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Conhecimento e

Metodologia do
Ensino dos Edson
Castardeli
Cast

Universidade Aberta do Brasil Curso


Educação Física
Universidade Federal do Espírito Santo Licenciatura
N este fascículo, consideraremos as ques-
tões intrínsecas dos desportos individuais
em seus aspectos emocional, físico e educa-
cional, e também suas particularidades em
relação aos esportes coletivos.
Ponderaremos as concepções das práxis peda-
gógicas envolvidas no ensino-aprendizado dos
esportes individuais, assim com suas meto-
dologias (global e parcial) e as técnicas de
ensino, como a demonstração (ideal ou lenta)
ou mesmo filmagem.
Ressaltaremos, principalmente, o legado dos
esportes individuais para os educandos na
disciplina Educação Física Escolar, especial-
mente, no que se refere à sua formação global
e ao exercício da cidadania, pois, quando o
educando tem a oportunidade de vivenciar
alguma modalidade desportiva individual na
escola, ele poderá desenvolver o prazer de sua
prática e, por consequência, cultivar o hábito
dessa prática na comunidade onde vive.
UNIVERSIDADE F EDER AL DO ESPÍR I TO SAN TO
Núcleo de Educação Aberta e a Distância

Conhecimento e
Metodologia do
Ensino dos

Edson Castardeli

Vitória
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

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(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
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José Otávio Lobo Name
Letícia Pedruzzi Fonseca Castardeli, Edson.
Ricardo Esteves C346e Conhecimento e metodologia do ensino dos esportes individuais
/ Edson Castardeli. - Vitória : Universidade Federal do Espírito Santo,
Gerência Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2012.
Daniel Dutra 28 p. : il.

Editoração Inclui bibliografia.


Thaís André Imbroisi ISBN:

Capa e Iustração 1. Esportes individuais. I. Título.


Ricardo Capucho
CDU: 796.081
Impressão
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realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil.
sumário
Apresentação...................................................................... 04

1 • Introdução ................................................................... 05
Aspectos Globais da Prática Desportiva
Aspecto Emocional da Prática Desportiva
Aspectos Físicos da Prática Desportiva
Aspecto Educacional da Prática Desportiva

2 • Os Esportes .................................................................. 12
Esportes Individuais

3 • Concepção Pedagógica ............................................ 17

4 • Concepção Metodológica ........................................ 19


Método Analítico-Sintético
Método Global-Funcional
Método Misto
Técnicas de Ensino

5 • Esportes Individuais na Escola ............................... 24

Considerações Finais ...................................................... 26


Agradecimento................................................................... 26
Referências Bibliográficas .............................................. 27

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais 3


apresentação
Existe um aparente paradoxo na prática de vivências com favor de sua transformação. O mesmo deverá ocorrer com
esportes individuais na escola, pois a escola se mostra as demais disciplinas oferecidas no currículo nacional, a sa-
como um espaço coletivo. Então responda: por que você ber, Português, Matemática, Ciência, Geografia etc.
incluiria ou inclui os esportes individuais, como conteúdo, Para reforçar a necessidade da importância do caráter
em suas aulas de Educação Física Escolar? Em qual ciclo educacional dos esportes na instituição escolar, podería-
escolar os esportes seriam mais bem aproveitados pelo mos destacar, entre os vários benefícios ao educando, a
educando? E, principalmente, como você vivenciaria os contribuição aos fatores intrínsecos da personalidade
esportes na escola? É evidente que as respostas a essas humana. Muitos teóricos têm tentado definir personali-
perguntas poderiam ser das mais variadas. Porém, inicial- dade (WEINBERG; GOULD, 2001), e eles concordam com
mente, ater-me-ei a apenas dois eixos temáticos para res- uma descrição: singularidade. Basicamente, personalidade
ponder. O primeiro eixo é da formação da personalidade refere-se às características – ou à combinação de carac-
e o segundo eixo é da formação global dos estudantes, terísticas – que tornam uma pessoa única.
entendendo que, para as discussões didáticas, é possível Com a utilização dos esportes nas aulas de Educação
fazê-las em separado, porém essas duas dimensões fazem Física Escolar, temos a oportunidade de trabalhar com vári-
parte do mesmo processo de intervenção. os fatores de formação do educando, inclusive os fatores
Para tanto, a proposta de fascículo é ressaltar a im- intrínsecos1 e extrínsecos2 da personalidade humana e,
portância do caráter educacional dos esportes individuais dessa forma, participar efetivamente da educação/forma-
na instituição escolar. A Educação Física, como compo- ção global das crianças e adolescentes, conferindo, assim,
nente curricular obrigatório, atende aos mesmos precei- subsídios essenciais para seu pleno exercício de cidadania.
tos de educação que, segundo alguns autores, a colocam
como um fenômeno social pelo qual uma sociedade trans- Prof. Dr. Edson Castardeli
mite o seu patrimônio cultural e suas experiências de uma
geração mais velha para uma mais nova, garantindo assim
sua continuidade histórica (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1996). 1) Fatores intrínsecos da personalidade são aspectos
Porém, educação vai além de simples transferências de internos do indivíduo, que lhe são próprios, interiores,
conhecimentos previamente adquiridos. íntimos, por exemplo, autoconfiança, autoestima e/ou
De acordo com Freire (1996, p. 47), ensinar não é trans- qualquer outro fator de agente interno do indivíduo.
ferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
apropriação, a sua produção ou a sua construção. Assim 2) Fatores extrínsecos da personalidade são fatores
como, também, complementado por Ventorim (1999), a edu- externos ao indivíduo, como influência dos amigos
cação problematizadora, definida por Freire, nega o caráter ou do professor e/ou qualquer outro fator de agente
reprodutor e por isso propõe a qualificação para a percepção externo não pertencente à essência de uma pessoa.
crítica dos dados da realidade e a consequente atuação em

