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NiONSENHOE G aVME

SÃO P a V L O M.CM.LI
http://www.obrascatolicas.com
M on sen h o r G a u m e
Protonotário Apostólico

O Sinal d a Cruz

Primeira tradução brasileira

l 05
por Mons. Gaume
Protonotário Apoctôlico

“In. hoc Signo vincM."


Por este Sinal vencerás.
(Euseb. vit. Conct., 1,22)

Livro que de Pio IX mereceu um "Breve" especial.

Primeira tradução brasileira


cuidadosamente calcada sobre a Quarta Edição Francesa.

19 5 0
P e lo sinal t da S an ta Ç ru z .
^,ivraí-nos D eus. t N o s s o Senhor,
dos nossos t in im igo s. E m n om e
d o P a d re e d o F ilh o t e d o E s p í­
rito San to. A m en.
P R E F A C IO

(da Segunda Edição Francesa)

Duas palavras:
uma

sobre a publicação deste liv ro ;


outra
sóbre o resultado inesperado que ele obteve.

Como surgiu a idéia. desíe livro?


Quem pr^aoveu a circum íancia tão impreíjista, que-
c cie deu origem?
Porquê seré q?.íe Iw ro d estin d o a despertar no-
mwndo católico a F é 1' W Sinal da C ^ , só k^oje é que apo-
rece e a uns dois ou trcs séculos. antes ?
Qual a. razão de, oté nossos dias, nenhum Papa ter-
íido a idéia de corweder uma graça e s p iriíw l a esta fór-
muia. que é a. mais veneravel, a mais antiga, a 'lt'ULiís habi--
íw -l da Religião?
Como fo i que P io IX , em meio a tantos ocupações,,
Se dignou escutar nossa débil vóz e Se apresso« em ad-
uertir os atw lis Cristãos a que r e c u a m cro da Cruz,
c^omo semrwe ftzcram O!t antigos?
Com que fim o Santo Padre ligou o esta ^n itica
Indulgência duplamente preciosa?

A té ôntern, não sabíamos responder a tais perguntas.


H oje, a clarividência está sôbre elas derramada.
A Providencia não procéde nunca. a êsmo.
N a Ig r e ja tudo vem muito a propósito.
Deus está mais oque habituado- a servir-Se mesmo
daquilo que ^ l o eriste para confundir aquilo que existe.
E ’ por isso que em Sua D ivina Providência Êle é tão
admiravel assim nas consas pequenas como nas grandes.

— “ iWagnus in magnis,

non parvús i » m inim is" —

Houve tempo em que, com. todas as forças do seu do­


mínio, da sua crueldade e da sua raiva, Satanás era o
dominador das idéias, das artes e dos teátros, das leis,
dos costumes e das féstas.
Dominando tronos e altares, o te rrível inimigo da
Hum^^idade manchava tudo e tudo convertia em ins­
trumento de corrupção.
Mas . . . os primeiros Cristãos instruídos diretamen­
te pelos Apóstolos, ficaram sabedores de que
“ O Sinal da Cruz é a — arma. de precisão — contra
Satanfis ".
Em lutn permanente com tal inimigo, a.queles Fiéis
tinham sempre recorrido ao Sinàl da Cruz como meio
in falivel de dissipar a fm^ça fascinariora e de arredar aa
sétas in fl^ a d a s do furioso adversário.
Daí o uso do Sinril da Cruz, como o Exorcismo de ca­
da instante.
Reflitamos bem.
Se h-oje (sem premeditado designio do autor) apare­
ce uma óbra destinada 2 fazer os Cristãos r e t o ^ r e m a
arma vitoriósa de seus maióres;
se apezar de tantas contrariedades esta óbra. se espa­
lha com rapidez;
se até em Roma adquiriu éla o mais precioso dos
sufrágios;
se, finalmente, depois de dezoito séculos, o V igário
de Jesus Cristo, o Chefe do longo combate, agora por um
áto solêne concita o Mundo Cristão a recorrer constan­
temente ao Sinal outróra vitorioso sobre o paganismo,
que significará isso?
E ' sinal que nós nos achamos em circunstancias bem
análogas a aquelas dos primeiros Cristãos.
Êles se viam em face a Satanás, rei e deus do século;
êles viviam no meio de um mundo que não éra Cris­
tão, que o não queria ser, que não queria que alguem o
fôsse, que perseguia a todo o transe a quem insistia em
o ser.
E nós?
Não estamos nós hoje, em face a Satanás, desen­
freado M mundo, a insurgir as nações contra Jesús Cris­
to, e a faze-las exclamar com vós m fatiga,'el:
— Não queremos mais que Êle reine sôbre n6s?

"Nolumus hune renna:re super n,os 7


Em que meio vivem os Cristãos de hoje?
Não esUlo êles c v o h ’ idos em um mundo, que deixa.
rle ser Cristão, que o não quer ser, que não quer que al-
guem seja, e que persegue por todos os môdos a quem
se obstina em o ser?
A astúcia, a violenda, a injúria, a blasfêmia, o sar­
casmo, a calunia, a espoliação, o exílio, e até a morte, não
silo meios empregados h oje contra nós os filhos tal como-
outróra contra os nossos pais?
N ão são hoje armas contra o Cristianismo, as artes,
as ciências, as leis, os livros, as féstas e os teátros?
E será de espantar, que a Sentinéla de Israel, o So-
bcrano Pontífice, venha, por um áto desconhecido a. seus
piw le^asôres, despertar nos Cristãos a Fé no Sinál pro­
tetor da Ig r e ja e da sociedade?
T al é a analogia, que até os próprios protestantes
n reconhecem.
Na opinião dêles (com o é a nossa) para o mundo
atunl não ha salvação a não ser na Cruz-
No começo de Outubro, o jornal prussiano, A Gazeta
da. Cr?íz, publicou um longo artigo intitulado: "P m ' este
Shul.l vcnccrõs ” ! " I n hoc Signo vinces".
Estamos hoje em c()rnbate espiritual contra o mes­
mo anti-eristianismo que, ha muito, Constantino vencê-
ra rom a espada.
Sem duvida que hoje tambem é neceasário d izer:
Vení^crfis por este SiniLl! “ In hoc Signo vinces.”
Potencins oc^dtas e ferózes assaltam a Autoridade
quCt, por graça de Deu11, é chave de' toda essa abóbada cha­
mada — "ordem ooâal cristã.”
E ’ necessário que o mal e o Remédio sejam igual­
mente incontestaveis.
Do contrário não se havia de ver aos protestantes, —
esses que ha muito haviam repudiado o Sinal da Cruz co­
mo um ato de idolatria, — proclamando agora a necessi­
dade dele.
Sim. O Sinal da Cruz é arma indispensável para a
vitória sôbre as potências ocultas e ferózes, cujo triunfo
nos arrasta às condições de um pov'0 bárbaro.

A providencial aparição do livro

— O Sinal da Cruz —

explica por Bi mesma os rápidos resultadosv que e ^


liv ro obteve.
Três traduções apareceram em diferentes linguas da
Europa; uma na Alemanha, outra em Turim, e outra em
Roma.
Os jornais católicos, à porfía, o re c o m e n d a .
Muitas cartas nos têm trazido felicitações dos mais
respeitm eis homens da França e. do extrangeiro.

Todos concordam
1.0 — em mostrar come v e io a propósito este humilde
trabalho;
2.0 — em fazer sobressair a s.rrandeza da espiri­
tual, que é do Sin.ál da Cruz uin dos resultados eternos.
Citemos algumas linhas; e os que as escreveram dig-
twm-se receber aqui a e x p r^ ^ lo de meu r^ n h ec im e n to .

A sábia revista napolitana — “ Scienza e fe d e ” —


( Ciência e F é ) termina sua longa análise, dizendo:

“ Que proí,e-ito, perguntará nossa sociedade enterrada


n.o m a íe r ia li.!^ até a;s ventas, que proveito poderá íira r
tr. h.^^^^idade desía óhra de Mon.senhor Ga^a:ume?
Dará- ela algum socorro aos pobres ope^nirios que a
^rr/mlução deixou sem trabalho?
Alistará alguns voluntários para a Polônia?
E xterm inará os bandidas que assdlam a Italia?
Fará mu,iío mais:
— Do.rá o pão da F é ao..: que carecem dele. —
N a guerra encarniçada que temos a susíentar contra
o bandido in/e^rnal, os Cristãhs de novo se oJistarão debai­
xo do Estandarte da C’ ’uz.
E.ç.qc Estandarte ^ v i n o que salvmt o mu.ndo e' o imico
dotalo de /orr;a poim hoje sal-oa-lo ainda.
Bcja o /utítro q«.c fô r, o Estandarte da Cruz nos en­
sinará ase^rmos ndbrcíi uencedores ou nóbres vitimcz.s.

"[7
1. h.oc Signo ZJinces."
M aravilhado por v ê r uma Indulgência ligada ao S i­
nal da Cruz, o veneravel deeâno da cadeira católica es­
creve-nos:

"O Sinal iüL Indulg^icíado a pedido vosso!. . .


Que dirão tantas pessôas que não) ^ M ro aqui nomea-
lcuf ■
O Santo P aãre acaba de pagar-vos com prodigalidade-
o trabalho que escrevestas para deter o paganismo que
nos invade.
Toda. a Ig r e ja recebe v6s e p or causa vossa) o
insigne fa v ô r duma /ndulgênaid, larga vorno o «niverso,.
duradoura como os séculos; Indulgência que, d'kora em
diante, !» c ^ la h ^ , a. c ^ la segundo, cairá, como orvalho-
re^ulgerante, sôbre as A l^ a s do PurgatórW.
Qus <k B ^ ^ ^ s não c ^ ^ ^ ã o sôbre vós estas santas
Alwws/
E se, depois iüL morte fôrdes obrigado a fazer-lhes
u.ma visi’ta, que recepção vos esperará!"’.

Deixemos outros testemunhos, e passemos a algumas ■


peças emanadas de Roma.

A comissão encarregada de vela r pelas escólas re-.


gionárias entendeu dever d irig ir aos diretores a seguinte
circular:

“ P o r entre um gra,1tde número de livros inuteis e ■


perigósos, especialmente p ara tr. mocidatle, não faltam-
livros ttteis e próprios a derram ar no espti.rito c re ^ s -.
ças as melhores maximas e o amar das p r a í i ^ maií? san-
ias de nossa Augusta Religião.
Uma destas obres é, sem contradição, a intitulada:

— O Sinal da C rm —

que h«. p ^ o saiu da i?nprensa Tiberirm e que tem sido


elogiada p or um grande número de jornais católicos.
O abaixo assinado, rec<omendando c ^ insict^w ia ao-S'
senhores mestres, nõo cconsintam, em esoolas senão
. óbras aprovadas pela comissão, egualmeníe lhes recomen­
da faça'rn que esta óbra seja comprada e lida cpor os dis-
cipuloo.
M ais lhes diz: que ela poderá ser ^ id a em prêmio
nas distribuições particulares que se costumam fazer nas
.e.c;cólas respectivas.”
“ Roma, do- Secretário da comissão,
o deputado
(a) ■L. P e i r ^ . "

Antes desta circular havia já apareeido o documento


seguinte:
C A R T A D E S. EM . O C A R D E A L A L T IE R T '

a Mons. Gaurne

Protonotario Apostólico.

Roma, 17 de Agosto de 1863

“Ilustríssimo Monsenhor,

Com a publicação de vosso adm iravel liv ro sôbre o


Sinal dOA Cruz haveis prestado novo e mui n ^ ^ v e l ser­
viço à causa da Ig r e ja de Jesus Cristo.
N a verdade, fizestes conhecer por um modo o mais
atraente, tudo o que contém, tudo o que ensina., tudo o que
opera de sublime, de santo e divino e por conseqüência
de soberanamente proveitoso às A l ^ s , esta F^6rmula Sa­
grada, tão antiga como a Igreja .
O Chefe Augusto da mesma Ig reja , o V ig á rio de
Jesús Cristo, o Soberano Pontífice, não ^podia deixar de
acolher com gosto, uma óbra tão preciosai de ^ ^ n h a . uti­
lidade ao povo cristão.
Assim, não s6 exprim iu viva satisfação, quando de-
puz em as Sagradas Mãos o exem plar que por minha via
oferecestes a Sua Santidade, mas dignou-se, além disso,
atender com bondade o manifestado desejo de que à prá­
tica do Sinal da Cruz se ligasse uma Indulgência, exci­
tando os Fieis ■a usal-o sempre que fosse possivel e sem
acanhamento para proteção e defesa da própria Alma.
N o B reve que vai junto vereis quanto o Santo Padre
fo i g e n e r o ao conceder semelhante graça e como faz
apreciar bem seu valor.
Im porta muito que este novo fa v ô r do Supremo Dis-
pensador dos Tesouros celéstes concedido em proveito da
Ig r e ja m ilitante seja univers^almente conhecido, quando
vosso lirvro mui excelente chegar à. inão de todos e fô r vos­
sa 6bra devidamente avaliada.
N a edição italiana, vinda ■muito a propósito e cuja
tradução f o i fe ita pelo ineomparavel Angelo d'Aquila,
exirte já o Breve de. que falam os;' e é necessário inseril-
nas demais edições todas que devemi v ir sucedendo.
Está pois, preenchido o vacuo que haveis notado- na
— delle Indulgence — (Coleção de indulgên­
cias).
Aasim, por efeito de vosso trabalho, cujo fim é
a tra ir a atenção universal para o prim eiro Sinál do culto
que todos devem prestar ao principal instrumento da Re­
denção, v ê V. EXcia. o tesouro da Redenção aberto para
bem das Almas que vivem sôbre a terra ou das que desce­
ram ao Purgatório.
E ' a digna recompensa e certamente a que mais V .
Exeelencia aspira.
Aceitai, Ilustríasimo Monsenhor, a expreesão da mai!>
aineera e elevada estima com que sou,

De V. S. Uma.
criado muito afetuoso
(a ) O. - Cardeal A líie t i
B R E V E D E SU A S A N T ID A D E

P/O IX , P A P A

— " A d perpetuam rei memoriam” — ■

Plenamente certos de que o salutar M istério da Re­


denção e a Virtude Dilvina se contêm no Sinal da Cruz
de Nosso Senhor Jesus Cristo, dele faziam uso freqüen­
tíssimo os prim itivos Fieis da Igreja , segundo os mais
antigos e mais insignes monumentos.
P o r este Sinal começavam todos os seus atos.

“ A cada movimento, a cada passo, ao entrar ou


“ ao saír de casa, ao acender as luzelc<l, estando
“ para comer, quando nos juntamos, ao praticar
"qualquer aç.ão ou no ato de partir para qual-
“ quer logar, nós marcamos a nossa fronte com o
“ Sinal da c ru z,” — dizia. Tertuliano.

Havendo isto em consideração, julgamos a propósito


despertar a piedade dos Fieis para com o Sinal salutar de
n o s a Redenção, abrindo os Celestes Tesom'os das Indul-
gcncins, a-fim -de que, imitando os belos exemplos dos
primeiros Cristãos, se não envergonhem hoje os Católi­
cos de publica e abertamente, munir-se com frequencia
do Sinal da Cruz, que é o Estandarte da M ilid a Cristã.
Eis porque Nós, confiando na misericórdia de Deus
Onipotente e na autoridade de seus bemavcnturados
Apóstolos Pedro e Paulo, concedemos, pela fórm a habi­
tual da Igreja, a todos. e a cada um dos fieis de ambos os
sexos que fizerem o Sinal da Cruz, contritos ao menos de
coração e invocada a Santissim.a Trindade, cincoenta
dias de Indulgência, pelas penitencias que lhes forem im­
postas ou qu-e por outro m otivo tivessem de cumprir.
Concedemos além disto, pela misericórdia do Senhor,
que estas Indulgencias poosam ser aplicadas por módo de
sufragio às Alm as dos Fieis que morreram em graça.
A s presentes Letras valham até a perpetuidade, não
obstante quanto p o ^ haver em contrário.
Queremos, além disto, que às cópias manuscristas
destas ou os exemplares impressos das mesmas, tendo a
assinatura d’ um Tabelião e estando munidas do sêlo de
um Eclesia.stico constituído em dignidade, se dê absoluta­
mente a mesma Fé que se daria a estas presentes Letras,
se f o ^ m exibidas ou mostradas.
Tambem queremos que um exemplar destas mesmas
Letras seja remetido à Secretaria da Sagrada Congrega­
ção das Indulpondas e Santas Reliquias, pena de nulida-
cie, conforme o decreto da mesma Sagrada Congregação
com data de 19 de Janeiro de 1756, aprovado por Nosso
predecessor, de santa. memória, o Papa Bento X IV , a 28
do dito mês -e ano.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, sob o Anel do Pes­
cador, a 28 de Julho de 1863, decimo oitavo de Nosso
Pontificado.
(a ) N. Cardeal Paracciani CiareUi

As presentes letras aportóUcas em fórma de Breve, em data de


28 de Julho de 1863, foram (segundo o decreto da mesma Sagrada
Congregação com data de 14 de Abril de 1856) a)lresentadas na Se­
cretaria da Sagrada Congregação das Indulgências, a 4 de Agosto do
mesmo ano.
Dou fé de haver sido dada em Roma, na mesma Secretaria, dia
e ano ut supra.
(a) A. A«eb. Prinzivam
Subetituto
NO TA PREL/M /NAR

(da p rim tira edição francesa)

N o mês de Novem bro dêste ano, chegou a París, para


seguir os cursos de um colégio de fran ça, um jovem Cató­
lico, pessoa de grande distinção.
^Fiél ao uso tradicional de fazer o Sinal da Cruz an­
tes e depois de comer, foi, desde o prim eiro dia, objéto de
espanto para os condiscípulos pensionistas.
O dia seguinte, em virtude da — liberdade dos cuUos
— o objéto das zombarias éra ele.
Vindo-me visitar, pediu-me que algo lhe eu diseésse
a respeito do Sinál da C iuz; pois os condiscípulos preten­
diam faze-lo cnvergonhar-se de o fazer.
Respondem àquele pedido

as cartas seguintes.

París, 1862.
P R IM E IR A C A R T A

París, 25 de Novembro de 1862

Sumario:
— 1. O mundo atUAl — 2. Hoje o Cristão ncío
foz, ou faz rara vezes, ou faz mc&t feito
o Sinal da C ^ . — 3. Os antigos
tõos faziam-n'o, e muitas vezes, e bem
feito. — 4. Quem estará a brazão e
com a Verdade?

Meu caro Frederic-o,

Apenas quinze dias ha que os jornais anunciaram o


naufragio do navio comandado pelo Capitão Walker.
A noticia que ambos lemos nos fo i dolorosa pela
morte de passageiros conhecidos nosaos.
Tinha o navio batido contra um escolho e um largo
rombo se havia declarado. Apesar dos esforços da equi-
pagem, fo i impossível tapa-lo. Em menos d’uma hora o
porão estava inundado; e o navio descia a olhos vistos
abaixo da linha de flutuação. ■
Diante do perigo, alijaram ao m ar a.s mercadorias;
além das mercadorias, as provisões de guerra; depois os
rn:>veis e uma parte dos aparelhos. P o r fim lá se foram
as provisões de boca, excetuando duas ou três pipas de
agua e alguns sacos de bolacha.
Tudo inutil.
O navio continuava a afundar-se e o naufragio to r­
nava-se iminente.
Gomo último ^ u r s o , W alk er mandou lançar as
lanchas, e muito à pressa entrou numa. Infelizm ente a
m aior parte dos passageiros em vez de nelas encontrarem
salvamento, encontrou a morte.
Com pequenas variantes, esta é a história dos gran­
des naufrágios.
Em transes tais, os que comandam o navio e as de­
mais pessôas que o ocupam são prontos em. a lija r tudo
quanto podem.
A vida prim eiro que tudo.

O mundo atual meu caro, (este mundo que ainda se


diz cristão e ao qual sem duvida pertencem teus Jovens
condiscípulos) oferece mais de um ponto de similhança
com um navio avariado e prestes a perder-se.
A s furiosas tempestades que desde longo tempo não
têm cessado de bater contra a N áu da. Igreja, nela têm
aberto largos rombos.
Em ondas grandes foram entrando doutrinas, costu­
mes, uso:i, e tendencias anti-cristãs.
E ' necessário um abrigudouro; não para o N a vio que
é imperccrií,.el mas para os pasaageiros que o não são.
O que se tem feito?
Não é aO' mundo abertamente pagão que me re firo ;
dele j;á o naufragio está consumado.
Falo é deste mundo que ainda pretende ser cristão.
Que fez ele?
Que fa z cada dia às provisões de guerra e de boca, às
mercadorias, aos móveis oe aparelhos de que a Ig re ja ti­
nha provido a Náu, a-fim de assegurar contra o impeto
dos ventos e contra os escolhos, o bom resultado da na­
vegação até ao porto da eternidade?
Tudo ou quasi tudo lançou ele ao mar.
Que é feito da oração em comum no seio das Fa--
milias?
N o mar.
Onde andam os estudos da Doutrina, as leituras pie­
dosas e a meditação?
N o mar.
Onde ficaram a assistencia habitual ao Santo Sa­
crificio da Missa, o Escapulário, e as contas do Rosário?"
N o mar.
Onde está aquela santificação séria do Domingo, dia
reservado unicamente para assistir à Santa Missa inteira.
e para escutar às pregações da P alavra de Deus e aos
Oficios D ivinos; para a visita dos póbres, dos aflitos e-
dos doentes?
N o mar.
Onde foram parar a prática freq u e n t' e regular dos:
Sacramentos da Confissão e da Comunhão, a observancia.
às Leis do jeju m e da abstinência
N o mar.
Onde está aquele espírito de simplicidade, de modés­
tia, de mortificação no vestuario, nos divertimentos, nas
habitações, nas mobilias, no alimento?
N o mar.
Onde está o Crucifixo? Que é das Imagens santas?
■e a Agua benta?
N o mar.
Tudo n{) m ar! . . .
E a Ntá.u continua invadida pelas ondas! . . .
Diminue o espírito cristão e o espírito mundano
ci-esce a olhos vistos.
Entram os viajantes nas lanchas, isto é, nas re li­
giões que eles próprios criam segundo suas edades, suas
posições, seus temperamentos, seus gostos.
Aos Domingos vão à Ig re ja o mais tarde possível,
assistem a um pedaço da Missa apressada, e ainda sabe
Deus, com qu€ in te n çã o !...
A uma Missa cantada não aguen^m .
I r à explicação da Doutrina e às Vésperas, nunca (1 ).
O Cristão de agora frequenta os espetáculos e os
bail(!S, lê tudo o que se apresenta, pi-atica tudo o que quer;
só não pratica aquilo que deve.
Eis os frágeis batéis a que o homem que se diz Ca­
tólico, hoje confia a própria salvação.
P or ventura poderá ele admirar-se de tantos nau­
frágios?
E a gente nóva que assim se vai creando?

(1) lloje, u mHÍori:i D.cm Pabc o que sejam Vcspercs.


Entre o su so s católicos imprudentemente abandona­
dos pelo mundo atual, um ba, entre todos respeitável,
que do naufrágio eu bem quizéra a todo o custo salvar.
E ' aquele, meu caro, que teus jovens condiscípulos
desprezam, sem saberem o que fazem :
E ' o Sinal da Cruz.
E ’ tempo de curar a conservação dele.
Se não, daqui a alguns anos terá seguido o caminho
de tantas outras práticas tradicionais que devemos! à ter­
nura maternal da Ig re ja e à piedade esclarecida dos sé­
culos cristãos (1 ).
2
Meu caro Frederico, queres tu saber o triste para­
deiro do Sinal da Cruz no mundo cristão de hoje?
Coloca-te um Domingo à porta duma. Igreja.
Observa bem a multidão, que entra na Casa de Deus.
Um grande número entra com altivez ou louca­
mente . . . (que, pora o logar santo, é o m esm o); entra
sem nem olhar para a pia d'Agua benta e não fa z o
Sinal da Cruz.
Outros, em número menor, apenas fazem um gesto
exteri^n* de tomar Agua benta e de fa z e r o Sinal da Cruz.
Tu os verás m ergulhar na pia a mão com luva; é
isso tão errado como seja o confessar-se ou comungar de
luvas.
Outros muitos, pelo modo com que fazem o Sinal da
Cruz, melhor seria que o não fizessem.
Estou certo de que o mais habi:l explicador de hiero-
glyphicos, diante daquilo ficaria em dificuldades.
(1) Realizou-se a previsão, infelizmente!
Um tal movimento de mão- irrefletido, apressado,
truncado, maquinai, a que é impossível designar forma
ou dar uma significação, se é que ligam a menor impor­
tância ao oque fazem, eis deles o Sinal da Cruz ao Do­
mingo.
Nesta multidão toda de gente batisada, quantas pes-
sôas encontrarás que façam sériamente, regular e reli­
giosamente, o Sinal santo. da salvação eterna?
Ora, se em publico e em circunstâncias solenes, a
maior parte não fa z ou fa z mal o Sinal da Cruz, tenho
dificuldade em me persuadir que o façam e o façam bem,
noutras ocasiões onde há, na aparencia, menoo motivos
rlc o fazer, e de o fa zer bem.
E ' pois um fa to :
os Cristãos de hoje ^ t e fazem, ou fazem rarss vezes,
ou fazem mal fe ito o Sinal da Cruz.
Sôbre este ponto, como em outros muitos, somos
antipodas de nossos avoengos.

Os Cristãos prim itivos da Ig rej a faziam o Sinal da


Cruz, faziam-no bem e o faziam muitas vêzes.
N o oriente como no ocidente, em Jerusalém, em
Atenas, em Roma, os homens e as mulheres, os mancebos
e og velhos, os ricos e os póbres, os Padres e os simples
Fiéis, todas as classes da sociedade, observavam religio-
aftmente este uso tradicional.
A história não oferece fa to que seja mais certo.
Todos os Padres da. Igreja , como testemunhas ocu-
I a h i , o dizem; e todos os histonadores o certificam.
Encontrarás isto, meu caro, na obra intitulada —
De ornce — , trabalho do teu sábio compatriota Gretzer.
Em nome de todos, escuta agora s6 um — Tertu­
liano.
“ A cada movimento e a cada paS&O, ao vestir e
"a o calçar, ao entrar e ao sair de casa, ao lavar
“ ao assentar à mesa, ao acender as luzes, ao dei-
“ ta r e ao levantar, qualquer que seja o áto que
“ pratiquemos ou o logar para que vamos, sem-
“ pre marcamos nossa fronte com o Sinal da
“ Cruz ( 1 ) . ”
Eis o que está bem claro e é muito certo:
— Nossos avós de um lado ou de outro a cada
instante faziam o Sinal da Cruz. —

Sim. Não só eles o faziam sôbre a fronte, mas, a cada


■pasoinho, também na boca, sôbra os olhos e no peito (2 ).
Daqui resulta que
— Se os primeiros Cristãos reaparecendo hoje
nos logares públicos ou em nossas casas, f i ­
zessem o que faziam ha dezoito séculos, se­
riam tocad os p er loucos — .

(1) Ad omnem progressum atque promotum, ad omnem aditurn.


et exitum, ad vestitum et calceatum, ad lavacra, ad mensas,
ad l^umina, ad cubilio, ad sedilia, quocunque nos convertatio
cxercet, frontem crucls signaculo terlmus. (De Coron. milit.
c. III).
(2) In frontibus et in ocuUs, et in ore et in pectore et in om-
nibus membris nostrls. (S. Ephrem, Sern. in pret. et vivlt
crucem). Os primeiros Cristãos faziam muito a. miúdo o SI­
nal da ^ruz com o polegar sôbre n fronte, na boca, nos olhos.
sôbre o peito, em todos os membros. (Smto Efrem, Se^rmio
sôbre a Santa Cruz).
4

E', pois, muito v-erdade que, a i’espeito do Sinal dn


Cruz, os Cristãos modernos estão sendo uns a.ntipodas
dcs primeiros Ci^istãos.
A Verdade é uma só; e a razão s6 pode estar de um
lado.
Portanto, meu caro Frederico, uma das duas:
oH a razão está com <ls Cristãos de agora,
ou ela. ha de estar com os primitivos Cristãos.
1.0 — Si a razão estiver com os de agora, então os.
antigos não se justificam e por isso não pas­
sam. de uns nécios.
2.0 — Si os primeiros Cristãos tinham razão e mo­
tivos bastantes para se justificar, os Cris­
tãos modernos é que estão errados.
Não ha meio termo.
A razãG com ÇMcm estará ?
T al é a questão, meu caro Frederico.
Questão gra ve ; muito grave.
Poi^ certo é ela mais gra va do que julgam teus con-
cllscipulos e todos os que pensam a modo deles.
E ' do que espero te persuadir . . .
nas eartas seguintes.
Adeus.
SEGUNDA CARTA

París, 27 dê Novembro de 1862.

Sumario:
— 1. Precedentes a .favor dos primeiros Cris-
tõos. — 2. Primeiro precedente: a pro­
ximidade dos Apostolos. — 3. Segundo-
precedente: a santidade. — 4. Terceiro-
precedente: o uso dos verdadeiros Cris­
tãos. — 5. Foram os Padres da Igreja.
grandes genios? —

Meu caro Am igo,

Nas causas ordinárias, as circunstâncias exterio­


res representam um grande papel.
Dada a igualdade das testemunhas diretas, muitas
vezes, elas é que constituem motn-o para form ar a opi­
nião dos Juizes.
Tais circunstâncias se chamam: os antecedentes, a.
posiç-ão, o carater e etc. da.'! pessôas interessadas no deba­
te. Do processo que nos ocupa não havemos de as. afastar.
Antes pois de produzir para os primeiro3 Cristãos
razões tiradas da própria natureza do Sinal da Cruz, exa­
minemos as circunstâncias ou precedentes que miUtam
a favor da conduta deles.

Prim eiro precedente:

— a proximidade dos Apostolos.

Os Apostolos são Homens que conviveram com o


Messias que é Nosso Senhor Jesus Cristo Verbo Encar­
nado, a Verdade em Pessôa.
V ira m -N o com os próprios olhos, tocaram-No' com
suas ^mãos. Foram os únicos depositários e os orgãos
infaliveis da Doutrina do Senhor.
Ordem lhes tinha sido dada pelo D ivino Mesb’e de a
■ensinar completa : nem de mais, nem de menos.
P o r seu turno os primeiros Cristãos viram os Apos­
tolos e os Homens Apostolicos; trataram com eles e os
o u v ir a .
Deles receberam a Fé e por eles foram Batizados.
F o i portanto nas fontes da Verdade que eles a be-
beram.
Da Doutrina Apostólica, a quem tudo deviam., é que
nutriam o E spírito; dela faziam a regra das próprias
ações e com inviolavcl fidelidade a observavam: perse-
ue^nnícjí in d.octrina aijosíolorum.
Nunca ninguém esteve em melhores condições do que
eles para conhecei" o pensamento dos Apostolos sôbre a
Doutrina de Nosso Senhor.
Se, pois, os primeiros Cristãos faziam o Sinal da
Cruz a cada instante, é forçoso concluir que — eles obe­
deciam a urna recomendação apostolica.
S'e assim n.ão fôsse, os A^xitolos e seus primeiros
sucessores, guardas infalivcis do tríplice deposito — da
Fé, dos costumes e da disciplina, dar-se-iam pressa a proi­
bir um uso inutil, supersticioso e próprio a expOr os neo-
fito s à zombaria do paganismo iguorante (1 ).

Portento repito:

— Fazendo muitas vezes o Sinal da Cruz, os p ri­


m itivos Cristãos da Ig r e ja procediam com pleno conheci­
mento de causa.

Segundo precedente:

— a santidade.

Não só os primeiros Cristãos e r ^ muito instruidos


na Doutrina dos Apostolos; mas, também muito fieis em
pratica-la.
Disto é prova serem muitos os santos daquele tempo.
Não há verdade melhor es^belecida do que a
seguinte:

A santidade era o caráter comum dos •primei­


ros Cristãos.

(1) Neófito — nome que designava os que se convertiam ao


Cristianismo.
1.“ ) Eles preferiam perder tudo, — a liberdade, os
bens, o bom nome e a. própria vida no meio dos peiores
suplícios, — antes de que ofender a Deus.
F o i um heroísmo que durou tento como as persegui­
ções : — três seculos.

2.®) Eram muito caritetivos.

O Céo e a terra se uniram para elogiar-lhes o mutuo


am or verdadeiro que os unia, único nos. anais do mundo.
Constituíam um só coração, e uma s6 A ^ ia : “ Cor
«reum, et anima ttna,” diz deles o próprio Deus nas E s­
crituras.
V ejam como se 'querem bem e sempre estão prontos
a m orrer uns pelos outros: “ Vide ut invicem se diíigant,
et ut p ro alterutre wiori sint parati,” exclamavam os
pagãos!

3.") Eram ternos e respeitosos para com os A p o :-


tolos, aos quais obedeciam com submássão filial.
São Paulo, que não era adulador, escreve aos Cris­
tãos de Rom a:

"E ' celebre wo mundo inteiro o vossa F é .’

E aos da Asia diz que o amavam por tal modo, que,


se pudessem, arrancariam os olhos para lhos dar.
A um pedido dele, todas as Igrejas voam a socorrer
os irmãos de Jerusalem, e Philemon recebe a Onesimo.

4.®) Testemunhas oculares, os Padres da Ig reja


continuaram a dar dos prim eiros Cristãos o mais brilhan­
te testemunho de Santidade.
Diribrindo-se aos Juizes, aos Pretores, aos Proeonsu-
les do Im perio, Tertuliano lhes propunha solêne
desafio:

“ Apelo para vosSQs proceesos, 6 Magistrados


“ que sois encarregados de fazer justiça. Entre
“ esta multidão de acusados que todos os dia apa-
“ recum á barra de vossos tribunais, qual é o en-
“ venenador, o ladrão, o assassino, o sacrílego, o
“ corruptor, que seja Cristão?
" E ' dos vossos que as prisões estão cheias até
"n ão mais; é dos voesos que as minas estão po-
“ voadas; é dos voasos que se engordam as féras
“ no anfi^teaJtro; é dos vossos que se fo^nnam
“ a multidão de gladiadores. Entre eles nem um
“ só Cristão, a não ser pelo único crime de pro-
“ fessar o Cristianism o." (1 )

5.0) Os historiadores pagãos reconheciam-lhes a


in^ocencia. e os mesmos perseguidores prestavam home­
nagem à virtude deles.
Tacito, autor tão exigente como injusto a respeito
de nossos país (os prim eiros C ristãos), refere a horrível
carnificina dos Cristãos no reinado de Nero.

'“Uma enorme multidão, multííude ingens, diz


“ ele, morrem em horrível suplicios."
“ Eram inocentes de todo o crime e só culpados
“ no odio do genero humano: «dio genei^is hu-

(1) Apol., e. XLIV


E is o ponto.
Qual era () genero humano de Tacito?
Ele próprio o diz:
— “ E ra a ralé viva, a crueldade em pessôaZ’
D ’onde nascia seu odio aos Cristãos?
De ser sempre inim igo irreeoneiliavel do benu
A santidade de nossos pais era a lcondenaç.ãO' impla-
eavcl dos monstruosos crimes qoo manchavam os pagãos.
Daí as fogueiras de N ero e os fachos ateados.
Quarenta anos depois de Nero, P lín io o moço, go­
vernador da Bithinia, é encarregado por Trajano de in­
form ar contra os Cristãos.
Cortezão zeloso, exwmtã com rigor as ordens do seu
f'cnhor e prende nossos avós.
Dados à tortura, ele mesmo se interroga.
Que resultado lhe deram seus sanguinolentos pro­
cessos?

“ Todo o crime dos Cristãos, escreve Plínio a


“ Trajano, consiste em se reunirem certo dia,
“ antes do romper da aurora, para entoar lou-
“ vores a Cristo, como se fô ra um Deus; e a
“ ohrigar-se por juramento a não cometer crime
“ algum, mas a evitar o roubo, o assassinato,
“ o adulterio e o perjurio. Eu os puz em tortu-
“ ras c nfio os achei culpados, a não ser de uma
“ prejudicial p excessiva superstição.” (1 )

h^ui cxt.cnso, meu caro Frederico, sôbre a santidade


de nossos maiores.

lll K!|)l!ltlih. X, cpist. 97.


A meu v e r ela constitue a mais poderosa. circunstân­
cia a fa v o r do Sinal da Cruz.
Quando homens daquele carater, à. frente da morte,
se mostram invariavelmente fieis a um dado uso, é ne-
cessario crer que tal uso é um pouco mais mportonte do
que julgam-no os teus jovens condiscípulos.

Terceiro precedente :
— O uso dos verdadeiros Cristãos nosseculos
seguintes. —
Muito cedo, tanto no oriente como no ocidente, se
form aram comunidades religiosas de homens e de mu­
lheres.
Em asilos tais, separados do mundo, é que se encon­
tram, sinão imobilisados, ao menos perpetuados com a
m aior fidelidade, o verdadeiro espírito do Evangelho e a
pura Tradição do Ensino Apostolico.
E ntre os antigos usos, conservados com Z<-lo e cui­
dado, figu ra o Sinal da Cruz.
“ Nossos Padres, os antigos Monges,^ escreve um
“ de seus historia^Iores, praticavam muitas ve-
“ zes, e mui religiosamente, o Sinal da Cruz.
“ Fazium-n'o principalmente ao deitar e ao le^
“ van tar; antes do trabalho; ao sair da cela e
“ do M osteiro e quando e n t r a v a ; quando se sen-
“ tavam à: mesa; sôbre o pão-, sôbre o "in h o, e sô-
“ bre cada igu aria” (1 ).

(1) Marténe. Do antig. monach. ritib., llb. I d.o 25, etc.


O uso tradicional do S‘inal da Cruz, sinal redentor
\'em no mundo em linha paralela.
Todos os grandes homens que, durante mais de qui­
nhentos anos, se sucederam no oriente .e no ocidente, aque­
les genios íncomparaveis que se' chamam os Padres da
Igreja :
— Tertuliano, Cipriano, Atanasio, Gregorio, Basi-
lio, Agostinho, Crisóstomo, Jerónimo, Am brósio e ' tan­
tos outros, cuja lista espantosa com o seu peso esmaga o
orgulho dos seculos —
todas estas elevadas inteligências faziam muito as­
siduamente o Sinal da Cruz e o recomendavam com insis­
tência a todos os Cristãos, quE! o . fizessem em qualquer
ocasião.

Aos Padres da Ig r e ja eu os chamei gra^ndea gentozt


e gra.ndes homens.
Se como tais os fizeres notar a teus condiscípulos,
oh ! espera logo por um. sorriso, de impiedade.
pobres mancebos ! Conhecem eles aos Padres da
IJrreja, tão ^ m como os antipodas selvagens hão de co­
nhecer.
Pergunta-lhes prim eiro o que entendem eles por
grnnde,s homens.
N a falta de uma resposta, eis a minha, que poderá
Hol'\'ir-to em caso de necessidade.
G^ramdes homens chamo eu a aqueles que, pela eleva-
çAo, profundeza e extensão de seu genio,. abraçam imen-
101 horizontes no mundo da verdade; aqueles. que eonhe-
cem ns c1tmcias, os homens e as coisas, não superficial­
mente, mas em seus prindpios, em seus fin s e em sua
natureza intim a; aqueles que conhecem não só a materia,
mas tambem o espírito que é indizi.velmente superior à
m ateria; aqueles que não só conhecem o homem, mas tam-
bem o A n jo ; não só a creatura, mas tambem o Greador;
homens que sabem não s6 o que existe aquém do tumulo,
mas tambem o que deve existir além dele; c o n h ^ m não
um ou outro fato isolado mas o conjunto dos fatos; não
uma lei isolada mas todo o sistema da creação, donde fa ­
zem sair inesperadas e luminosas aplicações para o bem
da Humanidade.
Eis o genio, eis o Padre da Igreja.
, . Podes desafiar teus condiscipulos a achar entre os
antigos e os modernos, quem, tão bem ou melhor, tenha de­
fin id o o grande homem. ,
P o r mais celebres que s e j ^ as notabilidades atuáis
em química, em fisica, em inecanica, em industria, eles
nem são genios nem grandes homens-
O homem que não abrange com sua vista mais que
uma lei secundaria ■da harmonia universal, não m erece
o nome de. genio; porque, não dizemos grande musico ao
que não sabe tira r se^te um único som de seu instru­
mento,. mas a aquele que h^armoniosamente fa z soar todas
as cordas.
H oje não tenho mais tempo de acabar este assunto;.
Si Deus quiser fa-lo-ei . . .
amanhã.
Adeus.
T E R C E IR A C A R T A

Paris, 28 de Novem bro de 1862.

Sumario:
— 1. Continuação do terceiro precedente: os
Doutores do oriente e do ocidente. —
2. Constantino, Theodosio, Carlos Mag­
no, S. Luiz, Bayard, D. João d'AU8trio,
Sobieski. — 3. Quarto precedente: con­
duta do Igreja. — 4. Quinto precedente:
os que fazem o Sinal da Cruz. — 5. Re­
sumo. —

Meu caro Am igo,

Em continuarão do ponto de hontem, digo-te:


Todos aqueles grandes genios, sem nenhuma exceção,
todos faziam o Sinál da Cruz.
Faziam-no e muitas vezes.
Mais. Não cessavam de recomendar aos Cristãos que
o fizessem em todas as ocasiões.

Dis um deles:
“ Para os que põem sua esperança em Jesus
“ Cristo, fazer o Sinal da. Cruz, é a primeira e a
“ mais conhecida coisa que entre nóSJ se p ratica :
"P rim u m est et notissimum.” (1 )

Um outro diz:

“ A Crnz encontra-se em toda a parte — enti‘e-


“ Os Principes e entre os subditos; entre os
“ Homens e entre as Mulheres; entre as Don-
“ zelas e entre as Matronas; entre os escravos e
“ entre as pessoas livreis — ; e todos com ela mar-
•‘ cam a fronte que é a parte mais elevada de seu
“ corpo.
“ Nunca de\'eis transpôr o lim iar de vossas casas
‘‘ sem dizer:
"Renuncio a aatanc.s e ligo-me a Jesus Cí*isío-
“ c sem acompanhar estas palavras do Sinal '
*' Cruz: cum hoc nerbo et cntcem in fronte im--
“UJri,ma.s.'' (2 )

Um outro diz:

“ devem os fazer o Sinal da Cruz a cada ação dO'


“ dia: omnc diei opus in s-igne facere Salvatoris.” '
•• (8 )

Outros ainda dizem:

“ Que o Sinal da Cruz mais abreviado, se deve fa-


“ zer constantemente sobre o peito, sobre a boca,
“ sobre a fronte, à mesa, no banho, na cama, à
“ entrada e l. salda de casa, nas horas ele alegria

(1) S. Banll., De Sp. S., e. XXVII.


(2) S. Chrys., Quod Chrlitiii 1111 Dcu11: et llomil. XXI, np popul.
Antloch.
(3) S. Ambl'., Ser., XLIII.
“ e de tristeza, assentado, de pé, ao falar, ao an-
“ dar, em todas as nossas ações; verbo dicam i «
“ omni neyotio — n^uma palavra — em tudo e
“ sempre.
“ Devemos fazê-lo sobre nosso peito, e sobre to-
“ dos nossos membros; para. que estejam pro-
“ tegidos por esta armadura invencivel dos cris-
“ tãos; amemui^ hac in.sttpera6üi Chrisíianoním
“ armatura — armemo-nos deste insuperável es-
“ cudo cristão.” (1 )

Confirmando suas palavras com o exemplo, até ao


último suspiro, vemos m orrer estes grandes genios, co­
mo o ilustre Crisóstomo, o rei da eloquencia, fazendo o
Sinal da Cruz.
Educados em tal escola, os mais nobres Cristãos s
­
e
guem tais passos.
Falando de Santa Paula, a neta dos Scipiões, S. Je­
rónimo diz:

“ Quando ectava nas proximidades da m orte e


“ suas palavras dificilmente podiam ser perce-
“ bidas, Paula tinha o dedo sobre a boca; e, fie l
“ ao uso, im prim ia sobre os labios o Sinal da
“ Cruz.” (2 )

A tra v e sa m o s os séculos e assignalemos alguns bri­


lhantes nneis da eadeia tradicional.

(I ) S. Gaudent. eplsc. Brixien., Trait. de lect. evang.; S. Cyrill.


Hler., Cntech., IV n. 14; S. Ephr., de Panoplia.
(I) Ad Euitoch.. de Epitaph, Paulo.
2

Sem fa la r dos grandes Imperadores, legisladores e


guerreiros como sejam : — Constantino, Theodosio, Car­
los Magno e outros tão fiéis ao uso do Sinal da Cruz,
cheguemos ao maior dos nossos reis, S. Luiz.
^ m igo que fo i e biografo historiador de Luiz IX , o
Snr. de Joinville, nos deixou este testemunho:

“ À mesa, no conselho, no combate, em todas a.s


“ suas ações, o Rei começava sempre pelo Sinal
“ da Cruz.” (1 )

O cavaleiro sem mêdo e sem nota, Bayard, é ferido


de morte.
Cheio de dignidade em toda a vida, seu último âto
fo i <> Sinal da Cruz feito com a propria espada.
Representadas por duas .esquadras de mais de qua­
trocentas velas, a potencia católica e a mussulmana estão
('m presença u ^ da outra no golfo de Lepanto.
Do combate depende — salvar-se a civilisação ou
triunfar a barbaria.
Os destinos da Europa estão nas mãos de D. João
d ’ Austria.
Antes de dar o sinal de ataque, o heroi Cristão fa z o
Sinal da Cruz. Todos os capitães o repetem, e o Islamis-
mo sofre uma derrota de que jam ais se pôde levantar.
Todavia, um século depois, ainda ensaia reparar
.aquele revez.

(1) Vida, c. XV.


Hordas inumeráveis avançam até debaixo dos muros
do Viena.
Sobieski é chamado; suas forças não l.'á.o nada, com­
paradas às do inimigo; mas Sobieski é Cristão.
Antes de descer à planice, manda a seu exercito f a ­
zer o Sinal da Cruz vivo, ouvindo Missa de braços aber­
tos.
Foi ali diz um guerreiro Cristão, naquele momento
que o gran V isir fo i batido.
Não acabaria mais, meu caro amigo, se quizesse ci­
tar, uns após outros, todos os fátos que estabelecem a
perpetuidade do Sinal da Cruz entre os verdadeiros Cris­
tãos de tod os os séculos e condições, aosim no mundo como
nos claustros, assim no oriente como no ocidente.
Esta gloriosa Tradição não form ará respeitável cir-
cimstancia a f^avor de. nossos prim itivos avõic; na Ig re ja ?
A tal respeite que pensam teus jovens condiscípulos?

Quarto precedente:

— a conduta da. Igreja .

Os séculos passam; e com os séculos mudam os ho­


mens.
Leis, habitos, modas, linguagem, maneiras de v er e
de julgm', tudo ,qe modifica.
Só a Igreja não muda.
Imutnvel corno a verdade de que é a Mestrn, o que
tmsinava c fazia ontem, Ela. o ensina e faz hoje, E la o
«nainarA c fnrá amanhã, Ela o- ensinará e fa rá sempre.
Qual o pensamento, qual a conduta d a Ig r e ja a res­
peito do Sinal da Cruz?
Não ha outro ponto sobre que com mais brilho se
manifeste sua divina imutabilidade.
Pode dizer-se que a Ig re ja v iv e do Sinal da Cruz e
isto ha dezoito séculos (1 ).
Nem um instante deixa de empregá-lo.
Começa, continua, acaba tudo, por este Sinal.
De todas as praticas, o Sin.a.l da Cruz é a principal,
a mais comum, a mais fam iliar.
E ' a alma dos exorcismos, das orações, das benç.ã.os.
O que fa z hoje à nossa vista em nossas Basilicas, fa ­
zia-o à vista de nossos pais nas catacumbas.

“ Sem o Sinal da Cruz, dizem eles, nada entre


“ nós se fa z legitimamente, nada é perfeito, na-
“ da é aanto ( 2 ) . ”

A semelhança de Seu D ivino Fundador, a Ig re ja


exerce peder sobre o homem e sobre as demais creaturas.
Estende-o ac Céo e à terra : D ata est m ihi omnis potestM
in c:oeIo et in terra.

E de que modo o exerce?


