
condições-ambiente, só os gases nobres são formados por átomos isolados uns
dos outros, ou seja, átomos que têm pouca tendência de se unir com outros;
confirmamos, então, que eles são muito estáveis (pouco reativos). A química dos
gases nobres foi iniciada em 1962, com a descoberta do hexafluoroplatinato de
xenônio (XePtF6), seguida de uma série de compostos que se ligam ao xenônio
ou ao criptônio. Destacaremos esses compostos de gases nobres clássicos,
os mais exóticos e a natureza das ligações. Ainda, abarcaremos as aplicações
conhecidas e o potencial dos gases nobres.

5.1 GRUPO 18/VIII: GASES NOBRES


Existem seis elementos no Grupo 18 - Hélio (He), Néon (Ne), Argônio (Ar),
Criptônio (Kr), Xenônio (Xe) e Radônio (Rn). O radônio é um elemento radioativo.
Os elementos desse grupo foram denominados, anteriormente, de gases inertes
ou raros, devido à reatividade muito baixa. Ambos os termos não são mais usados
porque não são tão raros e não são completamente inativos.

QUADRO 2 – ELEMENTOS DO GRUPO 18/VIII (GASES NOBRES)


Configuração de valência:ns2np6

Forma normal: gás monoatômico incolor

Número Nome Símbo- Massa Molar Ponto de Ponto de Ebu-


atômico(Z) lo (gmol-1) fusão °C lição °C

2 Hélio He 4,00 ----- -269(4,2K)

10 Neônio Ne 20,18 -249 -246

18 Argônio Ar 39,95 -189 -186

36 Criptônio Kr 83,80 -157 -153

54 Xenônio Xe 131,29 -112 -108

86 Radônio* Rn (222) -71 -62

*Radioativo
FONTE: Adaptado de Atkins e Jones (2012)

31
Fundamentos da Química Inorgânica

Experiências com esses gases e, mais tarde, a identificação das


configurações eletrônicas de camada completa (ns2 np6), criaram a crença de que
esses elementos eram, quimicamente, inertes. De fato, nenhum composto dos
gases nobres era conhecido até 1962. Naquele ano, o químico inglês Neil Bartlett
sintetizou o primeiro composto de gás nobre, o hexafluoro-platinato de xenônio,
XePtF6. Fez reagir xenônio com hexafluoreto de platina. Logo depois, químicos
do Laboratório Nacional de Argonne, Estados Unidos, fabricaram o tetrafluoreto
de xenônio, XeF4, a partir de uma mistura de xenônio e flúor em alta temperatura
(ATKIS; JONES, 2012).

Os elementos do Grupo 18/VIII se encontram na atmosfera como gases


monoatômicos. Juntos, eles formam, aproximadamente, 1% da massa. O argônio
é o terceiro gás mais abundante na atmosfera, depois do nitrogênio e do oxigênio
(descontando a quantidade variável de vapor de água). Os gases nobres, exceto
o hélio e o radônio, são obtidos pela destilação fracionada do ar líquido (ATKIS;
JONES, 2012). Isso é conseguido, submetendo-se o ar a sucessivas compressões
e resfriamentos até que ele chegue ao estado líquido, o que ocorre em torno de
200 °C abaixo de zero. A seguir, destila-se o ar líquido. Inicialmente, ferve-se o
nitrogênio (-195,8 °C) e, depois, o oxigênio (-183 °C) (FELTRE, 2004).

FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DESTILAÇÃO FRACIONADA DO AR

FONTE: Adaptada de Feltre (2004)

De acordo com Coelho (2015), o hélio é o segundo elemento mais


abundante no Sol, e 23% da massa do universo é desse elemento. Ele é raro na
Terra porque os átomos são tão leves que uma grande proporção deles atinge
altas velocidades e escapa da atmosfera. Ainda, não forma compostos. É um
componente dos gases naturais presos sob formações rochosas (especialmente,
no Texas, Estados Unidos), nas quais ele se acumula como resultado da emissão
de partículas α por elementos radioativos. Uma partícula α é um núcleo de hélio-4
(4 He2+), e o átomo do elemento se forma quando a partícula adquire dois elétrons
da vizinhança.

O gás hélio é duas vezes mais denso do que o hidrogênio, nas mesmas
condições. Como a densidade é, ainda, muito baixa, e o gás não é inflamável,
é usado para fazer flutuarem os dirigíveis. O hélio, também, é usado para

32
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

diluir o oxigênio, comum em hospitais e em mergulhos em mar profundo, para


pressurizar combustíveis de foguete, como refrigerante, e lasers de hélio-neônio.
O elemento tem o mais baixo ponto de ebulição de todas as substâncias (4,2 K)
e não se solidifica em nenhuma temperatura, a não ser que seja aplicada uma
pressão para manter, juntos, os átomos leves e móveis. Essas propriedades o
tornam útil para a criogenia, o estudo da matéria em temperaturas muito baixas
(ATKIS; JONES, 2012). É a única substância conhecida que tem mais de uma
fase liquida, e o diagrama de fases indica as faixas de pressão e de temperatura
nas quais cada fase é estável.

GRÁFICO 1 – FASES DO HE MOSTRAM AS DUAS FASES LÍQUIDAS - HÉLIO- II,


A FASE LÍQUIDA DE TEMPERATURA MAIS BAIXA É UM SUPERFLUIDO

FONTE: <https://pt.slideshare.net/jlp1973/
calorimetria-2-22564307>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Abaixo de 2 K, o hélio-II líquido tem a notável propriedade de superfluidez, a


capacidade de fluir sem viscosidade (ATKIS; JONES, 2012).

Na Terra, está presente na atmosfera, com o percentual de 5 x 10-4% do


volume, sendo, os percentuais do argônio e do neônio, 0,943% e 1,8 x 10-3%
do volume, respectivamente, o que significa que são mais abundantes do que
elementos, como o arsênio e o bismuto. O xenônio e o radônio são os elementos
mais raros do grupo, estando presentes na atmosfera com 1,1 x 10-5 % e 6 x 10-
18
%, do volume, respectivamente. O criptônio está na atmosfera com 0,0001 %
do volume (CHERNICK, 1967). Observe a abundância dos gases nobres no ar a
nível do mar:

33
Fundamentos da Química Inorgânica

GRÁFICO 2 – PERCENTUAL, EM VOLUME, DOS GASES


DO GRUPO 18/VII (GASES NOBRES) NO AR

FONTE: Adaptado de Chernick (1967)

O último dos nossos gases nobres, o radônio, é obtido a partir do decaimento


radioativo do rádio. Uma grama de rádio produz cerca de 0,0001 mililitro de
radônio por dia (Devemos ter em mente, no entanto, que uma grama de rádio
é uma quantidade muito grande em termos do total disponível). O radônio tem
uma meia-vida curta (o isótopo mais comum, vindo do rádio, é o radônio-222,
cuja meia-vida é de 3,8 dias), o que significa que cerca de metade dos átomos
de radônio se desintegra em pouco menos de quatro dias. Como o rádio tem
uma meia-vida muito mais longa do que isso, cerca de 1620 anos, a quantidade
de radônio “filho”, em contato com o rádio original, atinge uma concentração
constante. Em outras palavras, a quantidade de radônio sendo produzida é
equilibrada pela quantidade que se desintegra e, assim que a fonte primária
(o rádio) é removida, a concentração de radônio começa a diminuir, devido à
desintegração contínua. Vários isótopos dos gases nobres podem ser produzidos
artificialmente, diretamente, por bombardeio em um acelerador de partículas,
como produto da decomposição de um átomo, artificialmente, excitado, ou por
fissão nuclear. Esse último método é usado para a produção de criptônio e de
xenônio em reatores atômicos (CHERNICK, 1967).

A fissão é um processo no qual um átomo pesado se divide para formar dois


átomos mais leves, de massa, aproximadamente, igual. Um ou mais nêutrons, e
uma grande quantidade de energia, também, são liberados simultaneamente.

34
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Desde a descoberta do rádio, por Marie e Pierre Curie, de 1898


a 1940, apenas cerca de 1000 gramas foram isoladas, e, embora a
produção tenha aumentado durante a Segunda Guerra Mundial, é
duvidoso que existam mais de 100 gramas de rádio puro disponíveis
no mundo ocidental hoje. Isótopos são as várias formas do mesmo
elemento.

O neônio, que emite cor laranja-avermelhada quando uma corrente elétrica


passa através dele, é usado em letreiros de publicidade e em avisos luminosos. O
argônio é trazido para gerar atmosfera inerte para soldas (para prevenir a oxidação)
e como enchimento de alguns tipos de lâmpadas, para resfriar o filamento. O
criptônio produz uma intensa luz branca ao ser atravessado por uma descarga
elétrica, e, por isso, é comum na iluminação de pistas de aeroporto. Como o
criptônio é produzido por fissão nuclear, a abundância, na atmosfera, mede a
atividade nuclear global. O xenônio é percebido em lâmpadas de halogênio, para
faróis de automóveis, e em tubos de máquinas fotográficas de alta velocidade.
Também, está sendo investigado como anestésico (ATKIS; JONES, 2012).

5.2 COMPOSTOS DOS GASES


NOBRES
Chama-se energia de ionização a energia necessária para “arrancar” um
elétron de um átomo isolado no estado gasoso. Essa energia é, em geral, expressa
em elétron-volt (eV), que é a energia ou trabalho necessário para deslocar um
elétron contra uma diferença de potencial de 1 volt. Na prática, o mais importante
a ser considerado é a energia necessária para “arrancar” o elétron da camada
mais externa do átomo (FELTRE, 2004) (Ver Equação a seguir):

X(G) + energia → X+G + e-

Quando retiramos um elétron de um átomo, eletricamente, neutro (1ª


energia de ionização), gasta-se certa quantidade de energia (eV). Se é excluído
um segundo elétron (2ª energia de ionização), gasta-se uma quantidade maior
de energia, pois, à medida que cada elétron é retirado, o raio atômico diminui.
A energia de ionização aumenta, conforme diminui o raio atômico, pois, quanto
menor o tamanho do átomo, mais forte a atração do núcleo pela eletrosfera e,
portanto, fica mais difícil retirar o elétron (COSTA, 2012).

35
Fundamentos da Química Inorgânica

As energias de ionização dos gases nobres são muito altas, mas decrescem
de cima para baixo no grupo (Figura 12).

GRÁFICO 3 – AS ENERGIAS DE IONIZAÇÃO DOS GASES NOBRES


DECRESCEM, REGULARMENTE, DE CIMA PARA BAIXO NO GRUPO -
OS VALORES DO GRÁFICO ESTÃO EM QUILOJOULES POR MOL

FONTE: Adaptado de Atkins e Jones (2012)

Como pode ser observado, a energia da ionização do xenônio é 1170 KJ/


mol, suficientemente baixa para que ele perca elétrons para elementos muito
eletronegativos, especialmente, o flúor. Não existem compostos de hélio,
de neônio e de argônio, exceto sob condições muito especiais. Somente uma
molécula estável neutra do criptônio é conhecida, KrF2. Em 1988, um composto
com uma ligação Kr-N foi descrito, mas ele só é estável abaixo de -50° C (ATKIS;
JONES, 2012).

Observa-se que os gases raros reagem com os elementos mais


eletronegativos, como flúor e oxigênio. O xenônio (às vezes, Kr) forma ligações,
também, com outros não metais, e, até mesmo, com alguns metais. Embora
muitos deles possam ser considerados espécies metaestáveis, vários são,
na verdade, compostos, termodinamicamente, estáveis, e podem ser obtidos
comercialmente. Isso torna o xenônio o gás nobre com a química mais rica. Forma
vários compostos com flúor e oxigênio, e com ligações Xe – N e Xe – C, como (C6
f5)2 Xe (ATKIS; JONES, 2012).

O xenônio reage, diretamente, apenas com F2, mas os compostos, em estados


de oxidação de II a VIII, são conhecidos, alguns dos quais são, extremamente,
estáveis, e podem ser obtidos em grandes quantidades. Os compostos mais
importantes e algumas das propriedades serão fornecidos a seguir:

36
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

TABELA 1 – PRINCIPAIS COMPOSTOS DO XENÔNIO


Composto Forma Mp(°C) Estrutura Observações

XeF2 Cristais coloridos 129 Linear Muito solúvel

XeF4 Cristais coloridos 117 Quadrado Estável

XeF6 Cristais coloridos 49,6 Complexo Estável

CsXeF7 Sólido colorido

Cs2XeF8 Sólido amarelo Estável até 400°C

XeOF4 Líquido colorido -46 Octaédrico Estável

XeO2F2 Cristais coloridos 31 Metaestável

XeO3 Cristais coloridos Explosivo, estável


em solução

XeO4 Cristais coloridos -35,0 Tetraédri- Altamente explo-


co sivo

XeO3F2 Cristais coloridos -54,1

FONTE: O autor

Os fluoretos de xenônio são usados como poderosos agentes de fluoração


(reagentes que permitem ligar átomos de flúor em outras substâncias). O
tetrafluoreto pode, até mesmo, provocar a fluoração do metal platina (ATKIS;
JONES, 2012):

Pt(s) + XeF4(s) s → Xe(g) + PtF4 (s)

Os exemplos de compostos de gases nobres apresentados mostram que a


química deles é muito mais rica do que seria de esperar. Novas ligações químicas

37
Fundamentos da Química Inorgânica

entre estranhos companheiros, como metais nobres, actinídeos e gases nobres,


ainda, podem ser encontradas. Uma vez que os exemplos de compostos de gases
raros expostos são formados pela aplicação de métodos químicos clássicos,
mais as especiarias de gás nobre, nas condições de irradiação de nêutrons e
fragmentos de fissão do tipo de combustível UO2, são esperadas. Essa suposição
é sugerida pelo fato de que ClXeCl se formou após a irradiação, com luz laser, de
501,7 nm de matrizes de xenônio dopadas com Cl2. Parece que, após a excitação
do Cl2, há pouca ou nenhuma barreira para o rearranjo para ClXeCl.

Hélio é o segundo elemento mais abundante no Universo. Foi


encontrado, pela primeira vez, extraterrestre, em 1868, antes de
ser visualizado na Terra. J. N. Lockeyer e E. Frankland detectaram
a presença como um novo elemento no espectro cromóforo do sol.
Em 1869, sugeriram o nome de hélio para ele (palavra grega, helios,
que significa sol). A presença terrestre do hélio foi confirmada por W.
Ramsay, em 1881. O argônio foi detectado, pela primeira vez, em
1785, por H. Kavendish, enquanto ele trabalhava para determinar
a composição do ar, mas não conseguiu identificá-lo como um
elemento. Quase um século depois, W. Ramsay, em 1895, ao medir
as densidades dos gases presentes no ar, confirmou a presença de
um novo composto.

1 - Por mais de 60 anos, os seis gases, hélio, néon, argônio, criptônio,


xenônio e radônio foram considerados os elementos que não
poderiam se combinar com nenhum outro. Eram, quimicamente,
indiferentes, e não tinham nada a ver com os outros elementos,
nem mesmo entre si. Esse comportamento lhes rendeu uma
posição única na Tabela Periódica dos Elementos, sendo
chamados de “gases inertes” ou “gases nobres”. A incapacidade
desses gases, de formarem compostos químicos, era, até 1962,
um dos fundamentos mais aceitos na química. A partir dos anos
60, do século XX, o gás xenônio foi sintetizado, fazendo cair por
terra a ideia de que se tinha acerca da total estabilidade dos
gases nobres, que eram conhecidos como gases inertes. Dentre
esses compostos, estão os fluoretos de xenônio, usados como
poderosos agentes de fluoração (reagentes que permitem ligar

38
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

átomos de flúor em outras substâncias). Ainda, o tetrafluoreto de


xenônio (XeF4), um sólido volátil obtido pela reação, realizada a
400 ºC, entre xenônio e flúor gasosos. A equação química que
representa essa reação é:

FONTE: <https://www.osti.gov/includes/opennet/includes/
Understanding%20the%20Atom/The%20Chemistry%20of%20
Noble%20Gases.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

2 - Por terem camada de valência completa, alta energia de ionização


e afinidade eletrônica, praticamente, nula, considerou-se, por
muito tempo, que os gases nobres não formariam compostos
químicos, porém, em 1962, foi realizada, com sucesso, a reação
entre o xenônio (camada de valência 5s25p6) e o hexafluoreto de
platina, e, desde então, mais compostos novos de gases nobres
vêm sendo sintetizados.  Analise as afirmativas a seguir em
relação aos gases nobres:

I- O xenônio reage, diretamente, apenas com F2, mas os compostos,


em estados de oxidação de II a VIII, são conhecidos, alguns dos
quais são, extremamente, estáveis, e podem ser obtidos em
grandes quantidades.
II- Os gases raros reagem com os elementos mais eletronegativos,
como flúor e oxigênio.
III- A energia de ionização do xenônio é, suficientemente, alta, para
que ele retire elétrons de elementos muito eletronegativos,
especialmente, flúor.
IV- Não existem compostos de hélio, de neônio e de argônio, exceto
sob condições muito especiais. Somente uma molécula estável
neutra do criptônio é conhecida, KrF2.

Estão CORRETAS as alternativas:

39
Fundamentos da Química Inorgânica

a) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.


b) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
c) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.

3 - Os elementos do Grupo 18/VIII se encontram, na atmosfera,


como gases monoatômicos. Recebem o nome de gases
nobres, devido à reatividade muito baixa. Experiências com
esses gases e, mais tarde, a identificação das configurações
eletrônicas de camada completa (ns2np6), criaram a crença de
que esses elementos eram, quimicamente, inertes. A seguir,
serão apresentadas algumas configurações de alguns elementos
no estado fundamental (ATKIS; JONES, 2012). A configuração
eletrônica que corresponde a um gás nobre é:

a) 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6.
b) 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s23d2.
c) 1s2 2s2 2p6 3s2 3p2.
d) 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10.
e) 1s2 2s2 2p6 3s2 3p3.

4 - Os gases nobres (Grupo 18) estão localizados na extrema


direita da tabela periódica, e eram, anteriormente, chamados
de “gases inertes”, devido ao fato de possuírem estruturas
eletrônicas do tipo ns2np6 preenchidas (regra do octeto), que os
tornavam extremamente não reativos. Os gases nobres foram
caracterizados, relativamente, tarde, em comparação com outros
grupos de elementos. A primeira pessoa a descobrir os gases
nobres foi Henry Cavendish, no final do século XVIII. Cavendish
distinguiu esses elementos, removendo, quimicamente, todo
o oxigênio e o nitrogênio de um recipiente de ar. A experiência
revelou que 1/120 do volume do gás permaneceu sem reagir no
frasco. A segunda pessoa a isolá-los, mas não a identificá-los,
foi William Francis (1855-1925). Francis notou a formação de
gás ao dissolver minerais de urânio em ácido. Com relação aos
gases nobres, analise as seguintes sentenças e coloque V para
as sentenças verdadeiras e F para as sentenças falsas:

( ) Na composição do ar atmosférico, pode-se encontrar gases


nobres, como argônio, neônio e hélio, que são de fundamental
importância para a respiração dos animais e das plantas.

40
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

( ) Com exceção do hélio, os gases nobres possuem oito elétrons


de valência e, por esse motivo, não são capazes de doar para
formar ligações covalentes.
( ) Os elementos do Grupo 18 são denominados de gases nobres
porque apresentam baixa energia de ionização e afinidade
eletrônica positiva.
( ) A maioria dos elementos químicos da tabela periódica é
classificada como metais, sendo, as propriedades químicas e
físicas, distintas das dos elementos classificados como gases
nobres.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA de


cima para baixo:

a) V – V – F – V. b) F – V – F – V.
c) F – F – F – V. d) F – F – V – F.

6 INTRODUÇÃO À QUÍMICA NO
ESTADO SÓLIDO
Na última década do século XX, a pesquisa, em química, do estado sólido,
expandiu-se muito rapidamente, alimentada, em parte, pela descoberta de
supercondutores de cerâmica de "alta temperatura" em 1986, e pela busca por
novos e melhores materiais. Nós temos visto imensos avanços no desenvolvimento
e na compreensão da nanotecnologia, dos sólidos micro e mesoporosos, das
células a combustível e do efeito da magnetorresistência gigante, para a menção
de apenas algumas áreas.

Todas as substâncias, exceto o hélio, se, suficientemente, resfriadas, formam


uma fase sólida. A grande maioria entrega uma ou mais fases cristalinas, nas
quais átomos, moléculas ou íons se compactam para formar uma matriz de
repetição regular.

A partir de agora, entenderemos a estrutura e a ligação dos sólidos, como as


propriedades de um sólido dependem da estrutura e como podem ser modificadas
por alterações na estrutura.

41
Fundamentos da Química Inorgânica

6.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
É sabido que a matéria existe no universo em estados e em formas muito
variados. É usual a classificação desses estados em fases, sendo, a mais usual,
a escala macroscópica: as fases gasosa, líquida e sólida. Assim, daremos
foco, agora, à fase sólida. Como vimos, as características dos sólidos variam
grandemente (à parte, é claro, aquelas que os definem como tal), assim, há
alguns com alta e baixa densidades de massa, que se polarizam, eletricamente,
com mais ou mais facilidade, que são bons condutores de calor e de eletricidade,
e outros que não o são, como ferromagnéticos, diamagnéticos e paramagnéticos,
sólidos opacos e sólidos transparentes etc.

O estado sólido inclui a maioria dos materiais que torna possível a tecnologia
moderna. Inclui as grandes variedades de aço, que são usadas na arquitetura
e na engenharia; os semicondutores e os condutores metálicos, comuns ​​ na
tecnologia da informação e na distribuição de energia; as cerâmicas, as quais,
cada vez mais, estão substituindo os metais; e os polímeros sintéticos e naturais,
presentes ​​na indústria têxtil e na fabricação de muitos dos objetos comuns do
mundo moderno. As propriedades dos sólidos derivam, é claro, do arranjo e das
propriedades dos átomos constituintes.

Os sólidos constituem uma grande parte da matéria em nossa volta, e as


propriedades físicas e químicas dependem, essencialmente, do tipo de ligação
molecular envolvido na formação. Contudo, é importante ressaltar que as
propriedades físicas dos sólidos são bem diferentes das moléculas isoladas dos
mesmos materiais.

A descrição do comportamento dos sólidos pode ser realizada em termos


de teoria atômica, o que proporciona uma visão microscópica das propriedades.
Essa descrição microscópica da matéria explica o conjunto dos distintos
comportamentos macroscópicos dos sólidos. Os dois recursos macroscópicos,
utilizados para distinguir os sólidos dos demais estados da matéria, são,
respectivamente, forma e volume.

Para entender o estado sólido, precisamos ter alguns insights da estrutura


dos cristais simples e as forças que os mantêm unidos. As estruturas cristalinas
são, geralmente, determinadas pela técnica de cristalografia de raios-X. Essa
técnica se baseia no fato de que as distâncias, entre os átomos, nos cristais, são
da mesma ordem de magnitude em comparação ao comprimento de onda dos
raios-X (da ordem de 1 Å ou 100 pm). Um cristal age, assim, como uma rede de
difração tridimensional a um feixe de raios-X. O padrão de difração resultante

42
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

pode ser interpretado para fornecer as posições internas dos átomos, no cristal,
com muita precisão, definindo distâncias e ângulos interatômicos (SMART;
MOORE, 2005).

Como vimos, um aspecto crucial dessa ligação é o padrão no qual os átomos


(e as moléculas) estão empilhados, começando este tópico examinando como as
estruturas dos sólidos são descritas e determinadas.

6.2 UMA BREVE EXPOSIÇÃO: O


ESTADO SÓLIDO
Estamos, principalmente, cercados por sólidos, e os usamos com mais
frequência do que líquidos e gases. Para diferentes aplicações, precisamos
de sólidos com propriedades amplamente diferentes. Essas propriedades
dependem da natureza das partículas constituintes e das forças de ligação entre
elas. Portanto, o estudo da estrutura dos sólidos é importante. A correlação
entre estrutura e propriedades ajuda a descobrir novos materiais sólidos com
propriedades desejadas, como supercondutores de alta temperatura, materiais
magnéticos, polímeros biodegradáveis ​​para embalagens, sólidos biocompatíveis
para implantes cirúrgicos etc. Nós sabemos que os líquidos e os gases são
chamados de fluidos, devido à capacidade de fluir. A fluidez, em ambos os
estados, deve-se ao fato de que as moléculas são livres para se mover. Ao
contrário, as partículas constituintes dos sólidos têm posições fixas e só podem
oscilar em torno das posições médias. Isso explica a rigidez em sólidos (SMART;
MOORE, 2005). Algumas propriedades características dos sólidos são:

• Eles têm massa, volume e forma definidos.


• As distâncias intermoleculares são curtas.
• As forças intermoleculares são fortes.
• As partículas constituintes (átomos, moléculas ou íons) têm posições
fixas e só podem oscilar sobre as posições médias.
• São incompressíveis e rígidos

Os sólidos, geralmente, têm as partículas constituintes dispostas em uma


matriz tridimensional regular de íons positivos e negativos alternados, chamada
de cristal (DEMELLO, 2019).

As propriedades macroscópicas de um sólido são determinadas pela


estrutura no nível molecular. Há, essencialmente, duas grandes categorias nas
quais estamos aptos a enquadrar a matéria sólida: os sólidos, com estrutura

43
Fundamentos da Química Inorgânica

molecular ordenada e periódica, os chamados sólidos cristalinos; e aqueles


cuja estrutura molecular só apresenta ordem local, os sólidos amorfos ou não
cristalinos.

6.3 TIPOS DE SÓLIDOS


Os sólidos podem ser classificados como cristalinos ou amorfos, com base
na natureza da ordem presente no arranjo das partículas constituintes. Um sólido
cristalino, geralmente, consiste em um grande número de pequenos cristais, cada
um deles com uma forma geométrica característica definida. Em um cristal, o
arranjo das partículas constituintes (átomos, moléculas ou íons) é ordenado. Tem
ordem de longo alcance, o que significa que há um padrão regular que se repete,
periodicamente, em todo o cristal. O cloreto de sódio e o quartzo são exemplos
típicos de sólidos cristalinos.

Um sólido amorfo (grego amorphos = sem forma) consiste em partículas


de forma irregular. O arranjo das partículas constituintes (átomos, moléculas ou
íons), em tal sólido, tem, apenas, uma ordem de curto alcance. Em tal arranjo,
um padrão regular e, periodicamente, repetido é observado apenas em curtas
distâncias. Essas porções estão espalhadas, e, no meio, o arranjo é desordenado
(NCERT, 2007). A estrutura dos sólidos amorfos é semelhante à de um líquido
congelado no tempo (ATKIS; JONES, 2012). Vidro, borracha e plásticos são
exemplos típicos de sólidos amorfos. As estruturas de quartzo (cristalino) e vidro
de quartzo (amorfo) serão mostradas na Figura 131, (a) e (b), respectivamente.

FIGURA 10 – ESTRUTURA BIDIMENSIONAL DE (A)


QUARTZO E (B) VIDRO DE QUARTZO

FONTE: Adaptada de Ncert (2007)

44
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Observando a Figura 131, o quartzo é uma forma de SiO2 (sílica). Tem


unidades tetraédricas de SiO4 (silicato) que estão organizadas em quartzo
cristalino (a), conforme mostrado. Quando o SiO2 é derretido e o fundido é
resfriado, forma o vidro de quartzo (b), que é amorfo. Nesse estado, as unidades
de SiO4 são unidas aleatoriamente. Embora as duas estruturas sejam quase
idênticas, no caso do vidro de quartzo amorfo, não há ordem de longo alcance.
Devido às diferenças no arranjo das partículas constituintes, os dois tipos de
sólidos diferem nas propriedades.

Os sólidos amorfos são isotrópicos, ou seja, têm propriedades que não


dependem da direção na qual são medidos. Por exemplo, resistência mecânica,
índice de refração e condutividade (NCERT, 2007).

- Os sólidos amorfos, ao serem aquecidos, tornam-se cristalinos


em alguma temperatura. Alguns objetos de vidro, de civilizações
antigas, tornaram-se leitosos por causa de alguma cristalização.

- São chamados de pseudossólidos, ou líquidos super resfriados,


porque, como os líquidos, têm tendência a fluir. Portanto, os painéis
de vidro, fixados em janelas ou em portas de edifícios antigos, são,
ligeiramente, mais grossos na parte inferior do que na parte superior.
Isso ocorre porque o vidro desce muito lentamente e torna a parte
inferior um pouco mais espessa.

Sólidos cristalinos derretem em temperaturas definidas, têm superfícies


planas e lisas bem evidentes, chamadas de faces, que possuem ângulos
perfeitos nas bordas. As faces são compostas de agrupamentos ordenados de
átomos. Sólidos amorfos não têm faces bem definidas, a menos que tenham
sido moldados ou cortados. Ainda, não têm um ponto de fusão pronto. Amolecem
dentro de uma determinada faixa de temperatura. Quando alguns sólidos fundem,
obtêm-se cristais líquidos, um estado da matéria que exibe, simultaneamente, as
propriedades dos líquidos e do sólido cristalino (ver figura 131). Cristais líquidos
são substâncias que fluem como líquidos viscosos, mas as moléculas são
organizadas em um arranjo, moderadamente, ordenado, como um cristal. São
exemplos de uma mesofase: um estado intermediário da matéria com a fluidez de

45
Fundamentos da Química Inorgânica

um líquido e algo da ordem molecular de um sólido. Eles têm muita aplicação na


indústria eletrônica porque respondem às mudanças de temperatura e de campo
elétrico.

Os sólidos cristalinos são classificados, de acordo com o tipo de ligação que


mantém os átomos, os íons ou as moléculas juntos: sólidos metálicos, sólidos
iônicos, sólidos reticulares ou covalentes e sólidos moleculares. Metais ou sólidos
metálicos consistem em cátions que são mantidos juntos por um mar de elétrons.
Os sólidos cristalinos se fragmentam ao longo dos planos da rede cristalina, de
modo que os fragmentos mantêm ângulos interfaciais e características estruturais
semelhantes. Sólidos amorfos quebram desigualmente, dando origem a bordas
e a ângulos desiguais. Os sólidos cristalinos têm pontos de fusão bem definidos,
enquanto os amorfos podem derreter em diferentes temperaturas, nas várias
porções da amostra, à medida que as diferentes forças que unem as partículas
são, gradualmente, superadas (DEMELLO, 2019).

Os sólidos cristalinos são anisotrópicos, ou seja, as propriedades mecânicas


e elétricas, geralmente, dependem da direção em que são medidos. A anisotropia,
às vezes, também, conhecida como direcionalidade, é um fenômeno comumente
observado, pelo qual as propriedades de um material variam, dependendo da
direção ao longo da qual são medidas. Isso, obviamente, não pode se aplicar
a propriedades volumétricas, como densidade ou calor específico, mas,
virtualmente, todos os outros tipos de comportamento são suscetíveis a
serem anisotrópicos (HUTCHINSON, 2015). A anisotropia dos cristais é uma
propriedade macroscópica muito importante, porque fornece uma indicação
eficaz da existência de uma rede atômica ordenada. Significa que todas as
propriedades dependem da direção ou da orientação angular dos cristais.
Mostram comportamentos diferentes em direções não paralelas. Uma dessas
consequências da anisotropia é o fenômeno da clivagem. Nos cristais, a divisão é
mais fácil em algumas direções do que em outras. Por exemplo, em um cristal de
cloreto de sódio, a clivagem só pode ser alcançada ao longo de planos paralelos
às faces do cubo. Qualquer tentativa, ao longo de qualquer plano arbitrário, deve
estilhaçar o cristal. A figura 141 mostrará que os átomos de sódio (vermelho) e de
cloro (amarelo), no mineral halita (NaCl, ou cloreto de sódio), são paralelos a três
planos que se cruzam a 90°. Halite quebra, ou cliva, mais facilmente, entre os três
planos de átomos, portanto, há três direções de clivagem que se cruzam em 90°.
O exposto a seguir ilustrará as três direções de clivagem da halite (AQUILANO et
al., 2016).