4  Edson Casterdeli
1 Introdução
Aspectos Globais da Prática Desportiva 1) Disponível em: http://www.edu-
cacenso.mec.inep.gov.br/web/guest/
basica-censo-escolar-sinopse-sinopse.
Em sua opinião, por que é importante discutirmos a prática desportiva no Acesso em: 21 jun. 2011.
espaço escolar? Você já parou para se perguntar quantos estudantes prati-
cam esportes nas aulas de Educação Física Escolar? Uma estimativa, do úl-
timo censo escolar feito em 2009, aponta mais de 40 milhões de estudantes
que estão regularmente matriculados no ensino fundamental e médio, no
Brasil. No Estado do Espírito Santo, essa estimativa é de mais de 680 mil
estudantes regularmente matriculados para a mesma modalidade de ensino
(BRASIL, 2011)1. Isso significa que milhões de meninos e meninas praticam
atividades esportivas organizadas a cada ano no Brasil, nas aulas de Educa-
ção Física. Uma das sugestões norteadoras de conteúdos a serem trabalha-
dos na elaboração das aulas de Educação Física Escolar é o esporte (BRASIL,
1998). Encontramos, na literatura especializada na área da Educação Física,
ao longo das décadas, a utilização dos esportes na Educação Física Escolar
(SCHNEIDER, 2010).

Quais são os benefícios dessa prática desportiva na escola? Por que você
incluiria ou inclui os esportes, como conteúdo, em suas aulas de Educa-
ção Física Escolar? As respostas a essas perguntas poderiam contemplar
diversos eixos temáticos diferentes. Entendemos que existem outros eixos
cabíveis para a elaboração dessas respostas, porém, sem pretensão de esgo-
tar o tema das vivências dos esportes nas aulas de Educação Física Escolar,
responderemos, em parte, a essas perguntas, levando em consideração o
eixo educacional com ênfase no desenvolvimento global do estudante.

Sugestão de Leitura

CAPARROZ. Entre a educação física na escola e a educação física da escola.


Campinas, SP: Autores Associados, 1997.

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais 5


2) Inserção do educando no sentido Nesse eixo, estão implícitos os aspectos globais dos estudantes, a saber, os
de arraigar-se, entranhar-se em
aspectos cognitivos, afetivos, motores e sociais. No aspecto motor, os es-
sua comunidade.
portes conferem qualidades físicas básicas, como coordenação, equilíbrio,
agilidade e ritmo. O aspecto afetivo é o momento em que o estudante tem a
oportunidade extravasar suas alegrias ou suas frustrações. Já nos aspectos
cognitivos e sociais, poderíamos ressaltar o desenvolvimento do raciocínio
ou a integração social dos estudantes.

Os esportes vivenciados na instituição escolar atendem aos objetivos inte-


gradores dos quatro aspectos citados acima (afetivo, motor, cognitivo e so-
cial) de maneira a contribuir com a formação global do estudante. Vem bem
a calhar uma das afirmações de Listello em relação ao papel educacional da
Educação Física: “A Educação Física deve ser considerada fundamental num
quadro da educação geral, razão por que estamos empenhados em ressaltar
este assunto” (1979, p. 4).

Dessa maneira, a prática desportiva na escola poderá contribuir para me-


lhorar a possibilidade de inserção2 do estudante na comunidade em que vive,
de modo que ele possa exercer sua cidadania da forma mais plena possível.

Aspecto Emocional
da Prática Desportiva
Quais são os benefícios emocionais da prática desportiva? Pesquisadores
postulam que o domínio dos esportes é importante no contexto do desen-
volvimento da personalidade, porque promove ajustes positivos em pro-
porcionar oportunidades para se aprender a controlar as emoções, apri-
morar relações e construir relacionamentos com seus pares (LARSON, 2000;
SMITH, 2003).

A formação da personalidade do estudante é parte integrante da sua for-


mação global. Sem a pretensão de indicar a prática esportiva como único
caminho formador, entendemos que existem vários outros eixos temáticos
cabíveis na discussão da formação global do estudante, porém abordare-
mos, de forma preliminar, apenas a formação da personalidade do estu-
dante. Para isso, transcrevemos, a seguir, uma abordagem sobre conceitos
de personalidade extraída da obra Fundamentos da psicologia do esporte e
do exercício, de weinberg e Gould (2001, p. 50):

6  Edson Casterdeli
Uma das melhores maneiras de entender a personalidade é por
meio de sua estrutura. Pense personalidade dividindo-a em três
níveis separados, porém relacionados: um núcleo psicológico, re-
spostas típicas e comportamento relacionado ao desempenho de
papeis (Figura 1).

Ambiente Social Ambiente Social

Din
no
er

âm
Ext

Com. relac. ao
ico
desempenho de papéis

Respostas típicas
o

Con
ern

sta
Int

Núcleo psicológico
nte

Figura 1 – Uma visão esquemática da estrutura da personalidade


Fonte: adaptado de Martens, 1975b (WEINBERG; GOULD, 2001, p. 51).

Esses três níveis da estrutura da personalidade interagem entre si, porém


serão apresentados separados, para melhor compreensão didática.

Núcleo psicológico é o nível mais básico da personalidade. Sendo o


componente mais profundo, ele inclui suas atitudes e valores, seus
interesses e motivações e suas crenças sobre você mesmo e seu va-
lor. Basicamente, o núcleo psicológico representa a peça central de
sua personalidade e é o ‘eu real’, não quem você quer que os outros
pensem que você é (WEINBERG; GOULD, 2001, p. 50).

O núcleo apresenta-se como a parte mais estável da personalidade do


indivíduo.