Fazendo o Sinal da4 Cruz.

Quanto destina E la a seu proprio uso — agua, sal,


pão, vinho, seda, linho, bronze, prata, ouro — e quanto

(1) Há vinte séculos!


(2) Sine quo signo nlhil est sanctum. neque alia consecratlo
meretur effectm. (S. Cypr. de Bapt. chr.> Quod nlsl adhl-
beatur. nihil reete perficitur. (S. Aug., Trat. 128, In Joan.,
n. 5).
pertenc-e a seus filhos — habitações, campos, rebanhos,
instnimentos de trabalho, invenções de indústria — de
tudo toma posse pelo Sinal da Cruz.
Se ao Deus do Céo quer levantar urna habitação so­
bre a terra, prim eiro que tudo o logar do edifício deve
ser consagrado com o Sinal da Cruz.

" A ninguém, dizem os: Concílios, é permitido


“ edificar uma Ig r e ja sem que o Bispo v á ao
“ l ^ l , fa ze r o Sinal da Cruz para afugentar de
“ lá os demonios ( 1) .

O Sinal da Cruz é a prim eira coisa que emprega para


abençoar o edifício do Templo.
V in te vezes grava-o sobre o pavimento, sobre as co­
lunas, sobre o A ltar.
Para o imobilisar, manda fabrioá-lo de ferro, e o co­
loca no vertice do frontispício.
Quando seUS! filh os vierem à. Casa. de Deus, que farão
ant-es de transpor o lim iar?
O Sinal da Cruz.
P o r onde começarão os chefes da oração, os Bispos e
os Padres, a celebrar os louvores do ^Omnipotente?
Pelo Sinal da Cruz.

(1) Nemo ecclesiom editicet, antequan episcopus civitatis venlat,


el Ibidem crucem figat: addit glossa ad ablgcndas doemonum
phantMlar. (Novela V, ■paragr. I cap. Nemo deconsecrat.
dlct. I.>
Escreve um antigo liturgista :

“ Quando no princípio dos OfíciO& fazemos o-


“ Sinal da Cruz acompanhado das palavras; " ó
“ Deus, viruie em rrwu auxilio", é como se disses-
“ semos: Senhor, Vossa Cruz é o nosso adjutorio
“ com a mão Vo-la representamos enquanto com
“ a palavra Vos pedimos auxilio.
“ O diabo é o chefe de todos os inimigos de nossa.
“ salvação, e para nos engodar, lisongea a car-
“ ne. Se, porem, Senhor, por Vossa Cruz Vós nos
"d a is auxílio, ele e todos os mais nossos inimi--
“ gos serão deuotados (1 ) ! ’

Vêde sobretudo, a conduta da Ig re ja a respeito do-


nosso corpo, Templo v ivo da Trindade.
A prim eira coisa que fa z sobre ele, ao sair do seio
e t e r n o , é o Sinal da Cruz; e a última., quando o en­
trega ás entranhas da terra, é ainda o Sinal da. Gruz.
E is a prim eira saudação, e o último adeus aos filh os
de sua ternura — o Sinal da Cruz!
E do berço ao tumulo quantas vezes o Sinal da Cruz-
sobre o Homem?
No Batismo onde ele se torna filh o de Deus, o Si­
nal da Cruz; na Confirmação, onde se torna soldado da
virtude, o Sinal da Cruz; na Eucaristia, onde se nutre
com o pão dos Anjos, o Sinal ela Cruz ; na E xtrem a Un-
ção, onde é fortificad o para o último combate, o Sinal da
Cruz; na Ordem e no Matrimônio, onde é associado à.
paternidade do próprio Deus, o Sinal da Cruz.

(1) Raisons de l'Oíflce, p. 270.


Sempre e por toda a parte, hoje, como outriora, no
ori-ente como no ocidente, o Sinal da Cruz sobre o Homem
( 1) ".
Isto ainda não é nada.
V êde o que faz a Ig re ja quando sóbe ao A lta r per­
sonificada no Padre.
Com a omnipotencia que lhe fo i dada, vem a impe-
i'ar, não à creatura, mas ao Crcador; não ao homem mru;
a Deus.
À voz do Padre o' Céo se abre; o Verbo Se encarna e
renova todos os misterios da própria vida, morte e res­
surreição.
E' um áto que deve ser cumprido com a mais solêne
gravidade; um ftto do qual é necessário banir com o má­
ximo cuidado tudo quanto seja extranho ou superfluo.
Entretanto no d ^ r s o do Santo Sacrificio que é a
Ação por excelencia, a Ig re ja mais que nunca multiplica
o Sinal da Cruz, envolve-se no Sinal da Cruz, marcha
atravéz do Sinal da Cruz; repete-o tantas vez.t>s que o nú­
mero a que chega poderia parecer exagerado, se não fos­
so profundamente misterioso.
Sabes quantas vezes o Padre fa z o Sinal da Cruz du­
rante a Miesa?
Fa-lo r oito pe.zcs!

íl) Si regenerari oportet. crux adest; si mystico illo cibe nutriri.


si ortlinarl, si quidves aliud faciendum, ubiquc nobis ade!lt
hoc victorlae Symbolum. (S. Chrys., In Math. homil. 54, n. 4.)
Quod S ig n ^ nisi adhibeatur trontibus credentium, sive ip^
aquae in qua regencrentur, sive eleo quoe chrlsmate ungun-
tur, nihil eorurn recte perficitur. (S. Aug., J'oan., tract. 128
n. 5.)
D igo m al: — enquanto dura o Augusto Saerif.ício, o
Padre é um Sinal da vivo.
E seria possível, meu caro, que a grave instituidora
das Nações, a grande Mestra da Verdade, a Ig re ja Cató­
lica, fosse divertir-se eom repeth* tantas vez es, no áto
o mais solêne, um sinal inútil, supersticioso ou de mini-
^ importância?
Se teus condiscípulos julgam isso, tomaram-se cre-
dulos demais : — ' m editam , o g «e não devem.
A conduta da Ig re ja e dos verdadeiros Cristãos de
todos os séculos, é uma circunstância vitoriosa a fa vor de
n ^ o s antepassados.

Quinto precedente:

— os que não fazem o Sinal da Cruz — .

N o mundo ha seis categorias de seres, que não fazem


o Sinal da Cruz.
a) Não o fazem os pagãos: Indios, Chinezes, Thi-
betanos, Hottentotes, Selvagens da Oceania, idolatras de
ídolos monstruosos, povos profundamente degradados e
não menos infelizes.
b) N ão o faz.em os malun»etano.5, imundos pelo
sensualismo, tigres pela crueldade, automatos pelo fa ta ­
lismo.
c) Não o fazem os judeus; profundamente encrus-
^vios n’uma acamada espessa de superstições ridiculas,
petrifi^cação v iv a de uma raça decaída.
d) N ão o fazem os hereges, que pretenderam refor­
mar a obra de Deus e que, em punição do próprio orgulho.
tanto têm perdido da. verdade, a ponto de chegar um dos
ministros prussianos a dizer, pouco tempo fa z : — Sou
capaz de escrever na ' unha de meu dedo polegar tudo
quanto resta de comum entre os protestantes— .
e) Não o fazem oS' católicos renegados de seu Ba­
tismo, escravos do respeito humano, uns ignorantes so­
berbos que falam de tudo, e que nada sabem; uns idola­
tras do próprio ventre, dais baixezas da carne, e da matéria
v il; e cuja vida intima é como um tecido fartamente sal­
picado de manchas.
f) Não o fazem os brutos: bipedes, quadrupedes,
animais da toda a especie — patos, marrecos, perús, ce­
gonhas, avestruzes, cães, gatos, jumentos, zebras, came­
los, curujas e crocodilos, ostras e hipopotamos.
Tais são as seiSl categorias de s e r s que não fazem o
Sinal da Cruz.
Nos tribunais, o carater' moral do autor ou do réu
contribue poderosamente, ainda antes do' exame da cau­
sa, para determinar a opinião dos juizes.
Meu caro Frederico, peço-te que julgues se o caráter
nos seres. que não fazem o Sinal da. Cruz é ou não é pre­
cedente mui valioso a fa v o r dos primeiros Cristãos que
^ m p re se distinguiram com o Sinal da. Cruz.

.5

Km resumo:
Relativamente * o uso mui frequente do Sinal da Cruz.
t.t mundo dlvlde-se cm dois campos opostos. '
A trwor do Sinal da Cruz esído —
a) Os admiraveia Cristãos dos tempos primiti­
vos da, Ig re ja ;
b ) O s mais santos e maiores genios do oriente
e do ocidente;
c) Os verdadeiros Cristãos de todos os séculos;
d ). A própria Igreja que é a Mestra In falível
da Verdade.

Contra o Stíifl.l da COruz :

os pagãos,
os mahometanos,
os judeus,
os hereges,
e os maus ca^Hcos.

Parece-me que ^bem podes já te declarar.


Tua convicção ainda será mais fo rte quando soube-
res os motivos que justificam o procedimento de uns
-— aqueles que são a fa v o r ;
as razões que condenam os outros
— aqueles que são contra.
As cartas seguintes te dirão tais. moíitJos e razões.
Adeus.
Q U ARTA CARTA

Paris, 29 de Novem bro de 1862.

Sumari.o:
— 1. Resposta a uma objeçSo. — 2. Razõ.es
tiradas da própria natureza do Stnol d4
Cruz: o sinal da Cruz é cinco coisas —
3. £'■ um Sinal, que enobrece o homem,
porque é diuino. — 4. A idade de ottro
do Cristianismo. — 5. Quem é o outor
do Sinal- da Cruz?

Meu caro Frederico,

Dizes-me tu que, quanto a ti, a questão está julgada.


Nunca pudestes acreditar que entregando Deus em
partilha aos jproprios inimigos a .verdade e o bom senso,
houvesse de condenar seus melhores amigos à supersti­
ção e no erro.
Tua declaração sem me surpreender me regosija.
Teu esphito ■pl'Qcura a verdade e teu coração a de-
«e,ia. .

Seria fácil a tarcfa do apologista, se todos houvessem


do ter ns mcsmas disposições. tua.s.
Infelizmf.í-nte não sucede assim. .
Nu maior parte das controvérsias,, especialmente em
nwimntos religiosos, o adversário não discute c.om a razão,
r^KiM com suas paixões.
Não ha perigo que combata pela v.erdade; o que ele
quer é a vitória.
T riste v itó ria ! Consistirá em mais se escrávisar à
tr a n ia dO' erro e do v ic io !
E eu temo que essa vitória funesta seja ambiciona­
da p or teus condiscípulos, como va i sendo de tantos ou­
tros pretendidos católicos de nosso tempo.
Tenho por eles muita amizade e por issp não posso
deixar de lhes- disputar esse mau gosto.
A fim de lhes arrancar a ignorancia com que se co­
brem e cada v ez mais esclarecer a tua^ p-rópria convicção,
vou expôr a:S razões inírinsecq,s que j ustifkam a inviolá­
vel fidelidade dos verdadeiros Cristãos no uso' mui f r e ­
quente do Sinal da Cruz.

Mas, antes dieso, vamos examinar e ju lgar a grande


objeção dos modernos desprezadores do Sinal adoravel.

“ Outros tempos, outros costumes. O que era


“ útil, e mesmo necessário nos primeiros séculos
“ da Igreja, não o é mais hoje. Estão os tempos
“ mudados; é necessário v iv e r com o séc.ulo. ”

Isso é o que eles dizem.


E S. Paulo lhes responde:

‘'J.esu:.s G hristís heri, hodie, ipse et in secula


"Jesus Cristo era ontem, .Tesus Cristo é hoje, e
“ será o mesmo por todos os séculos, dos, séculos.”

Tertuliano acresoentã:
“O Verbo Encarnado chama-se — a Verdade, e
“ não o costume” .
Ora, a Verdade não muda.
AquUo que os Apostolos, os primitivos Cristãos da
Igreja, os verdadeiros Cristãos de todos os séculos hão
tido por útil e a.té certo ponto p or necessário, não. deixou
nunca de o ser.
Ouso até afirm ar que, — mais do -que nunca, é neces­
sário hoje.
A i-azão disso está nas relações de similhança que
existem entre a posição dos Cristãos dos primeiros sé­
culos, e a situação dos Cristãos do século X IX .

Qual era a posição de nossoa maiores na Ig reja ?


Estavam em face de um mundo que

não era Cristão,


não o queria ser,
não queria que alguem o fosse
.e perseguia com violencia a quem o era firm e ­
mente.

f nós?
Não estamos em face de um mundo que

deixou ele ser Cristão,


não quer, de modo nenhum, volta r a ser Cristão,
não quer que alguem o seja,
e, umas vezes pela astucia, outras vezes pela vio ­
lencia persegue aos que são- inabalavelmente
Cristãos?

Se os pi-imciros Cristãos, educados na escola do.'l


po::tnlos, eotisifleraram em igual situação como neces­
sário o uso tão frequente do Sinal da. Cruz, que razão te ­
ríamos nós para abandona-lo
Somos nós, por ventura, mais babeis, ou mais. fortes
do que os primeiros Cristãos?
São hoje menores .os perigos, menos numerosos ou
menos perfidos os nossos inimigos?
Tais questões, uma vez propostas., ficam resolvidas
pela ' clarividência.
Passemos adiante.

A té aqui, meu caro Frederico, tomámos em conside-


ção apenas as circunstancias , exteriores do nosso assunto
ou da causa que patrocinamos.
E ’ necessário agora advoga-la mais a fundo.
Isso poderá ser fe ito aduzindo-se razões que s.ão ti­
radas da própria natureza do Sinal' da Cruz.
Para mim (e creio que para ti e p ara todos os homens
sensatos) tais razões podem se resumir em cinco:

V — Tirados do :pó, o Sinal da Gruz é um Sinal


divino qu<l nos enobrece;
2.* — Ignorantes, o Sinal da Cruz é um Livro
sagrado que nos instrue;
3."' — Po/ires, o Sinal da Cruz é um Tesouro
inesgotável que nos em*iquece;
4." — Soldadios., o Sinal da Cruzéumjogo de
armas, que nos defende a nós e derriba o
in im igo;
5.* — 1'ia.ja.ntes para a P á tria do Céo, o Sinal
da Cruz é guia seguro que nos conduz.
3

Veste pois a.gora. a, beca, põe. a gorra, ocupa a cadeira


de juiz e escuta:
T IR A D O S ' DO P ó , O S IN A L D A CRUZ É U M
S IN A L D IV IN O , Q U E NOS E N O B R E C E .
Dize-m e: Quem é que chorando entra no mundo?
Que antes dos primeiros passos se arrasta como ^
verme ?
Que sempre vive sujeito a todas as enfermidades?
E que durante largo tempo é incapaz de prover às
suas próprias necessidades?
Todavia, este ser é a Imagem de Deus, é o R ei da
creação e é necessário que ele se não degrade.
Mas eis que Deus tocando-o imprimi-lhe na fro n te
um Sinal D ivino que o enobrece e essa tal nobreza o
obriga.
Itespeitado dos outros, ele se respeitará a si próprio.
I'lstc titulo de nobreza, este Sinal Divino, é o Sinal
dn Cruz.
E ‘ divino, porque vem do Céo e não da terra.
Vem do Céo porque só ao proprietário assiste o di-
j-oito de marcar seus produtos com o seu próprio cunho.
Vem do C'éo porque a te rra confe^m não o ter inven­
tado.
Percorre todos os paízes e todos os séculos; não en-
cont.rm'ás em parte alguma o h^omem que imaginou o Si-
iml dn Cruz, o Sa.n.to que o inventou, o Concilio que o
Impoz.
“A tradição o ensina, diz Tertuliano; o costu-
‘ me o conform a; a Fé o pratica ( 1 ) . "

Em Tertuliano, acabas de ouvir a metade última do


segundo século da Igreja.
S. Justino fa la pela prim eira .e te ensina a existencia
do Sinal da Cruz, não só, mas a maneira porque se o
fazia (2 ).

Eis-nos agora nos tempos primitivos, tempos de eter­


na memoria, tempos que os próprios hereges chamam —
e^ide de ouro do Cristiamismo — não só pela pure-za da
Doutrina como tambem pela Santidade dos costumes.
Pois bem, é nestes aureos tempos que nós encontra­
mos o Sinal da Cruz em plena prática, tanto no oriente
como no ocidente.
Avancemos alguns passos e liguemo-nos a S. ,Toão
Evangelista que fo i o último doa Apostolos a morrer.
Verús o Velho venerando a fa ze r o Sinal da Cruz so­
bre um cópo envenenado depois beber serenamente o lí­
quido mortífero, ficando incolurne! (3 ).
Ainda antes disso, deparamos com os ilustres colegas
dele, — São Pedro e São Paulo.

(1) Harum et aliarum hujusmodi disciplinarum si legem expos-


tules scripturarum nullam invenies. Trndilio tibi nur.tríx, con-
suetudo confirmatrix. (Tertul., De Coron. mil c. IIIJ
(2) Dextera rnanu in nomine Christi, quos Crucis Signo obai-
guandi sunt, obsignamus. (Quert., 11B)
(3) S. Simeon, Metaph, in Joan.
Tal como São João, do Divino', M estre Discípulo que­
rido, São Pedro e São Paulo, Príncipes do Apostolado, f a ­
zem religiosamente o Sinal da Cruz e o ensinam desde o
oriente até o ocidente em toda. a parte, em, Jerusalem, em
Antiochia, em Athenas, em Roma,- entre os Gregos e en­
tre os Barharos, aos Judeus .e aos gen tios!
Escutems um irrecusável testemunho da Tradição:

“ Paulo, diz S. Agostinho, leva toda a parte


“ o Real Esitandarteda Cruz.
“ Com o Sinal da Cruz, Pedro é o pescador de ho-
“ mens; com o Sinal da Redenção, Paulo ^ r c a
“ os gentios. ” ( 1)
E não o fazem sómente sobre os homens, fazem-no
tambem e o mandam fa zer sobre as creaturas inanimadas.
“ Toda a creatura de Deus é boa, escreve o gran-
“ de Apostolo, e é necessário n.ão regeitar coisa
“ alguma do que pode ser reeebido' em ação de gra-
“ ças, por ser santificada pela palavra de- Deus
“ e pela oi'ação ( 2 ). ”
Tal é a regra.
Qual o sentido'!
N o estudo do Direito, encontrando-se um texto obs­
curo, que se faz?
Para o elucidar, consulta-se o interprete mais auto-
i'izado o mais visinho do legislador; e a . palavra dele faz
lei.

(1) Circumfcrt Pnuh.ts Dnminicum in Crucc Vexillum. Et iste


piscntor hominum, et ille titulat Signo Crucis gentiles. (Di-
vusAugusti miR: Serm. XVIII.)
(2) I. 'fim., IV, 4-5. ■
Escuta, meu caro, o interprete mais autorizado de S.
Paulo, o grande S. João Crisóstomo:

“ Paulo estabeleceu duas cousas: primeira, que


“ n en h u m creatura é imunda; segunda, que se
“o fosse, o meio de purifica-ia- estava em
“ nossas mãos.
“ Fazei, diz, o Sinal da Cruz sôbre -essa creatu-
“ ra, dai graças a Deus e rendei-lhe gloria, que
“ logo toda a mancha desaparecerá ( 1 ) . ”

.5

Não sómente sôbre as multidões que acodem à Fé


e sôbre as creaturas inanimadas é que os Príncipes dos
Apostolos fazem o Sinal da. Cruz: também o fazem sôbre
si próprios.
Portanto, este Sinal existia, antes deles.
Saulo, o perseguidor, cai por terra no caminho de
Damasco.
E ’ mister que ele fique sendo Apostolo de Deus a
Quem persegue.
Qual será o prim eiro áto de Deus Vencedor ?
Marcar o vencido com o Sinal da Cruz.
“ Vae, diz o Senhor a Ananias, vae e marea
“ Saulo com o Meu Sinal ( 2 ) . ”

(1) Duo capita ponlt, unurn quidem quod creatura nulla com-
rnunis est. Sccondo, quod etsi communis sit rnedicamentum
Jn promptu est. Signum illis Crucls imprime, gratias age,
Deo gloriam reíer, et protinus immunditia omnls abscessit.
On Tim. Homil. XII.)
(2) Vade ad eum, et signn eum charactere meo. (S. Aug. Serm.
II et XXV de SanctisJ
Quem é, pois, o autor e o instituidor do Sinal da Cruz?
P a ra o encontrar, é necessário transpor todos os se-
cuJos, todas as creaturas visíveis, todas as Hierarquias
Angélicas; é neceséario subir até ao Verbo Eterno, que
é — a Verdade em. Pessôa.
Escuta ainda uma testemunha nas melhores condi­
ções de saber o que refere.
Seu testemunho é tanto mais irrecusável, quanto é
certo te-lo valorisado com o timbre do próprio sangue.
E ’ o grande Bispo de Carthago, S. Cipriano.
Exclama êle:
“ Senhor, Vós que sois o S'acerdote Santo, nos
“ legaste três coisas im orredouras: o Calix de
“ Vosso Sangue, o Sinal da Cruz, e o Exemplo
“ de Vossas Dôres ( 1 ).”
E Santo Agostinho acreoenta:
“ O' Senhor .Jesus Cristo, Vós quizestes que este
“ Sinal ficasse impresso sempre em nossa fron-
“ te (2 ). ••

Seria facil citar mais vinte testemunhas.


Mas, como escrevo cartas e não um livro, paro- aqui.
O Sinal da. Cruz é um Sinal D ivin o: — prim eiro
fato 'Que veio á discussão.
De um outro te fa la rei amanhã.
Adeus.

(I) Tu Domine, Snccrdos sanctc, constituisti nobis incomsump-


tihil iter potum vivificum, Crucis Signum, cl mortiíicationis
exemp!;jm. (ser. de Pan. chr.)
<11 Signum siium Christus in fronte nobis figi voluit. (In. Ps.
l:!Ol.
Q U IN T A CARTA

Paris, 30 de Novembro de 1862.

Sumario:
— 1. O Sinal da Cruz nos enobrece. — 2. E'
o brazõo do Católico que é um prande
povo. — 3. O Sinal da Cruz nos ensina
o respeitar nossa pessoa. — 4. Vergo­
nha dos que não fazem o Sinal da Cruz.
— 5. Desprezo do grande tesouro que
é — a vida. —

'Meu earo Frederico,

Tudo o que é divino enobrece o Homem.


E. o Sinal da Cruz é um Sinal Divino.
Portanto segue-se que

O Sinal da Cruz é um sinal que nos enobrece.


Esta razão por si só dispensa. qualquer outra.
Todavia, acrescente-se que — o Sinal da Cruz é p ri­
vilegio da parte melhor, mais digna e respeitável da Hu­
manidade; e por isso elc nos enobrece.
Teus condiscipulos terão j á refletido nisto?
Quem não fa z o Sinal da. Cruz (e ainda o pobre do
i:ifi'liz que se envergonha de o fa z e r ), fica no rol dos
pagãos^ mahornetanos, judeus, hereges, maus católicos,
;itá dos brutos.
Que achas?
N.ão há deveras motivo de enobrecimento num Sinal
que nos distingue soberana e inconfundivelmente dos ou­
tros sêres que o não fazem?
Ufana-se um por ser membro duma Fam ília que é
vfincravel pela antiguidade e serviços prestados, respei­
ta vel pelas vii^tudes, poderosa em riquezas.
E não é ele também zeloso pelos brazões da casíi?
Abre-os em pedra, em marmore, em prata, em, om-o,
em mratha, em rubim; g^’ava-o.s em I'!ua habitação; escul-
?)o-o.s em seus moveis; desenha-os em sua. baixela, e em
fnm ]-oupa; imprime-os sôbrc seu sinete, e quasi os quizera
impressos mesmo sôbre a própria fronte.
Pinta-os nas paredes do seu coche e com ele rlceora
os arreios de seus caval:os.
Pondo de parte tudo o que houver de vaidade, que'
{■ vieio, hú Twquilo muito ^boa ra7,ão ele ser.
E’ conduta que proclama a lei da justa solidarieda­
de qiic 6 altamente social.
A glória. dos. avós .é honra para oi<: filhos, netos e mais
dc's<'('dcntes; é um patrimonio da família.
O brazão do Católico é — ' O' Sinal da Cruz.
Sou Católico: portanto, o Sinal da Cruz fala-m e da
minha origem e fa la a todos da nobreza de minha gente;
rn.la-nos da antiguidade, fala-nos dos serviços, fala-nos
das glórias c das virtudes de meus avós.
Tíí não hei de me exultar eu com isto?
Hei de então renegar o sangue ilustre que percorre
minhas veias?
Como si fô ra indigno de zelar um nome augusto,
hei eu de repudiar covardemente a lei da justa solidarie­
dade, arrojando à lama tais brazões de armas e soltando
ao vento a rica herança de meus antepassados?
Quem há de se ufanar por pertencer a um povo-
glorioso em tradições?
O português se gloria de pertencer a Portugal ; o
hespanhol, em pertencer à Hespanha; o inglez à In gla­
terra, o francez à Franç.a, cte. ; e o mesmo acontece com
todos os povos de valor e reputação.
E qual ó o maior e o mais afamado povo cio mundo?

Haverá um outro povo mais antigo que o Católico e


que conte maior número de cidadãos?
Qual o povo q^ie brilha no mundo, como- o sol no f i r ­
mamento?
Um povo de cm^ater expansivo que, a preço de seu
sangue, houvesse tirado o frcnero- humano da barbaria e
pelo mesmo preço procure ainda impedir que nela recaia,
qual é?
Um povo que veja, entre seus filhos, o que ha de-
maior no genio, na virtude, na ciência, na coragem,
qual é?
Uma gente a que pertençam legiões inteiras de Dou­
tores, de Virgens, de Martires, de poetas, de oradores,
de filosofos, de artistas, de grandes legisladores, de Reis.
benemeritos, de guerreiros ilustres, qual é?
Um povo de tal ar^^istocracia que todas as Nações lhe
devem sua eminencia, qual é?
P ara desengano ou melhor persuasão consulte-se o
mapa-mundi e toda a história.
Pois, meu caro Frederico, esta gente chama-se — a
grande População Católica — a qual eu tenho a graça de
pertencer.
E o Sinal da Cruz é o brazão desse grande povo.
Ora, sendo eu um Católico, deverei envergonhar-me
de:se Sinal?
O próprio Deus tomou a Seu cuidado mostrar, por
brilhantes milagres, quanto se honram a Seus Divinos
Olhos as pessoas e os membros que fazem o Sinal da Cruz.
S. Edith, filh a ele Edgar Rei da Inglaterra, teve, des­
de a infancia, a Cruz no coraç.ào.
A jovem Princeza, uma das mais belas flôres da V ir-
gindacl.e, que ornou a antiga /íha, doR Santo.s, não fazia
nada sem m arcar a fronte e o peito com o sinal salutar.
Havendo edificado uma Igreja em honra de S. Diniz,
pediu a S. Dunstan, Arcebispo de Cantorbery, a v i e ^
consagrar.
Ele o fez de l>oa vontade e durante as variadas con­
versas que teve c-om a santa, ficou impressionado por
ver que ela, imitando os primeiros Cristãos, fazia, muitas
vezes eom o dedo polegar o Sinal da Cruz sobre a fronte.
Tanto pj^a7.er teve o Arcebispo qui! pediu a Deus
abençoasse o dedo da virgem Princeza e o preservasse da
corrupção do tumulo.
Foi-lhe a suplica ouvida; pois, havendo a Santa mor-
i^ido aos vinte c três anos, um dia, anos depois, lhe apa-
i't'(,wu c diese:
“ Senhor Arcebispo, tirai do tumulo meu corpo
“ e o achareis incorrupto, excetuados os mem-
“ bros de que fiz mau uso na leveza de minha
“ infancia” .

E de fato os olhos, as mãos e os pés estavam consu­


midos, mas o polegar, com que tinha de costume fazer o
Sinal da Cruz, conserva-se intato ( 1).
Então?
Será que sob o ponto de vista de honra, nossos avós
não tinham razão para fa ze r muitas vezes o Sinal da
Cruz?
E será que os: de agora têm razão para o não fazer?
A h ! Como eram eles bem diversos de nós quanto à
altivez de nobreza e ao sentimento de dignidade
própria! . . .
Oh! Sim. Repetindo constantemente a celebre ex­
pressão
— “ a nossa nobreza nos o briga” —
não admira fizessem eles uma Sociedade que, pelos
heroismos de virtude, é a única nos anais do mundo.
É o que vamos ver agora.

O prim eiro sentimento que o Sinal da Cruz desenvol­


ve em nós enobrecendo-nos a nossos olhos é

— o respeito de nós mesmos — !

Grande verdade está aqui, meu caro!

(1) Vede sua Vid., c. III


Em volte de mim, vejo um século, um mundo, uma
juventude que unidos não cessam de fa la r em dignidade
humana, ew.ancipa.pão, íiber^ide.
Palavras, entretanto, que estão vazias de significa­
ção ou cheias dum sentido errado e poi' isso tornam o
século, o mundo, a mocidade, — tngovernaveís.
Insubordinados ao jugo necessário de um •poder
desprezada toda a autoridade, seja ela divina, paternal.
social ou civil, vão eles repetindo a tudo, a todos e a toda
a hora:

Respeitem-nos.

Muito bem!
Mas, se querem ser respeitados, comecem por respei­
ta r a si próprios.
O respeito dos outros para comnosco mede-se por
aquele respeito que temos nós por nós mesmos.
A crueldade, a hipocrisia, a .devassidão, o vicio, —
ainda que ornados de farda, de penacho, de espóras doi-
radas, de luvas, de medalhas, de corôa e etc. — só podem
inspirar temor.

Respeito é que ^^nu:nco. poderão obter.

Mas . . . quero eu sab er:


Os Hom-ens da atualidade, velhos ou moços, — ho­
mens todos que nunca fazem o Sinal da Cruz — eles se
re.speltam?

Façamos um ensaio de analise. .


A parte mais! nobre d 01 Homem é a Alma.
E da Alma, a faculdade mais nobre é a inteligência.
Escrinio predoso, limpidíssimo, fabricado pelas
Mãos do próprio Deus para receber a verdade e só a
verdade,
— a inteligência é hoje conspurcada e profana­
da pela meníira. e pelo erro.
P o r ventura, o homem de hoje respeita a própria
inteligência?
E' para satisfazer os nobres anceios da inteligência
que hoje ele procura a. verdade?
Não.
Nem gosto mais tem ele pelas fontes puras de onde
j o ^ a a verdade.
Os oraculos divinos, os sermões, os livros- asceticos
ou de filosofia cristã, causam-lhe nausea.

Hoj<*. si houveres de penetrar o escrinio de uma in­


teligência batizada, deverá parecer-te que estás num de­
pósito de trastes ou loja de peças velhas!
Encontrarás aH em misturada coruusão — ignoran-
cia, contos vãos, frivolidades, preconceitos, mentiras, e r­
ros, dúvidas, , objeções estultas, impiedades, tolices, ne­
gações, vasias inutilidades — .
Triste espetáculo!
Faz-me até lem brar o avestruz que ha pouco morreu
em Lião.
Sabes que, pela aUJtopsia, se descobriu ser um dos es-
tomagos do estupido animal, verdadeiro depósito de ca­
cos de louças e de vidro, pregos velhos, pedaços de corda
e de madeira?
Eis do que é que nutre sua inteligência o homem que
nunca faz o Sinal da Cruz.
Eis de que maneii'a ele a respeita. (1 )
E o coração?
Oh! Dispensa-me, c:aro Frederico, dispensa-me de te
revelar tais ignomínias.
Em vez de se fazerem para cima seus movimentos,
fazem-se para baixo.
Em vez de se elevar como a aguia, rasteja corno a la­
garta.
Em vez de. corno a abelha, se nutrir do suco perfu­
mado das flôres, vai, similhante à mosca estercoral, pre-
i'ipitai^-se sôhro o lixo.
Uma terrível mancha, a cada violação da lei ima­
culada ante a qual o Homem recua.
J'.á podes bem te convencer de que a garganta de um
tal homerni é como a boca de um antro que transborda em
podridão. (2 )
E o seu corpo ?
Pobre do homem que acha coisa indigna de sua pes-
— fazer o Sinal da Cru 7!l . . .
•Julgas qu(' és um grande espírito!
Entretanto, causas d ó . .. e isso, ainda por fa v o r !
Julgis-te independente e não és mais que um vil
<'SCl'ílVO.
NNão queres te honrar com fazer o que faz a f1ôr da
Humanidade; e, p or um justo castigo teu, tu te d e s h o n ^

( 1.) Qui nutriebantur In croceis, amplexati sunt stercora (T.rhen..


VI. 5)
íí*' Sei^iilchrum patens c^. gl.lttur corum. (Ps. V, R.)
praticando o que de mais vergonhoso fa z a escoria do ge­
nero humano.
Tua mão não toca em tua fronte para fazeres o Si­
nal D ivin o; mas tocará a miudo o que nunca deveria
tocar.
Não queres armar, com o Sinal protetor, nem teu-s
ijlhos, nem teus lábios, nem teu p eito; e teus olhos man­
cham-se olhando o que nunca deveriam v e r ; e teus lábios,
mudos faladores, loquaces mitít, — como diz um grande
g-enio ( 1) não dizem o que deviam dizer, para dizerem o
que para sempre deviam calar; e teu peito, altar profa­
nado, arde em. umas chamas eujo nome, só em si, ó uma
vergonha.
Eis a tua história intima.
Podes nega-la; não podes rasgar-lhe as páginas.
Copiada com tinta sôbre es.te papel, ela se lê, no ori­
ginal de tua existência, escrita com- o sangue do pecado:
in sanguine peccaíi.

E a vida?
O homem que nmic.a fa z o Sinal da Cruz, perde- a es­
tim a da própria vida.
Ele a vilipendia, e desperdiça-a; porque nunca, nem
uma só vez a t o ^ a sério.
Da noite fazer dia p ara o dia lhe ser noite; trabalhar
pouco ou nada e dorm ir demais; pensar tanto em comer

(1) S. Aug., Medit. XXXY, 2.


e comer com delicadezas exageradas; não rec^wmr nada a
tendencias e ao gosto; consumir o tempo sem i'(>lnçJ\o »i
dern idade; tudo isso é tecer teias dc aranha, é cnçnr
moHias, é construir castelos de papelão, é, numa pnlavi‘n,
nh^wmr da vida como se fôra seu proprietário, {( h'ntn-
la (),n bagatela, é não toma-la a sério.
Tomm.' a vida a sério, é bem aprovcita-la corno o cx i-
gc Seu unico Proprietán o — Aquele que dispõe de tudo,
Aquele que um dia, nos tirará contas, nàn em conjunto,
mas p('lo m iúdo; não por anos, mas por minutos.
Quando já fatigado no caminho das bngatelas e dan
ialquldades, que fn 7. o desprczmlor do Sinal Divino?
I)erpr(':t/ii‘a aquele Sinal que deveria enobi'ecer-Hw
11 vida inspirando i'espeito por a Alm a e por o cm‘po . . .
Agm‘a, qnt' fnr. el<* '!
Tenta desI"u/,er-se dn vida como de um fardo insu-
tKU'Ui vel.
nnnHÍ<lera^«e um l>i’uto pnm o qual não hn nem te­
mor " etn PN|wi-ança alúm do tumulo, e . • • suicidn-ao.
M como po(h»i'el, mau bom ll"rctiorlco, oxrwlmlr-tn
IU|UI H ilm* ()iitl m(1 \i|(l nn Ahna?
Clhttln tltt H(lmh'nol\o pflhn m«rnvllhmc qii 11 vlra nu
t»u . u A paititu dhdftt

011 uJhoi dfl homom vlrAm, nem ouvldoe


"ottvIrMm, nem noüo Mplrltlo conoeben n 11dn
"mllhRnto"-

Polia, Hiilm rlnem ne nótl rHIMit' hnj-., eoi oul.ro Himll-


do, iTomanda iihut'nndo «nvnrff»rthAdt:JN!
— Jlm iiI!idiuiT»« t1|«u‘«, Clnl nenhiirn cllmn, i'm ne-
iihiim povn rm irão om nlhoM do homnm vlriim, o h ouvidos
ouviram, nem nosso espírito concebeu alguma coisa si-
milhante ao que hoje vemos e ouvimos, ao que hoje toca­
mos com nossas mãos — O suícidio! ! . . .
O suicídio em tal escala que nã() tem similhante n a
hl;.;tói'ia.
S6 em França, cem mil suicidios nos últimos trin ta
U.ÍIOH 1
Com mil I
l<: ii |ii'oV,roHiHfio 6 crescente!
l'olA, alndtt quo ou não tonha provas, tenho a certeza
do <jiw dm 1 com mll doiHJNporados, noventa e nove m il ti-
nhnrn nhmulonntlo o iiMo do fazor eom H«i'iedndc e religião,
0 .S'/jm/. rln C',.)»:.
'I'omn l«to nwn ouro, <*nmo mI fom um dedmo terceiro
m llg o do Hlmholo.
A tl' amanhã, si Deus quizcr.
SEXTA CARTA

Paris, 1.0 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 1. Resumo da cnrfa precedente. — 2. O
Sinal da Cruz é um Litjro que encerra
tôda a ciência de Deus, do homem e do
mundo. — 3. Um Mistério. — 4. O Si­
nal da Cru:.: nos ensina com autoridade,
lucidez e profundeza. — 5. O Sinal da
Cruz, Mestre o mais sábio e o mais con­
ciso.

Meu caro Frederico,

Bem considerado em seu primeiro ponto de viata, o


Hinal da Cruz é sem dúvida nenhuma — um Sinal divino
— o Sinal que distingue a f l ô r da Humanidade — Sinal
que é Brazão do Católico — .
Sendo verdade o adagio que diz “ nobreza o b rig a "
devo afirm a r o seguinte:
Para inspirar ao Homem o real sentimento da pró­
pria dignidade e o necessário respeito de si mesmo eu
nfio conheço nada de mais simples e eficaz do que o
Sinal da Cruz fe ito muitas vezes -quando seriamente e re-
IhdORamente feito.
Ser guarda da nossa nobreza é, pois, uma das razões
de ser do Sinal da Cruz.
E ' um antigo Pad re da Ig re ja — São Cyrilo de Je-
rusalem — que em seu livro de Catecismo nos diz:

“— Eis no Sinal da Cruz a poderosa Guarda que ■


“ em vista dos pobres é de graça e por causa dos
‘‘ fracos não exige esforço.
“ P or ser um fa v o r de Deus, tornou-se tim bre .
“ dos fiéis e terro)^ dos. demonios.
“ E não venhas tn agora de:preza-Jo porque é
“ gra tu ito :
“ antes, como a um benefeitor, ainda mni!\ o de-
“ vcs venerar ( 1 ) . ”

Hoje, meu caro, posso e devo acrescentar que:


— A eloqüência do S'inal da Cruz não é menor-
do que o poder,
Que diz ele ao Homem?
Vejamo-lo.

O Sinal da Cruz é um livro de profundo saber.


TodaB as ciências, Teologia, filosofia, sociologia,
política, história, e:;:tão reduzidas nestas três palavras:-

(1) Magna haec est custodia, quae propter pauperes gratis datur:
sine labore propter infirmos, cum a Deo sit haec gratia, sig­
num íidelium et timor demonurn. Neque propterea, quod est
gratiuturn, contemnas hoc signaculum, sed ideo magis vene-
rare benefactorem. (S. Cyrill. Hier., Catech., XII).
“ Creação, Redenção, Glori/icação” .

Ciências do passado, ciências do p rs e n te , ciências


do futuro, tudo está nisto.
Fachos do universo, tais palavras constituem as ba­
ses da inteligência.
Mas. .. vamos por um instante supor que o genero
humano esquecesse estas' três palavras, ou perdess.e o sen­
tido delas.
Que seria o mundo em tal caso?
Uma aglomeração de atomos movendo-se no vacuo,
sem direção e sem fim.
. Um cégo de nasdmento sem guia e sem bordão; um
desgraçado sem consola-lo; um escravo sem esperança.
Um mistério inesplicável a si mesmo.
Encerrando em si mesmas o U niverso todo, estas
palavras

— “ Creação, Redenção, G lorificação” —

de modo insubstituível são ao genero humano mais ne­


cessárias que o pão para nutrir-se, mais que o ar para
respirar.
São nece.sfüárias a todos e a cada hora ; ou antes, são
necessárias sempre^
Só elas bastam a orientar a vida inteira.
Orientam as alegrias, as tristezas, os pensamentos,
ns palavras, as ações, os sentimentos.
Sendo assim, a simples razão diz que Deus d evia es­
tabelecer um meio fácil, permanente, universal, que dês-
se n todos este conhecimento fundamental.
Não devia, porem, da-lo uma só vez e de passagem;
devia renova-lo constantemente, assim . como renova a ca­
da instante o a r que respiramos.
Que sabio se encarregaria deste ensino indispensável?
S'. Paulo, Sto. Agostinho, S. Tomás?
Ou outro genio qualquer do oriente ou do ocidente?
Não.
Estes m orreram ; e fô ra necessário um que não m or­
resse.
Estes habitaram um logar determinado; e fôra ne-
.cessário um que estivesse- em toda a parte.
Estes falaram línguas que nem todos compreendem;
e fôra necessário um que falasse uma lingua in teligível a
todos, tanto ao selvagem (ta Oceania, como ao civilisado
do antigo mundo.

Quem se11á pois?


Tu já o nomeaste.
E’ o Sinal da Cruz.
Ele e só ele satisfaz a todas as condições exigidas:
Não m orre:
está em toda a parte ;
é por todos entendido.

Um instante lhe basta para dar uma lição, como lhe


basta um instante para todos o compreenderem.

Meu caro a ^ g o , deixa-me d ^ o b r ir - t e um Mistério.


O Verbo e n c a ^ d o que Isaias chama com razão —
o Preceptor do genero humano — resolveu m orrer por
nós.
Apresentaram-lhe muitos generos de m orte: o ape-
drejamento, a degolação, envenenamento, a precipitação
dum logar elevado, o fogo, a água, e sei lá. mais que.
Qual a razão porque, entre todos estes generos de
morte, a Cruz fo i preferida?
A isto um sábio theologo ha muitos séculos já res­
pondeu :

“ Uma das razões porque a Sabedoria In fin ita


“ escolheu a Cruz, é, que basta um leve movi-
“ mento da mão para traçar sôbre nós esse ins-
“ trumento do Sagrado Suplicio, Sinal luminoso
“ e poderoso que nos instrue em tudo quanto de--
"vem os saber e que nos s e ^ e de eseudo contra
“ nossos inimigos ( 1 ) . ”

Eis, pois, o Sinal da Cruz devidamente comtituido


em Ca.ícq^íi.<:trt do genero humano^

E tu me perguntas:
— E ' verdade que o Sinal da Cruz desempenha tais
funções? —
Ou por outra:
IO’ verdade que o Sinal da Cruz repete e m sina co­
mo convem as três grandes palavras: Creaçfio, Redenção,
ríJorificaçrâo?

<1) Noluit Dominus lapidari, aut glaudio truncari, quod videlicct


nos semper nobiscurn lapides aut ferrum ferre non possumus,
quihus clofendamiT. Elegit vero crucem, quae levi manus motu
cxprimitur, qua et contra inimici versutias manimur. (Alcuin.,
de Divin. Offic .. c. XVIII.)
Sim.
E não só as repete e ensina, mas explica-as com
uma autoridade, profundeza e lucidez que só a ele per­
tencem.
Repete-as com autoridade; porque, sendo divino em
sua origem, é orgão do próprio Deus.
Repete-as com profundeza e lucidez como tu vais ver.
Quando levas a mão à tua fronte, dizendo — “ Em
Nom e” — o Sinal da Cruz te ensina a indivisível Unidade
da Esrencia Divina.
Só por esta palavra, qualquer moça ou rapaz sabe
mais que todos os filosofos do paganismo.
Que progresso numa só liç ã o !
Dizendo — “ do P ad re” — novo e imenso raio de luz
penetra na tua inteligência.
O Sinal da Cruz te di1. que ha um Ser, Pai de todos
os Pais, Princípio eterno da existência de todas as crea­
turas, celestes c terrestres, visivoeis e invisíveis (1 ).
A esta nova palavra dissipam-se para ti as nuven-s
densas que por vinte séculos encobriram aos olhos do
mundo pagão a origem das coisas.
Tu continuas dizendo: — “ e do F ilh o ” — .
O Sinal da Cruz assim continua sua lição.
Ele te diz que o Pai dos Pais tem um Filho similhan­
te a Ele.
Fazendo-te levar a mão ao peito, quando pronúncias
esse Nome, ele te diz que este Filho eterno de Deus um

(1) Ex quo omnis paternitas in coelis et in terra norninatur.


(Eph., III, 15.)
dia Se fez Homem, no seio duma Virgem , para resgatar a
humanidade.
O homem tinha pecado.
Que de luz tão brilhante não derrama em tua inteli­
gência, meu caro, esta terceira palavra?! . . .
A coexistênda do bem e do mal sobre a te r r a ;
o terrivel dualismo que em ti mesmo sentes;
a mistura de nobres impulsos e de inclinações abje­
tas, de ações sublimes e de ações vergonhosas;
a necessidade da luta;
a inutilidade dos meios humanos de reabilitação;
constituem essas coisas outros tantos mistérios; são
profundezas, que, tendo obrigado a mil investigações inu-
teis a cabeça dos filosofos pagãos, não têm para ti a me­
n or sombra de obscuridade ou de dúvida.
Acabas dizendo: — “ e do E spírito Santo” —
E sta palavra completa o ensino do Sinal da Cruz.
Graças l he sejam.
Tu sabes que ha um Deus, Uno na essência, T rin o em
Pessoas.
Tu tens idéia jussta do Ser por excellência, do Ser
completo.
E P e ife ito n.ão seria Ele, se não fosse Um e Três.
Se a primeira Pessôa necessariamente é Poder, a se -
gunda necesriiriamente é Sabedoria e a te rc e iu neces­
sariamente é Amor.
Este Amoi^, essencialmente bemfazejo, completando
IL obra do Pai Creador, e do Filho Redentor, santifica o
homem e o conduz à Glória.
Oh! Que luminosa lição para d irig ir a vida dos indi­
víduos e das Nações, dos Reis e dos subditos?
Se Aristóteles, Platão e Cicero, se todos esses inves­
tigadores da verdade — filosofos, legisladores, e moralis­
tas — cançados de estudo e sempre atormentados de dú­
vidas insolúveis ouvissem fa la r de um Mestre que ensi­
nasse com a lucidez e profundeza do Sinal da Cruz, sem
dúvida êles iriam ao fim do mundo para vê-lo e ter-se-
iam por felizes se consumissem, a ouvi-lo, o restante da
vida.
Pronunciando o nome do Espírito-Santo, tens form a­
do a Cruz; e não só conheces o Redentor, mas tambem
o instrumento da Redenção.
Assim, ao passo que de luz sedutora inunda o espí­
rito, o Sinal da Cruz abre no coração urna fonte inexgo-
tável de puro Amor.
Eis um novo ben efíd o de que mais tarde falaremos.

A gora atende bem e responde-me.


Serã possível ensinar em menos palavras, com mais.
eloquôncia, e em linguagem mais inteligivel, os três gran­
de!'. dogmas:

— Creação, Redenção e Glorific'ação —

eixos do mundo moral e princípios geradores da in­


teligência humana?
Ser creado, ser remido, ser destinado à G lória eter-.
na, eis o princípio e todo o futuro do homern.
Que pensas tu, que seja a Theologia, caro amigo?
E ’ o conhecimento revelado de Deus, do homem e do
mundo.
A filosofia que é o conhecimento racional de Deus,
homem e do mundo, é filha da Theologia.
Da Theologia o da filosofia nascem tod:ls as ciências
— a política, a moral, a história, etc. —
conseqüência é pois, e necessária que
— “ Nunca no mundo apareceu Mestre mais sábio e
eonciso do que o Sinal da Cruz” .
E queres tu saber, meu caso Frederico, o papel que
n Sinal da C 'u z representa?

D ir.to-ei . . .
amanhã
si Deus quizer
S E T IM A CARTA

PariR, 2 de Dezembro de 1862.

