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A influência da patrística africana na teologia da reforma

protestante: Uma análise da influência de Agostinho e Tertuliano em


Calvino e Lutero.

Introdução:
O nosso trabalho pretende entender a influência da patrística dos nossos irmãos
africanos (Agostinho e Tertuliano) na Teologia da reforma protestante. É inegável que
houve um progresso muito grande na teologia de épocas passadas para todo o material
que foi produzido no período da reforma Protestante. Antes de começarmos a analisar a
teologia e escritos dos teólogos citados tanto da patrística, quanto do período da reforma
protestante, é necessário entendermos alguns pontos também essenciais de se entender
antes de estudarmos os escritos.

Nessa introdução, pretendemos analisar primeiramente a importância de se


estudar o cristianismo na África e desmistificar muito do conhecimento que temos sobre
as origens e raízes do Cristianismo. Entender também o quão africano é o cristianismo, e
isso nos trará riquezas de conteúdos históricos para o nosso estudo da teologia da reforma
e também para todo o amparato da história da igreja no geral.

Também, analisaremos a história da reforma protestante para compreendermos o


que veio de mudança desta época e também para conseguirmos entender que o que foi
dito, pregado e propagado nesse periodo especifico da história da igreja, já tinha raízes
em muito tempo passado, e todo o movimento que iniciou-se na Europa tem influencias
passadas e de outro continente. O problema é que a história ou estudiosos procuram
esquecê-los, ou criar uma nova narrativa.

Esse trabalho se propõe a pesquisar além da influência dos patristicos africanos


na teologia da reforma, também estudar as raízes africanas que permeiam a nossa religião.
Por esta razão, também focaremos algumas partes da pesquisa sobre a africanidade do
cristianismo. Lembrando, que não intencionamos trazer uma visão revolucionária para a
historia do cristianismo, apenas rebuscar narrativas reais e verdadeiras sobre o que já
temos fundamentado.

O Cristianismo na África
Podemos iniciar este ponto com uma pergunta básica: Quão africano é o
Cristianismo. Essa pergunta é o titulo de um livro muito importante na pesquisa sobre o
cristianismo na África. Este livro que será utilizando nesse trabalho com alguma
frequência, tem motivos para ser publicado e ser reconhecido como uma obra importante
para o nosso assunto. Há uma compreensão universal e muito divulgada de que o
Cristianismo é uma religião Europeia. E com isso, temos um entendimento de que da
Europa para o mundo é que o cristianismo é difundido.

Podemos ver claramente nas escrituras em até mesmo em conteúdos escritos pós
canon, evidências de que o cristianismo tem sim, raízes africanas, vejamos algo que pode
compactuar com isto:

“Desde minha conversão, aos 25 anos, as raízes africanas da religião


do Nazareno foram categóricas, não só por evidências bíblicas – desde a
segunda esposa de Moisés, vinda do reino de Cuxe, passando por Simão de
Cirene até o eunuco de Atos 8 –, mas históricas e biográficas – com os geniais
teólogos e filósofos do continente, Atanásio, Tertuliano, Agostinho e tantos
outros. Sem contar a presença do cristianismo na África subsaariana desde os
primeiros séculos. Vim ouvir essa história muito tempo depois, da boca de
gente cética e dos defensores das chamadas religiões de matriz africana”.
(Oden, 2022, P 13).

Percebemos que para a história nunca houve talvez essa ideia de cristianismo
totalmente Europeu e que não faltam fatos que nos mostram o quão africano o
cristianismo é. Pode parecer que a tentativa de falar ou expor sobre a historia do
cristianismo africano seja puramente pela aprovação ou comprovação de um ponto ou
argumento. Mas, essa importância dada ao cristianismo que veio das partes da África é
para uma riqueza de conteúdo que podemos perder quando não levamos em consideração
essa parte do cristianismo.