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais  7


Respostas típicas são as formas como cada um de nós aprende a
ajustar-se ao ambiente ou como geralmente respondemos ao mun-
do à nossa volta. Por exemplo, você pode ser otimista, tímido e equi-
librado. Freqüentemente suas respostas típicas são bons indicadores
de seu núcleo psicológico (WEINBERG; GOULD, 2001, p. 50).

Esses ajustes feitos pelo indivíduo ao meio em que vive, ou seja, as res-
postas típicas podem ser aperfeiçoadas, pois são menos estáveis quando
comparadas com o núcleo psicológico.

Comportamento relacionado ao desempenho de papéis é a forma


que você age baseado em como você percebe sua situação social.
Esse comportamento é o aspecto mais variável da personalidade:
seu comportamento mudará à medida que mudarem suas perspec-
tivas do ambiente. Situações diferentes requerem o desempenho
de diferentes papéis. Você pode, no mesmo dia, desempenhar os
papéis de aluno de uma universidade, técnico de um time infantil,
funcionário e amigo. Provavelmente você se comportará de forma
diferente em cada uma dessas situações (WEINBERG; GOULD,
2001, p. 51).

No caso, o comportamento relacionado com o desempenho de papéis é o


componente mais sujeito a alterações, portanto menos estável em relação
aos dois anteriores.

Os três níveis de personalidade abrangem um continuum de com-


portamento internamente induzidos a externamente induzidos.
Para simplificar, compare seus níveis de personalidade a um bom-
bom de cereja coberto de chocolate. Todos vêem o invólucro (com-
portamento relacionado ao desempenho de papéis), aqueles que se
dão ao trabalho de retirar o invólucro vêem a camada de chocolate
(respostas típicas) e apenas as pessoas interessadas ou suficiente-
mente motivadas a morder o bombom vêem a cereja do centro (nú-
cleo psicológico) (WEINBERG; GOULD, 2001, p. 51).

Como professores de Educação Física Escolar, nós participamos efetiva-


mente da formação da personalidade de nossos estudantes e, uma vez
mais, temos que ressaltar a importância de inserirmos os esportes em nos-
sas aulas, sem perder o foco educacional e formador com que os esportes
merecem ser trabalhados nas escolas.

8  Edson Casterdeli
Aspectos Físicos da Prática Desportiva 3) O esporte citado aqui se entende
como, o praticado de maneira
voluntária e com o intuito de
Você já teve a oportunidade de fazer pesquisa a respeito dos benefícios de promoção da saúde (lei no 9.615,
alguma prática desportiva? Você verá que, com breve busca em base de cap. III, art. 3o, II).

dados, encontrará inúmeros autores pontuando os benefícios dos esportes3


para o desenvolvimento físico. Os esportes que apresentam atividades de
resistência em sua execução são considerados um componente intrínseco
de qualquer tentativa de construir a força, promover a hipertrofia muscular
e compensar mudanças relacionadas com a idade na composição corporal,
força e capacidade funcional (HENWOOD, 2006; HAZELL, 2007).

Sugestão de Pesquisa

Tente você mesmo na base de dados da Scirus. www.scirus.com

Estudos transversais compararam as medições de densidade mineral óssea


em participantes de esportes com diferentes características de carga. Os
resultados dessas investigações indicaram que esportes de força e com im-
pactos são mais benéficos no aumento da massa óssea (FEHLING, 1995; LEE,
1995; HEINRICH, 1990; HEINONEN, 1995). Pesquisas sobre os benefícios da
prática desportiva para a saúde cardiovascular e metabólica são extensas e
bem documentadas (SCHEUER, 1973; LIBONATI et al., 2005). Portanto, estão
bem estabelecidos os benefícios físicos atribuídos à prática desportiva.

Aspecto Educacional
da Prática Desportiva
Em sua opinião, quais são as contribuições dos esportes nas instituições
de ensino? No ensino básico, a prática desportiva transcende o aspecto
desenvolvimentista, a saber, o desenvolvimento global do estudante, de sua
personalidade e de seu físico.

A partir do momento em que nós entendermos que a disciplina Educação


Física atende aos mesmos objetivos educacionais que as demais disciplinas
oferecidas no currículo nacional, ou seja, Português, Matemática, Ciência,
História, Geografia, Artes e Língua Estrangeira, não iremos simplesmente
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para que o estudante
se aproprie, produza e construa o seu próprio conhecimento (FREIRE, 1996).

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais  9


Entretanto, obviamente cada disciplina curricular apresenta saberes especí-
ficos, por exemplo, a Matemática com o raciocínio lógico e suas expressões
numéricas, como a Educação Física com seus saberes de domínios com: os
esportes, jogos, lutas, ginásticas, atividades rítmicas e expressivas. Porém,
independentemente dos saberes das disciplinas curriculares nacionais, os
seus objetivos são educacionais.

Na disciplina de Educação Física existe a possibilidade de construção


de metodologia de ensino singular em face às disciplinas supracitadas,
favorecendo em muito o desenvolvimento pleno do educando (BETTI, 2002).
Assim, os esportes vivenciados na instituição escolar atendem aos objetivos
integradores dos quatro aspectos citados acima (cognitivo, afetivo, motor
e social) de maneira a contribuir com a formação global do estudante e, na
expectativa de que essa formação venha servir para melhorar a possibili-
dade de inserção do estudante na comunidade em que vive, de modo que
ele possa exercer sua cidadania da forma mais plena possível.

Sugestão de Leitura

Educação Física Escolar: Uma Proposta de Diretrizes Pedagógicas.


Disponível em: <http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/remef/
article/viewFile/1364/1067>.

Como salientam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL,


2001), a Educação Física precisa buscar sua identidade como área de estudo
fundamental para a compreensão e entendimento do ser humano, como
produtor de cultura. Tendo como base o próprio estudante também como
produtor de cultura, então, ele é sujeito ativo na ação da prática desportiva,
participando da sua execução, assim como da sua elaboração.

