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TEMA 6

O PROTESTO DOS PRÍNCIPES


II Timóteo 4:2-5
Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo,
repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina.
Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos
juntarão mestres para si mesmos.
Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos.
Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra
de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.
Algumas semanas depois de Lutero
nascer na cabana de um mineiro, na
Saxônia, Ulrico Zuínglio veio ao mundo
na choupana de um pastor de ovelhas
em meio aos Alpes. Criado entre as
cenas da grandiosidade da natureza,
mesmo durante a infância sua mente se
impressionava com a majestade de
Deus. Ao lado de sua avó, ouviu algumas
histórias preciosas da Bíblia que ela
havia aprendido com as lendas e
tradições da igreja.
Aos treze anos de idade, Zuínglio foi para Berna, que, na época, contava com a
melhor escola da Suíça. Ali, porém, um perigo surgiu. Os frades fizeram
esforços determinados para seduzi-lo à vida monástica. Por meio de
intervenção divina, seu pai recebeu informações quanto ao plano dos frades.
Reconheceu que a utilidade futura de seu filho estava em jogo e o instruiu a
voltar para casa. Zuínglio obedeceu à ordem, mas não conseguiu se contentar
por muito tempo em permanecer em seu vale natal e logo retomou os estudos,
viajando, depois de um tempo, para Basileia. Ali Zuínglio ouviu pela primeira
vez o evangelho da graça de Deus. Wittembach, professor de línguas antigas,
havia sido levado às Sagradas Escrituras enquanto estudava grego e hebraico.
Muitos raios de luz divina encheram a mente dos alunos sob sua instrução. Ele
ensinava que a morte de Cristo é o único resgate do pecador. Para Zuínglio,
essas palavras foram como o primeiro raio de luz que antecede a aurora.
Zuínglio logo foi chamado para fora de Basileia a fim de começar
a obra de sua vida inteira. Sua primeira função foi cuidar de uma
paróquia nos Alpes. Ordenado padre, ele “se dedicou de todo o
coração à busca da verdade divina”. Quanto mais examinava as
Escrituras, mais claramente via o contraste entre a verdade e os
falsos ensinos de Roma. Ele se sujeitou à Bíblia e a aceitou como
a Palavra de Deus, a única regra suficiente e infalível. Entendeu
que as Escrituras precisam ser a própria intérprete. Buscou todos
os auxílios disponíveis para obter uma compreensão correta de
seu significado e pediu a ajuda do Espírito Santo. “Comecei a
pedir a Deus Sua luz”, escreveu posteriormente, “e as Escrituras
se tornaram muito mais fáceis para mim.”
A doutrina que Zuínglio pregava não tinha vindo de
Lutero. Era a doutrina de Cristo. Ele disse: “Se Lutero
prega a Cristo, então ele faz o que eu estou fazendo.
[...] Nunca escrevi uma palavra para Lutero, nem ele
para mim. E por quê? [...] Para demonstrar o quanto o
Espírito está em união consigo mesmo, uma vez que
nós dois, sem nenhuma combinação, ensinamos a
doutrina de Cristo com tamanha uniformidade.”
Em 1516, Zuínglio foi convidado para pregar em um convento em Einsiedeln.
Ali ele exerceria uma influência como reformador que se estenderia muito
além de seus Alpes natais. Dentre as principais atrações de Einsiedeln, havia
uma imagem da virgem Maria. As pessoas diziam que ela tinha poder para
realizar milagres. Acima do portão do convento estava a inscrição: “Aqui se
pode obter remissão completa dos pecados.” Multidões provenientes de
todas as partes da Suíça e até mesmo da França e da Alemanha iam até o
altar da virgem. Zuínglio aproveitou a oportunidade para proclamar
liberdade por meio do evangelho para esses escravos da superstição.
Disse: “Não imagine que Deus está neste
templo mais do que em qualquer outra parte
da criação. [...] Obras inúteis, longas
peregrinações, ofertas, imagens ou apelos à
virgem ou aos santos seriam capazes de obter
para vocês a graça de Deus? [...] Como uma
capa brilhante, uma cabeça lisa e uma roupa
longa e esvoaçante ou chinelos bordados em
ouro poderiam ajudar a perdoar pecados?”
“Cristo”, afirmou, “que no passado foi
ofertado na cruz é o sacrifício e a vítima que
pagou a dívida por toda a eternidade dos
pecados daqueles que creem.”
Para muitos, foi um amargo desapontamento ficar sabendo que sua difícil
jornada tinha sido em vão. Não conseguiam compreender o perdão
livremente oferecido por meio de Cristo. Estavam satisfeitos com a
maneira que Roma os dirigia. Era mais fácil confiar a salvação aos
sacerdotes e ao papa do que buscar pureza de coração. Entretanto, outras
pessoas receberam com alegria as boas-novas da redenção por intermédio
de Cristo e, com fé, aceitaram o sangue do Salvador como sua expiação.
Foram para casa e contaram aos outros sobre a preciosa luz que haviam
recebido. Dessa maneira, a verdade viajou de cidade em cidade e o
número de peregrinos ao altar da virgem diminuiu drasticamente. As
ofertas também foram reduzidas, bem como o salário de Zuínglio, que
vinha delas. Mas isso só o levou a se alegrar por ver que o poder da
superstição estava se quebrando. A verdade começava a ganhar espaço no
coração das pessoas.
Zurique, Suiça

