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l. rNrRoouçÃo
 teoria moderna do direito natural corneÇa a ser construída no século
KVII, pcrtanto, iniluenciada por umâ série de eventos decisivos pâra a his-
tona da hurnanidade: a) desenvolvimento do modo de produção capitalista:
aumenta cansideraveimente a complexidade social com repercussÕes em
todos os quadrantes da vida social; b) descoberta de novas terras e outras
culruras: coloca em evidencia o direito da conquista, ô direito da posse, o
princÍpio da alteridade, a liberdade naturai dos Índios; c) construçào do
Esrado nacional: coloca em evidência o problema da soberania, da liberdade
e cia igualdade dos cidadaos; d) reforma protestânte: coloca em evidência a
questão das diferenÇâs e da toierância, a separâÇão entre Estado e religião, a
dissidência politica ou religiosa. Esses acontecimentos repercutiram decisi-
vamente no pensamento cientiÍico, filoso[ico e na teoria política e jurÍdica.
nova teoria polÍtica e juridica vai cuidar nâa apenas do direito natural,
Â.
mas lambem da soberania, da iiberdade sub3eiiva e da igualdade formal dos
cidadãos. A teoria do direito natural será denominada rscional para se dis-
tinguir da tecria do direito nâtural, fundado na naturezâ (desenvolvida
pelas filosafos gregas), e da teoria do direito natural revelado (desenvolvida
pelos filosofos medievais). isto não quer dizer que a iilosofia greco-romana
ou a medieval não levassem em conta o conceito de razãa. O conceito de
razáa elaborado pelo racionalismo moderno apresenta características que o
distinguern do conceito de razãa elaborado pelos filosofos gregos e reapro-
veitado pelos romanos e medievais.
racionalismo moderno, a razã,o humana apârece como legisladora
I.'Jo
do Universo, com isso deixa de ter sentido a concepção do homem que age
em coníorrnidade com a nat.ureza e cresce em importância a concepção do
homem que ê senhor e possuidor da nâtureza. O novo racionalismo impri-
IiIOÇüIS üiRAI§ ilE OINTITO I FORMÂÇÃÜ llUMANí§flIA 267
2.1. SocÍabilidade
Para Grocio entre as coisas inerentes ao hromem está o desejo de socia-
bilidade. Nãa qualquer sociabiiidade, mas a sociabiiidade que implica a
convivância pacificâ e CIrgantzada. C justo são as regras de conservaçâo
dessa sociedade. Essas regras constituem a fonte do direitc, dentre as quais
se destacam: a) a obrigaçâo de cumprir o prometido (pactü sunt servandç)',
b) a obrigação de abstrr-se do alheia; ci a obrigação de restituir o que per-
tence a outrenl; d) a obrigaçãc de devolver o ganho obtido corn o aiheio; e)
a obrigaçâo de reparar o dano causado culposamente. Injusto é o que se
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ZÍU FILil§SFIÀ IJI] DIRE|T{]
2.2.. Direito
Segundo Grocio, direito naturai é o direito ditado pela reta razão, por*
tanto, a reta razàa mostra a justiça ou não de um ato. Nesse sentido estatre-
lece que o direito natural "consiste em certos princÍpios da razâo reta, que
nos fazem reconhecer que umâ ação e rnoralmente honesta ou desonesta
segundo sua conveniência necessária corn umâ natureza razoár,el e sociár'el"
(apud Goyard-Fabre, 2002: 58).
O direito natural, embora ligado à vontade divina, torna*se indepen-
dente dessa vontade, tal como ocorre com as equaÇÕes matemáticas. Vale
dizer, Deus tambÉm está submetido à reta razãa, tendo em vista que nào
pode fazer cCIm que dois mais dais não sejarn quatro. Grocio pretende,
desse mcdo, emancipar o direito da teologia e assentá-lo em bases estrita-
mente racionais. Para ele, o sentido do direita não deve ser procurado em
aiguma transcendência incompreensír'el para o hornem. O Direito não de-
corre de uma revelação dir,,ina, trata-se de um conjunto de normas ditadas
p*larazão" Á"o estabelecer arazâo humana corno a r,erdadeira fonte do di-
reito, Grocio fixa a âutonomia racional do direito.