Lembrando que o exercício mais pleno possível de cidadania no âmbito des-


portivo compreende desde o entendimento do esporte, por parte do estu-
dante, para que possa assistir a uma determinada modalidade desportiva,
por exemplo, uma partida de tênis, quando transmitido pela mídia, até sua
participação em simples comentários com amigos e debates realizados em
suportes eletrônicos, como comunidades e grupos, a respeito de tal evento.

Portanto, para que o esporte tenha essa abrangência, será necessário vê-lo
como uma “Ferramenta de Ensino”, entendendo que ele atentará à educa-
ção global dos estudantes, assim como as demais disciplinas do currículo
escolar nacional.

10  Edson Casterdeli


Dessa forma, proporcionaremos aos estudantes maior possibilidade de
êxito no desenvolvimento de sua própria cultura corporal de movimento,
diversificando-a. Em consonância com as considerações apresentadas,
podemos afirmar que é possível incluir os esportes da escola, não pura e
simplesmente os esportes na escola em nossas aulas de Educação Física!

Sugestão de Leitura

BRACHT. Educação física e aprendizagem social.


Porto Alegre, RS: Magister, 1992.

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais  11


2 Os Esportes
O que é esporte? Como você definiria esporte? A definição do que é esporte
se apresenta bem complexa; para os sociólogos do esporte uma definição
bem-aceita diz:

[...] é uma atividade competitiva, institucionalizada, que envolve


esforço físico vigoroso ou o uso de habilidades motoras relativa-
mente complexas, por indivíduos cuja participação é motivada pela
combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos (BARBANTI, 2003,
p. 228).

Ainda da natureza e das finalidades do esporte, temos: a Lei nº 9.615, de


24 de março de 1998, no capítulo III, art. 3o, traz que o desporto pode ser
reconhecido em qualquer das seguintes manifestações:

I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em


formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade,
a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de
alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação
para o exercício da cidadania e a prática do lazer;

II - desporto de participação, de modo voluntário, compreen-


dendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de
contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida
social, na promoção da saúde e educação e na preservação do
meio ambiente;

III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais


desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais,
com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comuni-
dades do País e estas com as de outras nações.

12 Edson Casterdeli
Contudo, há referências que essa divisão ocorreu em período anterior. 4) Os PCNs se encontram
disponíveis no site do Ministério da
De acordo com Tubino (2010, p. 27):
Educação: http://portal.mec.gov.br/
index.php?option=com_content&vi
O Manifesto do Esporte (1968), do Conseil Internationale ew=article&id=12657%3Aparametr
os-curriculares-nacionais-5o-a-8o-
d’Education Physique et Sport (CIEPS), assinado pelo Prêmio Nobel series&catid=195%3Aseb-educacao-
da Paz Noel Baker, no qual, pela primeira vez, foi defendido que o basica&Itemid=859

esporte não era somente rendimento, mas que existia um esporte


na escola e um esporte do homem comum.

Valendo-nos de alguns documentos de sugestões norteadoras de âmbito


federal para a educação básica, transcrevemos a seguir extratos dos Parâ-
metros Curriculares Nacionais4, onde se encontram sugestões orientadoras
de conteúdos a serem trabalhados na elaboração das aulas de Educação
Física Escolar, entre as quais destacamos os esportes.

Blocos de Conteúdo
Os conteúdos estão organizados em três blocos, que deverão ser
desenvolvidos ao longo de todo o ensino fundamental, embora no
presente documento, sejam especificados apenas os conteúdos dos
dois primeiros ciclos.

Essa organização tem a função de evidenciar quais são os objetos


de ensino e aprendizagem que estão sendo priorizados, servindo
como subsídio ao trabalho do professor, que deverá distribuir os
conteúdos a serem trabalhados de maneira equilibrada e ade-
quada. Assim, não se trata de uma estrutura estática ou inflexível,
mas sim de uma forma de organizar o conjunto de conhecimentos
abordado, segundo os diferentes enfoques que podem ser dados
(BRASIL, 1998, p. 67).

É possível perceber que aos esportes é dada ênfase em um dos blocos de su-
gestões norteadoras de conteúdos. O quadro a seguir mostra a distribuição
de três blocos de sugestões de conteúdos separados, porém esses três blo-
cos constituem um mesmo processo de intervenção, articulando-se entre si,
tendo vários conteúdos em comum, entretanto detêm suas especificidades
intrínsecas, conforme se pode observar no quadro inserido na citação a seguir:

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais  13


5) Ressaltamos que os conteúdos Esportes, jogos, lutas Atividades rítmicas e
norteadores sugeridos para serem e ginásticas expressivas
abordados no Ensino Médio, pelos
PCNs, é o aprofundamento dos Conhecimento sobre o corpo
conhecimentos já trabalhados no
Ensino Fundamental (BRASIL, 2000, p.
33), como os já citados neste Os três blocos articulam-se entre si, têm vários conteúdos em co-
fascículo. Os PCNs para o Ensino mum, mas guardam especificidades. O bloco ‘Conhecimentos sobre o
Médio se encontram disponíveis no
site do Ministério da Educação: corpo’ tem conteúdos que estão incluídos nos demais, mas que tam-
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ bém podem ser abordados e tratados em separado. Os outros dois
pdf/blegais.pdf
guardam características próprias e mais específicas, mas também
têm interseções e fazem articulações entre si (BRASIL, 2001, p. 68).