As pessoas se aglomeravam em grande número para ouvir


suas pregações. Ele começou seu ministério abrindo o
evangelho e explicando sobre a vida, os ensinos e a morte
de Cristo. Dizia: “É a Cristo que desejo conduzir vocês – a
Cristo, a verdadeira fonte de salvação.” Estadistas,
eruditos, artesãos e camponeses ouviam suas palavras.
Sem temor, ele repreendia os males e as corrupções dos
tempos. Muitos voltavam da catedral louvando a Deus.
Comentavam: “Este homem é pregador da verdade. Ele
será nosso Moisés, para nos tirar dessas trevas do Egito.”
Quando Deus está Se preparando para quebrar as cadeias da
ignorância e da superstição, Satanás exerce seu maior poder
para manter as pessoas na escuridão e prender suas cadeias
com firmeza ainda maior. Roma trabalhava com energia
renovada para colocar seu mercado em funcionamento por
todo o mundo cristão, oferecendo perdão em troca de
dinheiro. Cada pecado tinha seu preço e a igreja dava às
pessoas livre licença para praticar crimes, se isso mantivesse
cheios os tesouros da igreja. Assim os dois movimentos
avançavam: Roma dando licença para o pecado e o
transformando em sua fonte de renda, e os reformadores
condenando o pecado e apontando para Cristo como o
sacrifício e libertador.
Na Suíça, a igreja colocou as vendas sob o controle de Sansão, um monge italiano.
Sansão já havia levantado grandes somas de recursos alemães e suíços para encher o
tesouro papal. Então viajava pelo país para sugar dos pobres camponeses sua parca
renda e exigir ricos presentes dos abastados. Quando chegou com suas mercadorias
a uma cidade próxima a Einsideln, Zuínglio imediatamente começou a se opor a ele.
Zuínglio obteve tamanho êxito em expor as mentiras do frade que Sansão precisou ir
embora e partir para outras cidades. Depois, Zuínglio pregou zelosamente contra
aqueles que tentavam vender o perdão de Deus. Quando Sansão se aproximou do
local, usou uma artimanha esperta para conseguir entrar. Mas as pessoas o
mandaram embora sem a venda de nenhum perdão, e ele logo deixou a Suíça.