O costume e total exportação de informações tais quais de que o cristianismo


inicia-se na Europa e então é expandido pelas outras partes do mundo geram problemas
sérios, como por exemplo a ideia de que o cristianismo é um opressor dos africanos. Há
uma ideia muito constante em alguns círculos de que os cristãos provindos da Europa
chegaram na África e lá exploraram os povos africanos, roubando-lhes sua cultura e suas
formas de espiritualidade.

Isso torna a história totalmente desvinculada da realidade. Há também uma


enorme falta de honestidade intelectual por parte dos estudiosos que não falam e acabam
ignorando o cristianismo africano. Precisamos ter consciência de que isso ocorre de forma
proposital pela maioria dos responsáveis. Sobre esse esquecimento Oden diz:

Entretanto, tenho ciência de que essa constatação não é trivial; a


europeização do cristianismo não foi somente um processo missionário, mas
ideológico. A partir do declínio dos reinos africanos da antiguidade, do
surgimento e expansão do Islã, da ascensão europeia e do colonialismo, a
África foi se tornando, cada vez mais, um símbolo do atraso, e mais: foi vítima
do racismo “científico” que, surgido na Europa a partir do século 18, foi
amplamente utilizado durante a expansão colonial para subjugar o povo
africano e tornar a ignomínia da escravidão e do tráfico de seres humanos não
só aceitáveis como necessários para salvar os “selvagens” (Oden, 2022, P 13).

Podemos perceber por meio dessa citação e das demais provas que já obtivemos,
que o cristianismo tem sim, fortes raízes africanas. Além destas citações feitas acima
sobre a confusão que há ao se pensar somente no eurocentrismo do Cristianismo.
Dedicaremos agora um tempo, vendo questões históricas sobre as raízes do cristianismo
serem africanas, antes de europeias.

As raízes africanas do Cristianismo

Para começarmos aqui, precisamos afirmar já algo: A África exerceu um papel


fundamentalmente importante na formação da cultura cristã. Também é necessário
entender que as expressões do cristianismo na África vieram muito antes do que no
ocidente ou Europa. A história do cristianismo na Àfrica é muito antes da história do
cristianismo na Europa. E ainda mais: a compreensão teórica sobre o Cristianismo que
inicia-se na África é de grande contribuição para toda a desenvoltura do Cristianismo
como um todo, veja:

“O cristianismo não teria sua vitalidade atual em dois terços do mundo


sem a compreensão intelectual que foi desenvolvida na África entre os anos 50
e 500 d.C. A pretensão de estudar a história da igreja sem levar em conta a
história da igreja africana é inviável, mesmo que tenha sido comum nos últimos
cinco séculos, o que causaria estranheza durante os primeiros cinco séculos,
quando a mente africana era altamente honrada e imitada” (Oden, 2022, P 17).

Uma das intenções de mostrar que há raízes africanas no cristianismo, é fazer com
que haja uma compreensão de que a Teologia africana ajudou muito cedo a moldar a
teologia e o cristianismo que nós temos hoje, ou seja, a mente crista, a mentalidade
cristianizada que nós temos hoje, brota, antes de tudo do solo africano, das imaginações
de Teólogos e estudiosos africanos.
Após já termos uma boa base sobre o cristianismo na África e também sobre as
raízes históricas do Cristianismo Da África, prentendemos fazer uma brev exposição
sobre o cristianismo dos africanos, estarmos mais por dentro dessa ramificação do
cristianismo que há muito foi esquecida e colocada de lado. Nesse breve tópico, queremos
expor melhor como os próprios irmãos Africanos tem visto ou viram a questão do
cristianismo, e desmistificar algumas coisas em relação a isso.

O Cristianismo dos Africanos

Mais de 685 milhões de pessoas em África estão associadas de alguma forma ao


Cristianismo. Mas entre esta ampla aceitação, há um murmúrio de que esta “religião dos
Colonos” não deveria mais ter lugar no continente; que o cristianismo não é africano.
Essa é uma das coisas comuns que pastores cristãos na África ouvem. Isso nos mostra
que nem mesmo os africanos tem consciência das raízes do cristianismo na África.