Ao adotarmos uma das sugestões dos PCNs para conteúdo para elaboração
de nossas aulas de Educação Física Escolar, no caso os esportes, os objetivos
a serem alcançados terão que estar em harmonia com algumas finalidades
do campo educacional, por exemplo, os contidos na Lei de Diretrizes e Bases
(LDB), que é um dos principais documentos norteadores da Educação Básica
Nacional, nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Capítulo II, Seção IV, Do
Ensino Médio5, Art. 35º, que estabelece:

O prosseguimento dos estudos; o preparo para o trabalho e a


cidadania; o desenvolvimento de habilidades como continuar a
aprender e capacidade de se adaptar com flexibilidade às novas
condições de ocupação e aperfeiçoamento; o aprimoramento do
educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento críti-
co; e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando teoria e prática.

Porém, independentemente de definição e natureza do desporto, existe


uma gama extensa de modalidades desportivas, com características es-
pecíficas em cada uma dessas modalidades. Quando se pergunta sobre
modalidades desportivas, qual modalidade vem à sua mente? Em qual ex-
atamente você pensa? Digamos que você tenha pensado em futebol? Ou
atletismo? Entretanto, tanto o futebol como o atletismo são modalidades
desportivas pertencentes a duas categorias distintas de esportes. O fute-
bol insere-se na categoria de esportes coletivos (participação em equipe),
assim como o voleibol, o basquete ou o handebol também pertencem à
mesma categoria, e o atletismo faz parte da categoria de esportes indivi-
duais (participação individual).

14  Edson Casterdeli


Como exemplo, poderíamos citar alguns esportes olímpicos com participa-
ção individual: atletismo, natação, ginástica artística, ginástica rítmica, hi-
pismo, canoagem, ciclismo, esgrima, levantamento de peso, pentatlo mo-
derno, remo, saltos ornamentais, tiro, tiro com arco, trampolim acrobático,
triatlo e vela.

Esportes Individuais
Atividade esportiva quer seja em equipe (coletiva), quer seja individual,
podem ter diferentes implicações para a prática desportiva com crianças.
Muitas vezes variam em termos de feedback, ou seja, a resposta em relação
aos resultados obtidos. Será que estão bem estabelecidos os recordes no
atletismo ou na natação? As atividades com esportes individuais podem
fornecer informações mais claras sobre a capacidade e os padrões de de-
sempenho nos resultados desportivos (ex.: tempo ou distância).

Além disso, nos esportes individuais, os participantes podem ser mais pre-
cisos nos ajustes na atribuição do desempenho ou resultado de suas habi-
lidades, em vez de terem somente, como referência, as capacidades de seus
companheiros de equipe em um dado esporte coletivo (ex.: futebol). Existe
clareza nos resultados obtidos nos esportes individuais em comparação
com esportes coletivos, no que diz respeito ao balisamento do indivíduo em
relação à sua própria prática desportiva (rendimento individual/pessoal).

Podemos citar, como exemplo, o atletismo, que possui bem estabelecidos os


seus recordes, regionais, nacionais ou internacionais. Esses recordes estão
postos em tempos, distâncias ou altura com nitidez e precisão.

Devido a tal nitidez e precisão, o estudante/praticante dos esportes indivi-


duais tem a oportunidade de exercitar sua disciplina, com dedicação, esfor-
ço e empenho, assim como o estudante/participante pussui os elementos
necessários advindos dos esportes individuais, os referencias para acompan-
har sua própria progressão, do antes e do depois, de se engajar na prática
de seu esporte individual preferido. Dessa forma, as vivências dos esportes
individuais em relação ao conteúdo das aulas de Educação Física Escolar
favorecem a formação da personalidade e indentidade dos estudantes.

Em consonância com o contexto histórico, citamos, a seguir, algumas


análises realizadas por Betti (2002, p. 73) sobre Educação Física Escolar.

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais  15


Para o autor a

Educação física é uma expressão que surge no século XVIII, em


obras de filósofos preocupados com a educação. A formação da
criança e do jovem passa a ser concebida como uma educação in-
tegral – corpo, mente e espírito –, como desenvolvimento pleno da
personalidade.

Porém, é evidente que a Educação Física Escolar difere das demais discipli-
nas, do currículo nacional, pelas metodologias e conteúdos pertinentes às
nossas competências e habilidades de formação em Licenciatura em Educa-
ção Física, como ressalta Betti (2002, p. 77):

Esse rico acervo de estratégias e conteúdos, usado criativa e


coerentemente por cada professor, em virtude de seus objetivos
específicos, do contexto e das características e necessidades de
sua clientela, possibilita à Educação Física a construção de uma
metodologia de ensino singular em face das outras disciplinas,
favorecendo em muito o desenvolvimento pleno do estudante –
afetivo, social e motor.

No entanto, os estudantes têm que ser incentivados a opinar sobre for-


ma como será executado o esporte individual escolhido, como também na
compreensão de suas regras e, se necessário, reformulá-las. Um estudante
participativo em todas as etapas do esporte individual, do qual irá partici-
par, terá uma maior probabilidade de vivenciar o exercício pleno da cidada-
nia na comunidade a que pertence.

Sugestão de Leitura

Educação Física Escolar: Uma Proposta de Diretrizes Pedagógicas.


Disponível no site: http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/remef/
article/viewFile/1364/1067

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3 Concepção Pedagógica
A Pedagogia é tida como ciência cujo objeto de estudo é a educação, que
possui caráter psicossocial e recebe influências da Psicologia, da Sociolo-
gia, assim como também de diversas outras ciências, como a Antropologia,
a Filosofia, a História, a Medicina e outras. Então, qual referencial teórico
utilizar para as considerações da Pedagogia Geral, no que diz respeito ao
ensino dos desportos individuais?

Entendemos que vários referenciais teóricos poderiam embasar esta dis-


cussão de concepção pedagógica. Entretanto, a discussão se restringirá ao
referencial teórico do relatório apresentado pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Comissão Inter-
nacional sobre Educação destinada para o Século XXI, que foi coordenada
por Jacques Delors. O relatório foi elaborado por uma série de pensadores,
que incluía filósofos educacionais contemporâneos. Eles estabeleceram que
a educação atualmente deve estar apoiada em quatro pilares:

a) aprender a conhecer;
b) aprender a fazer;
c) aprender a viver juntos;
d) aprender a ser.