Ilraumo:
— í. Loonr quf o Sinal da Cr«z ocupn no
mundo. — 2. Ern que je tornou o mun­
do, doide que deixou de fazer o Sinal
d<i Cr^iz. — 3. O Sinnl da Cruz é um
leiouro que nos enriquece. — 4. Uma
oronde Lei moral.

Meu caro Frederico,

Os que desprezam o Sinal da Cruz ou dele desdenham,


não podem ter dúvida nenhuma com relação ao Jogar
que IJ Sagrado Sinal ocupa no mundo.
Tais indivíduos pertencem a uma classe hoje muito
numerosa: é a clnsso dos que de nada duvidam porque
ignoram tudo.
Tu, porem, deixa per um instante a séde de Juiz e,
dando-me tua mão, em rápida viagem, percorre comigo
os mundos — antigo e moderno.

Visitemos primeiro a brilkanfc CLntiguidad«.


Peregrinos da verdade, entremos no oriente e no oci­
dente.
Memphis, Athenas, Roma.
São três grandes centros de luzes, que nos convidam
ji vüdtar as. escolas de seus sábios.
Vejam os que dizem estes mestres ilustres sôbre os
pontos cujo conhecimento mais nos interessa.

O mundo é eterno, ou .foi creado?


Se foi creado, quem fo i o- seu creador?
E ' corpo ou esrpíriio, o ouíor dre nahre::(t,?
F:’ on mtO' â (íferno? .
N' Nrn-e, indepcndeníe?
h” só on sfío mititos?

A s respostas são — hesitações, incertezas. flagrantes


contradições.

Qne é o bem?
Qne é o m.al?
Quai a origem d(j bem e do mal?
Como o bem e o se acham no homem e no mundo?
H a um. remedio para o nm1 ou e' inenráoeZ?
Se tem remédw, qual é ele?
Qieem o possúe?
Como se póde obter?
De que modo se atJlica?

Hesitações, incertezas, flagrantes contradições, são


as respstas.

Que é o homem?
E ntra na. sua esse'ncia «m a coisa chamada — Alm a?
Se entra, qual e' a sua mtureza?
E” um fogo?
/•?’ m aténa aerifor-me?
Morrr. com o corpo?
Sobrevive ao corpo?
E ’ e ^ c riío ?
Qwaí é o seu des?íino ?
Qwol a finalidade de s^.a existência?

E as respostas a estas e mil outras questões, não pas­


sam de hesitações, incertezas, flagrantes contradições.
A h! Meus grandes povos, meus grandes homens!
Apczar de tão prctendoaos, vós não sabeis nem a
primeira palavra de uma resposta a estas questões fun­
damentais!
Não sois mais do que — notáveis ignomwtes!
Que importa saber fahricar sistemas, compor sofis­
mas, inundai' de eloqüência as escolas, oa senados, os arco-
pagos?
Que importa saber guiar carros no circo, edificar c i­
dades, dar batalhas, conquistar provindas, tornar a te r­
ra e os mares tributários de vossa avareza?
Ignorais o que sois, donde vindes, e para. onde ides?
No dizer de um de vos mesmos não passais de uns
suinos mais ou menos gordo, lá do rebanho d'Epicuro !... —

— “ Epicuri de grege porei.’’ —


Eis o mundo antigo.

Com a divulgação deste Sinal eloquente que é o Si­


nal da Cruz essas vergonhosas trevas se dissiparam.
Aprendendo a fa ze r o Sinal da Cruz, o Homem, ilus­
trado ou não, aprende a ciência de Deus, do mundo, e de
si mesmo.
Repetindo-o constantemente, grava-se-lhe no fundo
da Alm a e^sta Doutrina a ponto de jam ais esquece-la.
Digam o que disserem:
graç.as ao uso tão frequente do Sinal da Cruz em to­
das as classes da sociedade, tanto nas cidades e como nas
aldeias o mundo católico dos primeiros séculos e da edade
média conservou em grau até então desconhecido, o co­
nhecimento da Ciência Divina, r.Iãe de todas as Ciências
e Mestra da vida.
Poderia acontecer o contrário disto?
Se durante anos, certo homem repete i m erro dez
vezes por dia, dele fica plenamente compenetrado e com
e]e, para assim dizer, se identifica.
Ora, se isto acontece com o erro, porque não ha de
acontecer com a verdade?

Desejas a contra-prova?
Continuemos noesa viagem e entremos no mundo
moderno.
Abandonou ele o Sinal da Cruz e desde esse tempo,
não mais teve a seu lado um Monitor que lhe avivasse a
cada instante os três grandes dogmas indispensáveis à
vida moral.
Por isso que olvidou o Sinal da Cruz, Creaç.ão, R.e-
dençiio e Glorificação, essas três Verdades fundamentais
são para ele como se não existissem
Não vês o que ele está sendo em matéria de Ciências?
Similhante ao mundo- de outróra, tu ouves o mundo
d<> agora, gaguejar vergonhosamente sôbre os princípios
rnals i'Iementares da Religião, do D ireito, da Fam ília e
dn propri.cdade.
Que fundo de verdades alimenta suas c ^ v e rs a s ?
Que contêm seus tívros de política e de filosofia.'/
À luz de que fachos anda ele com sua vida. política e
particular?
E que -pensas tu dos jornc^is '!
N a torrente de palavras que despejam diajnamente
na sociedade, quantas idéias sã.s (poderás apontar, com r e ­
lação a Deus, ao Homem, e ao mundo?
Qual é a sabedoria deste mundo, deste seisulo de lu­
zes, que não sabe fo zer o Sinal da Cnt.z?

Igual ao mundo pagão que lhe serve de mestre e de


modelo.
O mundo de ho;i.e só conhece e adora

o deua-eu,
o deuH-comercio,
o deus-dinheiro,
o deus-ventre
o deus-pra.zer.

Conhece e adora

a deusa-industria,
a deusa-politicagem
a deusa-volupia.

P o r serem meios de satisfazer a todos os seus maus


desejos, ele conhece e adora as ciências da m a teria:
— a quimica, a fisica, a mecânica., a dinâmica;
as essencias, os sulfatos, os nitratos, os carbenatos.
Eis aqui destes seculos as suas divindades e o seu
culto.
Eis aqui a theologia, a filosofia, a politica, a moral,
;i \'ida do mundo moderno: — O eg-oismo com seus
vicio.!.. —
Progredindo assim, breve estai'á ele bem a par dos
eontemporaneos de Noé, destinados a m orrer nas aguas
do dilnvio.
P ara aqueles tambem consistia-lhes toda a ciência
cm conhecer e adorar os deuses do mundo moderno.
Consistia em comer, beber, edificar, comprar, ven­
der e casar cada um, a si e aos outros, na depi*avação.
O homem tinha concentrado sua vida na materia.
Havia-se ele mesmo tornado carne: ignorante como
as carnes e manchado como as carnes. (1 )
De todas estas más tendencias, qual é a que fa lta ao
mundo atual'! '
Sna esseneia, jiosto que menos avançada que a. dos
gigantes, não sei-á da mesma natureza?
De re3to, nada de melhor o mundo hoje exige d(!
suíi propria essencia.
Não sabendo fa ze r e não fazendo o Sinal da Cruz, ele
He materializa.

( I) Sicut autem in diebus Noe ita erit et adventus filis hominis.


Sicut cnim in diebus ante diluvium comedentes nubentes, et
nuptui tradentes... rionec venit diluvium et tulit omnes.
(Malh., XXIV, 37, 38, 29.)
— Edebant et bibebant: emebant et vendeba:Jt; plantabant,
ct oedificabant. (Luc., ^ 'I I , 28.)
-- Omnis quipc caro corruperat vitam sunm super terram.
(Oen., VI, 12.)
Quia caro c.sl. (Ibid., 3.)
Em virtude pois da lei de gravitação moral, o gene--
ro humano tem forçosamente de recair n'> estado em que
estava antes de amar a este Sinal salvador.
Digamos a este mundo ignorante de hoje :
O Sinal da Cruz é um Livro que nos educa e nos
eleva.
Sob tal ponto de vista, podes agora julgar se era
sem razão que nossos. pais constantemente faziam o Sinal
da Cruz.

A gora vais ver que, à uma ignorancia mui deplorá­


vel do mundo atual é que se deve imputar, em grande
parte, o abandono do Sinal da Cruz.
Que é a ignorancia?

É a. ií;d?gc«cia do csv,irüo.

Em m<ateria de religião, ela acusa sempre a indigen-


eia do coração-
E tal indigencia procede da fraqueza em — praticar
a virtude e repelir o mal.
E porque existe tal fraqueza?
É porque o Homem despreza os meios de obter a graça
e de torná-la eficaz.
O primeiro, o mais pronto, o mais vulgai’, o mais
facil destes meios, é, como sabes, a oração.
E de todas as orações, a mats facil, a ^ a is pronta,
a mais vulgar, e, talvez, a mais poderosa, é o
SinaJ de, Crw.
P ara ti, eis um novo estudo; e para os primeiros
Cristãos, uma nova justificação.
O ’ pobres do mundo atual, o Sinal da Cruz é um te­
souro que nos enriquece.
Mendigos são os que todos os dias, de porta em porta,
procuram o pão.
Creso e ra mendigo.
Cesar e Alexandre eram pedintes.
Os Imperadores e os Reis são mendigos; persona­
gens coroados sim, mas todos uns pedintes.
Qual é o Homem, ainda que opulento, que não sej a
obrigado a dizer cada dia à porta do grande Pai de fa-
rnilia:

O .^te nosso de cada dila n.os dai hoje?

Poderá o mais poderoso Monarca criar, fazer, um


só írrão de trigo? '
Vida fisk<a e vida moral, meios de conseivar uma
e outra, tudo o homem recebe!

“ Qtttd habes quod non accepi,<di?

Nada ele possúe propri.amente dele, nem um cabelo


da cabeça.
E o que recebeu, não foi recebido por unia só vez.
Sua indigenda é de todos os dia.s, de todas as horas,
todos os segundos.
Ele morreria instantaneamente se Deus, que lhe deu
o ser e lhe dá tudo, cessasse a Sua ação beneficente.
E' necessano, pois, que o homem peça porque nada
e n cadn instante de tudo carece.
4

Daqui, meu caro Frederico, uma grande Lei do mun-


■do moral, Lei em que teus condiscípulos nunca, refleti­
ram :

“ Ê a Lei da Suplica.’

Os povos pagãos de outrora como os idolatras e sel­


vagens de hoje, perderam é verdade, uma parte mais ou
menos considerável dM Verdades Tradicionais..
Ninguem deles porem, perdeu o conhecrimento 'da
Lei da Su.plica.
Sob uma ou outra fórma, o genero humano a con­
servou por modo invariavel desde que o Homem existe
sobre a terra.
Mais forte que todas as paixões, mais eloquente que
todos os sofismas, o impulso de conservação vem dizendo
sempre ao homem:
— Da fidelidade invariavcl á Icoi da Suplica depen­
de tun i*x istcn("ia.
O dia em que niio voasse ao trono de Deus uma Su­
plica, angelica ou humana, cessariam todas as relações,
entre o Creador e a creatura, entre o Podero:o c o pe­
dinte.
Então a torrente da vida seria instantaneamente
suspensa.
E não será este, meu caro Frederico, o profundo Mis-
terio que o Vrebo Encarnado revelou ao mundo quando
disse: — é necessário pedir, mas pedir sempre?

“ Oportet semper orare, et nunquam deficere.” —


Nota bem meu caro, o que h.á de im peratho nestas
palavras.
O Legislador não ccn vid a; manda.
E esse mandar indica uma necessidade absoluta:
ij/iíwí e t.
N o cumprimento da U i não admite Ele qualquer
interrupç.ão, nem de dia, nem de noite:

"op ortet semper."

Enquanto fo r verdade que deante de Deus todo o


genero humano é um pobre mendigo, a Lei da Suplica
não será suspensa nem modificada.
Ora, o genero humano será sempre um mendigo.
Daqui resulta que a Lei da Suplica conservará seu
imperio até ao ultimo dia do mundo.

" e í nunquam d eficere’

O proprio mundo físico foi organisado em relaç.ão


com a observancia perpetua desta L ei conservadora do
mundo moral.
Grnças à passagem sucoessiva do sol de um a outro
Iwmisforio, metadc do genero humano está sempre des-
p(')'t.ada — pam a Suplica.
Pois, uma das mais poderosas entre as suplicas é
o Sitml da Cruz.
Assim o acreditou sempre todo o genero humano
porque o tinha aprendido.
F. fo i do proprio Deus que ele o aprendeu, pois que,
Doiis é que tudo- lhe havia ensinado.
Mui de proposito digo — todo o genero humano.
Teus jovens condiscipulos pensam talvez que o Sinal
da Cruz data só dos Apostolos ou pelo menos que s6 fôra
usado pelo povo judeu e pelo católico.
V-erás na carta seguinte o credito nenhum que me­
rece tal opinião deles.
Adeus.
O IT A V A CARTA

Paris, 3 de: Dezembro de 1862.

Resumo: .
— 1. O Sinal da Cruz conhecido e praticado
desde a origem do mundo. — 2. Sete
modos de fazer o Sinal do Cruz. — 3.
Jacob, Moisés, SansSo, fizeram o Sinal
da Cruz. — 4. Testemunho dos Padres.
— Sansõo, David, Salomão e todo o povo
judeu, faziam o Sinal da Cruz e reco­
nheciam o valor dêle.

Meu caro Frederico,

O da Cruz prende-se com a origem, do


mundo. —

Esta pi-imeira frase da minha carta vai f e r ir teus


ouvidos e os de muitos outi-os.
De verdade;
o Sinal da Cruz fo i praticado por todos os povos, mes­
mo pelos pagãos, nas preces solênes de ocasiões notáveis,
quando se tratava de obter uma graça importante— .
Cumpre notar que, c;ntre esta proposição, e a carta
precedente, não ha contradição nenhuma.
Hontem falei no Sinal da Cruz na sua form a perfeita
e bem compreendida, qual a praticamos depois do E vange­
lho; hoje vou fa la r do Sinal da Cruz na sua fórm a, posto
que real ainda elementar, e mais. ou menos misteriosa para
QS que dela usavam antes do Evangelho.
Parece-te necessária uma explicação ?
Ei-la.
O Sinal da Cruz é tão natural ao Homem que ha
época, nem povo, nem religião em que ele, Homem, se pu­
sesse em relação com Deus pela oração, sem prim eiro fazer
o Sinal da Cruz.
Conheces algum povo, que dirigia suas orações a Deus
com os braços caídos?
Eu não conheço.
Quantos póvos eu conheço — judeus, pagãos e católi­
cos, — todos fazem o S inal da Cruz para orar a Deus.

Ha Siete modos de realizar o Sinal da Cruz:

1.0 — Com os braços abertos;


e o Homem nesta posição
constitue um Sinal da Cruz.
2.0 — Com as mâns juntas e os dedos entrelaça­
dos ; e eis cinco Sinais da Cruz.
3.” — Com ns mTios aplicadas urna contra outra
e o polegar da direita sobreposto ao
da esquerda;
e temos ainda o Sinal d a Cruz.
4.“ — Com as mãos encruzadas sobre o peito;
n ova fórm a do Sinal da Cruz.

5.” — Com. os braços encruzados sobre o peito;


mais uma fónna do Sinal da Cruz.

6.“ — Com o polegar da mão direita passado por


entre o indicador e o máximo;

o que é um Sinal da Cruz muito


usado.

7." — Finalmente, com a mão direita movendo-


se da testa à cinta e do hombro es­
querdo ao direito;

fôrm a sem dúvida a mais expli­


cita (e a que bem conheces) do
Sinal da Cruz.

Sob uma ou outra destas fôrmas, o Sinal da Cruz fo i


praticado sempre e em toda a parte, nas drcunstancias
solênes.
E isto com conhecimento mais ou menos claro de sua
eficácia.

.Tacob está mis proximidades da morte.


Seus doze filhos, futuros pais das dozC' tribus de Is ­
rael, estão em volta dele.
Inspirado por Deus, o santo Patriarca anuncia a ca­
da um ■deles o que ha de acontecer-lhes no correr dos sé­
culos.
À vista de Ephraim e de l\fanassés, filhos de José,
o velho, cheio de emoção, chama sobre suas ca^beças as.
bençãos do Céo.
P ara obte-las, que fa z ele?
Encruza os braços, diz a Escritura, colocando a mão-
esquerda sobre o que fica à direita e a direita sobre O'
que fica à esquerda.
Eis o Sinal da Cruz; origem etem a de bençãos.
A Tradição não se enganou.
Jacob era a figu ra do Messias.
Neste momento solène, suas palavras e atitucTe, tudo
devia ser profético no Patriarca.
Diz São João Damasceno:

“ Jacob encruzando as mãos para abençoat os-


“ filhos de José, faz o Sinal da Cruz.
“ Não ha nada mais evidente ( 1 ) . "

Tertuliano verificava o me.3mo fáto desde os Tempos.


Apostolicos e lhe dava o mesmo sentido.

“ O A n tigo Testamento nos mostra Jacob aben-


“ çoando os filhos de José, com a mão esquerda
“ sobre a cabeça do que ficava à direita e com
“ a direita sobre a do que lhe ficava à esquer-
“ da.

(1) Jneob allcrnntis cancollnlisfiuc manlbus, lllios .To!!rph bene-


dlccns. Slf;nuin Crucis mnnifc.stissimc scrlpslt. (De flcl. orthod.,.
lib. JV, Cap, 12.l
“ Nesta posição,elas form avam a Cruz e anuncia,
“ vam as .bençãos .de que Jesus Cristo devia ser a
“ origem ” . (1)

Passemos a i.\'Ioisés, deixando em claro o tempo da


escravidão do Egypto.
Os hebreus acham..se em face de Amalech, no meio
do deserto.
O Rei . inimigo, á fren te de um poderoso exercito, lhes
impede a passagem^
E ’ inevitável uma batalha decisiva.
E que fa z :\Ioisés?
E m vez de fic a r na planície a animar com gesto e voz
os batalhões de Isi-ael, sobe a montanha que domina o
campo da batalha.
Durante o combate, q u faz ele inspirado por Deus?
O Sinal da Cruz; só o Sinal da Gruz; durante o com­
bate.
Não se encontra, em parte alguma que ele pronun­
ciasse uma SÓ palavra.
De mãos estendidas e braços abertos pai-a o Céo, ele
se tornava um Sinal da Cniz viva — ' Cristo.
Deus o vê nesta atitude, a vitória é alcançada. (2 )
Isto não é uma suposição.
Ouve o que dizem os Padres da Igreja.

( llSed ert hoc quoque de veteri sacramento, quo nepotes, suos


ex Joseph, Ephraim et Manasses, Jacob, impositis capitibus,
et unlermutatis mar.ibus, benedixerit, et quidem ita trans-
versin obligatis in se, ut Christum deíormantcs, jam 'tunc
protenderet benedictionem in Christum futuram. (De Baptim.)
(2l Lod. 17.“, 10.
4

São João Damasceno exclama:

“ ó ^m alech, foram aquelas mãos estendidas em


“ Cruz que te venceram ( 1 ). ”

E o grande Tertuliano d iz :

“ Porque razão no momento em que J osué vai ba-


“ ter Amalech, faz Moisés, o que nunca havia fei-
“ to. orando de mãos estendidas? E m tão critica
“ circunstância, para tornar mais eficaz a ora-
“ ção, não deveria ele ajoelhar, bater no peito, e
“ pro.'trar-se de face por terra?
“ Nada disto fez, porque — o combate do Senhor
“ contra Amalec.h prefigurava as batalhas do
“ Verbo Encarnado contra satanás.
“ E o Sinal da C m z representava a Cruz pela
“ qual devia alcançar a vitória. (2 )

E S. Justino, o filosofo martír, cuja vida chega na


dos Apostolos, diz:

( 1) Manus Crucis instar extensae, te Amalech, repulerunt. (De


fid. orthod., lib. IV, cap. 12.)
(2) Jam vere Moysés, quid utique nunc tantum, cum José ad-
versus Amalech praeliabatur, expansis manibus, orat resideus,
quando in rebustam attonitis, magis utique genibus depositis,
et manibus coedentibus pectus, et facie humi volutante, cra-
tionem comandare debuisset; nisi quia illic novem Dominl
dimicabat, dimicaturac quandoque adversus diabulum Crucls
quoque erat habitus necessarius, per quan Jesus victorlam
esset relaturus? (Contr. Marcion., n.® 111.)
“ Moisés na montanha com as mãos estendidas
“ ató ao pôr do aol, amparado por H ur e Aarão,
“ que outra cousa é, ^ ã o o Sinal da Cruz
“ vivo? (1 ) ."

Insensíveis aos m ilagres da solicitude paternal de


que eram constante objéto, os hebreus murmuram contra
Moisés e contra Deus.
Após a murmuração aparece a revolta que se torna
geral e rebelde.
Mas, o castigo é imediato ao crime e toma dele os
caractéres.
Enormes serpentes, e medonhos reptis, cujo veneno
queima como fogo, se lançam sobre os culpados e os des­
pedaçam à força de mordeduras.
Enche-se o campo de mortos e moribundos.
A cólera divina é porém aplacada pelas suplicas de
Moisés.
Para afugentar as serpentes e curar os inumeráveis
doente::, que meio indica o Senhor?
Orações?
Não.
Jejuns?
Não
Um Altar, uma coluna expiatória?
Nada disto.

( 1) Moysés expansis manibus in colle, ad vesperam usque, per-


mansit cum manus ejus suAentarentur, quod sane nullam
aliam nisi crucis íiguram exhibet. (Dialog, cum Tryph. n.”
666.)
Ordena que se faça de bronze um Sinal da Cruz, p er­
manente e visivel, que cada um dos doentes olhará com
Fé e sinceridade.
Sei'á tal a sua virtude que só o vê-lo baste a obter a
saúde?. . .
A significação deste sinal recomendado por Deus. não
é duvidosa.
O verdadeiro Sinal da Cruz eternamente vivo, Nosso
Senhor, Ele mesmo revelou ao geniei'o h u ^ n o que o sinal
do deserto era a Sua figura.

‘ Como Moisés, levantou a serpento no deserto,


“assim é necessário qu.e o Filho do Homem seja
‘ levantado, para que não morra, mas antes con-
‘ siga a vida eterna, quem n’ Ele acreditar ( 1) . ”

Se coubessP. nos lim ites de uma carta, ambos nós per­


correríamos os anais do povo figu rativo, e tu, meu caro
amigo, o verias em todas as ocasiões importantes, (as. úni­
cas bom conhecidas) recorrer ao S'i'nal da Cruz.
Vou apontar-te algumas.

Corno nos ensinam os próprios judeus, o Sacerdote


nos sacrifícios, prim eiro levantava a hostia, segundo a
prescrição da lei, e depois, m ovia-a do oriente para o oci­
dente, formando assim o Sinal da Cruz.

(1) Joa., 15.


líxccutando o mesm() rnovimonto é que o sumo Sa­
cerdote, e mesmo os simplrs Sacerdotes, abençoavam o
povo depois dos sacrifícios (1 ).
Da Ig reja ju d ak a passou este sinal à Igreja. Cristã.
O.s primeiros Cristãos, impressionados do antig-o mo­
do de all'Jnçoar com o Sinal da Cru 1,. foram pelos Apos-to-
los fiicilmcnh' mstruidos da significação misteriosa des'
sinal.
[•'oram nnturalmeniC" levados a continua-lo, junta
do-lhe as divinas palvrrus que o explicam.
N o temPo do proféta Ezechiel chegaram os crimes de
Jerusalem ao seu ponto culminante.
Um mistérioso personagem, diz o proféta, aparece
com ordem de percorrer a cidade e de marcar com este
sinal T a fronte dos que gemiam por causa das iniquida-
des desta criminosa capital.
Seis outros personagens que o acompanhavam, le-
\'ando cada um sua arm a m ortífera, tiveram ordem ter*
minante de m atar indistintamente os que não estivessem
marcados com este sinal salutar (2 ).
Como se deixará de ver nisto a tocante fig u ra do
Sinal da Cruz que se faz. sobre nossa fron te?
Assim o pens.am ()s Padres da Ig reja , entre outros,
Tertuliano e S. Jerónimo.

Dizem eles:
“ Assim como o sinal Tau T — impresso na fron-
“ te elos habitantes de Jerusalem que lamenta-

<1l Du»;uN. Tratado da Cruz de Nosso Senhor, c. VIII.


Cll F:7pcn.,
. IX, 4, etc.
“ vam o.::;, crimes daquela cidade, os protegia con-
“ tra os Anjos exterminadores, tambem o Sinal
“ da Cruz sobre a fronte do Homem o garante
“ de ser vitima do demonio e de outros inimigos
“ da salvação, se lamentar os crimes a que este
“ Sinal póde obstar ( 1 ).' '

Os filistcus reduziram os Israelistas a ^ i s hmni-


Ihante escravidão.
Sansão comcçon sua libertação.
Infelizm ente o forte de ísrael deixou-se surpri'eiuler.
Prenderam-no depois de lhe vasarem os olhos.
Em tal estado o levavam às festas para lhes servir
de divertimento.
Sansão, porem, que meditava um plano, projeta es­
m agar de um só golpe milhares de inimigos.
A Providência dirige por tal modo as coisas, que ele
executará o seu designio, fazendo o S'inal da Cruz.
Diz Santo Agostinho:

“ Colocado entre duas. colunas, que sustentavam


“ todo o edifício, o forte de Israel estende seus
“ braços em forma; de cruz, e nesta atitude omni-
"potente, abala as colunas, derriba-as, e esmaga
“ seus inimigos, morrendo, como o grande Cru-
“ cificado, no meio do seu triunfo ( 2 ) . "

(1) Tertul., adv. Marcion., lih. III c. ^XII; S.Hier. in Ezach., eX.
(2) Jam hic ímaRíncm crui'is altcndite: expansu:; enim manus
ad duas colunas, quasi ad duo signa crucis extendit; sed
advcrsarlos suos interreinptos oppressit, et illius passlo inter-
fectio facta est pcrscquentium. <Scrm. 107, de Temp.)
Oririmido de angustias, David é reduzido ao maior
pxtremo a que pódc chegar um Rei.
V V- um filho parricida; os subditos revoltados; o tro­
no vacilante; e ainda a velhice que se adianta a passos
largos.
Que fa rá o Monarca inspirado?
Orarú.
M is de que modo?
Fazcmdo o Sinal da Cruz (1 ).
A ia b a Salomão o templo de Jerusalem, e o templo
m agnífico é consagrado com uma pompa digna do Mo-
iwrca.
E ' necessário atraír as bençãos do Céo sobre a nova
easa do Deus de Israel c obter Suas- graças para os que
nela v'ierem orar.
Que faz Salomão?
Ora. . . fazendo o Sinal da Cruz.
Diz o Sagrado- T e x to :

“ Em pé, diante do altar do Senhor, à viste de


“ todo o povo de Israel, Salomão estencle
“ mfíos pura o Céo, e diz:
“ Senhor, Deus de Israel, não ha um deus simi-
“ Ihante a Vós, nem no Céo, nem sobre a terra.
“ Atendei a oração do vosso servo.
“ Dia e noite estejam os Vossos Olhos abertos
“ para d eferir as suplicas de vosso servo- e de vos-
“ so povo de Israel (2 ).

(Il F.xp::mdi ma:-!-.j.s meas ad te. ( Ps. LXXVIII, 142, etc.>


(2) [11 Rcg., VIII, 22 e seg.
Seria um erro acreditar que os Patriarcas, os Juizes,
os Profétas, os Reis e .os Videntes de Israel, fo:?8em os
unicos a. conhecer e a praticar o Sinal da Cruz.
Todo o povo o conhecia e religiosamente o praticava
nos perigos publicos.
Senaquerib marcha de vitória em vitória.
A maior parte da P.alostina é invadida.
Jerusalem é ameaçada.
Que faz este povo (homens, mulheres e crianças)
paia repelir o inimigo?
Faz como Moisés, o Sinal da Cuz, tomando, como
ele, a fórm a deste Sinal.

“ Eles invocam o Sinal das Misericórdias, levan-


“ íando para o Céo as mãos estendidas.
“ E a suplica deles é ouvida pelo Senhor ( 1 ).”

Um outro perigo os ameaça.


Eis Heliodoro, que vem, acompanhado por soldados,
a roubar os tesouros do Templo.
Já ocupam o atrio exterior. Mais um passo e o sa­
crilégio será consumado.
Os Sacerdotes estão prostrados ao pé do altar. Mas
nada obsta à espoliação.
Que f a z o povo?
Recorre à sua anna tradicional. Ora, fazendo o
Sinal da C^uz e o Templo é salvo (2 ).

(1) Eccli., XLVIII, 22.


(2) II Machab., III, 20.
Se é incontestável que € uma fôrm a do Sinal da: Cruz
orar de braços abertos, conheces que, desde toda a anti­
guidade, os judeus praticavam este Sinal com impulso
mais ou menos misterioso de sua omnipotência.
Amanhã se Deus quiser, veremos se os pagãos eram
neste pont^i menos instruídos.
Adeus.
NONA CARTA

Pnris, 4 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 1. O Sitwl {la Cruz tmtrc os pngãos. Novas'
partknlaridadcs s6hrc uma fôrma cxte-
rior ilo Sinnl da Cruz entre os primeiros
Cristios. — 2. Os Mártires no anfitcntro.
— 3. Etimologia da palatmt “adorar".
— 4. Os pagãos adoravam fazentlo o
Sinai da Cruz. De que modo o faziam?^
Primeiro modo.

Meu caro Frederico,

O objeto desta. carta é:

“ O S'inal da Cruz entre os pagãos” .

Para seguir até ao fim a cadeia tradicional que-


une a sinagoga à Igreja, vou dizer-te ainda alguma cousa
do Sinal da Cruz entre os primeiros Cristãos.
Já sabes que eles o faziam a cada instante.
Mas, talvez ignores que, pal'a o não interromper-
enquanto oravam, transformavam-se el.es mesmos em Si-.
nal da Cruz.
O que póde afirm ar-se é que teus condiscípulos, cem
contra um, nada sabem disto-
O que Moisés, David, todos os Israelitas fizeram com
intervalos, nossos anHgos pais o faziam sempre.
Disto compreenderás logo a razão.
Era que Amalech, os Filisteus, Heliodoro, nem sem­
pre lhes atacavam; enquanto que o colosso romano nunca
(Ipinmha as armas.
A luta travada pelo paganismo de Roma contra nos­
sos pais, os primeiros Cristãos, durante três séculos ela
foi violenta, sem treguas nem descanço.
Pon isso os Cristãos eram outros tantos Moisés sõbre
a montanha.
Não um dia só, mas três séculos,' estiveram suas mãos
■estendidas 1iara o Céo pedindo, como Moisés, a vitória pa­
ra os M artircs que desciam à arena e a conversão para
seus perseguidores.
A respeito do pensamento e dessa atitude deles na
oração, que fa le uma testemunha ocular.

Díz Tertuliano:

“ Nós oramos com os olhos levantados ao Céo e


“ as mãos estendidas, porque elas são inocentes;
“ de cabeça descoberta, porque não temos de que
“ nos envergonhar; e sem monitor, porque nossa
“ oração é de coração.
“ Em tal posição não cessamos de pedir para to-
“ dos os Imperadores uma vida longa, um reina-
“ do pacifico, um palácio sem ciladas, exercites
“ valorosos, um Senado fiel, um povo virtuoso,
“ um mundo tranquilo. tudo, finalmente, quanto
‘ pode caber nos votos dum Homem e nos de um
‘ Cesar ( 1 ) . ”

Assim oravam no Oriente e no Ocidente os Homens,


LS Mulheres, as creanças, os mancebos, as donzelas, os
relhos, os senadores, as matronas, os Fieis de qualquer
:ondiç.ão.
Esta misteriosa atitude, eles a conservavam, não só
;m suas synaxes no fundo das catacumbas, advogando
)S interesses dos outros, mas tambem, quando arrastados
w anfiteatro onde, à vista de inumeráveis espetadores,
tinham a combater nas grandes pugnas do martírio.

Poderús figu rnr, meu caro amigo, um espetáculo


mail'l toejmle, qne aquele de que Eusébio nos conservou
a descrição?

“ A perseguição de Diocleciano era violenta na


“ P alesti na.
“ Um dia, entraram no anfiteatro grande núme-
“ ro de Cristãos condenados às feras.
“ Os espectadores não puderam escapar a uma
“ profunda emioção, à vista desta multidão de
“ creanças, de mancebos e de velhos. Todos nus,

(1) Illud suspicientes cristiani rnanibus expansis, quia innocuis,


capite nudo, quia non erubescimus, denique sine monitore,
quia de pectores oramus, precantes sumus semper pro om­
nibus Imperatoribus, vitam illis prolixarn, imperium securum,
domum tutam, exercitus íortes, Senatum fidelem, populum
probum, orbem quietum quodcumque hominis et Caesaris
vota sunt. (Apol, c. XXX.)
“ de olhos elevados ao Céo e braços levantados .
“ em Cruz.
“ Imóveis, sem espanto nem te mor, no meio de ■
“ tigres e leões esfaimados.
“ O medo que devia agitar os condenados pas­
sou ao espírito dos espectadores e até dos Juizes
“ (1 ) . ”

Esta atitude não era excepion al.


Que continue a fa la r o mesmo- historiador.
Ninguem mais digno de fé, porque foi testemunha
onilm- do que refére.

“ Verieis, no meio do anfiteatro um mancebo,


“ que apenas andava beirando vinte anos.
“ L iv re de cadeias, imóvel, tranquilo e de pé, ,
“ com os braços em Cruz, orando com ardor, de
“ olhos e coração fixo s no Céo. Estava rodeado
“ de ursos e leopardos cujo fu ror anuncia v a a
“ morte.
“ Porem, e:-:tes animais terrí\'eis, quando prestes
“ a dilaeei^iu^-lhe as carnes, são de subito acal-
“ macloa pot^ uma força misteriosa e fogem iire-
“ pil:ulam:mte (2 ).

(1) Eusehio de Cezarca. Hist. cccl., liv. VIII, c. V.


(2) Vidisscs adolescentulum, nondum viginti anos inlvgros, natum,
nullis constrictum vinculis, firmiter consistcntcm manibus in
crucis modum e tranverso expansis, robusta ct excelsa mente-
in precibus ad Dei numen hanc vel illan parten, de loco in
quo steterat, deflectentem; idque cum carn dentibus lace-
rarc aggrederentur, querum ora, divir.a q1;adam
. et incxpli-
cnbili potentia, nescio quo pacto fuére prope obturata, et ,
itcrum ipsi propcre recurrerunt. <Idem. Hist. eccl., liv. VIII,.
c. VIU
Espetáculo mais enternecedor te oferece o Ocidente,
pela delicadeza da vítima.
Passava-se o caso no meio da grande Roma.
Nunca igual multidão tinha acudido ao circo.
A heroina era Inês, nobre donzela de treze anos de
idade.

Condenada ao fogo, entra na fogueira.


D iz Sa^to Am brósio:

“ N ão a vêdes vós, estender as mãos para Cris-


“ to e arvorar o vitorioso Estandarte do Senhor
“ até no meio das chamas?
“ De mãos estendidas atravéz do fogo, assim se
“ d irige a Deus: 6 Vós, a quem é necessário ado-
“ rar, honrar e tem er! 6 P ai Omnipotente de
“ Nosso Senhor Jesus Cristo, bendito sejais; por-
“ quanto, graças a Vosso unico Filho, escapei às
“ mãos dos impios e atravessei, imaculada, as
“ impurezas cio demonio. E eis que o orvalho do
“ Espírito Santo lhe npaga o fogo nos pés; e a
“ clwmn espalhada ameaça cOm seus ardores os
“ que a tinham ab‘ndo.” (1 )

Tal <'ra a forma eloqiwnte do. Sinal dn. Cruz, usada


pelos Cristãos prim itivos da Igreja , os Moisés da Nova
Aliança.
Outra prova tu podes obter nas pinturas das ca­
tacumbas.

(1) Tendere Christo inter manus, atque in ipsis sacrilegis Íocií


tropheum Domini signarc victoris, etc. (Liv. I de Virgin.)
Muito tempo durou esta fonna.
Eu a v i há ^i^inta anos em alguns povos c tó lic o s da
Alemanha.
Mas se ela se perdeu entre os fiéis, a Ig r e ja a con­
servou ^-eligiosamente.
Os duzentos mil Padres que sobem diariamente ao
A ltar em todo.s os pontos da terra são os anéis visiveis a
nossos oUios da cadeia tradicional que de nós se estende
às catacumbas, das catacumbas ao Calvário e do Calvái^io
à montanha de Rapfidim , dc onde parte para se perder
em a noite dos tempos.

Chegamos aos pagãos.


Tambem eles fizeram o Sinal da Cruz.
F iz e r ^ - n o orando; e com razão acreditaram ser ele
dotado de uma força misteriosa de grande importância.
Pergunta aos teus condiscípulos a etimologia, do v e r ­
bo adorar: — adorare.
Não terão dificuldade em responder-te.
Se este verbo fosse creaclo pela Ig reja , poderias dei­
xar de inten-oga-los.
Porém, como se acha na lingu 3r latina do f-‘ér,ulo de
ouro, segundo a linguagem dos colégios, .eles elevem sa-
be-la.
Decompondo o verbo adorar, ele significa, p a it todos
os etimologistas, levar a mão à boca e beijá-la:
"11anum ad os aclmoi-erc” .

Tal era o modo Jlor que os pagãos adora,'am seus


deuses.
Disto abundam as provas.

“ Quando nós adoramos, diz Plínio, levamos a


“ mão direita à boca e beijamo-la, e depois des-
“ crevemos um drcu lo com o nosso c o ^ » , que-
“ gira sobre seu eixo (1 ). ”

G irar o corpo sobre seu eixo.


Que significa este genero de adoração?
Levando a mão à boca, o homem fa z homenagem de-
sua .pessôa à Divindade.
Fazendo gira r o corpo sôbre seu eixo, imita o mo­
vimento dos astros e do mundo inteiro cuja parte mais
nobre são os corpos celestes ; é ainda fazer homenagem
á Divindade.
Este modo de adorar fa z parte do Sabeismo ou da.
idolatria dos astros que sóbe a muito alta antiguidade.
Segundo os Pitagoricos, isto veio de Numa, que ■
prescreveu a giração:

“ C i r c u ^ g i tecum dcos ad.oras.”


“ Diz-se, acrescenta Plutarco, que é uma repre-
“ sentaç^o do giro que o sol dá em seu movi-.
“ mcnto.” (V id a de Numa, c .X II.)

Esta pratica profundamente misteriosa, cstnvji mui ­


to espalh;ula.na A^^éi^ka, antes de sua descoberta.
A i nda hoje ela existe entre rfcrí;ir-hc.'f g/mdo?'''.^ do
Oncntc.

(2) In adorando dexteram ad osculum rcferimus, totumque corpus.


circumagimus. (Hist. Natu., I. XXVIII.)
Minucio F elix diz:

“ Cecilio viu a estatua de S'érapis, e, segundo o


“ c-ostume do vulgo supersticioso, levou a mão à
“ boca e beijou-a ( 1 ) . ”

Apuleu diz tamb^:m:

‘ Emiliano até hoje não adorou deus algum,


"nem frequentou algum templo.
‘ Se passa diante de algum lugar sagrado, consi-
“dera um crime aproxim ar a mão dos labios pa-
‘ ra adorar (2') ■”

Porque ra 7ão
. exprimia este gesto o. culto soberano,
o culto de adoração?
Vou di?.er-t’o em poucas. palavras.
O Homem é a imagem de Deus:.
Este existe todo. no seu Verbo c é por Ele que faz tudo.
À similhança de Deus, o homem existe todo no seu
vcrLo c é por ele que fa z tudo.
L eva r a mão à boca é comprimir o verbo; é, de al­
gum modo aniquilá-lo.
Fazer isto como o faziam os pagãos em honra do de­
monio, era declarar ser vassalo e escravo dele e reconhe­
ce-lo até por deus.
Já. ves que isto era um enorme crime.

(1) Cecilius simulacro Serapidis denotnte, ut vulgus supcrsticiosuR


solet, manum ori admovens, osculum labiis pressit. <In Oitav.)
(2) Nulli dí(i ad hoi' vitnr supp’.icavit; nullurn t.-mplum trcquen-
lavlt; •"i ?;mum aliquorl pmclereát, npfns habet, adorandi ;:ra-
tla inimum Inhiis admovcre. (Apnl, I, vcrs. fin.)
Dahi estas notaveis palavras de Job, quando advoga­
va sua causa:

“ Quando vi o sol radiante com todo o seu esplen-


“ dor e a lua movendo-se banhada em luz, meu
“ coração se regosijou em s^^edo, mas nunca
“ beijei minha mão porque isso seria a maxima
“ iniqüidade e a negação do AltiSoS:imo Deus: —
“ iniquitas maxima, negaíio contra Deum altis-
“ simum ( 1 ) . ”

Este gesto misteriso era, a tal ponto, o sinal da^ idola­


tria, que, falando dos Israelitas que haviam con.£ervado
infiéis, Deus disse:

— “ Eu ^-eservei para mim em Israel sete mil lio-


“ mcns que não dobraram os joelhos diante de
“ Beal, e o não adornram beijando a mão ( 2 ) . ”

Or, pagãos adoraram, levando a mão à boca e beijan­


do-a.
O fato é incontestável.
Mas em tudo isto, me dizes tu, eu não v ejo o Sinal
da, Cruz.
Pois vai vê-lo na fórm a de b eija r a mão.

(1) Job, XXXII, 26. etc.


(2) Dcrclinquam mihi in Isrnel scptem milia virorum, quorum
genun non sunt incurvntn nnto Baal, et nmnc os quod non
udornvíl cum osculo manus. (III Reg. XIX, 18.)
Olha para este pagão de joelh o em terra ou de cabeça
inclinada diante de seus idolos.
Com o dedo polegar da mão direita passado por baixo
do dedo indicador e repousado sobre o do meio, não o
vês tu form ar uma Cruz?
Beija-a depois com devoção, murmurando algumas
palavras em honra de seus deuses.
Repete este mesmo gesto, e verás, que o Sinal da Cruz
não pode formar-se melhor.
N isto consistia o beijo adorador entre outros muitos
pag-ãos.
Sobre tal ponto fa z fé Apuleu :

“ Uma multidão de cidadãos e de extrangeiros,


“ diz ele, correram, à noticía do eximio espectá-
“ culo.
“ Estupefátos em vista da incomparável beleza,
‘‘ levaram a mão direita à boca, conservando o
“ dedo indicador repousado sobre o polegar, e
“ (.'om religiosas orações honravnm o idolo como
“ divindade ( 1 ) . ”

Quanto ao murmurio de acompanhamento, são bem


<‘onhcddos os versos de Ovidio, V I, Metai'mophose:

“ R cstiíií, e pff.í«do, faueas miki, murmure d is ií”


mens: et faveo.s m ihi, murmure
“ dixi.”

(l) Multi civium et advenae copiosi, quos exirnii spectaculi rumor


studlosa celebritate congregabat, inacessoee formositalis admi-
ratlone stupidi, admoventes oribus suis dexteram, priore digi-
tls In erectum pollicem residente. ut ipsan prorsus dcam Ve­
nerem religiosis orationibus venerabantur. (Asin. Aur. lib. IV.)
Este modo de fazer o Sinal da Ci’uz é t<lo real e ex ­
pressivo, que ainda hoje é fam iliar a grande número di>
Cristãos em todos os paízes.
Mas não era o único conhecido dos pagãos.
Como hoje as Alm as mais piedosas, eles tambem fa ­
ziam o Sinal da Cruz juntando as mãos sobre o peito.
Achamos este Sinal da Cruz em uma das circunstân­
cias mais solenes e misteriosas da vida pública.
Deixo por hoje tua curiosidade em jejum.
A té amanhã, si Deus quizer.
Adeus.
D E C IM A C A R T A

Paris, 5 de Dezembro de 1862.

Sumario:
Segundo e terceiro modo pelos quais os
pagúos faziam o Sinal da Cruz. Teste­
munhos. Pietas publica. — 2. Os pagãos
reconheciam uma potencia misteriosa -no
Sinal da Cruz. De onde lhes vinha esta
crença? — 3. Gronde mislério do mun­
do moral. importância do Sinal da Cruz
aos olhos de Deus. O Sinal da Cruz do
mundo físico. — 4. Palavras dos Padres
e de Platão. — 5. Inconsequência dos
pagSos antigos e modernos. — Razão do
ódio pnríicular do demonio ao Sina! da
Cruz.

caro Frederico,

A o sair do colégio, depois de dez' anos de estudos g r e ­


gos e latinos, não conhecemos nem a prim eira palavra da
nntiguidade pagã.
Esta nossa moda de educaç.ão faz-n os olhar sempre
pnra cima e nunca para baixo.
O que se passa em França, passa-se igualmente nos
Ilab-es visinhos.
Para o crcr, tenho boas rnzõcs.
Daí resulta, meu caro amigo, que o fato, de que vou
ocupar-me, será para muitas pessoas uma extranha no­
vidade.
E i-lo :
Quando um exercito romano punha. cerco a uma ci­
dade, fosse -luem fosse o General — Camilo, Babio, Me-
telo, Cesar, Cipião, ou qualquer outro, a primeira opera­
ção não era abrir fossos ou levantar linhas de circunda-
ção; era — evocar os deuses defensores da cidade e cha­
ma-los a seu campo.
A formula da evocação é muito longa para u ^ car­
ta: poderás. ve-la em Macrobio.
A o pronunciar aquela evocação, o General fazia d«as
vezes o Sinal da Cruz.
Prim eiro fazia-o como Moisés, como os primeiros
Cristãos, como ainda hoje o Padre ao Altar- Mãos esten­
didas para o Céo, ele pronunciava então o nome de Ju-
piter.
Depois, cheio de confiança na eficacia de sua supli­
ca, que fazia ele?
Enc^-uzava devotamente as mãos sObre o peito (1 ).
Eis aqui o Sinal da Cruz em duas form as incontes­
táveis, universais e peifeitam ente regulares.
Se este fato notável é geralmente ignorado, eis um ou­
tro que o não é tanto.
O uso de orar com o braços em Cruz era muito. fam i­
liar aos pagãos do oriente e do ocidente.

(1) Cum Jovem dicit, manua ad colum tollit; cum votum recl-
pere dicit, manibus pectns tangit. (Satur., lib. III, cap. 11.)
}Jeste ponto não ha diferença deles a nós e aos judeus.
Relê os teus Clássicos.
T ito -L iv io te d irá:

— “ De joelhos, eles levantavam as mãos supli-


“ cantes para o Céo e para os deuses ( 1).
Dionisio de Halicai-nasso:

— “ Bruto sabendo da desgraça e m.oite de Lu-


“ crecia, levantou as mãos para o Céo, e invocou
“ Jupiter com todos c.s deuses (2 ).
V irg ílio :

— “ N a praia de mãos estendidas o pai Anquises


“ invoca os gnmdes deuses (3 ).
Ateneu:

— “ D aiio sabendo t'om que ntcnçõcs Alexandre


“ tratava sens filhos cativos, estendeu ns mãos
“ para o sol c pediu que, a não reinai^ ele próprio,
“ reinasse Alexandre ( 4 ).

Apuleu enfim dedara formalmente que este modo de


orai' nilo era nma exccpção, ou. como alguns modernos po-

( l l Nixae Kcnibus supinns mõlnus ad coclum ac dcos tendentes.


(Lih. XX XIV.)
12.1 Urutos ut eognovit casum ct ncccm l.ticri'cinc. protcnsis ml
coclum manibus: Jupiter, inquit, diique omnes, etc. (Anti-
quit., lib. IV.)
(3) At pater Anchieses passes de litores palmis,
Numinõl magna vocat. (AEneid., lib. lll.)
(41 Cum hoc Darius cognovisset, manus ad solem extendens,
precatus est, ut vcl ipse imperaret, vel Alexandre. (Lib.
XIH. cap. XXVII)
dei'iam qualificá-lo, uma excentricidade; mas um costu­
me permanente:
“ Os que oram elevam as mãos para o Céo” ( 1 ).
Um impulso que chamarei tradicional (porque a não
ser assim não teria nome) lhes mostrava o valor deste
Sinal Misterioso.
Poder fazê-lo nos últimos momentos, era para eles
uma garantia segura de salvação.