À medida que a Reforma se estabelecia em Zurique, seus frutos


passaram a ser vistos de forma mais plena na redução do crime e na
promoção da ordem.
A praga, ou peste negra, assolou toda a Suíça no ano de 1519.
Muitos reconheceram como era inútil e sem valor o perdão
que haviam comprado. Ansiavam por um fundamento mais
sólido para sua fé. Em Zurique, Zuínglio contraiu a doença e
circulou por muitos lugares o boato de que ele estava morto.
Naquela hora terrível, ele olhou com fé para a cruz do
Calvário, confiando no sacrifício todosuficiente para remir os
pecados. Quando voltou das garras da morte, passou a pregar
o evangelho com intensidade ainda maior do que antes. O
povo em si tinha acabado de cuidar de enfermos e
moribundos. Isso os levou a valorizar o evangelho como
nunca antes.
PROGRESSO NA ALEMANHA

A semente que Lutero havia semeado se espalhou por toda


parte. Sua ausência realizou uma obra que sua presença não
tinha conseguido realizar. Agora que o grande líder estava
ausente, outros obreiros deram um passo à frente para que o
trabalho iniciado com tamanha nobreza não se detivesse.
Satanás tentava enganar e destruir o povo apresentando uma
contrafação no lugar da obra verdadeira. Assim como surgiram
falsos cristos no primeiro século, apareceram falsos profetas
no século 16.
Quando voltou de Wartburg, Lutero concluiu a tradução do
Novo Testamento, e logo o evangelho passou a circular
entre o povo da Alemanha no próprio idioma. Todos que
amavam a verdade receberam essa tradução com grande
alegria. Os padres se alarmaram diante do pensamento de
que agora o povo comum teria condições de debater a
Palavra de Deus com eles, o que exporia a própria
ignorância. Roma lançou mão de toda sua autoridade para
impedir que as Escrituras se espalhassem. Mesmo assim,
quanto mais proibia a Bíblia, mais as pessoas queriam
saber o que ela realmente ensinava. Todos os que sabiam
ler a carregavam consigo e só se satisfaziam ao memorizar
grandes trechos das Escrituras. Lutero começou
imediatamente a tradução do Antigo Testamento.
O PROTESTO DOS PRÍNCIPES
Um dos testemunhos mais nobres que já aconteceu em prol da Reforma foi o
protesto que os príncipes cristãos da Alemanha fizeram na Dieta de Espira em
1529. A coragem e a firmeza desses homens resultou na liberdade de
consciência das gerações seguintes e deu à igreja reformada o nome de
protestante. A intervenção divina vinha contendo as forças que se opunham à
verdade. Carlos V estava determinado a esmagar a Reforma, mas sempre que
levantava a mão para golpeá-la, era forçado a dirigir o golpe para outra parte.
Vez após vez, em momentos críticos, o exército turco aparecia na fronteira, ou
o rei da França ou até mesmo o papa guerreavam contra ele. Dessa maneira,
em meio aos conflitos e tumultos das nações, a Reforma foi deixada de lado,
para se fortalecer e espalhar.
Finalmente, porém, os governantes católicos se uniram
contra os reformadores. O imperador convocou uma dieta,
ou concílio, para se reunir em Espira em 1529, com o
propósito de acabar com as heresias. Como os métodos
pacíficos haviam falhado, Carlos estava pronto para usar a
espada. Os adeptos de Roma demonstraram abertamente
sua hostilidade em relação aos reformadores. No lugar de
Lutero, estavam seus cooperadores e os príncipes que
Deus havia levantado para defender Sua causa.
EDITO DE WORMS
Por fim, propôs-se que, onde a Reforma não havia sido estabelecida, o
edito de Worms fosse colocado em vigor. E “onde os habitantes não se
conformassem com ele sem perigo de revolta, deveriam pelo menos
não introduzir nenhuma reforma nova, [...] nem se opor à celebração
da missa, [e] não permitir que nenhum católico romano aderisse ao
luteranismo”. Essa medida foi aprovada no concílio, para a grande
satisfação dos padres e oficiais da igreja. Se esse edito fosse colocado
em prática, “a Reforma não poderia se ampliar, [...] nem se estabelecer