46
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

FIGURA 11 – CLIVAGEM DA HALITE

FONTE: <https://www.saddleback.edu/faculty/jrepka/notes/
GEOmineralLAB_1.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Quando submetidas a condições normais de solidificação, todas as amostras


metálicas, um grande número de materiais cerâmicos e de alguns polímeros forma
estruturas cristalinas. Existe um alto valor de diferentes redes cristalinas, desde as
mais simples, como aquelas exibidas pelos metais, até as muito complexas, como
aquelas refletidas pelos materiais cerâmicos e pelos polímeros. As propriedades
dos sólidos cristalinos dependem da estrutura cristalina subjacente, isto é, de
como os átomos (ou moléculas) se distribuem no espaço para formar a rede
(PALADINI et al., 2010). As características dos sólidos amorfos e cristalinos serão
resumidas a seguir:

QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS DOS SÓLIDOS CRISTALINOS E AMORFOS

Propriedades Sólidos cristalinos Sólidos amorfos

Forma Forma geométrica defin- Forma irregular


ida
Propriedade de Quando cortados com Quando cortados com uma
clivagem uma ferramenta de bor- ferramenta afiada, são tidos
da afiada, dividem-se em cem duas partes, com super-
duas partes, e as su- fícies irregulares
perfícies recém-geradas
são planas e lisas

47
Fundamentos da Química Inorgânica

Anisotropia De natureza anisotrópica Isotrópicos por natureza

Natureza Sólidos verdadeiros Pseudossólidos ou líquidos


super resfriados

Ordem no arranjo das Ordem de longo alcance Pseudossólidos ou líquidos


partículas constitu- super resfriados; apenas or-
intes dens de curto alcance

FONTE: Adaptado de Atkins e Jones (2012)

Na etapa a seguir, estudaremos a classificação dos sólidos. Os sólidos são


classificados como moleculares, reticulares, metálicos ou iônicos. Iniciaremos
com os moleculares, e os distinguiremos dos reticulares. Veremos que os sólidos
metálicos, se formados por um único elemento, são conjuntos de átomos idênticos
empacotados em camadas ordenadas. Por fim, as estruturas dos sólidos iônicos
se baseiam no mesmo tipo de organização das camadas, porém, elas são
complicadas, pela necessidade de se levarem em conta íons de cargas opostas e
volumes diferentes.

6.3.1 Sólidos moleculares


As moléculas são as partículas constituintes dos sólidos moleculares,
mantidas juntas por forças intermoleculares. As propriedades físicas dependem
das energias dessas forças (ATKINS; JONES, 2012).

Consistem em moléculas ou em elementos monoatômicos, como gases


nobres, mantidos juntos por forças intermoleculares, relativamente, fracas. As
propriedades físicas dependem das intensidades dessas forças. Esses sólidos
são, normalmente, menos duros do que os iônicos, e se fundem em temperaturas
mais baixas.

Os sólidos moleculares amorfos podem ser macios, como a graxa de


parafina, que é uma mistura de hidrocarbonetos de cadeia longa. Essas
moléculas se juntam de forma desordenada, e as forças, entre elas, são tão
fracas, que mudam, facilmente, de lugar. Muitos outros têm estrutura cristalina

48
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

e forças intermoleculares fortes, as quais os tornam rígidos e quebradiços. Por


exemplo, as moléculas de sacarose, C12H22O11 , ficam juntas, devido às ligações de
hidrogênio que ocorrem entre os muitos grupos -OH. A ligação de hidrogênio, entre
as moléculas de sacarose, é tão forte que, antes de atingirem o ponto de fusão (em
184 ° C), as moléculas começam a se decompor (ATKIS; JONES, 2012).

Muitos outros sólidos moleculares têm estruturas cristalinas e grandes forças


intermoleculares que os tornam rígidos e duros. Alguns deles são muito duros,
como o “polietileno de ultra-alta densidade”, usado para fazer coletes à prova de
bala. Nesses sólidos, como as moléculas são agrupadas de muitas maneiras,
cada estrutura deve ser tratada individualmente. Quase todas as substâncias,
as quais são gases ou líquidos, a uma temperatura-ambiente, formam sólidos
moleculares em baixas temperaturas Exemplos: Ar, H2O, CO2, CH4.

6.3.2 Sólidos iônicos


São formados por íons unidos por ligações iônicas. A estrutura de um cristal
iônico depende das cargas do cátion e do ânion e dos raios. Apresentam pontos
de fusão elevados, o que indica a existência de poderosas forças coesivas,
mantendo os íons unidos. Esses sólidos não conduzem eletricidade porque os
íons ocupam posições fixas, mas, quando fundidos ou dissolvidos em água, ficam
livres para se movimentar, sendo, o líquido resultante, um condutor de eletricidade
(CHANG, 2010). Um exemplo típico é o cloreto de sódio, o sal de cozinha, em
cujos vértices encontramos o íon cloreto e o íon sódio. A ligação é muito forte e é
difícil distorcer o retículo. Atente-se à estrutura cristalina e à micrografia do NaCl.

FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA


CRISTALINA (A) E MICROGRAFIA DO NACL (B)

FONTE: <https://ib.rc.unesp.br/Home/Departamentos47/
BioquimicaeMicrobiologia/aula6solidos.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

49
Fundamentos da Química Inorgânica

Também, podem ser compostos de íons poliatômicos, como NH4NO3 (nitrato


de amônio). Íons poliatômicos são grupos de átomos que compartilham elétrons
(chamados de ligações covalentes) e funcionam em um composto, como se
formassem um único íon carregado.

Microfotografia, micrografia ou fotomicrografia é uma técnica


fotográfica de obtenção de imagens, ampliadas por meio de lentes
ópticas poderosas, que permitem observar detalhes de estruturas
não visíveis a olho nu, como células e micróbios.

FONTE: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/biologia/
micrografia>. Acesso em: 24 abr. 2021.

6.3.3 Sólidos metálicos


A maioria dos elementos metálicos cristaliza em uma das três formas
simples, e duas delas podem ser explicadas em termos de esferas rígidas, as
quais se agrupam da maneira mais compacta possível. A seguir, será visualizada
uma camada compactada de esferas idênticas, uma com utilização máxima do
espaço. Uma estrutura tridimensional compactada é obtida, empilhando essas
camadas compactadas umas sobre as outras. No entanto, o empilhamento pode
ser feito de maneiras diferentes, o que gera politipos compactados ou estruturas
que são idênticas em duas dimensões (camadas compactadas), mas que diferem
na terceira dimensão (ATKIS; PAULA, 2006).

FIGURA 13 – PRIMEIRA CAMADA DE ESFERAS COMPACTADAS USADAS


PARA CONSTRUIR UMA ESTRUTURA COMPACTADA TRIDIMENSIONAL

FONTE: Adaptada de Atkins e Jones (2012)

50
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Em todos os politipos, as esferas da segunda camada compactada se


encontram nas depressões da primeira (Figura 17).

FIGURA 14 – SEGUNDA CAMADA DE ESFERAS COMPACTADAS


OCUPA AS CAMADAS DA PRIMEIRA CAMADA. AS DUAS CAMADAS
SÃO O COMPONENTE AB DA ESTRUTURA COMPACTA

FONTE: Adaptada de Atkins e Jones (2012)

A terceira camada pode ser adicionada de duas maneiras. Em uma, as


esferas são colocadas de modo que reproduzam a primeira camada, para dar um
padrão ABA.

FIGURA 15 – FRAGMENTO DA ESTRUTURA

FONTE: <http://www.rnlkwc.ac.in/pdf/study-material/chemistry/Peter_Atkins__
Julio_de_Paula__Physical_Chemistry__1_.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Alternativamente, é possível colocar as esferas sobre as lacunas na


primeira camada (Figura 18b), dando, assim, um padrão ABC. Dois politipos são

51
Fundamentos da Química Inorgânica

formados se os dois padrões de empilhamento são repetidos na direção vertical.


Se o padrão ABA for repetido, daremos a sequência de camadas ABABAB ... ,
com esferas, hexagonalmente, compactadas (hcp). Agora, se o padrão ABC for
repetido, surgirá a sequência ABCABC ..., com esferas compactadas cúbicas
(ccp). Veja a origem desses nomes no exposto a seguir:

FIGURA 16 – CÁLCULO DA FRAÇÃO DE EMPACOTAMENTO


DE UMA CÉLULA UNITÁRIA CCP

FONTE: <http://www.rnlkwc.ac.in/pdf/study-material/chemistry/Peter_Atkins__
Julio_de_Paula__Physical_Chemistry__1_.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A estrutura ccp dá origem a uma célula unitária centrada na face, então,


também, pode ser denominada de F cúbica (ou fcc, para cúbica centrada na face).
Ainda, é possível ter sequências aleatórias de camadas, no entanto, os politipos
hcp e ccp são os mais importantes (ATKIS; PAULA, 2006). Listaremos alguns
elementos que possuem essas estruturas.

TABELA 2 – ESTRUTURA CRISTALINA DE ALGUNS ELEMENTOS

Estrutura Elemento

Hcp Be, Cd, Co, He, Mg, Sc, Ti, Zn

Fcc (ccp, cúbica F) Ag, Al, Ar, Au, Ca, Cu, Kr, Ni, Pd, Pb, Rh, Rn, Sr, Xe

bcc Ba, Cs, Cr, Fe, K, Li, Mn, Mo, Rb, Na, Ta, W, V

Cúbica P Po

FONTE: <http://www.rnlkwc.ac.in/pdf/study-material/chemistry/Peter_Atkins__
Julio_de_Paula__Physical_Chemistry__1_.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

52
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

A compactação de estruturas compactadas é indicada pelo número de


coordenação, pelo número de átomos, imediatamente, circundando qualquer
átomo selecionado, que é 12 em todos os casos. Outra medida de compactação
é a fração de empacotamento, fração do espaço ocupado pelas esferas, a qual é
de 0,740 (ver justificativa a seguir), ou seja, em um sólido compactado de esferas
rígidas idênticas, apenas 26,0 por cento do volume é espaço vazio. O fato de
muitos metais serem compactados explica as altas densidades.

Justificativa: Para calcular a fração de empacotamento de uma


estrutura ccp, primeiramente, calculamos o volume de uma célula
unitária e, em seguida, o volume total das esferas que ocupam,
total ou parcialmente, essa célula. A primeira parte do cálculo é um
exercício direto de geometria. A segunda envolve a contagem da
fração de esferas que ocupam a célula (ATKIS; de PAULA, 2006).

A diagonal da célula é 4R, o comprimento de um lado é 81/2R , e o volume é


8 R , pois cada uma contém o equivalente a quatro esferas. O volume de cada
3/2 3

esfera é . Então, o volume total ocupado é (ATKIS; PAULA,


2006).

O comprimento de um lado é, portanto, 81/2R, e o volume da célula unitária é


83/2R3 , pois cada célula contém o equivalente a 6 × 1 –2 + 8 × 1–8 = 4 esferas. O
volume de cada esfera é 4 / 3piR3, assim, o total ocupado surge como 16 / 3piR3.
A razão entre esse volume ocupado e o volume total do cubo indica, portanto:

Como uma estrutura hcp tem o mesmo número de coordenação, 12, a fração
de empacotamento é a mesma.

Mostramos, aqui, que 74% do espaço do cristal é ocupado por esferas, e


que 26% dele corresponde ao espaço vazio. Os buracos (espaços vazios) das
estruturas de empacotamento compacto podem ser preenchidos com átomos
menores, para a formação de ligas.

53
Fundamentos da Química Inorgânica

• Estruturas menos compactadas

Conforme a tabela anterior, vários metais adotam estruturas que são menos
compactadas. O afastamento do empacotamento mais compacto sugere que
fatores, como ligações covalentes específicas entre átomos vizinhos, estão
começando a influenciar a estrutura e a impor um arranjo geométrico específico.
Um desses arranjos gera uma estrutura cúbica I (bcc, para cúbica centrada
no corpo), com uma esfera, no centro de um cubo, formada por outras oito. O
número de coordenação de uma estrutura bcc é apenas oito, mas há mais seis
átomos, não muito mais distantes, do que os oito vizinhos mais próximos. A fração
de empacotamento de 0,68 não é muito menor do que o valor para uma estrutura
compactada (0,74), e mostra que cerca de dois terços do espaço disponível estão,
realmente, ocupados (ATKIS; PAULA, 2006).

6.3.4 Sólidos reticulares ou covalentes


Nos cristais covalentes (às vezes, chamados de redes covalentes de
cristais), os átomos se mantêm unidos totalmente, através de ligações covalentes,
formando redes tridimensionais estendidas (CHANG, 2010).

Também, são chamados de moléculas gigantes. As ligações covalentes


são fortes e direcionais por natureza. Portanto, os átomos, nesses sólidos, são
mantidos, fortemente, nas posições. As principais características são:

• Os cristais covalentes são duros.


• Têm pontos de fusão extremamente altos.
• São maus condutores de eletricidade e isolantes.

Exemplos bem conhecidos de cristais covalentes são os dois alótropos do


carbono: o diamante e o grafite. O diamante é um sólido de rede tridimensional.
Nele, cada átomo de carbono tem quatro ligações covalentes com os átomos
circundantes. Isso, efetivamente, torna, cada cristal, uma molécula gigante,
mantida unida por ligações covalentes.

As ligações covalentes fortes, que existem nas três dimensões do espaço,


contribuem para a rara dureza do diamante (é o material mais duro que se
conhece) e para o elevado ponto de fusão (3.550°C). A seguir, estará disposta
uma estrutura do diamante. Cada átomo de carbono está ligado, tetraedricamente,
a outros quatro (CHANG, 2010).

54
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

FIGURA 17 – ESTRUTURA CRISTALINA DO DIAMANTE

FONTE: <https://www.manualdaquimica.com/quimica-geral/
alotropia-carbono.htm>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Os átomos de carbono estão dispostos em camadas diferentes, e cada um


fica, covalentemente, ligado a três dos átomos vizinhos, na mesma camada. O
quarto elétron de valência de cada átomo está presente entre camadas diferentes
e é livre para se mover. Esses elétrons livres tornam o grafite um bom condutor
de eletricidade. Camadas diferentes podem deslizar umas sobre as outras. Isso
torna o grafite um sólido macio e um bom lubrificante sólido. As camadas se
mantêm unidas por forças de van der Waals fracas (CHANG, 2010).

FIGURA 18 – ESTRUTURA CRISTALINA DO GRAFITE

FONTE: <https://ciet.nic.in/moocspdf/Chemistry03/
lech_10101_etext.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Alguns pontos-chave, dos diferentes tipos de sólidos cristalinos, estarão


sumarizados a seguir:

55
Fundamentos da Química Inorgânica

QUADRO 4 – TIPOS DE SÓLIDOS CRISTALINOS


Tipo de Forma das Forças entre Propriedades Exemplos
sólido partículas as partículas
unitárias

Molecular Átomos ou Forças inter- Ponto de fusão Ar, argônio,


moléculas moleculares baixo a modera- CH4 (meta-
damente alto, no), gelo
baixas condutiv- seco (CO2)
idades térmica e
elétrica

Rede Átomos Ligações Duros, ponto de Diamante,


covalente conectados covalentes fusão muito alto, quartzo, SiO2
em uma rede baixas condutiv-
de ligação idades térmica e
covalente elétrica

Iônico Íons positi- Atrações Duros e que- Elementos


vos e nega- eletrostáticas bradiços, alto metálicos:
tivos ponto de fusão, Cu, Fe, Al, W
baixas condutiv-
idades térmica e
elétrica

56
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Cátions Ligações Macios a


unidos por metálicas muito duros,
Metálico um mar de maleáveis,
elétrons dúcteis, altas
condutividades
térmica e elétrica

FONTE: O autor

O tipo de ligação de cada tipo de sólido cristalino será apresentado a seguir.

FIGURA 19 – TIPO DE LIGAÇÃO DE CADA SÓLIDO CRISTALINO

FONTE: <https://ciet.nic.in/moocspdf/Chemistry03/
lech_10101_etext.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

57
Fundamentos da Química Inorgânica

No link a seguir, você poderá acompanhar o estudo das


características das substâncias por meio de um vídeo que torna mais
prático e sistemático o aprendizado: https://goo.gl/HqB1BC.

6.4 CÉLULAS UNITÁRIAS


Não é necessário desenhar a estrutura completa do cristal em cada momento
em que desejamos descrever a estrutura de um sólido. Podemos, em vez disso,
focalizar a atenção em uma pequena região do cristal, representativa dele
completo. A pequena unidade, ilustrada a seguir, é um exemplo de célula unitária.
O cristal completo é construído a partir de um único tipo de célula unitária, pelo
empilhamento, sem interrupção das células (ATKIS; JONES, 2012).

FIGURA 20 – EXEMPLO DE CÉLULA UNITÁRIA

FONTE: Adaptada de Atkins e Jones (2012)

A célula unitária é a menor unidade que, quando empilhada, repetidamente,


sem lacunas, pode reproduzir o cristal inteiro. Seguem exemplos de células
unitárias de alguns compostos.

58
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

FIGURA 21 – EXEMPLOS DE CÉLULAS UNITÁRIAS DE ALGUNS COMPOSTOS

FONTE: <http://ww2.chemistry.gatech.edu/~barefield/1311/metals_
and_ionic_compounds.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Em geral, as células unitárias são paralelepípedos (figuras de seis lados


que são paralelogramos). Para simplificar, assume-se que cada ponto da rede
é ocupado por um único átomo (o que ocorre na maioria dos metais), mas, em
muitos cristais, em torno de um ponto da rede, podem existir vários átomos,
íons, moléculas distribuídas em formas idênticas. Um sólido cristalino é apto a
ser representado por uma matriz tridimensional de pontos, chamada de rede
cristalina. Cada ponto representa um ambiente idêntico dentro do cristal.

Uma célula unitária cúbica de empacotamento compacto, como a ilustrada


a seguir, tem um átomo no centro de cada face. Por essa razão, ela é, também,
chamada de estrutura cúbica de face centrada (fcc).

FIGURA 22 – ESTRUTURA CÚBICA DE FACE CENTRADA (FCC)

FONTE: Adaptada de Ebbing e Gammon (2007)

59
Fundamentos da Química Inorgânica

Em uma estrutura cúbica do corpo centrado (bcc), um átomo isolado fica no


centro de um cubo formado por outros oito.

FIGURA 23 – ESTRUTURA CÚBICA DE CORPO CENTRADO

FONTE: Adaptada de Atkins e Jones (2012)

Essa estrutura não é de empacotamento compacto, e metais que têm uma


estrutura cúbica de corpo centrado podem, com frequência, ser forçados, sob
pressão, a uma forma compacta. Ferro, sódio e potássio são exemplos de metais
que cristalizam em retículos bcc. A estrutura cúbica primitiva tem um átomo em
cada vértice de um cubo (ATKIS; JONES, 2012).

FIGURA 24 – CÉLULA UNITÁRIA CÚBICA PRIMITIVA

FONTE: Adaptada de Atkins e Jones (2012)

Essa estrutura é conhecida, somente, para um elemento, o polônio: as


forças covalentes são tão fortes, nesse metaloide, que superam a tendência ao
empacotamento compacto característico das ligações metálicas.

60
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

As células unitárias são desenhadas, representando-se cada átomo por um


ponto, que marca a localização do centro.

FIGURA 25 – CÉLULAS UNITÁRIAS DAS ESTRUTURAS (A) CCP (OU FCC) E (B) BCC,
NAS QUAIS A LOCALIZAÇÃO DOS CENTROS DAS ESFERAS É DADA POR PONTOS

FONTE: Adaptada de Atkins e Jones (2012)

Todas as estruturas cristalinas podem ser expressas em termos de 14


padrões básicos, chamados de retículos de Bravais.

FIGURA 26 – RETÍCULOS DE BRAVAIS

FONTE: <http://cristal.iqsc.usp.br/files/Cap-5-C%C3%A9lula-Unitaria-
e-Reticulos-de-Bravais.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.
61
Fundamentos da Química Inorgânica

Podemos começar a entender por que o número de tipos de células unitárias


é limitado, observando que formas pentagonais regulares estão ausentes dos
retículos Bravais: os pentágonos regulares não podem cobrir o espaço sem
deixar lacunas. Pela mesma razão, a forma do heptágono regular (sete lados) e
as formas poligonais superiores, também, não conseguem ser empilhadas para
cobrir todo o espaço e, portanto, elas não aparecem nos retículos de Bravais.

Conta-se o número de átomos em uma célula unitária, verificando-se como


estão partilhados com as células vizinhas. Por exemplo, um átomo, no centro
de uma célula, pertence, inteiramente, a ela, mas um que está em uma face é
partilhado por duas células, e átomos dos vértices contribuem com 8 x 1/8 = um
átomo para a célula. Para os seis átomos, o centro das faces contribui com 6 x 1/2
= três átomos. O número total de átomos de uma célula unitária fcc é, portanto,
1+ 3 =4, e a massa da célula unitária é quatro vezes a massa de um átomo. No
caso de uma célula unitária bcc, conta-se um para o átomo que está no centro,
1/8 para cada um dos oito que estão nos vértices, com um total de 1+ (8 x 1/8) =
dois (ATKIS; JONES, 2012).

A melhor maneira de determinar o tipo de célula unitária adotado por um metal


é por meio da difração de raios-X, que dá uma figura de difração característica.
Um procedimento simples para medir a densidade do metal, entretanto, pode
ser usado para distinguir as estruturas de empacotamento compacto e outras.
As densidades das células unitárias possíveis são calculadas e comparadas com
os resultados experimentais, para determinar qual estrutura explica a densidade
observada. Como é uma propriedade intensiva, o que significa que não depende
do tamanho da amostra, ela é a mesma para a célula unitária e para o corpo
do sólido. Os arranjos hexagonais e cúbicos de empacotamento compacto não
podem ser distinguidos dessa maneira, porque eles têm o mesmo número de
coordenação e, portanto, as mesmas densidades (para o mesmo elemento)
(ATKIS; JONES, 2012). Para entender melhor como pode ser determinada a
densidade, vamos a um exemplo.

Exemplo: A densidade do Cu é de 8,93 g/cm3, e o raio atômico é de 128 pm.


Calcule a densidade do Cu, supondo uma estrutura cúbica de empacotamento
compacto (ccp ou fcp), e compare com o valor fornecido no exemplo (Dados:
Massa molecular do cobre é de 63,55 g/mol. Esse valor é retirado da tabela
periódica).

62
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Resolução: Calcular a densidade do Cu em ccp. A célula ccp possui quatro


átomos, então, massa = 4 x massa do átomo (M/NA), a densidade, d, é, portanto:

FIGURA 27 – CÁLCULO

FONTE: O autor

Para calcular a massa, em gramas, você precisa utilizar a massa molecular


da tabela periódica e dividir pelo número de moléculas (número de Avogrado 1
mol = 6,02x 10-23moléculas):

Comparando o valor da densidade obtida (8,90 g/cm3) com o fornecido no


exemplo (8,93 g/cm3), podemos perceber que os valores são muito próximos,
então, é possível supor que a estrutura do Cu é de empacotamento compacto na
temperatura normal.

63
Fundamentos da Química Inorgânica

Todas as estruturas cristalinas são derivadas dos 14


retículos bravais. Os átomos de uma célula unitária são contados,
determinando-se a fração de cada um que está dentro. O tipo de
célula unitária, adotado por um metal, pode ser determinado pela
medida da densidade do sólido.

1 - As propriedades macroscópicas de um sólido são determinadas


pela estrutura no nível molecular. Os sólidos são classificados
como cristalinos e amorfos. Os cristalinos são classificados,
de acordo com o tipo de ligação que mantém os átomos, os
íons ou as moléculas juntos, em: sólidos metálicos, sólidos
iônicos, sólidos reticulares ou covalentes e sólidos moleculares.
Classifique os seguintes: Grafite, latão, fosfato de amônio, SiC,
Rb, I2, LiBr, P4, Si:

a) Sólido molecular: I2, P4; Sólido covalente: Grafite, SiC, Si; Sólido
metálico: Latão, Rb; Sólido iônico: Fosfato de Amônio, LiBr.
b) Sólido molecular: SiC, P4; Sólido covalente: Grafite, I2, Si; Sólido
metálico: Latão, Rb; Sólido iônico: Fosfato de Amônio, LiBr.
c) Sólido molecular: Fosfato de Amônio, P4; Sólido covalente: Latão,
SiC, Si; Sólido metálico: Grafite, Rb; Sólido iônico: I2, LiBr.
d) Sólido molecular: Latão, P4; Sólido covalente: Grafite, Fosfato de
Amônio, Si; Sólido metálico: I2, Rb; Sólido iônico: SiC, LiBr.

2 - A melhor maneira de determinar o tipo de célula unitária adotado


por um metal é por meio da difração de raios-X, que dá uma figura
de difração para cada tipo. Um procedimento simples para medir
a densidade do metal, entretanto, pode ser usado para distinguir
estruturas de empacotamento compacto e outras. As densidades
das células unitárias possíveis são calculadas e comparadas
com os resultados experimentais para determinar qual estrutura
explica a densidade observada. Diante desse contexto, avalie se
a densidade do átomo de ferro é consistente com a estrutura de
empacotamento compacto. São dados o raio atômico do ferro,
que é 124 pm; a densidade, 7,87 g/cm3; a massa atômica do Fe

64
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

55, 845 u; e NA= 6,02 x10-23 moléculas.

3 - Os sólidos cristalinos têm um arranjo interno regular de átomos


ou de íons. Os sólidos amorfos não. Os sólidos são classificados
como moleculares, reticulares, metálicos ou iônicos. Diante desse
contexto, suponha que três substâncias diferentes foram testadas
para classificação. Os resultados dos testes serão apresentados
a seguir:
Substância Aparência Ponto de Ebu- Condutividade elétri- Solubilidade em
lição °C ca água
X Dura, branca 900 Somente quando dis- Solúvel
solvida em água
Y Lustrosa, 1400 Alta Insolúvel
maleável
W Mole, amarela 133 Nenhuma Insolúvel

Use a tabela a seguir para classificar as substâncias X, Y e W


como metálicas, iônicas, reticulares ou sólidos moleculares.

Classe Exemplos Características


Metálico Elementos dos blocos s e d Maleável, dúctil, lustroso, con-
dutores térmicos e elétricos
Iônico NaCl, KNO3, CuSO4.5H2O Duro, rígido, quebradiço, pon-
tos de fusão e ebulição altos,
os solúveis em água com
soluções condutoras
Reticular B, C, P preto, BN, SiO2 Duro, rígido, quebradiço, pon-
tos de fusão e ebulição altos,
insolúveis em água.

Molecular BeCl2, S8, P4, I2, gelo, glicose, Pontos de fusão e ebulição,
naftaleno relativamente, baixos, que-
bradiços quando puros.

FONTE: Adaptada de Atkis e Jones (2012)

4 – Quando a temperatura é tão baixa que as moléculas de uma


substância não têm energia suficiente para escapar, ainda que,
parcialmente, dos vizinhos, ela se solidifica. A natureza do sólido
depende do tipo de força que mantém, juntos, os átomos, os íons
ou as moléculas. A compreensão da estrutura dos sólidos, em
termos das propriedades dos átomos, ajuda a entender por que,

65
Fundamentos da Química Inorgânica

por exemplo, os metais são maleáveis, mas os cristais de sal se


quebram sobre pressão, e por que os diamantes são duros. Os
materiais sólidos se classificam, de acordo com a estrutura, em
cristalinos e em amorfos. A respeito dos materiais cristalinos,
analise as afirmativas a seguir:

I- Materiais não cristalinos são conhecidos como materiais amorfos.


II- Para descrever sólidos cristalinos, o modelo atômico de Bohr, no
qual os elétrons descrevem órbitas ao redor do núcleo atômico, é
o mais adequado.
III- Nos materiais cristalinos, os átomos estão ordenados,
periodicamente, sobre longas distâncias atômicas
IV- As propriedades dos sólidos cristalinos dependem da estrutura
V-  A célula cristalina pode ser vista como a unidade estrutural básica
dos materiais cristalinos.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.


b) Apenas as afirmativas II, III, IV e V estão corretas.
c) Apenas as afirmativas I, II, III e V estão corretas.
d) Apenas as afirmativas I, III, IV e V estão corretas.

5 - Os sólidos são caracterizados por um arranjo tridimensional


estendido de átomos, íons ou moléculas, no qual os
componentes, geralmente, estão presos nas posições.
Esses componentes podem ser dispostos em uma matriz
tridimensional de repetição regular (uma rede de cristal),
o que gera um sólido cristalino, ou, mais ou menos,
aleatoriamente, para produzir um sólido amorfo. Os sólidos
cristalinos têm bordas e faces bem definidas, difratam
os raios-X e tendem a ter pontos de fusão agudos. Em
contraste, os amorfos têm superfícies irregulares ou curvas,
não fornecem padrões de difração de raios-X bem resolvidos
e derretem em uma ampla faixa de temperatura. A respeito
da diferença entre os sólidos amorfo e cristalino, pode-se
afirmar o seguinte:

a) Embora ambos possuam estrutura microscópica ordenada, os


sólidos amorfos não possuem forma macroscópica definida.
b) Os sólidos cristalinos são sempre puros, enquanto os amorfos são
sempre impuros.

66
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

c) Os sólidos cristalinos têm, como unidade formadora, átomos,


enquanto, para os amorfos, são moléculas.
d) O sólido amorfo é aquele que pode sofrer sublimação, enquanto o
sólido cristalino não.
e) Os sólidos amorfos são isotrópicos por natureza, enquanto os
cristalinos têm entalpia de fusão definida e são anisotrópicos por
natureza.

Como podemos saber... Qual é a aparência de uma superfície?

Mesmo os microscópios ópticos mais potentes não permitem


que se vejam os átomos da superfície de um sólido. No entanto,
o novo campo da nanotecnologia, o desenvolvimento e estudo de
estruturas em escala nanométrica, exige a capacidade de resolver
as superfícies em escala atômica. Uma nova técnica que permite
que os átomos sejam visualizados, a Microscopia de Varredura
por Tunelamento (MVT) é uma importante ferramenta para a
nanotecnologia. A técnica produz imagens, como a desta da figura a
seguir. A primeira delas mostra um pequeno cristal de iodeto de sódio
em uma superfície de cobre.

FONTE: Adaptada de Atkins e Jones (2012)

O princípio de funcionamento das MVT é que, embora os elétrons


tenham propriedades de ondas, podem penetrar e atravessar regiões
do espaço que não seriam permitidas pela mecânica clássica. Essa
penetração é chamada de tunelamento. Esse efeito é usado na MVT
(daí o nome), colocando-se a ponta afiada de uma agulha perto de

67
Fundamentos da Química Inorgânica

uma superfície e monitorando a corrente que flui entre a ponta dela


e a superfície. A magnitude da corrente, assim como o tunelamento,
é muito sensível à distância entre a ponta e a superfície, e variações,
até mesmo, do tamanho de um átomo, podem afetá-la.

Para obter uma imagem MVT, a ponta afiada se movimenta para


frente e para trás, pela superfície, em uma série de linhas paralelas
muito próximas (daí o nome ‘’varredura’’). A ponta é extremamente
fina e termina em um único átomo.

FONTE: <https://my.eng.utah.edu/~lzang/images/
Lecture_6_STM.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

À medida que a ponta se movimenta sobre a superfície em uma


altura constante, o tunelamento flui e reflui, e, consequentemente,
a corrente varia através do circuito. A figura representa a corrente
medida em cada varredura.

Uma variante é manter a corrente em um nível constante e variar


a altura da agulha sobre a superfície, monitorando a altura. Pode ser
controlada, usando-se uma substância piezoelétrica como suporte
da agulha, uma substância que muda as dimensões, de acordo com
a diferença de potencial elétrico, nela, aplicado. Assim, a medida
da voltagem que deve ser aplicada ao suporte piezoelétrico, para
manter constante a corrente que passa através da ponta, permite
inferir a altura da ponta e registrar os resultados em um gráfico na
tela de um computador.