“ Se a morte, diz Ariano, me surpreender no


“ meio de minhas ocupações., bastar-me-á que eu
“ possa levantar as mãos para o Céo” (2 ).

Atendei bem.
Ele não diz: — Se eu puder cair de joelhos ou bater
no peito ou curvar minha fronte para a terra; m as: — se
puder estender os braços em Cruz e lcvantó-1os pm-a o
Céo — .
Qual a razão disto?
Pergunta-a a teus condiscípulos.
Pergunta-lhes mais.
Porque razão colocavam os Egípcios a Cruz nobre
Rcus templos, oravam diante deste Sinnl Adorável e o
consideravam como anuncio de felicidade futura?
Referem-se os historiadores gregos, Socrates e Sozo-
mencs que no tempo de Tcodosio quando se destruíam

(1) Habitus orantium sic est. ut manibus extensls ad coelum,


precemur. (Lib. do Mundo, recor. íin.)
(2) Siversantem talibus in actionibua, mors arrepiai, satis crit
si, perrectis ad Deum maribus, sic loqui valcam. (In Eplctet.,
lib. IV, cap. X.)
OH templos dos falsos deuses, ao ser destruido o templo de
Séi-apis, no Egi^^, encontraram muitas pedras com ca-
rac.l^'‘i^c:; hieroglíficos em fórm a. de Cruz.
Os N eofitos egípcios afirm avam que, segundo os
interpretes, estes caractéres significavam na verdade a
Cruz, como sinal da Vida futura (1 ).
Entre os romanos era isso também um fato.
E não posso ter a menor dúvida, porque vi -com meus
olhos um monumento antigo que é disso uma prova ma­
terial.
Conheciam sim a eficácia do Sinal da Cruz, mas não
queriam como Moisés e os primeiros Ci-istãos, permanc-
cei^ (le braços encruzados, durante suas orações.
Que fizeram então eles?
Im aginm am uma deusa encarregada de intcrcevler
semiirc pela República e n representaram na atitucle de
Moisés sobr{! a montanha.
l l l está pois, em Roma, até agora um monumento.
No meio do Forum oUtoriwn onde se observam hoje
ns restos do teatro de Marcelo, levanta-se a estatua da.
deusa chamada — P ictas pública.
J'lstá de pé com oi'\ braço:; ahertos em cruz, exata.-
monle como Bloisés sôbre a montanha ou como os p ri­
mei rus Cristãos nas catacumbas.

(l) Theodoslo magno regnante, cum fana gentilium dirlmerentur,


Invente sunt in Serapidis templo hieroglyphicae litterae ha-
bcntcs crucis fornam, quas videntes illi qui ex gentibus Chrfsto
crcdidcrant, aicbant, signiíicanre crucem, apu<l peritos hiero-
Rlyphicarum notorum. vitam venturam. (Sozcm., 11b. V, cap.
XVII; — Id., 1ib. VII, c. XV.)
À sua esquerda estava um altar em que ardia incenso,
símbolo da' suplica (1 ).
Sobre o valor impetratório e latreutico- do Sinal da
Cruz, o alto oriente estava de acordo com o ocidente, o
chinez como o romano (2 ).
Poderíamos acreditar que um Imperador da China,
que de tão antigo é quasi m itológico chamado Hten-Fucu,
tinha, como Platão, presentido o mistério da Cruz?

“ P ara honrar o Altíssimo, este Imperador tão


“ antigo juntava em Cruz dois pedaço3 de ma-
“ deira ( 3 ) . ”

Dos sete modos de fazer o Sinal da Cruz, meu bom


amigo, os pagãos que não conheciam senão três, pratica­
vam-nos com religioso respeito, especialmente nas oca­
siões importantes.

E dizes-me tu:
Muito bem; mas sabiam lá d es o que faziam ?
Não seria aquilo mais um sinal arbitrario qualquer,
insignificante e de onde nada si' poderia concluir?
Eu nâo prehmdo con\'('nccr a ninguem que os pagãos
compreendiam como nós o Sinal da Cruz.
Mas, é certo que tal Sinal entre eles existia como aa
figuras entre os J ncleus.

(1) Gretzer, De Cruce, p. 33 — Forcillini, art. Pietas, 7.


(2) ■ Latreutico — relativo ao culto de Deus.
(3) Discurso prelim, du Chouking., pelo P. Prèmare, ch. IX, p. X,
o. II.
A o v ér deles, o Sinal da Cruz tinha uma significa­
ção real, um valor considerável, posto que mais ou menos
misterioso, segundo os lugares, os tempos e as pessoas.
Conheces as cartas escritas com tinta simpatica?
À prim eira vista, os caracteres, posto que realmente
traçados, são pouco visiveis; mas, pela ação do fogo ou
de um reativo, eles aparecem de repente e são perfeita­
mente legíveis.
Tal era o Sinal da Cruz entre os pagãos.
Quando sôbre ele atuaram os raios da Luz evangéli­
ca, este claro — escwro não mudou de natureza, mas,
como as figuras do Antigo Testamento, tornou-se inteli­
gível a todos; descobriu-se; falou.
Cai por si mesma a suposição de que entre os pagãos
o Sinal da Cruz ío ra um sinal arbitrário.
Do que é universal, nada pode ser arbitrário.
E neste ca::o está o Sinal da Cruz-

Chegamos, meu caj-o Fredertco, a um dos mais pro­


fundos mistérios da ordem moral.
Níio esqueças que meu fim atual é mostrar do Sinal
da Cruz um tesouro que nos enriquece.
Para o Homem ser enriquecido é necessário que ele
peça (‘ que Deus o oiça.
P am Deus o ouvir é nccess.-li'io que o homem Iht!
agi^ade.
"Dr.tts pr.omtm^es no1/.e.xrwrf/í."
"

E a Deus, os que lhe agradam são só o Seu Filh o e os


(jue a Ele se assemelham.
Ora o Filho de Deus, este único Mediador entre Deus
e os homens, é um “ Sinal da C ^ " Vivo^ e Eterno desde a
oiigem do mundo.

“ Agnus occisus ab origine mundi. ’

E ' o grande Crucificado.


E este grande Crucificado que é o novo Adã^, é o
Tipo do genero humano.
Para agradar a Deus é, pois, necessário que o H o ­
mem se pa^reça com seu D ivino Modelo e seja — um Cru­
cificado, um “ Sinal da Cruz” vivo.
T al é, qual o do Verbo Divino, seu destino sobre a
terra.
Mendigo, outra não deve ser sua atitude quando se
apresenta diante de Deus a pedir esmola.
Não quiz a Providência que o Homem ignorasse esta
condição ao próprio fim necessária.

"Como não pcrdcrn a Ic^mbrança de quierfa nem a í!.<f-


•}>cranm;a de Redencrio, /n.wbéwt nèo fjerdmt do n^ista a. Cruz,
instrumento redentor.”

Eis porque, desde a origem dos séculos até nossos


dias, existe em todos os p6vos no ato de orar, a prática do
Sinal da Cruz debaixo de urna ou outra f o ^ a .
Dens não se limitou a gravar no coração do Homem
essa atração do Sinal da Cruz.
Fez mais. Para que sitmpre tivessemos presente a
nossos olhos corporaiS a necessidade deste Sinal Salutar e
hcm comprr.cndessemos o pO<ler soberano que deve a Cruz
representar no mundo moral, quiz o Crendor que tudo no
mundo material se fizesse pelo S'inal da Cruz.
Para que tudo nos viesse mostrando a necessidade
da ação bcnfazeja da Cruz, quiz E le que as cousas repro­
duzissem-lhe a i ^ g e m .

Escuta a alguns Homens que tiveram olhos para v ê r ■


isso bem ás claras.

“ E ’ dignissimo de nota, diz Gretzer, que, desde a


“ origem do mundo, Deus quizesse tR.r sempre a
“ figu ra da Cruz debaixo das vistas do genero
“ humano, e tudo organisasse de modo que na-
“ da pudesse fazer sem a intervenção do seu si-
“ nal ( 1)

d retzer é o centésimo eco da filosofia tradicional.


Onve mnis n. alguns:

“ Olhai, dizem eles, para tuclo quanto existe no


“ muuflo e vt'-dc corno todas. as cousas são govcr-
“ nadas e postas em obra pelo Sinal da Cruz.
“ A ave qu-e vôa nos ares, e o Homem que nada
“ nii ág-ua, ou que ora, formam o Sinal da Cruz;
“ p nada podem conseg^iir senão por ela.
“ Pai^a tentar fortuna e ir proc u rar riquezas na
“ cxtremidado do mundo, tem o navegante net^es-
“ vidadc de um navio.

( 1) lllud t'oiisi<li'rri lione dignissimum cst, quod Deus figuram


Crucis ab unitio semper in rnonitu a oculis vcrsari voluit,
r<\sque ita instituit. ut homo prepemodum nihil agere posset,
siiw intcrveniente crucis specie. (De Cruce, lib. I c. LII.)
“ Este não pode navegar sem mastros e os mas-
“ tros de nada servem sem vergas em form a de
“ Cruz.
“ Sem esta, portanto, não ha direção possível,
“ não ha fortuna a esporar.
“ O lavrador pede à terra alimento para si, para
“ os ricos e para os R€is.
“ Para obter é-lhe indispensável uma charrua;
“ mas esta de nada serve se não fo r armada de
“ seu cutélo; e a charrúa assim form a a Cruz
“ (1 ).”

Se o Sinal da Cruz é o meio pelo qual o Homem age


.sobre a natureza, é-lhe também o instrumento de ação
sobre seus similhantes.
Não é a vista das bandeiras que nas batalhas os sol-
<lados se animam?
Os estandartes rom.anos, chamados canfabra e sipa.-
r/ra., que mostravam eles senão a Cruz?
Uns e outros eram rloira<los; atravessados em Cruz
na parte supei-ior por uma ppça de pau de onde pendia
uma bandeira de oiro e purpura.

(I ) Aves quantlo colnnl acl nrthera íormnm Crucis nssumunt,


homo natans per aqun vcl orans. forma Crucis visitur. (S.
Hier., inc. XI Marc.l
Antemnae nnvium, velorum eornua, sub figura nostrne Crucia
volitant. (Orig., Homil. Vlll, In divers.) — Slcut autcm Jr.ccle-
sin et sine Cruce stare non potest, ita et sine arbore navla
infirmn cst. Statim enim dlnbolus inqulctnt, et lllam ventes
nlliclit. At ubi Sicnurn Cruds crigitur, statlm ct diaboll ini-
quitas repellltur. cl ventomin procella sopilur. (S. Mnxlm.
Taur., ap. S. Ambr.. t. III, serv. 58, & &.)
Poderiam citar-se milhares de aplicações.
A s aguias de azas abertas. no alto das lanças c ou­
tras insígnias militares, sempre terminadas por duas
azas estendidas despertavam sempre a lembrança do S i­
nal da Cruz.

“ Os troféus, verdadeiros monumentos das vitó-


“ rias alcançadas, sempre form am a Cruz.
" A religi.ão dos romanos que era toda guerreira
“ adora os estandartes, de preferência a todos os
"deuses; e todos os seus estandartes são Cruzes.
“ O7mne.9 t7li imaginww SMggestwts ^^cignes m.Mâ-
“ lin crMciwm sw.ní ( 1 ). ”

Quando Constantino quiz perpetuar a lembrança da


Cruz, por cuja virtude tinha vencido, não mudou o estan­
darte Im perial; contentou-se com gravar-lhe a era de
Cristo p o r menos lhe im portar o objeto de sua visão que ■
o nome d’Aquele que nela tinha aparecido.

“ P or seu turno o Homem. Exterio^rmente ele se-


“ distingue dos brutos porque anda de pé e póde -
“ estender os braços. E nesta atitude o Homem
“ representa de fato a Cruz-
“ E’ por isso que nos é ordenado orar assim; para
“ quo até nossos mcmbros prodamem a Paixão
“ do Senhor. Quando nossa Alm a e nosso corpo
“ em Cruz confessam a Cristo, é nossa oração
“ mais facilm ente ouvida."
‘‘C mesmo Céu é disposto em fórm a de Cruz, Que-
"representam os quatro pontos cardialc sinão a

(1) Torlull., Apolog. XVI.


“ Ci‘uz e a unlversalidadí! de sua virtude salutar?
“ Tõda a creação repi’esenta o Sinal da Cruz.
“ Não escreveu Platão que a Potência mais visi-
“ nha do prim eiro Deus -lõe havia estendido sòbre
“o mundo em form a da Cruz (1 ) ?”

Daí a resposta peremptoria de Minucio Felix aos pa­


gãos que reprovavam nos Cristãos o Sinal da Cruz.

“ Não existe a Cruz por toda a parte?


“ Vossas bandeiras, vossos trcféus e os estan-
“ dartes de vosso campos, que eles, sinão
“ Cruzes ornadas e doiradas?
“ Não orais v6s de braços em Cruz, como nós
“ outros?
“ Nesta atitude solene não empregais vós formu-
“ las, pelas quais proclamais um só Deus? Não
“ vos assimilhais vós então aos Cristãos que ado-
“ ram ^ só Deus e que têm a coragem de con-
“ fessar sua F é no meio das tortu^-as estendendo
“ os braços em Cruz?
“ Entre nós e vosso povo que diferença ha, quan-
“ do, de braços em Cruz, todos dizemos Gmmrlc

(1) Ideo elevatis manibus orare praecipimur, ut ipso quoque-


bembrorum gestu passíonem Domini íateamur. Tum enim
citius nostra exauditur oratio, cum Christum, quem mens
loquitur, etiam corpus imitatur. (S. Maxim. Taur., apud S.
Ambr., t. UI, scr. 56); — S. Hior., in Marc., XI; Tcrll. Apo].,
^VI; — Orig.. Homil, VJJJ in divers.) — Dixlt, vlm qune
primo Deo proximn f:rnt, lu moclum X litterne porrectnm
et extcnsam esse. (S. Just., Apol., II &, &.)
"Deus, Verdadeiro Dews, sa D ius quizer?
“ E’ esta a linguagem natural do pag.ão ou a. ora-
“ ção do Cristão?
“ Ou o Sinal, da Cruz é o fundamento da Religião
“ natural, ou serve de base a vossa religião ( 1 ) . ”

Porque razão, pois, o perseguis vós?


Meu caro Frederico, a mesma pergunta vou eu fazer
aos pagãos modernos.
Porque perseguis vós o S in al_da Cruz?
Porque vos envergonhais .de o praticar?
Porque perseguis com vossos sarcasmos os que têm
coragem para praticá-lo?
Tanto agora como outrora a resposta é sempre a
mesma.
Com os pagãos dava-se o seguinte:
Menthioso toda vida, Satanás inculcou-se por um deus
ao Homem que, enganado assim, o adorava se condenan­
do.
Alegrava-se entfio com isto o malvado porque o S i­
nal da Cruz que era f-eito para adorar o Verdadeiro Deus
e salvar aos Homens. estava sendo usado para idolatria e
perdição.
Com os Cristãos a Verdade triunfou.
K a verdadeira Religião o Sinal da Cruz está sempre
firm e em seu lugar, com o destino de adorar ao único e
verdadeiro Deus, para salvamento dos Homens.
Com o Sinal da. Cruz, adora-se especialmente o V e r ­
bo Encarnado.

(I) Hn Siitiio Crucis nut ratio naturalis innititur, ou vcstra reli-


);lo formatur. l Octav.) '
E justamente o D ivino Crucificado é que é o objeto do
ódio pessoal de Satanaz, p or ser o Redentor que nos ar­
ranca daquelas ga rra s malditas.
N o Cristão, o Sinal da Cruz torna-se para o maldito
um objeto de esc^^ieo e «m crime de ^mnrte.
E em vez, nos ^ e ra v o s dele j.á o Sinal D ivino deixa de
provocar ódio ou sarcasmo, quer se o faça p or zombaria,
quer por usos profanos, quer por praticas ocultas.
^tas.. • • donde v-em, nos maus de todos os séculos, es­
tas disposi^ções., na aparência contraditórias, de amor e
de ódio, de respeito e despreso pelo Sinal adorável?

Do prótpTÍo Satanás, responde Tertuliano.

“ Como espírito de mentira, sua -cupação é al^


•‘terar a verdade e fa ze r servir as. coisas mais
“ santas em proveito dos ídolos.
“ E ' assiiili que 1C
le inicia no culto de Mitra.
“ Batisa seus adeptos, assegurando-lhes que a
“ lágua apagará seus pecados. M arca na fronte
“ aos .seus soldados, celebra a oblação do pão, pro-
“ ^eito a ressurreição e a coroa obtida pela es-
“ pada.
“ Que direi mais?
"T e m 1á um soberano pon tifíce a quem proíbe
“ segundas nupcias.
“ Tem suas virgens e seus. abstinentes.
“ Examinando um pouco as superstições estabe-
“ lecidas por Numa, — os ofícios sacerdotais, as
“ insígnias, os priviJ.égios, a ordem e os porme-
“ nores dos sacrifídos, os utensilios. sagrados,
“ todos os objetos ao serviço das expiações e das
“ suplicas — claramente se verá que o demonio
“ falsificou tudo isto tirando de Moisés.
“ Depois do Evangelho a falsificação vem conti-
“ nunndo ( 1 ) . ’’

Depois do Cnlvario Sntanaz fo i mais longe aind.a.


Conhecendo o poder da Crüz, quiz atril.nti-la :i sun
pessoa e s.ubstituiT-se ao Deus Crucificado, para assim
poder roubar as homenagens do mundo.

Diz Firm ico M atern o:

— ‘‘ Instruido pelos oracu^os proféticos o inim i-


“ go implacável do genero humano, Satanaz con-
“ verteu em instrumento' dê iniqüidade o que era
“ destinado à salvação do mundo.
“ Que são os chifres. de cuja posse ele se jacta?
“ São a caricatura dos referidos pelo profeta
“ inspirado, os quais tu, Satanás, julgas poder
“ adaptar à tua horrenda figura.
“ Para que procuras neles o ornamento- e a gló-
“ ria .se tais pontas figuram o Sinal da Cruz ? (2 )

(1) A diabulo scilicet, cujus sunt partes intervertendi veritatem,


qui ipsas quoque res sacramentorum' divinorum ad idolorum
mysteria oemulatur, etc. (De Prescript.)
(2) Agitans et contorquens cornua biformis. .. nequissimum hos-
tem generis humani, de sanctis venerandisque prophetarum
oraculis ad contaminata fureris sui scelera transtulisse. Quoe
sunt ista cornua, quoe habere se jactat'? Alia sunt cornua,
quoe propheta, Sancto Spiritu annuente, commemorat, quoe
tu, diábole, ad maculatnm faciem tuarn putas posse trans-
fornlhil aliud nisi venerandum Crucio Signum monstrant.
(De Errer. prefan, relig., c, XXII.)
Assim Satanás brame de ra iva em vista. de uma
fronte marcada com o Sinal da Cruz e não acha suplicios
que sejam assás barbaros e cruéis para com eles punir
quem traz a imagem do Verbo Encarnado.
Vi.'s, meu cm’o amigo?
Como trata ele a nossos pais, nossas mãcs, nossos ir­
mãos, nossas irmãs, os M ái‘tires de todos os pnfzes c de
todos os tempos?
Urnas vezes lhes faz esfolar a fronte, e gra va r a ferro
quente sobre os ossos descobertos uns caracteres de ig-
norninia.
Outras vezes a fa z rasgar em fórm a de Cruz.
Maltrata-os por meio de cordas a ponto de lhes alte­
ra r a forma.
Flagela-os com um azorrague de tal modo a não
mrus serem conhecidos (1 ). ”
Grande lição t
Seja o ódio de Satanaz ao Sinal da Cruz a medida do
nosso amor e confiança para com este Sinal adorável
Ainda p or outros títulos são devidos ao Sinal da Cruz
estes dois sentimentos;

A m or e confiança.
Isso v-erás, si Deus quizer,
amanhã.
Adeus.

(1) Vicl. Grctzer, De Crucis Hb. IV c. XXXII, p. 62!:).


U N D E C IM A C A R T A

Paris, 6 de Dezembro de 1862.

Sumario:
I. O Sinal da Cruz é um tesouro que nos
enriquece porque é uma 1 SpLlica: Provas.
Suplica poderoso: Provas. Suplica uni­
versal: Provas. — 2. Ele prové a todas
as necessidades. O Homem carece de
luzes para o se'IL espirito. O Sinal da
Cruz. consegue-as: Provas.

Meu caro- Frederico,

O Sinal da Cruz. é um tesouro, que nos enriquece-


E ele nos enriquece, porque é uma excelente súplica.
Eis, meu caro a^migo, o pónto de Doutrina que esta­
belecemos neste momento.
Já metade da. prova. está f eita-
Consiste na.

antigutdade, unitrersalidade e perpetuidade


do Sinal da Cruz.
N o meio do naufrágio em que o mundo idolatra dei^
xou avariar ou m orrer tantas Revelações Prim itivas, lá
está como vê-se sobrenadando o Sinal da. Cruz.
Que diz este fato ?
E^ um fa to estranho e novo para ti, incompreensível
para muitos, p o ^ ^ muito racional para o Cristão habi­
tuado a refletir.
Este fato eloquentemente nos ensina a elevada utili^
dade do Sinal da Cruz para o Homem, porque demonstra
a poderosa eficacia desse D ivino Sinal sdbre o Co^ração
de Deus.
D o raciocinio, paesemos aos fatos.
O Sinal da C ^ é uma suplica; suplica poderosa;
uma suplica «niv.ersal.

E ' uma suplica.


Que é ^ homem suplicando?
E ’ um individuo que diante de Deus confeeea sua in-
digência: — indigência inteletnal, indigência moral, in-
digência material.
E' mendigo à porta do rico.
Ora, o mendigo suplica. De um mod 01 eloquente, po­
rém, ele. suplica é — por seu rorto palido e descarnado,
por suas enfe^nidades, por seus andrajos, por sua ati­
tude.
^Asim suplica p or nós sôbre a ^ ru z o adorável Men­
digo do Calvário.
Em tal estado, mai9 que nunca, o Filho de Deus era
objéto das complacências infinitas de seu Pai.
F%> mesmo nos diz que esta. suplica eloquente, mais de
iiçjio que de pala^^rss, fora a alavanca poderosa que tudo
llu> ntm ia (1 ).
I'l que fa z o Homemi formando o Sinal da Cruz, quer
«•om a mão, quer estendendo os braços?
Imprime em si mesmo a imagem do Divino- Mendigo.
Identifica-se com Ele.
E ’ Jacó cobrindo-se das vestes de Esaú, para. obter a
iKmçiio paterna.
Por esta atitude de Fé, de humildade, de reverência,
urts dizemos a Deus:
Vêde Senhor, em mim ao v o s o Cristo:

"Rr.spice in /aci"em C h n síi tui^” '

Suplica mais eloquente que todas as palavras!

“ Ela sobe, diz Santo Am brósio; e a esmola des-


“ ce de Deus :
"Ascendit deprecatio, eí descendit Det mise-
“ ra.tio.”

Tal é o Sinal da Cruz, mesmo sem fórmula.


Ele não fala mas diz tudo-

E ’ «m a swplica poderosa.

Quando um agente da Autoridade — comissário de


poHcia ou administrador põe a mão sôbre um deliquen-
te, diz-lhe:

( 1) Cum exultatus fuero a terra, omnia traham ad me ipsum.


(Joann., XII, 32)
Humiliavit semetipsiem, factus o^bediens usq11e ad mortem ...
propter quod exaltavit illum, etc. (Philipp., ll, 8)
Eu te prendo em nome da lei.
Nestas palavras — em nome da le i — o culpado vê a
Autoridade de seu país, a força armada, os juizes, o pró­
prio Rei.
O medo domina-o e ele dá-se à prisão.
Quando o Homem, ameaçado de um perigo, assaltado
pela dúvida, perseguido pela ten^tação, dominado pelo so­
frim ento, pela doença, pronuncia estas palavras de solè­
ne autoridade:
— nome do Padre e do Filho e do E spírito San­
t o " — e, ao pronunciá-las, fa z o Sinal redentor do mundo,
o Sinal vencedor do inferno, como poderás tu adm itir a
menor resistência por parte do mal?
Não satisfez o Homem todas as condições necessá­
rias ao resultado?
E não está Deus em posição de in tervir e de glo rifi­
car Seu Nom e e o poder de Seu Cristo? . . .
A eficácia do Sinal da Cruz nunca fo i duvidosa, nem
para a Igreja , nem para os séculos Cristãos.
Os mais graves teologos ensinam que o Sinal da Cruz
dá resultados por si mesmo, sem dependência das dispo-
siçõe de quem o faz.
Disto dão muitas provas; só apentarei duas.
A prim eira é o uso constantemente repetido do Sinal
da Cruz.

“ Se ele não produzisse, dizem eles, seus efeitos


“ per si mesmo, não teriam razão os Cristãos
“ para tal uso.
“ De que serviria recorrer a ele, se um bom mo-
“ vim ento da Alm a ou ^ n a boa obra, bastasse a
“ obter OU rea.lisar o que se espera do Sinal da
“ Cruz (1 ) ? "

A segunda funda-se em fatos oerlebres na história,


qu€1 são de uma autenticidade incontestável.
Eis aqui alguns.
S eja o prim eiro o de Juliano Apostata.
Desertor do verdadeiro Deus, ■este Im perador tornou-
se, o que- era enevitável, adorador do demonio.
P a ra conhecer os segredos do. futuro, procura em to ­
da a Grecia homens que tenham relações com o- espírito
mau.
Apresenta-se um evocador que promete satisfazer
sua curiosidade.
Juliano é conduzido a um tomploi' de idolos.
Feitas as evocações, o Imperador vê-se rodeado de
demonios cuja fig u ra o intimida.
P o r um movimento_ irrefletido de medo, J uliano faz
o Sinal da Cruz, e todos os demonios des.aparocem.
O evocador queixa-se disto e recomeça a e v ^ ç ã o .
Os demonios reaparecem.

(1) Dlxlmus signum sanctissimae crucis producere suos effectus


ex opere operato. (Gretzer. lib. IV, c. L:XII, p. 703) — Ita
etiam doctissimi quique theologi sentiunt, ut Gregorius de
Valentia, Franciscus Soarez, Bellarninus, Trydus et alii. (Ibid.)
Et certe; nisi ex opere operato c^rux elfectus suos ederet,
non esset cur tam sedulo a fidelibus usurperetur: quia bono
nnlml motu et actu, omne illud perficeie aeque certo pos-
11ent, quod adhibito Crucis signaculo^ peragunt, et se perac-
turoa sperant. (Ibid.)
Juliano espanta-se de novo, fa z segunda vez o Sinal
da Cruz e- os demonios de noYO desaparecem (1 ).
Es-te fa to referido por S. G regorio Nazianzeno, por-
Teodoreto e outros Padres da Igreja , deu grande brado
em todo o oriente.
O segunda é mais conhecido no ocidente.
Devemo-lo ao Papa S. Gregorio.
O ilustre P on tifice começa a narração por estas pa--
lavras:

‘ ‘ O fa to que vou re fe rir não é duvidoso; porque


“ ha dele tantas testemunhas, quantos os ■habi-
“ tantes; da cidade de Fondi (2 ). ’’

Um judeu, vindo da Campania em direção a Roma.


pela via Appia, chegou à pequena cidade de Fondi.
P o r ser tarde, não pôde ae:ha.r onde alojar-se e aco­
lheu-se para passar a noite a um arruinado templo de -
Apolo.
Esta velha morada de demonios lhe causou medo e,
Jl<)sto não fosae Cristão, teve o cuidado de munir-se do.
Sinal da Cruz.
E ra meia noite e, apavorado pela solidão, não tinha.
ainda polido conciliar o sono.

(1) Ad crucem confugit, eaque se adversus teares consignat,


e^que quem persequebatur in auxilium adsciscit. Valuit •
signaculum, cedunt daemonis, peUentur timores. Quid deinde?
reviviscit malum, rursus ad audatiam redit; rursus aggredi-
mur, rursus iidem terrores urgent, rursus objecto signaculo
daemones conquiescunt, perplexusque haeret discipulus. (S.
Greg. Nazian., orat. 11, contr. Julian.)
(2) .Nec res ect dubia quan narro, quia pene tanti in' ea testes-
sunt, quanti et ejusdem loci habitatores existunt. (Dial.,.
lib. ■III, c. VII.)
De repente vê urna multidão de demonios.
Pareciam v ir render homenagens a seu chefe que es­
tava sentado a o cim o do templo.
Ao0 passo que se vão apresentando, pergunta ele a
cada um o que tem fe ito para induzir os homens ao
^^ado.
Todos lhe descobrem seus artifícios.
N o meio daquelas prestações de contas adianta-se um
e refere a gra ve tentação em que fez caír o venerando , Bis­
po da cidade.

— “ Até aqui tiv.e perdido todo meu trabalho.


“ Mas, ontem à tarde a custo consegui que ele
“ desse uma leve palmada na espadua da santa
“ Mulher, que-lhe governa a casa.
“ Continua, lhe responde Satanás o inim igo an-
“ tigo do genero humano, continua e completa
“ o que tens come^çado. T ^ a n h a vitó ria ha-de te
“ valer uma excepcional recompensa.”

N o meio de tal espetáculo, o viajan te mal a^penas


respirava.
P ara que o pobre sucumbisse de medo, o presidente
da assembleia infernal, sabedor de que ele estava ali,
ordena aos mais que lhe digam ;

— “ Qual é o tem erário que ousou acolher-se ao


“ templo?”

Os maus espíi'itos, aproximando-se dele, encaram-no


com mui curiosa atenção e, vendo-o marcado com o Sinal
dft Cruz, gritam :
— “ ^Desgr^^! desgraça! baixei vasio e selado:
“ V oe! V oe! Vos etsignatum.

A estas palavras toda a infernal multidão desapa­


rece.
O judeu por sua vez fo g e também apressadamente.
Logo pela manhã indo à Igreja onde encontraria
venerável Bispo, chama-o de lado, conta-lhe tudo o que
viu, como soube da leve palmada que dera na creada e
qu al fim o demonio tinha naquilo.
Surpreendido além de toda a expressão, o Bispo des-
-pede logo do serviço a creada e proíbe terninantemente
.que entrem mulheres em sua casa.
Mais. tarde o Prelado ccmsagrou a Santo André o ve­
lho templo de Apolo.
Aquele viajante judeu converteu-se (1 ).
Citemos outro fato.
Lê-se na H istória de Nicéforo, que, .no reinado do
Im perador Mauricio, o R ei da P ersía enviara a Constan-
tinopla uns Embaixadores persas, que tinham o Sinal
d a Cruz sobre a fronte.
Pergutou-lhes o Im perador:
— “ Porque t r ^ i s um Sinal em que não acreditais?
— “ O que vêdes em nossa fronte, lhe responderam
-eles. é o testemunho de um insigne fa v o r que outrora re­
cebemos.
A peste assolava nosso país.

(1) Dial., lib. III, c. VII.


Alguns Cristãos aconselharam-nos que sObre a fron­
te gravas.semos o Sinal da Cruz., como preservativo con­
tra o flagelo.
N6s que acreditando o fizemos, fomos salvos no
mcio de nossas fam ílias ( 1,).”
Depois de tais fatos, ocorre naturalmente a reflexão
do grande Bispo de Hipona, que parece decisiva a fa v o r
dn Doutrina dos teologos:

— “ Não devemos pois, nos admirar da virtude


“ do Sinal da Cruz, quando feito por bons Cris-
“ tãos, sendo tanta a virtude que ele quando
“ é empregado por os que nele ^ to acreditam,
“ mas o empregam em- honra do grande Rei ( 2 ) . "

P ara fic a r bem nos limites. da ortodoxia, é necessá­


rio acrescentar que — o Sinal da Cruz pura e simples­
mente por si mesmo, só mostra virtudes quando é útil à
nossa salvação ou à dos outros — .
O mesmo acontece com certas outras praticas, tais
como exorcismos.
A e^las não- corresponde nenhum efeito incondicional­
mente infalível-
A piedade de quem f a z o Sinal da Cruz, muito con--
tribue para a eficacia dele.

<1) Hist., lib. K VIII, c. XX.


(2) Non mi^rum quod haec signa valent, cum a bonis Christianis
adhihentur, quando etiam c^m usurpantur ab exttaneis, quf
omnio suum nomen ad instam militiam non dei«runt proptei-
honorem tamen excelentissiani imperatoris valent. (Lib. de-
83 qudt., qudt. 79.)
O Sinal da é uma in v o c ^ ã o tacite de Jes.us
Crucificado; é pois, tento m^is e f i ^ quanto ^ i o r o fe r­
vor com que é feito.
Seja ela de coração ou de boca, a invocação é tanto
mais apta a. produzir! efeito, quanto mais or Fiel é virtuoso
e mais do agrado do Senhor (1 ).

E uma 8'Uplica wniversaJ.

De certo modo o Sinal da Cruz p6de dizer como o pró­


p rio Salvador;

‘Fcn-me ^ e fo todo o poder 1W


' Céo e na terra” .

Aqui, meu caro Frederico, mais -que noutro lugar, é


necessário raciocinar sôbre os fatos.
E são a tal ponto numerosos que ha dificuldade em
escolhe-los.
Todos, mas cada ^ a seu modo, proclamam de ^ a
p^arte a Fé que animava nossos maiores; de outra o im­
pério do Sinal da Cruz sôbre o mundo quer visivel quer
invisivel.

O Sinal da Cruz provê as necessidades assim do cor­


po como da Alma.
Quando o Homem carece de luzes p ara a A ^as, ele
as obte-m.
S. Gregório, Bispo de Ga.za, tem a disputar com uma
mulher maniqueia.

(1) Gretzcr, ubi supra.


A fim de, pela clareza de seus raciocinios, dissipar
as trevas que envolviam aquela infeliz, o Santo Prelado
fa z o Sinal da Redenção e logo a. luz brilha espancando as
trevas da pobre inteligência transviada.
Juliano, que era um sofista coroado, provoca à oon-
trovecsia o virtuoso Médico innão de S. G regório N a ­
zianzeno.
Cesário entra na liça munido do Sinal da Cruz.
A um inimigo consumado na arte da guerra e habil
na argumentação, o magnani^w atleta opõe o Estandar­
te do Verbo e logo o espírito da mentira é apanhado nos
próprios laços. (1 ).
S. Cirilo de Jerusalem, tão poderoso nas palavras e
nas obras, ordena que se recorra ao Sinal da Cruz, sem­
pre que se trate ele combater os pagãos; e ass^egura que
assim logo serão reduzidos ao silêncio (2 ).
N a ordem temporal tanto como na espiritual, serão
necessárias ao Homem as luzes divinas; e o Sinal da- Cruz
sempre as obtém. ■
Os Imperadores do oriente, sucessores ele Constanti­
no, quando tinham a fa la r diante do senado, costuma­
vam fazer o Sinal da Cruz (3 ).

O) S. Gregorio Nazian., Tn laucl. Coedar.


(2> Accipe arma contra adversario.s hujus Crucis; cum enim de
Domino crucepe contra inlideles quaesto tibi erit, prius statue
manu tua signum, ct obmutescet contradicens. (Catech., XIII.)
(3) Ipse coronatus solium conscendit avitum.
Atque crucis faciens signum venerabilc sedit.
Erectaque manu, cuncto presente senatu.
Ore pio haec orans ait. (Coripp., De laud. Juntin. Junior.)
Como já vimos, o nosso grande Rei S. Luiz, antes de
discutir em Conselho os negócios de seu Reino, não dei­
xava esta prática religiosa. tão antiga.
Se, à imitação dos maiores Príncipes, que têm go­
vernado o mundo, os Imperadores e os Reis do nosso sé­
culo recorressem ao Sinal da Cruz, pensas que seus negó­
cios iriam pior?
Quanto a mim, tão convencido estou como de minha.
existência que seus negócios correriam melhor.
Os governadores de hoje será que não precisam de
luzes para governar?
Terão talvez a pretensão de achar essas luzes longe
d’Aquele que é a Luz do Universo — Lux mundi?
Conhecerão eles um meio mais próprio que o- Sinal,
da Cruz, para invoca-las com resultado?
N ão estão aí os séculos todos a atestar a eficácia do
Sinal Bendito?
A Igreja, que devia ser seu oraculo, não continua a
proclamar isso?
H a condlio, conclave ou assembleia religiosa que não
comece pelo Sinal da Cruz?
Falam talvez. do alto da Cadeira os bons Padres Ca­
tólicos, herdeiros da tradição, sem que se armem deste
Sinal de força e de luz?
Eis as prescrições dos antigos Padres :
“ Fazei o Sinal da Cruz, e depois falai, escreve
S. Cirilo de ,Jerusalem. Foc hoc sigra.tm eí loqueri ( 1 ). ’ '

(1) Catech. illumnat.. IV.


O que digo dos Reis, meu caro amigo, deve dizer-se
de quantos estã.o encarregados. de ensinar os outros.
O Verbo Encarnado não é Ele então o Deus. das ciên­
cias, o Professor dos professores, o M estre dos, mestres?
Se o Sinal da Cruz presidisse a todas as lições que
hoje se dão, a. todos os livros que se imprimem, acreditas
tu que haviamos de estar assim, inundados como estamos
de erros, de sofismas, de ideias falsas, de si-stemas i n e ­
rentes cujo resultado incontestavel é fa zer baixar a olhos
vistos o mundo moderno às trevas inteletuais de onde o
Cristianismo já. o havia tirado?
O Homem carece de forças para sua e o Sinal
da Cruz é de tais forças um manancial fecundo.
V ê teus ilustres. uvós, os 1\f.ártires.
Aonde procuram eles coragem para triu n fa r em seus
combates heroicos?
N o Sinal da Cruz.
Generais, centuriões, soldados, magistrados, senado­
res, patrícios e plebeus, moços e velhos, mulheres soltei­
ras e casadas, todos, ao descer à arena, tratam de cobrir-
se desta armadura invencível!

“^^swpem&i7is Chr^istia.norum armatitra"

Segue-me, e eu te mostrarei alguns.


Em Gesaréa, o M á rtir que vai ao suplicio no meio de
-um povo imenso, é o corajoso centurião Gordio.
N ão <' vês que, tranquilo e recolhido, arma-se na
fronte com o Sinal' da Cruz (1 ) ?

(1) S. Basil, Orat, in S. Gord.


Que cidade é aquela da Armenia, que se levanta. no
meio de neves à beira de ^ lago- de gelo?
E ' Sebastes.
L á vêm marchando à tarde quarenta homens presos
e nus.
São conduzidos ao m eio do lago e condenados a pas­
sar a noite, ali, dentro do gelo.
Quem são eles?
Quarenta veteranos d " exército de Licinio.
E ’-lhes necessária uma fo rç a de resistência sobre­
humana tanto m aior quanto é certo existirem nas m ar­
gens banhos quentes, preparados para os desertores.
F eito o Sinal da Cruz, a força lhes nasce e morte
heroica vem coroar-lhes a coragem (1 ).
Já vimos a jovem Inês, Sinal da Cruz vivo, bem no
m eio das cha^mas.
E'is outras Cristãs, nascidas também na idade de ou­
ro dos mártires.
A prim eira é Santa Tecla, ilustre por nascimento,
mais ilustre pela Fé.
Agarrada pelos algozes, é conduzida à fogueira.
F az o Sinal da Cruz, entra nela a passo f i ^ e e fica
tranquila no meio das chamas.
Imediatamente cai do Céo uma torrente de água e o
fo g o é apagado.

(1) Illi autem uno cricifixi signaculo, Christum in se quasi legis


loco o^ibus praescripsertnt ... Crucem signifera Ugura in
mente gestabant. (S. Ephrem., Encom. in 40 S. S. Martyr.)
E a jovem heroina sai da fogueira cumo os três man-
cebos na fornalha da Babílonia, sem haver tostado um só
fio de cabelo (1 ).
A segunda é Santa Eufemia, tão celebre, como- a p ri­
meira.
À ordem do Juiz, num instante são preparados os
instrumentos de suplicio.

A jovem donzela vai ser estendida sobre a roda.


Faz o Sinal da Cruz, avança, voluntariamente para
a terrivel máquina armada de pontas de ferro, fita -a sem
empalidecer, e aquele olhar fa z voar em pedaços o sa-
taníco maquinismo (2 ).
Nota ainda.
Estamos num desses pretórios romanos, tantas ve­
zes tintos de sangue de nossos antepassados Cristãos;
tantas vezes testemunhas de sua respostas sublimes, e
de sua constânda heróica.
Estamos no mais violento da perseguição de Decio.
Tu conheces esse sanguinário Imperador a quem La-
tancio dá o epiteto de execrawel an im al:

(1) Capta ab apparatoribus ut in íecum jactaretur, sponte pyram


ascendit, et Signo Crucis facto, virili animõ inter medias
flarrimas stetit, subitoque, facta inundatione pluviarum, ignis
extinctus est, et beata Virgo iiaesa viturte superna erigitur.
(Ado. in Martyrol, 27 sept.)
(2) Postaquan ipsae machinae dicto citius fuerunt constructae, et
Martyr in eas erat conjicienda, validis continuo in se paratis
armis, nempe divina Crucis figura, et ea signata, adversus
rotas processit nullam quidem vultu estendens tristitiam, etc.
(Apud. Sur., t. V, et Baron., Martyrol., 16 sept.)
“ Execrabile animal, Decius” .

Diante do Juiz está uma multidão de Cristãos.


■Q acusador, como de costume, acaba de carrega-los
de todas as espécies de crimes.
Antecipadamente já s b e m que estão condenados.
Que fazem ?
Levantem os olhos ao Céo, fazem o Sinal da Cruz e
dizem ao Proconsul:

“ Haveis de v e r como vós não estais lidando com


“ gente vil e püsilanime ( 1 ). ”

Si fosse, meu caro, continuar até o fim , seria p re­


ciso fazer desfilar diante de ti o exercito imenso dos vin ­
te e cinco milhões de Mártires.
Esses valorosos 'soldados do Crucificado, ao entrar
em combate, todos arvoraram o Estandarte do seu Rei.
Deixa-me nomear ainda alguns.:
— S'. Juliano, S. Ponciano, S. Constante, S. Crescen-
re, Sto. laidoro, S. Nazario, S. Celso, S. Maximino, Sto.
Alexandre, Sta. Sofia e suas três filhas, Sta. Agueda, Sta.
Luzia, Sta. Barbara, Sta. Engracia, Sta. Iria., Sta. Juliana,
S. Cipriano e Sta. Justina, etc. (2 ).
Em todos os paizes e em todas as ocasiões ha teste­
munho do uso universal dos M ártires em se armarem do

(1) Oculis in coelum sublates, cum seChristisignaculo munis-


sent, dixerunt: Scias te non incidisse inviros pusilli et ab-
jecti animi. <Apud Sur., 13 april.)
(2) Vid. seus processos.
Sinal da Cruz ao entrar na liça com os homens, com as
feras e com os elementos.
Mais ainda.
Quando o peso das cadeias ou a atadura dos grilhões
houvesse de impedi-los de fa ze r o S'inal da Cruz, cheios
de Fé eles pediam aos Padres ou aos outros Cristãos que
os armassem do Sinal vitorioso.
Convertido à Fé pelo Santo Eleutério, vai Corebo re­
ceber no an fiteatro a coroa do M artírio.

“ Ora, por mim, diz. ele a seu P ai em Jesus Cristo


“ e anna-me das mesmas armas, o Sinal da Cruz,
“ de que armaste a. Felio, o chefe do combate
“ (1 ).”

Gliceria a nobre filh a de um P atrício que três vezes


fôra Consul ia ser lançada de repente numa estreita pri­
são.
Vendo-se nas mãos do inimigo, a prim eira cousa que
faz, é tredir ao Santo Padre Filõerates lhe faça na testa
o Sinal da Cruz.
O Padre satisfaz-lhe o desejo dizendo: — “ Que este
do C r ^ ^ ^ a d o reoUze feus votos: (2 ).
E ouve, meu caro, como os votos lhe foram realizados.
A jovem heroína desce ao anfiteatro.

( 1lOra pro me. et me arma his armis, nempre Christi signaculo.


quibus ducem exercitus munivistl Felicem. (Apud Sur.. 18
April.)
(2) Signa me Christi signo. Ad haec Philocrates presbyter:
signum inquit Christi vota tua compleat. (Ibid., t. III, et
Baron., t. II.)
N o momento de colher a p a l ^ da vitória., volto-se
para os Cristãos misturados na multidão e lhes diz:

"Irmãos, irmãs, filhos, pais, e v6s outras que


“eu tenho na conta de mães, acautelai-vos bem
“ e tende muito em consideração Quem é aquele
‘ Imperador cujos caracteres possuimos e com
“cujo Sinal fom os marcados em nossa fronte
‘ (1 ).”

Tu acabas de ver.
Todos os l\:I.ártires p ^ u r a r a m forÇa no Sinal da
Cruz.
T eriam eles procurado um apoio no vasio?
O grande Im perador por Quem eles morriam, te-los-
ia deixado numa ilusão incurável?
Se hoU!ver alguem que o creia, deve idar provas.
A té breve,
se Deus quiser.

(l) Frates, sorores, filii, patres et quaecumque matris loco mini


estis, videte et vobis cavete, ac diligentes animadvertite, qualis
eet Imperator ille, cujus caractrem habemus, et qualiforma in
íronte sígnati sumus. (Ibidi.)
D U O D É C IM A C A R T A

Paris, 7 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 1. Necessidnde perpetua do Sinal da Cruz
para obter /ôrça. Recomendação e prá­
tica dos Chefes do luta espiritual. Sinal
da Cniz nas tentações. — 2. Sinal da
Cruz na. morte. Exemplo dos Mártires.
Exemplo dos verdadeiros Cristãos, no áto
de morrer. — 3. Os moribundos pediam
a seus irmãos lhes fizessem o Sinal do
Cruz.

::VIeu caro Am igo,

O Sinal da Cruz até hoje nada .perdeu em força.


A necessidade que temos dele é talvez maior.
Não ha dúvida que si os tiranos morreram, e os an­
fiteatros caíram em ruinas, fo i porque o Sinal da Cruz
venceu a uns e fez. desabar os outros.
Os segundos pode ser que se não levantem de novo.
Mas. .. os primeiros?
De tempos a tempos saem de seus tumulos.
A raça dos Neros jam ais ^acabará.
E o mais tem ivel deles ainda está para vir.
Depois dos Cesares, outros têm aparecido com o fu-
l o r antigo.
Hão dizimado outros Cristãos, — raça imoral, raça
votada à m orte — diz Tertuliano.

“ expediíum morte genus."

Os Tiranos, aquilo que fizeram ontem no ocidente,


o que fazem hoje no oriente, podem repeti-lo amanhã em
todos os logares onde reinarem.
Aviso aos combatentes:
“ Ninguem esqueça. onde está a origem e a fo n ­
te da força.
Lembra-te, meu caro amigo, de que a paz tambem
tem seus Mártires.

"H abet et pax m artyressuos.”

Qual é o Homem que não tem em si mesmo um ou


muitos Neros?
Ha talvez na vida racional, um dia ou uma hora em
que não tenhamos a vigiar-nos e a combater?
Vinte vezes ao dia sedutores objetos se oferecem. a
nossos olhos; maus pensamentos nos importunam o espí­
rito ; e, revoltados, os sentidos solicitam-nos o coração a
traições covardes.
O h ! De quanta força carece o H om em ! . . .
Onde a enconti*ará?
N o Sinal da Cruz.
O testemunho dos séculos, a experiência dos vetera­
nos e o exemplo dos conscritos na virtude, atestam hoje
como ontem o poder soberano que o Sinal D ivino tem
para dissipar os encantos sedutores, afugentar os maus
pensamentos e reprim ir os movimentos da concupiscên-
cia.
Ouve o cantor dos 1\ijártires, Prudencio, que conheceu
deles juntamente os pormenores dos triunfos e o segredo
das vitórias.

“ Quando, a convite do sono, caires em teu cas-


“ to leito, f ^ o Sinal da Cruz sobre a fronte, e
“ sobre o coração."
“ A CrUtz te preservará de todo o pecado.
“ Fugirão diante dela as potências infernais. Sa.n-
“ tüicada por este Sinal, a tua A l ^ não saberá
‘‘vacilar ( 1 ). ” '

Mais. Ouve os chefes do combate interior.