Aprender a conhecer: visa, não somente, à aquisição de repertório de sa-


beres codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos. Quando
você explica como o estudante tem que fazer o salto triplo no atletismo,
e ele compreende como se deve praticar esse salto, isso não é garantia de
que ele irá conseguir executar o salto. O fato de o estudante conhecer como
se deve fazer o salto triplo é apenas a primeira parte do aprendizado desse
salto específico do atletismo.

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais 17


Aprender a fazer: a aprendizagem deve evoluir e não é considerada como
simples transmissão de práticas ou vivências, entretanto as práticas têm
valor formativo que não devemos desprezar. No caso do salto triplo, o
professor terá que criar oportunidades para que os estudantes possam
vivenciar ou praticar várias vezes até que eles consigam realizá-lo.

Aprende a viver juntos: sem sombra de dúvida, esta aprendizagem expres-


sa, na atualidade, um dos maiores desafios da educação e se apresenta
com destacada relevância. Hoje, no mundo em que vivemos, muitas vezes,
ocorrem elevados índices de violência a que se opõe a esperança posta por
alguns no progresso da humanidade. Depois de o estudante aprender a
conhecer e aprender a fazer o salto triplo do atletismo, será de fundamental
importância que ele aprenda a se relacionar com todos os participantes da
prova de salto triplos, com a mesa de arbitragem, com torcedores e com os
demais envolvidos no evento.

Aprender a ser: a educação deve contribuir para o desenvolvimento global


do indivíduo em seu espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido es-
tético, responsabilidade pessoal e espiritualidade. Todo ser humano deve ser
preparado (orientado), especialmente por meio da educação que recebe em
sua tenra idade (infância e juventude), para elaborar pensamentos autôno-
mos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor em sua fase
adulta, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes
circunstâncias do cotidiano da vida. Portanto, o ensino do salto triplo no
atletismo terá que ter valores agregados, como respeito mútuo, dignidade,
honestidade, solidariedade, entre outros valores (DELORS, 1999).

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4 Concepção Metodológica
Como ensinar esportes individuais? Em sua opinião, nós teríamos um ponto
de partida recomendado para o ensino de esportes individuais? Analise as
pistas contidas no poema a seguir e reflita sobre metodologia de ensino
para esportes individuais.

- Poderia me dizer por favor, que caminho devo tomar para ir


embora daqui? Disse Alice ao gato.
- Depende de onde queira ir, disse o gato.
- Não me importa muito para onde, disse Alice
- Então não importa que caminho tomar, respondeu o gato
- Portanto que chegue a algum lugar, Alice acrescentou
Oh, isso você certamente vai conseguir, desde que ande bastante,
disse o gato [...] (CARROLL,1832-1898).

Há um dito popular alemão diz que “Muitos caminhos conduzem a Roma”,


isso significa que se pode atingir um objetivo determinado de várias formas.
Os professores de Educação Física podem seguir diferentes métodos para
alcançar os seus objetivos de ensino/aprendizado.

Para atingirmos os objetivos propostos (ensinar esportes individuais), de-


vemos eleger algum método de ensino ou alguns métodos e principalmente
nos basear nesses métodos de ensino para propiciar um melhor desenvolvi-
mento do ensino/aprendizado dos esportes individuais.

Os métodos de ensino representam, portanto, as vias, o modo de organiza-


ção do trabalho e do material submetido à aprendizagem, utilizado pelo
professor, com vista à apreensão ativa e consciente, pelo aluno ou pelo
desportista, dos hábitos, habilidades e conhecimentos necessários à prática
de um jogo desportivo (TEODORESCU, 1984, p. 99).

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais 19


Santana (2001, p. 76) afirma que o método se utiliza “[...] de meios, técnicas,
para atingir determinados objetivos” e aponta a metodologia como sendo
os “[...] estudos realizados a fim de indicar os caminhos a serem adotados,
procurando dar a este sustentação e legitimidade”. Esse mesmo autor vai um
pouco mais além, ao conferir à metodologia o caráter de pilar central, de uma
mudança do paradigma do imediatismo que impera na iniciação esportiva.

Para Mutti (2003), método é o caminho pelo qual se chega a um fim, é o


modo de proceder, é um processo ou técnica de ensino, e metodologia seria
o estudo dos métodos e de um conjunto de meios dispostos para dirigir a
aprendizagem.

Já Fonseca (1997) diz que método é a maneira unitária de organizar e em-


pregar os meios selecionados com o fim de realizar os objetivos de uma con-
cepção ou sistema. Para ele, todos os métodos de ensino são operacionais
e nenhum deles pode ser considerado desprezível e sem utilização prática.

Para Canfield (1981), métodos de ensino sugerem formas organizadas e


sistemáticas de, cientificamente criar ambientes de aprendizagem que efi-
cientemente conduzem a resultados favoráveis.

Os métodos de ensino dos esportes individuais apresentam-se e combinam


dois grandes grupos: global e parcial.

Método Analítico-Sintético
O método analítico-sintético se configura como o mais tradicional adotado
no meio esportivo e se espelha na estrutura do esporte de alto nível. É
utilizado em larga escala como metodologia de ensino/treinamento. Para
Rezende (2003), o modelo analítico-sintético está centrado na reprodução
do padrão de movimentos ditado pela técnica, e o padrão técnico é cons-
truído a partir da análise do desempenho dos jogadores profissionais, de-
finindo o que deve ser aprendido pelos iniciantes.

Pode ser também chamado de método parcial ou tecnicista, e é definido


como “[...] aquele em que o professor parte das habilidades fundamen-
tais, como, partes isoladas, e somente após o domínio de cada um dos
fundamentos, o jogo propriamente dito é desenvolvido” (PINTO; SANTANA,
2005, p. 2).