68
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

Outra variante é a Microscopia de Força Atômica (MFA), na


qual uma ponta aguda, ligada a um cantilever, fino e flexível, varre
a superfície. O átomo que está na ponta experimenta uma força, a
qual o puxa para a superfície ou o empurra para longe dos átomos
dessa superfície. Os desvios do feixe seguem a forma da superfície
e são monitorados, usando-se a luz de um laser. Uma vantagem da
MFA é que ela pode reproduzir a imagem de superfícies biológicas
que não conduzem correntes elétricas. Assim, por exemplo, a MFA
pode ser usada para estudar as formas dos cromossomos humanos
e como carcinógenos (os quais provocam câncer) promovem o
desenvolvimento de tumores, ao interferirem na reprodução da
molécula de DNA. Uma figura MFA, do cromossomo X humano, será
apresentada a seguir.

FONTE: Adaptada de Atkins e Jones (2012)

Essa figura MFA mostra o cromossomo X, que determina o


gênero de uma pessoa. Inclui cerca de 5% do DNA. As mulheres
têm dois cromossomos X e os homens têm um cromossomo X e
um cromossomo Y. Como a MFA não exige a modificação química
da substância em estudo, pode mostrar detalhes importantes da
estrutura do cromossomo.

As figuras, aqui, apresentadas, são geradas por computadores.


Elas não são fotografias, no sentido comum do termo. No entanto,
abriram os nossos olhos para a aparência das superfícies de maneira
extraordinária.

FONTE: ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de química.


Questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2012.

69
Fundamentos da Química Inorgânica

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, nós vimos que os elementos podem ser classificados
como metais e não metais. Os metais são brilhantes, maleáveis, dúcteis e bons
condutores de calor e de eletricidade. São sólidos à temperatura-ambiente, exceto
o mercúrio, que é um líquido. Podem formar íons positivos, ao perder elétrons
para não metais. Combinam-se com o oxigênio, para formar óxidos básicos.

Os não metais têm propriedades opostas às dos metais. Eles não são
maleáveis, ​​nem dúcteis. São maus condutores de calor e de eletricidade, exceto
o grafite, que conduz eletricidade. Formam íons carregados, negativamente, ao
ganhar elétrons, na reação com os metais.

O químico inglês Neil Bartlett sintetizou o primeiro composto de gás nobre,


o hexafluoro-platinato de xenônio, em 1962. Os elementos do Grupo 18/VIII se
encontram na atmosfera como gases monoatômicos.

O argônio é o terceiro gás mais abundante na atmosfera, depois do nitrogênio


e do oxigênio. O hélio é o segundo elemento mais presente no Sol, e 23% da
massa do universo é composta desse elemento. Ele é raro na Terra porque os
átomos são tão leves que uma grande proporção deles atinge altas velocidades
e escapa da atmosfera. Ainda, não forma compostos. Como a densidade dele
é muito baixa e não é inflamável, é usado para fazer flutuarem os dirigíveis.
Também, é usado para diluir o oxigênio usado em hospitais e em mergulhos em
mar profundo, para pressurizar combustíveis de foguete, como refrigerante, e em
lasers de hélio-neônio.

O neônio, que emite cor laranja-avermelhada quando uma corrente elétrica


passa através dele, é usado em letreiros de publicidade e em avisos luminosos.
O argônio é comum para gerar uma atmosfera inerte para soldas (para prevenir
a oxidação), e como enchimento de alguns tipos de lâmpadas, para resfriar o
filamento. O criptônio produz uma intensa luz branca ao ser atravessado por uma
descarga elétrica, e, por isso, é tido na iluminação de pistas de aeroporto.

Os sólidos têm massa, volume e forma definidos, e são incompressíveis


e rígidos. Com base na natureza do arranjo das partículas constituintes, são
classificados como cristalinos e amorfos. Os cristalinos têm um arranjo regular de
partículas constituintes em um longo intervalo.

Dependendo da natureza das forças intermoleculares, os sólidos cristalinos


podem ser classificados em quatro tipos: sólidos moleculares, sólidos iônicos,
sólidos metálicos e sólidos covalentes ou de rede (reticulares). Em cristais

70
Capítulo 1 Metais, não Metais, Gases Nobres
e Introdução À Química do Estado Sólido

metálicos, as partículas constituintes são íons positivos (chamados de núcleos)


imersos em um mar de elétrons móveis. Em cristais covalentes, essas partículas
são átomos não metálicos, ligados aos átomos adjacentes por ligações covalentes
em todo o cristal.

Sólidos amorfos não possuem arranjo regular de partículas constituintes,


portanto, apresentam ordem de curto alcance. Eles não têm um ponto de fusão
preciso e são isotrópicos por natureza.

REFERÊNCIAS
AQUILANO, D. et al. Three study cases of growth morphology in minerals:
halite, calcite and gypsum. 2016. Disponível em: https://www.researchgate.
net/publication/308150499_Three_study_cases_of_growth_morphology_in_
minerals_Halite_calcite_and_gypsum. Acesso em: 24 abr. 2021.

ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química. Questionando a vida moderna


e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

ATKIS, P. de; PAULA, J. Physical chemistry. 2006. Disponível em: http://www.


rnlkwc.ac.in/pdf/study-material/chemistry/Peter_Atkins__Julio_de_Paula__
Physical_Chemistry__1_.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.

BAUMEISTER, A.; GIARDINELLA, S.; CORONADO, M. Acids handling. 2012.


Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/288485753_Acids_
Handling. Acesso em: 24 abr. 2021.

BORGES, G. B. C.; ALVES, J. A. Apostila de Química – Pró-técnico. Minas


Gerais: Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, 2017.

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74
C APÍTULO 2
Compostos de Coordenação

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Apresentar as regras de nomenclatura, os termos utilizados, as fórmulas e a


estabilidade dos compostos de coordenação.
• Classificar os ligantes quanto ao número de átomos doadores.
• Definir os diferentes tipos de isomeria.
• Entender a importância e as aplicações da coordenação de compostos no
nosso dia a dia.
• Conhecer o significado dos termos entidade de coordenação, átomo/íon
central, ligante, número de coordenação, esfera de coordenação, poliedro de
coordenação, número de oxidação, homoléptico e heteroléptico.
Fundamentos da Química Inorgânica

76
Capítulo 2 compostos de coordenação

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
No Capítulo 1, conhecemos os metais. Neste capítulo, estudaremos os
metais de transição. Os elementos dos Grupos 3 a 11 são chamados de metais
de transição, porque representam a transição entre os metais muito reativos do
bloco s e os metais pouco reativos do Grupo 12 e do bloco p (ATKIS; JONES,
2012).

Os metais de transição formam um grande número de compostos complexos


nos quais os átomos do metal estão ligados a uma série de ânions ou de moléculas
neutras. Na terminologia moderna, tais compostos são chamados de compostos
de coordenação. A química dos compostos de coordenação é uma importante
e desafiadora área da química inorgânica moderna. Novos conceitos de ligação
química e de estrutura molecular fornecem percepções do funcionamento de
componentes vitais dos sistemas biológicos. Clorofila, hemoglobina e vitamina
B12 são compostos de coordenação. Uma variedade de processos metalúrgicos,
catalisadores industriais e reagentes analíticos envolvem o uso deles. Ainda,
encontram muitas aplicações na galvanoplastia, no tingimento têxtil e na química
medicinal (NCERT, 2015).

O estudo dos compostos de coordenação tem recebido muita atenção


nos últimos anos. Esse interesse foi gerado pela descoberta das atividades
antibacteriana, fúngica e cancerígena de vários compostos. Como resultado,
estudos têm sido realizados acerca da estrutura e do comportamento químico
de vários complexos metálicos. As propriedades dos compostos de coordenação
são influenciadas, em grande parte, pela natureza e pelo estado de oxidação do
átomo de metal central. Um método de estudar essa influência é comparando
os compostos formados por uma série de átomos de metal, em um determinado
estado de oxidação, com um ligante específico (AKINKUMNI; AIYELABOLA,
2012).

O que podemos concluir é que a química de coordenação de metais é um


campo vasto e complexo a ser explorado. A química do carbono é, em contraste,
comparativamente, simples, no sentido de que, essencialmente, todos os
compostos de carbono estáveis ​​têm quatro ligações em torno de cada centro de
carbono. Os metais, como um grupo, podem exibir números de coordenação de
dois a quatorze, e estados de oxidação formais que variam de valores negativos
até oito. Mesmo para um determinado metal, uma gama de estados de oxidação,
de números de coordenação e dos comportamentos espectroscópico e químico
distintos, associados a cada estado de oxidação, pode, e, geralmente, existe.

77
Fundamentos da Química Inorgânica

Qual é, então, o provável futuro da química de coordenação? Muito


claramente, as modas e as realidades atuais indicam um desenvolvimento
multidisciplinar, particularmente, nas ciências da vida. A natureza, continuamente,
apresenta surpresas aos químicos, e a química de coordenação continuará a
responder aos desafios da biomimetização e aos desenvolvimentos associados
à catálise e à ciência dos materiais. É fato que apenas 5% das bactérias, no
solo, são identificadas, e os papéis dos metais, nas bactérias, em geral, não são
avaliados. Isso poderia ser de consideráveis importâncias industrial e agrícola no
futuro. A enzimologia já é muito conhecida há 30 anos, e, provavelmente, será
uma grande preocupação para outros 300. Os papéis dos metais e os ambientes
de coordenação continuarão a ser elucidados e modelados, de maneiras que
possam contribuir para a revolução da "química verde". A química de coordenação
continuará a fortalecer como especialidade e disciplina central para a ciência
dos materiais. É fundamental para o desenvolvimento de novos materiais para a
nanociência e a nanotecnologia (McCLEVERTY; MEYER, 2003).

Como a química de coordenação é a química da grande maioria da tabela


periódica, dos metais e dos metaloides, é fundamental para o estudo adequado da
química. Além disso, uma vez que, muitos compostos de coordenação incorporam
moléculas orgânicas como ligantes, e podem influenciar a reatividade e o
comportamento, uma compreensão da química orgânica, também, é necessária
nesse campo. Além disso, as propriedades espectroscópicas e magnéticas são
fundamentais para um entendimento adequado dos compostos de coordenação,
assim, o conhecimento de uma variedade de métodos físicos e analíticos é
importante. É claro que a química da coordenação é exigente, mas recompensa,
ao revelar uma diversidade, que pode ser, ao mesmo tempo, intrigante, atraente
e recompensadora (LAWRANCE, 2010). Bem-vindo ao mundo maravilhoso da
química de coordenação - vamos explorá-lo!

2 UMA BREVE HISTÓRIA DA QUÍMICA


DE COORDENAÇÃO: DA PRÉ-
HISTÓRIA À HISTÓRIA
Embora os compostos de coordenação tenham uma longa e honrosa história
de aplicação, não foram reconhecidos ou, sistematicamente, estudados até a era
moderna. A química da coordenação, assim como a metalurgia, é uma disciplina
na qual as aplicações tecnológica e estética são anteriores à investigação
científica. A cor tem sido fundamental para os desenvolvimentos cultural e
histórico da sociedade moderna, uma característica da química de coordenação
(ORNA, 2013).
78
Capítulo 2 compostos de coordenação

Provavelmente, uma das primeiras aplicações da química de coordenação foi


o uso de mordentes para fixarem corantes em fibras, e há evidências de tingimento
de tecido desde 7000 a. C. Por exemplo, durante o início do período do Império
Romano, apenas reis e sacerdotes podiam usar tecidos, tingidos de púrpura, na
Idade Média, tecidos tingidos de escarlate eram reservados, exclusivamente, para
importantes membros do clero. As fontes de corante eram, ainda, importantes o
suficiente para emprestar os nomes aos países do Novo Mundo. Os primeiros
corantes vieram de fontes naturais, como plantas, líquenes, insetos ou fungos.
Estes foram extraídos com água e transferidos para o tecido, por imersão dele na
solução corante (FERREIRA; HULME; MCNAB; QUVE, 2004). Alguns corantes,
sozinhos, apresentaram cores permanentes, que não saem da lavagem, mas
outras apenas ligam quando substâncias adicionais, chamadas de mordentes
(mordre, em francês, para morder), estão presentes. Muitos dos mordentes mais
comuns são sais de metal simples, em particular, os de alumínio, cobre, ferro,
cromo e estanho. Um corante inicial, obtido da raiz da planta garança, Rubia
tinctorum, contém alizarina.

As características gerais, responsáveis ​​pela ligação do corante a uma fibra,


envolvem íons metálicos coordenados aos átomos de oxigênio do alizarina e
do tecido, como resultado, a tintura não é removida do tecido em uma lavagem
normal. As tinturas vermelhas entraram na cultura popular através dos “casacos
vermelhos", dos soldados britânicos dos séculos 18 e 19, os quais utilizavam o
corante vermelho turco (alizarina com um mordente de alumínio) para tingir as
jaquetas. Nomes triviais, como Vermelho Peru, identificam o material de coloração,
mas não dão nenhuma pista para a constituição química (CONSTABLE, 2019).

FIGURA 1 – (A) A ESTRUTURA DA ALIZARINA; B) A PLANTA DA QUAL É


EXTRAÍDO O RUBIA TINCTORUM; C) A ALIZARINA PELA AMOSTRA DE
CORANTE - A ALIZARINA SE LIGA A GRUPOS DE HIDROXILA DO TECIDO,
POR COORDENAÇÃO, COM ÍONS METÁLICOS, COMO AL+3 E CR+3

FONTE: <https://www.google.com/search?q=coordination+compounds
+pdf&oq=coordination+compounds+pdf&aqs=chrome..
69i57j0i19l7j0i19i22i30l2.2620j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8#>.
Acesso em: 24 abr. 2021.

79
Fundamentos da Química Inorgânica

É quase inconcebível que os alquimistas e os iatroquímicos não


encontrassem compostos de coordenação, mas há pouca ou nenhuma evidência
documental acerca do assunto. Como "licores de amônia" eram usuais na obra
alquímica, a qual, por sua vez, estava obcecada com a transformação de metais
(em particular, de metais básicos a ouro), é certo que as cores características
dos complexos de amina foram observadas. A descrição empírica mais antiga se
deve ao trabalho de Andreas Libavius, ​​no fim do século 16, no livro Alchemia.
Descreveu uma cor azul, na reação do latão (uma liga de cobre e de zinco), com
amônia aquosa, na qual o sal amoníaco é dissolvido, dando cores vivas [azul]
com cobre. Se uma amostra de latão espessa for deixada, durante o período da
noite, em uma bacia, contendo água de cal e sal amoniacal, surge uma cor azul.

FIGURA 2 – (A) ANDREAS LIBAVIUS; (B) CAPA DO LIVRO ALCHEMIA

FONTE: Adaptada de Redefor (2011)

No início da Idade Média, um corpo de conhecimento químico estava se


desenvolvendo nas esferas de influência europeia e árabe, e os compostos
químicos individuais começaram a ser identificados. Quando isso aconteceu,
individualmente, os nomes foram, mais frequentemente, associados à origem
geográfica do que às propriedades químicas, por exemplo, elementos, como
o cobre (com o nome de Chipre), ou compostos, como o roxo de Tyr (em
homenagem a Tiro, um antigo porto fenício), azul egípcio (um lápis-lazúli artificial
preparado, no Oriente Médio, a partir de malaquita) etc. (CONSTABLE, 2019).

A química de coordenação entrou nessa arena por volta de 1704, quando


Diesbach, acidentalmente, preparou um novo pigmento azul, que ficou conhecido
como azul da Prússia (Preussisch blau), ou azul de Berlim (Berlinisch blau). O
novo pigmento azul foi, rapidamente, comercializado e disponibilizado para

80
Capítulo 2 compostos de coordenação

compra, com a primeira pintura a utilizá-lo, O Entombamento de Cristo, de Pieter


van der Werff, datada de 1709. Após a publicação da receita, o mesmo pigmento
foi preparado na França e, posteriormente, vendido como azul de Paris (KRAFT,
2008). A estrutura cristalina de Fe4 [Fe (CN) 6] 3 · xH2O foi determinada apenas em
1977, e uma representação será apresentada a seguir.

FIGURA 3 – (A) O PIGMENTO AZUL DA PRÚSSIA PREPARADO,


PELA PRIMEIRA VEZ, POR DIESBACH, EM 1704; (B) A ESTRUTURA
CRISTALINA IDEALIZADA DO PIGMENTO, FE4 [FE (CN) 6] 3 ·
XH2O, SÓ DETERMINADA CERCA DE 270 ANOS DEPOIS

FONTE: Adaptada de Constable (2019)

O azul da Prússia teve impacto social, variando da cor azul, característica


dos uniformes da infantaria prussiana dos séculos XVIII e XIX, passando pelos
"projetos" dos engenheiros, ao nome trivial de "ácido prússico" para ácido
cianídrico, muito usado, como um veneno, por detetives. Uma das primeiras
descrições ficcionais do uso do cianeto como veneno vem da autora e poetisa
Letitia Elizabeth Landon, no livro Ethel Churchill. Esse trabalho é digno de nota,
pois foi ambientado em 1725 d.C. e descreve a preparação fictícia do ácido
cianídrico 50 anos antes do isolamento, no mundo real, por Scheele (MILLER,
2019).

Para resumir a história até agora, no início do século XIX, os materiais


inorgânicos eram, geralmente, identificados por nomes (ou símbolos) com
origens perdidas na antiguidade. Os compostos de coordenação eram uma raça
rara e exótica, com termos, frequentemente, associados à origem geográfica
(CONSTABLE, 2019).

No decorrer do século XVIII, tornou-se, cada vez mais claro, que o progresso
científico, na química, estava sendo prejudicado pela falta de um método de
nomenclatura claro e, universalmente, aceito, para identificar os compostos de
forma única. Não apenas os compostos tinham nomes irracionais ou históricos,
mas, frequentemente, as espécies individuais tinham vários nomes. Por exemplo,
na denominação do tartarato de ferro (II), no estado sólido, era conhecido

81
Fundamentos da Química Inorgânica

como extrato de Marte, mas, em solução, como tintura tartarizada de Marte


(CROSLAND, 1978 apud CONSTABLE, 2019).

Uma das primeiras abordagens mais sistemáticas veio de Louis Bernard


Guyton de Morveau, que se inspirou na obra de Tobgren Bergman, que começou
a introduzir nomes mais racionais. Bergman se correspondeu com o grande
naturalista sueco Carl Linnaeus, que introduziu a conhecida nomenclatura
hierárquica para organismos vivos, e Morveau teve a visão de aplicar uma
nomenclatura binomial de Linnaeus aos compostos inorgânicos.

A maioria dos relatos acerca do desenvolvimento da química de


coordenação, agora, remete, diretamente, ao início do século XIX. No entanto, na
última metade do século XVIII, houve uma publicação, mostrando como o método
científico moderno estava se tornando aceito e fornecendo uma das primeiras
descrições detalhadas do comportamento dos compostos de coordenação em
solução. William Lewis descreveu, dentre outros estudos, o ouro e a platina.
Ele relatava a cor amarela do íon [AuCl4] - após a dissolução do ouro em água
régia e o isolamento de Na [AuCl4] e de H [AuCl4] sólidos. A descrição da química
da platina é, especialmente, completa e precisa, e inclui a dissolução do metal
na água régia, o isolamento de espécies sólidas de hexacloridoplatinato (IV) e
alguns materiais vermelhos ou amarelos da reação com cloreto de amônio,
provavelmente, isômeros [Pt (NH3)2Cl2] (McCLEVERT; MEYER, 2003).

A química de coordenação entrou em uma fase rica de expansão, na qual um


grande número de novos compostos foi descoberto. Como métodos e instrumentos
analíticos foram desenvolvidos, em particular, a introdução da balança analítica,
a constituição dos materiais foi determinada. No entanto, embora novos modelos
e uma compreensão da valência estivessem sendo descobertos, especialmente,
para compostos orgânicos, não ajudaram na compreensão da natureza dos
compostos de coordenação. Da mesma forma, os conceitos de estrutura
tridimensional e de isomerização só foram, geralmente, aceitos no final do século
XIX (WEST, 2014).

No final do século XIX, compostos que desafiavam as regras usuais de


valência ocuparam os pensamentos de muitos químicos inorgânicos. Em
1893, Alfred Werner (1866-1919) publicou o famoso artigo Contribuição para
a Constituição de Compostos Inorgânicos, no qual ele expôs as ideias acerca
da esfera de coordenação e da geometria molecular aplicada a compostos
inorgânicos. Ele postulou que os compostos de coordenação consistiam em um
cátion de metal central em torno do qual estavam dispostos moléculas neutras
ou ânions, chamados de ligantes, e que cada íon de metal tinha um número
característico de locais de coordenação, o qual ele chamou de “número de
coordenação’’. Também, propôs que as ligações aos ligantes fossem fixadas no

82
Capítulo 2 compostos de coordenação

espaço e poderiam, portanto, ser tratadas pela aplicação de princípios estruturais.


Embora a teoria de Werner explicasse as estruturas de compostos, como [Co
(NH3)5 (H2O)]Cl3, não tinha nada a dizer da natureza de ligação dentro da esfera
de coordenação (ORNA, 2013). Atente-se a alguns complexos de Werner com as
etiquetas escritas pelo próprio, da coleção da Universidade de Zurique.

FIGURA 4 – COMPLEXOS DE WERNER

FONTE: Adaptada de Orna (2013)

Werner propôs uma interpretação dos compostos de coordenação que


enfatizava o número e a natureza dos grupos ligados ao íon metálico. A teoria de
Werner representa um salto quântico na história da química da coordenação, e a
maior parte das contribuições do século 20 foram desenvolvimentos, extensões
ou confirmação dessa teoria. Desde a promulgação e a aceitação gerais, ao longo
das décadas, entre 1890 e 1910, forneceu um tronco central, a partir do qual
muitos ramos da química de transição cresceram e floresceram. Por exemplo,
o uso de complexos metálicos em terapia e o diagnóstico por imagem estão
aumentando. Ao longo da história, antigos e modernos, compostos metálicos têm
sido usados, ​​na medicina, para tratar de uma variedade de doenças. Um exemplo
notável é a cisplatina, PtCl2 (NH3)2, introduzida por Rosenberg (CONSTABLE,
2019).

Essa descoberta levou a uma verdadeira avalanche de pesquisas acerca


da platina e a uma busca contínua por uma droga para o tratamento do câncer.
A quelação desempenha um papel definitivo na causa e no tratamento de um
câncer, um desenvolvimento significativo da década de 1960. Um complexo de
triplatina mostrou ser citotóxico em níveis nanomolares para várias concentrações
diferentes, permitindo o potencial de dosagem em níveis muito baixos. Também,
demonstrou potencial no tratamento de doenças malignas que, de outra forma,

83
Fundamentos da Química Inorgânica

eram intratáveis ​​com cisplatina. Esse composto é licenciado para Novus Pharma,
e está, atualmente, em ensaio clínico, fase II, para o tratamento de vários tipos de
câncer.

3 introdução aos compostos de


coordenação
Estudamos, no Capítulo 1, os metais, as propriedades físicas e químicas e
as principais características. A partir de agora, trataremos dos metais do bloco d.

FIGURA 5 – TABELA PERIÓDICA

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/12837555/>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Muitos dos elementos do bloco d formam soluções com cores características


em água. Por exemplo, o cloreto de cobre (II) sólido é marrom, e o brometo de
cobre (II) é preto, mas as soluções em água são azul-claras. A cor azul é devido
aos íons cobre (II) hidratados, [Cu(OH2)6]2+, formados quando o sólido se dissolve.
Eles podem ser entendidos como provenientes de uma reação na qual as
moléculas de água agem como bases de Lewis (doadoras de par de elétrons), e,
o íon Cu2+ , como ácido de Lewis (receptor de um par de elétrons). Esse tipo de
reação ácido-base é característico de muitos cátions dos elementos do bloco d
(ATKIS; JONES, 2012).

84
Capítulo 2 compostos de coordenação

O íon hidratado [Cu(OH2)6]2+ é um exemplo de complexo, isto é, uma espécie


formada por um átomo ou um íon central de metal ao qual se ligam outros íons ou
moléculas por ligações coordenadas. Compostos de coordenação, como o termo
é, geralmente, usado na química inorgânica, incluem compostos formados de um
átomo ou de um íon de metal e um ou mais ligantes (átomos, íons ou moléculas)
que, formalmente, doam elétrons para o metal. Essa definição inclui compostos
com ligações metal-carbono, chamadas de compostos organometálicos. O
nome composto de coordenação vem da ligação covalente coordenada, que,
historicamente, foi considerada formada pela doação de um par de elétrons de
um átomo para o outro. As ligações covalentes coordenadas são idênticas às
ligações covalentes formadas pela combinação de um elétron de cada átomo,
apenas a contagem formal de elétrons distingue. Os compostos de coordenação,
também, são adutos ácido-base, e, frequentemente, chamados de complexos ou,
se carregados, de íons complexos (MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014).

Há grande interesse, entre os pesquisadores, nas estruturas, nas


propriedades e nos usos dos complexos formados entre os íons de metais d,
que agem como ácidos de Lewis, e uma variedade de bases de Lewis, em parte,
porque participam de muitas reações biológicas. A hemoglobina e a vitamina B12,
por exemplo, são complexos – o primeiro, de ferro, o segundo, de cobalto. Os
complexos dos metais d são, muitas vezes, magnéticos e vivamente coloridos,
usados, na química, para a análise, na dissolução de íons, na eletrodeposição de
metais e na catálise. São, também, objeto de pesquisas na conversão de energia
solar, na fixação do nitrogênio atmosférico e em novos fármacos (ATKIS; JONES,
2012).

3.1 TEORIA DOS COMPOSTOS DE


COORDENAÇÃO DE WERNER
Alfred Werner (1866-1919), um químico suíço, foi o primeiro a formular
ideias acerca das estruturas dos compostos de coordenação. Ele preparou e
caracterizou um grande número de compostos e estudou os comportamentos
físico e químico, por meio de técnicas experimentais simples. Werner propôs
conceitos de uma valência primária e de uma valência secundária para um íon
metálico. Compostos binários, como CrCl3, CoCl2 ou PdCl2, têm valência primária
de 3, 2 e 2, respectivamente. Em uma série de compostos de cloreto de cobalto
(III) com amônia, verificou-se que alguns dos íons cloreto podiam ser precipitados
como AgCl, ao adicionar o excesso de solução de nitrato de prata a frio, mas
alguns permaneceram na solução (NCERT, 2015):

85
Fundamentos da Química Inorgânica

1 mol de CoCl3.6NH3 (Amarelo) gerou 3 mol de AgCl


1 mol de CoCl3.5NH3 (roxo) gerou 2 mol de AgCl
1 mol de CoCl3.4NH3 (Verde) gerou 1 mol de AgCl
1 mol de CoCl3.4NH3 (violeta) gerou 1 mol de AgCl

Essas observações, com os resultados das medições de condutividade em


solução, podem ser explicadas se: (i) seis grupos, ao todo, ou íons de cloreto,
moléculas de amônia ou ambos permanecerem ligados ao íon de cobalto durante
a reação; e (ii) os compostos forem formulados, como mostrado a seguir. Os
átomos, entre colchetes, formarão uma única entidade que não se dissocia sob as
condições de reação. Werner propôs o termo valência secundária para o número
de grupos ligados diretamente ao íon metálico. Em cada um desses exemplos, as
valências secundárias são seis (NCERT, 2015).

QUADRO 1 – FORMULAÇÃO DE COMPLEXOS DE


CLORETO-AMÔNIA DE COBALTO (III)

FONTE: Adaptada de Ncert (2015)

Observe que os dois últimos compostos têm fórmulas moleculares idênticas,


[CoCl2(NH3)4]+Cl-, mas propriedades distintas, um de cor verde, chamado, na
época de complexo praseo, e, o outro, de violeta, devido à cor. Esses compostos
são designados como isômeros (COELHO, 2015).

Os principais postulados de Werner são:

• Em compostos de coordenação, os metais apresentam dois tipos de


ligações (valências): primária e secundária.
• As valências primárias são, normalmente, ionizáveis, ​​satisfeitas por íons
negativos (DALL’OGLIO; HOEHNE, 2013).
• As valências secundárias não são ionizáveis. São satisfeitas por
moléculas neutras ou íons negativos. A valência secundária é igual
ao número de coordenação, e é fixada por um metal (DALL’OGLIO;
HOEHNE, 2013).
• Os íons/grupos ligados pelas ligações secundárias ao metal têm arranjos
espaciais característicos correspondentes a diferentes números de
coordenação (NCERT, 2015).

86
Capítulo 2 compostos de coordenação

Nas formulações modernas, tais arranjos espaciais são chamados de


poliedros de coordenação. As espécies entre colchetes são entidades de
coordenação ou complexos, e os íons, fora do colchete, são chamados de
contraíons.

Postulou, ainda, que octaédrica, tetraédrica e quadrada plana são as


formas geométricas mais comuns em compostos de coordenação de metais de
transição. Assim, [Co(NH3)6]3+, [CoCl(NH3)5]2+ e [CoCl2(NH3)4]+ são entidades
octaédricas, enquanto [Ni (CO)4] e [PtCl4]2– são tetraédricas e quadrado planar,
respectivamente (NCERT, 2015).

Werner propôs que a espécie central possuía duas valências:


Valência primária: o estado de oxidação do metal naquele composto.
Valência secundária: o número de espécies ligadas, covalentemente,
à espécie central. De acordo com Coelho (2015), hoje, a valência
primária continua sendo o estado de oxidação, apenas não usamos
essa terminologia. Chamamos a valência secundária de número
de coordenação, mas a definição é, ligeiramente, modificada para
o número de átomos doadores ligados por covalência à espécie
central.

UM POUCO DA BIOGRAFIA DE WERNER

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/lech109.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

87
Fundamentos da Química Inorgânica

3.2 DEFINIÇÕES DE TERMOS


USADOS NA QUÍMICA DOS
COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO
A seguir, serão apresentados alguns termos importantes usados na química
dos compostos de coordenação.

Átomo Central: O conceito simples, porém, distinto, da ligação coordenada


(às vezes, também, chamada de ligação dativa), está na base da química da
coordenação. A estrutura molecular, no sentido mais simples, é interpretada em
termos de ligações covalentes formadas por pares compartilhados de elétrons.
A ligação coordenada, no entanto, surge não através do compartilhamento de
elétrons, um de cada um dos dois átomos parceiros, como ocorre em uma ligação
covalente padrão, mas da doação de um par de elétrons de um orbital em um
átomo (um par solitário), para ocupar um orbital vazio, o qual se torna o átomo
parceiro. O conceito de uma ligação covalente se refere a quando dois átomos
compartilham um par de elétrons. Esse conceito permanece sendo uma base
sólida da química, dando-nos uma compreensão básica de ligações simples,
duplas e triplas, e de um par solitário de elétrons em um átomo. Na formação
da ligação coordenada, o arranjo de ligação entre o aceitador de par de elétrons
(designado como A) e o doador (designado como D; o par de pontos representa o
par de elétrons livres) pode ser representado, simplesmente, como a Equação (1):

A+: D → A:D
(1)

Na maioria dos compostos de coordenação, é possível identificar um átomo


central ou um íon que está ligado, não simplesmente, a um outro átomo, íon ou
grupo, por meio de uma ligação coordenada, mas a várias dessas entidades ao
mesmo tempo. O átomo central é um aceptor, com as espécies circundantes,
cada uma trazendo (pelo menos) um único par de elétrons para doar a um orbital
vazio no átomo central, e cada um dos doadores de pares de elétrons é chamado
de ligante, quando conectado. O átomo central é um metal ou um metaloide,
e o composto que resulta da formação da ligação é chamado de composto de
coordenação, complexo de coordenação ou, muitas vezes, simplesmente,
complexo (LAWRENCE, 2010).

Observe o exemplo a seguir. Apresentaremos uma visão esquemática da


amônia, agindo como um ligante doador para a prata (íon metálico), para formar
ligações coordenadas.

88
Capítulo 2 compostos de coordenação

FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA AMÔNIA


AGINDO COMO UM LIGANTE DOADOR PARA A PRATA

FONTE: Adaptada de Lawrence (2010)

Ag+ + 2: NH3 → H3N – Ag+ – NH3

O nitrogênio pertence à família V, ou 15, e possui, na camada de valência,


cinco elétrons. Quando o nitrogênio se liga ao hidrogênio (o hidrogênio está
posicionado na família 1 e possui apenas um elétron na camada de valência, por
isso, necessita de uma  ligação  para ficar com o mesmo número de elétrons do
hélio), são estabelecidas três ligações covalentes (uma com cada hidrogênio), e
resta, para o nitrogênio, um par eletrônico.

FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA AMÔNIA COM AS


TRÊS LIGAÇÕES COVALENTES E O PAR ELETRÔNICO DISPONÍVEL

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/lech109.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Como já dito, os elementos químicos possuem uma capacidade de doar,


de ganhar ou de compartilhar elétrons. Os metais têm a predisposição de perder
elétrons (eletropositivos), tendo o nox positivo. A prata desse metal está localizada
na tabela periódica, no chamado grupo 11 ou família IB, e tem a seguinte
distribuição eletrônica (FELTRE, 2004):

1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 3d10 4s2 4p6 4d10 5s1

O número de oxidação da prata é Ag+. A prata possui dois orbitais vazios,


portanto, o nitrogênio pode doar os dois elétrons para ela através de uma ligação
coordenada dativa.

89
Fundamentos da Química Inorgânica

FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA AMÔNIA E DA PRATA

FONTE: Adaptada de Lawrence (2010)

Ligantes: A entidade coordenadora, o ligante, pode ser tão pequena quanto


um íon monoatômico (por exemplo, F−), ou tão grande quanto um polímero –
a característica-chave é a presença de um ou de mais pares de elétrons livres
em um átomo doador eletronegativo. Os átomos doadores, frequentemente,
encontrados são heteroátomos, como N, O, S e P, além de íons haleto. Ainda,
a grande maioria das moléculas orgânicas existentes podem atuar como
ligantes, ou, então, podem ser convertidas em moléculas capazes de atuar como
ligantes. Um ligante clássico e bem-sucedido é a amônia, NH3, que possui um
par de elétrons livres. O hidrogênio, como o hidreto, H−, tem um par de elétrons,
e pode atuar como um ligante. Não é o tipo de átomo doador que é a chave,
mas a capacidade de fornecer um par de elétrons. O aceitador, com o qual uma
ligação covalente coordenada é formada, é, convencionalmente, um metal, ou um
metaloide (LAWRENCE, 2010).

Quando um ligante se liga a um íon metálico, por meio de um único átomo


doador, como acontece com Cl–, H2O ou NH3, é dito ser monodentado. Quando
pode se ligar através de dois átomos doadores, como em H2NCH2CH2NH2
(etano-1,2-diamina) ou C2O4-2 (oxalato), é chamado de bidentado, e com vários
átomos doadores presentes em um único ligante, como em N (CH2CH2NH2)3, é
polidentado (COELHO, 2015). O íon etilenodiaminotetracetato (EDTA4–) é um
ligante hexadentado importante. Consegue se ligar por meio de dois átomos de
nitrogênio e quatro de oxigênio a um íon metálico central. Quando um ligante bi-
ou polidentado usa os dois ou mais doadores átomos para se ligar a um único íon
metálico, é intitulado de ligante quelato. O ligante que é capaz de se ligar através
de dois átomos diferentes é o ambidentado. Exemplos são os íons NO2- e SCN-. O
íon NO2- pode se coordenar, através do nitrogênio ou do oxigênio, até um átomo/
íon metálico central. Da mesma forma, o íon SCN faz isso por meio do enxofre
(M-SCN) ou do átomo de nitrogênio (M-NCS) (NCERT,2015).

M ← SCN M ← NCS

Tiocianato isotiocianato

90
Capítulo 2 compostos de coordenação

Para saber quantos elétrons cada átomo possui, consulte a sua


tabela periódica. Por exemplo: o enxofre pertence ao grupo 16, ou
família dos calcogênios. Possui seis elétrons na camada de valência.
O carbono pertence ao grupo 14, ou 4 A, e apresenta quatro elétrons.
O nitrogênio possui cinco.

Átomo doador: O átomo pertencente a uma molécula ou a um íon composto


que doa um par de elétrons. Por exemplo, na amônia NH3, o átomo doador é o
nitrogênio; na água, o oxigênio; no cianeto, o carbono e o nitrogênio podem ser o
átomo doador, pois possuem um par de elétrons livres para ser doado ao metal.
No íon cloreto, é o próprio átomo doador (COELHO, 2015).

Complexo e íon complexo: É o conjunto formado pela espécie central e os


ligantes, podendo ser uma molécula neutra, um cátion ou um ânion, por exemplo:
[V(CO)6], [Co(NH3 )6] 3+, [CoF6 ] 3-.

Contraíon: Representa um cátion ou um ânion usado para possibilitar a


neutralização de um íon complexo, formando um sal, como [Co(NH3 )6 ]Cl3, Na3
[CoF6 ]. O Cl- e o Na+ são os contraíons (NCERT, 2015).

Carga do íon complexo: O resultado da soma das cargas negativas e positivas


é oriundo dos ligantes e da espécie central [Co(NH3)6 ] 3+. Nesse complexo, é 3+,
pois a amônia tem carga neutra e, portanto, a carga do íon complexo fica igual à
da espécie central Co3+. Para o [CoF6 ] 3-, a carga do íon complexo é -3, com 6 F-,
logo, os ligantes dão uma contribuição de -6, e, o cobalto, uma carga +3, com a
soma de (-6) + (+3) = (-3) (COELHO, 2015).

Número de coordenação: O número de coordenação de um íon metálico, em


um complexo, pode ser definido como o número de átomos doadores de ligante,
aos quais o metal está diretamente ligado. Por exemplo, nos íons complexos,
[PtCl6]2– (seis átomos de cloro ligados à platina) e [Ni (NH3)4]2+ (quatro moléculas
de amônia ligadas ao átomo de níquel), o número de coordenação de Pt e Ni é 6
e 4, respectivamente. Da mesma forma, nos íons complexos [Fe (C2O4)3] 3– e [Co
(en)3] 3+, o número de coordenação de ambos, Fe e Co, é 6, porque C2O42– e en
(etano-1,2-diamina) são ligantes bidentados (NCERT, 2015).

91
Fundamentos da Química Inorgânica

Esfera de coordenação: O átomo/íon central e os ligantes estão incluídos em


um colchete, que é denominado, coletivamente, de esfera de coordenação. Os
grupos ionizáveis são escritos fora do colchete e são chamados de contraíons.
Por exemplo, no complexo K4 [Fe (CN)6], a esfera de coordenação é [Fe (CN) 6]
4–
, e o contraíon é K+ (LAWRENCE, 2010).

Poliedro de coordenação: O arranjo espacial dos átomos ligantes, que são,


diretamente, ligados ao átomo/íon central, define um poliedro de coordenação
sobre o átomo central. O mais comum dos poliedros de coordenação é o
octaédrico, além do quadrado plano e do tetraédrico. Por exemplo, [Co (NH3)
6
] 3+ é octaédrico, [Ni (CO)4] é tetraédrico e [PtCl4]2– é quadrado planar. Seguem
exemplos de poliedros de coordenação (NCERT, 2015).

FIGURA 9 – EXEMPLOS DE POLIEDROS DE COORDENAÇÃO

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/l/lech109.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

1 - Em 1913, há mais de 100 anos, Alfred Werner foi honrado com


o Prêmio Nobel de Química, pelo brilhante trabalho acerca da
ligação existente em complexos de coordenação. A respeito dos
postulados de Werner, analise as afirmativas a seguir:

I- Em compostos de coordenação, os metais apresentam dois tipos


de ligações (valências) - primária e secundária.
II- As valências primárias são, normalmente, não ionizáveis.
III- As valências secundárias são ionizáveis. Estas são satisfeitas
por moléculas neutras ou íons negativos. A valência secundária é
igual ao número de coordenação, e é fixada para um metal.
IV- Os íons/grupos ligados pelas ligações secundárias ao metal têm
arranjos espaciais característicos correspondentes a diferentes
números de coordenação.

92
Capítulo 2 compostos de coordenação

Assinale a alternativa CORRETA:


a) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
c) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas I e IV estão corretas.

2 - Explique, com dois exemplos, cada um dos seguintes


termos usados nos
​​ compostos de coordenação: entidade de
coordenação, ligante, número de coordenação e poliedro de
coordenação.

4 LIGANTES
Um ligante é uma entidade que se liga, fortemente, a uma espécie central.
Essa ampla definição geral permite a extensão do conceito além da química.
Você o encontrará na biologia molecular e na bioquímica, por exemplo, onde o
"complexo" formado por um "ligante", com uma biomolécula, envolve interações
não covalentes mais fracas, como ligações iônicas e de hidrogênio. Na química de
coordenação, um ligante é uma molécula ou um íon carregando grupos doadores
adequados, capazes de se ligar (ou coordenar, covalentemente) a um átomo
central. Esse átomo central, que é o foco da coordenação do ligante, é, mais
comumente, um metal, embora um átomo metaloide central possa desempenhar
a mesma função. O termo ligante apareceu, pela primeira vez, no século XX, e
alcançou o uso popular em meados do século (LAWRANCE, 2010).

4.1 O QUE FAZ UM LIGANTE?


A gama de moléculas que pode se ligar a íons metálicos, como ligantes, é
diversa, e inclui átomos inorgânicos, íons e moléculas, além de íons orgânicos. A
chave para um átomo, ou para uma molécula atuar como um ligante, é a presença
de, pelo menos, um par de elétrons livre. O átomo que carrega o par de elétrons
livre é denominado de átomo doador, e é o ligado ao metal. Podemos citar, como
exemplos, grupos bem conhecidos, como a amina, R – NH2, e o carboxilato, R –
COO-. Falamos de um grupo doador, mas devemos reconhecer que é, tipicamente,
um átomo doador particular do grupo que é preso ao metal (LAWRANCE, 2010).

93
Fundamentos da Química Inorgânica

As bases de Lewis, íons ou moléculas, ligados ao átomo ou ao íon central de


metal, nos complexos de um metal d, são conhecidos como ligantes. Um exemplo
de ligante iônico é o íon cianeto. No íon hexacianoferrato(II), [Fe(CN)6]4-, os íons
CN- fornecem os pares de elétrons que formam ligações com o ácido de Lewis,
Fe2+. No complexo neutro Ni(CO)4, o átomo de Ni age como ácido de Lewis, e os
ligantes são moléculas de CO. Cada ligante, em um complexo, tem, pelo menos,
um par de elétrons livres, com o qual ele se liga ao íon ou ao átomo central por
covalência coordenada. Dizemos que os ligantes se coordenam, com o metal, ao
formarem complexos dessa maneira. Como a água é uma base de Lewis, forma
complexos com a maior parte dos íons do bloco d em solução (ATKIS; JONES,
2012).

Ligantes (frequentemente, representados pelo símbolo geral L) podem


apresentar um único átomo doador, com um par solitário, para a ligação a um íon
metálico e, portanto, ocupar apenas um sítio de coordenação, Mn + ←: L. Nesse
caso, são chamados de ligantes monodentados. Exemplos clássicos de ligantes
monodentados incluem amônia (: NH3), água (: OH2) e íon cloreto (: Cl−), embora
os dois últimos, na verdade, tenham mais de um par de elétrons livre disponível
no átomo doador. Muitos ligantes oferecem mais de um grupo de doadores, cada
um com um único par, capaz de se ligar ao mesmo metal - um ligante polidentado.
Como regra geral, os heteroátomos (particularmente, O, N, S e P), em moléculas
orgânicas, carregam um ou mais pares de elétrons livres (LAWRANCE, 2010).

A seguir, listaremos ligantes comuns. Aqueles com dois ou mais pontos de


ligação a átomos de metal são chamados de ligantes quelantes, e os compostos
são chamados de quelatos. Ligantes, como a amônia, são monodentados,
com um ponto de fixação (literalmente, “um dente”). Ligantes são descritos
como bidentados se tiverem dois pontos de fixação, como na etilenodiamina
(NH2CH2CH2NH2), que pode se ligar aos metais através dos dois átomos de
nitrogênio. Os prefixos tri-, tetra-, penta- e hexa- são usados ​​para três a seis
posições de ligação. Os anéis quelatos podem ter qualquer número de átomos;
os mais comuns contêm cinco ou seis átomos, incluindo o metal. Alguns ligantes
formam mais de um anel. O etilenodiaminotetracetato (EDTA) é apto a formar
cinco, através dos grupos carboxilato, e dois átomos de nitrogênio, da amina
(MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014).

TABELA 1 – LIGANTES MONODENTADOS CLÁSSICOS


Nome comum Nome IUPAC Fórmula

hidroxi hidroxi OH-

94
Capítulo 2 compostos de coordenação

aqua aqua H 2O

carbonil carbonil CO

tiocarboil tiocarbonil CS

nitrosil nitrosil NO+

nitro nitrito -N (N-ligado) NO2-

nitrito nitrito -O(O-ligado) ONO-

Metil isocianeto metilisocianeto CH3NC

fosfina fosfano PR3

piridina piridina (abrev. py) C5H5N

amina amina NH3

metilamina metilamina MeNH2

amido azanido NH2-

imido azanediido NH2-

FONTE: Adaptada de Miessler, Fischer e Tarr (2014)

TABELA 2 – AMINAS QUELANTES


Pontos Nome comum Nome IUPAC Abrev Fórmula
quelantes

Bidentado etilenodiamina 1,2-etanodiamina en

Tridentado dietilenotriamina 1,4,7-triazoheptano dien

95
Fundamentos da Química Inorgânica

1,3,7-triazociclonona- tacn
no

Tetradentado trietilenotetramina 1,4,7,10-tetraazodeca- trien N H 2 C H 2 C H 2 N -


no H C H 2 C H 2 N -
HCH2CH2NH2

triaminotrietila- tris(2-aminoetil) amina


mina

tetrametilciclano 1,4,8,11- TMC

tetrametil-1,4,8,11-

tetraazaciclotetrade-
cano

tris (2-piridilmetil) tris (2-piridilmetil) TPA

amina amina

Pentaden- tetraetilenopen- 1,4,7,10,13- N H 2 C H 2 C H 2 N -


tado tamina HCH2CH2NHCH2CH2N-
pentaazotridecano
HCH2CH2NH2

Hexaden- etilenodiamino- 1,2-etanodiil EDTA


tado tetraacetato
(dinitrilo) tetraacetato

FONTE: Adaptada de Miessler, Fischer e Tarr (2014)

96
Capítulo 2 compostos de coordenação

TABELA 3 – LIGANTES MULTIDENTADOS (QUELANTES)


Nome comum Nome IUPAC Abrev. Estrutura Fórmula

acetilacetonato 2,4-pentanediono acac CH3COCHCOCH3

2, 2’-bipiridil 2, 2’-bipiridil bipy C10H8N2

nacnac N,N’-dife- nacnac C17H17N2


nil-2,4-pen-
tanediiminato -

1,10-fenantro- 1,10- phen, o C12H8N2


lina, -phen
diaminofenantreno
o-fenantrolina

oxalato oxalato ox C2O42-

BINAP 2,2-bis BINAP Ph2P(C10H6)2PPh2

(difenilfofino)

-1,1 -binaptil

dimetilglioxi- butanodieno DMG HONCC(CH3)C(CH3)


mato NO
dioxima

pirazolilborato hydrotris- Tp [HB(C3H3N2)3] -

(escorpionato) (pirazo-1-il) borato

FONTE: Adaptada de Miessler, Fischer e Tarr (2014)


97
Fundamentos da Química Inorgânica

Um aduto (do latim adductus, “atraído”) é o produto da adição


direta de duas ou de mais moléculas diferentes, resultando em
um único produto de reação, contendo todos os átomos de todos
os componentes iniciais. Adutos, quase sempre, formam-se entre
um ácido de Lewis e uma base de Lewis. Uma reação ácido-base de
Lewis ocorre quando uma base doa um par de elétrons a um ácido.

FONTE: <https://opentextbc.ca/chemistry/chapter/15-2-lewis-acids-
and-bases/>. Acesso em: 4 abr. 2021.

5 NOMENCLATURA DOS
COMPOSTOS DE COORDENAÇAO
Acadêmico, a partir de agora, nomearemos os compostos de coordenação.
O objetivo da nomenclatura é a brevidade, mas sem ambiguidades. Os complexos
dos metais são identificados pelos nomes e pelos números dos ligantes
individuais. As regras são ajustadas, periodicamente, para que fiquem mais
claras e coerentes. As regras utilizadas, aqui, estão de acordo com as últimas
recomendações da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC)
(ATKIS; JONES, 2012).

5.1 PROCEDIMENTO
As regras a seguir são suficientes para os complexos mais comuns. Regras
mais elaboradas são necessárias se o complexo contém mais de um átomo
de metal. Note que algumas regras se aplicam aos nomes dos complexos
(formalmente, a “entidade de coordenação), e, outras, às fórmulas químicas
(ATKIS; JONES, 2012).

• Como escrever a fórmula

Para escrever a fórmula molecular de um complexo, em geral, o símbolo


químico do átomo central (frequentemente, um metal) é escrito primeiro, precedido
de um colchete (Ex.: [Co), seguindo-se os símbolos dos ligantes iônicos em ordem
alfabética [CoBrCl. Depois, são colocadas as moléculas neutras, também, em
ordem alfabética [CoBrCl(NH3). Quando o ligante é uma molécula composta neutra,

98
Capítulo 2 compostos de coordenação

como amônia e água, ou iônica, como o íon tiocianato (SCN- ) e o cianeto (CN- ),
é escrito entre parênteses. Após o símbolo do ligante, devemos incluir um índice
que indica a quantidade de cada espécie presente no composto, [CoBrCl(NH3
) 2 (en)]. Finalmente, fechamos a fórmula com um colchete (]), seguido de um
expoente, que representa a carga do íon complexo quando for iônico. Exemplos:
[Co(NH3 )6 ]3+, [CoCl2 (NH3)4 ]+, [CoCl3 (NH3)3], [CoBrCl(NH3)2 (en)]+, [Cr(CN)6]3-.
O íon tiocianato (SCN-) cianeto (CN-) são escritos entre parênteses (COELHO,
2015).

Quando ligantes diferentes contêm o mesmo elemento, os que são


representados por uma única letra (por exemplo, O) têm precedência sobre os
representados por duas ou mais letras (como OH). Se um ponto particular precisa
ser enfatizado, a ordem pode variar. A água, como ligante, deve ser escrita OH2,
para deixar claro que o átomo de O se liga ao átomo de metal (ATKIS; JONES).

Após o símbolo do ligante, devemos incluir um índice que indique a


quantidade, de cada espécie, presente no composto. Finalmente, fecha-se
a fórmula com um colchete, seguido de um expoente, que representa a carga
do íon complexo quando é iônico (COELHO, 2015). Exemplos: [FeCl(OH2)5]+,
[Fe(NH3)5(OH2)]2+.

Para evitar ambiguidades, o átomo que se liga pode ser sublinhado.


Exemplos: [Fe(NCS) (OH2)5]2+, [Fe(NCS)(OH2)5]2+.

Atente-se a alguns ligantes mais comuns:

TABELA 4 – LIGANTES COMUNS

99
Fundamentos da Química Inorgânica

*Os átomos que se ligam ao átomo de metal estão sublinhados nos casos ambíguos

FONTE: Adaptada de Atkis e Jones (2012)


Como nomear o complexo

Nomeie, primeiramente, os ligantes, e, depois, o átomo, ou o íon de metal.


O número de oxidação do íon central de metal é representado por algarismos
romanos.

Os ligantes neutros, como H2NCH2CH2NH2 (etilenodiamina), guardam o


nome da molécula, exceto nos casos H2O (aqua), NH3 (amina), CO (carbonil) e
NO (nitrosil).

Os ligantes aniônicos terminam em -o. Os ânions terminados em -eto (como


cloreto) mudam a terminação. Os terminados em ato e em ito conservam as
terminações: eto → ido ato → ato ito → ito. Exemplos: clorido, sulfato e nitrito.

Usam-se prefixos gregos, para indicar o número de cada tipo de ligante


existente no íon complexo. Se os ligantes já contêm prefixos gregos (como
etilenodiamina), ou se são polidentados (capazes de ligar mais de um sítio de
ligação), então, os seguintes prefixos são usados (ATKIS; JONES, 2012).

100
Capítulo 2 compostos de coordenação

TABELA 5 – PREFIXOS PARA INDICAR O NÚMERO DE LIGANTES


Prefixos Número de ligantes Prefixos Número de ligantes

Mono (opcional) 1 Hepta 7

Di, bis 2 Octa 8

Tri, tris 3 Nona 9

Tetra, tetraquis 4 Deca 10

Penta, pentaquis 5 Undeca 11

Hexa 6 Dodeca 12

FONTE: Adaptada de IFRJ (2009)

Os ligantes recebem nomes em ordem alfabética, ignorando-se os prefixos


gregos, que indicam o número deles que está presente:

Observe que, em alguns casos, a ordem dos ligantes, no nome, não é a


mesma da fórmula.

Se existe ambiguidade na posição na qual o átomo está ligado ao metal,


adiciona-se o símbolo kE ao nome entre parênteses. Representa o átomo de
ligação (e k é kappa):

101
Fundamentos da Química Inorgânica

Se o complexo tem carga negativa total (um complexo aniônico), o sufixo


ATO é adicionado à raiz do nome do metal. Se o símbolo do metal se origina do
latim, então, a raiz latina é usada. Por exemplo, o símbolo do ferro é Fe, do latim,
ferrum. Assim, um complexo de ferro aniônico termina com ferrato, seguido pelo
número de oxidação do metal em algarismos romanos (ATKIS; JONES, 2012):

Observe alguns exemplos de nomes, em latim, dos elementos químicos:

TABELA 6 – NOMES, EM LATIM, DE ALGUNS ELEMENTOS QUÍMICOS


Elemento Símbolo Nome em latim

Antimônio Sb Stibium

Cobre Cu Cuprum

Ouro Au Aurum

Ferro Fe Ferrum

Chumbo Pb Plumbum

Mercúrio Hg Hydragyrum

Potássio K Kalium

Prata Ag Argenttum

Estanho Sn Stannum

Sódio Na Natrium

Tungstênio W Wolfram

FONTE: Adaptada de Coelho (2015)

O nome do composto de coordenação (diferentemente dos cátions e


dos ânions complexos) é construído como os dos compostos comuns, com o
ânion (possivelmente, complexo) mencionado antes do cátion (possivelmente,
complexo) (ATKIS; JONES, 2012):

102
Capítulo 2 compostos de coordenação

Acadêmico, para que você possa entender melhor como é a nomenclatura


dos compostos de coordenação, vamos a alguns exemplos.

Exemplo 1 – (a) Dê o nome ao composto de coordenação


[Co(NH3)3(OH2)3]2(SO4)3.

Escreva a fórmula do dicloridobis(oxalato)platinato(IV) de sódio.

Identifique o cátion e o ânion:

Para encontrar o número de oxidação do cátion, determine a carga necessária


para cancelar a carga total dos ânions.

Acadêmico, você pode relembrar os conceitos de número


de oxidação, acessando os materiais a seguir: http://www.
varginha.cefetmg.br/wp-content/uploads/sites/11/2016/11/
Apostila-Qu%C3%ADmica.pdf; https://www.youtube.
com/watch?v=d8sznrZfpjU; e https://www.youtube.com/
watch?v=EQGTBJe_A4A.

Para calcular o número de oxidação de um elemento que


aparece em uma substância, você deve se lembrar de que a soma
dos números de oxidação de todos os átomos, em uma molécula, é
zero.

103
Fundamentos da Química Inorgânica

De uma maneira prática, para determinarmos a quantidade necessária de


cada íon na formação da substância, temos:

FIGURA 10 – NÚMERO DE OXIDAÇÃO

FONTE: <http://www.varginha.cefetmg.br/wp-content/uploads/sites/11/2016/11/
Apostila-Qu%C3%ADmica.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Portanto, a carga do ânion


.

Observando o exposto a seguir (ver tabela de ligantes), que contém os


ligantes, podemos perceber que todos os ligantes são neutros.

FIGURA 11 – LIGANTES NEUTROS

FONTE: Adaptada de Miessler, Fischer e Tarr (2014)

104
Capítulo 2 compostos de coordenação

O cobalto está na forma de cobalto (III).

Na fórmula, existem três moléculas de NH3 (amina) e três moléculas de H2O


(aqua). Amina precede aqua.

O nome do cátion é triaminatriaquacobalto(III), e o nome do composto é


sulfato de triaminatriaquacobalto(III).

Observação: Ver regra - VIII. O nome do composto de coordenação é


construído como os dos compostos comuns, com ânion (possivelmente, complexo)
mencionado antes do cátion (possivelmente, complexo) (ATKIS; JONES, 2012):

Escreva a fórmula do dicloridobis(oxalato)platinato(IV) de sódio.

Observe os seguintes ligantes comuns:

Diclorido – dois Cl-


Bis(oxalato) – dois C2O2-4
Platinato (IV) - Pt4+
Sódio = Na+

O símbolo do oxalato é ox. Cl precede ox. O uso do bis indica a presença de


dois ligantes oxalato. bis é usado em vez de “di”, porque oxalato é polidentado
(neste caso, bidentado, com dois pontos de ligação).

Lembre-se das regras da IUPAC:

Para escrever a fórmula molecular de um complexo, em geral, o símbolo


químico do átomo central (frequentemente, um metal) é escrito primeiro (neste
caso, a platina Pt), precedido de um colchete (Ex.: [Pt), seguindo-se os símbolos
dos ligantes iônicos em ordem alfabética [PtCl2 . Quando o ligante é iônico, como
no caso do oxalato (C2O4-2), é escrito entre parênteses (COELHO, 2015).

O ânion do composto é [PtCl2(ox)2]2-.

A carga total explicitada na fórmula anterior (2-) é obtida da seguinte maneira:


(Você deve consultar tabelas de cátions e de ânions para saber qual é a carga
de cada elemento. Atrás da sua tabela periódica, normalmente, existem essas
tabelas de cátions e de ânions).

105
Fundamentos da Química Inorgânica

Somando a carga total do complexo:

A fórmula do composto é Na2[PtCl2(ox)2].

Para relembrar o conceito de número de oxidação, acesse


https://quimicales.files.wordpress.com/2013/09/quimica-feltre-vol-1.
pdf. Você encontrará, também, alguns exemplos resolvidos.

Exemplo 2: Dê o nome para os seguintes compostos de coordenação:

a) [Cr (NH3)3 (H2O)3]Cl3 é nomeado como: cloreto de triaminatriaquacromo


(III). Explicação: O íon complexo está dentro do colchete, que é um cátion. Os
ligantes amina são nomeados antes dos ligantes aqua, de acordo com a ordem
alfabética. Como há três íons cloreto no composto, a carga, no íon complexo,
deve ser +3 (já que o composto é, eletricamente, neutro). A partir da carga do
íon complexo e da carga dos ligantes, podemos calcular o número de oxidação
do metal. Neste exemplo, todos os ligantes são moléculas neutras. Portanto,
o número de oxidação do cromo deve ser o mesmo do que o da carga do íon
complexo, +3.

b) [Co (H2NCH2CH2NH2)3]2 (SO4)3 é nomeado como: sulfato de tris (etano-1,2-


diamina) cobalto (III). Explicação: O sulfato é o contra-ânion nesta molécula. Uma
vez que são necessários três sulfatos para se ligarem a dois cátions complexos,
a carga, em cada cátion complexo, deve ser +3. Além disso, etano-1,2-diamina é
uma molécula neutra, então, o número de oxidação do cobalto, no íon complexo,
deve ser +3. Lembre-se de que você nunca precisa indicar o número de cátions e
de ânions no nome de um composto iônico.

106
Capítulo 2 compostos de coordenação

1 - Nomeie os seguintes íons complexos e determine o número de


oxidação do metal:

2 - Escreva as fórmulas de cada um dos seguintes compostos de


coordenação:

(a) Hexaciaanetocromato(III) de potássio.


(b) Cloreto de pentaaminassulfatocobalto(III).
(c ) Brometo de tetraaminadiaquacobalto(III).
(d) Bioxalato(diaqua)ferrato(III) de sódio.

3 - A cisplatina  é um agente antineoplásico, citotóxico, relacionado


com os alquilantes e desempenha um papel importante no
tratamento de diversos tipos de cancro, sendo utilizado na
maioria dos protocolos de tratamento de diversas neoplasias. É
um composto inorgânico, de coordenação planar, que contém
um átomo central de platina rodeado por dois átomos de cloro e
dois grupos amônia. Atente-se à fórmula estrutural do composto
químico, conhecido, vulgarmente, por cisplatina:

FONTE: <https://cen.acs.org/articles/89/web/2011/11/Cisplatin-
Hitches-Ride-RNA.html>. Acesso em: 24 abr. 2021.

107
Fundamentos da Química Inorgânica

É CORRETO afirmar que a fórmula molecular e a nomenclatura


do referido composto químico são, respectivamente:

a) [PtCl2(N2H5] e cis-amindicloroplatina.
b) [PtCl2(NH3)2] e cis-diamindicloroplatina
c) [PtCl2NH3] e cis-diamindicloroplatina
d) [PtCl2(NH3)2] e cis-dicloroaminplatina.

4-
A nomenclatura é importante, na Química de Coordenação,
por causa da necessidade de se ter um método inequívoco
de descrever fórmulas e escrever nomes sistemáticos,
particularmente, ao lidar com isômeros. As fórmulas e as
denominações adotadas para as entidades de coordenação se
baseiam nas recomendações da IUPAC. Na nomenclatura dos
compostos de coordenação, o cátion e o ânion de um complexo
são nomeados, de acordo com um conjunto de regras: os cátions
são nomeados por último e os ligantes são nomeados em
ordem alfabética. De acordo com as regras, as nomenclaturas
dos cátions complexos [Co(NH3)6]Cl3; [CoCl(NH3)5]Cl2 e
[Co(NO2)3(NH3)3] são, respectivamente:

a) Cloreto de amina, íon pentaminclorocobalto(II) e Cloreto de


hexamincobalto(III).
b)
Cloreto de hexaamincobalto(III), cloreto de
pentaminclorocobalto(III) e Triamintrinitrocobalto(III).
c)
Tricloroamida de cobalto, Pentaminclorocobalto e
Triaminitrocobalto.
d) Cloreto de hexaamincobalto(III), Cloreto de
pentaminclorocobalto(II) e Triamintrinitrocobalto(III).

6 ISOMERIA EM COMPOSTOS DE
COORDENAÇÃO
Muitos complexos e compostos de coordenação existem como isômeros, isto
é, são dois ou mais compostos que contêm o mesmo número de átomos, mas
em arranjos diferentes (ATKIS; JONES, 2021). Abreviadamente, a isomeria é o
fenômeno pelo qual duas substâncias compartilham a mesma fórmula molecular,
mas apresentam estruturas diferentes, ou seja, a forma através da qual os
mesmos átomos se arranjam no espaço tridimensional é diferente em cada caso

108
Capítulo 2 compostos de coordenação

(COELHO, 2015). Devido ao arranjo diferente dos átomos, eles diferem em uma
ou em mais propriedades físicas ou químicas (NCERT, 2015). A isomeria não tem
só interesse acadêmico. Por exemplo, só um dos isômeros de algumas drogas
anticâncer, baseadas em complexos de platina, é ativo. O complexo tem que ter a
forma adequada para interagir com as moléculas de DNA (ATKIS; JONES, 2012).

Cisplatina foi o primeiro composto preparado com atividade


antitumoral. É capaz de intercalar na estrutura do DNA, levando
à chamada morte programada da célula, ou apoptose. A fórmula
molecular e a nomenclatura desse composto são [PtCl2(NH3)2] cis-
diaminodicloroplatina (II), respectivamente.

FIGURA 12 – LIGAÇÕES DA CISPLATINA COM BASES DO DNA

FONTE: <https://studylibpt.com/doc/1258828/aula-10-%E2%80%93-
compostos-de-coordena%C3%A7%C3%A3o-liga%C3%A7%C3%A3o-
metal---iq-usp>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Dois tipos principais de isomeria são conhecidos entre os compostos de


coordenação. Cada um deles pode ser subdividido:

• Estereoisomerismo: Isomeria geométrica e Isomeria óptica.


• Isomeria estrutural: Isomeria de ligação, Isomeria de coordenação,
Isomeria de ionização, Isomeria de solvatação.