Consumados na arte da gu erra espiritual, chamada
ascetismo,. os grandes genios e os grandes Santos não têm
mais que uma voz todos eles, para recomendar aos solda­
dos Ciistãos o uso do Sinal da Cruz.

“ Sentes inflamar-se teu coração? diz S. João


“ Crisostomo, fa ze o Sinal da Cruz sôbre o peito

(1) Fac, cum vocante somno


Castum pedis cubile,
Frontem locumque cordis
Crucis Figura signet.
Cruz pellet omne crimen,
Fugiunt crucem tenebrae.
Tali dicata signo
Mens íluctuare nescit. (Aput. S. Creg. Turoil., lib., I Miracul.,
c. 106.)
“ e logo a colera se dissipará à maneira do fumo-
“ (1 ).”

E Sto. Agostinho:

“ A ^ l e c h , vosso mimigo, tenta tomar-vos o ca-


“ minho e impedir-vos de avançar?
“ Faze o Sinal da Cruz e ele será vencido ( 2 ) . ”
Marcos, o grande servo de Deus que predisse ao Im ­
perador ^^ão a hora de sua morte, diz :

“ Conheci por experiência que o Sinal da Cruz


“ abate as desordens interiores e promove a saú-
“ de da Alma.. ,
“ A graça opera logo; depois do Sinal da Cruz
“ tudo se m itiga, assim a carne como o coração
“ (3 ) .”

S. Maximo de T u rim :

— “ E ' do Sinai da Cruz que devemos esperar a


“ cura de nossas feridas.
“ Se o veneno da avareza penetra em nossas
“ veias, façamos o Sinal da Cruz e ele será ex-
“ pulso.
“ Se o escorpião da voluptuosidade nos pica, re-
“ corramos ao mesmo meio e seremos curados.

(1) Si siccendi cor tuum senseris, pectus continuo Signaculo Cru­


cis signato, et ira illico tanquam pulvis dissipabitur (Im Math.,
Homil. 88.)
(2) Si adversarius Amalecita Iter intercludere atque impedire
conabitur, pro reverentíssima extentione crachio^rum ejusdem
Crucis indicio superatur. (Lib. I. Homil., Homil. 20.)
(3) Statím post. Signum Crucis gratia sic operatur: sed otnnia,
membra pariter et cor. (Bibliothã P.P., t. V.)
‘ Se grosseiros pensamentos terrestres tentam
“Manchar-nos, façamos ainda o Sinal da Cruz e
‘ nossa vida s.erá santa ( 1 ) . ”

S. Bernardo:

— “ Qual é o Homem tão senhor de seus pensa-


“ mentos que não tenha alguns impuros?
“ E ’ necessário reprim ir imediatamente os ata-
“ ques do inimigo para vence-lo onde ele espera
“ triunfar.
“ Qual o meio infalivel de consegui-lo? — Fazer
“ o Sinal da Cruz ( 2 ) . ”

S. Pedro Damião:

“ Se sentirdes que em vosso espírito surge um


“ mau pensamento, faze^i logo, com o- polegar, o
“ Sinal da Cruz, na certeza de que desaparecerá
“ tal pensamento ( 3 ) . "

O piedoso Ecberto:
— “ Nada mais eficaz que o Sinal da Cruz para
“ dissipar as tentações, ainda a mais vergonho-
“ sa ( 4 ) . ”

Resumindo todos estes testemunhos:


— “ Qualquer que seja a tentação, conclue S'.

(1) Apud. S. Ambr. ser. 55.


(2) De passion Dom.. c. XIX, n. 65.
(3) Cum pravam tibimet cogitationem esse percuseris, extento
pollice protinus cor tuum signare festines, certus, etc. (Instit.
monast.)
(4) Signo Crucis nihil efficacius ad effugendas tentationes. (Lib.
viar. Domin., c. XXI. )
“ G regorio de Tours, é necessário repeli-la.
“ Para isto fazei com coragem (>)não com tihieza,
“ o Sinal da Cruz sobre a fronte ou sobre o peito
“ (1 ).” ..

Se fosse predso, mil fatos podiam confirm ar o que


ouviste.
Bastará um só.
E ' a revelação com que fo i favorecido um santo Re­
ligioso chamado Patroclo, mediante a qual Deus fez ver
o poder soberano elo Sinal da Cruz contra as tentações.
Transformado em A n j o de Luz, o demonio apareceu
um dia ao venerável Abade e, com palavras repassadas
de astúcia, começou a aconselha-lo, que deixasse a soli­
dão e voltasse ao mundo.
Sentindo correr-lhe nas veias. um fog o pestilencial,
o Homem de Deus prostrou-se em oração e pediu ao Se­
nhor lhe fizesse cumprir o que fosse da D ivina Vontade.
A suplica fo i ouvida.
Aparece-lhe então um A n jo do Senhor e lhe diz:
“ Sobe a esta coluna e venás o que o mundo é.”
O piedoso solitário vê diante de si uma coluna de pro­
digiosa altura e sobe-lhe ao seu vertice.
De lá desoortina um pedaço do mundO' e vê — homi­
cídios, roubos, carnificinas, desonestidades. e os maiores
crimes pratioáveis sobre a terra.
Horrorizado exclama ele:
— “ A h Senhor! Não permitais que eu volte ao
“ meio de tantos crimes^! .. : “ —

(1) Viriliter et non tepide Signum, vel fronti, vel pectori salu-
tare superponas. (Ubi. supra.)
IDntão o A n jo lhe d iz:

— “ Deixa-te de pensar em voltar ao mundo; se-


“ n.ão, irás com. ele.
“ E ’ melhor que vás para teu o rató rio ..
“ Pede ao Senhor mercê de uma ^arma com que
“ te defendas no meio das provações de tua pe-
“ regrinação.”

Ele assim fe z e achou um tijo lo onde estava escul-


turado o Sinal da Cruz.
Compreendeu o dom de Deus e conheceu que este S i­
nal era uma fortaleza inexpugnável contra as tentações
(1 ).”

N a guerra ou na paz, o Homem durante a vida é


um M ártir.
E quem é ele na morte?
Vês este doente cercado de dores, abandonado de to­
dos, ou rodeado de parentes e amigos sem força para v a ­
ler-lhe?
Detrás dele o tempo que foge e: à sua fren te a eterni­
dade que avança.
Sim ; a eternidade em que ele vai cair sem que ne­
nhuma força humana possa retardar-lhe o momento da
partida ou adoçar as angustias da. viagem ! . . .

(1) Greg, Turon, vit. part. c. IX.


Este doente, meu .caro amigo, és tui, sou eu, é todo o
Homem, rico ou pobre, subdito ou Monarca.
Se durante os combates da vida carecemos de luz, de
força de consolação e de esperança, não teremos nós de
tudo isto uma necessidade mil vezes m aior nas lutas deci­
sivas da morte
Pois bem !
O Sinal da Cruz é tudo isto para todos nós.
Debaixo deste aspecto fo i ele caro a noesos maiores e
deve ser tambem a nós muito querido.
A maneira dos M ártires que ao caminhar ao último
combate não deixavam de se fortalecer pelo Sinal da Cruz,
os verdadeiros Cristãos dos séculos paesados recorriam
sempre ao D ivino Sinal para adoçar as' dores e santificar
sua morte.
Citamos alguns exemplos-
S. Gregório de Nissa falando de Santa Macrina, sua
prezada irm ã a quem ele mesmo assistiu nos últimos mo­
mentos, assim se exprim e:

“E la dizia: — Senhor, para afugentar o mimi-


"go e proteger a vida tendes dado aos que Vos
“temem, o Sinal da Cruz. —

Pronunciando estas palavras, ela fa zia o adorável S i­


nal sobre oa olhos, nos lábios e sobre o coração ( 1) . "
Do i^não de Santa Macrina o ilustre chará S. Gre-
gorio de Nasianzo, desafiando o demonio, dizia:

(1) — Tu ad hostis permeiem et vitae nostrae securitatem de-


distí signum metuentibus te, notam sanctaé Crucis aeterne
Deus. Haec dicens oculis, et ori, et cordi, Crucis signum
opposuit. (Vit. S. Marc.)
“ Se no momento.da minha morte ousares me ate-
“ car, eu te hei de por em vergonhosa fuga — fa-
“ zendo o Sinal da Cruz ( 1) . ”

Proxim os à morte, em vez de o fazer com. a mão, os


primeiros Cristãos faziam esse Sinal estendendo os braços.
A isto é que êles chamavam sacrifício da tarde.

— “ ^ zerificiu m vespertinum.

A este modo de fazer o Sinal da Cruz nos últimos


momentos., aplica Arnobio as palavras. do salmista:

— “ A elevação de minhas mõos é. meu sacri/i-C'io


“ da tarde.”
“ Toda a nossa atenção deve ser posta em levan-
“ tar as mãos em Cruz para nos alegrarmos no
“ Salvador Jesus, no mo^^nto em que vamos pa-
“ ra Ele ( 2 ) . "

Foi nessa atitude que morreu o eremita S. Paulo,


Patriarca do deserto.
E assim por S. Antão fo i encontrado, já morto (3 ) . "
Com S. Pacomio- deu-se o mesmo.

— “ Na proximidade da morte, diz o autor de sua


“ vida, armou-se do Sinal da Cruz..

(1) — Car. 22. ■


(2) — Tunc enim in sacrificio vespertino sumus. Ibi est tota-
nostrn nostrae cogitationis ponenda intentio, ut levantes-
manus nostras, in Signo Crucis dum ad Dominum ' pergi-
mus, gratulemur in Cristo Jesu. (In. Ps. 140.)
<3) — Introgressus speluncam, vidit genibus complicatis, erecta
cervice extensisque in altum manibus, corpus exanime. (S..
Hier., de vit. S. Paul.)
“ E vendo um A n jo de Luz se aproxim ar entre-
“ gou santamente a Alm a a Deus ( 1 ). ’’

S. Ambrosio mon*oo do mesmo modo.

— “ N o último dia de vida., escreve dele o Padre


“ Paulino, desde as onze horas mais ou menos até
“ ao momento em que morreu, orou e — de mãos
“ estendidas em Cruz (2 ) . "

Passemos de M ilão a Constantinopla.


Eis um outro Bispo que va i morrer.
Diz o h iográfo: —

“ Santo Eutiquio foi atacado de febre violente


“ la por volta da meia noite.
“ Dur^:nte os 7 dias que durou tal estado, não
“ deixou de orar e de se fo rtific a r pelo Sinal da
“ Cruz ( 3 ) . ”

Acabe-se na França a nossa viagem.


Vamos assistir a m orte de alguns de nossos Reis.
Paremos um instante em Aix-la-ehapelle para assis­
tirmos à m orte do grande Imperador.
“ N o dia seguinte, diz um Bispo testemunha
“ ocular, logo ao amanhecer, Carlos-Magno es-
“ tando bem consciente do que devia fazer, esten-

(1) Vida de S. Pacomio, c. LIII.


(2) Eodem tempore quo migravit ad Dominum, ab hora circiter
undecima diei, usque ad illam horam qua emisit spiritum,
' expansis manibus in modum. oravit. (Paul., in vit S. ^mb.)
(3) Vehementi íebre crica mediam noctem correptus est: atque
ita mansit septem dies, assidue precibus incumbens, seque
Signo Crucis muniens. (Apud. Sur. 2 de Julho.)
“deu a mão direita, e, em quanto pôde, fe z o Si-
“nal da Cruz na fronte, no peito e no restante do
‘ corpo ( 1 ) . ”

A.ssim devia m orrer grande Monarca.


Eis seu filho, L u iz o piedoso.

“ Depois de ordenar os negocios e fazer suas re-


“ comendaçõès, mandou recitar perto de si a Ora-
“ ç.ão da noite e colocar sobre o peito uma reliquia
“ do S'anto Lenho.
"D urante este tempo ele mesmo, enquanto teve
“ forças, fazia o Sinal da Cruz sobre a fronte e
“ sobre o coração.
“ E quando estava fatigado pedia a seu i^rmão
“ que continuasse ( 2 ) . ”
“ Nos últimos dias de sua vida, não cessava de
“ chamar em seru auxilio, por gestos e palavras,
“ os Santos do Paraiso.
“ Fortatecia-se continuamente com o Sinal da
“ Cruz, feito sôbre a fronte, s<>bre olhos, nariz,
“ lábios, pescoço e ouvidos.
“ Fazia-os invocando o Divino Espirito Santo e
‘•em memoria da Encarnação, Nascimento, Pai-

(1) In crasdinum vero luce adveniente, sciens quod facturus erat,


extensa manu dextera, vlrtute, qua poterat, signum sanctae
Crucis íronti impressit, et super pectus et omne corpus con-
signavit. (Thegan., De gestis Ludov. Imper.)
(2) His peractis ct dictis, praecepit ut ante se celebrarentur-
vigiliae nocturne, et signo sanctae Crucis pectus muniretur;
et quam diu valebat, manu propria tam frontem quam pectus
eodem signaculo insignibat. Si quando lassabatur, per manus
íratis suí mihi id fieri porcebat. (Apud Gretzer; Lib. IV,
c. XXVI, p. 618.) '
“ xão, Morte, ■Ressurreição e Ascensão de Nosso
“ Senhor Jesus Cristo.
“ T al havia eldo o habito deste Príncipe em toda
“ a sua vida, que, por sua vontade, nunca esteve
“ sem água benta para se persignar ( 1) . ’’
Citemos ainda Luiz, o gordo.
“ Vendo-se nas proximidades da morte, mandou
“ estender um tapete no chão e sobre ele espalhar
“ cinzas em fon n a de Cruz.
“ Colocado por seus oficiais sobre este leito, que
“ recordava o do D ivin o Rei do CaI^vlá.rio, não ces-
“ sou o virtuoso Monarca de fa zer o Sinal da Cruz
“ ate exalar o último suspiro (2 ). ’’

Será desdouro a um Rei m orrer como morreu um


Deus?
h^ão.
O que desdoura é morrer. sem_ compreender, a m orte;
m orrer esquecido da Alm a como se estivesse no ról dos
brutos ; m orrer sem R eligião; m orrer sem luz nem Cruz.
V iste os Mártires. Receiosos de não poderem fazer o
Sinal da Cruz antes de m orrer, pediam aos Cristãos, ir-

<1) Dei sanctis in auxilium suum venire, V'oce, signis, indesi-


nenter orabat, muniens se semper W. fronte et oculis, naribus
et labils, gutture et auribus, per Signum Sanctae Crncls,
memoria Dominicae Incarnationis, Nativitatis, Passlonis, Resu-
memoria Dominicae Incarnationis, Nativitatis, Passionis, Resur-
. rexionis, et Ascenslonis, et Spiritus SanctL Habuit hoc ex
more in vita; cui nunquam defuit volutate acqua benedicta.
(Helgald.. in. Epitom. vit. Robert.)
(2) Gretrer, p. 617.
mão;.; na Fé, lh’o fizessem. Pois, nossos avós faziam o
mesmo.
Além do exemplo de Luiz-Ie-Débonnaire, que acabas
de lei^, vou referir-te alguns outros.
Passados ainda nos prim eiros séculos, mostram eles
a perpetuidade da Tradição.

“ S. Zenobio, o amigo intimo de S'. Ambrosio,


“ próximo a term inar a vida excelente por uma
“ preciosa morte, levantou a mão e fez. o Sinal da
“ Cruz sobre as pessoas que o cercavam.
“ Depois pediu aos Bispos, que, sobre ele, com
“ suas Mãos Sagradas, fizessem o Sinal da for-
“ ça, da Esperança e da Salvação ( 1 ) . ”

Do catre de um Padre vamos para junto da cama de


um simples fiél.
Eis uma filh a dedicada, que aasiste a sua terna e ilus-
tre-:Miãe.
H oje a m aior parte das pessoas contentam-se em
dar a seus mais caros doentes., os cuidados materiais.
Fariam' escrupulo em fa lta r à s ‘ mais pequenas pres­
crições do Médico.

— E a a,.■fsis.têwcia Cristã? •
E as prescrições do D ivino Médico?
E a graça. dos Sacramtentos M- Ig re ja , nossa. Mãe?
Que cuida-do ha em s^atütfazer a. deveres tão im,periosoLS
como Sagrados?

(1) Elevata aliquantulum manu omnes benedixit, rogacitque ads-


tantes episcopos, ut sanctissimis suis manibus eum Crucís
Signo co^munirent. (Apud Sur. 25 de Maio.)
Aos esmerados cuidados, nossos a.vót;, mais in­
teligentes e melhores do que nós, juníapa-m os remédios
espirií^^is; os cuidados da A l ^ ; os meios da Salvação
E tern a----

Em Belém, Santa Paula, a ilustre filh a de Fabio, es­


tá para morrer. „
Junto a seu leito vemos Santo Eustoquia, digna filh a
de semelhante Mãe.
Que fa^ este A n jo de ternura?

“ Não cessa, diz S. Jeronimo, de fazer o Sinal da


“ Cruz sobre os lábios e coração da sua Mãe, es-
“ forçando-se por adoçar-lhe o sofrimento com
“ impressão e virtude do Sinal Consolador (1 ) •”

Acabas de v e r que na vid a e na morte — o Sinal da


Cruz era o meio constantemente empregado por nossos
avós a fim de obter, tanto para si como para os outros
abundancias de — luz, força, resignação, coragem, espe­
rança.
O Sinal da Cruz é, sem dúvida, uma grande coisa.
P o r isso é que conf razão excl^ama. uma testemunha de
seus maravilhosos efeitos:

“ M agna res Signum C )^ d s ( 2 ) . ”

Amanhã, se Deus quiser veremos a eficácia do Sinal


da Cruz, em uma nova ordem de coisas.
Adeus.

(1) Eustochium Paulae matris os stomachumque signabat, et ma-


tris dolorem Crucis impressione nitebatur linere. (In Epitaph.
Paulae.)
(2) S. Elig., De rectitud cathech., etc., Inter op. S. Aug., t. VI.
D E C IM A T E R C E IR A CARTA

Paris, 8 de Dezembro de 1862'.

Sumario:
— I. O Sinal da Cruz na ordem temporal. —
2. Do vista aos cégos, ouvido aos SUT-
dos. — 3. Dõ a fala aos mudos. — 4.
Dá uso dos membros aos coxos e para­
líticos. — 5. Cura fébres e outras mo­
léstias. — 6. Limpa os leprosos e tira o
câncer. — 7. Trás -d vida os próprios
mortos. — 8. Conclusão.

Caro Am igo,

Bom dia.
Mendigo na ordem espiritual, o Homem não é me­
nos indigente na temporal.
Nosso corpo e noSISa A lm a vivem senão de es­
molas.
Entre os bens necessários ao Corpo, ha dois em par­
ticular, meu caro amigo, que eu quero .de especial maneira
notar-te.
São eles — a saúde e a segurança.
Um e outro, o Sinal da Cruz no-lo alcança.
A sGÚde.
O Verbo Eterno é a vida vivente e vivificante.
Falando do' Verbo quando conversava com os Ho­
mens, oferece o Evangelho {ls seguintes expressões, tão
simples como sublimes: — D ’E le precedia uma virtude
que curava todas as molestias.

‘ V íríus de Illo exibat, et s^m bat omnes.”

A história diz-nos, que em toda a sua extensão isto


se aplica tambem ao' Sinal da Cruz.
Os primeiros Cristãos serviam-se do Sinal da Cruz
para a cura das molestias.
Nada ha mais; certo do que isto.
S- Cirilo e S. João Crisostomo — um P atriarca de Je­
rusalem e outro de Constantinopla — afirm am positiva­
mente que o Sinal da Cruz continuava no tempo deles co­
mo no de nossos maiores, a curar molestias e mordeduras
de animais fe^rozes (1 ).

Vamos às provas.
Todos 'ls sentidos do Homem são sujeitos a doenças.
Começaremos pela vista, que é o mais nobre.
Se em vez de se cansar sobre os autores pagãos a
nossa mocidade estudasse algumas vezes os atos dos M ár­
tires teria visto nos, de S. Lourenço o brilhante milagre
que até hoje a Ig reja ^ t a .

(1) Hoc signum ad hodiernum dicm curat morbos. <Catech.,


XIII; S. Chrys., In Math., Hom. 54.)
"Q u i per Signum Crucis ooecos iUuminavi.t” .

O ilustre Arcediago de Roma . ha\ia ..entrado na casa


de um Cristão.
Achava-se lá o cego Crescencio., que, debulhado em
lagrimas, se lançou aos joelhos do^ Santo e Ihe. disse:

— “ Ponde vossa mão sobre ■meus olhos pa.ra que


‘ eu vos v e ja ” .

O bem-aventurado Lourenço, profundamente como­


vido, lhe d iz:

— “ Dê-vos a luz Nosso Senhor Jesus Cristo qut-


“ abriu os olhos ao cego de nascimento.” —

Fez ao mesmo tempo o Sinal da Cruz robre os olhos


de Crescencio que logo viu o d ia e o ^^^-aventurado Lou-
renço (1 ).

De sua própria ^^ão diz o sábio Teodureto:

“ }lin h a liã e tinha num dos olhos uma doença.


“ H avia esgotado já todos os recursos da medici-
“ na, sem resultado.
“ Tinham-se folheado todos os autores, novos e
“ velhos, e nenhum dava remédio para o mal pre-
“ sente.
“ Estava eu com ela quando amiga a visitava.
“ Falou-nos de um Homem de Deus chamado Pe-
“ dro, e nos disse:

(1) Apud. Sur,, 10 sug,


— “ A mulher do Governador do oriente sofria
‘‘ da mesma. moléstia e dirigindo-se a Pedro que
“ era de .Pergamo, ele a curou orando por ela e
“ fazendo-lhe o Sinal da Cruz. —
“ Minha Mãe não perde um momento.
“ V ai procurar o Homem de Deus, prostra-se aos
“ pés e pede-lhe que a cure.
— “ Eu não sou senão um pobre ^ ^ i d o r ; estou
‘ ‘mui longe de te r junto a Deus a virtude que
“ supondes^
“ Minha Mãe, chorando cada vez mais, repetiu as
“ suplicas, protestando não o deixar sem que es-
“ tivesse curada.
— “ Deus é que o Médico de semelhantes males
“ (1 ).
“ E le ouve todos os que têm Fé e de c^erto vos ou-
“ virá, não por meus merecimentos, por causa
‘ ‘ de v^sa- Fé.
‘‘ Portanto, se tendes Fé sincera, verdadeira, pu-
“ ra e sem hesitações, ponde de parte os médicos
“ e seus medicamentos e aceitai o remédio que
“ Deus vos dá. —
“ A estas palavras estende a mão sóbre o olho
“ doente, fa z o Sinal da Cruz e a molestia desa-
“ parece (2 ).

(1) O santo raciocinava como Ambros^o Paré, o pai da. c^irurgia


f^nceza — Eu o tratarei e Deus que o cure.
(2) Hoec cum dixiset, manum impossuit oculo, et salutaris Cru-
eis Bigno facto, morbum .expuUt. (Hist., S. S. Patr. in Petro.)
Fatos ^ a is próximos de nós m^ostrar-te que,
atravessando os séculos, o Sinal dà Cruz nunca deixou de
ser o melhor oculista.
Santo Eloi, Bispo de Noyon, ao passar uma das pon­
tes de Paris, curou um. cego que em vez de esmola lhe pe­
diu fizesse o Sinal da Cruz. sobre seus olhos (1 ).
Outro m ilagre temos na vida de S. Froberto, Abade
de ^ M orteiro perto de Troyes, em Champ^me.
E ra ele ainda creança quando um dia sua :Mãe, cega
havia já muitos anos, o asentou em seus joelhos e no
meio de abraços e caricias lhe ordenou fizesse o Sinal da
Cruz sObre seus olhos.
O santo menino obedecendo às ordena de sua Mãe, in­
vocou o Nom e do Senhor, fe z o Siual da Cruz e logo ela
recobrou a vista. (2 )
Na: v id a de S. B e ^ a rd o , cita M ab ilon mais de trinta
cégos, que foram curados por meio do Sinal da Cruz f e i­
to sobre eles pelo T a^ n atu rgo de ^Claraval (3 ) .

Do ^ n tid o da vista, pa^em^os aos outros sentidos.


Como o próprio Jesus Cristo, o Sinal da Cruz fa z que
os surdos oiçam e os mudos falem.
E m plena Roma do século IV , no palácio do
to, diante de nós está um jovem e brilhante Oficial.
E ' Sebastião.

(1) Vida do santo, por S. Ouem, Bispo de Rouen, c. ^^IN.


(2) Sua vida a 31 de Dezembro.
(3) T. II. ,
E ste nome nem se pronuncia. mais nos colégios.
Dirás, pois a teus condiscípulos que S. Sebastião era
Comandante da prim eira corte pretoriana, no reinado de-
Diocleciano.
E m linguagem moderna quer dizer que era Coronel
de ^ ^ ^ im e n to d& Guarda
Dotado de uma el()(luência igual ao seu valor, apro--
veitava de am'bos estes dons de ^Deus para a ^ ^ a r os
M ártires que eram todos os dias conduzidos ao ^Pretério.
Um dia a mulher do P refe ito teve a^ felicidade de as­
sistir a um daqueles disc^ses.
Ficou tão vivam ente impressionada que sei lançou aos-
pés do Santo, procurando fazer-lhe entender par gestos,
que desejava ser curada.
Havia. seis anos que Zoé estaya muda.
Conquanto ela fosse pagã, Sebastião fez-lhe na boca.
um Sinal da Cruz e lhe restituiu imediatamente a fala. O' .
prim eiro uso que fe z da palavra fo i o Batismo (1 ).
Podes ainda dizer a teus companheiros que fo i tam-
bem com o Sinal da ^ r o z que S. Bernardo curou grande'
número de surdos e de mudos.
Em Cologne, uma moça surda ha muitos anos.
E m Bourlémont, um rapaz surdo e mudo de nasci­
mento.
Em Bale um surdo.
Em M etz outro, à vista de muita gente.
Em Constance S pira e M ^ e fric h t, varios su:rdos--
mudos.

(1) Act. de S. Sebart.


Em Trotes, uma moça coxa muda, na presença dos
Bispos de Langres e de Troyes.
E finalm ente em Claraval ^ a jovem de 15 anos,
sítrcfu,.muda. (1 ).
Estatva o Abade de Claraval em Spira, operando mui­
tas curas milagrosas, quando lá chegou Anselmo, Bispo
de Havelsperg.
Andava este Prelado por tal modo sofrendo da gar­
ganta. que d ifici^ tón te podia en golir ou falar.

— “ Se vós tivesseis Fé como as. bôas mulheres,


“ disse-lhe sorrindo o Santo Abade, talvez pudes-
“ se como a elas presta.r-;:Voa algum serviço” .
— “ Se minha F é não basta, replicou o Bispo,
“ que valha a v o s s a pata m e curar.”

São B e ^ ^ rd o o ^tocou fazendo-lhe o Sinal da Cruz sô­


bre a garganta e logo d ô r e in c ^ ^ ã o desapareceram (2 ).

Ocupando-nos o corpo todo, o tacto é o sentido que


maior .superfície oferece aos ataques das d^mças.
Mais ou menos dolorosos, como enumerar os males a
que ele está exposto? ,
Contudo é censola.dor pensar que nenhum deles re
­
siste à virtude salutar do S'inal da Cruz.

(1) MabUlon, ob supra.


(2) Signavit eum Pater. .. et continua dolor omnisque tumor
absce^it. (Vit, lib. VI, c. V, n. i9.)
Em sua fo rç a vê-se Aijuele que curava todas as mo­
léstias entre o povo. ’

omnem lenguerem et omnem ?:nfirmi-


tatem (1 ) •"

Um dos Bispos mais ilustres e amáveis que gover­


naram' a Diocese de Paris, é S. Germano-
Um dia fo i vi& tar Ri Santo Hilário, Bispo de Poitieis.
Em caminho, dois h o ^ n s com grande dificuldade
apresenta^ram-lhe u ^ mulher muda e coxa.
Logo que o Santo lhe aplicou o Sinal da Cruz, ficou
boa.
Três dias depois, fo i agradecer a seu benfeitor o uso
da palavra e da& pernas (2)^
P o r Sto. Entimio, o grande arquimandrita da Pa^*
lestina, ^ m o s um outro milagre. '
Terebon, era filho do governador dos S ^ a c e n o s na
Arábia.
Desde muito dequeno v ivia paralítico de meio corpo.
Ouvindo fa la r do Sante Abade, fez-se conduzir' à pre­
sença dele.
Acompanhou-o o seu. pai com grande número de bár­
baros. Fez or, Santo sôbre ele o S in al da Cruz e a cura fo i
imediata. A este facto, seguiu-se m ilagre m aior — a con­
versão de toda aquela gen te (3 ).
S. Vicente F errer estando em Nantes apresentaram-
lhe um homem paralítico, havia já dezoito anos.

(1) Matt 4 — 23.


(2) Ut lilgnum Sanctae Crucis expressit, coni'ertim omnis vigor
per membra diffunditur. (Vita c. XLVI.)
(3) Fleury, Hist., eccl., lib. XXIV, n. 28.)
— “ N ão tenho nem ouro nem prata, diz o San-
“ to ao doente, mas vou pedir a Nosso ^^Senhor vos^
“ dê saúde para o c o ^ ^ e para a Alma. —

Em seguida fez o Sinal da Cruz s.ôbre seus m-embros


e logo o paralítico sente-se curado, levanta-se dá graças
a Ik u s e ao Santo.
V olta para casa e nunca. mais oofre do antigo mal
(1 ).
Tal é às vezes a violência da. dor, que, influindo sô--
bre o cérebro, p riva o Homem' da razão e da saúde.
O Sinal da Cruz corte a moléstia ainda nesta horrí­
vel manifestação.
Edmer, historiador de Sto. Anselmo, Arcebispo de-
Canturbery, .refere, que ^este Santo Homem, indo a. Cluny,
curou, pelo Sinal da Cruz, a uma mulher que estava doi­
da e furiosa (2 ).
Em Sechingem S. Bernardo fe z o mesmo.
Em Colonia, certa vez, tambem apresentaram-ibe
uma mulher fre^nética.
Endoidecera com a m orte de seu marido.
A in feliz usaNa de suas força,s. até contra si mesma;
por isso era preciso tê-la amarrada.
A o vê-la o Santo ficou muito compadecido e
Ihe O' Sinal da Cruz.
Ficou logo sossegada e voltou-lhe 0: uso da r^azão (3 ).

(1) Mox multa ejus membra Cruce consignat, et ille se sentit


lncolumis. (Vit., lib. IV.)
(2) Vit. S. Anselm. lib. IL
(3) Mabilon, ubi supra, lib. IV, c. IV, n. 33.
5

O Verbo Redentor que, segundo o Evangelho, tantas


vezes curara febres as; mais rebeldes, ao Sinal da Cruz
comunicou ^ m b em a virtude de operar o mesmo pro­
dígio.
S. P rix, Bispo de Clermont em Aurvergne, vindo ao
Mosteird de Daronge, nos Vosges, ^ h o u ao Abade Am a-
rin o tão a^tacado de uma febre maligna que não podia an­
dar nem tom ar senão alguma pouca de .água.
O Santo Bispo recorreu à sua. arma ordi^nária.
Fez o Sinal da Cruz sôbre o doente e ele se levantou
perfeitam ente curado (1 ) .
Igu al virtude tem este Sinal a respeito da epilepsia,
moléstia mais gra ve e dificil de curar do que a fé-
bre.
N a vida de S. Malaquias, Arcebispo de Arm agh, que
morreu em Claraval, diz S. Bernardo:

“ Antes de p artir prara Rom a a fim de receber o


“ PaJium das mãos do Papa Eugenio III , o San-
“ to Arcebispo deu saúde a um epilético, fazen-
“ do o Sinal da C ruz sObre o peito deste infeliz
“ que da moléstia era a^bado muitas vezes ao
.‘‘ dia.”

O mesmo S. Bernardo operou igUJal m ilagre n u ^ a


moça de Troues, em ^ ^ m p agu e.

( 1) Cum vexillum crucis super aegrum fecisset, protimus, fugata


:febre, sanatus aeger surexit. (Vid. dos S. S., 25 de Janeiro.)
T al havia sido a força da moléstia que deixara a po­
bre eem o uso da fala,
O Santo Abade impondo-lhe as fe z o Sinal da
Cruz.
Logo em presença dos assistentes, ela começou a fa ­
lar, cheia de saúde (1 ).
Segundo o seu exemplo c^iirai os leprosos, disse Jesus
Cristo.
Seus discípulos a t e n d e r a a estas palavras, cuja v ir­
tude divina passou ao Sinal da. Cruz.
O nome e a fam a da S. ^Francisco X a v ier .enchiam as
Indias.
Chegou isto aos ouvidos de um' leproso que, há m ui-,
tos anos, em vão procurava curar-se.
N ão se atrevendo a aparecer .em público, pediu ao
Santo o fosse ver.
X a v ie r, muito ocupado, não pôde ^aceder aos desejos
deste homem.
Enviou-lhe porem um de seus companheiros com re­
com endado de perguntar três vezes ao doente, — se
acreditava no Evangelho. — condição necessária para ser
curado.
Se prometesse abraçar a Fé, devia o enviado fazer
três vezes sobre o enferm o o Sinal da Cruz.
Como X a v ier tinha ordenado, tudo fo i feito. E ape­
nas o leproso, recebeu o Sinal da CrúZl toruou-se-lhe o cor­
po limpo como se nunca tivera semelhante moléstia (2 ').

(1) Signavit eam statimque locuta est. (Mabilon, ubi supra, c.


^ ^ , n. 47.)
(2) Vida lib. V, p. 349.
Antes de i r mais longe, meu ju lg o dever
colocar aqui nota. de S. Crisóstomo sobre a cura das
moléstias ou desvio de acidentes e fla gelo s:

‘ Se apesar de sua virtude, o Sinal da Cruz, aín^


“ da que feito em condições convenientes, nem
“ sempre livra das moléstias, acidentes e flage-
“ los, não é porque lhe fa lte para isso a força,
“ mas porque a nós é útil o passar p or aquelas
"provações ( 1 ) . ”

Ha outra moléstia não menos cruel que a lepra e do


que ela mais. frequente.
E ' o cancro.
Como as outras enfermidades humanas, ele não re ­
siste ao Sinal da Cruz.
Atende este facto referid o por Sto. Agostinho, tes­
temunha ^ l a r .
^ m Cartago, diz ele, v iv ia D.* Inocência, senhora mui
piedosa e das ^ i s ilustres fam ílias ida cidade.
Tinha. no peito um cancro, terrível moléstia que os
médicos julgam incurável.
P a ra aliviar OIS doentes, é necessário continuamente
em pregar unguentos ou extraí-lo até as raizes.
Ora, segundo Hipóerates, moléstia evidentemente
mo^rtal é inútil ob rigar o doente a sofrimentos.

(1) Morbis imporans terriblle esã hoc Nomen, et si non abigerlt


morbum, non hine ezi -quod infirm ^ sit hoc Nomen, sed
quod utilis ezi morbus. (Ad. CoUes., II.)
A m igo íntimo da f^amília, ■o .Médico nada lhe havia
ocultado.
Inocencia, esperando só de Deus o remédio, para Ele
se havia voltado pela ora,ção.
Uma noite, na proximidade da.; Páscoa, f o i avisada
■em sonho que fo^se para o Batistério, onde se esperavam
os ca^tecúmenos e que prostrada ao. lado das mulheres, pe­
disse à. prim eira n eófita que lhe fizesse o S^inal da Cruz
sobre a parte doente. ';
Vendo-a cO 'lp^tam ente restalecida, o Médico inda-
. gou com ansledadel .qual remédio havia-a curado. '
E D.“ InocenciaJ contou-lhe o que s e h a v ia passado.
Então, com ar indiferente, o, Médico lhe respondeu :

— “ Esperava me dis&esseis alg^uma cousa ex-


‘‘ traordiná:ria.
“ Não a ^ u lra nada que Jesus Cristo curasse um
“ cancro.
“ P ois ressuscitou um. m orto de quatro dias. Nun-
“ ca houve m ilagre melhor atestado.
“ Dele- fo i testemunha uma cidade inteira ( 1) l”

Para. tira r ao Homem a saúde e a 'v id a , à s moléstias


naturais, acrescem às vezes os- ataques dos animais ferozes
ou venenosos.
P a ra isso o remédio está ainda no. Sinal da Cruz.
São ^Thalaso Anacoreta, escreve ; Tcodureto, viajando
■de noite, pisou u.Ina víbora.

(1) Quid grande íuit Christus sanare cancerum, qui quatridua-


n ^ mortuum suscitavit? (De civ. -Dei, lib. XXn, c. VIII.)
O reptil enraivecido •mordeu-o na plante do pé.
Acudindo o Santo com a mão direita, é nela mordido
também.
Indo a socorrer-se eom a esquerda, o mesmo lhe acon­
tece.
Só depois de haver saciado sua. raiva com mais de
dez mordeduras é que a serpente correu à sua cova, dei­
xando a vítim a em dores horr:iveis.
Nesta como em outras conjunturas o Servo de Deus
não recorreu à medicina.
Para curar suas feridas quis empregar remédios da
F é : — o Sinal da Cruz,. a Oração e a invocação do Norne
do Senhor (1 ).

Senhor da vida, Jesus Cristo é ^ m b ém o Senhor^ da


morte.
m no Sinal da Cruz existe este domínio soberano.
Eis o que se. lê na v id a de S. Domingos;.
P regava um dia o Santo na antiga Ig r e ja de S. M ar­
cos, em Roma.
E ntre seus ouvintes estava uma Senhora romana
chamada Gu^ndonã.
Grande admiração tinha ela por este servo de Deus.
Deixou doente um de seus filhos e fo i ouvir-lhe o
sermão.

(1) Sed neque tunc, passus est uti arte medica, sed vulneribus
adhibust sola medicamenta, Crucisque signaclifum et oratio­
nem et Dei invocationem. (In Thalass.)
A o volta.r em casa encontrou-o morto.
Acompanhada de suas creadas, leva o cadáver a S.
Domingos.
Encontrou-o à porta do Convento de S. Xisto.
Coloca o corpo do filh o aos pés do Santo e, desfazendo-
se em' lágrimas, pede-lhe que o restitua à vida.
Tomado de compaixão, o Servo de Deus pôs-se de
joelhos.
Depois de b reve oração, f a z sobre o morto o Sinal da
Cruz, toma-o pela. mão e o levanta cheio de vida.
A o enti*egá-lo à Mãe, recomenda silêncio absoluto so­
bre o facto.
O . milagre, porem, chegou logo ao conhecimento de
toda a cidade (1 ).
Dois séculos antes temos João •Gualberto.
Este nobre e santo m ilita r numa Sexta-feira Santa
perdoou ao assassino de seu i^rmão.
Deus o recompensou com a Vocação- Religiosa e com
o dom dos milagres.
Contra o demonio serve-s.e ele do Sinal da Cruz conto
de ^ a espada. '
Furioso por numerosas derrotas, Sata.nás arma seus
agentes.
Uma noite atacam o Mosteiro. ,
Incêndio na. Ig re ja no edifício e muitos religio­
sos já mo^rtos.
Acudindo logo ao l ^ l faz o Santo o Sinal da
Cruz e com e1e dá aos mortos vida c saúde (2 ).

(1) Vida do Santo, livro 11, c. 111.


(2) Vêde a sua vida.
8.

Como vês, meu caro Frederico, dei-me por contente,


citando de moléstia uma ou duas curas.
Bastariam de sobejo p ara enormes volumes.
S'. João Crisóstomo, S. Cirilo, Sto. E frem , S. Gregó­
r io de Nissa, S. Paulino, e centenares do tes^munhas cé­
lebres do oriente e do ocidente provam em todos os sé­
culos, pO:rt milhares- de que
— o Sinal adoráveí d’AqueIe que veio ao mundo
p ara curar todas as moléstias, não tem deixado nunca de
d ar v ista ^ cegos, ouvido aos surdos, faJa aos mudos,
aaúde ^ doentes e v id a aos m ortos — ^.

T al é a História.
Cumpre aceitá-la.
Quem a rejeitar,

— ou há-de rasgar todos os livros e c e ir no cepti-


— cismo, ou, há-de escrever outra mais sábia e
— ^ a ia verfdica.

Pergun ta a teus condiscípulos se eles têmi força para


isso.
Se tiv^erem, que a escr^^m .
Depois a veremos.
Adeus.
A té amanhã,
se Deus ' quiser.
D É C IM A Q U A R T A -C A R T A

Paris, 9 de Dezembro de 1862.

S^nario:
— 1. O Sinal da Cruz apl4ca as t^pestades.
— 2. Apaga or incêndios. — 3. Defen­
de dOs perigos. — 4. Suspende' o ímpeto
das ondas. Foz entrar as ágnas em seu
leito. — 5. Afugenta os anim4 is ferozes.
— 6. Preserva do ueneno. — 7. Livra-
nos das tempestades e dos raios. — 8.
Protege-nos de .tudo o que possa preju­
dicar a saúde e a vido.

Meu caro ^ é d e ric o ,

O Sinal da Cruz é poderoso para dar a saúde e a vida.


Menos poderoso ele não; é para. afastar o que pode
compromete-las, .
Ainda neste ponto os factos: superabundain ; mas os
limites de uma c ^ t a s6 m e citar alguns.
^Depois do pecadQ original, todos os elementos se çon-
juraram contra o Homem, pela influência do demonio.
O ar, o fogo, a água, tudo lhe fa z guerra contínua e
muitas vezes — mortal.
Para nos defendermos Nosso Senhor Jesus. Cristò. nos
deixou uma arma universal.
E ’ o Sinal da ^Cruz.
1

Aquele a euja voz há! 19 séculos os ventos e as tem-


pectades obedeciam ainda é obedecido até hoje mediante
o adorável Sinal da. ^m z.
Lem os na v id a de S. Niceto, Bispo de Treves, que,
indo para a sua Diocese, adonnecera na embarcação.
A certa altura da viagem, bate um vento fo rte ; tão
fo r te qu.e eneapelon as ondas, rasgou as velas, e quebrou
os mastros.
Estava o navio quasí a soç.obrar, quando o Santo é
desportedo pelos paasageiros.
Levanta-se mui tranquilamente, fa z o Sinal da Cruz.
sobre as ondas enfurecidas, e elas se amainam.
À tempestade sucede a bonança (1 ).
^Segundo a crença da Igreja , tão explicita no Ponti--
fica/ Romano, o demonio :ê o grande recolucionario amo-
tinador das nuvens.
N o ar, onde g ira com suas. inumeraveis legiões, Sa­
tanás demonstra uma perniciosa influência.
Quantas vezes nâo tem ele assim procurado im pedir
que os Homens de Deus trabalhem na salvação das
Alm as ?! . . .
São Vicente F e rre r pregava quasi sempre ao ar li-
^ por causa da m u lti^to que acudia a ouvi-lo.

(1) Excitatus quoque a suis fecit Signum ^racis super acquas,


et cessavit procella. (S. Greg. ^iroa, De gloria confees., c.
XVII.
Para impedir a. prédica, muitas vezes o demonio fo r ­
m ava tempestades que o Santo se.smpre as diasipava por
meio df? orações e exorcismos.
Das três artim anhas do malvado na vid a do Santo,
uma das mais terríveis fo i sem dúvida a seguinte.
E ra o f im de Junho.
Achava-se o g^-ande Missionário a pregar a D ivina
P a la vra em uma aldeia da Catalúnia.
N o dia de São Ped ro ao último Evangelho da Missa
o Santo Missionário ia p regar à multidão que enchia a
praça.
De repente arrnou-SJe perto medonha tempestade com
i‘aios e trovões tais que o povo chorava de espanto.
Mas o grande A tleta do Senhor, S€m nem tirar' os
paramentos da Misea, fe z com Água benta. um grande Si­
nal da Cruz, sobre o a r e a furiosa tempestade mudou ime­
diatamente de rumo, disSipand^se à distância (1 ).

Como o ar, o fo g o fem bem obedece ao Sinal da C^ruz.


S. Tibureio, filh o do P refeito de Roma, é condenado
a oferecer incenso aos idoIos, sob pena de ser obrigado a
passar sobre uma fogueira.
O jo vem M á rtir fa z o Sinal da Cruz e sem hesitar
ent 1'31 pelo meio das brasas.

(1) Sparsit aquam sacratam, et deinde Crucis expressit signum.


illico .tempestas dlssipatur ... saepissime... ortas tempestates
Crucis signo compescuit. (Vit., lib. DI.)
De pé e descalço sobre o braseiro ardente, diz ele
ao Juiz:

“ Renuncia agora teus erros e reconhece que não


“ ha outro Deus além do nosso.
“ Se a tanto te atreves, mete a mão em água ,a
“ fe rv e r, em nome de teu Júpiter; e ele, se é d e ^
"qu e fa ç a com que não sintas a mais pequena dor.
“ Quanto a mim, parece-me que passeio em pe-
“ talas de rosas ( 1 ). ”

Sulpicio Severo nos refere como tendo sabido do pró­


prio s. Martinho, o facto seguinte.
Certa noite pegou fog o ao quarto onde dormia o Tau-
m aturgo das Galias. i
Acordando em sobressalto, procura apagar as cha­
mas devorando-lhe a roupa, mas todo o esforço é inútil.
De repente não trata mais de apagar o fogo, nem
de salvar-se.
Cheio de confiança, fa z o Sinal da Cruz.
A s chamas logu se dividem e f o ^ ^ a n um areo de de­
fesa para o salvamento. do Santo (2 ).

Deixa-me citar-te mais um facto da vida do grande


Bispo.
Inim igo infatigável da idolatria, M artinho havia de­
molido um templo muito notável e antigo.

(1) Act. S. Sebast.


(2) Epict. I ad Euseb. presbyt., et vit S. Martini, llb. X.
P erto havia um pinheiro enorme, objeto de supers­
tição.
Quando estava p ara co^áslo, os p ^ ^ o s se opuseram
dizendo ao corajoso Bispo:

— "T en s tanta confiança no teu Deus?


“ P o is bem ; nós mesmos cortaremos a arvore, se
“ tu te conservares debaixo ' dela ao cair.” —

O Santo aceita a. condição.


À vista de inumerável multidão, v a i e perm ite fíc a r
do pési atados lá. n o lu gar para onde a árvorei.pendia.
Medo mortal domina aos companheiros.
Já meio cortada, a ^ v o r e começa a'm over-se . . .
Antes de um minuto será o Bispo esmagado.
Que fa z o Homem de Deus ?
Soosegado levanta' a e fa z o. Sinal da- Cruz.
Im edia^m en te a árvo re . oomo que repelida por um
vento fortíssim o, vira-se e vai cair ao lado oposto.
Da imensa multidão pagã quase não houve quem não
pedisse o Batism o ( 1 ).
O acontecido Gallias, repete-se na Itália.
O venerando Abade Honorato fundara o Mosteiro de
Fondi.
Um dia viu de repente, na iminência de uma total
ruína aquele A silo de paz, onde v ivia m duzentos R e li­
giosos.
L á do vértice da monta.nha em cuja raiz estava edi-
ficado o Mosteiro, des^mha-se ^ rochedo enorme que
vem es^magar tudo.

(1) Id. ubi supra.


Honorato i n v ^ o Nom e do Senhor, ertende a mão
direita e' opõe ao rochedo um Sinal da Cruz.
O rochedo para im edia^m ente e fic a imóvel no flan ­
co da. monta^zã, na posição que até hoje lá conserva (1 ).

Do ocidente pas^m os ao oriente.


Verem os que

— A força soberana do Sinal da Cruz não é'


limitada, nem pela diferença dos climas, nem pelos graus-
de latitude ou longitude — .
Escutemos S. Jerón^^o:
À m orte de Juliano Apóstata seguiu-se um terremo­
to universal que tirou os mares. de seusr limites.
Levadas pelas furias das ondas, subiam as embar­
cações com(Jf vértices de montes.
Vendo aquelas massas aterradoras de água a difun­
dir-se sobre a costa, os habitantes do Epidauro temem
que a a.ldeia seja submergida como j.á outrora havia acon-
^ c id o e v ã o depressa buscar o Santo velho Hilarião.
Colocam-no à fre n te como se marchassem a um com­
bate.
Chegando à praia, fa z ele em três lugares o Sinal da.
Cruz sobre a areia e estendendo as mãos para o dilúvio
que avança rugindo, d iz: — Respeita estes Sinais da.
Redenção. —

(1) S. Greg., dia!., lib. I, c. I.