em alicerces sólidos [...] onde já existia”. A liberdade seria proibida.
Não haveria permissão para ninguém se converter. A esperança do
mundo parecia prestes a se extinguir.
NOBRE POSICIONAMENTO DOS PRINCIPES
“Protestamos por meio destas palavras [...] que, para nós e para nosso
povo, nem consentimos nem aceitamos de maneira nenhuma o
decreto proposto em tudo aquilo que é contrário a Deus, à Sua santa
Palavra, ao direito de nossa consciência e à salvação de nossa alma. [...]
Por esse motivo, rejeitamos o jugo que nos é imposto. [...] Ao mesmo
tempo, esperamos que sua majestade imperial se comporte em relação
a nós como um príncipe cristão que ama a Deus acima de todas as
coisas. E nos declaramos prontos para oferecer a ele, bem como a
vocês, graciosos nobres, todo o afeto e toda a obediência que
correspondem a nosso justo e legítimo dever.”
A maioria ficou espantada e alarmada pela ousadia dos protestantes.
Dissensão, guerra e derramamento de sangue pareciam inevitáveis.
Apesar disso, os reformadores, confiando no braço onipotente de Deus,
estavam “cheios de coragem e firmeza”. “Os princípios contidos neste
celebrado protesto [...] constituem a própria essência do
protestantismo. [...] O protestantismo coloca o poder da consciência
acima do governo e a autoridade da Palavra de Deus acima da igreja
visível. [...] Diz, assim como os profetas e apóstolos: ‘ É preciso
obedecer antes a Deus do que aos homens’ (At 5:29). Na presença da
coroa de Carlos V, ele exalta a coroa de Jesus Cristo.”
A experiência desses nobres
reformadores contém uma lição para
todas as eras que viriam. Satanás
continua se opondo às Escrituras
como guia para a vida. As pessoas
de nosso tempo necessitam retornar
ao grande princípio protestante – a
Bíblia e a Bíblia somente como
regra de fé e do dever.
Grande Conflito
DIETA DE AUSBURGO
O rei Fernando negou uma audiência aos príncipes evangélicos; mas, a
fim de silenciar as dissensões que estavam perturbando o império, no
ano seguinte ao protesto de Espira, Carlos V convocou uma dieta em
Augsburgo. Ele anunciou que tinha a intenção de presidi-la pessoalmente
e convocou os líderes protestantes.
Chegou o momento designado. Carlos V, cercado pelos eleitores e
príncipes, separou tempo para ouvir os reformadores protestantes.
Naquela elevada assembleia formal, os reformadores apresentaram com
clareza as verdades do evangelho e apontaram os erros da Igreja
Católica. A ocasião foi chamada de “o maior dia da Reforma e um dos
mais gloriosos da história do cristianismo e da humanidade”.
Lutero havia se apresentado sozinho em Worms. Agora, em seu lugar, estavam
os príncipes mais poderosos do império. Ele escreveu: “Sinto uma alegria que
não cabe em mim por ter vivido até esta hora, a fim de ver Cristo publicamente
exaltado por fiéis tão ilustres em uma assembleia sobremodo gloriosa.” Aquilo
que o imperador havia proibido que se pregasse no púlpito foi proclamado no
palácio. O que muitos consideravam inapropriado até mesmo para os servos
ouvirem foi escutado com estupefação pelos mestres e senhores do império.
Príncipes coroados eram os pregadores, e o sermão foi a verdade real de Deus.
“Desde a era apostólica, nunca houve uma obra maior ou uma confissão mais
magnífica.”
Do local secreto de oração, vinha o poder que abalou o mundo da
Reforma. Em Augsburgo, Lutero “não passava um dia sem dedicar no
mínimo três horas à oração”. Na privacidade de seu quarto, ele era
ouvido derramando a alma perante Deus em palavras “cheias de
adoração, temor e esperança”. Para Melâncton, escreveu: “Se a causa é
injusta, abandone-a. Se a causa é justa, por que desonrar as promessas
dAquele que nos manda dormir sem medo?” Os reformadores
protestantes edificaram sobre Cristo. As portas do inferno não
conseguiriam prevalecer contra eles!

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