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Para Rezende (2003), os movimentos que compõem o padrão técnico
precisam ser divididos em fundamentos, que devem ser aprendidos,
inicialmente, fora do contexto de jogo, para, posteriormente, serem
aos poucos aplicados às situações reais de jogo.

De acordo com Pinto e Santana (2005), o método analítico trab-


alha as habilidades fora do contexto de jogo para que, depois, pos-
sam ser transferidas para as situações de jogo. Greco (1998) afirma
que os alunos conhecem os componentes técnicos do jogo por meio
da repetição de exercícios, cada vez mais complexos e mais difíceis.
Quando dominados, esses movimentos passam a ser integrados a um
contexto maior, que logo permitirá o domínio dos componentes bási-
cos da técnica inerente ao jogo esportivo.

Segundo Weineck (1999, p. 553), este método deve vir a ser utilizado
“[...] sempre que não for possível treinar de uma só vez um movimento
em sua totalidade, ou quando os pequenos detalhes de um movimen-
to forem decisivos no desempenho”.

Método Global-Funcional
Para melhorar o desenvolvimento da consciência de jogo e da capa-
cidade de tomada de decisão, Bunker and Thorpe propõe, em 1982,
o resgate do modelo global-funcional, pautado na participação do
aprendiz em jogos adaptados (mini-games), como o mais indicado
para promover um trei-namento dirigido para as habilidades técnicas/
táticas.

O modelo global-funcional está centrado no próprio desenvolvimento


da modalidade desportiva e no caráter dinâmico das situações-prob-
lema que o caracterizam, tendo como principio básico que o pratican-
te aprende a modalidade praticando/vivenciando. Independentemente
do nível de domínio dos fundamentos técnicos, cada participante
aceita o desafio de utilizar todas as suas habilidades para prática do
seu melhor possível (GRECO, 1998).

O modelo global-funcional, em dissonância do que é apresentado pelo


analítico-sintético, ao invés de enfatizar a aprendizagem de determina-
dos fundamentos técnicos, investe no desenvolvimento da capacidade de

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais  21


descoberta por meio da prática. Weineck (1999, p. 553) afirma que esse
método “[...] é aplicável sobretudo a movimentos fáceis e mostra-se muito
vantajoso na infância e na adolescência (idade de aprendizado, quando este
ocorre na primeira tentativa)”.

Pinto e Santana (2005) destacam, no método global, o fato de que os alu-


nos, ao jogar, são obrigados a tomar decisões. A possível decorrência disso
é tornar-se mais inteligente para jogar. Por conseguinte, as habilidades são
desenvolvidas num ambiente de jogo de forma aberta (vivenciadas num
contexto de imprevisibilidade), projetando uma herança de movimentos e
de leitura tática promissora para quem aprende e para quem já o pratica.

Método Misto
Como o próprio nome já diz, é a junção dos dois métodos já mencionados,
o método parcial sintético com o método global-funcional. Dá-se, assim,
origem ao método misto de ensino dos esportes individuais. Com o método
misto, conservam-se as características intrínsecas de cada um dos métodos
que o constitui.

Como vimos, para o ensino dos esportes individuais, dispomos de dois gru-
pos de métodos distintos e cada um desses métodos, quer seja o método
analítico-sintético quer seja o método global-funcional, quer seja a junção
dos dois para formar o método misto, possui características típicas, que
fazem com que eles sejam eficazes para atender a determinado objetivo
específico.

Portanto, é imprescindível que o professor conheça diferentes métodos de


ensino para esportes individuais, para que possa ampliar o aprendizado de
seus estudantes.

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Técnicas de Ensino
Como fazer a operacionalização do método? Para a transmissão do conhe-
cimento técnico de esportes individuais, dispomos de diferentes técnicas
de ensino.

Técnica da apresentação: objetiva-se obter boa compreensão dos movi-


mentos a executar. As principais técnicas de apresentação consistem nas
explicações e demonstrações, que podem ser simplesmente descritivas ou
destinar-se a entrar na análise de pormenores:

a) demonstração ideal: feita na totalidade do movimento proposto, poderá


ser realizada pelo professor ou um dos estudantes que execute o movi-
mento de forma satisfatória em sua totalidade. Este tipo de demonstra-
ção dá ao estudante uma visão global do exercício, no entanto esta téc-
nica perde parte de sua eficácia quando os movimentos são efetuados
com velocidade, como é o caso dos saltos no atletismo;

b) demonstração lenta: partes dos exercícios completam a demonstração


da totalidade do movimento proposto e põem em evidência as suas fases
mais importantes. Este tipo de demonstração é utilizado nas rotinas de
lançamento (dardo e disco) em que o estudante tem a oportunidade de
visualizar em movimento lento enquanto a sua minuciosa explicação vai
sendo dada;

c) por meio de filmes: desta forma, o professor pode dar explicações mais
claras e precisas. O filme apresenta diversas vantagens em relação à
imagem estática, como fotos, pois mostra muito melhor todas as se-
quências dos movimentos.

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais  23


5 Esportes Individuais na Escola
Em qual ciclo escolar os esportes individuais seriam mais bem aproveitados
pelos estudantes? Essa resposta irá depender de levarmos em conta alguns
fatores, como o esporte individual em questão, pois temos esportes de ca-
racterísticas precoces, por exemplo, a ginástica artística; já outros esportes
individuais não apresentam característica de precocidade, porque neces-
sitam que os participantes tenham habilidades motoras específicas. O início
das práticas de vivências em desportos individuais, nas aulas de Educação
Física Escolar, poderá ocorrer desde o primeiro ciclo do ensino fundamental.
Entretanto, as vivências dos esportes individuais terão que negar o caráter
reprodutor, propor a qualificação para a percepção crítica da realidade e
atuar em favor da transformação do estudante.