Para Grocio: '*um direito torna-se uma qualidade moral de uma pessoa,
possibilirando-a ter ou {azer alguma coisa lega}mente. Tal dÍreito hga-se à
pessoâ, mesmo que algumas vezes possa seguir urna coisa, como no caso
das servidÕes sobre imóveis, que são diras direitos reais, em contraste com
outros direitos puramenie pessoais; nâo porque tais direiios nâo estejam
N0Ç0ES 0ERAI§ 0E rlrRErTo E FoRMAÇÀt] }{UMÀilÍ$CÀ 271
ligados à pessoa, mas porque não se ligam a quaiquer outra pessoa aiem
daquela que tem direit* a certa ccisa" Quando a quaiidade moral e perfeita
clrama-se íacuidade {{*cuÍta.s), quando não e perfeita chama-se aptidão
{opitudo}, Â primeira, na ardem das coisas naturais, corresponde ata; à se-
gunda, pattnci*. Uma faculdade É chamada pelos juristas de direito ao seu:
doravante vamos chamá-ia direito propria ou estritamente falando. Nele se
inclui o poder, já sobre si mesrno, que ê chamad a liberdaár; já sobre outrem,
como o do pai e o do senhor sobre ü escrâvo, proptiedade, seja absoiuta, seja
menos que absoluta, coms um usufruto ou um penhar;e direifas cantrafucis,
aos quais correspondem, de outro lado, obrigaçÕes contratuais" (apud Lopes,
2000: i9ü)
O texto acima revela uma tendência do secuio XVll, o desenvolvimen-
ta de urn pensamento jurÍdico sistemáfico e capaz de certa neutralidade,
c$mo exigem as questÕes tecnlcas. O conceito de sistema é considerado a
maior contribuição do jusnatar*lisnao moderno ao direito privado europeu.
A teoria jurÍdica europeia, que aie então era mais uma teoria da exegese e
da interpretação de textas singulares, passa a receber um caráter logico
demonstrâtivo de um sistema fechado, cuja estrutura dominou e ate hoje
domina os ccdigos e os campêndios jurídicos. Exemplo tÍpico dessa siste-
mática jurídica e a obra de Samuel Pufendorf {Ferraz )r., LÇ95: ú7-68).
No entanto, ao estudar metodicamente o alcance sernântico do terrno
direitc parâ libertá-io de sua aurâ teologica, Grócio lhe reconhece três acep-
Çoes: a) uma em que o direito se vincula ao valor justiça; b) outra em que
eie designa uma "capacidade" da pessoa, acepção esia considerada por alguns
urna prefiguração do'-direito subjetivo"; c) outra em que o direiro se con-
funde com a lei e se determina como um "corpus objetivc'" de regras obri-
gatórias, destinadâs a rcger a sociedade.
de. Nesse sentido aÍirma que "não basta dizer que o homern é airaído pela
propria natureza parâ a saciedade civil, de modo que sem eia não pode viver.
Por certo e evidente que c homem e uma espécie de animai que ama a si
mesmo e a seus proprios interesses no grâu mais elevado. Portanto, quando
ela busca a sociedade civil voluntariarnente deve ser porque vê alguma uti-
lidade que resultará dela (.-.). O homem que se torna cidadao sofre uma
perda de sua iiberdade naturai, sujeita-se a uma autoridade que rnclui o
poder de vida e morte (...). f ainda assim, por tendências inatas, o homern
não se lnclina a sujeitar-se a ninguém mas a {azer tudo que the agrade, e
favorecer seu proprio interesse acima de tudo" {apud Lopes, 2000: 198)
Para Pu{endorf o homem e um ser dotado: a) de umâ natureza egoÍsti-
ca: porque e malicioso, inclinado e capaz de causar mal ao sernelhante, e b)
de uma natureza sociável psrque preocupado, acima de tudo, em conservar
a propria vida, carente e impotente para cuidar de si mesmo sem ajuda.
Segundo ele, são esses pressupostos que permitem estabelece a seguinte lei
naturr;l fand.arnental: "Todos iêm o dever de preservar â, comunidade e de
servir ao todo social, tão bem quanto possível".
Essa lel natural fundarnental desdobra-se em trcs grupos de deveres,
que indicârn como o hamem, segundo a rectü ratio, deve se conduzir pe-
rante Deus, perante si mesmo e perante os outros. A relaçâo com Deus e
fundamental para a existência da comunidade, ou seja, sem o sentimento
religioso o hamem não seria sociável. De outro lado, tambem o dever do
homem parâ consigo mesmCI tem fundamento tânto na religião quanto na
vida social. Cabe, entretanto, destacar o grupo de deveres do hornem para
com CIs outros.