109
Fundamentos da Química Inorgânica

Os estereoisômeros têm a mesma fórmula química e ligações químicas, mas


apresentam diferentes arranjos espaciais. Os isômeros estruturais têm ligações
diferentes, ou seja, os átomos estão ligados a vizinhos diferentes (NCERT, 2015).
Segue um resumo dos tipos de isomeria.

FIGURA 13 – VÁRIOS TIPOS DE ISOMERIA EM COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO

FONTE: Adaptada de Miessler, Fischer e Tarr (2014)

6.1 ISOMERISMO GEOMÉTRICO


Este tipo de isomeria surge em complexos heterolépticos, devido a diferentes
arranjos geométricos possíveis dos ligantes. Exemplos importantes desse
comportamento são encontrados com números de coordenação 4 e 6. O composto
do tipo [MA4B2] pode apresentar dois tipos de isômeros. Quando os ligantes B
estão em posição oposta, um em relação ao outro, chamamos esse isômero de
trans; quando os ligantes se encontram vizinhos um do outro, o isômero recebe a
denominação de cis (COELHO, 2015).

110
Capítulo 2 compostos de coordenação

FIGURA 14 – ISÔMEROS GEOMÉTRICOS TRANS E CIS

FONTE: Adaptada de Coelho (2015)

O isômero cis é bem mais ativo como droga antitumoral,


ligando-se às fitas do DNA. Para saber mais acerca dos compostos
de platina na quimioterapia do câncer, acesse https://www.scielo.br/
pdf/qn/v20n4/4965.pdf.

Outro complexo quadrado plano, do tipo MABXL (A, B, X, L são ligantes


monodentados), mostra três isômeros, dois cis e um trans. Tal isomeria não é
possível para uma geometria tetraédrica, mas um comportamento semelhante é
apto em complexos octaédricos de fórmula [MX2L4]: os dois ligantes X podem ser
orientados cis ou trans um para o outro.

FIGURA 15 – ISÔMEROS GEOMÉTRICOS (CIS E TRANS) DE [CO (NH3)4CL2]

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/l/lech109.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

111
Fundamentos da Química Inorgânica

Esse tipo de isomeria, também, surge quando ligantes bidentados L –L (por


exemplo, NH2CH2CH2NH2 (en)) estão presentes em complexos de fórmula [MX2
(L– L)2].

FIGURA 16 – ISÔMEROS GEOMÉTRICOS (CIS E TRANS) DE [COCL2 (EN)2]

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/l/lech109.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Outro tipo de isomerismo geométrico ocorre em entidades de coordenação


octaédrica do tipo [Ma3b3], como [Co (NH3)3(NO2)3]. Se três átomos doadores,
dos mesmos ligantes, ocupam posições adjacentes nos cantos de uma face
octaédrica, há o isômero facial (fac). Quando as posições estão em torno do
meridiano do octaedro, obtemos o isômero meridional (mer).

FIGURA 17 – OS ISÔMEROS FACIAL (FAC) E MERIDIONAL (MER) DE [CO(NH3)3 (NO2)3]

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/l/lech109.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Exemplo 1: Por que o isomerismo geométrico não é possível em complexos


tetraédricos com dois tipos diferentes de ligantes monodentados com o íon de
metal central? Complexos tetraédricos não mostram isomerismo geométrico
porque as posições relativas dos ligantes monodentados, ligados ao átomo de
metal central, são as mesmas em relação uns aos outros.
Exemplo 2: Desenhe as estruturas dos isômeros geométricos do
[Fe(NH3)2(CN)4] .

112
Capítulo 2 compostos de coordenação

1° Passo: Colocar o metal no centro da estrutura.


2° Passo: É uma estrutura do tipo [MX2L4], na qual os dois ligantes X
podem ser orientados cis ou trans um para o outro.
3° Passo: Identificar os ligantes M = Fe;X = NH3 e L = CN ou NC.
4° Passo: Montar a fórmula estrutural.

FIGURA 18 – ESTRUTURAS

FONTE: O autor

6.2 ISOMERIA ÓPTICA


Os isômeros ópticos são imagens espelhadas que não podem ser
sobrepostas umas às outras. São chamados de enantiômeros. As moléculas,
ou os íons, que não podem ser sobrepostos, são chamados de quirais. As duas
formas são chamadas de dextro (d) e de laevo (l), dependendo da direção para a
qual gira o plano de luz polarizado em um polarímetro (d gira para a direita, l para
a esquerda). Isomeria óptica é comum em complexos octaédricos, envolvendo
ligantes bidentados (NCERT, 2015).

FIGURA 19 – ISÔMEROS ÓPTICOS (D E L) DE [CO (EN)3]3+

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/l/lech109.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

113
Fundamentos da Química Inorgânica

Se o desvio é feito para a direita, é dextrorotatória (do latim,


dextro, direita), adotando o sinal (+), ou d; se é para a esquerda,
levorotatória (do latim, laevus, esquerda), com a adoção do sinal (-),
ou l. Acesse https://www.scielo.br/pdf/qn/v20n6/v20n6a15.pdf.

Em uma entidade de coordenação do tipo [PtCl2 (en)2]2+, apenas o isômero


cis mostra atividade.

FIGURA 20 – ISÔMEROS ÓPTICOS (D E L) DE CIS- [PTCL2 (EN) 2] 2+

FONTE: <https://ncert.nic.in/ncerts/l/lech109.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Os casos importantes de complexos que podem apresentar isomeria ótica


ocorrem para os tris(quelato)complexos, como o [Cr(acac)3] e o [Co(en)3]3+. Para
que complexos como esses apresentem isomeria ótica, precisam conter dois
isômeros equivalentes à imagem especular um do outro, e a disposição desses
isômeros é tal que, se tentássemos sobrepô-los, isso não ocorreria de forma
idêntica. Atenção a uma ilustração desse fato.

114
Capítulo 2 compostos de coordenação

FIGURA 21 – EXEMPLO DE ISOMERIA ÓPTICA DO COMPOSTO [CO(EN)3]3+

FONTE: <https://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/MESTRADO-QUIMICA/
Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Keila%20Batista%20Dias.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Acadêmico, façamos um exercício mental. Tente deslocar uma imagem em


relação a uma outra, de forma a tentar sobrepô-las. Você verá que a sobreposição
não gerará disposição idêntica à dos átomos dos dois complexos. Como vimos, as
moléculas, ou os íons que não podem ser sobrepostos, são chamados de quirais,
ou seja, uma molécula é quiral se não é possível a sobreposição com o isômero
equivalente à reflexão especular. A maneira de distinguir dois isômeros é pelo
desvio da luz polarizada, utilizando um equipamento, chamado de polarímetro.

115
Fundamentos da Química Inorgânica

QUADRO 2 – COMO PODEMOS SABER... QUE UM


COMPLEXO É, OPTICAMENTE, ATIVO

Como podemos saber... que um complexo é, opticamente, ativo


O campo elétrico da luz ordinária oscila em todas as direções perpendiculares à
direção de propagação. Na luz plano-polarizada, o campo elétrico da radiação
eletromagnética oscila em um único plano. Podemos obter a luz plano-polariza-
da, fazendo passar a luz comum, não polarizada, através de um polarizador, feito
com um material que só permite a passagem da luz se o campo elétrico está
alinhado em uma determinada direção.

Uma substância, opticamente, ativa, como os compostos quirais, gira o plano de


polarização de um feixe de luz por um ângulo que depende da substância, da
concentração e do comprimento da célula da amostra. A luz polarizada passa
através de uma célula de amostra com cerca de 10 cm de passo óptico. Para de-
tectar a quiralidade, uma solução do complexo quiral de concentração conhecida
é colocada na célula. Quando a luz emerge no outro lado da célula, o ângulo do
plano de polarização gira em relação ao ângulo original. Para determinar o ân-
gulo, faz-se passar a luz através de um analisador, que contém outro filho polar-
izador. O filtro é girado até que a intensidade da luz que passa pelo polarizador,
pela amostra, e pelo analisador atinja a intensidade máxima. O ângulo do plano
de polarização corresponde à posição de máximo. Se a amostra não é, optica-
mente, ativa, o analisador dá a intensidade máxima no ângulo 0°. A amostra é,
opticamente, ativa se o ângulo de rotação é diferente de 0°. O valor real depende
da identidade do complexo, da concentração, do comprimento de onda da luz e
do passo óptico da célula de amostra.

A determinação do ângulo de rotação é chamada de polarimetria. Em alguns


casos, pode ajudar o químico a seguir uma reação. Por exemplo, se uma reação
destrói a quiralidade de um complexo, então, o ângulo de rotação óptica diminui
com o tempo, enquanto a concentração do complexo cai (ATKIS; JONES, 2012).

Um polarímetro determina
a atividade óptica de uma
substância ao medir o ângu-
lo de rotação do plano de luz
plano-polarizada provocado
pela amostra.

FONTE: <https://descomplica.com.br/d/vs/aula/isomeria-espacial-isomeria-optica/>.
Acesso em: 24 abr. 2021.

FONTE: O autor

116
Capítulo 2 compostos de coordenação

6.3 ISÔMETROS ESTRUTURAIS


Os isômeros estruturais são caracterizados por espécies da mesma fórmula
empírica, mas com propriedades físicas, claramente, diferentes, associadas
à ligação de átomos distintos. Os isômeros constitucionais dos compostos de
coordenação podem ser subdivididos em isômeros de ionização, de hidratação,
de coordenação e de ligação (LAWRENCE, 2010). Veremos, a seguir, cada uma
dessas subdivisões dos isômeros estruturais.

6.3.1 Isomeria de ligação


Os isômeros de ligação diferem na identidade do átomo usado por um dado
ligante para se ligar ao íon do metal. Os ligantes comuns que apresentam isomeria
de ligação são SCN- versus NCS-, NO2- versus ONO- e CN- versus NC- . O átomo
que faz a coordenação é escrito, em primeiro lugar, em cada par. Por exemplo,
NO2- pode formar [C0Cl(NH3)4(NO2)]+ e [COCl(NH3)4(ONO)]+. No novo sistema de
nomenclatura, o átomo com o qual o ligante se coordena é sublinhado, e esses
complexos seriam representados como [COCl(NH3)4(NO2)]+ e [COCl(NH3)4(NO2)]+
, respectivamente. O nome usado para especificar o ligante é diferente em cada
caso. Por exemplo, nitro (nome moderno: nitrito-(KN) significa que a ligação é
feita pelo átomo de N; e nitrito (nome moderno: nitrito- (KO), que a ligação é feita
pelo átomo de O (ATKIS; JONES, 2012).

Nesse tipo de isomeria, há o intercâmbio entre um dos ligantes da esfera


interna com o contraíon da esfera externa.

117
Fundamentos da Química Inorgânica

FIGURA 22 – ROTA DE PREPARAÇÃO DE DOIS ISÔMEROS


DE IONIZAÇÃO DE COMPLEXOS DE COBALTO

FONTE: <https://aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/317094/mod_resource/content/1/
Livro%20de%20Q.I.Te%C3%B3rica%20corrigido%20sum%C3%A1rio%20e%20
pagina%C3%A7%C3%A3o%20definitivo.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Os dois isômeros, [CoBr(NH3)5]SO4 e [Co(SO4)(NH3)5]Br, podem ser


distinguidos pelas cores: o primeiro é violeta e, o segundo, vermelho.

6.3.2 Isomeria de hidratação


Isomeria de hidratação (às vezes, chamada de isomeria de solvatação)
foi nomeada para identificar uma observação, inicialmente, intrigante: alguns
compostos hidratados com a mesma fórmula empírica eram diferentes em
cor, carga e número de íons. A seguir, demonstraremos um exemplo clássico
desse tipo de isomeria. Quando o óxido de cromo (VI) é aquecido em solução
aquosa de HCl concentrado, formam-se cristais verdes de [CrCl2(OH2)4]Cl.2H2O.
Dissolvendo-se esse complexo em água, os íons cloretos são, lentamente,
substituídos por moléculas de água, e se pode isolar o complexo [CrCl(H2O)5]Cl2.
H2O, de cor azul esverdeada. Após mais tempo em solução, há uma substituição
completa dos íons cloretos, e se consegue obter um complexo violeta de fórmula
[Cr(H2O)6]Cl3 (apenas água como ligante) (LAWRANCE, 2010).

118
Capítulo 2 compostos de coordenação

FIGURA 23 – ISÔMEROS DE HIDRATAÇÃO DE UM COMPLEXO DE CR

FONTE: <https://aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/317094/mod_resource/content/1/
Livro%20de%20Q.I.Te%C3%B3rica%20corrigido%20sum%C3%A1rio%20e%20
pagina%C3%A7%C3%A3o%20definitivo.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

6.3.3 Isomeria de coordenação


Este tipo de isomeria surge do intercâmbio de ligantes entre entidades
catiônicas e aniônicas de diferentes íons metálicos presentes em um complexo.
Um exemplo é dado pelo [Co(NH3) 6] [Cr (CN) 6]. Os ligantes NH3 estão ligados
a Co3+, e os CN– a Cr3+. No isômero de coordenação [Cr (NH3)6] [Co (CN)6], os
ligantes NH3 estão ligados a Cr3+, e, CN–, a Co3+ (NCERT, 2015).

6.3.4 Isomeria de ionização


Os isômeros de ionização diferem pela troca de um ligante por um ânion ou
uma molécula neutra fora da esfera de coordenação. Por exemplo, [CoBr(NH3)5]
SO4 e [Co(NH3)5 SO4]Br são isômeros de ionização, porque o íon Br – é um
ligante do cobalto no primeiro, porém, é um ânion acompanhante no último. Os
dois compostos podem ser distinguidos pelas propriedades químicas diferentes,
porque o íon ligado não está disponível para reações. Assim, a adição de um sal
de bário leva à precipitação do sulfato de bário de uma solução de [CoBr(NH3)5]
SO4, mas não de uma solução de [Co(NH3)5SO4]Br (ATKIS; JONES, 2012).

Exemplo: Com relação à isomeria, deve ser percebido que um mesmo


complexo pode apresentar vários dos tipos de isomeria descritos, possibilitando,
em alguns casos, a existência de muitos isômeros. Analisemos o complexo
119
Fundamentos da Química Inorgânica

[Co(NO2)2(NH3)4]Cl. Ele é um complexo de esfera externa, de fórmula [MA2B4],


com um ligante ambidentado. A partir disso, são possíveis os seguintes tipos de
isomeria:

• Isomeria de ionização, devido à possibilidade de troca entre o ligante


(NO2)- e o íon Cl- .
• Isomeria de ligação, devido à possibilidade de (NO2)- estar coordenado
pelo N ou pelo O.
• Isomeria geométrica do tipo cis – trans, devido às duas disposições
relativas dos ligantes (NO2)-.

Assim, é possível a existência de vários isômeros. Vejamos:

• cis-[Co(NO2)2(NH3)4]Cl; trans-[Co(NO2)2(NH3)4]Cl (ligados pelo O).


• cis-[Co(ONO)2(NH3)4]Cl; trans-[Co(ONO)2(NH3)4]Cl (ligados pelo N).
• cis-[CoCl(NO2)(NH3)4]NO2; trans-[CoCl(NO2)(NH3)4]NO2.
• cis-[CoCl(ONO)(NH3)4]NO2; trans-[CoCl(ONO)(NH3)4]NO2.

Com isso, encerramos este debate. Pelo que já foi exposto anteriormente,
fica claro que os compostos de coordenação podem apresentar uma diversidade
estrutural e de composição muito grande, pois, se conseguem formar complexos
com, praticamente, todos os metais do bloco d, utilizando vários ligantes, esses
complexos conseguem assumir geometrias distintas em vários números de
coordenação diferentes, além da possibilidade de isômeros.

1 - Muitos compostos de coordenação existem como isômeros,


isto é, contêm o mesmo número dos mesmos átomos, mas
em arranjos diferentes. As duas maiores classes de isômeros
são os estereoisômeros, nas quais os átomos estão ligados
aos mesmos vizinhos, porém, em arranjos espaciais. Já com
relação aos isômeros estruturais, os átomos estão ligados a
vizinhos diferentes. Uma fórmula molecular, frequentemente,
não fornece informação suficiente para identificar um composto
sem ambiguidade, pois pode haver isomeria de coordenação,
de ligação, de hidratação, de ionização. Com base no exposto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) A isomeria de ligação ocorre quando o mesmo ligante só pode se


ligar através de átomos iguais.

120
Capítulo 2 compostos de coordenação

b) A isomeria de hidratação se origina quando um dos ligantes é o


K+ .
c) A isomeria de coordenação se origina da existência de íons
complexos diferentes que podem se formar a partir de diferente
fórmula molecular.
d) A isomeria de ionização ocorre quando um ligante e um contraíon
trocam de posição em um composto.

2 - A isomeria ótica pode ser observada em compostos de


coordenação e, para que isso ocorra, alguns pré-requisitos são
necessários. A seguir, serão apresentadas algumas asserções
acerca desse assunto:

( ) Os isômeros ópticos são imagens espelhadas que podem ser


sobrepostas umas às outras.
( ) Os isômeros ópticos são chamados de enantiômeros.
( ) As moléculas, ou os íons, que não podem ser sobrepostos, são
chamados de quirais.
( ) A isomeria óptica é comum em complexos octaédricos, envolvendo
ligantes bidentados.

De acordo com as afirmações, a sequência CORRETA é:


a) (V), (F), (V), (V).
b) (V), (V), (V), (F).
c) (V), (F), (V), (F).
d) (V), (V), (F), (F).
e) (F), (V), (V), (V).

3 - Os isômeros ópticos são imagens espelhadas que não podem ser


sobrepostas umas às outras. São chamados de enantiômeros.
Atualmente, é possível se sintetizarem, em laboratórios
,compostos enantioméricos que atuam como fármacos, como a
Dopamina. O isômero D não possui atividade biológica, enquanto
o L apresenta atividade contra o parkinsonismo. Assim, a
alternativa, a seguir, que ilustra o enantiômero CORRETO para
a D-dopamina é:

121
Fundamentos da Química Inorgânica

FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/prova/
idecan-2019-if-pb-professor-ebtt-quimica>. Acesso em: 24 abr. 2021.

122
Capítulo 2 compostos de coordenação

4-
A evolução da teoria de coordenação, no século XIX, foi
alcançada muito antes do desenvolvimento de técnicas
avançadas de caracterização, por meio do uso de abordagens
simples de laboratório. A respeito da teoria de coordenação e
do desenvolvimento dela, das ligações químicas e da natureza
dos ligantes na química de coordenação, analise as afirmativas a
seguir:

I- A isomeria de ligação, observada em compostos de coordenação,


ocorre quando um ligante tem mais de um átomo em condições
de doar um par de elétrons.
II- Em compostos de coordenação, o íon tiocianato pode se ligar ao
átomo central do complexo pelo átomo de enxofre e pelo átomo
de nitrogênio.
III- A etilenodiamina, por ser capaz de formar duas ligações
coordenadas com metais de transição, é considerada um ligante
quelato.
IV- Os estados de oxidação dos metais nos complexos
[VOCl4]2-, [Pt(C2O4)(NH3)2] e [Ni(CO4)] são +4, +1 e +1,
respectivamente.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
c) Apenas as afirmativas I e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.

7 IMPORTÂNCIA DOS COMPOSTOS


DE COORDENAÇÃO
Os compostos de coordenação são essenciais. Estão, amplamente, presentes
nos mundos mineral, vegetal e animal, e são conhecidos por desempenhar
muitas funções importantes nas áreas de química analítica, metalurgia, sistemas
biológicos, indústria e medicina. Atente-se!

Os compostos de coordenação encontram uso em muitos aspectos


qualitativos e na análise química quantitativa. As reações de cores familiares,
dadas por íons metálicos, com uma série de ligantes (especialmente, ligantes
quelantes), como resultado da formação de entidades de coordenação, formam

123
Fundamentos da Química Inorgânica

a base para a detecção e a estimativa por métodos clássicos e instrumentais de


análise. Exemplos de tais reagentes incluem EDTA, DMG (dimetilglioxima), α –
nitroso – β – naftol, cupron etc. (NCERT, 2015).

A dureza da água é estimada por titulação simples, com Na2EDTA.

Alguns processos importantes de extração de metais, como os de prata


e de ouro, utilizam a formação de complexos. O ouro, por exemplo, combina-
se com o cianeto na presença de oxigênio e de água para formar a entidade
de coordenação [Au(CN)2]- em solução aquosa. Pode ser separado, na forma
metálica dessa solução, pela adição de zinco.

A purificação de metais pode ser alcançada por meio da formação e da


subsequente decomposição dos compostos de coordenação.

Os compostos de coordenação são fundamentais na área de sistemas


biológicos. O pigmento responsável pela fotossíntese, a clorofila, é um composto
de coordenação de magnésio. A hemoglobina, o pigmento vermelho do sangue
que atua como transportador de oxigênio, é um composto de coordenação
de ferro. Vitamina B12, cianocobalamina, antifator de anemia perniciosa, são
compostos de coordenação de cobalto (LAWRENCE, 2010).

Dentre os outros compostos de importância biológica, como os íons metálicos


coordenados, são as enzimas, como carboxipeptidase A e anidrase carbônica
(catalisadores de sistemas biológicos).

Os compostos de coordenação são usados como ​​ catalisadores para muitas


indústrias de processos. Os exemplos incluem complexo de ródio, [(Ph3P)3RhCl],
um catalisador Wilkinson, que é usado para a hidrogenação de alcenos.

Há um interesse crescente no uso de quelato em medicamentos. Um


exemplo é o tratamento de problemas causados pela ​​ presença de metais em
proporções tóxicas nos sistemas planta/animal. Assim, o excesso de cobre e de
ferro é removido pelos ligantes quelantes D-penicilamina e desferrioxima B, por
meio da formação de compostos de coordenação. EDTA é usado no tratamento
de envenenamento por chumbo. Alguns compostos de coordenação de platina
inibem, efetivamente, o crescimento de tumores. Os exemplos são cis-platina e
compostos relacionados (NCERT, 2015).

124
Capítulo 2 compostos de coordenação

7.1 CORES NOS COMPLEXOS


No capítulo anterior, nós aprendemos a respeito dos metais, que uma das
propriedades dos complexos de metais de transição é a ampla variedade de
cores. A luz branca é uma mistura de todos os comprimentos de onda da radiação
eletromagnética, entre cerca de 400 nm (violeta) e de 800 nm (vermelho). Quando
alguns desses comprimentos de onda são removidos do feixe de luz branca, pela
passagem da luz através de uma amostra, a luz que passa não é mais branca a
olho nu. Por exemplo, se a vermelha é retirada da branca por absorção, a que
resta é a de cor verde. Se a verde é removida, a que aparece é a vermelha.
Dizemos que as luzes vermelha e verde são cores complementares – a cor que
permanece depois que a outra é removida (ATKIS; JONES, 2012). Segue a
relação dos diferentes comprimentos de onda absorvidos e a cor observada.

QUADRO 3 – RELAÇÃO DOS DIFERENTES COMPRIMENTOS


DE ONDA ABSORVIDOS E COR OBSERVADA

FONTE: Adaptada de Ncert (2015)

Como os ligantes de campo fraco levam a pequenos desdobramentos,


os complexos que eles formam absorvem radiação de baixa energia e alto
comprimento de onda. As radiações de alto comprimento de onda correspondem
à luz vermelha e, por isso, os complexos têm cores próximas do verde. Já os
ligantes de campo forte geram grandes mudanças. Os complexos formados
por eles absorvem radiação de alta energia e baixo comprimento de onda, o
que corresponde ao violeta, no fim do espectro visível. Espera-se que esses
complexos tenham cores próximas do laranja e do amarelo (ATKIS; JONES).

125
Fundamentos da Química Inorgânica

7.2 PROPRIEDADES MAGNÉTICAS


DOS COMPLEXOS
Alguns complexos de metal de transição são diamagnéticos, o que indica
que não há elétrons desemparelhados. Muitos outros são paramagnéticos e têm
um ou mais elétrons desemparelhados. Por exemplo, Co(NH3)6 3+ é diamagnético,
enquanto CoF6-3 é paramagnético e tem quatro elétrons desemparelhados por
íon. A carga iônica não é o fator governante, pois o Fe(H2O)62+ , que tem quatro
elétrons desemparelhados, é paramagnético, mas o Fe(CN)64- é diamagnético.
As propriedades magnéticas de vários outros componentes octaédricos serão
ilustradas a seguir.

FIGURA 24 – ALGUNS COMPLEXOS OCTAÉDRICOS, COM NOMES


SISTEMÁTICOS, COR E PROPRIEDADES MAGNÉTICAS

FONTE: Adaptada de McCleverty e Meyer (2003)

126
Capítulo 2 compostos de coordenação

Os complexos d’’, de spin alto, têm mais elétrons desemparelhados do que os


complexos d’’, de spin baixo. O complexo de spin alto é, portanto, mais fortemente,
paramagnético, e é atraído, com mais intensidade, pelo campo magnético. Para
ser de spin alto ou baixo , um complexo depende dos ligantes presentes. Os
ligantes de campo forte criam uma grande diferença de energia entre os orbitais
t2g e eg de um complexo octaédrico. Os complexos de d4 a d7, consequentemente,
tendem a ser de spin baixo e diamagnéticos, ou só, fracamente, paramagnéticos.
Os ligantes de campo fraco criam uma pequena diferença de energia e, assim, os
elétrons preenchem os orbitais de energia mais alta antes de se emparelharem
nos orbitais de mais baixa energia. Os complexos de d4 e d7, consequentemente,
tendem a ser de spin alto e, fortemente, paramagnéticos (ATKIS; JONES, 2012).

Acadêmico, chegamos ao fim do nosso capítulo. Vimos um breve histórico


da origem da teoria dos compostos de coordenação, destacando o trabalho de
Albert Werner. Também, apresentamos uma relação de termos, comumente,
encontrados na química dos compostos de coordenação, e classificamos os
ligantes quanto à quantidade de átomos doadores, sendo, então, definido o
efeito quelato. Discutimos as geometrias moleculares possíveis dos mais comuns
números de coordenação encontrados. Por fim, os tipos de isômeros encontrados
nos complexos e a nomenclatura dos compostos de coordenação.

Por que precisamos ingerir metais d

Algumas das enzimas críticas das nossas células são


metaloproteínas, isto é, grandes moléculas orgânicas formadas por
cadeias enoveladas de poli (aminoácidos), que incluem, pelo menos,
um átomo de metal. Essas metaloproteínas têm sido, intensamente,
estudadas pelos bioquímicos, porque elas controlam a vida e
nos protegem das doenças. São, também, utilizadas para traçar
o caminho das etapas da evolução. Os metais do bloco d formam
componentes das membranas, músculos, pele e ossos, catalisam
as reações ácido-base e redox, controlam o fluxo de energia e do
oxigênio, e executam a fixação do nitrogênio.

A hemoglobina, na qual um átomo de ferro, na forma de um


íon Fe (II), está no centro do grupo heme, é a mais familiar das
metaloproteínas. Quatro átomos de nitrogênio dos grupos amina
da heme servem de ligantes em um arranjo quadrado-planar. Uma
molécula de oxigênio atua como o quinto ligante, diretamente, no

127
Fundamentos da Química Inorgânica

átomo de ferro, e produz uma pirâmide de base quadrada distorcida


em torno desse átomo. O monóxido de carbono forma uma ligação
muito mais forte com o átomo de ferro do que o oxigênio, daí, a alta
toxidade: o ligante CO impede que as moléculas de O2 se liguem ao
ferro, e a vítima sufoca.

O cobalto é um metal d necessário ao organismo para evitar


a anemia perniciosa e alguns tipos de doenças mentais. Ele é
parte essencial de uma coenzima necessária para a atividade da
vitamina B12 (também chamada de cobalamina), e dá cor vermelha
a essa vitamina. O átomo do cobalto se encontra em um complexo
octaédrico, no qual cinco dos ligantes são átomos de nitrogênio
de grupos amina orgânicos. O sexto se liga a um grupo—CH2 --.
A cobalamina é a única biomolécula conhecida que tem ligação
metal-carbono. A facilidade com que essa ligação é quebrada e a
capacidade do íon de cobalto de mudar de um estado de oxidação
para outro são responsáveis pela importância da cobalamina como
catalisador biológico.

COBALAMINA COMO CATALISADOR BIOLÓGICO

Na cobalamina, vitamina
B12, um dos seis ligantes que
formam a estrutura octaédrica,
em torno do íon de cobalto, é
uma molécula orgânica ligada
por um átomo de carbono (em
vermelho). Essa ligação se
quebra facilmente.

O oxigênio molecular é
transportado pelo corpo
porque ele se liga ao átomo
de ferro (II) do grupo heme, da
hemoglobina. O cátion ferro (II)
fica no centro de um complexo
quadrado-planar, formado pelos
átomos de nitrogênio. Quando o
oxigênio forma a quinta ligação,
o plano heme distorce.

FONTE: Adaptada de Atkis e Jones (2012)

128
Capítulo 2 compostos de coordenação


As enzimas de zinco têm papel importante no metabolismo, o
que inclui a expressão dos nossos genes, a digestão da comida, a
estocagem de insulina e a construção do colágeno. Na verdade , o
zinco tem tantas funções no nosso organismo que tem sido chamado
de ‘’hormônio-mestre’’. A concentração é igual à do ferro, mas a
concentração intracelular de zinco diminui com o envelhecimento.
Já foi sugerido que o envelhecimento é o resultado do declínio da
concentração do zinco intracelular. Entretanto, o declínio não pode
ser reduzido aumentando a quantidade de zinco na alimentação,
porque as concentrações de zinco intracelular são controladas por
enzimas, não pela falta dele na dieta.

Outros metais d são, também, vitais para a saúde. O crômio (III),


por exemplo, tem um papel importante na regulação do metabolismo
da glicose. O cobre (I) é um nutriente essencial para as células
saudáveis e é o único ácido de Lewis, biologicamente, disponível
que tem carga +1.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A química dos compostos de coordenação é uma área importante e
desafiadora da química inorgânica moderna. Durante os últimos cinquenta
anos, os avanços, nessa área, proporcionaram o desenvolvimento de novos
conceitos, de modelos de ligação e de uma estrutura molecular, além de novos
avanços na indústria química e de percepções vitais acerca do funcionamento de
componentes críticos de sistemas biológicos.

A primeira tentativa sistemática de explicar a formação, as reações, a


estrutura e a ligação de um composto de coordenação foi feita por A. Werner.
A teoria postulou o uso de dois tipos de ligações (primária e secundária) por um
átomo/íon de metal em um composto de coordenação. Na linguagem moderna da
química, essas ligações são reconhecidas como ligações ionizáveis ​​(iônicas) e
não ionizáveis ​​(covalentes), respectivamente. Usando a propriedade da isomeria,
Werner previu as formas geométricas de um grande número de entidades de
coordenação.

129
Fundamentos da Química Inorgânica

A estabilidade dos compostos de coordenação é medida em termos de


constante de estabilidade (ou formação) passo a passo (K) ou constante de
estabilidade geral (β). A estabilização do composto de coordenação, devido à
quelação, é chamada de efeito quelato. Os compostos de coordenação são de
grande importância. Fornecem percepções críticas acerca do funcionamento e
das estruturas dos componentes vitais dos sistemas biológicos. Ainda, encontram
extensas aplicações em processos metalúrgicos, químicas analítica e medicinal.

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130
Capítulo 2 compostos de coordenação

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131
Fundamentos da Química Inorgânica

132
C APÍTULO 3
Química Bioinorgânica

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Identificar a Química Bioinorgânica e estabelecer conexões nos seus mais


diversos aspectos inter e multidisciplinares.
• Analisar as estruturas e as propriedades físico-químicas das metaloproteínas
transportadoras de oxigênio. Reconhecer a importância dessas metaloproteínas
para os sistemas vivos.
• Proporcionar, aos acadêmicos, o conhecimento dos mais recentes avanços no
estudo dos elementos essenciais à vida, com a utilização de outros elementos
para o diagnóstico e a terapia de algumas doenças, além de outras aplicações
ambientais e industriais.
• Entender a importância dos metais nos sistemas biológicos e o papel deles nas
biomoléculas.
• Classificar os elementos com base na ação no sistema biológico.
• Conhecer as doenças, devido à deficiência e ao excesso de diferentes
elementos no nosso corpo.
Fundamentos da Química Inorgânica

134
Capítulo 3 química bioinorgânica

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Uma nova área de pesquisa frutífera e inovadora, com avanços significativos e
importantes feitos, está, hoje, localizada na fronteira que separou, historicamente,
a química inorgânica das ciências biológicas, chamada de química bioinorgânica.
"Bioinorgânico", a mesma palavra parece conter uma contradição intrínseca, já que
bio significa vida e inorgânico é tudo destituído de vida. A química bioinorgânica
pode ser definida como a ciência que lida com o estudo da reatividade química de
elementos e de compostos inorgânicos em sistemas biológicos (VILLADANGOS;
MARTÍN, 2000).