Como você vivenciaria os esportes individuais na escola? Para respondemos


a essa pergunta, temos que ponderar a respeito das alterações necessárias
para a prática do esporte individual na escola.

Enquanto no esporte de alto rendimento os participantes têm que se adap-


tar às exigências da modalidade esportiva tais como: regras rígidas, espaço
desportivo (campo ou ginásio), vestuário apropriado, biotipo físico (altura
ou peso), entre outras tantas exigências, os esportes individuais praticados
na escola deverão adaptar-se aos seus praticantes. Em outras palavras, te-
remos que ficar atentos para fazer as devidas alterações, pois, mesmo que
o esporte seja individual, primamos que um maior número de participantes
possa praticá-lo.

Talvez um dos maiores atributos do professor de Educação Física, ao tra-


balhar como os esportes individuais em suas aulas, seja, sem dúvida, sua
capacidade de disponibilizar para seus estudantes o esporte individual
de forma que eles possam praticá-lo com êxito. Para isso, o professor,

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necessariamente, terá que, muitas vezes, fazer alterações no esporte indi-
vidual que irá ofertar, como citado por Silva (2007, p. 8):

O esporte, sem entrar no mérito das discussões acadêmicas, deve


ser levado em conta como fenômeno da sociedade atual e ser
analisado com profundidade para que verdadeiramente eduque
e não prejudique a formação de crianças e adolescentes com a
reprodução do modelo segregador vigente. Parlebas (1980) afirma
que ‘o desporto não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em
si nem socializante, nem anti-socializante. Ele é aquilo que se fizer
dele’. Sem dúvida, o esporte pode ser um meio para educação para
a vida contribuindo para o desenvolvimento integral e critico da
criança, porém deve ir além da formação atlética-técnico-tática
e priorizar valores como a cooperação, a participação, a solidarie-
dade e a criatividade das crianças e jovens que devem ser sujeitos
desse processo e não meros indivíduos enquadrados e moldados
para determinadas modalidades esportivas para que, no futuro,
possam fazer essa transferência e generalização não mais para as
quadras e campos, mas para a vida.

Por fim, tendo como preceito a práxis pedagógica (prática e teoria em ação),
é que podemos visualizar o pleno exercício da cidadania pelo estudante,
quando é capaz de significar suas aprendizagens pela participação, conse-
guindo elaborar, executar, conduzir e, se necessário, reformular as vivências
nas aulas, compreendendo as diferenças na sociedade em ele vive e capa-
citado a fazer uma leitura crítica do fenômeno esportivo.

Sugestão de Leitura

Sobre discussões acadêmicas sobre esportes na instituição educacional entre


diferentes autores (BRACHT et al.) Esporte de rendimento e esporte na escola.
Campinas, SP: Autores Associados, 2009.

Conhecimento e Metodologia do Ensino dos Esportes Individuais  25


considerações finais
As propostas de vivências de esportes individuais não na formação da personalidade, pois o estudante terá
têm por objetivo a simples apresentação de receituário a oportunidade de agregar valores consistentes à sua
para aplicação sem as devidas transposições pedagógi- personalidade (ex.: disciplina, dedicação, persistência),
cas. Encontramos em literatura especializada na área da aprenderá a ajustar-se melhor ao ambiente social em
Educação Física, ao longo das décadas (principalmente que vive e poderá experimentar diferentes comporta-
a partir da década de 30), a utilização dos esportes na mentos relacionados com desempenho individual.
Educação Física Escolar (SCHNEIDER, 2010, P. 118 119), Pelo exposto, podemos concluir que os estudantes
entretanto sem as devidas transposições pedagógicas. terão uma maior probabilidade de evolução de sua au-
Com isso, os objetivos da Educação Física Escolar pas- tonomia, na relação da construção do exercício de sua
saram por questões nacionalistas, eugênicas, pré-mili- cidadania, quando tiverem a oportunidade de vivências
tares, revelação de atletas etc. e, normalmente, instituí- práticas esportivas individuais pedagogizadas
dos de fora da escola para dentro, sem dar atenção às
ações pedagógicas necessárias (BETTI, 2002, p. 74).
Com as execuções das vivências com esportes in-
dividuais, espera-se que o estudante desenvolva seu
agradecimentos
censo crítico, adquira comportamentos atitudinais de Agradecemos ao Instituto de Pesquisa em Educação e
respeito, solidariedade, justiça e diálogo na construção Educação Física Proteoria/Ufes pelos préstimos e aces-
do exercício de sua cidadania (BRASIL, 1998, p. 85). sibilidade facilitada em seu acervo bibliográfico, pois foi
Podemos afirmar que teremos contribuições, também, de grande valia para a elaboração deste fascículo.

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28  Edson Casterdeli


Edson Castardeli
Graduado em Licenciatura Plena em
Educação Física pela Faculdade de
Educação Física de Barra Bonita no
Estado de São Paulo.
Especialista em Treinamento Desportivo
pela Faculdades Metropolitanas Unidas
(FMU) na cidade São Paulo.
Mestre em Fisiopatologia em Clínica Médica
pela Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (Unesp – Botucatu)
no Estado de São Paulo.
Doutor em Fisiopatologia em Clínica Médica
pela Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (Unesp – Botucatu)
no Estado de São Paulo.
Professor Adjunto II do Departamento de
Desportos do Centro de Educação Física
e Desportos da Universidade Federal do
Espírito Santo (CEFD/UFES).
Professor do Programa de Estudos Pós-
Graduados (Mestrado) em Educação Física na
área de concentração de Movimento Corporal
Humano da Universidade Federal do Espírito
Santo (CEFD/UFES).
www.neaad.ufes.br
(27) 4009 2208

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