E* quase incrível a que altura o m ar então se entu-
rnescendo cresce e assim se conserva rugindo diante de
todos.
Depois de b r ^ i r p or muito. tempo, roncos caverno­
sos contra o ohstâculo tem ível que H i l ^ ã o lhe opõe, pou-
eo a pouco vai baixando e recolhendo suas vagas, sem
ousar vencer o Sagrado Lim ite.
Epidauro e toda aquela redondeza até hoje ainda. pu­
blicam este milagre.
A s mães vão sempre narrando aos filhos tal gran­
deza para que sua m em ória passe á posteridade (1 ).
Outro facto análogo, porém, mais recente.
O historiador francez, Mé2eray, refere, que 1196 obu-
vas torrenciais fizerarn transbordar rios e lagos.
D ai resultaram inundações que p a r e c i a dilúvio.
P a ra suspender tal flagelo, recorreu-se às orações,
-procissões e às, preces publicas.
Das Igreja s saiam Procissões de ponitência até aos
campos.
E apenas. se fazia o Sinal da C ruz sobre as águas, elas
se reti^^^^w a seu leito (2').
Figu ra da Cruz, a vara de Moisés pode separar as
:águas do ^ a r vermelho e te-las suspensas como mon­
tanhas.

(1) Qui cum tria crucis signa pinx^et in sabulo, manusque


contra tenderet, incredibile dictu est In quantam altltudinem
intumescens mare ante sterit, ac diu fremens et quasi ad
obicem indignans, paulatim in semetipsum relapsum est. (Vit.
S. HiL virs. fin.)
.(2) Hist. de France, t. H, p. 135,
O Sinal da. Cruz rreolheJ a seu leito as águas trans­
bordadas.

Voltemos tí. grandiosa Thebaida.


Deixa-me contar-te outras maravilhas de que foram
autores aqueles angelicos solitários e o Sinal da C ^ ^ , o
instrumento.
Juliano Sabas, o velho de cabelos brancos, atravessa
a .árida solidão.
Esperava-o no caminho uma. enorme serPente.
O , medonho animal lança sobre ele olhares de san­
gue, abre as largas, fauces e 3
1Vant;a para devorá-lo.
Sem sç amedrontar o Venerando Anacoreta afrouxa
o passo e invoca o Nom e do Se^^or.
Faz depois o Sinal da ^ rn z e o monstro cai JMrto (1 ).
Vamos mais lo^re-
Marciano é um solitário da Síria.
E stava fazendo oração à porta da cela, quando E usé-
bio, seu discípulo, viu um monstruoso reptil do lado do
oriente, prestes a lançar-se sobre o Santo para devorá-
lo. Espantado Eusébio da um g rito p ara advertir seu
mestre.
Marciano fa z o Sinal da soprando contra o ter-
r l w l animal e viu o efeito da palavra p rim itiva: — “ E s­
tabelecerei gu erra de morte entre sua raça e a tua. ” —

(1) At ego Dei nomem appelans, digitoque trophaeum Crucis


ortendens, et omnem metum ex^cusi, et beUuam extemplo
comentem vidl. (Tbeodoret., Thelig, hist., c. 11.)
O sopro que saiu da boca do Santo, como uma chama
em form a de Cruz, mata. a serpente, queimando-a como
se fora palha (1 ).
Apresentar longa série de factos ocorridos na­
queles lugares cristãmente célebres, seria, fáciL Mas, pas­
semos à Ita lia e lá veremos ^ tru p ar maravilhas do mes­
m o gênero.
A an tiga T ife rn e na Um bria, chama-se hoje — “ Citá
di CasteUo” — .
Conhecido com o^ nome de — Padre de T ifern e — lá
v iv ia Sto. Amancio.
Conform e nos diz S. Gregorio- Magno, as serpentes,
ainda as mais terríveis e cruéis, ^ to podiam resisti-lo de
nenh^um modo. .
Com o Sinal da Cruz quando as encontrava, ele as fe ­
ria de morte.
refu gia d a s nhlgnm imra.co, ele fecha-va-as com o
Sinal da Cruz e elas tin^ham que m orrer.
E ra o cumprimento da palavra dp D ivino M estre: —
Eles m atarão as serpentes. —

'Serpentes tollent ( 2 ) . ’

(1) ■ Digito Crucis signum expressit, et ore insufflans veteris ini-


micitas patefecit; mox enim draco, spiritu orla veluti flamma
quadam coneptus, exustae instar ^vndinis, in multas p^artes
d^tolvi^tur.
(2) In quolibit loco, quanvls immanissimae asperitatis serpentem
repererit, mox. ut eum Signo Crueis signaverit, extingnit.
CDialog., lib iii, c. ^ ^ ^ . )
6

Tu sabes que depo-is daquelas palavras N^sso Se­


nhor d iz: — E se eles ^^berem alguma cousa. envenena­
da, não sentirão o m eoor mal.

“ E í sí moríi/^erum. çuid biberint, eis 'no-


cebit".

E is algu^mas provas entre milhares.


Da cidade de Besra, na Idumea. era Bispo. S'. Julião.
P o r odio à Religião, alguns habitantes notáveis qui­
seram envenená-lo.
Subornaram o próprio creado do Bispo p ^ a isto.
O in feliz aceitou e ^recebeu deles a bebida envenenada.
Divinamente de tudo avisado o Santo diZ; ao creado:
— “ Vai, e, da minha parte convida para o meu jan ­
ta r de h oje os principais habitantes da cidade.”
Bem sabia que entre eles estáriam os culpados.
Todos ao convite acedem.
Num dado momento o Santo Homem, sem difam ar
ninguem, lhes diz eom doçura e v ^ ^ e lic a :
— “ V is to quererem en^venenar o humilde Julião, eis
que diante de vós passo a beber o veneno. ”
F a z trê s vezes o Sinal da Cruz sobre o copo.
Depois dizendo:
— “ Eu te bebe em N om e do Padre, e do Filho e do
E spirito Santo,” — bebe até a ultima gota, sem conse-
quência. do menor mal.
Seus in ^ ú go s caem de joelhos a seus pés e lhe pe­
dem perdão (1 ).
E ' necessário ser bacharel do século dezenove (2)
para ignorar que novo Moisés, S. Bento, o P atriarca dos
Monjes no ocidente, é um. Homem cuja vida deve ser co­
nhecida de todos.
N ão será pois a ele el a seus filh o s que a Europa deve
o trabalho de te-la tirado da mão' dos bárbaros?
Mostrai-me uma charneca material ou moral que o
Beneditino não tenha arroteado?
Um principio civilizador que ele não tenha cultivado
e praticado?
E sabe Deus, à custa de que esforços !
Sabemos que Satanás, qual velho Faraó, não poupou
meio nenhum .para im pedir a: obra libertadora dos
Monges.
Bento se havia retirado para a solidão.
Gente muito indi^sa v a i lá procura-lo e pede-lhe
tome debaixo de sua conduta.
O Santo os r ^ b a impée-lhes ' uma R egra e empe­
nha-se com exemplos e com palavras a submete-los ao
ju go da disciplina.
Inúteis todos os esforços!

(1) Voce mltissima omníbus dixit: Si arbitramini humilem Julía-


num veneno occidere, ecce coram vobis pertiterum Calicem
blbe; signansque ter digito suo calicem, et dicens: In no^mine
Patris, et FUii et Espirltus Sancti, bibo hunc ealicem, diblt
illum coram omnibus totum, atque illaesus prestitit. Quod
ilud cum vidissent, prostrati ven^m petiere (Sophron., in
Prat. Spir.)
(2) E também do século vinte.
Os exemplos do ^ m to Abade ferem-lhes o orgulho e
as palavras. provocam-lhes cólera e ódio.
Tomam afin al a resolução de envenenar o ^venerando
Superior.
Lançam veneno em um copo de vinho e apresentam-
lhe à mesa.
Segundo o uso cristão, Bento estende a mão e faz. o
Sinal da ^Cruz antes de tomâ-1o. N a ^mesmo hora o copo
envenenado estala. em ped^aços como se houvera sofrido
o choque de uma pedra.
Conheceu o Santo que lhe haviam apresentado uma
taça que continha a. morte, mas não pode resistir ao Sinal
da Cruz (1 ).
P o r estes poucos exemplos e p or m il outl'IOS, estás
vendo, meu caro amigo, quão poderosa oração é o Sinal
da Cruz.
De quantas. g^raças nos enriquece ele e: de quantos pe­
rigo.:! preserva noosa fr á g il existência! . . .

Passemos a uma nova aplicação do SinaL da Cruz.


Em França, Espanha, Itália e ju lgo que em todos os
países, os Catêlicos costumam fazer o Sinal da Cruz quan­
do troveja ou relampagueia.

(1) Extenn manu Benedictus signum Cruels editit, et vvas quod


longius tenebatur eodem signo rupit, sicque confractum est,
ae si in ilo vase mortis pro cruce lapidem dedisaet. Intel-
lexit protinus vir Dei quia mortis habuerat, quod portare
non potuit- slgnum vitae. (S. _Greg., Dialog., lib. Il, c. III.)
Os modernos sabichões ialo p o r fra q u ^ ê-
Acham que os verdadeiros Católicos dos dezoitos sé- '.
cuJos que nos precedem, todos tenham sido uns espíritos
fracos ou mulheres pobrezinhas, cheios de superstição.
Ora, tanto neste como em qualquer outro momento
de perigo sabemos que o Sinal dia. Cruz é empregado p ­
e
los Cristãos do oriente e do,ocidente? e isto desde. os p ri­
meiros tempos da Ig re ja . '
Sto. Efrem , Sto. Agostinho, S. Gregorio' de Tours e
m il outras testemunhas o ates^m .

— “ Se de repente, diz; o Santo ' Diácono de Edes-


“ sa, o relampago raSga a nuvem e o trovão
“ rompe com estrondo, os homens têm medo, e to-.
“ dos, horrorizados, se inclinam, para a terra per-
“ signando-se ( 1) . ”

Falando dos que freqüentem assembleias mundanas,


acrescenta Sto. Agostiuho:

— “ Se por acaso alguma cousa. lhes fa z medo,


“ fazem logo o Sinal da Cruz.” (2 )

S. Gregorio jrefere como público e notório que, debai­


x o da impressão de um susto e à vista. de um p erigo qual-

(1) Si repente fulgor aliquod vel tonitruum clarlus ac vactitts


contingat, omnem subito sui formidine perterret hominem,
cunctique horrore percuss! in terram nos inclinantus. (Sertn.
de Cruce.) O Santo fala do Sinal da Cruz; é evidente que
o faziam hestas circunstâncias, pois não deixavam de faze-lo
a cada instante nos atos mais ordinários.
(2) Si forte aliqua ex causa: espavescant, continuo se ^signant.
(Lib. I, Homil., homil 21.)
quer, os Cristãos recon em logo ao Sinal da Cruz e não
o fazem sem resultado.
E n tre muitos o seg1!inte facto é u ^ prova'
Dois homens seguiam jornada de Genebra para Lau-
sana.
'De repente' rom pe uma violenta tempestade acompa­
nhada de vivos relâmpagos e amiudados trovões.
Segundo o costume tradicional dos Cristãos, um de­
les fa z logo o Sinal da Cruz.
O o^tro e ^ ^ ^ e c e n d o lhe d iz: _
— Que b o ^ ^ m s são eosaz? Deixa-te d e supersti­
ções! Isso é cousa de mulber.velha. Semelhantes. momices
até des.honram a. Religião. Isso sãd coisas indignas de um
h o^em esclarecido. — ■
: ••M al havia pronunciado estas palavras, que — ferid o
p o r um raio — caiu m orto' aos pés do companheiro.
O -que h avia vido protegido pelo Sinal da Cruz, pros­
segue com felieidade o ^caminho, referindo em toda a
p^arte o que h avia ^ n t e c i d o (1 ),

O Sinal da protege não só a nossa vida mas


tudo quanto nos pé^rtence.
' .« . ^ a l o ^ catélico de benzer com o Sinal libertodor,
a$ casas, campos, frutos, animais e tOdas as cousas de
próprio uso.

*' Os católicos,.' d i« o gravè Stuckins, têm orações,


"acompanhadas do Sinal da Cruz, p a ra todas as

(1) Tilman; CoUect. dos S. S, Padres., lib. Vn, c. LVDI.


“ creaturas em particular: àgua.., folhas, flores,
“ cordeiro pascal, leite/ mel, queijio, pão, legu-
“ mes, aves, vinho, ^ i t e , vaúlhames e utensí-
“ lios todos.
“ E m cada uma .dessas formuJas de preços e
“ çãos pedem expressamente a Deus a sa.úde do
“ corpo e da A lm a e que seja para bem longe ar-
“ redada a força malfazeja. do demonio,.
“ N as festas de :Rá.scoa benzem o leite, o a
“ carne, os ovos, o pão, e. mais coisas que o ho--
“ mem. costuma te r e ^ m rd a r para uso como sau-
“ dáveis à vida.
“ N o dia da Assunção benzem as ervas, as plan-
“ tas, as raízes e as fru ta s ,.p ^ a comunicar-lhes
“ medicinal virtude divina. •
“ N o dia de |8'. João benzem'o vinho; sem isto ele
“ é considerado impuro e possuído de cerro prin-
“ cípio de males.
"'D ia de Sto. Estevão benzem os parros e no de
“‘ S. Marcos os trigais.
“ Seguem nisto o preceito de S. Paulo que ordena
“ aos Fiéis o benzer quanto é preciso para a v i-
“ da e o dar ^graças a Deus (1 ) ” .

L iv res da influência do demonio, as ereaturas pas­


sam a ser instrumentos úteis eom que a. bondade do Crea-
dor nos favorece!
Graças pois ao Sinal da C ruz!

(1) Cujus sane rei a theologis, et quidem optimae, grav^isae-


que rationes afferuntur. (Antiq. convivial. lib. H, e.
p. 430.)
E m S. Gregório de Tours lê-se que uma pestilencial
moléstia deu de fa ze r tantos estragos em certos animais.
que pouco faltou para se acreditar que tais espécies iriam
desa.parecer inteiramente.
À vista daquela mortondade, uns habitantes do acam­
po foram à Basilica. de S. M artinho pedir azeite da i m ­
pada e Agua Benta.
Fizeram com aquilo o Sinal da. Cruz sobre a 'cabeça .
d'Os animais ainda sãos e não fo ra m atacados da peste.
Deram a beber daquilo aos que estavam quase à m orte »■
ficaram curados.
Esta é a ver^ide. (1 ).
M ais um.
últim o exemplo que hoje te eu conto do poder pro--
tetor do Sinal da Cruz.
S. Gennano, Bispo de Paris, ia indo a.o encontro das:
Relíquias do M a rtir S. Sinfroniano.
A o passar p or uma aldeia, os habitantes vieram po--
dir-lhe que tivesse compaixão de uma pobre viu va cujo.
pequeno campo de trigo estava sendo estragado pelos
ursos.

"Vinde v e r a roça da pobre Panicia; e à vossa


"presença os animais ^m inhos fugirão.

Ap^sãr da o^isição dos companheiros, o Santo va i


ao sítio, reza e faz o Sinal da Cruz sobre a pequena her­
dade.

(1) Mox dieto eitius clandestina peste propulsa, pecora liberata


sunt. (Lib. III, Miracul. S. Mart., e. XV^H.)
aparecem a li dois ursos.
A o se avistarem f i c ^ enfurecidos e se atracam.
U m m orre na. luta; o outro, já ibem ferido, ficou m or­
to por uma lança (1 ).
P o r hoje é só.
Se Deus quiser,
a té a^manhã.
Adeus.

(l) Fortunat., In vit. S. Genn.


D É C IM A Q U IN T A C A R T A

Paris, 10 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 1. Respostas a umo questão. — 2. O Sinal
da renoca ho;e seus antigos mila­
gres. — 3. A uida é uma lute. — 4.
Satanaz existe? . 5. O Sinol da Cruz
é a arma especial, a arma de predsão,
contra os Anjos maus on demônios. —
6. Primeiro tribunal. — 7. Segundo tri­
bunal. — 8. EX1)eriéncias.

Caro Am igo,

Se comunicares a teus condiscípulos a minha carta


passada, é provável que eles te digam : ,
— Se o Sinal da Cruz é tão poderoso com o dízeis,
^ ^ u e não fa z e le hoje o que então fa zia ? —
Muitas são as respostas já dadas a esta pergunta.
A prim eira é dada per S. Agostinho.
Falando dos milagres, o Santo Doutor fa z wna ob-
seirva.ç.ão mui justa.. '■
D iz e le :
“ Os milagres, referidos no cânon dos livros san-
“ tos, têm grande publicidade. Lendo- ou ouvindo
“ ler a Escritura, ninguém- os ignora. E assim
“ devia ser, porque são as. provas. de nossa Fé.
‘ ‘A in d a hoje se fazem m ilagres em nome de Nos-
“ so Senhor, pelos S ac^ ^ en to s, pelas orações e
“ pelos túmulos dos Santos; deles porém não ha
“ tanta ^loticia como dos' primeiros. São apenas
“ conhecidos nos lugares onde são operados e, se
“ a cidade é grande mais d ifícil é chegarem ao
“ conhecimento de todos. Mesmo que só pouca
“ gente disso tenha- conhecimento eles acontecem.
“ Quando sã-o contados em outro lugar e às ouitras
“ pessoas, a autoridade de quem os conta não é
‘‘ sempre tal que sejam acreditados sem dificul-
“ dade ou hesitação, posto que sejam referidos
‘‘ por Cristãos a outros Cristãos. (1 ) ”

Gomo prova o Santo refere muitos m ilagres operados


à sua vista, e alguns p o r m'eio dto, S'ínal da Gruz.
Porque teus condiscípulos ou outras. pessoas nao co­
nhecem os milagres de hoje, não se segue que não existam.
A esta prim eira resposta segue-se naturalmente uma
outra.
. E ' de um outro Doutor igualmente grande, o Papa
S. Gregório, que fa z distinção entre tempos antigos e os
modernos.

(1) Nam plerumque. etiarn ibi paucissimi sciunt, ignorantibua


cocteris, maxime si magna sit civitas; et quando alibi aliis-
que narrantur, non tante ea comrnendat aüctoritas, ut sine
dificultate vel dubitatione credantur, quamvis- chrictianis fide-
libus indicantur.
(De Civ. Dei, lib. XVII, c. VIIIJ
D iz ele;
“ Os mflagres foram necessários nos princípios
“ da Ig reja . E ra por eles que a F é dos povos' de-
“ via firm ar-se. Quando plantamos uma árvore,
“‘ regamo-la até ganhar ra iz; e, q^mdo' disto es-
“ tamos certos, cessa a irrigação. P or isao diz o
“ Apostolo: — O dom das línguas é um sinal,
“ não para os Fiéis, mas para os infiéis ( l ) . Dá­
"* se na cultura moral o que se dá na material. Ho»!
“ je, que o Cristianismo ganhou raízes nas entra-
“ nhas do mundo, os milagres não são tão neces-
“ sários como no momento da divina plantação.
“ J;á Sto. Agostinho dizia ha quinhentos anos:
“ — H o je constituiria o maior dos prodígios, a.
“ pessoa," que, para acreditar, exigisse . prodí-
*‘ gios ( 2 ) . "

Coloca, meu caro, o mundo por' um instante nas con-


^dições em que se acha,va ao nascimento da Igreja , e ve-
o Sinal da Cruz ainda renova seus antigos ' mila-

Ouve a historia contemporânea.


Escreve um dos nossos Bispos missionários:

. (1) Hinc est enim quod Paulus: Linguae in signum sunt, non
' fidelibus sed infidelibus. (Homll. ^XIX, in Evang.) '
(2) Cur, inquiunt, nunc illa miracula, quae praedicatis facta. esse,
non fiunt? Possem quidem dicere necessaria fuisse, priusquam
crederet mundus, ad hoc: ut crederet mundus. QuisqUe adhuc
prodigia, ut credat inquirit, magnum eet ipse prodigi^n qui
mimdo credente no credit; ' (Ubi ■supra.)
“ Podereis- ãcreditã-lo? Converteram-se dez
“ atdeias. E o diabo furioso -descarrega seus
“ golpes. AparecerBjm Ciinoo ou seis possessos
“ durante os quinze dias de preg^ações. Os Ca-
“ tec'lmenos oom Agua-benta e com o Sinal da
“ Cruz expulsam os demonios e curam as doen-
“ ças. V i coisas maravilho^sas. Satanás serviu-
“ m e de grande auxílio para converter os pagãos.
“ Como no tem^po de-Nosso Senhor, o p ai da men-
“ tir a ^ i o pôde deixar de d izer a verdade. E ' um
“ pobre possesso que fazendo mil contorsõea d iz
“ em altos grito s: — . Porque pregas a' Verdadeira
“ R eligiã o? N ã o posso adm itir que m e roubes
"m eus discípulos. — Comq te chamas? — per-
“ gunta-lhe o Exorcista. D^^^eis de algumas re-
'‘ cusas, responde: — Eu sou o enviado de Lú ci-
“ fe r. — Quantos sois? Som^os v in te e dois.
“ A Agua-benta e o Sinal da Cruz curaram este
“ possesoo ( 1) •”

M as ainda que se admita aquilo que eu nunca admi­


tirei, isto .é, que o Sinal da Cruz jál. não f a z m ilagres no
meio dos povos cristãos, este Sinal não vem revelando sua
força, por efeitos. sobrehumanos a cada hora dOt dia e da
noite, em todos lugares da terra cristã?
Supoo se o quiseres uns cem milhões de tentações ao
d ia ; pois ficarás bem certo de que mais de três quartos

(1) Carta de Mgr. Anauilh, Bispo de Abydor, missionário na


China. — Tching-Ting-Fou, provincia de Pekin, 12 de Março
de 1862.
desea quantia são tenmções d isa i^ d a s e vencidas pelo.
Sinal da
Quem há que nSo tenha experimentado isto em si:
^^m o?
Daqui; lembrando-te do que tu e n6s ' outros fazemos-
podellás calcular o poder pe^rmanente e universal do S’i-
nal li^ ^ a d o r .
Vou! ainda mais longe e admito mesmo que o Sinal daot
Cruz não sirva mais sempre pata afugentar os pensa--
mentos importunos, dissipar os encantos sedutores e sus­
te r a A lm a no declive do abismo.
Mas. . . a que é devida esta falta ?
N ão será à pouca F é dos C r is to s de nossos dias?
N ã o será nec:l!E"Sário dizer da im fioácia. do S in al
da Cruz o que se diz com razão da inutilidade da Comu­
nhão p ara tanta gente?
O defeito não está no alimento, mas na indisposição'
da-quele que o come.

“ Defectus non in ci^o est, sed in edentis dis--


“ positione. ”

Desejoso de remediar a fa lta de F é que empobrece-


e ^ ^ im a hoje os Cristãos, foi que empreendi esta, cor­
respondência e vou continuá-la.
demons^trar que o Sinal da Cruz goza de-
um novo título p ara despertar a confiança dos Católicos_
— SO LD AD O S, O S IN A L D A CRUZ É U M A A R ­
M A QUE D IS S IP A O IN IM IG O . —
Hlá mais de dois mil anos que Job difiniu a vida hu­
mana chamando-a de u ^ lute incessante.

"M ilitia est, vita, homiin:i8 super íerram .’

Passaram os séculos, sucederam gerações a gerações,


novos impérios substituíram outros, vinte vezes se tem
renovado a face da terra, e a d efin i^ lo de Job ainda é hoje
muito verdadeira.
A vida é1 de facto uma lutá, p ara mim, para. ti, para
teus condiscípulos.
L u ta para o rico e para o pobre; luta a cada instan­
te do dia e da noite; luta na saúde; .luta na doença; luta
que Principia no berço para acabar no túmulo.
Luta decisiva.
D a vitória ou da dierrota depende a nossa eterna
felicid^^e ou eterna. d esgr^ a .
T al é, meu caro. amigo, a.condição. do Homem sobre
a terra.
Nisto não podemos fa zer a m enor alteração.
E quem são os inimigos?
A h ! quem não os conhece? Quer pelo nome, quer
pelos ataques,

— Mundo, demónio e ^ca.:rne —

T rês form idáveis potências empenhadas em nos


•perder.
Só me ocuparei do segundo, porque não tenciono
■fazer-te um curso de ascetismo.
4

É certo que Deus existe.


Pois também é certo que ha demónios’.
Ambas são verdades reveladas.
V oltaire dizia com razão :

— “ Pas de Satan, pas' de Dieti —

Se Satanás não houvesse, como teria havido a que- '


da dos Anjos, a queda do Homem?
E a Redenção?
E o Cristianismo?
Tudo e ra uma farsa.
E Deus que é a Verdade como havia de existir na
mentira ?
Bem sabemos que os demónios são A n jos decaídos,
isto é, A n jo s que se tornaram ^ u s .
N a inteligência, na fo rç a e na agilidade, já por na­
tureza os demónios são superiores ao Homem.
O número deles é incalculável.
Habitam o inferno. Mas a atmosfera que nos ro­
d eia é acampo deles até ao juízo final.
Porque nós os filhos de Adão somos chamados à f&-
licidade que eles perderam, ralados de in veja diu e noite
eles s6 se ocupam em a ^ n a r ciladas e laços contra n6s,
em fom entar pa^^es, em nos crear situações perigosas
-em obscu^recer-nos a F é ; embotar em nós os sentimentos
morais, e nos sufocam os remorsos.
Querem nos tornar cúmplices de sua revolta, para
lhes sermos companheiros no suplício.
Todas estas eoísias são verdades que Deus mesmo
nos revelou e que nós devemos crer como cremos na
existencia de Deus.
Pelo pecado, os demônios ficam sendo nossos tira­
nos como também o são das creaturas sujeitas ao nosso
domínio.
Vencido o Rei, ao vencedor pertence o reino.
Espalhados por toda a creação e podendo influen­
ciar em cada uma das creaturas emi particular, tudo eles
infestam de sua maligna influência.
Todo o poder que por natureza de Anjos des têm,
convertem-no em instrumento de ódio contra a Alma e o
corpo do Homem.
Isto também é um Dogma de Fé universal.
Quem ignora estas cousas não sabe nada; quem dis­
to duvida, sabe ainda menos que nada; e quem tais ver­
dades quiser negar, não deve mais ser contado no rol dos
seres inteligentes.

Conceberás como coisa possível que a Sabedoria Di­


vina houvesse deixado o Homem sem meios de defesa
numa luta desta?
Gomo se compreende que dois mais dois fazem qua­
tro ccmpreende-se que Deus, para equilibrar a luta dera
aa Homem uma arma poderosa, universal, sempre à mão
e ao alcance de todos.
Mas qual será esta arma?
Interroguemos todos os séculos, especialmente os
cristãos, e todos respondem a yoz unânime:
— Esta arma é o Sinal da Cruz.
E o uso constante que dele têm feito confirma a
resposta.
Este ponto de vista é um como farol que ilumina
toda a história do Sinal adonável.
Dá a razão de sua existência, justifica em alto grau
a conduta dos primeiros Cristãos e igualmente condena
a conduta dos modernos que se descuidam de o fazer.
0 Sinal da Cruz é a arma especial, a arma de pre­
cisão, contra Satanás,, e todos os Anjos maus.
Sabes dizer-me de que modo se procede, quando se
pretende conhecer o valor de uma peça de artilharia, de
uma espingarda ou de outra arma de nova invenção?
Não se confia s6 no inventor.
A autoridade nomeia uma comisisâo.
A arma é experimentada à vista de juizes compo-
tentes e as esperiências ó que decidem do mérito e valor
delas.
Seja pois o mesmo para o Sinal da Cruz.
Somente lembra-te de que o Sinal da Cruz não é uma
arma fabricada de novo.
E’ velha, muito velha.
Mas, neml por isso está enferrujada, enfraquecida
ou fora de usa.
Quanto ao juri de exame, está formado ha muito
tempo, e não deixa nada a desejar.
£ composto de Homens os mais competentes do ori­
ente e do ocidente; homens especiais, que de antigos tem­
pos conhecem esta arma, sabem-lhe o emprego teórica e
praticamente.
6
Eis O' tribunal: ouve sua decisão.
Temos que acreditar na bondade do Sinal da Cruz
e na força desta arma divina contra os nossos inimigos,
pois o primeiro Juiz assim se exprime:

— Nunca sairás de tua casa, sem que faças o


“ Sinal da Crus,
“ Ele será para ti bordão, arma e torre inexpug-
“ nável. Nem bomem, nem demónio, ousará ata-
“ car-te coberto de tal armadura. Â ti mesmo
“ este Sinal dirá que tu és um Soldado pronto a
“ combater contra o demónio e a lutar pela co-
“ roa da Justiça.
“ Ignoras, porventura, o que a Cruz tem feito?
“ Pois venceu a morte, destruiu o pecado, esva-
“ ziou o inferno, destronou a Satanás e ressus-
“ citou o universo. E duvidarás ainda de seu
“ poder (1)?
E’ São João Crisóstomo que o diz,
Do segundo Juiz são estas palavras.

“ 0 Sinal da Cruz é a armadura invencível dos


“ Cristãos. Esta armadura que te não falte ó
“ Soldado de Cristo, nem de dia nem de noite, nem
“ um só instante, seja qual for o logar em que
“te aches.
(1) Sed cum es januae vestibula transgressurus... cruem In
fronte imprime. Ignoras quanta crux perfecit? Mortem dis-
solvit; peccatum extinvit; orcum inanem reddidit; diaboli
solvit potentiam... totum orbem exsascitavit; et tu in ipsa
non cottfidia. (S. Crys., HomiL XXII, ad popuL Antloch.)
“ Quer durmas, iquer vigies, quer trabalhes, quer-
“comas, quer bebas, quer navegues, quer atra-
“ vesses rios, sempre andarás revestido desta
“ couraça.
“Orna e protege teus membros com este Sinal
“ vencedor e nada te poderá fazer mal.
“ Contra as setas do inimigo, nâo bá escudo mais.
“ poderoso.
“ A vista deste Sinal, trêmulas e aterradas fugi-
“ râo as potências infernais (1 ).”

E* de Santo Efrena.
Acreditou no Sinal da Cruz o terceiro Juiz que faz;
aos Cristãos e a si proprio a seguinte recomendação:

“ Façamos o Sinal da Cruz com plena confiança,.


“e com audacia.
“Ao vê-lo os demonios lembram-se do Crucifi-
“ cado e fogem' e escondem-se e deixam-nos (2 ).”

São palavras do grande São Cirilo, no Catecismo que-


escrevera.

(1) Armetnur insuperabilihac christianorum armatura... hac te-


lorica circumtege, membraque tua omnia salutari signo exorna,
atque circunisepl, et non accedent ad te mala. Sunt enim
véhementer contraria tellis inimici. Hoc signo conspecto ad-
versariae potestates conterritae trementes que recedunt. (S.
Eph. de Panoplia ot de poenitem., apud Gretzer p. 580, 581
e 642.) -
(2) Hoc signum ostendamus audactez. quando enim doemoner:
viderint, recordantur crucilixi... effugat dacmones, declinant,..
recedtmt (S. CyriU., Catecfa., XIII.)
E que nos diz o quarto Juiz?
“ Levemos traçada sobre nossa fronte o imortal
“ Estandarte.
"Sua vista faz tremer os demônios. Eles, que
“ não temem os doirados capitólios, têm medo da
“ Cruz (1 ).”

Orígenes — Homilia V II sobre tópicos do Evangelho.


Assim julga o oriente pelo orgão de seus maiores Ho­
mens: S. Crisóstomo, S. Efrem, S. Cirilo de Jerusalem
o Orígenes, aos quais seria íá,cil juntar outros nomes
igualmente respeitáveis.

Ouçamos o ocidente. ‘
Sta Agostinho dizia aos catecumenos:

“ El com o Credo e com o Sinal da Cruz que é ne-


“ oessário correr o inimigo. Revestido destas ar-
“mas, o Cristão sem dificuldade triunfará do an-
“tigo e soberbo tirano. A Cruz basta para des-
“ fazer todas as maquinações do espírito das tre­
la s (2 ).”

(1) Immortale vexlUum protemus In frontibus nostris, quod, cxim


daemones viderint, contremiscent; qui aurata capitolia non
timent, Crucem timent. (Orig., Homil., VII, in divers Evang.
Locis.)
<2) Noverint cum Symboli sacramento et Crucis vexillo ei de-
■ bere occurri ut talibus armis indutus, facile vincat christia-
nus, de cujus oppressio male antea triumphaverat nequissi-
mus. (lib. de Symb., c. L )
Seu ilustre contemporâneo, S. Jerónimo, escreve:

“ O Sinal da Cruz é um escudo, que nos píie a


“ coberto das frechas inflamadas do demd-
“ liiO ( 1 ) . ”

Em outra parte:

“ Fazei iwuitas'vezes o Sinal da Cruz sobre á


“fronte para que não sejais dominados pelo ex-
“ terminador do Egito (2 ).’

E Latancio diz:
“ Quem quizer conhecer a força do Sinal da Cruz.
“ s6 tem a notar quanto ele é temível para oa de-
“monios. Esconjurados em Nome de Jesus Cris-
“ to, é oi Sinal da Cruz que os faz sair do corpo
“ dos possessos- E que h i nisto de espantoso?
“ Quando o Filho de Deus vivia sobre a terra,
“com uma só palavra afugentava os demonios,
“ e dava sossego e saúde às desgraçadas vitimas
“ dela,
“ Hoje são os discípulos que expulsam os mesmos
“ eepíritos imundos em Nome do Divino Mestre,
“ e pelo Sinal da Sagrada Paixão (8 ).”

(1) Scutum fidei, in quo ignitae diabuli exünguuntur sagittae.


(Ep. XVni, ad Existoch.) ^ .
(2) Crebre signaculo crucia munias frontem \tuam, ne ésctermi-
nator AEgypti in te locum reperlat (Epist. 97 ad^Demetriad.)
(3) Ita nunc sectatores ejus eosdem spiritus inqijunatòs de homi-
nibus et nomine Magistri sui et signo Passionis'excludunt.
(lib. IV. c. XXVIL) ‘
Falaram o oriente e o ocidente.
Os Juizes mais competentes proclamam o Sinal da
Cruz como excelente e especial arma contra o demônio.
Experiências, incalculáveis em número, servem-Dies
de base ao Juízo.
Nos primeiros séculos da Igreja as experiências re­
petiam-se todos os dias e em todos os lugares da terra,, na
na presença dos Cristãos é dos pagãos.
E eram a tal ponto concludentes que uma testemu­
nha ocular, 0 grande Atanasio, dizia sem receio de ser
desmentido;

“ O Sinal da Cruz torna impotentes todos os ar-


“ tifícios da magia, ineficazes todos os encantos,
“ e ao abandono todos os Ídolos.
“ Por elè è moderado, abatido, extinto o fogo da
“ voluptuosidade mais brutal; e a Alma, curva-
“ da para a terra,'levanta-se para o Céo.
“ Outrora os demônios enganavam os homens, to-
“ mando diferentes formas; postados à beira das
“ fontes e dos rios, nos bosques e nos rochedos,
“ surpreendiam por artifidosos enganos aos in-
“ sensatos mortais.
“ Mas, depois da vinda do Verbo Divino, hasta o
“ Sinal da Cruz pará desmascará-los todos.
“ Quer alguem a prom do que digo?
“ Não tem mais que colocar-se no meio dos artí-
“ fícioa dos demônios, das imposturas dos ôrácu-
“ los e dos embustes da magia e, feito o Sinal da
“ Cruz, verá como por virtude dele fogem os de-
“inónios, calam-se os oráculos e se tornam im-
“ potentes todos os encantoa e malefícios (1 ).”

Vou citar-te algumas daquelas experiências.


Latancio, mestre do filho de Constantino e que me­
lhor que ninguémi conhecia os segredos da côrte imperial,
refere o seguinte:

“ Estava no oriente o imperador Maximino, mui


“curioso crutador de coisas futuras. Imolava um
“ dia vítimas, em cujas entranhas procurava co-
“ nhecer os segredos do futuro. Alguns de seus
“guardas, que eram Cristãos, fizeram sobre a
“fronte o Sinal imortal, immortale signum, e lo-
“go fogem os demônios, e o sacrifício fica mu-
“ do (2 ).”

Se, à vista do Sinal da Cruz, o demónio é obrigado a


fugir de seus antros, como se conservará ele em outros
lugares?
Escutemos um dos mais graves doutores do oriente^
S. Gregório de Nissa.
E’ na vida do outro S- Gregório, o Taumaturgo, cha­
mado 0 Moisés da Armênia, que o ilustre, historiador re­
fere o seguinte:

(I) Signo Crucis omnia magica compescentur, veneficia ineffi-


câcia fiunt, idolá universa relinquuntur, (Lib. de Incarnat.
Verb.) , .
<2) Que facto fugatis daemonibus» sacra turbata sunt. (Lactant.,
De mortib, persecunt., c. X.)
“ O Diácono Tróade, chega um dia a Neocesaréa.
“ Fatigado da viagem quis hanhar-se e dirige-se
“ aos banhos púhlíoos. Aquele lugar estava então
“ dominado por um demónio homicida, que ma-
“ tava a quantos ousassem ali entrar dês que
“ apontassem as stmibras da noite. Eis porque
“ ao por do sol eram, logo fechadas as* termas.
“ Apresenta-se o Diácono, e pede lhe seja aber-
“ to. O guarda do estabelecimento o adverte di-
“ zendo; — “ Podereis acreditar-me? Quem ou-
“ sa entrar aqui a esta hora, nâo sai por seus
“ pés.
“ A noite, o demónio é senhor disto; e muitas des-
"graças têm pago sua temeridade com gritos de
“ dor e com a morte!”
“ A nada disto atende Tróade e insiste em que
“ lhe sejam abertas as portas.
“ Diante de tamanha insistência, o guarda dos
“ banhos deu-lhe as chaves e para ressalvar sua
“ responsabilidade fugiu.
“ Entra o Drácono só e começa a despir-se na pri-
“ meira sala,
“ De repente, rompem de todos os lados objetos
“ de horror e espanto: espectros variados, meta-
“ de fogo e ntetade fumo; figuras de homens e de
“ animais se oferecem a seus olhos, assobiam a
“ seus ouvidos, infectam^no de seu hálito e o
“ envolvem nuinl círculo impossível de rompes,
“ Sem impressionar-se o Diácono faz o Sinal da
“ Cruz, invoca o Nome do Senhor e vai seguindo
“ são e salvo.
“ Entra na sala do banho e cai no meio de um es-
“ petáculo mais horrível.
“ O demónio se lhe apresenta de uma forma ca-
“ paz de o matar de mjedo. A terra treme, as pa-
“ redes estalam e rangem, a sala abre-se a meio
“ e debaixo de seus pés vê o Diácono uma forna-
“ Iha ardente cujas centelhas lhe saltam ao rosto.
“ Recorre ainda ao Sinal da Cruz e ao Nome do
“Senhor e tudo desaparece.
“ Tomado o banho, vai sais, mas, o demónio
“ lhe havia impedido a passagem fechando-lhe a
“ porta. Faz o Sinal da Cruz, e as portas se
“ abrem de par em par.
“ A saída, diz o demónio ao corajoso Diácono em
“voz humana: humama, voce\ —>Não atribuas à
“tua virtude o teres escapado à morte; tu o de-
“ves Aquele cujo Nome invocaste com o inven-
“ cível SinaL
“ Tróade aparecendo salvo, foi causa de muita
“ admiração para o homení dos banhos e por
“ quantos deste facto tiveram conhecimen-
“to (1 )“.
O facto que acabas de les, mei^ caro Frederico, não é
único: faz parte de uma grande seleção de outros seme­
lhantes, atestados por mais testemunhas nos tempos, pas­
sados e reproduzidas em nosso dia entre o povos idólatras.
Roma f<» disso moitas vezes testemunha.
“Quando os pagãos, diz ele, sacrificam a seus
“deusea, se algum dos assistentes marca sua fron-

<1) V it B. Greg. Inter. oper. Njrss.


“ te com o Sinal da Cruz, o sacrifício inutiliza-se;
“ porque o oráculo não responde. Por esta cau-
“ sa foi que maus Imperadores, várias- vezes, per-
“ seguiram os Cristãos. Acompanhando-os aos
“ sacrifícios, alguns dos nossos faziam o Sinal
“ da Cruz; e, assim afugentados os dèmónios nâo
“ podiam marcar nas entranhas das vítimas as
“ respostas esperadas.”

Quando os arúspices (1) chegavam a perceber isto,


instigados pelos demônios, aos quais ofereciam sacrifí­
cios lamentavam a assistência dos profanos; e os Impe-
rantes, enfurecidos, perseguiam a todo o transe o Cris­
tianismo. (2) .
Na próxima carta, se Deus quiser, encontrarás ou­
tros factos. ■
Adeus,

(1) Aruspices — ministros da religião pagã entre os Romanos,


que consultavam as entranhas das vitimas para predizer o
futuro.
(2) Cum enim quidãm nostrorum, sacrificantibus dominis assis-
terent, imposito frontibus signo, deos eorum pugaverunt, ne
possent in visceribus hostiarum futura depingere. (Lact.,
lib. IV. c. X V II.)
DÉCIMA SEXTA CARTA

Paris, 11 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 1. ü Sinal da Cruz despedaça oa ídolos. ^
2. O Sinal da Cruz expulsa os demônios.
— 3. Os exorcismos, — 4. Inutiliza os
ataques diretos dos demônios. — 5. Intt*
tiliza também os indiretos. Tôdas as crea­
turas sujeitas ao demônio lhe servem de
insíTtimento para nos jazerem mal. —
O Sinal da Cruz impede-os em sua ação
nociva contra nosso corpo e nossa Alma.
— Profunda filosofia dos primeiros Cris^
tãos. — Uso, que faziam do Sinal da Cruz.
— Quadro por S. Crisóstomo. — 6. Duos
grandes Verdades. — 7. Para-raio e Mo--
numento.

Caro Frederico,

0 poder do Sinal da Cruz é bem mais extenso que o


de satanás.
Havendo o usurpador infernal se apoderado de todas
as partes da creaçSo, o I-egitimo Proprietário delas deve,
além de expulsá-lo, dar meios de defesa ao que deu o di­
reito de possuí-las.
0 Sinal da Cruz não só impede que os demônios fa­
lem; mas obriga-os a fugir dosi lugares que habitam, e os
expulsa dos possessos.
Êm apoio destas verdades, vou relatar-te alguns fa­
tos entre milhares; e todos por si evidentes.
Governava os povos o Imperador Antonio.
0 césar filósofo perseguia cruelmente os Fiéis.
Ronm estava cheia de ídolos. Ao pé deles eram ar­
rastados nossos avós para lá serehi forçados a oferecer-
lhes incenso,
Uma de nossas irmãs, aparecia diante do Prefeito da
Cidade imperial.
“ Vamos Glicéria, lhe diz eJe. Toma este facho e
“ sacrifica a Júpiter.
« — Não; dele não farèi uso. Eu só sacrifico ao
“ Deus Eterno; e, para isso não careço de fachoa
“ que fumegam. Miandal apagá-los para que meu
“ sacrifício seja a Êle agradável.
“ 0 governador dá ordens e os fachos são apa-
“ gados.

Então a casta e nobre Virgem levanta os olhos ao


Céu, estende a mão para o povo q diz:
— “ Olhai para o facho brilhante que é gravado
“ em minha fronte.
“ E a tais. palavras, fazendo o Sinal da Cruz,
“ acrescentar
— “ Deus Omnipotente, para que vossos servos
“ sejami glorificados pelo Sinal da Cruz, despeda-
“ çai este ídolo que é obra das mãos do homem.”—
Imediatamente! rebrama forte um trovão e Júpiter de
mármore cai reduzido a pedaços (1).
Lê-se o mesmo de S. Procópio mártir no reinado de
Deocleciano.
El levado diante doa ídolos.
De pé e voltado para o oriente, o glorioso atleta faz
o Sinal da Cruz sobre todo o corpo, levanta os olhos para
o Céu 0 diz :
“ Senhor Jesus Cristo, eui Vos adoro!**
Depois diz às estátuas de ídolos:
“Figuras imundas, em Nome de meu Deus eu
“vos ordeno — resolvei-vos em agua e derramai-
‘vos neste templo.” —

Fez sobre elas o Sinal da Cruz e logo se desfizeram


em água que escorria pelo châo (2).

Em virtude do SinaLda Cruz, os demônios são igual­


mente obrigados a deixar os corpos dos desgraçados pos­
sessos.
Os factos são inúmeros e atestados por irrecusáveis
testemunhas.
Venha primeiro que todos, S. Gregório, um dos. maio­
res Papas que governaram'o mundo católico.

(1) Baron., t. II.


(2) Vobis, inquit, dico imundis simulacris, timete Dei m ei nomeni,
et in aquam resoluta, in hoc templo dispergamini, quod fac-
tum est. (Sur., 8 de Julho.)
Falando de um facto recente acontecido na terra de­
le, diz:

“ No tempo dos Godos, o rei Totila vem a Nar-


“mi (1). Era Bispo da cidade o venerável Cas-
“ sio. Entendeu o santo Homem ir ao encontro
“ do Príncipe.
“ O hábito de chorar padecimientos alheios tinha-
'The inflamado o rosto. E Totila não duvidou em
“ juigar aquilo efeito do vício de beber muito vi-
“ nho e tratou com profundo desprezo o Homem
“ de Deus.
“ Mas 0 Omnipotente Senhor que tudo vê quis
“ mostrar quanto era grande a virtude daquele de
“quem tão pouco caso se fazia.
“ Na planicie de Nami, à vista de todo o exército,
“ eÍ3 que um demónio se apossa do escudeiro de
“ Totila e com crueldade o atormenta.
“ Conduzido ao venerável Cassio, o Santo ora,
“ faz o Sinal da Cruz e em presença do Rei o de-
“ mónio é expulso.
“ Desde aquele momento, Totila, conhecendo o
“ próprio erro troca o desprezo em profundo res-
“ peito (2 ).”

Ouve este outro facto acontecido na tua Pátria.


Na Prússia, num sítio chamado Velsenberg, vivia
um pagão chamado Ethelberg, homem rico e poderoso.

(1) Pequena cidade pouco distante de Roma.


(2) V ir Domini, orationi facta, signo Crucis expulit. (Dialog.»
lib. n i. c. V I.)
Havia ficado possesso do demónio e por isso o con­
servavam preso por cadeias.
Sofria grandes dores o pobre homem e atraía muitas
visitas.
Um dia, em presença de muitos pagãos idólatras co­
meçou o demónio- a gritar:
—■“ Sémf que venha o Servo de Deus Vivo, Swi-
“ berto, Bispo dos Cristãos, não sairei daqui.”

Sabes muito bem, que S. Swiberto foi um dos Após­


tolos da Prísia, e de uma parte dai Alemanha.
Como o demónio gritando nâó cessava de repetir
aquilo, os idólatras confundidos se retiraram, sem saber
o que faaer.
Depois de muita hesitação, resolveram procurar o
Santo e pediram-lhe com instância, viesse ver o ende-
moninhado.
Swiberto concorda,
Apenas o Bispo se põe a caminho, o possesso prin­
cipiou a espumar, a ranger os dentes e a soltar gritos
mais horriveis que nunca.
Quando já vinha chegando perto da casa, o endemo-
ninhado sossega de repente e fica na cama como quem
dorme soltamente.
0 Santo entra, ordena aos companheiros que orem
e pede ao Senhdr que, para maior glória de Seu Santo
Nome e conversão dos incrédulos, se digne expulsar o de­
mónio do corpo daquele desgraçado.
Finda a oração, levanta-se e faz o Sinal da Cruzi so­
bre 0 endemoninhado dizendo:
“ Em Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te
“ordeno, espírito imundo, que saias, desta crea-
“tura de Deus para que ela possa conhecer seu
“ verdadeiro Cneador.”