A química bioinorgânica é uma disciplina que se encontra na interface da


química e da biologia. A química inorgânica biológica ("química bioinorgânica") é
o estudo dos elementos "inorgânicos", conforme são utilizados na biologia. O foco
principal são os íons metálicos, com interesse n
​ a interação deles com os ligantes
biológicos e com as importantes propriedades químicas que eles são capazes
de exibir e de transmitir a um organismo. Essas propriedades incluem catálise,
sinalização, regulação, detecção, defesa e suporte estrutural (LIPPARD; BERG,
1994).

Embora a biologia esteja, tradicionalmente, associada à química orgânica,


pelo menos, 20 elementos inorgânicos desempenham um papel fundamental
nos processos biológicos. O fato de que, nos seres vivos, os elementos carbono,
hidrogênio, nitrogênio e oxigênio, que são os elementos "clássicos" da química
orgânica, basicamente, predominam, criou o equívoco de que apenas os
compostos orgânicos são essenciais para os seres vivos, e que os elementos e
os compostos inorgânicos não desempenham um papel relevante nos processos
vitais. No entanto, parece lógico supor que, uma vez que os seres vivos habitam
em um ambiente, essencialmente, inorgânico, durante os sucessivos estágios da
evolução, tiveram que se adaptar a esse ambiente através do uso de mecanismos
altamente eficientes e seletivos que lhes permitissem tirar proveito de muitos
elementos inorgânicos. Contudo, a maioria dos elementos inorgânicos, com
importância biológica, estão presentes em quantidades muito pequenas nos
seres vivos (traços, micro-traços e ultra-micro-traços). Ainda, somente a partir
da década de 80, foram desenvolvidas técnicas e metodologias adequadas para
detectar a presença em organismos, e para estudar as funções biológicas. Muitos
processos críticos requerem íons metálicos, incluindo respiração, grande parte do
metabolismo, fixação de nitrogênio, fotossíntese, desenvolvimento, transmissão
nervosa, contração muscular, transdução de sinal e proteção contra agentes
tóxicos e mutagênicos (LIPPARD; BERG, 1994).

135
Fundamentos da Química Inorgânica

Os processos biológicos dependentes de íons metálicos variam muito de


função e de complexidade. Por exemplo, do ponto de vista bioquímico, potássio,
magnésio, ferro, cobalto, cobre, molibdênio e zinco não são, apenas, catalisadores
importantes de reações enzimáticas, mas, também, existem sistemas de proteínas
envolvidos no armazenamento, no controle de quantidade, no transporte e na
incorporação dos respectivos sistemas enzimáticos dos referidos metais. Do
ponto de vista da fisiologia e da biologia molecular da célula, o sódio, o potássio,
o magnésio e o cálcio estão, fortemente, envolvidos no controle e na ativação de
vários processos biológicos fundamentais, e na manutenção da estrutura e nas
funções da célula membrana e das paredes.

Elementos inorgânicos, também, foram introduzidos, artificialmente, como


sondas, em alguns sistemas vivos, para descobrir a estrutura e a função de certos
componentes celulares. Assim, metais pesados, ​​como mercúrio, ouro e platina,
são usados, ​​por cristalógrafos de raios-X e microscopistas eletrônicas, para
ajudar a elucidar a estrutura de macromoléculas e agregados supramoleculares.
Além disso, os compostos metálicos não têm sido usados ​​apenas como sondas,
mas, também, para fins de diagnóstico e drogas. O estudo do mecanismo de
ação dos complexos antitumorais de platina, compostos antiartríticos de ouro e
radiofármacos, contendo tecnécio, são algumas das áreas de ponta da pesquisa
na química bioinorgânica (VILLADANGOS; MARTÍN, 2000).

Este capítulo tentará unificar o campo da química bioinorgânica, identificando


os princípios que surgiram e os organizando em uma ordem lógica e consistente.
Primeiramente, consideraremos quais íons metálicos são usados ​​em organismos
vivos, por que a natureza os escolheu, como eles entram nas células e como as
concentrações são reguladas.

Por fim, trataremos dos principais papéis dos íons metálicos em sistemas
biológicos, como transportadores de elétrons, centros para ativar e desativar
substratos, agentes para transferir átomos e grupos e unidades centrais, ou
chips bionorgânicos, cujas funções podem ser ajustadas em um dado ambiente
biológico para desempenhar uma função crítica. Atenção é dada não apenas aos
íons metálicos de ocorrência natural, mas, também, àqueles que são introduzidos
na quimioterapia, empregados como agentes de imagem por ressonância
magnética ou radiofarmacêutica, ou cujas concentrações devem ser limitadas
para evitar efeitos tóxicos ou, ambientalmente, prejudiciais.

136
Capítulo 3 química bioinorgânica

2 QUÍMICA BIOINORGÂNICA:
HISTÓRIA E ANTECEDENTES
Para muitos, pode parecer que a química bioinorgânica é um novo campo,
embora existam relatórios de metais ligados a proteínas ou a enzimas que datam
do século XIX, e podem, provavelmente, ser encontrados em séculos anteriores,
se substituirmos os termos “proteínas “E” enzimas” por “ tecidos animais ou
vegetais”.

O ferricianeto de potássio foi preparado a partir do sangue. McMunn


descreveu o que chamou de histohematinas (agora, citocromos) nos tecidos
Hoppe-Seyler. Fez investigações espectroscópicas acerca da hemoglobina. G.
Bertrand trabalhou no que chamou de oxidase de tecidos vegetais, de lacase.
Reconheceu que se tratava de uma proteína metálica e até propôs que o metal
fosse uma “coenzima”. Pode ter sido o primeiro a propor a ideia de uma proteína
metálica catalítica. Warburg e Keilin e colaboradores descreveram a polifenol
oxidase, uma proteína de cobre, e a ferritina foi tida como uma proteína de
armazenamento de ferro.

Na década de 1930, Keilin e Hartree encontraram cobre no citocromo. Em


meados daquele século, o zinco e o molibdênio foram descobertos nas enzimas,
e o ferro não-heme foi reconhecido como um componente necessário nas
preparações mitocondriais, que são ativas na oxidação do substrato. Assim, há
uma longa trilha de descoberta de metais em proteínas ou em outros componentes
de criaturas vivas, metais que eram necessários para a estrutura ou a função,
embora os detalhes das funções implícitas, inicialmente, estivessem ausentes e
fossem difíceis de encontrar (BEINERT, 2002).

Nesse ponto, parece valer a pena definir o que, realmente, significa os


termos “inorgânico” e “orgânico” em relação ao nosso tema atual ou no contexto
da Química como uma disciplina científica. Embora o termo "orgânico", para
muitos, evoque a conotação de que tem a ver com vida (em contrapartida,
"inorgânico", então, referindo-se à matéria sem vida), na química, passou a
significar, meramente, pertencente à química dos compostos de carbono.

A distinção entre as químicas orgânica e inorgânica se tornou sem sentido


após a síntese de Wöhler da "ureia”, a partir do cianeto de amônio, em 1828.

137
Fundamentos da Química Inorgânica

FIGURA 1 – SÍNTESE DA UREIA

FONTE: <https://www.infoescola.com/quimica/sintese-
de-wohler/>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Hoje em dia, a química orgânica é definida como a química dos


hidrocarbonetos e seus derivados, com a possível inclusão de certos heteroátomos
não metálicos, como N, O e S, independentemente da origem do material.

Inorgânico, por outro lado, é, geralmente, percebido como se referindo à


química de compostos metálicos, enquanto outros elementos não metálicos
sem carbono não são, especificamente, excluídos, pois muitos tipos de metais
são encontrados na matéria viva, como sódio, potássio e cálcio, em quantidades
consideráveis, e porque todos os metais são objetos da química inorgânica, assim,
deve, por definição, sempre ter existido um componente inorgânico da bioquímica
(BEINERT, 2002).

Métodos analíticos de rastreamento, novos e mais sofisticados, têm


demonstrado a importância do grande número de elementos nos processos
bioquímicos. Uma lista correspondente inclui:

• Metaloenzimas (40% das enzimas conhecidas, especialmente,


oxidorredutases (Fe, Cu, Mn, Mo, Ni e V) e hidrolases (peptidases,
fosfatases, Zn, Mg, Ca e Fe).
• Metaloproteínas não enzimáticas (hemoglobina Fe).
• Coenzimas, vitaminas (vitamina B12: Co).
• Ácidos nucleicos (DNA).
• Hormônios (tiroxina, triiodotironina: I).
• Antibióticos (ionóforos: valinomicina/K).
• Biominerais (ossos, dentes, conchas, coral, pérolas: Ca, Si...).
• Produtos naturais de baixo peso molecular (clorofila: Mg).

Historicamente, os elementos “inorgânicos” foram estabelecidos, muito


cedo, como componentes essenciais dos sistemas vivos. Podemos citar, como
exemplos:

138
Capítulo 3 química bioinorgânica

• As extrações de carbonato de potássio (K2CO3) de plantas e de sais


complexos, contendo ferro K3,4[Fe(CN)6] de sangue animal, no século
XVIII.
• As descobertas de fósforo elementar (como P4), por destilação a seco,
de resíduos de urina, em 1669, e de iodo elementar, das cinzas de algas
marinhas, em 1811.

FIGURA 2 – DESCOBERTA DO FÓSFORO ELEMENTAR POR DESTILAÇÃO

FONTE: <http://ohomemhorizontal.blogspot.com/2008/08/
descoberta-do-fsforo.html>. Acesso em: 24 abr. 2021.

• Em meados do século XIX, os estudos de Liebig, acerca do metabolismo


de nutrientes inorgânicos, especialmente, de nitrogênio, fósforo e sais
de potássio, melhoraram, significativamente, a agricultura, de modo que
esse campo específico da ciência ganhou enorme importância prática.
No entanto, o embasamento teórico e o analítico dos métodos da época
não eram suficientes para obter informações detalhadas do mecanismo
de ação dos elementos essenciais, pois vários deles ocorrem apenas em
pequenas quantidades.

Somente depois de 1960, a química bioinorgânica se tornou uma área de


pesquisa independente e altamente interdisciplinar. Os seguintes fatores foram
cruciais para esse desenvolvimento:

• Procedimentos de isolamento e de purificação bioquímicos, como


cromatografia; e métodos físicos de análise de oligoelementos;
como absorção atômica ou espectroscopia de emissão. Todas essas
técnicas avançadas tornaram possível detectar, além de caracterizar
oligoelementos em materiais biológicos.

139
Fundamentos da Química Inorgânica

• Um ser humano adulto, por exemplo, contém cerca de 2 g de zinco


na forma iônica (Zn+2, embora o zinco não possa ser considerado um
oligoelemento verdadeiro; a prova inequívoca da existência dele em
enzimas foi estabelecida apenas na década de 1930).

Também conhecidos como microminerais,


os  oligoelementos são um conjunto de elementos químicos
inorgânicos necessários aos seres humanos em pequenas
quantidades, os quais desempenham diversas funções metabólicas
no organismo, principalmente, na formação de enzimas vitais aos
mais diversos processos bioquímicos realizados pelas células.

FONTE: <https://www.infoescola.com/bioquimica/oligoelementos/>.
Acesso em: 24 abr. 2021.

Os oligoelementos bioessenciais genuínos, como níquel e selênio, são


conhecidos porque estavam presentes, como componentes constitutivos, em
várias enzimas importantes, apenas em 1970.

Em uma área de pesquisa muito diferente, a redução biológica de dióxido


de carbono por hidrogênio, para produzir metano, foi investigada, estudando as
arqueobactérias, que são encontrados em estações de tratamento de esgoto,
mesmo que os experimentos foram realizados sob condições estritamente
anaeróbicas e todos os oligoelementos foram fornecidos (os resultados foram,
apenas, parcialmente, reproduzíveis).

FIGURA 3 – REDUÇÃO BIOLÓGICA DE DIÓXIDO DE CARBONO


POR HIDROGÊNIO PARA PRODUZIR METANO

FONTE: <https://www.deshbandhucollege.ac.in/pdf/resources/1585324665_
BSc(H)-BSc-PS-LS-VI-Bioinorganic-2.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

140
Capítulo 3 química bioinorgânica

Eventualmente, foi descoberto que, durante a amostragem, com uma


seringa, contendo um aço inoxidável inerte (Fe/Ni), pequenas quantidades de
níquel tinham se dissolvido. Essa geração acidental de íons de Ni+2 levou a um
aumento distinto na produção de metano e, de fato, várias proteínas, contendo
níquel e coenzimas, desde então, foram isoladas. O níquel (Ni) é constituinte da
metaloenzima uréase, que desdobra a ureia [CO(NH2 )2 ], hidroliticamente, em
amônia (NH3 ) e em dióxido de carbono (CO2 ), além de participar do processo
de fixação biológica de nitrogênio (FBN). O níquel, como constituinte da urease,
foi a primeira enzima a ser cristalizada. Observe a estrutura cristalina da urease
(RODAK et al., 2013).

FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA


ESTRUTURA E SÍTIOS ATIVOS DA UREASE

FONTE: <https://www.deshbandhucollege.ac.in/pdf/resources/1585324665_
BSc(H)-BSc-PS-LS-VI-Bioinorganic-2.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Com o desejo de “realizar algo de real importância”, o bioquímico


James B. Sumner conseguiu isolar e cristalizar, em 1926, uma
enzima pura pela primeira vez, para grande ceticismo e descrença
dos cientistas mais experientes. A enzima escolhida, urease (de
feijão-de-porco), catalisa a hidrólise da ureia, O = C (NH2)2, para
CO2 e 2NH3. Contém dois íons de níquel, intimamente, associados
por subunidade. Na época, muitos acreditavam que as enzimas
puras não continham proteínas, e, somente depois que outras
enzimas foram cristalizadas, a descoberta de Sumner foi aceita.

141
Fundamentos da Química Inorgânica

Ele foi homenageado, em 1946, com o Prêmio Nobel de Química.


No entanto, a crença de Sumner, a de que a ureia continha apenas
proteína, foi corrigida em 1975, quando Dixon e colaboradores
provaram que a urease é uma metaloenzima de níquel (KAIM;
SCHWEDERSKI; KLEIN, 2013).

3 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DA
QUÍMICA BIOINORGÂNICA
A química bioinorgânica envolve o estudo de íons inorgânicos e dos
complexos em sistemas biológicos. Tem, como principais objetivos, o estudo
dos elementos inorgânicos, de ocorrência natural, em sistemas biológicos, e a
introdução de metais nesses sistemas, através da utilização de metalofármacos
(BENITE; MACHADO; BARREIRO, 2007).

Como nós vimos nos capítulos anteriores, a química inorgânica forneceu uma
base para o amplo progresso das nações industrializadas na primeira metade do
século 20, com a síntese de compostos, como NH3 (e HNO3), Na2CO3 e H2SO4.
Na segunda metade do século 20, a química de coordenação foi desenvolvida,
ampliando a compreensão da ligação química aos íons metálicos de transição. A
caracterização de íons metálicos em sistemas biológicos, particularmente, aqueles
ligados a proteínas, começou a surgir. Seguindo a química de coordenação, a
química metalorgânica foi desenvolvida, caracterizada pela presença de ligações
metal-carbono. Todos esses avanços levaram a um entendimento, no nível
molecular da catálise, em sistemas homogêneos e heterogêneos (BERTINI et al.,
2006).

Embora a química bioinorgânica inclua o estudo de metais introduzidos


artificialmente (por exemplo, medicinalmente), muitos processos biológicos
de ocorrência natural (como a respiração) dependem de moléculas, contendo
elementos inorgânicos, como metaloproteínas. Esses processos naturais,
também, são estudados na química bioinorgânica (BERTINI et al., 2006).

O estudo da química bioinorgânica é importante para a compreensão das


implicações da transferência de elétrons em proteínas, ligações e ativação de
substratos, química de transferência de átomos e grupos, e propriedades de
metais na química biológica.

142
Capítulo 3 química bioinorgânica

É uma área de pesquisa nova, na qual avanços significativos e muito


importantes estão sendo realizados. Está, hoje, situada na fronteira que separou,
historicamente, a química inorgânica das ciências biológicas, e é chamada de
química bioinorgânica. Com relação à palavra “bioinorgânico", parece conter uma
contradição intrínseca, pois bio significa vida e inorgânico é tudo destituído de
vida.

A química bioinorgânica pode ser definida como a ciência que lida com o
estudo da reatividade química de elementos e de compostos inorgânicos em
sistemas biológicos. Embora a biologia esteja, tradicionalmente, associada
à química orgânica, pelo menos, 20 elementos inorgânicos desempenham um
papel fundamental nos processos biológicos (BARÁN, 1995).

FIGURA 5 – TABELA PERIÓDICA DOS ELEMENTOS COM DESTAQUE


PARA OS METAIS QUE SÃO ESSENCIAIS AOS SERES HUMANOS

FONTE: <https://www.chemie-biologie.uni-siegen.de/ac/hjd/lehre/
master/bioinorganic_handout.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O fato de que, nos seres vivos, os elementos carbono, hidrogênio, nitrogênio


e oxigênio, que são os elementos "clássicos" da química orgânica, basicamente,
predominam, criou o equívoco de que apenas os compostos orgânicos são
essenciais para os seres vivos, e que os elementos e os compostos inorgânicos
não desempenham um papel relevante nos processos vitais. No entanto,
parece lógico supor que, uma vez que os seres vivos habitam em um ambiente,
essencialmente, inorgânico, durante os sucessivos estágios da evolução, tiveram
que se adaptar a esse ambiente através do uso de mecanismos altamente

143
Fundamentos da Química Inorgânica

eficientes e seletivos que lhes permitissem tirar proveito de muitos elementos


inorgânicos. Contudo, a maioria dos elementos inorgânicos, com importância
biológica, estão presentes em quantidades muito pequenas nos seres vivos
(traços, micro-traços e ultra-micro-traços). Ainda, somente a partir da década
de 80, foram desenvolvidas técnicas e metodologias adequadas para detectar a
presença em organismos, e para estudar as funções biológicas (VILLADANGOS;
MARTÍN, 2000).

Elementos inorgânicos, também, foram introduzidos, artificialmente, como


sondas, em alguns sistemas vivos, para descobrir a estrutura e a função de certos
componentes celulares. Assim, metais pesados, ​​como mercúrio, ouro e platina,
são usados, ​​por cristalógrafos de raios-X e microscopistas eletrônicas, para
ajudar a elucidar a estrutura de macromoléculas e agregados supramoleculares.
Além disso, os compostos metálicos não têm sido usados ​​apenas como sondas,
mas, também, para fins de diagnóstico e drogas. O estudo do mecanismo de
ação dos complexos antitumorais de platina, compostos antiartríticos de ouro e
radiofármacos, contendo tecnécio, são algumas das áreas de ponta da pesquisa
na química bioinorgânica. Outras áreas de pesquisas atuais, da química
bioinorgânica, incluem o estudo do papel dos elementos inorgânicos na nutrição;
a toxicidade das espécies químicas inorgânicas, incluindo a forma por meio da
qual os organismos reagem a essa toxicidade; o uso, como armas de ataque e
de defesa; e o transporte e o armazenamento de íons metálicos em seres vivos
(LIPPARD; BERG, 1994).

Acadêmico, para um melhor entendimento do tema, uma introdução à química


inorgânica básica é necessária para a compreensão de tópicos bioinorgânicos.
Abordaremos os elementos químicos essenciais, as ocorrências e os objetivos
dos centros metálicos em espécies biológicas, as geometrias de campos de
ligantes em torno desses centros de metal e os estados iônicos preferidos pelos
metais. Considerações importantes incluem equilíbrios entre centros metálicos
e ligantes e uma compreensão básica da cinética de sistemas biológicos metal-
ligantes.

3.1 INTERDISCIPLINARIDADE DA
QUÍMICA BIOINORGÂNICA
As funções bioquímica e fisiológica dos íons metálicos, nos seres vivos,
são de grande importância, e as dificuldades a serem superadas não devem ser
minimizadas ao ser esclarecido o papel. O estudo apresenta grandes problemas,
e a solução deles requer diversas disciplinas científicas. O campo da química
bioinorgânica está situado na interface entre a química e a biologia, concorrendo

144
Capítulo 3 química bioinorgânica

não apenas ideias e modelos básicos de bioquímica, biologia molecular e química


inorgânica, mas, também, físico-química, química orgânica, medicina, física e
ciências naturais, em geral (GASCÓN, 1999).

FIGURA 6 – DISCIPLINAS ENVOLVIDAS NO ESTUDO DA QUÍMICA BIOINORGÂNICA

FONTE: <https://www.chemie-biologie.uni-siegen.de/ac/hjd/lehre/
master/bioinorganic_handout.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A química bioinorgânica tenta correlacionar a atividade biológica de um


sistema inorgânico com as características estruturais, eletrônicas e químicas.
Para tentar explicar essas relações estrutura-atividade, usa os métodos mais
avançados e sofisticados de medição físico-química (principalmente, técnicas
espectroscópicas), com modelos teóricos de química quântica. Desenvolvimentos
recentes em química organometálica contribuíram muito para a compreensão
de importantes processos catalíticos, esclarecendo os problemas de ligação,
estrutura e reatividade de compostos de coordenação (BARÁN, 1995).

A fronteira entre a química inorgânica e as ciências da vida deve representar


um desafio para o químico inorgânico, uma vez que é um campo ideal para a
aplicação e o projeto de sistemas-modelo que lançam luz não apenas sobre o

145
Fundamentos da Química Inorgânica

comportamento dos íons metálicos em processos biológicos, mas, também,


sobre os processos biológicos. O surgimento da química bioinorgânica não é um
fenômeno isolado da ciência atual, uma vez que uma abordagem, tipicamente,
interdisciplinar tem marcado a atuação de pesquisadores nos mais diversos
campos do conhecimento no momento em que disciplinas científicas concorrentes
alcançaram um grau alto de desenvolvimento. No caso da química bioinorgânica,
podemos dizer que muitos processos biológicos fundamentais podem ser
explicados em termos moleculares e, por outro lado, a química inorgânica
desenvolveu modelos, teorias e métodos de trabalho que são, suficientemente,
gerais e precisos para serem aplicados com sucesso ao estudo de sistemas, como
é o caso dos sistemas biológicos. Da mesma forma, muitos químicos inorgânicos
têm orientado as pesquisas para o estudo do comportamento de certas espécies
inorgânicas em seres vivos, através da utilização de modelos, cujo objetivo
principal é o de obter uma ideia mais clara do funcionamento in vivo de sistemas
biológicos complexos, começando pela análise in vitro de sistemas mais simples.
Por outro lado, é interessante notar que muitos dos temas, dos quais trata a
química bioinorgânica, são de enorme importância para outros ramos da ciência
e da tecnologia, essencialmente, medicina, medicina veterinária, farmacologia,
ecologia, meio ambiente, agricultura e, até mesmo, metalurgia (VILLADANGOS;
MARTÍN, 2000).

4 ELEMENTOS QUÍMICOS
ESSENCIAIS
Os elementos químicos essenciais às formas de vida podem ser divididos
em quatro categorias principais: (1) elementos em maior volume (H, C, N, O, P,
S); (2) macrominerais e íons (Na, K, Mg, Ca, Cl, PO4-3, SO2-4); (3) oligoelementos
(Fe, Zn, Cu); e (4) elementos de ultratraços, compostos de não metais (F, I, Se,
Si, As, B) e metais (Mn, Mo, Co, Cr, V, Ni, Cd, Sn, Pb, Li). As identidades dos
elementos essenciais se baseiam no trabalho histórico de Klaus Schwarz, na
década de 1970. Outros elementos podem estar presentes em várias espécies
biológicas. A essencialidade foi definida por certos critérios: (1) Uma deficiência
fisiológica aparece quando o elemento é removido da dieta; (2) A deficiência é
aliviada pela adição desse elemento à dieta; e 3) Uma função biológica específica
está associada ao elemento. Seguem as porcentagens aproximadas, por peso,
de elementos essenciais selecionados para um ser humano adulto (ROAT;
ROSETTE, 2002).

146
Capítulo 3 química bioinorgânica

TABELA 1 – COMPOSIÇÃO PERCENTUAL DOS ELEMENTOS


ESSENCIAIS NO CORPO HUMANO DE UM ADULTO

Elemento Percentual (por Elemento Percentual (por peso)


peso)

Oxigênio 53,6 Silício, magnésio 0,04

Carbono 16 Ferro, flúor 0,005

Hidrogênio 13,4 Zinco 0,003

Nitrogênio 2,4 Cobre, bromo 2x10-4

Sódio, potássio, 0,10 Selênio, manganês 2x10-5


enxofre arsênico, níquel

Cloro 0,09 Chumbo, cobalto 9x10-6

FONTE: Adaptada de Roat e Rosette (2002)

Acadêmico, aqui, surge uma pergunta: Por que a natureza selecionou


alguns metais em detrimento de outros? A resposta é que a atividade biológica
de um elemento metálico é ditada por uma combinação da abundância relativa
e da biodisponibilidade. Isso explicaria, por exemplo, a pequena participação
do alumínio, que é o metal mais abundante da crosta terrestre, em processos
biológicos notáveis. O alumínio, apesar de apresentar uma abundância
extremamente significativa, só se encontra disponível na crosta terrestre, um
ambiente altamente oxidante, nos estados de oxidação mais altos, na forma
de óxidos e de hidróxidos insolúveis em pH fisiológico 6-8, o que gera baixa
disponibilidade para ser incorporado ao metabolismo celular.

O Titânio é outro metal muito abundante que não apresenta função biológica.
A utilização biológica dele é limitada por conta da dificuldade de solubilizá-lo no
estado de oxidação mais comum, isto é, Ti4+. Íons metálicos, enquanto elementos
essenciais, funcionam como um componente isolado ou em associação com
uma molécula orgânica, e, muito frequentemente, com uma enzima (BENITE;
MACHADO; BARREIRO, 2007).

147
Fundamentos da Química Inorgânica

Cada elemento essencial segue uma curva de dose-resposta, mostrada a


seguir. Em dosagens mais baixas, o organismo não sobrevive, ao passo que, em
regiões com deficiência, o organismo existe com funções abaixo do ideal.

FIGURA 7 – CURVA DOSE-RESPOSTA PARA UM ELEMENTO ESSENCIAL

FONTE: Adaptada de Roat e Rosette (2002)

Como pode ser observado, após o patamar de concentração da região


de dosagem ideal (Ótimo), dosagens mais altas causam efeitos tóxicos ao
organismo, podendo levar à letalidade. As necessidades diárias específicas de
elementos essenciais podem variar de quantidades de microgramas por dia
(ug/d) a miligramas por dia (mg/d), conforme mostrado para o flúor (F) e o selênio
(Se), na figura anterior.

Os metais são, geralmente, encontrados ligados, diretamente, a proteínas ou


em cofatores, como porfirinas ou cobalaminas, ou em aglomerados que, por sua
vez, são ligados pela proteína. Os ligantes são, geralmente, O, N, S e C.

148
Capítulo 3 química bioinorgânica

4.1 METAIS EM SISTEMAS


BIOLÓGICOS
Acadêmico, a partir de agora, apresentaremos alguns conceitos que
permitem estabelecer as relações entre os modelos habituais, derivados da
química de coordenação, as teorias ácido-base e as propriedades redox dos
bioelementos. Entenderemos qual é o comportamento deles nos sistemas
biológicos e analisaremos a importância de certas biomoléculas como ligantes
para o melhor aproveitamento desses elementos nos seres vivos.

Os metais, nos sistemas biológicos, funcionam de várias maneiras diferentes.


Os dos grupos 1 e 2 atuam como elementos estruturais ou na manutenção da
carga e do equilíbrio osmótico. Os de transição, que existem em vários estados
de oxidação, servem como transportadores de elétrons, como facilitadores do
transporte de oxigênio, isto é, íons de ferro na hemoglobina ou íons de cobre
na hemocianina. Os íons metálicos podem ser direcionados a funções múltiplas,
dependendo da localização dentro do sistema biológico (ROAT; ROSETTE, 2002).

Os principais fatores que influenciam a aquisição de íons metálicos por


sistemas biológicos são os seguintes:

• Biodisponibilidade: Esse termo engloba mais do que apenas a incidência


de um elemento na terra, inclui a prevalência no ambiente no qual a vida
é encontrada. Por exemplo, os minerais de sulfureto de zinco são muito
comuns na biosfera, mas, nessa forma, o zinco não é muito utilizável.
• Presença de competidores químicos: Impedem a aquisição do nutriente
desejado e reduzem a biodisponibilidade. Por exemplo, Mo, sendo o íon
metálico mais abundante no oceano, presente na forma de oxiânion, o
molibdato é uma espécie altamente solúvel e passível de absorção. É
muito semelhante aos oxiânions de sulfato e fosfato. A competição com
esses outros oxiânions pode prejudicar, seriamente, a capacidade de
transportar molibdato para dentro da célula (KALSI; KALSI, 2011).
• Mecanismo de captação: As membranas celulares são barreiras de
permeabilidade eficazes que bloqueiam a difusão passiva de íons
metálicos carregados. Portanto, há uma necessidade de moléculas
transportadoras que sejam incorporadas às membranas celulares
(ROAT; ROSETTE, 2002).
• Entrega do alvo: O problema crítico é a entrega de íons metálicos para
os alvos finais, é o transporte, dentro do citoplasma, ou o espaço entre
as membranas.

149
Fundamentos da Química Inorgânica

• Mecanismo de armazenamento: O nível de um íon metálico específico


disponível para um organismo na dieta ou no ambiente pode mudar,
drasticamente, ao longo do tempo. O mecanismo de armazenamento,
também, fornece um meio pelo qual o excesso de íons metálicos pode
ser desintoxicado. Por exemplo, o excesso de Fe e de Cu gera espécies
reativas de oxigênio, que danificam DNA, lipídios e proteínas (KALSI;
KALSI, 2011).

Uma vez que os íons metálicos são essenciais e tóxicos, um equilíbrio


delicado ou homeostático deve ser mantido. Isso, geralmente, é regulado por
sensores que controlam a atividade do transportador, molécula de armazenamento
e enzimas desintoxicantes (ROAT; ROSETTE, 2002).

Nesta etapa, você deve estar se perguntando: por que os sistemas biológicos
utilizam metais de transição? Os metais de transição são sítios ativos catalíticos
extremamente bons em enzimas, porque são estáveis ​​em uma variedade de
geometrias. C e N têm vários sítios de coordenação. Os metais de transição são
estáveis em vários estados de oxidação. São capazes de alterar a reatividade
dos ligantes e podem ter vínculos coordenados onde for necessário (ROAT;
ROSETTE, 2002).

De acordo com Barán (1995), é possível identificar cinco funções que


requerem a participação de metais: transporte e ativação do oxigênio, transporte
de elétrons, centro catalítico em processos de oxirredução, centro catalítico em
processos ácido-base e função estrutural. Atente-se a um resumo:

QUADRO 1 – PRINCIPAIS FUNÇÕES QUE REQUEREM


METAIS EM SISTEMAS BIOLÓGICOS

Função Descrição

Transporte e ativação do oxigênio O transporte do oxigênio se realiza


normalmente, utilizando proteínas
que contêm ferro (por exemplo, he-
moglobina) ou, eventualmente, cobre
(hemocianina). No caso, forma-se
uma ligação entre o centro metálico e
a molécula de oxigênio e, em conse-
quência, a molécula de O2 sofre um
processo, chamado de ativação, que
a torna extremamente reativa.