Podemos analisar isso como uma luta constante que ocorre, uma agenda pela
decolonização, isso lota agendas políticas. Então, logo também ir contra a religião que
entendem como religião dos “Brancos”, dos “opressores”, é algo muito comum. E mais
uma vez isso nos leva a entendermos que em algum momento houve uma desviada na
narração da história do cristianismo, ou que foram excluídos, algumas partes desta
narração.

Como podemos entender essa narrativa? Veja: Segundo Butterworth:

O Cristianismo estava presente em África 1000 anos antes dos


primeiros colonialistas europeus chegarem às costas africanas. Você estava
ciente disso? Milénios inteiros antes de qualquer nação europeia atracar os seus
navios, o Cristianismo já florescia em África – o evangelho já estava a ser
espalhado em África, por arautos africanos! (Butterwoeth, 2022)

É muito claro que o cristianismo não incia-se na Europa e vai para a africa.
Podemos aqui, dedicar-nos um tempo para combatermos a falsa ideia de que o
cristianismo só chega a África pós já ser a religião oficial do império Romano, porque
isso não é verídico. Muito antes disso, temos o rei Ezana, que escolhe o cristianismo como
a religião oficial do império de Axum.

Vejamos algumas provas sobre o cristianismo neste lugar da África:

Mas você está ciente de que em 330 DC, o rei Ezana da Etiópia
declarou o cristianismo como sua religião nacional? Para se tornar a religião
oficial do país, é provável que o cristianismo já estivesse estabelecido no país
há muito tempo. Para efeito de comparação, foram necessários dois séculos e
meio para que o Cristianismo se tornasse a religião oficial do Império Romano.
Temos algumas pistas sobre como a Etiópia foi alcançada. Eusébio e Orígenes,
ambos baseados no Norte da África, escreveram sobre a pregação cristã
ocorrida na Etiópia nos séculos III e IV. (Butterwoeth, 2022).

O que ainda é mais interessante nessa parte da história, entendendo de antes de a


religião cristã esta firmada na Europa já estava na África, e para a surpresa dos Europeus
quando muitos deles chegaram nesse lugar, o cristianismo já estava implantado e ainda
mais; já haviam muitas igrejas!

Para encerrarmos essa parte sobre o cristianismo na África, ainda cabe aqui
ressaltar a grande influência que pessoas desse solo exerceram sobre a teologia que
haveria de vir. E é necessário deixar claro a importância dos teólogos africanos tais como:
Agostinho, Cipriano, Clemente, Atanásio, Tertuliano, pois estes homens além de terem
lutado contra várias heresias, ainda, formularam e sistematizaram sistemas e pensamentos
teológicos que utilizamos até os nossos dias atuais.

Aqui, já conseguimos entender toda a importância que o continente africando,


junto com seus grandes pensadores tem para os nosso dias e para esse estudo especifico.
Quero lembrar-lhes que este trabalho se propôs a nos mostrar a influencia da patrística
africana na teologia da reforma, e assim também entenderemos a grande influencia que
os teólogos e a teologia africana exerceram também na formação dos sistemas teológicos
que temos como ortodoxos em nossos dias.

Após a apresentação da importância da África para o nosso estudo e também sobre


a influencia que estes homens e este solo tem para nossa teologia, veremos também um
breve resumo sobre a Reforma Protestante, tendo em vista que nos propomos a analisar
praticamente duas partes de uma história continua: O cristianismo na África e a Reforma
Protestante. Entendendo que já conseguimos captar pelo menos o essencial sobre
Cristianismo africano, passemos agora a entender um pouco sobre o que foi na reforma
que foi inteiramente influenciada por teólogos e teologia dos africanos.