Imediatamente o espirito maligno sai e deixa após


de si um cheiro horrível (1).
Ebrio de felicidade o liberto ajoelha-se e pede o
Batismio.
Eis, meu caro, o que se passara na Prússia quando foi
tirada do estado bárbaro.
Lá como em toda a parte, foi recebido o Evangelho à
força de milagres; e deles o Sinal da Cruz foi o instru­
mento ordinário.
Qual é boje a Religião dos Prussianos?
Secrá a que ensina a fazer o Sinal da Cruz 71
E 03 protestantes não cessam de repetir que um
homiem honesto não deve mudar de religião!
Estimamos, dizem eles, os homens que se conservam
na religião de seus pais.
Pois, eU|estimo e prezo mais os que se conservam na
verdadeira Religião de seus avós.
A este respeito conheces, sem dúvida, o facto que se
deu com o célebre Conde de Stolberg.
Este Homem amável e sábio, havia abjurado o pro­
testantismo.

(1) Signavit daemoniacum signo salutiferae Crucls, dicens: In


Nomine Domini Nostri Jesu-Christi praecipio tibl, immunde
spiritus, ut exeas ab hac Dei creatura, ut agnoscat suum
verum Creaturem. Statinque cum factores spiritus malignus
exiit. (Marcellin. in vlt. S. Swlbcrt, c. X X .)
Vivamente contrariado com isto, o Rei Guilherme da
Prússia, deixou de tratar com ele.
Correm anos, e o Rei, carecendo de um conselho, mmi-
da chamarj o Conda.
Logo ao chegar, diz-lhe Guilherme:

— “N\ãoy»sso dissimiular-vos, Snr. Conde, que pouco


estimo um homem que mvda de Religião.”
O Conde responde com respeito:
— "E* essa a razão. Senhor, porque eu desprezo pro­
fundamente ã Lutero.

0 Sinal da Cruz é a arma universal e irresistível com


que se expulsam os demíónios do corpo dos possessoa.
A prova disto está nos exorcismos da Igreja,
Se quiseres lançar os olhos ao Ritual Romano, lá
encontrarás o que digo.
Os exorcismos com os bafejos e com o Sinal da Cruz,
remontam ao berço do Cristianismo.
Deles fazem menção todos os Padres, que falaram de
Batismo; e deste Sacramento quasi todos falaram, quer
no oriente quer no ocidente.
Ouçamos a S- Gregôrio Magno:
"Quando o catecúmeno se apresenta para ser
"exorcismado, primeiramente o Sacerdote sopra-
"Ihe ern rosto para que, expulso o demónio, se-
“ja livre a entrada a Jesus Cristo, nosso Deus,
‘■depois, faz-lhe o Sinal da Cruz sobre a fronte e
“sobre o peito dizendo; — Ponho sobre tna fron-
‘te e sobre teu peito o Sinal da Cruz de Nosso
“Senhor Jesus Cristo — (1)
Tais como aqui se os descreve, os exorcismos atra­
vessaram os séculos e a esta hora ainda estão em uso em
todos os pontos da terra.
Onde quer que exista um Missionário Católico e uma
creatura humana a ser subtraída ao domínio de satanás,
ainda que seja na região mais distante e selvagem, faz-se
assim.
Os demônios porém não estão só nos templos pagãos
e nas estátuas dos ídolos onde se fazem adorar, ou no
corpo dos desgraçados que atormentam.
Estão por toda a parte. O ar esta cheio deles.
Infatigáveis, inimigos nossos, constantemente nos
atacam; ora por si próprios, ora por intermédio das crea­
turas.
Mas, sejam diretos ou indiretos, francos ou traiçoei­
ros, diante do Sinal da Cruz, os ataques deles falham
sempre.

Diz Arnóbio:
“ 0 Senhor adestrou nossos dedos para o comba-
“ te, a-fim-de que, pudessemos formar com eles

(1) Cum ad exorcizandum ducitur, primo a Sacerdote insufflec-


tur in faciem ejus, ut, íugato diabulo, Chrlsto Deo Nostro
pateat introitua. Et tunc in íronte C m x Christi agatur, di-
cendo, etc., (S. Greg. Sacrament)
“sobre nossa fronte o Sinal triunfante da
“ Cruz (1 ).”

Entre milhares de outras moças heroinas, expostas


ao perigo, vejamos como Justina de Nicomedia manejava
bem esta arma vitoriosa.
Nobre, rica e dotada de rara beleza, a Virgem Cristã,
apesar de um viver bem simples, e de muito subtrair-se
ao mundo, foi vítima da paixão violenta de um jovem
pagão, chamado Aglaide.
Súplicas, oferecimentos, promessas, tudo ele pôs em
ação para chegar aos apaixonados fins.
Vendo inutilizados todos os esforços, recorre a Ci-
priano, mágico notável da Cidade.
Cipriano encanta-se por ela e em vez de trabalhar
a favor do outro, emprega todos os recursos da magia
em proveito proprio,
Nãc lhe foi difícil obter auxílios do inferno.
Demônios, os mais violentos foram enviados a tentar
a jovem Santa.
Vendo-se assim tão atacada, Justina duplicou as ora­
ções, a vigilanda e a mortificação.
No mais rude do combate fazia o Sinal da Cruz e os
demônios fugiam.
Assim procedendo sempre triunfou brilhantemente
na Virgindade, e teve a graça de converter Cipriano que

(1) Docuit digitos nostros ad bellum, ut dum bellum sive visi-


bilium, sive invisibillum senserimus hostium, nos digltis ar-
memus írontcm triumpho Crucis. (Arnob., in ps 143,)
foi um mártir ilustre e uma nobre conquista do Sinal
libertador ( í) .
Antão, o grande atleta do deserto, cuja vida se gas­
tou a luitar contra os demônios em paroxismos de raiva
e debaixo das mais aterradoras formas, bem sabia ma­
nejar esta arma vitoriosa. .
Que nos fale o digno historiador de um tal Homem.
Algumas vezes, diz S. Atanásio, repentino estrondo
se dava, tremia a cela de Antão e, pelas peredes entrea­
bertas, avançava multidão de demônios;.
Tomavam formas variadas de leões, touros, lobos,
áspides, dragões, escorpiões, ursos e leopardos. '
Cada um vozeava de um modo.
Os leões rugiam como prestes a devora-lo; touros
mugindo ameaçavam-no com os chifres; as serpentes si-
bilavam; oa lobos arreganhavam os dentes; e os leopardos
por variadas cores, representavam as astúcias dos espí­
ritos infernais; figuras medonhas de se ver, vozes hor­
ríveis de se ouvir.
Espancado e ferido, Antão sentia vivas dores mas.
s6 no corpo; sua Alma, atentã, permanecia imperturbável.
Posto que as feridas lhe arrancassem dolorosos ais,
o Ermitão zombando falava aos inimigos;

—^ “ Pela força que tendes, um s6 basta para me


“ combater; mas, porque a força de meu Deus
“ vos enfraquece é que vindes assim em multidão
“ para ao menos me aterrar.

(1) Vida, 26 de Setembro.


Dizia mais:

— “ Se tendes algum poder, se Deus me entregou


“ a vós, eis*me aqui, devorai-me. Porém, se con-
“ tra mim nada podeis, para que tantos esforços
“ inúteis? O Sinal da Cruz e a confiança em
“ Dieus são para uós uma fortaleza inexpug-
“ náA’el. —
Então, raivosos, vendo que por seus ataques só con­
seguiam que 0 Santo zombasse deles, por mil modos
ameaçavam a Antão (1).
A linguagem soberana que com Fé Antão falava aos
demônios, era a mesma de que usava com os filósofos
pagãoa.
Dizia o Patriarca do deserto a estes eternos inves­
tigadores da verdade:

—^ “ De que serve o disputar?


“ Nós pronunciamos o Nome do Crucificado e
"todos os demônios que vós adorais como deuses
".bramam enfurecidos. Ao primeiro Sinal da-
“ Cniz saem dos possessos. Onde estão os men-
“ tirosos oráculos? Onde pâram os encantos dós
"Egípcios? Para que servem as palavras mági-
"cas? Tudo foi destruído desde o dia em que
“ o Nome de Jesus Crucificado soou no mundo.”

Depois, fazendo vir possessos, continuava dizendo


a seus interlocutores:

(1) Signum enim Crucis et Fides ad Dominum inexpugnabilis


nobis murus est. (De vit. S. Antâo.)
“Ora, pois! Por vossos silogismos ou por algu-
“ ma artimanha que vos agrade expulsai destas
“ desgraçadas vítimas aqueles a que chamais) vos-
“ sos deuses. Se o não podeis fazer, declarai-vos
“ vencidos. Recorrei ao Sinal da Cniz, e a hu-
“ mildade de vossa Fé será seguida de um mila-
“gre de Fé e poder.”

A estas palavTas, invocava o Nome de Jesus, fazia


o Sinal da Redenção sobre a fronte dos possessos e os
demónios fugiam em presença dos filósofos confundidos
( 1).
Quase tão numerosos como as páginas da história, são ;
os factos deste genero.
Mas eu os passo em silêncio.

Aos ataques directos e palpáveis, juntam os demó­


nios ataques indirectos e traiçoeiros. ,
' Estes, não menos perigosos que aqueles, são mais fre­
qüentes. ^
Deles há. duas especies: uns são interiores e outros,
exteriores.
Os primeiros são as tentações propriamente ditas.
O Sinal da Cruz é a arma vitoriosa que dissipa as
tentações.
Dizendo isto, não sou mais que o eco da tradição uni­
versal e da experiência de cada dia.

(1) De vita S. Ant.


“ Quando fazeis o Sinal da Cruz, diz S'. Crisós-
“ tomo, ele vos lembra o que a Cruz significa e
“ com isso aplacais a cólera e os movimentos de-
“ sordenados do vosso espírito (1 ).”

Orígenes acrescenta:
“ E’ tal a forçado Sinal da Cruz que, se o colo-
“ cardes diante dos olhos e o guardardes no cora-
“ ção, não haverá concupiscênciia, voluptuosida-
“de ou furor que possa resistir-lhe. Â vista de-
“ le desaparece tudo quanto é pecado (2 ).”
Os ataques indirectos são exteriore.s, quando vêm de
fóra. %
Nlão ha creatura que fuja à influência maligna de
satanás; a das creaturas todas faz ele instrumento de seu
ódio implacável contra o Homem.
Como já o indiquei, este é um artigo do símbolo do
Gênero humano.
Que arma Deus nos deu para nos defendernios desses
ataques e preservarmos Alma e corpo doá^ atentáctós''cía-*
quele que é chamado, e com razão, o grande homidÜa? —
“Homicida uh initio” —■
Todas as gerações católicas surgem de seus túmulos
para exclamar:

(1) Cum signaris, tibi in mentem veniat totum crucis argumen­


tam, ac tum iram omnesque a ratione adversos animi im-
petus extinxeris. (De ador. pret. cru., n. 3.)
(2) Est enim tanta vis Crucis Christi, ut... nulla concupiscentia,
nula libido, nullus íuror, nulla superare possit invidia. Sed
continuo ad ejus praesentiam totus pecati et carnis fugatur
exercitus. (Origen comm. in epLst. ad Rom., lib. V I, n.® 1.)
A arma que Deus nos deu é o Sinal da Cruz.
Todos os Católicos existentes actualmente nas cinco
partes do mundo, unem sua vóz à de seus maiores e repe­
tem : — E’ o Sinal da Cruz.
Escudo impenetrável, torre inconquistável, arma es­
pecial contra o demónio; arma universal cuja força é
sempre superior aos inimigos visíveis e invisíveis; arma
fácil para os fracos, gratuita para os pobres.
Tal é a definição que do Sinal adorável nos dão os
mortos e os vivos.

Eis duas grandes verdades das quáis não podemos


nos esquecer:
1.® — A sujeição de todas as creaturas ao demónio;
2.* — A força do Sinal da Cruz para libertá-las a fim
de que nos impeçam o caminho do benu
Destas duas verdades, sempre antigas e sempre no­
vas, surgem dois factos incontestàvelmente lógicos:
Primeiro: — o emprego perseverante dos exorcis­
mos na Igreja Católica.
Segundo: — o uso constante do Sinal da Cruz entre
os primeiros Cristãos.
Que significa o exorcismo?
A crença da Igreja na sujeição das creaturas ao de­
mónio.
Que espera o exorcismo?
A libertação das creaturas.
Não ha creatura que a Igreja Católica não exor­
cisme.
Segue-se pois que, ela vê no universo um grande ca­
tivo, um grande possesso, uma grande máquina de guer­
ra, sempre dirigida contra nós por satanás.
E que é o uso incessante do Sinal da Cruz entre os
primeiros Cristãos senão um continuado exorcismo?
Todo 0 gênero humano admite com a Igreja:
1.* — que todas as creaturas estão sujeitas ao de­
mónio;
2.** — que todas servem de veiculo a suas malignas
influências;
3.” — que o Homem está em contacto com eles, a cada
hora, a cadiai instante e emi cadat acção.
Portanto nada mais racional que o emprego constan­
te de uma arma sempre necessária.
0 uso incessante do Sinal da Cruz anuncia pois, em
nossos maiores uma profunda filosofia,
. Bem conheciam eles a temível extensão da graride
lei de um dualismo no mundo moral.
Cientes de que o ataque era universal e incessante,
bem compreendiam que a defesa necessária devia ser
tambem universal e incessante.
Os primeiros Cristãos faziam o Sinal da Cruz sobre
cada um dos seus sentidos.
Queres saber porque?
Os sentidos são as portas da Alma; servem de co­
municação entre ela e as creaturas.
Marcados com o Sinal da Cruz, as creaturas já não
podem entrar enl' comunicação com a Alma sem que pas­
sem por um caminho santificado onde perdera a funesta
influência que tinham.
Mas isto ainda não era suficiente para nossos pais.
Faziam o Sinal da Cruz sobre os objetos de uso e
quanto lhes era possável, sobre todas as partes da creação.
Casas, portas, móveis, fontes, limites dos campos,
colunas de edifícios, navios, pontes, m.edalhas, bandeiras,
capacetes, escudos, anéis — tudo era marcadoi com o Sinal
adorável.
Quando impedidos de repeti-lo, por toda a parte e
sempre eles o imobilisavam, gravando-o, pintando-o, es-
culturando-o- ná fronte dé todas aa creaturas por entre as
quais ia-lhes correndo a existência.

Pára-raio e Monumento I
Tal era então o Sinal augusto.
Pára-raio divino para desviar os príncipes do ar
desviando a incalculável malícia deles, o Sinal da Cruz
é muito mais poderoso do que as varas metálicas
levantadas sobre nossos edifícios para descarregar as nu­
vens pejadas do raio. ■
Monumento de vitória que atesta o triunfo alcança­
do pelo Verbo Encarnado sbbre o principe das trévas,
o Sinal da Cruz é como as colunas que, levantadas pelo
vencedor no camipo da batalha, atestam a derrota; do ini­
migo.
Das eminências de Constantinopla contemplamos, com
S'. Crisóstomo, o mundo esmaltado destes Pára-raios e
de.ste3 Monumentos de Vitória.
— “ Mais preciosa que o universo, brilha á Cruz so­
bre 0 diadema dos Imperadores. Por toda a parte ela
ae oferece a meus olhos. Bu a encontro nos Imperantes^
e nos súbditos; nas Mulheres e nos Homens; nas solteiras'
e nas casadas; nas pessoas escravas e nas pessoas livres.
“ Todos são constantes em gravá-la sobre a fronte,
parte mais nobre do seu corpo; e lá ela resplandece como
coluna de glória,
“ Aparece na Sagrada Mesa como na Ordeimção dos
Padres e não falta na Ceia mística do Salvador. -
“ Desenha-se em todos os pontos do horizonte; no
cume das casas, nas praças públicas, nos lugares habita­
dos e nas extensões desertas, nos vaJes profundos e no
alto das montanhas, nos bosques e nas campinas, nas
ondas do mar, no vértice dos navios, nas praias e sobre
as ilhas, nas janelas e nas portas, sobreí as camas, vestuá­
rios, armas, livros, e mesas de comer, nos festins, sobre
os vasos de ouro e prata, sobre as pedras preciosas, nas
pinturas dos quartos e pendente ao colo das Virgens e das
crianças.
“ A Cruz é sinalada sobre os animais doentes e sobre
os possessos do demónio.
“ Com Fé e devoção nós fazemos o Sinal da Cruz na
guerra e na paz, de dia e de noite, nas reuniões festivas
e nas assembléias de penitencia.
“ Para tudo procura-se a proteção do Sinal admirável.
“ Ha nisto algo de estranho?
Não.
Pois o Sinal da Cruz é o aímbolo de nossa Redenção,
o monumento da liberdade do mundo, a metnória da Man­
sidão do Senhor.
Quando tu o fizeres, medita no preço em que ficou
tua Alma. Ela é uma parte de sua virtude.
Deves, pois, fazê-lo, não só com o teu dedo, mas com
tua Fé.
“ Se o gravares assim sobre tua fronte, espírito
imundo não haverá que possa conterse diante de ti.
“ Verá o alfange que o feriu, a espada que o passou
de morte.
À vista dos lugares de patíbulo ficamos tomados de
horror.
Vendo a arma de que o Verbo Etemo Se serviu
para abater-lhes a força e cortar-lhes a cabeça, o dragão
satanás e seus maus anjos, quanto sofrerão? (1) ”
Ficam para amanhã se Deus for servido, meu caro
Frederico, as reflexões que nascem deste espectáculo
arnabatador, tão eloquentemente descrito pelo mavioso
São João Crisóstomo, Patriarca de Çonstantinopla.
Adeus.

<1) Quod Ghristus sit Deus, opp. t. 1 p. 697. Edit. Paris, altera;
id in Math. homil., 54, opp. t. V II, p, 620, et in c. III, ad
Philipp.
DÉCIMA SÉTIMA CARTA

Paris, 12 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 1, Natureza do Sinal da Cruz e o caso Que*
dêle hoje se jaz, — 2. Que cousa anun­
ciam Q esquecimento e o desprezo do Si­
nal da Cruz? — 3, Espetáculo do mundo
atual. —' 4. Permanecer fiel ao 5inal da
Cruz, principalmente antes e depois da
comida. — 5. Volta de satanás. — 6. A.
razáo, a liberdade e a honra o recomen­
dam. 7, A conveniência dos que fa--
zem 0 Sinal da Cruz antes e depois da.
comida.

Meu caro Frederico,


Arma universal — arma invencível nas mãos do-
Homem — pára-raio, marco de liberdade para o mundo
— Monumento da vitória do Divino Redentor, eis o que
sempre foi o Sinal da Cruz desde os primeiros tempos,
cristãos.
Por isso os sentinueintos que inspirava o uso que fa­
ziam dele e o magnífico espectáculo a que vamos assistir.
Terémosi Pé hoje como outrora nossos Pais tinham?"
Para os Cristãos deste século, que coisa é o Sinal da
Cruz?
Que uso fazem dele para si e para as creaturas?
São riiuito vivos, são mesmo verdadeiros os sentimen­
tos de Fé e confiança, de respeito, gratidão e amor que
0 Sinal da Cruz desperta em nós?

A inaior parte dos que ó fazem, não o farão sem


que saibam o que fazem?
Não 0 fazem só a esmo sem lhe dar valor ou impor­
tância?
E quantos há que o não fazem nunca?
Quantos se envergonham de o fazer?
Quantos se incomodam até por ver a outros faze­
rem 0 Sinal da Cruz?
Quantos tiram-no da frente de suas casas, baniram-
no de seus quartos e chegaram até a apagá-lo em seus
móveis.
Fizeram-no desaparecer das praças, dos jardins, dos
passeios, das ruas, dos caminhos, da maior parte dos lü-
:gares, em que nosso» maiores o haviam arvorado.
Que é tudo isto?
Tais sintomas que coisa anunciam?
Queres sabê-lo?
Eleva teu pensamento ao principio que ilumina toda
-a história.

Dois espíritos opostos disputam entne si o império


-do mundo: o Espírito do Bem e o espírito do mal. ;
Tudo 0 que se faz procede da inspiração divina ou
da inspiração de satanás.
O estabelecimento do Sinal da Cruz, o uso incessan­
te que dele se faz, a confiança que nele se deposita, a vir­
tude omnipotente que se lhe atribui, tudo há-de ser ou de
inspiração divina ou de inspiração satânica: uma das duas.
Se procedem da inspiração swb&núa, então a flor da
Humanidade ( — única em fazer o Sinal da Cruz, há
dezoito séculos e mesmo desde além — ) está ferida de
cegueira incurável.
E quem possui plena luz, são os que não pertencem
à classe escolhida do Gênero Humano!...
Seria o mesmo que dizer-se: os míopes, os de meia
vista, e os cegos enxergam melhor do que os que não so­
frem defeitos da visão.
Imaginas tu que haja um orgulho tão arrojado que
seja capaz de enunciar um tal paradoxo?
Ou que haja incredulidade tal para sustenta-lo?
Mas... se o Sinal da Cruz — praticado, repetido,
estimado, considerado como arma invencível, universal,
permanente e necessária à humanidade contra satanás,
suas tentações e seus anjos — é uma inspiração divina,
que juízo queres que eu faça de um mundo que não com­
preende 0 Sinal da Cruz?
De um mundo que o não faz, que o despreza, que
se envergonha dele?
Que juízo deve-se fazer de quem não saúda a Cruz,
de quem não a quor diante dos olhos nem à face do sol?
. Enquanto a natureza humana se não mudar radical­
mente, enquanto a dualidade não for uma ideia quimérica,
enquanto satanás não se retirar do combate, enquanto
OS seres materiais nâo deixarem de ser instrumento de
funestas influências diabólicas, o Cristão de hoje, ,des-
prezador como é do Sinal da Cruz, não passa de um dege­
nerado ramo vindo de uma estirpe nobre.

Este século é um racionalista insensato que não com­


preende nem a luta, nem as condições dela.
O século das luzes é um soldado presunçoso que, ten­
do quebrado as armas e deposto a armadura, cego se pre­
cipita no meio de espadas e lanças, com os braços ligados
e peito descoberto.
A sociedade moderna é uma cidade desmantelada qiv
se acha cercada de inumeráveis inimigos, impacientes por
arruiná-la, ansiosos de passá-la ao gume das armas de
sua guarnição.
Arruiná-la?
E não está ela já arruinada?
Ruína de crenças, ruína de costumes, ruína de au­
toridade!
Ruína da tradição, ruína do temor de Deus, ruína,
da consciência!
Ruína da probidade, da mortificação, da obediência!
Ruína do espirito de sacrifício; da resignação e da
esperança.
Por toda a parte só se vê —i ruínas começadas e ruí­
nas consumadas.
Que resta hoje de pé na vida pública e na vida par­
ticular, nas cidades e nas aldeias, nos governantes e noa
governados?
Na ordem das ideias e no domínio dos factos, das
pessoas e das cousas que ontom eram completamente ca­
tólicas, hoje que resta ainda de pé?
E tudo por que, meu caro Frederico? Tiraram o
Sinal da Cruz!
Eis tudo explicado.
Diminuindo no mundo o Sinal da Cruz, satanás nele
se agita.
0 Sinal da Cruz é o pára-raio do mundo.
Fazei-o desaparecer e o raio cairá operando desor­
dens com suas diabruras.
O Sinal da Cruz é um brilhante troféu que atesta a
dominação do Vencedor Divino!
Despedaçá-lo é dar gosto ao antigo tirano da Huma­
nidade; é preparar-lhe sua volta para uma tirania mais
terrível.
Escuta, meu caro, o que ha dezessete séculos escre­
via um daqueles Homens que melhor conheceram o mis­
terioso poder do Sinal da Cruz.
E’ o mártír, ilustre entre todos os mártires, Sto.
Inácio de Antioquia,
Contempla um pouco este Bispo, de cabelos brancos,
carregado de ferros, vencendo seiscentas léguas, para vir
a Romaj onde seria devorado por leões, à vista da grande
assistência no Coliseu.
Tranqüilo, como se estivera no Altar; prazenteiro,
como se caminhasse para uma festa, E, em seu caminho
semeando instrução, coragem às Igrejas da Asia qua,
à sua passagem, lhe vinham ao encontro.
Em sua admirável carta aos Cristãos de Philipes
(1) ele diz:

“ 0 príncipe deste mundo regozija-se quando vè


“ a alguém renegar a Cruz.
“ Muito bem sabe que a Cruz lhe dá a morte
“ por ser a arma destruidora de seu poder.
“ Vê-la, horroriza-o; e oian-la nmnear, espanta-o.
“ Antes que ela fosse feita, nada desprezou, em-
“ penhou-se deveras para fazer cem que a cons-
“ tmissem. Impeliu com ardor aos filhos da
“ incredulidade a trabalharem na construção de-
“ la.
“ Fariseus e Saduceus, Anás e Caifás, Judas e
“ Pilatos, velhos e novos a todos induziu a que
“ trabalhassem para fazêla.
“ Porém, quando chegou o ponto de vê-la acaba-
“ da, perturbou-se.
“ Lançou o remorso na Alma do traidor, apresen-
“ tou-Ihe uma corda e levou-o a enforcar-se.
“ Aterrou por ura sonho a mulher de Pilatos pa-
“ ra que ela dissuadisse o Governador de con-
“ duí-la.
“ Todos os esforços ele faz então para impedir
“ a conclusão da Cruz. Não porque ele tivesse
“ remorsos; se os tivera, não seria completamen-
“ te mau.
“ Foi porque, ciando acordo, viu a própria derrota.

(1) Cidade de Maccdonia, que mu cedo abraçou o Cristianismo.


Not. do trad.
'E nâo se havia en gan ad o!.. . A Cruz é o prin-
‘ cipio da condenação de satanás, a causa de sua
‘ ruína, a origem de sua morte e derrota.”

Daqui, meu caro Frederico, temos dois pontos de dou­


trina.
1.® 0 demónio tem medo e horror à Cruz e ao seu
Sinal.
2.® A o v e r uma A lm a ou uni país sem o Sinal da
Cruz, satanás aí entra e fic a à vontade.
E é tão inevitável que lá ele fin n e seu domínio quan­
to impossível é se obstar que, ao por do sol, as trevas su­
cedam à luz.
0 mundo actual é disto uma prova sensível,
N ão é do dilúvio de negações, impiedades e blasfê­
mias inaudita.', de que ele está inundado, que eu falo.
Falo é de outra coisa gravíssima.

Um Homem que, no meio de doidos procede com ju í­


zo perfeito e outro que, numa roda d « ladrões, respeita a
propriedade alheia, ambos se colocam no singular,
E por isso se tornam eles ridíctilos?
Para eles singvlwrizar-se, quer dizer colocar-se no
singvM r, praticando um ato ridicido.
Resta esclareces, se — fazer o SivaJ- da Cruz antes
e depois de com er seja colocar-se no singular e fazer um
papel rid icvlo.
Não ha dúvida que sim, respondem eles, porque é
fazer o que os outros não fazem.
Mas, além destes outros, há também uns ouiros e
mais outros t há outros que fazem o Sinal da Cruz e ou­
tros que 0 não fazem. Portanto, fazendo-o ou deixando
de fazê-lo, ficamos sempre no plural.
Somos nós ridículos por fazê-lo?
Para responder a isto, basta ver quem ção esses
outros que fazem o Sinal da Cruz e esses outros que o
não fazem.
Os que o fazem somos nós e os da nossa família,
E não somos únicos.
No meio de nós, em volta de nós. estão os bons Ca­
tólicos.
Conosco estão há dezoito séculos, todos os Católicos
verdadeiros, instruidos e corajosos tanto do oriente co­
mo do ocidente.
E estes Católicos são os que constituem exactamente
a flor da Humanidade. Ora, ninguém é ridículo por tais
companhias; antes é completamente ridículo o que não
as tenu
A proposição é para todos indiscutível menos para
os outros, aqueles que se contentam com palavras e que
pretendem com elas contentar os ouiros.
Que a flor da Humanidade fez sempre o Sinal da
Cruz antes de comer, é ponto bem determinado. Os Padres
que já citei: Tertuliano. S. Cirilo, Sto. Efréia, S. Crisós­
tomo, não deixam dúvida alguma sobre a universalidade
desta prática religiosa entre os Cristãos da primitiva
Igreja.
Apontarei outros.
— “ Quando se chega à mesa, e se toma o pão para
o partir, sobre ele se fazem três Cruzes, dando-se graças;
e depois da comida dão-se de novo, dizendo três vezies:
0 Senhor de Bondade e Misericórdia deu o alimento
aos que o temein.
Glória ao Padre, ao Filho e ao Espírito Santo.
Amena” (1)

Que são esse mundo de mesas que giram, se levan­


tam e falami?
Esses espíritos uns que se mostram perversos, ou­
tros que se dizem amigos?
Essas evocações, chamados, essas consultas e passes,
essas conversas com pretendidos mortos?
Que são todas essas artimanhas que. de repente in­
vadiram o antigo e novo mundo?
Ao presente vem-se manifestando uma recrudescên-
cia inaudita de práticas do ocultismo.
Em Paris, o espiritismo forma associações numero­
sas com suas assembléias regulares. Além de uma mul­
tidão de livros, oito folhas especiais lhes servem de oí-
gâos periódicos. Mietz e Bordeaux contam, segundo
consta, muitos milhares de espiritistas. Lyão conta, pelo
menos, quinze mil, com um jornal, que afirma ser o espi­
ritismo a religião do futuro.

(1) Cum in mensa sederis, cacperisque frangere panem, ipsum


ter consignato Signo Crucis. gratias age. Cum igitur surre-
xeris a mensa, rursum gratias agendo tribus vicibus dicas, etc.
(De Virginit., n. 13.)
Serão cousas novas?
Não, a Humanidade já as viu.
Mas em que época?
Quando o Sinal da Cruz não protegia o mundo e sa­
tanás era o ídolo e rei das sociedades.
Reaparecendo elas hoj© em tamanhas proporções até
desconhecidas do paganismo, só nos dizem.
1.® — que 0 Sinal libertador deixou de proteger o
mundo:
2.® — que satanás retomou-lhe o domínio.
Que significa tudo isto?
S ign ifica que após dezoito séculos de Cristianismo,
reaparecem na França milhares de idolatras. Sabendo-o
ou sem que o saibam, fazem elesi publicamente o que há
dois m il anos se fa zia em Delfos, Dodona, Sinope, e em
todas as cidades do antigo paganismo. (1 )

(1) Chegaram as coisas a tal ponto que muitos Bispos se viram


forçados a premunir por novas determinações o Cléro e os
Fiéis de suas Dioceses contra a invasão satânica. (Nota da
4 » Edição franceza.)
Kota da presente edição.
Monsenhor Gaume em Paris já assim falava naquele tempo.
Hoje que se deverá dizer em o nosso querido Brasil? A
Terra áa Santa Cruz, infelizmente acha-se infestada de —*
**centros espíritas e **macumbas'* — **centros esotéricos” —
*^teosofismo" — ” comunhão de pensamentos** que se difun­
dem por jornais, rádios e almanaques; satànás vive, governa
e age, enganando a milhares de pessoas batizadas que se
envergonham de fazer o Sinal da Cruz ou talvez nem o sai­
bam fazer. Já em 1910, o Episcopado das Províncias Ecle­
siásticas Meridionais do Brasil, reunido em São Paulo sob a
Presidência do Eminentíssimo Cardial Arcoverde, houve por
necessário exarar na Pastoral Coletiva de então, à página 13,
o seguinte:
Vês, caro amigo, quão pouco inteligentes são os que
abandonam o Sinal da Cruz?
Lamentemo-los sim ; mas, não sejamos tolos de os
imitar.
P ara nós, .bem como fo ra para nossos pais, o Sinal
da Cruz deve continuar sendo uma coisa santa.
Fazê-lo devotamente antes e depois das refeições é
um dever sagrado.
Assim 0 exigem a razão, a liberdade, a honra.
E xige-o a razão.

Se perguntares a teus condiscípulos, porque não f a ­


zem o Sinal da Crua antes de comer, um deles d irá:
— “ Não quero tom a r-m e singular, fazendo o que os
outros não fazem.

— “ Todos os Católicos se abstcnham da supersti-


‘‘ção e das maldades do espiritismo, segundo man­
ada o Divino Espírito Santo no Deuteronomio: —
"Guarda-te de querer imitar as abominações da-
"quelas gentes, nem se ache entre v ó s.,, quem
“ consulte advinhos ou observe sonhos ou agouros,
“ nem que use m alefícios,... nem quem consulte os
“ pitões, ou advinhos, ou indague dos mortos a ver-
“ dade. (Cap. X V III, vs. 9 e seguintes.) — Os Revds.
"Párocos e Confessores instruam os Fiéis e repre-
“ endam aqueles que pensam ser-lhes lícito frequen-
"tar as sessões espíritas por não terem ouvido lá
"coisas torpes ou impias.''
Hoje tudo isso é uma calamidade que apavora, porque sata­
nás que nunca dormiu, continúa sendo o pai da mentira,
nosso figadal inimigo, habilidoso como ninguém para enganar
os modernos.
Não quero tornar-me ridículo, nem que zombem de
mim por causa de uma prática inútil e fora da moda. —
Não querem tornar-se singulares?!...
A bem deles, quero crer que os coitados nem com­
preendem .0 sentido de tais palavras.
Tornar-se singular quer dizer, colocar-se no singular,
isto é, isolar-se, não fazer aquilo que todos fazem. E
neste sentido o Homem pode muito bem tornar-se singular
sem ser ridículo. Até às vezes somos obrigados a isto, para
não nos tornarmos culpados.
S. Jerónimo diz; — “ Ninguéin se sente à mesa sem
orar e ninguém se retire sem dar graças ao Creador”. (1)
Aos que seidisptensam desta sagrada lei da sabedoria
e do recolhimento, S. Crisóstomo trata-os como bem o
merecem, dizendo;
—' “ Antes e depois de comer é necessário orar. Ouvi,
ouvi bem isto, ó vós todos que à maneira dos porcos, vos
nutris dos dons de Deus, sem levantar os olhos para a Mão
que vo-los dá.” (2)

A bênção da mesa pelo Sinal da Cruz não era só usada


entre as famílias e na vida civil; também era observada

(D N ec cibi summantur, nisi oratione praemissa: nec rededatur


a mensa, nisi reíeratur Creatori gratia. (Epist. X X II, ad
Eustoch. De custod. virginit.)
(2) Et. hymno dicto exierunt in montem Oliveti. Audiant quot-
quot, porcorum instar, contra mensam sensibilem comedentes
calcitrant, et temulenti surgunt, cum oportcret gratias agere,
et ín hymnos desinere. (Homil. 82, in Matt., n. 2, t. V II p.
885 id., HomiL 4a, in ind. n. 2 p. 569. e d it nov.)
e com religiosa fidelidade, pelos soldados em seus acam­
pamentos.
A tal respeito refere S. Gregôrio Nazianzeno um
facto, que se tornou célebre.
Juliano Apóstata gratifica seus soldados, distribuin-
do-Ihes um extraordinário de víveres e dinheiro.
Junto ao Imperador está um brazeiro acêso. Cada
soldado ao passar deixa cair nele uns grãos de incenso.
Sem suspeitar de idolatria, os soldados Cristãos fa­
zem o mesmo que os outros.
Finda a distribuição, reunem-se para saudar o Prín­
cipe.
Foi a taça apresentada a um soldado Cristão, que,
segundo o costume, a abençoou pelo Sinal da Cruz.
Levantou-se logo uma voz que bradou:
— “ 0 que agora fazes está em contradição com aqui­
lo que há pouco fizeste.
— E que fiz eu?
— Pois já esqueceste?
Um acto de idolatria; queimando o incenso renegaste
tua Pé? —
A estas palavras, ele e seus bravos companheiros
saem da mesa, soltam gemidos de dor e de protesto; diri­
gem-se à praça, acusam o Imperador de havê-los enga-
nado'com tanta indignidade; e, pedindo nova provação
para confessar a Fé, alto e desassombradamente se de­
claram Cristãos.
0 Apóstata manda prendê-los. Condenados à mor­
te, são conduzidos ao lugar do supUcio.
Mas, SÓ para não aumentar o número dos mártires,
Juliano comuta-lhes a pena e os envia aos pontos mais
remotos do Im pério (1 ).
Quando entre os convivas se achava um Padre, a ele
competia a honra de fa zer o Sinal da Cruz sobre os ali­
mentos (2 ).
A benção da mesa era por tal modo considerada uma
coisa tão santa, que, no século IX , os Búlgaros, conver­
tidos à Fé, perguntavam ao Papa Nicolau I, se o simples
Fiel podia nesta ocasião substituir o Padre.

“ Sem dúvida, responde o Papa; a cada um está


“ concedido o direito de, pelo Sinal da Cruz, pre-
“ servar-se das ciladas do demónio, a si e a quan-
“ to lhe pertencer; é mister triun far dos ataques
“ do inimigo pelo Nome de Nosso Senhor.” (3 )

A s vindouras idades hão de ainda restituir e perpe­


tuar esta prática entre os verdadeiros Católicos do orien­
te e do ocidente.
E tu bem sabes que entre muitos ela ainda hoje per­
dura.

Conhecemos já os que fazem o Sinal da Cruz antes


de comer.

(1) Orat, 1 contra Julian: Thedoret, Hist, lib. III, c. X VI.


(2) Vid. D. Ruinart. Actes du martyro de Saint Theodote.
(3) Nam omnibus tatum est ut et omnia nostra hoc signo de-
beamus ab insiddis munire diabuli, et ab ejus omnibus impug-
nationibus in Christi triumphare. (Rep. ad consult. Bulgar.)
Vejamos tambem quais são esses outros tais que o não
fazem.
São eles:
os pagãos,
os judeus,
os maometanos,
os heréticos,
os aievs,
os maus católicos, c os católicos ignorantes, escravos do
respeito humano.
Eis quais são os que não fazem o Sinal da Cruz e
quais os que zombam de quem o faz.
De que lado estará a singularidade ridícula?
Adeus.
Até amanhã, se Deus quiser.
DÉCIMA OITAVA CARTA

Paris. 13 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 2. A honra exige que se jaça oração anícs
e depois da comida, — 2. Orar antes e
depois de comer é tão antigo como o
universo, tão extenso como o gênero hu­
mano. — 3. Benedicete e Graças de to­
dos os póvos, — 4. Quem não pratica
tais prôvas, assemelha-se aos sêres que
não pertencem ao gênero humano.

Caríssimo Frederico,

A honra nos obriga a sermos fiéis ao antigo uso do


Sinal da Cruz, antes e depois da comida. Teus condisci-
pulos, pelo contrário parecem crer que honroso seja não
respeitar semelhante uso.
Eles dizem:

Não quero tomar-me notado, nem sujeitar-me a zom-


barias.

Passemos à análise deste novo pretexto.

h ttp :/ / w w w .o b ra sca to lica s.co m


A razão, como já vimos, condena os que desprezam o
Sinal da Cruz; logo a honra, que nunca está do lado da
sem-razão, não pode absolvê-los.
Dizem eles que não querem tornar-se notados.
Isto é impossível: por mais que façam, toruar-se-ão
notados,
Não os julgo tão infelizes, que nunca se encontrem à
mesa com verdadeiros Católicos; e, neste caso, hão de tor­
nar-se tristemente notados.
Temos de novo a questão, já resolvida, dos outros e
dos outros.
Quanto à zombaria, que eles temem, ela na verdade
afecta aos que se tornam notados, apenas com esta dife­
rença: que o verdadeiro Católico em vez de zombar, tem
deles dó e piedade.
Todavia, quero ser indulgente, contentando-me com
expor teus condiscípulos e outros tais, à nota dos Católico.s.
Vais ver porém que abstendo-se eles de orar antes da
comida, a pretexto de se não tomarem notados, desonram-
se aos olhos da humanidade inteira.
Quem de livre vontade, se coloca na classe dos bru­
tos, desonra-se aos olhos de todo o homem sensato.
Até agora só era conhecida uma classe de seres que
comiam sem orar; hoje conhecem-se duas:

os brutos
e os que se lhes assemelham.

Entre um homem que come sem orar, e um cão, qual


a diferença?
SÓ encontro uma e a academia de ciências tambem
não vê outra: o prim eiro é um bípede, e o segundo, um
quadrúpede; porém, ambos são brutos.
Bípede ou quadrúpede, sentado ou deitado, grasnan-
do ou grunhindo, têm eles as mãos ou as patas, os olhos, o
coração e os dentes cravados na m atéria e devoram estü-
pidamente o alimento, sem levantar a cabeça para a Mão
que o reparte.
0 homem que assim procede, foge de gênero humano.
Senta-se à mesa. como o bruto; como o bruto lá per­
manece; e é tambem como o bruto que se levanta.
Que te parece desta proposição?
Muito absoluta?
E, contudo, tu a aprovas.
Oiço-te dizer:
— E ’ verdade. Antes de nossa época, só os brutos
— boia, jumentos, mulas, porcos, ostras, crocodilos é
quo comiam sem rezar.
Nada mais ceito do que isto.

A O RAÇÃO D E PO IS D A C O M ID A É T Ã O A N T I ­
GA, COMO 0 U N IV E R S O , E T Ã O E X T E N S A COMO 0
G Ê N ER O H U M A N O .
Existe desde toda a antiguidade.
E ntre os Judeus:
“ Quando comeres, diz a lei de Moisés, e estiveres sa­
tisfeito, bendiz ao Senhor ( 1 ) . ”

(1) Cum comodcris. ct satialus fucris, bcncdicas Domino. Deut.


V III, 10.)
Eis a oração para depois da comida.
Fiéis a esta prescrição divina, observavam os an­
tigos Judeus ao comes, as cerimônias seguintes;
0 pai, rodeado de seus filhos, dizia:
“ Bendito seja o Senhor Nosso Deus, cuja Bondade é
que dá o alimento a toda a carne”.
Depois, tomando na mão direita um copo de vinho,
benzia-o, dizendo:
“ Bendito seja o Senhor Nosso Deus, que creou o fru­
to da vida”.
Era então o primeiro a beber dele; depois o passava
aos outros, que tambem bebiam.
Seguia-se a benção do pão.
Tomando-o todo inteiro nas duas mãos, o i>ai dizia:
“ Bendito e louvado seja o Senhor Nosso Deus que da
terra tirou para nós o pão”.
Em seguida o partia e dele comia um bocado: depois
repartia-o aos demais.
Só então é que começavam a comer.
Quando vinham novos pratos, ou se mudava de vi­
nho, havia bênçãos particulares, de modo a ser cada ali­
mento purificado e consagrado.
Acabando de comer, cantavam um hino em ação de
graças (1).
Todos estes ritos se tornaram mais veneráveis, quan­
do depois foram praticados pelo mesmo Filho de Deus
feito Homem — Jesus Cristo, Nosso Senhor.

(1) Eis his omnibus apparet, vetercs illos judaeos, nullos cibos
nbsquo benedictione et gratiorum actione, sumere fuisse soli-
los. (Struckíns, Antiq. convivial., lib. II, c. X X X V I, p. 436,
ed. in íol. 1695.
Nada mostra melhor a importância deles.
Que faz o Divino Mestre do gênero humano, quando
na ultima ceia come o cordeiro pascal com seus discí­
pulos?
Que faz Ele, quando, depois da ceia, canta com seus
discípulos o hino de graças?
E t hymno dicto exierunt in montem Oliveti.

Obedecendo religiosamente à Lei Sagrada toma o


cálice, abençoa e o passa a cada um dos convivas íl).
Em moitas outras circunstâncias vemos o Modelo
eterno do homem, rezar antes de tomar ou dar alimento.
Vai partir pão e dividir peixinhos para repartir ao
povo.
Toma os cinco pães e os dois peixes, levanta os olhos
ao Céu, e os benze (2).
Tudo isso, dizem os Santos Padres, está indicando a
benção dos alimentos. ,
0 Verbo Encarnado procedeu assim para nos ensi­
nar, que jamais devemos comer sem nos benzermos e
darmos graças (3).
Causará espanto, porventura, o acharmos a benção
da mesa entre os primeiros Cristãos?
Os exemplos do Homem-Deus não eram a regra de
conduta para eles?

(1) Et accepto calice gratias egit et dixit: Accipite et dividite


inter vos. (Luc., X X II, 17.)
(2) Mar., V III, Math., X IV .
(3) Consacrat sive benedicit panes... ut me doceret, ut mensam
attingentes gratas prius agamus et deinceps cibum capiamus,
etc. (Theophylact., in Math., X V I.)
Que outra coisa faziam os Apóstolos senão recor­
dar-lhes tais exemplos?
Diz Polidóro Virgílio:
“ E’ costume entre nós benzer-se a mesa antes da co­
mida; e isso se faz imitando a Nosso Senhor (1).”
Em duas ocasiões Jesus Cristo no deserto, benzeu
os p>ães; e, em Emaús benzeu a mesa em presença dos
dois discípulos.
Tertuliano tambem diz:
“ Cessa o acto de comer e começa a oração (2 ).”
De novo se poderia aqui citar — S. Crisóstomo, S.
Jerónimo, Orígenes e muitos outros Padres Latinos e
Gregos (3).

O Bevedicite e as Graças dos primeiros Cristãos,


possuímo-los até em versos magníficos que são de Pru-
dencio:
Cristi privs Genitore potens, etc.
Estes cantos de depois da comida são mais uma.
prova da pontualidade com que nossos avós se conforma­
vam aos exemplos de Nosso Senhor, que se havia toma­
do obediente às prescrições de Deus, Seu Pai.

(1) Nostris mos est mensam jam instructam sacris quibusdam


sanctificaxe verbis, priusquam vesci incipiant.
(2) Oratio auspicatur, et claudit cibum. (AboL, III, 9.)
(3) Vid. Duranti. De ritibus Eccl. Catli., lib. II, p. 658, edt. 1592.
Eis em prosa mais outro monumento de nossa an­
tiguidade, três vezes venerável.

Antes da comida:

— “ ó Vós que ali mentais a tudo quanto respira,


dignai-Vos abençoar os alimentos que vamos tomar. Dis-
sestes -que, se invocando Vosso Nome nos acontecesse
beber alguma cousa envenenada, não sentiríamos nenhum
mal, porque w is Omnipotente. Eliminai, pois destes ali­
mentos o que el.es possam conter de prejudicial e m alfa­
zejo ( ! ) . ”

Depois da comida:

— “ Bendito sejais Senhor Nosso Deus, que desde


nossa infância nos haveis alimentado; e conosco, a tu­
do o que respira.” —
Profundamente filosóficas, como vt:remos, estas fó r ­
mulas atravessa^m os séculos.
Com ligeira modificação ou sem isso, vês ainda sen­
do usadas por os Católicos até nossos dias.
Apesar de suas hostilidades contra a Igreja, muitos
protestantes conservam-na assim mesmo.
Ainda hoje, na Alemanha e na Inglaterra, grande
número de f^amilias protestantes não comem sem que-
prim eiro rezem.
O que te parecerá mais estranho é que — a bênção
da mesa se encontra até entre os povos pagãos.

(1) Vid. Mamachi, Costum, de primitivi Christiani, t. ll, p. 47,


Origen., p. 36.
Sim, meu caro F rederico; teus condiscípulos, discí--
pulos e admiradores do.:; gregos e dos romanos, que são-
hoje modelos obrigados para rapazes de colégio, esses
teus condicípulos envergonham-se de fazer o que gregos.
e romanos tão religiosamente faziam.
Eis o que nos afirm a Ateneu:

“ Nunca os antigos comiam, sem prim eiro implorar


os deuses ( 1) .

Falando dos Egípcios em particular, acrescenta:

“ — Depois de se recostarem à mesa, levantavam-se-


de súbito, punham-se de joelhos, ■e o chefe do fes^m ou o-
sacerdote começava as orações tradicionais, que os ou­
tros com ele recitavam. Depois de novo se recosta-
vam (2 ) ” —
O mesmo acontecia entre os romanos.
Referindo-se ao assassinato de um homem perpetra­
do num jan tar por ordem do cônsul Quinto Flaminioi para
agradar a uma cortesã, T ito -L ívio a!1sim se exprim e:
— “ Este acto monstruoso fo i executado quando, en­
tre copos de vinho e iguarias, é costume orai’ aos deuses
e oferecer-lhes libações ( 3 ) . ” —

(1) Veteres nunquam cibum cepi^e nisi prius deos placassent.