150
Capítulo 3 química bioinorgânica

Transporte de elétrons Certos metais, que podem se apre-


sentar em dois ou em mais estados
de oxidação (manganês, ferro, cobre
e molibdênio), são utilizados para
o transporte de elétrons, isto é, os
sistemas que os contêm podem re-
ceber elétrons de um agente redutor
(capaz de doar elétrons) e trans-
feri-los, depois, a outro oxidante (ca-
paz de receber elétrons).

Centro catalítico em processos de Nesses sistemas, o metal constitui o


oxirredução sítio ativo no qual ocorre uma reação
de oxirredução (por exemplo, a de-
composição de H2O2 em H2O e O2,
catalisada pela catalase, uma enzima
que contém ferro, ou a oxidação de
sulfito a sulfato, catalisada pela sulfi-
to-oxidase, uma enzima que contém
molibdênio). Vários metais de tran-
sição participam de reações redox.

Centro catalítico em processos áci- Um metal é o sítio ativo no qual


do-base ocorre uma reação de tipo áci-
do-base (por exemplo, a conversão
de CO2 em HCO3- , ou a hidrólise de
um éster fosfórico, com catalização
pelas enzimas anidrase carbônica e
fosfatase, respectivamente, ambas
contendo zinco Zn2+).

151
Fundamentos da Química Inorgânica

Função estrutural Muitas vezes, a união de um cátion


metálico a um determinado sítio de
uma biomolécula (por exemplo, uma
proteína) é essencial para se obter
uma estrutura espacial adequada
que permita realizar alguma função
predeterminada. Por exemplo: a
participação de fosfatos de cálcio na
formação das estruturas ósseas de
todos os organismos superiores.

FONTE: Adaptado de Barán (1995); <https://doku.pub/download/quimica-


bioinorganica-baran-nl2p9zd7km08>. Acesso em: 24 abr. 2021.

4.2 PROPRIEDADES GERAIS DOS


CÁTIONS METÁLICOS
De acordo com Baran (1995), os íons catiônicos di e trivalentes, utilizados
nos sistemas biológicos, podem ser tratados como ácidos σ. Vale dizer que,
potencialmente, conseguem atuar como aceitadores de elétrons por via
ligação sigma. Para os cátions divalentes, a acidez segue a seguinte ordem:
.

Por outro lado, as variações de acidez, também, estão fortemente


influenciadas pelos ligantes e, em sistemas biológicos, há ligantes que são capazes
de modificar, substancialmente, as propriedades. Assim, por exemplo, quando
o Fe(II) se incorpora à porfina, e, o Co(II), à corrina, produz-se uma diminuição
da acidez σ, ocasionado uma mudança do poder doador π, de tal maneira que
o Fe (II), na mioglobina, não sofre interação com a água. O surgimento dessa
capacidade doadora π é fundamental para a realização de certas funções, por
exemplo, a interação do ferro porfinírico com a molécula de O2, para a ativação e
o transporte.

Ainda, é válido classificar os cátions, utilizando o conceito mais geral de


ácido e bases duras e moles, que são muito úteis para as interações metal-
ligante na química de coordenação. Nesse sentido, as espécies biológicas
são ácidos duros, porém, os cátions
são ácidos intermediários. Portanto, de acordo
com a chamada regra de Pearson, esses ácidos tendem a se coordenar com

152
Capítulo 3 química bioinorgânica

bases duras, como átomos de oxigênio (presentes na água, no grupo carboxilato,


em resíduos de fosfato e funções álcool). Isso significa que os organismos vivos
são, desse ponto de vista, sistemas duros. Por outro lado, muitos elementos
tóxicos e contaminantes inorgânicos típicos, como são
sistemas brandos e mostram preferências por ligantes brandos (grupos tiolato,
sulfeto, selênio) (BARÁN, 1995). Observe a classificação de Pearson para ácidos
e bases de Lewis a seguir:

FIGURA 8 – CLASSIFICAÇÃO DE PEARSON PARA ÁCIDOS E BASES DE LEWIS

FONTE: <https://core.ac.uk/download/pdf/61966585.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Ácidos duros são cátions com altas cargas positivas (3+ ou


maior), ou cátions com elétrons d não disponíveis para formar
ligações π. Ácidos moles são cátions com cargas moderadas (2+ ou
menor), ou cátions com elétrons d que podem formar ligações π.

FONTE: <https://arcestariufs.files.wordpress.com/2011/12/aula-11-
c3a1cidos-e-bases-2.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

Acadêmico, resumiremos, aqui, as propriedades que tornam os íons e os


complexos metálicos tão úteis para a biologia.

De acordo com Martínez (2014), as propriedades são as seguintes:

• Carga: íons metálicos são carregados, positivamente, em solução


aquosa, e essa carga pode ser manipulada, dependendo do ambiente de

153
Fundamentos da Química Inorgânica

coordenação, obtendo complexos catiônicos, aniônicos ou neutros.


• Interações com ligantes: íons metálicos podem se ligar a ligantes por
meio de interações, geralmente, fortes e seletivas. Ligantes fornecem a
própria funcionalidade e podem ser modulados, tornando cada composto
de coordenação único em propriedades. As propriedades cinéticas e
termodinâmicas das interações metal-ligante são de grande importância
nas reações de troca de ligante.
• Estrutura e ligação: compostos de coordenação têm grande quantidade
de geometrias de coordenação que lhes conferem formas únicas em
comparação com as moléculas orgânicas. As distâncias, os ângulos de
ligação e o número de coordenação variam, dependendo do metal e do
estado de oxidação.
• Caráter ácido de Lewis: íons metálicos com alta afinidade eletrônica
podem polarizar, significativamente, os grupos funcionais que estão
coordenados a ela, facilitando as reações de hidrólise.
• Orbitais d, parcialmente, ocupados: para metais de transição, a
variedade no número de elétrons na camada d (ou f, para lantanídeos)
confere propriedades eletrônicas e magnéticas únicas a compostos de
coordenação.
• Atividade redox: muitos metais de transição podem dar origem a reações
redox.

4.3 LIGANTES BIOLÓGICOS PARA


ÍONS METÁLICOS
Como vimos anteriormente, a utilização de elementos químicos, por
sistemas biológicos, depende da abundância e da disponibilidade do elemento,
da versatilidade e da estabilidade dos compostos formados, das propriedades
químicas (especificidade) e do desenvolvimento de vias de captura e de
transporte. Assim, focaremos em ligantes biológicos que envolvem metais de
transição.

Um dos principais ligantes dos íons metálicos são as proteínas. As cadeias


laterais das proteínas contêm uma série de grupos com grande afinidade
por centros metálicos, biologicamente, relevantes (carboxilato, grupos OH,
N-imizadolina etc.). Também, as bases nucleicas têm uma grande capacidade
de coordenação, que é, provavelmente, devida a variadas possibilidades
de tautomerismo que elas possuem. Os grupos fostatos e as pentosas, dos
nucleotídeos, são ligantes apropriados para muitos centros metálicos. Além
desses tipos de ligantes, os sistemas biológicos geram outra série de ligantes,
muito particulares, capazes de conferir propriedades extremamente interessantes

154
Capítulo 3 química bioinorgânica

e importantes aos centros metálicos com os quais se complexam. Esses ligantes


são, essencialmente, macrocíclicos tetrapirrólicos, que atuam como quelantes
tetradentados.

Especialmente, importantes e amplamente distribuídas na natureza, são as


porfirinas. Delas, podem se derivar outros sistemas semelhantes, como o cloro,
um macrociclo presente nas clorofilas; a corrina, um ligante da vitamina B12; e o,
recentemente, descoberto fator F-430, relevante para a química bioinorgânica do
níquel. As porfirinas constituem um grupo muito grande e importante de complexos
metálicos que ocorrem em sistemas biológicos. São compostos cíclicos formados
pela ligação de quatro anéis de pirrole por meio de pontes de metino (=HC–)
(BARÁN, 1995).

FIGURA 9 – MOLÉCULA DE PORFIRINA - ANÉIS SÃO ROTULADOS I,


II, III E IV - POSIÇÕES DO SUBSTITUINTE SÃO DE 1 A 8 - AS QUATRO
PONTES DE METINO (=HC–) TIDAS COMO Α, Β, Γ E Δ

FONTE: Adaptada de Rodwell et al. (2017)

155
Fundamentos da Química Inorgânica

Nas porfirinas, que ocorrem naturalmente, várias cadeias laterais substituem


os oito átomos de hidrogênio numerados dos pirroles. Elencaremos uma
representação abreviada dessas substituições (RODWELL et al., 2017):

FIGURA 10 – REPRESENTAÇÃO ABREVIADA DE UMA PORFIRINA,


UROPORFIRINA III - ESQUERDA: OS NÚMEROS DE 1 A 8 CORRESPONDEM
AOS DA FIGURA 8 - DIREITA: OS SUBSTITUINTES NA UROPORFIRINA III
SÃO A = ACETATO (—CH2COO−) E P = PROPIONATO (—CH2CH2COO−)

FONTE: Adaptada de Rodwell et al. (2017)

As porfirinas formam complexos com íons metálicos que se ligam ao átomo


de nitrogênio de cada um dos quatro anéis pirrólicos. Os exemplos incluem as
porfirinas de ferro, como o heme da hemoglobina e a clorofila porfirina, contendo
magnésio, o pigmento fotossintético das plantas. Vimos que os derivados
porfínicos, por substituição, nas posições 1 a 8, são, genericamente, chamados
de porfirinas, e, quando ambos os hidrogênios dos grupos NH são deslocados,
por incorporação de um íon metálico, são as metaloporfirinas (BARÁN, 1995).

FIGURA 11 – ESTRUTURA DAS METALOPORFIRINAS

FONTE: <https://api.sigmaaldrich.com/deepweb/assets/sigmaaldrich/quality/
spec/363/315/258806-BULKALDRICH.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

156
Capítulo 3 química bioinorgânica

As porfirinas são aptas a gerar complexos planos quadrados, piramidais


(coordenação 5) ou octaédricos (coordenação 6), o que amplia a variedade e o
alcance das possibilidades como ligantes. Um dos exemplos mais importantes
e frequentes na natureza é a chamada protoporfirina IX, mostrada a seguir, na
forma do seu complexo de ferro.

FIGURA 12 – ESTRUTURA DA PROTOPORFIRINA IX

FONTE: <https://www.sigmaaldrich.com/catalog/product/
sigma/51280?lang=pt&region=BR&cm_sp=Insite-_-caContent_prodMerch_
gruCrossEntropy-_-prodMerch10-4>. Acesso em: 24 abr. 2021.

De acordo com Báran (1995), todas as porfirinas apresentam um espectro


eletrônico muito característico, geralmente, formado por três bandas, as quais
são identificadas pelas letras alfa, beta e gama, cuja posição exata depende da
natureza dos substituintes e do metal presente no macrociclo. As mais intensas
das três bandas, geralmente, localizadas em torno de 400 nm, são chamadas de
bandas de Soret. As porfirinas têm uma série de propriedades e de características
particulares extremamente interessantes:

• o anel plano é, extremamente, estável, e, praticamente, não tensionado;


• nas formas desprotonadas, carregadas negativamente, o ligante é capaz
de complexar até espécies metálicas, relativamente, lábeis;
• o orifício que fica no centro do anel é, altamente, seletivo, na captação
e na retenção de cátions metálicos, assumindo-se íons esféricos. As
espécies mais aptas a serem complexadas são aquelas cujo raio iônico
oscila entre 0,6 e 0,70 Å;
• possuem um sistema, fortemente, deslocado, de união π conjugadas,
propriedade essencial para a reatividade e as propriedades gerais dos
complexos.

157
Fundamentos da Química Inorgânica

A seguir, apresentaremos alguns dos metais envolvidos em sistemas


biológicos.

4.3.1 Cálcio (Ca)


Os íons de cálcio desempenham um papel crucial em organismos superiores,
como mensageiros intracelulares. O fluxo de íons de Ca+2 desencadeia a ação
enzimática nas células em resposta ao recebimento de um sinal elétrico ou
hormonal de outra parte do organismo. As proteínas de sinalização do cálcio
são pequenas, e mudam a conformação, dependendo da ligação do Ca2+ em
um ou em mais locais; são, portanto, exemplos das proteínas ativadas por íons
metálicos. Cada movimento muscular que fazemos é estimulado pela ligação do
Ca2+ a uma proteína conhecida como troponina C. A proteína reguladora do Ca2+
mais bem estudada é a calmodulina (17 kg mol-1). A calmodulina tem quatro sítios
de ligação de Ca2+ . A ligação do Ca2+ aos quatro locais altera a conformação da
proteína e é, então, reconhecida por uma enzima alvo (ATKINS et al., 2010).

FIGURA 13 – LIGAÇÃO DE QUATRO CA2+ À CALMODULINA CAUSA UMA


MUDANÇA NA CONFORMAÇÃO DA PROTEÍNA, CONVERTENDO-A EM
UMA FORMA QUE É RECONHECIDA POR MUITAS ENZIMAS

FONTE: Adaptada de Atkins et al. (2010)

4.3.2 Magnésio (Mg)


Não existem dúvidas em relação à importância biológica do magnésio. O
magnésio, um elemento abundante na crosta terrestre, é vital para as vidas vegetal
e animal. O pigmento de clorofila, nas plantas, é um complexo Mg-porfirina.

158
Capítulo 3 química bioinorgânica

FIGURA 14 – COMPLEXO MG-PORFIRINA EM CLOROFILA

FONTE: <http://epgp.inflibnet.ac.in/epgpdata/uploads/epgp_content/S000005CH/P000670/
M013990/ET/1455878156CHE_P15_M2_e-Text.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

O valor funcional do magnésio parece estar associado, essencialmente, a


duas características. Por um lado, como Mn (II) se comporta como um ácido de
Lewis e, em estados de oxidação superiores, é um agente oxidante. Os estados
de oxidação, fisiologicamente, relevantes, são II, III e IV, e a coordenação, mais
habitualmente, encontrada, envolve átomos de nitrogênio (N) e de oxigênio (O)
como ligantes, enquanto os índices de coordenação são, usualmente, 4, 5, e, em
primeiro lugar, 6. Um aspecto muito peculiar associado à química bioinorgânica é
a presença em forma de complexos sensíveis, envolvendo um só centro metálico,
e espécies multinucleares, que apresentam dois ou mais centros metálicos. Um
ser humano médio detém cerca de 35g de Mg, e, aproximadamente, 99% disso é
intracelular, ou está presente nos ossos. Dos 60% nos ossos, dois terços fazem
parte da estrutura mineral. As fontes dietéticas ricas em Mg incluem nozes, frutos
do mar, legumes e vegetais, a carne tem teor intermediário de Mg (BARÁN, 1995).
A Concanavalina A é uma proteína que contém, simultaneamente, magnésio e
cálcio, e pertence ao grupo das lecitinas, sistemas que possuem sítios específicos
para a união de carboidratos de baixo peso molecular. Essa atividade está,
essencialmente, regulada pelas características dos cátions divalentes presentes.
A proteína é constituída por quatro subunidades idênticas com peso molecular
em torno de 25.000 por unidade. Cada uma delas contém um complexo binuclear
de Mn/Ca, e ambos os centros estão separados em apenas 4,25 Å, aparecendo
como pontes para dois grupos carboxilatos.

159
Fundamentos da Química Inorgânica

FIGURA 15 – ESTRUTURA DA CONCANAVALINA A (CONA) - LOCAIS DE


LIGAÇÃO DE GLICOSE SÃO MOSTRADOS NA COR VERMELHA

FONTE: <https://www.researchgate.net/publication/272431331_
Water-Solubilization_of_PV_and_SbV_Porphyrins_and_Their_
Photobiological_Application>. Acesso em: 24 abr. 2021.

4.3.3 Potássio
Um ser humano adulto tem, aproximadamente, 140 g de potássio, e mais
de 90% disso é intracelular e trocável (K+ é o cátion predominante no espaço
intracelular), uma vez que os músculos contêm a maior parte do fluido intracelular
do corpo, eles, também, abarcam a maior quantidade de potássio. Uma vez
que o K+ é encontrado na maioria dos alimentos de origens animal e vegetal, a
deficiência alimentar é extremamente rara, exceto em condições incomuns (como
dietas contendo grandes quantidades de açúcares refinados, alcoólatras obtendo
a maior parte das calorias de bebidas alcoólicas com baixo teor de potássio em
um estado de fome etc.). Existem mais de 80 genes de mamíferos que codificam
as subunidades dos canais de potássio. Contudo, os canais encontrados
em bactérias estão entre os iônicos mais estudados, em termos de estrutura
molecular. Usando cristalografia de raios-X, percepções profundas foram obtidas
acerca de como os íons de potássio passam por esses canais e por que os íons
de sódio (menores) não (SHARMA; AGRAWAL, 2005).

160
Capítulo 3 química bioinorgânica

FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS CANAIS DE POTÁSSIO

FONTE: <http://oms.bdu.ac.in/ec/admin/contents/175_
P16CH21_2020051607351080.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

4.3.4 Sódio
O sódio é o cátion extracelular predominante em todos os animais,
incluindo seres humanos. Um corpo humano adulto contém cerca de 105g de
sódio. Aproximadamente, 24% disso está localizado nos ossos e, 65%, no fluido
extracelular. O equilíbrio do íon sódio é mantido, principalmente, pelos rins, o
órgão-chave dos equilíbrios hídrico e eletrolítico. O cloreto de sódio (sal) é a fonte
alimentar predominante. Embora o Cl alimentar excessivo pareça não ter efeito
prejudicial significativo sobre a saúde, há muitas evidências que ditam que a
ingestão excessiva de Na + gera pressão arterial elevada (hipertensão) (SHARMA;
AGRAWAL, 2005).

4.3.5 Cobalto
O cobalto é um elemento essencial para os humanos, embora esteja
presente apenas em pequenas quantidades, um pouco mais de 1 mg de Co no
corpo humano adulto. É o principal componente da vitamina B12 (cobalamina).

161
Fundamentos da Química Inorgânica

FIGURA 17 – ESTRUTURA DA VITAMINA B12 (COBALAMINA)

FONTE: <https://www.scielo.br/pdf/jbpml/v41n5/a07v41n5.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

A vitamina B12, ou cianocobalamina, faz parte de uma família de compostos


denominados, genericamente, de cobalaminas. É uma vitamina hidrossolúvel,
sintetizada, exclusivamente, por microrganismos, encontrada em, praticamente,
todos os tecidos animais, e estocada, primariamente, no fígado, na forma de
adenosilcobalamina. A fonte natural de vitamina B12, na dieta humana, restringe-se
a alimentos de origem animal, especialmente, leite, carne e ovos. A vitamina B12
é sintetizada apenas por bactérias. Ela entra na cadeia alimentar humana a partir
de fontes animais, como pela carne. A deficiência dietética de cobalto é provável
apenas entre vegetarianos estritos ou quando o fator intrínseco do estômago, que
facilita a absorção de B12, está ausente, ou, severamente, diminuído, como é o
caso da anemia perniciosa (PANIZ et al., 2005).

4.3.6 Ferro
O ferro está envolvido em processos vitais para a maioria dos organismos.
Normalmente, quantidades muito pequenas estão presentes na maioria das
células do corpo e em outros fluidos extracelulares. Fisiologicamente, o corpo
conserva, rigorosamente, o suprimento de ferro, de forma que menos de 0,1% do
conteúdo de ferro do corpo é perdido diariamente. Em um homem de 70 kg, estima-
se que há cerca de 3,5 g de ferro, o que é distribuído em vários compartimentos
diferentes, que incluem hemoglobina (67%), ferro de armazenamento (ferritina,
hemossiderina) (27%), mioglobina (3,5%), em outros tecidos (2,2%) e ferro de
transporte (0,28%) (MEGERSSA; TESFAYE, 2017).

162
Capítulo 3 química bioinorgânica

O ferro pode ocorrer em diferentes estados de oxidação (variando de -2 a


+6). No meio biológico, os principais estados de oxidação são Fe+2e Fe+3, mas
estados mais altos (+4 e +5), geralmente, estão presentes em intermediários de
ciclos catalíticos de algumas monooxigenases. O potencial redox do par Fe+2e
Fe+3 é muito variável e pode ser, facilmente, modulado pelo ambiente no qual ele
se encontra inserido. O Fe3+ é um ácido duro, que prefere ligantes oxigenados,
como carboxilatos e fenolatos. Os compostos são, praticamente, insolúveis em
água. Já o FE+2 tem um caráter ácido intermediário, costuma se ligar a ligantes,
como imidazóis e pirróis, ou àqueles contendo enxofre, formando compostos
extremamente solúveis em água.

A distribuição de complexos de ferro específicos, em organismos vivos,


depende, fortemente, da função. Por exemplo, embora existam muitos desses
complexos diferentes no ser humano médio, as quantidades relativas de cada
tipo diferem mais de 650 vezes. A quantidade total de ferro em humanos é muito
grande, com média de mais de três a cinco gramas para um adulto saudável. A
maior parte do ferro está presente como hemoglobina, a proteína transportadora
de oxigênio do plasma, com a função de fornecer oxigênio para a respiração.
Uma quantidade muito menor está presente na mioglobina, uma proteína
armazenadora de oxigênio nos músculos. Para o transporte, a mais importante
dessas proteínas que contém ferro é a transferrina, a proteína de ferro no plasma
que o transfere de locais de armazenamento no corpo para locais onde residem
as células que sintetizam proteínas. Os maiores consumidores de ferro são os
glóbulos vermelhos. No entanto, em um determinado momento, relativamente,
pouco do ferro do corpo está presente na transferrina, da mesma forma que,
em qualquer momento, em uma grande cidade, apenas uma pequena fração da
população é encontrada em ônibus ou em táxis. Outros exemplos de proteínas
que contêm ferro e funções estão incluídos a seguir, para comparação (BERTINI
et al., 2006).

QUADRO 2 – DISTRIBUIÇÃO MÉDIA DE FE HUMANO


Proteína Função Estado de oxi- Quantidade de Percentual total
dação do Fe Fe (g) (%)
Hemoglobina Transporte de O2 2 2,6 65
no plasma
Mioglobina Armazenagem de 2 0,13 6
O2 muscular
Transferrina Transporte de Fe 3 0,007 0,2
no plasma
Ferritina Armazenamento 3 0,52 13
de Fe celular

163
Fundamentos da Química Inorgânica

Hemossiderina Armazenamento 3 0,48 12


de Fe celular
Catalase Metabolismo H2O2 2 0,004 0,1
Citocromos Transporte de 2/3 0,004 0,1
elétrons
Outras Oxidases, outras 0,14 3,6
enzimas etc.
FONTE: Adaptado de Bertini et al. (2006)

FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA TRANSFERRINA E DA FERRITINA

FONTE: <http://oms.bdu.ac.in/ec/admin/contents/175_
P16CH21_2020051607351080.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

4.3.7 Zinco
O zinco é, depois do ferro, o metal mais abundante em sistemas biológicos.
Até o momento, foram identificadas mais de 200 metaloenzimas contendo esse
elemento. Por suas características químicas, eletrônicas e estruturais, o zinco é
o exemplo típico de metal associado a processos catalíticos do tipo ácido-base.
No entanto, participa, igualmente, de sistemas reguladores e estruturais (BARAN,
2005). É encontrado em mais de 300 enzimas, podendo desempenhar um papel
catalítico ou estrutural.

Como um componente estrutural e/ou funcional de várias metaloenzimas


e metaloproteínas, o zinco participa de muitas reações do metabolismo celular,
incluindo processos fisiológicos, como função imune, defesa antioxidante,
crescimento e desenvolvimento.

O zinco (Zn) difere dos outros metais de transição, pois contém a camada
eletrônica “d” completa, e, assim, não participa de reações redox, mas age como
ácido de Lewis para aceitar um par de elétrons, fazendo com que seja um íon
estável. Geralmente, complexa-se com aminoácidos, peptídios e nucleotídeos, e
tem afinidade com grupos tióis e hidrogênio (MAFRA; COZZOLINO, 2004).

164
Capítulo 3 química bioinorgânica

O zinco é um excelente ácido de Lewis, formando complexos estáveis com


ligantes, como N e S, e catalisando reações, como hidrólise de éster e peptídeo.
É usado como formador de estrutura em enzimas e em proteínas que se ligam
ao DNA. Além disso, há um grande número de proteínas de zinco que se ligam a
ácidos nucleicos, o que sugere que estes possam estar envolvidos na regulação
da transcrição de genes e da síntese de proteínas (ATKINS et al., 2010).

FIGURA 19 – UM PAR DE DEDOS DE ZINCO


INTERAGINDO COM UMA SEÇÃO DE DNA

FONTE: Adaptada de Atkins et al. (2010)

Dedos de zinco são características estruturais de proteínas


produzidas pela coordenação de Zn a resíduos específicos de
histidina e cisteína. Uma sequência desses dedos permite que a
proteína reconheça e se ligue a sequências precisas de pares de
bases de DNA e desempenhe um papel crucial na transferência
de informações do gene. Muitas proteínas que se ligam ao DNA
contêm domínios, cujos aminoácidos estão dobrados em uma única
unidade estrutural em torno de um átomo de zinco (papel estrutural).
No dedo de zinco clássico (zinc fingers), um átomo de zinco está
ligado a duas cisteínas ea duas histidinas. Dentre as cisteínas e as
histidinas, estão 12 resíduos que formam uma ponta de dedo que se
liga ao DNA. Através de variações na composição das sequências
na ponta do dedo, no número e no espaçamento das repetições, os
dedos de zinco podem formar um grande número de diferentes sítios
de ligação para sequências específicas.

FONTE: <http://www.quimica.ufpr.br/nunesgg/QIM__PG/
material%20para%20estudo/Quimica%20inorg%E2nica%20
Medicinal_Introducao.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

165
Fundamentos da Química Inorgânica

A química bioinorgânica do zinco é dominada por uma série de fatores: (i)


o íon Zn2+ é inativo frente a processos redox; (ii) a configuração d10 significa que
não ocorrem transições d-d (não há espectro de absorção) e os complexos não
estão sujeitos a efeitos de estabilização de campo ligante. A coordenação e a
geometria são determinadas, principalmente, pelo tamanho e pela carga dos
ligantes. O Zn2+ forma complexos estáveis, com ligantes macios, como resíduos
de histidina e cisteina, geralmente, em ambiente tetraédrico. Os sítios catalíticos
típicos apresentam três ligantes proteicos e uma molécula de água, enquanto os
que desempenham papel estrutural se encontram coordenados a quatro ligantes
proteicos (KAIM; SCHWEDERSKI; KLEIN, 2013).

4.3.8 Cobre
O cobre é o terceiro metal mais abundante no corpo humano, logo depois do
ferro e do zinco. O ser humano adulto, normalmente, tem cerca de 100-110 mg
de Cu. As concentrações mais altas são encontradas no fígado, rim, coração e
cérebro (SHARMA; AGRAWAL, 2005).

O cobre desempenha um papel importante no nosso metabolismo,


principalmente, porque permite que muitas enzimas críticas funcionem
adequadamente. O cobre é essencial para manter a resistência da pele, vasos
sanguíneos, tecidos epitelial e conjuntivo em todo o corpo. O Cu desempenha
um papel na produção de hemoglobina, mielina, melanina e, também, mantém
glândula tireoide funcionando normalmente (OSREDKAR, 2011).

Foram identificados números relativamente grandes de metaloproteínas que


contêm cobre. Está associado a sistemas e a processos que envolvem a utilização
do oxigênio por parte dos sistemas biológicos, aparecendo, no transportador de
oxigênio, a hemocianina, em diversas oxidases e oxigenases, e no superóxido
dismutase, presente em sistemas transportadores de elétrons (BARÁN, 1995).

Muitos dos sistemas enzimáticos que contêm cobre apresentam uma intensa
coloração azul característica de um sítio de coordenação bem definido, razão
pela qual os estudos mais antigos das cuproproteínas as dividiam em proteínas
azuis e proteínas não azuis. Por outro lado, com o avanço do conhecimento das
características estruturais e eletrônicas, foi se impondo uma convenção diferente,
que é, mais habitualmente, utilizada, e que sugere que pode haver algum tipo
de centro, o sistema considerado nessa classificação. A convenção em questão
classifica os compelos de Cu (II), ligados a proteínas, em três grupos, a saber:
cobre do tipo (I), cobre do tipo (II) e cobre do tipo (III) (BARÁN, 1995).

166
Capítulo 3 química bioinorgânica

A deficiência funcional do protótipo de Cu, em humanos, é uma doença


hereditária ligada ao X, chamada de síndrome de Menkes. A síndrome de Menkes
é uma desordem de origem genética que conduz a uma rápida degeneração
cerebral, usualmente, acompanhada por convulsões, hipotermia e retardos do
crescimento (SHARMA; AGRAWAL, 2005).

Os estados de oxidação do cobre são Cu1+ (d10) e Cu2+ (d9), e, normalmente,


encontra-se ligados a ligantes doadores de nitrogênio (N) e/ou de enxofre (S).
Os íons Cu2+, relativamente, duros preferem ligantes nitrogenados (enquanto
os íons Cu1+ são macios e preferem ligantes contendo enxofre como átomo
doador). O Cu1+ forma complexos com número de coordenação (NC) = 2, 3 e
4 (tetraédrico), enquanto o Cu2+ prefere NC mais altos, 4 (quadrado planar), 5
e 6. Ambas as formas têm uma velocidade de troca de ligantes elevada. Uma
questão intrigante é como a transferência de elétrons pode ser tão rápida entre
geometrias preferidas tão distintas para os diferentes estados de oxidação (KAIM;
SCHWEDERSKI; KLEIN, 2013).

Doença de Menkes, também conhecida como síndrome dos


cabelos encarapinhados, trata-se de uma desordem genética, de
caráter autossômico recessivo, multissistêmica, neurodegenerativa,
ligada ao cromossomo X, que afeta os níveis de cobre no organismo,
levando à carência desse mineral. Estima-se que afete entre
1:40.000 a 1:350.000 crianças do sexo masculino nascidas vivas.
A deficiência de cobre livre resultante altera o funcionamento das
enzimas dependentes de cobre, provocando os sintomas da doença.
Estes incluem: atraso do crescimento intrauterino e deterioração
neurológica progressiva, com aparecimento de hipotonia axial,
espasticidade, convulsões e hipotermia durante os primeiros meses
de vida. A gliose leva ao desenvolvimento de microcefalia. O cabelo
apresenta um fenótipo característico: ralo, hipopigmentado, seco,
torcido e quebradiço. O tratamento consiste na administração
parentérica de cobre. Quando iniciado precocemente, o tratamento
previne os sinais neurológicos e aumenta a sobrevida. A incidência
da doença é de 1/300.000 nascidos-vivos.

167
Fundamentos da Química Inorgânica

FONTE: <http://www.quimica.ufpr.br/nunesgg/QIM__PG/material%20para%20estudo/
Quimica%20inorg%E2nica%20Medicinal_Introducao.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021

4.3.9 Molibdênio
O molibdênio é o único metal da segunda série dos elementos de transição,
definitivamente, reconhecido como essencial para os seres vivos. Esse elemento
é um dos mais abundantes na crosta terrestre. A concentração dele, nas águas
do mar, é maior do que todos os outros metais de transição com atividade redox.
Isso explica, em parte, a presença em todas as formas de vida e a importância
para os processos metabólicos. Na atualidade, conhecem-se muitos sistemas
enzimáticos contendo molibdênio. Todos eles são, relativamente, grandes e
complexos, e, usualmente, requerem a participação de múltiplas unidades de
outros cofatores. A seguir, serão apresentados os sistemas mais conhecidos e
caracterizados (BARÁN, 1995).

QUADRO 3 – SISTEMAS ENZIMÁTICOS CONTENDO MOLIBDÊNIO


Enzima Reação Cofatores
Nitrogenase Nitrogênio a amônia Fe/S, ATP
Aldeído oxadase Aldeídos a ácidos Fe/S, flavina
Nitrato redutase Nitrato a nitrito Citocromo, flavina
Sulfito oxadase Sulfito a sulfato Fe/S, flavina
Xantina oxadase Xantina a ácido úrico Fe/S, flavina
Formato de Formato a dióxido Fe/S
hidrogenase de carbono
FONTE: Adaptado de Barán (1995)

168
Capítulo 3 química bioinorgânica

Como se pode observar, o molibdênio está, basicamente, envolvido em


processos redox, os quais geram transferência de oxigênio e fixação de nitrogênio.