A reforma Protestante:

O último dia de outubro marca o nascimento de um dos movimentos mais


importantes para a cristandade: A reforma protestante. Podemos perceber que a reforma
é datada de 31 de outubro de 1517, mas que foi um movimento que teve seus interesses
iniciados há tempos antes disso, com o que chamamos de pré-reforma. O dia 31 de
outubro de 1517 fica marcado como o início da reforma protestante, na Alemanha, que
foi o dia em que Martinho Lutero pregou na porta do castelo de Wüttenberg as 95 teses
que ele havia escrito. Sobre as 95 teses de Lutero, vejamos: Foi então que Lutero compôs
suas famosas 95 teses, cujo título verdadeiro é Controvérsia sobre o Poder e a Eficácia
das Indulgências. Ele as compôs em latim, pois o que ele estava procurando não era uma
comoção, mas, ao contrário, uma disputa acadêmica com intelectuais, em que ele
esperava provar que suas teses estavam corretas. Isso não era nada novo. O próprio Lutero
propusera anteriormente outras teses que ele esperava que causariam um furor e nada
acontecera. Agora, quando ele esperava que nada acontecesse, ele criou um furor.
(GONZALÉZ, 2004, P. 36). Um movimento que se inicia na Alemanha, apenas com um
homem, inconformado com as atitudes incorretas da Igreja Católica, acaba se tornando
um movimento com um número surpreendente de adeptos e apoiadores e com isso a
reforma protestante alcançou uma parte considerável da Europa daquela época. É
necessário lembrar do advento da impressão que ocorria na mesma época. Com a
impressão, tornou-se mais fácil a difusão das ideias dos reformadores, inclusive do
próprio Lutero. “Com o advento da imprensa de tipos móveis a impressão e
comercialização dos escritos dos reformadores cresceu sobremaneira”. (SANTOS, 2012.
P. 10). Sabemos que Deus preparou tudo para garantir o impacto que a reforma
protestante traria ao mundo, não só na igreja, não só na Europa, mas no mundo inteiro. O
dia 31 de outubro de 1517 ficou conhecido como o dia em que o mundo foi abalado, desse
dia em diante a igreja nunca mais seria a mesma. “Ele (Lutero) decidiu fazer um
pronunciamento cívico de sua posição teológica. O senhor honrou essa decisão e a usou
para abalar o mundo! ”. (MURREL, 2014, p. 8, tradução nossa). Não foi somente Lutero
que fez parte deste momento histórico, mas outros, antes dele já vinham com o mesmo
propósito. 5 Mas somente com Lutero, no século XVI isso foi possível. Deus
proporcionou a este homem o momento correto para esta reforma, preparou o terreno para
que isso fosse possível, como exemplo, temos a questão da intelectualidade: “As
transformações intelectuais provocadas pelo Renascimento, ao norte e ao sul dos Alpes,
criaram um clima intelectual que favoreceu o desenvolvimento do protestantismo”
(CAIRNS, 1995, P. 223). Dentre os diversos motivos que culminaram na reforma, o que
mais se destaca é a venda de indulgências, que era basicamente um documento afirmando
a anulação do poder e poluição do pecado na vida daquele que compra. A igreja estava
cada vez mais interessada em ouro, a ponto de substituir a graça de Deus. Haviam outros
motivos, como por exemplo uma série de doutrinas antibíblicas ou sem respaldo bíblico,
o poder e inerrância do papa, dentre outros muitos motivos. A reforma protestante sem
nenhuma dúvida abalou o mundo cristão inteiro. Mas, não somente abalou a religião
daquela época, tinham demais coisas envolvidas nesse tramite, e é isso que esse estudo
pretende investigar: os impactos da reforma em outras áreas da Europa além do viés
religioso. Este tema é de fato, importantíssimo dentro do assunto de história da igreja,
mas ao que parece, tem sido ignorado durante já algum tempo, pois é de praxe que
entendam a reforma protestante como um movimento exclusivamente religioso. Esta
pesquisa é uma tentativa de mostrar as outras faces da reforma, além da religiosa.

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