Acadêmico, agora, surge uma pergunta: Por que se elegeu, esse metal, para
participar dessas funções?

A questão contém várias respostas que mostram, claramente, a adequação


e as características únicas desse elemento para participar dos processos. Em
primeiro lugar, todas essas reações, geralmente, envolvem a transferência de dois
elétrons, processos nos quais metais da primeira série de transição, dificilmente,
poderiam estar envolvidos. Por outro lado, em vários deles, também, são
transferidos grupos “oxo”, e os metais da primeira série são, fortemente, oxifílicos,
ou seja, é possível, facilmente, ligar átomos de oxigênio. O molibdênio pode
atuar transferindo dois elétrons em faixas de potenciais, claramente, diferentes
daquelas nas quais atuam os metais da primeira série de transição. Nessa série,
as estabilidades variam, rapidamente, com as mudanças no estado de oxidação,
em claro contraste com o que ocorre na segunda série, na qual as modificações
são mais lentas. Além disso, o molibdênio é apto a ser usado em intervalos de
estado de oxidação de Mo (III) a Mo (VI). Uma vantagem adicional apresentada
pelo uso do molibdênio é do tipo mecanismo, visto que as ligações Mo-OH são
formadas e rompidas com relativa facilidade, o que permite a rápida transferência
dos grupos OH e dos grupos O. Por fim, apresenta-se uma notável facilidade para
variar os índices de coordenação entre quatro e seis (BARÁN, 1995).

5 METALOPROTEÍNAS
As proteínas estão envolvidas em um amplo espectro de funções biológicas e
catalisam uma gama de reações químicas nas células. No entanto, as diferenças,
nas cadeias laterais dos vinte aminoácidos proteinogênicos, respondem por,
apenas, a uma proporção da funcionalidade química das proteínas encontradas
na natureza. A incorporação de cofatores metálicos nos sítios ativos aumenta,
ainda mais, a diversidade funcional do proteoma (PERNIL; SCHLEIFF, 2019).

Cofator: É uma molécula orgânica ou um íon (geralmente, um


íon metálico) que é exigido por uma enzima para a atividade. Pode
ser fixado frouxamente (coenzima) ou firmemente (grupo protético).

FONTE: <https://www.chemie-biologie.uni-siegen.de/ac/hjd/lehre/
master/bioinorganic_handout.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

169
Fundamentos da Química Inorgânica

Durante a evolução, diferentes metais foram sendo recrutados para funções


estruturais e catalíticas com base nas propriedades químicas e na disponibilidade
natural. Tais cofatores de metal podem ser átomos de metal simples ou compostos,
aglomerados que contêm átomos de metal e não metálicos ou pequenas moléculas
organometálicas. Desempenham um papel central na função, na estrutura e na
estabilidade das proteínas. Assim, a remoção dos metais, ou a substituição por
outros, frequentemente, leva a uma redução drástica ou à perda da atividade das
proteínas.

Proteínas com tais cofatores são essenciais para os mais complexos e


importantes processos, como fotossíntese, respiração e fixação de nitrogênio. Isso
gera a participação de metais ligados a proteínas no armazenamento de pequenas
moléculas, no transporte, na transferência de elétrons e na catálise química de
inúmeras reações.

O termo metaloproteína é usado para designar complexos de metal-proteína


transitórios ou permanentes que contêm um ou mais átomos de metal na estrutura,
diretamente ligados à cadeia polipeptídica ou inseridos em uma molécula orgânica
não proteica, ligada, subsequentemente, à cadeia polipeptídica.

A união de dois aminoácidos forma uma molécula denominada


de dipeptídeo, e o encadeamento de vários aminoácidos gera
uma macromolécula proteica chamada de polipeptídeo, ou cadeia
polipeptídica.

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/ligacoes-peptidicas.
htm>. Acesso em: 24 abr. 2021.

As metaloproteínas estão envolvidas em funções estruturais e regulatórias,


mas, também, desempenham funções catalíticas. São, então, referidas como
metaloenzimas.

Estima-se que um terço de todas as proteínas, na natureza, requer


metais para desempenhar as funções biológicas, e quase metade de todas as
enzimas deve se associar a um determinado metal para funcionar. Isso enfatiza
a importância dos metais na biologia e destaca o papel notável em conferir
proteínas com propriedades únicas. A dependência de todos os organismos

170
Capítulo 3 química bioinorgânica

das metaloproteínas surge das propriedades únicas que os metais conferem às


cadeias polipeptídicas (HOLM; KENNEPOHL; SOLOMON, 1996).

Os metais, nas metaloproteínas, podem formar ligações fortes que,


normalmente, não se dissociam em condições biológicas e, portanto, mantêm
a estrutura terciária das proteínas ligando aminoácidos que estão, amplamente,
separados, na sequência, da cadeia polipeptídica. Além do papel estrutural, os
metais, também, são necessários para o funcionamento das metaloproteínas
(PERNIL; SCHLEIFF, 2019).

5.1 FUNÇÃO DO METAL EM


METALOPROTEÍNAS
Os metais são, comumente, encontrados como constituintes naturais
das proteínas. A natureza aprendeu a usar as propriedades especiais dos íons
metálicos para realizar uma ampla variedade de funções específicas associadas
aos processos vitais (LIPPARD; BERG, 1994).

De acordo com Benite, Machado e Barreiro (2007), uma característica dos


metais, a qual os torna tão importantes como componentes funcionais e estruturais
dos seres vivos, é a propensão em perderem elétrons, formando íons com cargas
positivas que tendem a ser solúveis em fluidos biológicos. Na forma catiônica, os
metais desempenham as principais funções biológicas. Enquanto íons metálicos,
apresentam-se deficientes de elétrons. Biomoléculas, como proteínas e DNA,
são ricas em elétrons. A atração entre essas oposições de cargas conduz a uma
tendência geral de “íons metálicos interagirem com moléculas biológicas”. A
seguir, aprenderemos a principais funções dos metais em metaloproteínas.

5.1.1 Transporte de oxigênio


O oxigênio, O2, é uma molécula especial que nem sempre esteve disponível
para a biologia; na verdade, para muitas formas de vida, é altamente tóxico. Como
produto residual da fotossíntese oxigenada, que começou com as cianobactérias,
há mais de dois bilhões de anos, o O2 é uma substância biogênica, que deve a
existência à captura de energia solar por organismos vivos. A grande vantagem
termodinâmica de ter um oxidante tão poderoso disponível, sem dúvida, levou
à evolução de organismos superiores, os quais, agora, dominam a Terra. Na
verdade, a presença de O2 se tornou tão importante que se tornaram necessários
sistemas especiais para transportá-lo e armazená-lo. Além da dificuldade em

171
Fundamentos da Química Inorgânica

se fornecer O2 aos tecidos, existe o problema de se atingir uma concentração,


suficientemente, alta em ambientes aquosos. Esse problema é superado
por metaloproteínas especiais conhecidas como transportadores de O2. Em
mamíferos, e na maioria dos outros animais e plantas, essas proteínas especiais
(mioglobina e hemoglobina) contêm um cofator porfirina Fe. Animais, como
moluscos e artrópodes, usam uma proteína chamada de hemocianina, e alguns
invertebrados inferiores abarcam um tipo alternativo de proteína Fe, a hemeritrina,
com um sítio de Fe dinuclear (ATKINS et al., 2010).

Uma função desempenhada, exclusivamente, pelas metaloproteínas, é a


respiração (LIPPARD; BERG, 1994). Metaloproteínas que realizam o transporte
de oxigênio, a fixação e a estocagem contêm ferro ou cobre. Existem três classes
conhecidas de proteínas de transporte de oxigênio: a família hemoglobina-
mioglobina (Fe), as hemocianinas(Cu) e as hemeritinas(Fe) (BENITE; MACHADO;
BARREIRO, 2007). Seguem as unidades funcionais em três classes de proteínas
de ligação ao oxigênio.

FIGURA 20 – CLASSES DE PROTEÍNAS DE LIGAÇÃO AO OXIGÊNIO

FONTE: Adaptada de Lippard e Berg (1994)


172
Capítulo 3 química bioinorgânica

Nessas proteínas, um equilíbrio delicado é alcançado: a molécula de O2


se liga ao átomo central de ferro ou de cobre sem sofrer uma transferência
irreversível de elétrons, ou redox, reação que leva à clivagem (quebra) da ligação
O-O. Na hemoglobina, essas mudanças estruturais desencadeiam movimentos
sutis das cadeias proteicas, que levam à cooperatividade na captação de oxigênio.
As outras duas proteínas respiratórias empregam um par de íons metálicos na
reação de ligação do oxigênio.

5.1.2 Transferência de elétrons


Em todos os casos, exceto em alguns interessantes, a energia para a vida se
origina, basicamente, do Sol, seja diretamente, na fotossíntese, ou indiretamente,
adquirindo compostos ricos em energia (combustível) de organismos
fotossintetizantes. A energia pode ser adquirida através do fluxo de elétrons do
combustível ao oxidante. Combustíveis importantes incluem gorduras, açúcares e
H2, e oxidantes biológicos fundamentais apontam O2, nitrato e, até, H. Conforme
apresentado a seguir, a oxidação dos açúcares pelo O2 fornece muita energia
(mais de 4 e/V- elétron volt por molécula de O2), e é a razão do sucesso dos
organismos aeróbios sobre os anaeróbios, os quais, outrora, dominaram a Terra
(ATKINS et al., 2010).

FIGURA 21 – O ESPECTRO REDOX DA VIDA

FONTE: Adaptada de Atkins et al. (2010)

173
Fundamentos da Química Inorgânica

6 QUÍMICA BIOINORGÂNICA DE
METAIS TÓXICOS
Como vimos até agora, os organismos vivos mantêm uma contínua e
completa interação com o entorno inorgânico no qual se encontram inseridos
e se desenvolvem os processos vitais. Como consequência da evolução e do
desenvolvimento, têm conseguido se adaptar a esse meio e gerado mecanismos
de defesa e de proteção adequados para fazer face às situações de risco.

Devido às profundas transformações, as quais o meio ambiente tem sofrido,


devido à atividade humana e à exploração continuada e crescente da natureza, o
meio ambiente começou a colocar problemas perante os quais muitos mecanismos
de defesa são impotentes ou ineficazes. Esse é, basicamente, o aspecto central
que se coloca frente aos crescentes problemas de poluição ambiental.

Os elementos que entram no meio ambiente podem ser classificados como


tóxicos e não tóxicos. Apesar de essa classificação ser muito relativa, como
vimos, anteriormente, certos elementos essenciais são absorvidos, em excesso,
pelos organismos, e se transformam em tóxicos ou prejudiciais (BARÁN, 1995).
Com respeito à toxicidade, além da considerada superdosagem das substâncias
essenciais à vida, ainda, podemos incluir duas outras classes de elementos
inorgânicos: aqueles que não são considerados relevantes para a vida, devido à
baixa abundância ou biodisponibilidade, e aqueles que possuem, exclusivamente,
efeitos negativos, até o momento (mercúrio (Hg), tálio (Tl), cádmio (Cd) e
chumbo (Pb)). Muitos metais pesados, potencialmente, tóxicos, como antimônio
(Sb), estanho (Sn), bismuto (Bi), zircônio, lantanídeos, tório e prata (Ag), são
bem insolúveis nas formas normais de estado de oxidação sob as condições
fisiológicas, as quais incluem atmosfera oxidante, pH 7 e concentração de íons
cloreto [Cl]-, consideravelmente, alta (KAIM; SCHWEDERSKI; KLEIN, 2013).

Mesmo antes da introdução adicional, produzida pelo homem, de substâncias


tóxicas no meio ambiente, os organismos tiveram que lidar com tais elementos
“venenosos”, como Cd ou Hg, na forma de uma situação de stress contínuo e
durante eventos catastróficos (ex.: erupção de vulcões). Para alguns elementos,
como chumbo, mercúrio (Hg), astato (As) e cromo (Cr), o tipo de composto (o
ligante ou o estado de oxidação) possui um papel crucial para a toxicidade (KAIM;
SCHWEDERSKI; KLEIN, 2013).

De acordo com Barán (1995), os mecanismos de toxicidade originados por


metais estão associados a um ou a mais dos seguintes processos:

174
Capítulo 3 química bioinorgânica

• O bloqueio de um grupo funcional essencial de alguma biomolécula,


incluindo enzimas ou polinucleotídeos.
• O deslocamento de um metal essencial de uma biomolécula.
• A modificação estrutural de algum sítio ativo importante.
• A ruptura de biomembranas.

Todos esses mecanismos de toxicidade se baseiam, de alguma maneira, na


forte capacidade de coordenação do elemento tóxico. Como já vimos, em muitos
sistemas biológicos, a atividade está ligada com a presença de sítios ativos
metálicos coordenados a resíduos de aminoácidos (nitrogênios, imidazolina,
grupos carboxilato, sulfidrila etc.). Consequentemente, o metal invasor pode
deslocar o elemento essencial dessa posição de coordenação, tornando-o
inativo ao sistema. Por exemplo, todos os metais pesados tóxicos, como Pb(II)
(chumbo), Hg(II) (mercúrio), Cd(II) (cádmio) e Ag(I) (prata) se caracterizam
por formar sulfetos insolúveis, portanto, manifestam uma forte afinidade por
resíduos de -SH da cisteína e podem bloquear esses resíduos, o que é essencial
em muitos processos biológicos. Em certas ocasiões, esse simples bloqueio
consegue produzir modificações estruturais e conformacionais muito importantes
(TOMA, 2015). Esse é um dos exemplos que sugere que muitos problemas
básicos, associados à toxicidade dos elementos metálicos, podem ser tratados
e compreendidos, mediando o emprego de ideias simples, como a comparação
das constantes do produto de solubilidade e o conhecimento de constantes de
estabilidade de complexos, das relações de tamanho, dos efeitos ácido-base, das
características de polarização e dos conhecimentos termodinâmicos e cinéticos
(BARÁN, 1995).

Outro problema importante é que, como os elementos essenciais, também,


os tóxicos têm uma determinada rota de absorção e de incorporação nos
organismos, a qual, eventualmente, é alguma das utilizadas pelos elementos
essenciais, porém, de todas as maneiras, deve-se conhecê-la para poder,
eventualmente, bloquear de forma eficiente.

Acadêmico, agora, para finalizarmos, conheceremos algumas características


dos metais tóxicos.

6.1 MERCÚRIO
O mercúrio fica, em terceiro lugar, pela Agência do Governo dos Estados
Unidos para Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças, nos elementos ou
substâncias mais tóxicas do planeta, arsênio e chumbo, que continua a ser
despejado nos nossos cursos de água e solo, derramado na nossa atmosfera e
consumido nos nossos alimentos e água. As atividades humanas quase triplicaram

175
Fundamentos da Química Inorgânica

a quantidade de mercúrio na atmosfera e a carga atmosférica está aumentando


1,5 por cento ao ano. O solo contaminado por mercúrio ou a redistribuição de
água contaminada tem o potencial de entrar na cadeia alimentar através das
plantas e do gado (RICE et al., 2014).

O mercúrio é tóxico em qualquer uma das formas, e, por ser altamente móvel,
a toxicidade desse elemento é um problema mundial. Mesmo na forma elementar,
tende a ser mais tóxico do que, normalmente, supõe-se, produzindo doenças
crônicas que afetam, principalmente, aqueles que ainda estão em contato com
ele, como os trabalhadores das indústrias que o utilizam (processos eletrolíticos
com células que utilizam cátodos de mercúrio, fabricação de termômetros etc.), ou
técnicos de laboratório químico. Esses efeitos são, especialmente, importantes,
quando se trabalha em espaços pouco ventilados, causando vários tipos de
distúrbios, todos neurológicos (BARÁN, 1995). A toxicidade do Hg tem relação
com a elevada afinidade desse elemento com grupos que contêm enxofre, como
os tióis (R-SH), presentes na cisteína, um aminoácido essencial. A constante
de estabilidade dos complexos de Hg com tióis é superior a 1016, o que torna a
eliminação muito difícil. Por isso, o tempo de permanência do Hg no organismo
é muito longo, sendo necessários cerca de 70 dias para a eliminação da metade
da quantidade existente. Na forma iônica usual, Hg2+ [exemplo: Hg(NO3)2], ele é,
imediatamente, tóxico, já que essa espécie é, facilmente, solúvel em pH 7, e não
forma compostos insolúveis com aqueles ânions que são abundantes nos fluidos
do corpo (KAIM; SCHWEDERSKI; KLEIN, 2013).

Relato histórico: Imperador Qin Shi Huang Di (260 a.C. a 210


a.C.) e fatos notáveis (exuberância da Muralha da China e grande
exército de terracota). Ele ingeria poções de mercúrio, preparadas
pelos médicos e alquimistas em busca da imortalidade. Tumba
inviolável (repleta de Hg).

FONTE: <http://www.labcat.unb.br/images/PDF/Aulas/TQIAtual/
Bioinorgnica_3_-_Toxicologia.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

176
Capítulo 3 química bioinorgânica

6.2 CHUMBO: BASE INORGÂNICA


DOS EFEITOS TÓXICOS
Esse metal é conhecido há mais de 5.000 anos, e os efeitos tóxicos dele já
foram apontados por gregos, árabes e romanos. Principalmente, durante o Império
Romano, devem ter marcado presença envenenamentos contínuos, devido ao
uso intensivo de jarros e de muitos outros instrumentos de chumbo. Além disso,
muitos pintores, incluindo Goya, sofreram envenenamento, devido ao contato
contínuo com tintas baseadas nesse metal. O ar das grandes cidades tem sido,
cada vez mais, poluído, pela combustão da gasolina, contendo chumbo tetraetila
como antidetonante. A crescente redução do uso desse aditivo, em muitos países,
já mostra efeitos positivos nesse sentido.

O Pb (II) tem tendência para se ligar a grupos SH, embora não tão fortemente
quanto o mercúrio. Por outro lado, interfere em, praticamente, todas as etapas
da síntese das ferroporfirinas. Em particular, afeta o ácido o-aminolevulínico
desidratase, que controla um dos estágios principais na formação do anel
porfirínico, e a ferrocelatase, que catalisa a incorporação de Fe (II) na porfina
(BARÁN, 1995).

Um método medieval para “melhorar” vinhos de baixa qualidade


(frutas ácidas), no Império Romano, era evaporá-los em recipientes
com revestimento de chumbo para obter os xapores.

Concentrações nas soluções ácidas dos vasilhames: 15-30 mg


Pb L-1 = envenenamento crônico.

Contramedida: Consumo de manteiga. Limite atual: 500 g/dia.

FONTE: <http://www.labcat.unb.br/images/PDF/Aulas/TQIAtual/
Bioinorgnica_3_-_Toxicologia.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

177
Fundamentos da Química Inorgânica

6.3 CÁDMIO
O cádmio é um metal pesado, altamente reativo, com efeito acumulativo
no organismo, principalmente, nos rins, no fígado e nos pulmões, provocando o
aparecimento de patologias diversas. Não possui nenhuma ação essencial aos
processos biológicos, sendo que a intoxicação ocorre através da inalação e da
ingestão (MURTA et al., 1997 apud FILHO, 2011).

Na sua forma catiônica normal, como Cádmio (II), esse elemento apresenta
forte analogia com os elementos essenciais Zn(II) e Ca(II), e, de alguma maneira,
as analogias dão conta dos principais efeitos tóxicos. Apresenta configuração
eletrônica d10. Por um lado, consegue deslocar o Zn2+ de alguns dos sítios ativos,
e, por outro, compete com o cálcio em certos sistemas biológicos. Ainda, pode
ser incorporado ao osso, ocupando os sítios de cálcio nas apatitas biológicas. Por
fim, o Cd2+ lembra o Hg2+ na capacidade de se ligar a grupos –SH de cisteínas,
formando complexos estáveis (BARÁN, 1995).

O Cádmio é capaz de entrar no organismo por via respiratória ou por meio


dos alimentos. O envenenamento por Cd2+ provoca um grande mal-estar, seguido
de diarreia e de dores abdominais. Depois, o elemento se acumula nos rins e no
fígado, comprometendo, gravemente, o estado de saúde (KAIM; SCHWEDERSKI;
KLEIN, 2013).

FIGURA 22 – (A) ARRANJO TÍPICO DE CISTEÍNA NA SEQUÊNCIA DE AMINOÁCIDOS


DE METALOPROTEÍNAS DE MAMÍFEROS; (B) LIGAÇÃO DE DOZE TERMINAIS E
OITO RESÍDUOS DE CISTEÍNA EM PONTE A UM TOTAL DE SETE CENTROS DE CD;
(C) SÍTIO ATIVO RESULTANTE (CD, S, CLUSTER) DA METALOPROTEÍNA DE RATO

FONTE: O autor
178
Capítulo 3 química bioinorgânica

1950 (Japão): Doença de Itai-Itai: Osteoporose em mulheres


mais idosas pelo uso de águas de irrigação (contendo compostos de
Cd) em campos de arroz. Nessa região, havia uma mina de zinco
desativada, e o cádmio é, sempre, um dos elementos presentes
nesse tipo de mina. A água da mina foi usada para irrigar as
plantações de arroz, provocando intoxicação crônica na população.

Usos do Cd: baterias de Ni/Cd, pigmentos coloridos (CdS e


CdSe), estabilizantes para plásticos e tratamento de superfícies
metálicas.

Fontes de Cd: fígado e rins de animais abatidos, cogumelos.

FONTE: <http://www.labcat.unb.br/images/PDF/Aulas/TQIAtual/
Bioinorgnica_3_-_Toxicologia.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2021.

6.4 TÁLIO
Assim, como o Cádmio compete, essencialmente, com o zinco e o cálcio,
o tálio, na sua forma mais estável, como Tl(I), compete com outro bioelemento
essencial, o K(I). Tem uma certa tendência a se ligar a resíduos sulfurados. Ambos
os aspectos são compatíveis com o comportamento químico geral, o que o torna
simular ao K(I) e à prata (Ag (I).

Os efeitos tóxicos mais conhecidos são do tipo neurológico, iniciados por


paralisias progressivas, sendo típicas as gastroenterites e a queda de cabelo nas
intoxicações crônicas. Devido à analogia com o potássio, é igual a ele, podendo
chegar a quase todos os lugares do organismo e, dessa maneira, bloquear
sistemas enzimáticos dependentes do potássio. É capaz de afetar o metabolismo
do piruvato, essencial para o sistema bioenergético das células nervosas (BARÁN,
1995).

179
Fundamentos da Química Inorgânica

Ao contrário do que se espera da conhecida toxicidade, o


monóxido de carbono é uma das pequenas moléculas mais essenciais
da natureza. Mesmo em níveis atmosféricos (0,05 - 0,35 ppm), o
CO é eliminado por uma ampla gama de organismos microbianos,
para os quais fornece uma fonte de carbono para o crescimento e
um “combustível” para a energia (CO é um agente redutor mais forte
do que H2). Duas enzimas incomuns, conhecidas como monóxido
de carbono desidrogenases, catalisam a rápida oxidação de CO em
CO2. Aeróbios usam uma enzima que contém um grupo incomum de
Mo-pterina.

COFATOR MO-PTERINA DAS CO-DESIDROGENASES ENCONTRADAS EM AERÓBIOS

FONTE: Adaptada de Atkins et al. (2010)

Um ligante de sulfido, no átomo de Mo, é compartilhado com um átomo de Cu


(Cobre), o qual é coordenado com um outro ligante, uma cisteína-S, completando
o arranjo linear, que é muito comum para Cu (I). Um possível mecanismo para a
formação de CO2 envolve um dos grupos oxo de Mo (Molibdênio) (VI), atacando
o átomo C (carbono) de um CO, que é coordenado a Cu (I). Em contraste, certos
anaeróbios com a capacidade única de viver de CO, como única fonte de energia
e carbono, usam uma enzima que contém um aglomerado incomum [Ni4Fe-5S].
Estudos de difração de raios-X, em cristais da enzima Ni (níquel), incubados
na presença de HCO3, em diferentes potenciais, revelaram a estrutura de um
intermediário, mostrando CO2 coordenado por Ni e Fe.

180
Capítulo 3 química bioinorgânica

ESTRUTURA DE UM INTERMEDIÁRIO MOSTRANDO CO2 COORDENADO POR NI E FE

FONTE: Atkins et al. (2010)

Esse intermediário suporta um mecanismo no qual, durante a conversão de


CO em CO2, CO se liga ao sítio Ni (que é Ni quadrado-planar (II)), e o átomo
C é atacado por um íon OH que foi coordenado ao átomo de Fe pendente. O
monóxido de carbono é transportado, em mamíferos, pela hemoglobina, e se
estima que cerca de 0,6 por cento da hemoglobina total de um ser humano normal
está na forma carbonilada. O CO livre é produzido pela ação da hemoxigenase,
uma enzima do tipo P450 que catalisa a primeira etapa da degradação do heme.
Além de liberar Fe e CO, a decomposição do heme produz biliverdina e bilirrubina,
os familiares pigmentos verdes e amarelos responsáveis ​​pelo aparecimento de
hematomas. O monóxido de carbono (CO) parece ser um agente de sinalização
celular e, em pequenas quantidades, tem importantes efeitos terapêuticos,
incluindo supressão da hipertensão (pressão alta) e proteção contra a rejeição de
tecidos após um transplante de órgãos. Portanto, há um interesse considerável
no desenvolvimento de agentes farmacêuticos, como o complexo solúvel em
água [Ru (CO) 3Cl (glicinato)], para liberar CO lentamente e complementar a ação
da heme oxigenasse (ATKINS et al., 2010).

181
Fundamentos da Química Inorgânica

1 - Uma característica dos metais que os torna tão importantes


como componentes (funcionais e estruturais) dos seres vivos é
a propensão que têm em perder elétrons facilmente, formando
íons com cargas positivas, que tendem a ser solúveis em fluidos
biológicos.

FONTE: <https://doi.org/10.1590/S0100-40422007000800045>.
Acesso em: 24 abr. 2021. 

Com relação à importância dos metais ao sistema biológico,


analise a seguinte afirmativa:

“Sua importância biológica reside na variedade de funções que


os compostos desempenham, por exemplo, no transporte de
elétrons em plantas e em animais, no transporte de oxigênio
no sangue de mamíferos e no armazenamento de oxigênio,
denominado de mioglobina”.

Essas propriedades se referem ao seguinte metal:

a) Cobalto.
b) Níquel.
c) Zinco.
d) Ferro.

2-
O cobre é o vigésimo quinto elemento mais abundante na
crosta terrestre. É o terceiro metal mais abundante no corpo
humano, logo depois do ferro e do zinco. O ser humano adulto,
normalmente, tem cerca de 100-110 mg de Cu. As concentrações
mais altas são encontradas no fígado, no rim, no coração e no
cérebro. Acerca desse metal, analise as afirmativas a seguir:

I- É o único metal da segunda série dos elementos de transição,


definitivamente, reconhecido como essencial para os seres vivos.
II- É essencial para manter a resistência da pele, dos vasos
sanguíneos e dos tecidos epitelial e conjuntivo em todo o corpo.
III- Tem um papel importante na produção de hemoglobina, mielina,
melanina e mantém a glândula tireoide funcionando normalmente.
IV- O cobre também está associado a sistemas e a processos
que envolvem a utilização do oxigênio por parte dos sistemas

182
Capítulo 3 química bioinorgânica

biológicos, aparecendo, no transportador de oxigênio, a


hemocianina, também presente em sistemas transportadores de
elétrons.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
b) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
c) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.

3 - Carla e André são sadios, mas têm um filho, Thiago, cuja


aparência é surpreendente, com p cabelo despigmentado e
eriçado. Infelizmente, essa não é a única anormalidade. Thiago
apresenta, ainda, atraso do desenvolvimento, degeneração
encefálica, anomalias arteriais e curvatura dos ossos longos das
pernas. Carla ficou intrigada com o médico do filho, que retirou
amostras do cabelo dela e do cabelo do menino, para enviar a
um laboratório, para exames. Quando os resultados vieram, as
suspeitas do médico se confirmaram. Thiago possui:

a) Doença de Tay-Sachs.
b) Doença de Menkes.
c) Síndrome de Lesch-Nyhan.
d) Doença de armazenamento de glicogênio.

4 - Dentre as diversas substâncias presentes no nosso organismo,


estão as metaloproteínas, que são proteínas que contêm um
ou mais íons metálicos na estrutura. O metal de transição mais
encontrado nesse tipo de substância é o ferro. Acerca desse
elemento, são feitas as seguintes afirmativas:

I- Pode ocorrer em diferentes estados de oxidação (variando de -2 a


+6).
II- Os principais estados de oxidação no meio biológico são Fe+2 e
Fe+3.
III- O potencial redox do par Fe+2 e Fe+3 é muito variável, e pode ser,
facilmente, modulado pelo ambiente no qual ele se encontra
inserido.
IV- O Fe3+ é um ácido duro que prefere ligantes oxigenados, como
carboxilatos e fenolatos. Os compostos são solúveis em água.
Já o Fe+2 tem um caráter ácido macio, e costuma se prender a
ligantes, como imidazóis e pirróis, ou ligantes contendo enxofre.
Forma compostos extremamente insolúveis em água.

183
Fundamentos da Química Inorgânica

Assinale a alternativa CORRETA:


a) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
b) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
c) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.

5 - Os metais pesados são elementos químicos que, em maior


ou menor medida, formam parte da estrutura de tudo que nos
rodeia, desde a crosta terrestre até o nosso organismo. Acerca
da toxicologia desses metais, analise as afirmativas a seguir:

I- O chumbo e o cádmio são encontrados em baterias de carros.


II- Os efeitos tóxicos do tálio mais conhecidos são do tipo
neurológico, iniciados por paralisias progressivas, sendo típicas
as gastroenterites e a queda de cabelo nas intoxicações crônicas.
III- O cádmio é altamente reativo, com efeito acumulativo no
organismo, principalmente, nos rins, no fígado e nos pulmões.
Não possui nenhuma ação essencial aos processos biológicos,
sendo que a intoxicação ocorre através da inalação e da ingestão.
IV- O chumbo não atravessa a barreira hematoplacentária, de modo
a expor risco somente a uma gestante.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
b) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
c) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Como nós vimos neste capítulo, a química bioinorgânica estuda os metais
em sistemas biológicos. O campo da bioinorgânica inclui pesquisas acerca da
absorção de metais pelos organismos, do controle das concentrações de íons
metálicos, do papel dos metais na manutenção da estrutura das proteínas, das
reações de transferência de elétrons de metaloproteínas, e assim por diante.

Os processos biológicos dependentes de íons metálicos variam,


enormemente, em função e complexidade. Por exemplo, do ponto de vista
bioquímico, potássio, magnésio, ferro, cobalto, cobre, molibdênio e zinco não são

184
Capítulo 3 química bioinorgânica

apenas catalisadores importantes de reações enzimáticas, mas, também, existem


sistemas proteicos envolvidos no armazenamento, no controle da quantidade, no
transporte e na incorporação nos respectivos sistemas enzimáticos dos referidos
metais.

Os metais desempenham um papel vital nas fisiologias humana e vegetal,


e pesquisas importantes são direcionadas para explorar os mecanismos inter-
relacionados que governam as interações com as biomoléculas. A química
medicinal bioinorgânica estuda as funções, o processamento, o armazenamento e
as aplicações de íons metálicos e dos complexos em sistemas biológicos. Assim,
neste capítulo, apresentamos uma breve discussão a respeito das interações
de metais com biomoléculas, as quais determinam o acúmulo intracelular. Íons
metálicos podem cumprir funções essenciais no metabolismo celular ou, em
certos casos, exercer efeitos tóxicos sobre as células.

REFERÊNCIAS
ATKINS, P. W.; OVERTON, T. L.; ROURKE, J. P.; WELLER, M. T.; ARMSTRONG,
F. A. Shriver and Atkins' inorganic chemistry. New York, 2010.

BARÁN, E. J. Química bioinorgánica. 1995. Disponível em: https://doku.pub/


download/quimica-bioinorganica-baran-nl2p9zd7km08. Acesso em: 24 abr. 2021.

BARAN, H. Suplementação de elementos traços. 2005. Disponível em: http://


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