(Depnosophis, lib. IV.)
(2) Port discubitum surgebant rursus, atque in denna procidebant,
et praecunte, seu sacrorum administro, patrias quasdam pre­
ces simul profundebant, quibus absolutis, denuo mensae ac-
cumbebant. (Ibid., lib. IV.)
(3) Commissum est facinus hoc saevum atque atrox inter pecula,
atque epulas, ubi libare diis dapes, ubi bene precari mos esst.
(Decad. IV, lib. IX.)
As libações, como sabes, er^m uma especíe de oração
por toda a parte conhecida, e muitas vezes repetida.
Os romanos faziam-nas quase a todas as horas do
d ia: de manhã ao levantar; à noite ao deitar, quando
principiavam uma viagem ; nos sacrifícios; nos c a s p e n ­
tos; antes e depois da- comida.
Não tocaram em alimentos sem consagrar uma par­
te deles à divindade.
O que sobejava do festim era posto sobre o pequeno
altar, chamado patella.
Isto constituía. para eles o benediciíe e as grafas.
N otável tradição de uma perpetuidade universal!
Vim os entre os judeus bênçãos novas a cada mudan­
ça de vinho ou a cada novo prato.
O mesmo uso havia entre os romanos.
A cada novo prato havia liba^ções particulares em
honra dos deuses.
Cada conviva derrarna^^^a sobre a mesa ou sobre a
terra, um pouco de vinho de seu copo, com ce^ a s orações
dirigidas' aos deuses. (1 )
A os romanos tinham os gregos servido de mestres.
E ntre eles, a. me^sma frequência e o mesmo uso das
libações no princípio e no fim dos ágapes, as mesmas ora­
ções particulares a cada mudança de vinho.
— “ Sempre que se oferecia vinho puro aos convivas,
diz ^Deodoro da Sicília, era. cost^ume dizer: D om do demó­
nio. ;E, quando no fim da refeição se servia vinho, mistu­
rado com água, diziam : Dom de deus conservador.

(1) Dict. des Antiq. art. libations.


O vinho capitoso era tid o como prejudicial à saúde
da Alm a e do corpo, enquanto que o vinho discreto era
saudável (1 ).
P ara o fim da comida, havia uma fórm ula geral da
acção de graças que se d irigia ao senhor dos deuses (2 ).

O uso de benzer os alimentos era tão respeitado en­


tre os pagãos, que dera lugar a este provérbio:
— “ Não te sirvas do alimento ainda não santifi­
cado.”
“ N e a chyírc-<Jede cibum nondum s^^íificat% m ra--
pias” .
— “ Este provérbio, d iz Erasmo, significa:

— "Não/ vos lanceis ao olimenío’ com^ os brutos; não)


tomeis alimento sem primeiro oferecer dele as primícias
aos deuses.”

Entre os antigos, segundo refere Plutarco., as refei­


ções eram na verdade havidas como coisa sagrada.
E is porque os convivas c o n s a g r a v a aos deuses as
prim ícias dos alimentos e testemunhavam com firm eza
que o comer era para eles coisas misteriosa e santa (3 ).

(1)Olim moris fuit quoties in caena merum vinum dabatur om-


nibus, ut dicatur; boni Daemonis; quum post coenam acqua
temperatum acciamabatur Jovis Servotoris, etc. (lib. IV.)
(2) Post coenam a lotis manibus inferi solere calicem Jovis Ser-
uotoris. (Id., lib. 11.)
(3) Antiquitas enim, ut auctor est Plutarchus, in Symposiaris,
inter rcs sacras habebatur mensa quotidiana, etc. (Apud.
StruAins, p. 441.)
Para liga r a cadeia das tradições pagãs, Juliano Após­
tata, teve o cuidadOJ de ^mandar o sacerdote Apolon benzer
o célebre banquete no arrabalde de Antióquia. ( 1).
Nisto os barbaros imitavam os povos civilisados.
À mesa, faziam os Vândados circular um copo já
consagrado a seus deuses por certas fórmulas de ora­
ção (2 ).
Nas fndias, o rei não comia nenhuma iguaria sem
que prim eiro fosse consagrada à divindade.
Apesar da grande diferença de clima, de costumes e
de civilização, os povos da zona glacial pratical\^am o
mesmo que os da. zona tórrida.
Os antigos habitantes da Lituania e da Samogicia,
bem corno outros bárbaros do norte, chamavam os pró­
prios deuses a santificar-lhes a mesa e eles que eram de-
mónios, apareciam para tal fim .
A um canto de suas cabanas, certes tríbus selvagens
mantinham como ídolos, a u ^ as ^serpentes domesticada!'.
Em certo dia, por meio de uma toalha branca, faziam
que elas subissem à mesa.
A s serpentes comiam então de todas as iguarías e
retiravam-se.
Santificado assim o a li^ n t o , dele os bívi^baros comi­
am sem medo (3 ).

(1) Sozomen., Hist., lib. lll, c. XIV.


(2) Vandali in conviviis pateram circumferentes olim certis ver-
bis consecrabant, sub nominibus deorum. (Grantz., lib. III.
Vand., e. X^XXVII.)
(3) Struckius, ubi supra.
Entre os abissínios, turcos e judeus modernos, acha-
se igualmente a bênção da mesa.
Fiéis às tradições de seus maiores, estes últimos até
c o n s e r v a o uso de muitas orações durante a comida.
Assim, quando aparecem frutas, eles dizem:
— “ Bendito seja o Senhor Nosso Deus, que criou a
fru ta das árvores.”
À sobremesa rezam:
— “ Bendito seja o Senhor Nos!'o Deus, que crcou es­
pécies diferentes de alimentos ( 1 ). ”
Os actuais povos da Indo-China da China e do T i-
bet não fazem excepção ao uso universal.
Estou certo, que ele existe até entre os negros mais
barharos da África.

E screve um Missionário da China:


— “ Chegamos., pouco antes das onze horas, ao
“ g^^nde pagode de Quêm-chouyuêm. E ra o mo-
“ mento em. que os Benzos iam para ai mesa. Eis
“ o espectáculo de que fomos testemunha. Num
“ vasto refeitório, noventa Benzos sentados e co-
“ locados dorso a dorso, diante de uma mesa com-
“ prida e muito estreita, de mãos juntas, e olhos
“ sempre fixos na terra, cantavam palavras, que
“ nenhum de nós compreendeu.
“ Esta oração durou bem dez minutos.
“ O grande Benzo estava no centro, detrás de um

11) Struckius, ubi supra, et, c. XXXVIII. De tibationibus ante


et post epulas.
“ ídolo doirado e diante de uma pequena mesa
“ mais elevada. De lá, onde dominava a assem-
“ bléia, orava sentado como os outros.
“ N o meio do refeitório e em face do ídolo, esta-
“ va um outro Benzo vestido de amarelo que ofe-
“ recia à falsa divindade uma tigela cheia de
“ arroz. Findas as orações, o Benzo colocou a
“ tigela debaixo da barba do ídolo. Então, os
“ creados encheram apressadamente os pratos
“ das diferentes mesas. Nenhum dos convivas
“ se m ovia; mas, a um sinal dado pelo grande Ben-
“ zo, todos c o m e ç a r a a comer e n ^ instante
“ devoraram grande número de gamelas de ar-
“ roz, misturado com beringela ( 1) . ” —

E is o bened^^ciíe na sua mais solene form a.


Já o diziam os primeiros Cristãos e dizem hoje os
seminários e as comunidades.
Nossos Missionários acharam a bênção da mesa até
entre os mais degradados selvagens da Am érica do Norte.
N o princípio da com ida lançam fo ra de suas cabanas
as primeiras porções de seus festins, como quinhão reser­
vado ao Grande Espírito, como igualmente oferecem-lhe
as primícias do fumo que sai de seus cachimbos (2 ).
Vês, caro amigo?
A oração antes e depois da comida é tão antiga co­
mo o universo e tão extensa como o gênero humano.
Ora, se a existência de uma lei se reconhece pela
permanência dos efeitos; se, por exemplo. vendo nascer o

(1) Anais da prop. da Fé, n. 95, p. 340, ano 1844.


(2) Anais, etc., n. 216, p. 288.
sol todos os dias, num determinado ponto do horizonte,
qualquer tem direito a dizer que uma. lei regula seus mo­
vimentos, terei eu menor direito a afi^rmar que benzer os
alimentos é uma lei da hu^m^idade?
Observá-la, é praticar o que faz todo o gênero huma­
no; desprezá-la é proceder como os seres que não pe^rten-
cem ao gênero humano.
Literalmente isso quer dizer:
— assemelhar-se aos brutos ( 1 ).
Pergunta a teus condiscípulos se isso é honroso.
Em seguida te darei explicações da lei que prescre­
ve o benzer da mesa.
Adeus.
A té breve, se Deus quiser.

(1) Homo cum in honore esset non intelexit, comparatus ert


jumentis insipientibus, et similis :factus est illis. (Ps. XLVIII.)
D É C IM A N O N A CARTA

Paris, 14 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 1. A benção do mesa é um oto de liber­
dade. — 2. Três tiranos. — 3. Vitória
sôbre o mundo. — 4. Vitória soOre a
corne. — 5. Vitória sObre o demônio.
— 6. Conclusão notável.

Caro Am igo,

“ Os crocodilos é que comem sem orar.”


T al é o axioma que resume as duas últimas cartas.
Dizes-me que teus condiscípulos foram achatados,
pela força dos factos apontados; factos para eles total­
mente novos.
Apesar disso, continuam na mesma; não fazem o Si­
nal da Cruz nem antes nem depois de comer.
Tu é que agora o fazes impunemente porque eles te­
mem o axioma.
Grandes palradores da liberdade e da independência,
teus condiscípulos como outros muitos são os mais vis es­
cravos do tirano ainda mais vi1 do que eles — o respeito
humano.
Pobres rapazes!
Para encobrir a própria escravidão, querem ainda
dizer:

— O Sinal da Cruz stObre os alimentos é causa inútil


(• lo m da moda.

Quem ainda faz isso pertence à classe mais oUr menos


lespeitávcl dos tpapalvos.
Os Padres e os Religiosos são papalvos.
Os verdadeiros Católicos de todos os países são
papalvos.
Os judeus, os egípcios, os gregos, os romanos, são
■papalvos.
A flo r da humanidade é papalva.
A humanidade em geral é papalwa.
O pai, ^mã.e, irmãs deles são papalvos.
S6 eles é que são os sábios, só eles é que são os ilu.s-
tm.dos, entre os morteis.
Para rasgar essa mascara com que pretendem enco­
brir-se, vou provar as d ^ coisas seguintes:
1.0 A Bênção da mesa -e o Sinal da Cruz são um acto
de liberdade, um acto mui útil, ^ acto que só saiu da
m^oda nas baixas regiões do moderno idiotismo.
2.0 A razão, a honra e mais esta consideração, jus­
tificando plenamente nossa conduta, explicam o proce­
dimento do gênero humano.
2

Três tiranos disputam a liberdade do Homem.


São: o mundo, a carne e o demónio.
Para escaparmos à escravidão deles é que nós, e
conosco a humanidade, nos benzemos tl benzemos a mesa.
Já o vimos e eu o repito;
Não fa ze r o Sinal da Cruz antes de comer, é separar-
se da flo r da humanidade; e não orar é assemelhar-se ao
bruto. —
Em ambos os casos vê-se a escravidão de quem dei­
xa. .de fazer tais actos.
Fresta bem a atenção.
Quem se submete a um poder despótico é escravo.
Poder despótico é aquele que não tem direito de po­
der mandar ou aquele que manda contra um direito, con­
tra a rrazão, contra a auto^^lde.
Qual é o poder que me proíbe fa ze r o Sinal da Cruz
antes de comer?
Quem chega até a ameaçar-me com suas zombarias,
se eu tiv e r coragem de. fazê-lo?
Qual é o direito que ele tem para isto?
De onde procede um tal mandato?
Quais os títulos com que se alinhava à minha doci­
lidade?
Quais as razões a fa v o r desse poder sobre mim?
Este poder usurpador é o mundanismo actual.
E ’ o mundo desconhecido nos anais dos ^séculos c^o-
tãos.
E ’ o mundo dos salões, dos teatros, dos cafés, das.
tabernas, oo agiotagem e da bolsa.
O uso desse mundo, a impiedade desse mundo, o den­
so materialismo desse mundo, a tirania desse mundo é ■
que está dominando a Beócia (1 ) das inteligências.
Eis a menoridade que nascera ontem, e hoje é já
decrépita.
Essa menoridade atrevida sempre em revolta contra.
a razão, contra a hcnra, contra o gênero humano, é que ■
tem a pretensão de me im por os seus caprichos! . . .
E hei-de ser tão covarde que me subme^ta a tal po­
der tão atrevido?
Num desacordo tal com a razão, com a honra, com
a flo r da humanidade, poderia alguém ter coragem de-
falar em digwidade, independência e liberdade?/ . . .
ó soberba louca e v ã !
P o r debaixo do ouropel do orgulho se escondem os^
ferros da escravidão.
A máscara fu ^ d a com que se apresentam, mal enco­
bre a figu ra do bruto.
Mas o bom senso aqui repete :

Midas, o rei Midas íem orelhas de burro.

Do cumprimento delas se lisonjeiam os independen­


tes de hoje.
T a l independência nós os papalvos não a queremos
por nenhum preço.

(1) A Beócia pertencia à Grecia antiga. Seus habitantes eram.


tidos por estupidos. (Not. do tradJ
E ’ vergonhosa a escravidão do mundo; e mais ver­
gonhosa ainda, a escravidão do vício.
A ingratidão é um vício.
A gula é um vício.
A impurem é um vício.
Contra estes tiranos protegem-nos o Sinal da Cruz
e a oração, antes e depois da comida.

Ha hoje duas escolas diametralmente opostas:


a escola do respeito e a escola do desprezo.
A primeira respeita — ^^us, Alma, corpo, igreja,
-Autoridade, tradição, creaturas.
Para ela tudo é sagrado; porque tudo vem de Deus
e tudo deve voltar para Deus.
Ela ensina a usar de tudo com certa dependência,
porque nada é meu; com certo temnr, pm-que de tudo te­
nho a dar contas; com muita gratidão, porque tudo é be­
n efício; até o próprio ar que lespiro, não é nosso; é uma
dádiva de Deus.
A segunda escola despreza tudo: — creaturas, tra­
dição, Autoridade, Igreja, corpo, Alm a, Deus.
Mestres e alunos usam e abusam da vida e dos bens
de Deus, como se de tudo fossem eles os proprietários
irresponsáveis.
A prim eira escola tem escrito em sua bandeira —
gratidão.
A segunda é sem bandeira porque é de cegos. Ape­
nas se governam pelos bra^-os de — egoísmo e desprezo.
N o momento em que o homem, comendo consome os
dons divinos necessários à vida., uma e outra sinalam sua
presença. Fiel ao dever do respeito, a flo r da humanida­
de reza e dá graças.
E ’ o profundo sentimento que tem da própria digni­
dade ; por ieso nã() se confunde com o bruto.
Tem a persuasão do dever e não fica muda à vista
dos bens que tão copiosamente recebe da Providência.
A ingraltidão para com os hcmens é coisa odiosa ;
portanto, mais odiosa, mil vezes mais odiosa, é a ingrati­
dão para com Deus.
Ser escravo da ingratidão é ignorância que a primei­
ra escola não aceita nem tolera.
Um coração ingrato jam ais será bom.
Os criados na escola do desprezo envergonham-se de
.ser reconhecidos.
Para eles a gratidão é um peso insuportável.
Comem à semelhança do bruto ou como o filho des-
naturado.
Não encontram no coração nem um só sentimento de
ternura.
N ão têm nos lábios nem uma só palavra de gratidão
para com o Pai, cuja bondade inesgotável provê às ne­
cessidades e até aos lícitos prazeres de cada um deles.
Dizia um ilustre chanceler da Inglaterra:

“ Vêde aquele filh o ingrato que, sentado à me-


“ sa de seu Pai, devoi'a o pão alheio sem nunca
“ nem se lembrar de Quem lho dá! Antes, mui-
“ tas vezes até O ultraja na hora em que está
‘ comendo! E, apenas saciado, como se fo ra um
"cão, lhe volta. as costas.
‘ Tem-se na conta, de quem nada d e v e !” (1 )

E, porque calpestra um dever, .ei-lo quC' se julg-a um


lime/ Proclama-se independente!
Independente do que?
De Quem?
Independente daquilo que é necessário respeitar e-
prezar, para depois v ir a ser dependente, esc-avo daqui­
lo que é neceesário' aborrecer e desprezar.
N a verdade; que triste, que miserável independên­
cia !. ..

Outro tirano senta-se conosco à mesa.


E ’ a gula.
Prendendo aos alimentos a vista, o gosto, o olfato, a
Kula coloca o homem numa posição de idolatria ao ventre.
Em vez de fa la r na abundância do coração, aquela
hoca nãiJ fa la senão do estômago.
Não é das propriedades alimentícias que ele cuida:
nas iguarias s6 tem valor o gosto.
Não come para v iv e r; vive para comer.
P o r isso nele é o ventre -que se desenvolve e domina.
A inteligência emibota-se ; a A lm a torna-se uma po­
bre escrava.

(1) Thomaz Morus, ap. Duranti, De ritibus, etc., lib. II. p. 659.
A mesa lauta é incompatível com a Sabedoria.
Nunca um grande homem fo i glutão.
Todos os Santos foram modelos de sobriedade (1 ).
Olha, meu caro Am igo, falo da gula só como desor-
ík-m na escolha de iguarias, viciada delicadeza a serviço
do paladar, avidez e sensulid.de no comer.
Quando a isto segue-se ainda a intemperança, conte-se
então com uma récua de d ^ ç a s .
A intemperança da gula mata mais gente do que
a espada:

— “ Plures OCcidit crapula, quam gladius ( 2 ) . " —

Nabucodonosor, Farad, Alexandre, César, Tamerlão


com todos os algozes e tiranos que junc.aram a terra de
cadáveres não chegaxam a matar tanta gente corno a gula.
Notável m istério!
N o uso do Sinal da Cruz e da oração, antes e depois
da comida existe uma profunda sa^idoria.
Invocando a^ Deus em nosso auxílio, nós nos armamos
contra um inimigo terrível que ataca todas as idades, am­
bos os. sexos, todas as condições.
A gula é um inimigo que tenta ligar-nos aos mais
grosseiros vícios.
Sabemos que o comer é uma g u ^ a .
I r à mesa é entrar em combate.

(1) Sapientia non invenitur in terra suaviter viventi^. (Job,


X^XXVIII, 13.)
(2) ViRilia, cholera et tortura viro infrunito. (Eccl, ^ X X , 23
et XXXVII, 34.)
Segundo a expressão de um gra^.de gémo, o Sinal
da Cruz nos ensina que para não sermos vencidos, é mis­
ter tomar os alimentos como -quem toma remédio:
sempre por necessidade: nunca por prazer ( 1) .
Quando a escravidão da Alm a começa pela gula,
acaba pela ímpuí^eza.
Quem nutre sua carne só de alimentos delicados,
tem de sofrer-lhe as vergonhosas revoltas.
O escravo nédio e gordo respinga.
Gousa perigosa é o vinho.
Nele reside a luxúria.
Sendo forte, é tão contrário ao bem da A lm a como à
saúde do corpo.
Bebido inconsideradamente espuma em volúpia.
N o P.stomago dos rapazes é azeite lançado ao fogo.

— “ A gula é a mãe da lu:t"líría e o aígoz da castida­


de.” — "S e r glutão e M p ira r a ser casto é querer com
azeife apagar um incêndio.” — “ A gula escurece a inte-
tigcncia." — “ O glutão é um id ólatm ; presta cuíto de ido­
la tria ao! nentre. O templo deste ídolo é a cozinha, a me­
sa, o a lta r; os sacnficadore.? os p in h e ir o s ; as 'l.'itima.<J
são os pratos; o incenso- é o cheiro das iguarias.”

E, ^ r c a bem, meu caro, este templo é a escola da


libertinagem.

(l) Hoc docuisti me, Domine, ut quemadmodum medicamenta,


sic alimenta sumpturus accedam. (Santo Agostinho Confess.,
lib. X, c. XXXI.)
— “ A gula aíaca-nos, e, sempre que íriun/a, chawa
logo a luxúria para fazerem-se m ú í^w regaliaso.”
— e luxúria são doW demónios inseparáveis.
— “ A muítidão lios pratos e garrafas atrai a, muíti-
dão dos espíritos iw-undos, de cuja súcia o pior, o p-rin-
citpal char/ta-se demónio do ventre.
— " A safíde física c moral dos pouos é bem propor­
cional ao número de trabalho dos cozinheiros.” ( 1)

Acaba de ouvir, meu Frederico, os oráculos da Sa­


bedoria divina e da ciência humana.
E ’ a voz dos séculos confirmada pela experiência.
Qual o meio para o homem conservar sua liberdade
na presença de um inim igo tüo perigoso que prende e-
mata lisongeando?

(1) Luxuriosa res vinum. (Prov., XX,l.) —


— Gula genitrix est luxuriae, et castitatis carniíex. (S. Hier.,
Reg. womach., c. XXXVI.)
Qui ventri dum obsequitur, fornicationes spiritum vincere-
vult, is ei similis est qui oleo incendium extinguere -nititur.
(S. Joan Clim. Grad., XIV.)
Deo ventri templum est coquina; altare, mensa; ministre,
coqui; immolatae pecudes, coctae carnes;; Fumus incensorum,.
odor saporum. (Hug. a S. Vict., De claustr. anim., lib. ll, c..
XIX.)
— Esus carnium et potus vini, ventrisque saturitas, semina-
rium libidinis est: nule comicus: Sine Cerere, inquit, et Libero.
friget Venus. (S. Hier., ad Govi., lib. 11
— Immundi spiritus se magis injiciunt, ubi olus viderint
• escarum et potuum. (S. Isid. Hip., De su.m, bon, sent., s.
XLIV, sent 3.)
Gula semper est in pugna... Si guiam non viceris, s-ed ipsa
te viccrit, statim advocat sororem suam, Luxuriam. (S. Bern.,
De inteT. Dom. c. XXXIX; S. Bonav. De pugn. spirit., c. II.)
— Gula et luxuria, conjurata daemonia. (Tertull.)
Muitos morbus, multa/fecunda: innumerabiles esse morbos-.
miraris? esqucs numera. (Senec., Ep. XCV. etc.)
O passado e o presente não conhecem mnis do que
um; e o futuro tambem não conhecerá outro:

Somente um soco^^ro de Deu.s.

E tal socorro de Deus só se obtém pela. oração.


P ara fo rtific a r o homem contra as tentações da me­
sa, fo i estabelecida uma oração especial que é praticada
entre todos os povos.
E mesmo os que fazem nem sempre saem vitoriosos.
Que será dos que nunca a fazem?
E dos que a deprimem, dos que zombam dela?
Quererão porsuadir-nos de que ficam sempre senho­
res do campo da batalha?
P ara os acreditar, não bastam palavras; são neces­
sários factos : e estes são os costumes.
Se em plena luz houvéssemos de vet- os mistérios de
- seus pensamentos, a perversidade dos seus desejos, o tris­
te efeito de suas visitas, a. fedentina de seus discursos ín­
timos, a baixeza de sua conduta?!
T al exibição, porém, não é necessária.
Temo-la cada semana verificada no registo dos es­
cândalos da imoralidade pública.

O sM rado dever da gratidão, como ainda a imperio--


■sa necessidade de nos defendermos da gula e da volúpia,
justificam plenamente o uso da bênção da mesa.
Ouso, porém, aqui acrescentar que ele repousa numa
outra razão de certo modo ainda mais fo rte e mais pro-
■funda.
E ’ aqui onde mais se vê a ignorância e a estupidez
do mundo actual.
Já dissemos que há um Dogma de que por toda a
parte o Gênero Humano tem sempre conservado a lem­
brança.
E ’ este:
Desde que satanás alcançou vitória contra nossos
primeiros pais, isto é, desde o pecado, todas as creaturas
estão M serviço do príncipe do mal.
Como sempre se acreditou na existência de Deus,
todos os povos têm sempre acreditado tambem que as
creaturas pelas influências malignas do demônio, ficam
sendo instrumentos de seu ódio contra o liomem.
Daqui a infinita variedade de purificações emprega­
das por todas as gentes, em todos os séculos, debaixo de
todos os climas.
Há, poi-ém, um acto em que o uso destas purifica­
ções aparece in variável:
E ' o de tom ar o alimento.
A universalida.de e in/lexi6üida.de deste uso, assen­
tam de cheio sobre dois factos.
O prime-iro é ser o demónio da. mesa o- mais perigoso
de todos (1 ).
K o segundo é ser a união oporada .entre o alimento
e o homem a ^ i s íntima de todas poi-que consiste na
assimilação.

(1) lis qui ad luxum mensarum propensi sunt, praeest daemon


belluo maximus, quem ego verebor appelari ventrí daemo-
nem, daemonum pessimum et pernicionssimun. (Ciem. Alex.,
Poedag., lib. II, c. I.)
Do alimento pode o Homem dizer:
— “ E is o osso dos meus ossos, a ca^^e da minha car­
ne, o sangue do meu sangue. ” — ,
Foi, por isso que Deus nunca permitiu ao Homem
perdesse de vista o pei*igo que há em tal contacto.
Nas próprias fórmulas da bênção e da acção de gra­
ças, acha-se a prova de que este medo universal é a ra­
zão profunda do uso do Sinal da Cruz e da oração sotwe
os alimentos.

Cristãos ou pagãos, todos, sem excepção, pedem a


Deus que dos alimentos sejam desviadas as malignas in­
fluências do demónio.
Queres para teus condiscípulos coisa melhoi' e mais
conveniente do que as autoridades bem fo ra da Igreja ?
Baste um só, por todos.
P o rfírio , o m aior teólogo do paganismo, o mais sá­
bio intérprete dos mistérios e ritos da antiga idolatria,
d iz:
“ E ' necessário que todas a.<J habitações es-
“ tôo cheias de demónios. E é por isso que quan-
“ do queremos orar aos deuses, purificamo-las e:t-
“ pnlasndo estes hóspedes malfazejos.

M ais ainda:

De demónios estão cheias todas as creaturas;


“ em modo especial as que saboreiann certos gê-
“ neros de alimentos.
“ Assim,
"quando nos sentamos à ‘mesa, eles não só
“ tomam lugar a nosso até se «n em a
"noi<;.'W corpo.
“ D aí nasce o uso lustraçõe:s, c^ujo fim prin^
“ ri.pal não é tanto invocar os deuses, como ex-
“ pulsar os demónios.
"Ta.ís de‘m ónios se deleitam especialmente inas
“ impurezas do sangue; e, para se saciarem ò
“ vontade, introd‘uzem-se 'no corpo do.S' que lhes
"invem sujeitos.
“ Não há na carne movimento fo rte de volupíii.o-
“ eidad.e ou no espírito a-jpetite violento de con-
■‘cupiscência que não seja excitado p or estes
“ hóspedes ( 1) ” .

Não te parec.e de São Paulo o que acabamos de


ouvir?
Tão precisa é a revelação dos mistérios do mundo
sobrenatural, que bem parece ditas pelo Apóstolo.
Além das influências ocultas e permanentes do de­
mónio sobi’e nossos alimentos, de tempos a tempos Deus
permite factos brilhantes, que revelam :

1.0 — a presença do inim igo;


2.0 — a necessidade de afugentá-lo dos alimen­
to?, antes dE: os tomar.

Em S. G regório Magno, lê-se o seguinte:


“ Uma religiosa entrando na horta do Mosteiro,
"m u uma alface que lhe despertou apetite.
“Apanha-a sem fazer o Sinal da Cntz e, come-a..
"N o mesrrw instante cai por terra., possessa do
“ demónio e entra em medonhas contJ-ulsõcs.
“ C orre logo a socorrê-la o Venerável Abade
“ E q u id o que reza. pedindo alívio pa.íw a desg^'ra-
“ çadtt.
"O demónio atormentado c ^ e ç a . a. g rita r:
— “ O que f o i çue eu fiz ?
“ E n nãO' f i z n^la/
“ Estava en lá bem quieto na oLfase.
“ E la é ç íw a comen sem me afugentar. —
“ Ordcina-lhe o Santo Abade que, mn N om e de
“ Nosso Senhor Jesn.s Cris.to saia. do corpo da-
“ quela. serva de Deus c que n-<io ^a.is ft moleste.
“ O demónio obedece; e a. religiosa fica p leia-
“ mente cn r^ la (1 ).

Estás vendo?
Os factos concordam com os testemunhos.
A teologia pagã com-orda com a cristã..
O oriente concorda com o ocidente.
Os tempos antigos concordam com os modernos.
P o r fírio concorda com S. Gregório.
E teus condiscípulos?

(1) Plenae siquidem sunt eorum (improborum daemonum) aedes


universae, quas ante propterea ipsis ejiciendia expliant, quo-
ties diis supplicaturi sunt. Quin etiam eorundem plena sunt
corpora, quod certo quodam ciborum gencre proecipue delec-
tantur. Itaque recumbentibus nobis non accedunt ipsi modo,
sed etiam nostrum ad corpus adhaerescunt, quae causa est
quamobrem lustrationes adhiberi consueverint, non utique
propter deos potissimum, sed potius ut daemones rccedere
atque alio migrare cogantur, etc. (Apud Euseb., Proep. evang..
lib. IV, c. XXII.)
Que hão-de opor eles a tamanhas autoridades?
Dizer que o gênero humano é um paqjalvo; e que o
uso universal de benzer o alimento é supei^stição que pas­
sou da moda, é cousa muito fácil.
Eu é que não me contento com palavrab.
Dize-lhes que:
se me derem só u ^ razão mesmo do vaior ape­
nas de um ceitil, para poderem com ela se dispensar de
benzer a mesa, ;eu promJeto, a cada um deles, um busto no
Panteon.
Fica pois estabelecido :
Orar antes de comer é uma lei da humanidade.
À nossa época é que estava reservada a. triste tarefa
de produzir espíritos tô.o fortes que achassem glorioso
ao menos algumas vezes ao dia asSiemelhar-se pública-
mente ao. gato, ao cão, ao crocodiloi
Deixo-te nesta verdade.
Amanhã, se Deus quiser, tratarei a questão debaixo
de outro as^pecto.
Adeus.

(D Dia!., lib. I, Dia!., IV.


V IG É S IM A CARTA

Paris, 16 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— 1. üm t:iajor desnorteado. — 2. O Sinal da
Cru.:: é um verdadeiro guia. — 3. A lem­
brança é o pulso da amizade. — 4. im­
portância do Sinal da Cruz. — 5. Lem­
branças Divinas. — 6. .4 ,'ei da imitação.

l\:Ieu caro Frederico,

Perdiào lá pela “ floresta n egra” dos tempos de Cé­


sar, — imensa, horrível, sem morador, sem caminho nem
carreiro — tu te achas só.
Feras rugem rugidos medonhos.
Escm idão de breu.
Piscam relâmpagos.
Trovões rebramam.
Uma chuva torrencial.
Naquele vasto esconderijo dos ursos g e n n â n i^ , a
cuja vista. nos circulos do Coliseu os Romanos aterrori­
zavam-se, mesmo quando sentados nas bancadas inacessí-
vcis, tu não sentirias à falta d.e quem te defendesse e
guiasse?
E, se de repente te aparecesse alguém que te ani­
masse, te defendesse, e salvo te conduzisse até tua casa?!.
Acharias bom?
Aí tens a imagem palidíssima da realidade.
O mundo é para o homem pior, incalculàvelmente
mais tem ível que a floresta; n e^ rr” .
A noite de tempestade, com suas trevas, trovões, re­
lâmpagos, perigos, terrores. .. é muito menos do que a
vida do homem com as consequêndas terríveis do pecado
original.

— Onde estou?
P ara ond.e vou?
Que caminho hei-de ter?

São essas as primeiras inda,gações que lhe surgem


à mente ao homem que anda perdido por este mundo en­
volto em trevas, cheio de angústias, povoado de perigos.
E quem lhe poderá responder?
Quem o animará em um tamanho desalento?
Quem o há-de, guiar?

O S'í’nal da Cntz

T a l como São Rafael Arcanjo ao jovem Tobias, o


Sinal da Cruz se a p rsen ta a ti, a mim, a todos para nos
acompanhar, guiar e defender.
Viajores por este mundo em demanda do Céu, o Si­
na./. da Civuz é guia. seguro que nos conduz s ã s e salvos.
1 — Mãe sempre solícita e M estra infalível, a Santa
Ig re ja ensina isto ao Homem, já desde quando ele anda
no berço.
2 — Tal é o ponto de vista por onde vamos a.::;or;<
estudar este Sinal admirável.

Numa eloqüência divina, o sublime Sinal da Crnz


tlis ■ipa as trevas, aclara os ^caminhos, gu ia o homem e ••-:.^-
ponde-lhe com clareza pacificadora as perguntas que !b_'
causam o pânico da incerteza.

Eis o que ele diz ao homem:

— ” Tu vicste de Deus e a Ele deves voltar.


“ Im agem de Deus que é Todo Am or, é pelo amor
“ que deves a E le regressar.
“ O amor abrange a lembrança e a imitação.
“ Lembra-te de Deus e adora-0.
“ Segue Aquele que disse: — Eu sou o Caminho.
“ a Verdade, a V id a e imitarás a Deus porque
“ Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.
“ Só assim cumprirás estas duas leis fundamC?:-
“ tais de tua existência” .

Nada mais verdadeiro.


E ’ divina esta linguagem do nosao Guia e Sinal.
Para mais o comprovar, entraremos em alguns por­
menores.
3

Em França, como na Alemanha, como em toda a.


parte, hoje, como há quatro mil anos se afirm a que

A lembrança é o .p^ílso da amizade.

Enquanto o pulso bate, teina a vida; quando deixa.


de hater reina a morte.
Do mesmo modo:
Enquanto perdura a lembrança do objecto amado,
subsiste a afeição; quando a lembrança enfraquece a
afeição diminui.
Tudo isto, como sabes, é coisa elementar.
Ser a lembrança um sinal das afeições humanas é
coisa tão c^rte que nas despedidas os amigos não deixam
de dizer:

N ão te esqueças de mim, que eu jamais me esquece­


rei de ti.

E trocam entre eles objectos que durante a ausência,


entretenham recíproca le m b ^ ç a .
Isso que se dlá. com as amizades humanas, dá-se mui­
to mais com o A m or de Deus.
A lembrança de Deus é tudo para o Homem; é a
nosõa vida.
Sen do a lembrança de Deus a prim eira lei de nossa
existência, competia à Sabedoria D ivina dar-nos um. meio-
de a cumprir.
Este meio deve ser universal, porque a lei tambem.
o é.
Este meio deve ser acessível a todos, porque a lei é
para todos: ricos e pobres, !'.ábios e ignorantes, ociosos e
dedicados ao trabalho.
Este meio deve ser de grande eficácia, porque a lei
é fundamental.
A lembrança é uma lei fundamental da humanidade.
Sim, meu caro Frederico; este princípio va i mostrar-
te a im p o rtâ n ia do Sinal adorável.

O que o sol é no mundo físico, em grau muito supe­


rior, infinitam ente acima, Deus é no mundo moral para
todos os respeitos.
Im agina o que seria da natureza, se o sol se apagas­
se, deixando de enviar à teri’a suas torrentes de luz e
calor?!
Não haveria mais vegetação, os rios e os. mares pas­
sariam a ser planos de gelo e a te rra ficaria dura. qual
um 1'ochedo.
Todos os animais daninhos que a luz, detinha no
fundo das florestas sairiam de suas cavemas, e por uivos
medonhos se chamariam p.ara a carnagem.
A desordem e o terror dominariam o Homem.
P or toda a parte reinaria: a confusão, a desespera-
ção, a morte.
Em pouco tempo o mundo fica ria sendo ^ caos.
Pois hem; se a lembrança de Deus, Sol necessário
das intelig-ências, chegasse a desaparecer da mente de um
povo, logo a vida moral entre aqueles homens se extin-
guiría.
Desapareceriam todas as noções do bem e d o mal.
O justo e o injusto se confundiriam no direito do
mais forte.
A guerra atear-ce-ia por toda a parte; guerra de
todos contra todos; guerra que transformaria o mundo
em vasto recinto de assassinos e ladrões (1 ).
Toda a cobiça a mais horrenda, todos os desejos os
mais selvagens e sanguinários, apareceriam nO' coração do
homem, e, ao vendaval dos egoísmos, r o l a r i a em fra g ­
mentos o mutilado das fortunas, das cidades e dos im-
pérics.

(1) O que foi a guerra europea de 1914 a 1918?


Qual a verdadeira causa daquela hecatombe mui cláramente
declarou o Santo Padre Bento XV numa audiência dizendo:
— As mais terríveis feridas que estão carcomendo a hu­
manidade são:

1— A revolta contra a Autoridade;


2— O ódio entre irmãos;
3— A sêde dos prazeres e divertimentos;
4— O aborrecimento ao trabalho e ao sacrifício;
5— Um esquecimento do fim sobrenatural da vida. —

E a terribilissima guerra mundial, incêndio que ainda não


se apagou de todo, qual a última e verdadeira razão dela?
Di-lo o Santo Padre Pio XII quando afirmou que
— Os homens perderam o senso do pecado —
Xoutras palavras:
Hoje não se vive uma vida bem de acôrdo com os Manda­
mentos de Deus.
E porque?
Porque a Lembrança de Deus vai muito postelgada.
E’ notável, muito notável, a VII Pastoral de Sua Eminência,
o Snr. Cardeal Câmara. Arcebispo do Rio de Janeiro, provo­
cada por as sobreditas palavras do Soberano Pontífice Pio XII.
Todo o brasileiro deve lê-la com o máximo interêsse: inte­
resse próprio; interêsse da Família e da Pátria.
Nota da primeira tradução brasileira.
Olhos humanos ainda nunea viram um tal especüi-
culo, porque nunca se velou de todo no universo a luz do
Astro brilhante qua o vivifica.
Mas, o que eles já vira m fo i um mundo sobre o qual
a ideia de Deus, semelhante a o sol envolto em densas nu­
vens, não lançava senão luz fro ix a e incerta.
Apareceram então as tentações sem fim e surgiram
logo os sistemas ocos e imorais, as superstições grossei­
ras e cruéis, as paixões em vez das leis, os crimes em v-cz
das virtudes, o materialismo sem base, o despotismo em
seu auge, o egoísmo geral, os combates dos gladiadores e
os festins de carne humana.
Mesmo entre os judeus o esquecimento de Deus, ain­
da que menos grosseiro que entre os pagãos, produziu
amá.logos efeitos.
Vinte vezes, pelo órgão dos profetas, o Senhor atri­
bui a este crim e as iniquidades de Jerusalem e oS! castigos
que sobre ela pesaram.
Jerusalem, como tu bem sabes, era o tipo dos povos.

Eis. o-qu.e diz o Senhor:


— “ Quem jam ais ouviu fa la r de horrOTes iguais
“ aos que comete a virgem de Israel. . . só por
“ se h aver esquecido de M im?
“ Tu tens seguido o caminho de tua irm ã Sama-
“ ria, e Eu em tua mão c o l a r e i o seu copo.
“ Tu beberás do copo de tua irmã que é largo e
“ fundo e pasaarás a ser o escarnio das nações.
“ Tu serás embriagada à força de dores, embria-
“ gada pelo cálice de amargura e tristeza, pelo
‘‘ cálice de tua i^rmã Samaria.
“ E tu o beberás, e tu o esgotarás até as fézes, e
“ tu devorarás seus fra^gmentos, e tu a ti própria
“ te rasgarás as entranhas.
“ Porque tu te esqueceste de Mim e Me colocas-
“ te por baixo de teus pés, tu carregarás com
“ teu crim e e com o castigo de teu crim e.” (1 )

Será possível caraterizar com mais energia as conse-


quêndas funestas do esquecimento de Deus?
Toda a gravidade do crime avalia-se pela santidade
da lei violada.
Sendo ai lembrança de Deus a lei vital da humanida­
de, calcula bem, meu caro, sobr.e e::ta base a importância
do Sinal da Cruz.
E ’ ele especialmente destinado a a v iv a r no homem
e^sta salutar lembrança.
Digo especiaZmeníe, e com razão.

O Sinal da Cruz é todo cheio de lembranças divinas.


Em fazendo o Sinal da Cruz todas estas lembranças
divinas, como si fo r a um líquido vivificante, penetram
profundamente em toda a minha existência.
Fazeiido o Sinal da Cruz, eu me lembro necessaria­
m ente de Deus Pndre; lembro-me necessàriamente de
Deus Filh o; lembro-me necessàriamente de Deus Espírito
Santo.

(1) Jerem. XVIII, 13; Eseq. XXIII, 31-35.


Lembro-me do Padre Eterno, meu Creador, do F i­
lho Unigénito, meu Redentor, do D ivino Espírito Santo,
meu Santificador.
O Nom e do Padre (a ti. a mim, a todo o Homem,
que tem espírito para compreender e coração para. amar)
o Nome do Padre fa z lembrar todos os divinos benefícios
na ordem da creação.
Eu existo; e a Vós, 6 P ai dos pais, devo eu a. inda que
é a .base de todos os bens naturais, a, vída que Vós me ha-
veis dado a mim de preferência a tantos milhões de se­
res apenas possíveis, mas, que não existem.
Mais.
Eu vos devo a conservação da vida.
Cada pulmção de meu coração é um( benefício; e Vós
o renovai^ a cada segundo do dia e da noite; e Vós me
continuais fazendo há longos anos, apesar d a minha in­
gratidão e do ^ u uso que dele tenho fe ito ; e Vós em
m im o continuais, preferindo-m e a tantos outros que mais
já não existem posto que nascidos quando eu nasci ou
mesmo depois de mim.
A V ós eu devo tudo quanto conserva, consola e em­
beleza a vi.da.
Eu Vod devo tudo, ó P ai Creador! O sol que alumia,
o a r que respiro, a te rra em que me f i ^ o , os alimentos
que me nutrem, os vestidos que m e cobrem, os remédios
que me curam; o meu corpo com os próprios sentidos e
a minha A lm a com suas faculdades; os meus parentes e
os meus am igos; os animais que me servem e todas as
creaturas, visíveis e invisíveis, que pusestes ao meu ser­
viço.
Tudo, tudo me vem de Vossa generosidade 6 Senhor
Padre Eterno!
O Nome do Filho nos recorda todos os benefícios di­
vinos, na ordem da Redenção.
Quando o pronuncio, 6 Filh o Unigénito, Vosso N o ­
me transporta-me aos explendores da eternidade e vejo-.
V os igual ao Padre, sentado no mesmo Trono de in fin ib
felici.dade.
Desço depois de repente, e Vos contemplo Menino
recém-nascido, dei tado em palhas, na pobre mangedoura
de Belém, tremendo de frio, levemente aquecido pelos ca­
rinhosos cuidados da Virgem Mãe e poío b afeja r de dois
animais.
Passo da mangedoura ao Calvário e Vos contemplo
na Cruz.
‘ Que espectáculo! O Monarca dos mundos, o R ei dos
A n jos e dos homens o verdadeiro Filho de Deus sus­
penso num patíbulo, entre o Céu e a terra, no meio de
dois ladrões.
Tem o Corpo rasgado, Pés e Mãos varados por cra­
vos, Cabeça coroada de espinhos e Rosto manchado de
escarros e de Sangue !
E tudo isto, 6 meu Senhor, Vós o sofreis por amo''
de mim.
A Cruz leva-me ao Tabernáculo.
Lá eu me v e jo diante de Deus aniquilado, diante de-
Deus convertido em meu pão, diante de Deus meu; prisio­
neiro como se fo ra meu servo, diante de meu Deus que
obedece a minba voz, a voz de um filho.
Diante daquele resumo de todos os milagres do Amor,,
minha boca emudece.
A linguagem dos A n jos é tão impotente como a dos
Homens para balbuciar alguma coisa i'e.:-peito de um
M istério que só o ^ m o r in fin ito pôde conceber.
Q N om e do Espírito-Santo nos fa z lembrar todos os
benefícios na ordem da santificação.
ó A m o r consubstanciai ao Padre e ao Filh o! E ’ a
Vós que o mundo deove tudo.
Ele Vos deve o Verbo Encarnado, o Redentor:

— “ Qui conoeptus est de Spit'itu Sancto.’

Ele Vos deve a Santa Ig reja Católica, uma outra


Mãe, que é para o mundo e para mim o 'que M aria é para
.Jesus:

“ C7v;do in Sp-i?iíum Sarwtum, & n cía m Ecclesiam Ca-


tftoUcam."

Suas entranhas me geraram, seu leite me alimentou;


seus Sacramentos me fortificam e me curam.
Devo a E1a a Comunhão dos Santos, gloriosa Socieda­
de que me coloca a mim humilde creatura em relações ín­
timas com todas as Hieraquias Angélicas e com todos os
Santos, desde ^Abel até o último dos Escolhidos.
D’ E la recebo e só a Ela devo o testemunho a conserva­
ção do Evangelho.
Benefício inestim ável!
Pois, o Evangelho é o facho luminoso que tirou do es­
tado bárbaro o gênero humano, e obsta a que nele recaia.
Conheces tu, porventura, uma lembrança tão fecunda
•e tão eloquente, como o Sinal da Cruz? O filósofo, o polí­
tico, o Cristão, algumas vezes procura livros para estu­
dar; e este pode substituir todos os. outros. In teligível a
todos, le g íw i a toda a hora, gratuitamente dado aos Ho­
mens, apai'ece entre as mãos de todos. Deus assim o fe z ;
e o que Ele faz, é bem feito.
Lembrar-nos de Deus é a prim eira lei de' noasa exis­
tência. A gora tu conheces bem, caro amigo, a importân­
cia desta. lei e como o Sinal da nos ajuda a c ^ p r i- la .

Imita.r a Deus é uma lei não menos fundamenta.l.


Nunca em nenhum espírito sensato entrou a menor
dúvida sobre tal respeito.
Nã:o será todo o ser como que obrigado a caminhar em
busca. da perfeição?
Não será por isto, e só por isto, que a existência lhe
fo i dada?
A perfeição de um. ente não consistirá na semelhan­
ça dele com o tipo de sua formação?
Um quadro, não será ele tanto mais perfeito quanto
J:IWlhor exprim ir os traços do modelo?
O' Homem é creado à imagem de Deus.
A v iv a r em si traço a traço a Imagem divina e te!
como limites da própria perfeição sõmente a Perfeição
D ivina do nosso Modelo sublime é a L e i da nossa existên­
cia e o írabalfeo imperioso de toda a nossa vida.
“ Eu vos dei o exemplo, dizia o Homem Deus, para
que façais assim como Eu mesmo o hei feito ” .
E seu grande Apóstolo diz:
“ Sêde meus imitadores, como do Verbo Encarnado
eu o sou.”
P ara os que se não apresentarem confonnes ao D i­
vino Modelo, não ha salvação.
Ora, para guiar-nos a caminho desta imitação, nada
mais próprio que o Sinal da Cruz.
A o fo n n a r o Sinal da Cruz que diz o Homem?
Pronuncia o Nome de Deus; porque, — Deus é o P a ­
dre, o Filho, e o Espírito-Santo — três Pessoas distintas,
em uma s6 Divmdade.
Repetindo o Nom e de Deus, o Sinal da Cruz nos põe
diante dos olhos o Modelo Eterno, o Ser por excelência que
reune todas as perfeições e em grau infinito.
Repetindo o Nom e de cada Pessoa da Trindade Au­
gusta, o Sinal da Cruz nos propõe à imitação não só as
Perfeições Divinas, como as Propriedades particulares
de cada uma das T rês Pessoas.
Do Pad re é o Poder In fin ito ; e o Sinal da Cruz nos
diz a cada um de n ó s:
— O In fin ito Poder do Padre, Creador e Governador
de todas as coisas, tu o deves im itar no governo de ti
mesmo, com o poder que deves exercer sobre as paixões,
sobre as máximaP. do mundo, isto é, sobre os usos, sobre as
modas, sobre os intereases, sobre as promessas, sobre as
ameaças dele e ainda sobre tudo quanto fo r contrárin à
dignidade e liberdade de um filh o de Deus.
Somos filhos de Deus e herdeiros da Glória por isso
somos reis como n o s o P a i que está no Céu.
Do F ilh o é a Sabedoria In fin ita ; e o Sinal da Cruz
diz a cada um de nós:
— Deves imitar a Sabedoria do Filho de Deus na
Justiça que em tuas apreciações deves ter e nos juízos que
fazes na preferência que impreterivelmente deves dar à
Alma sobre c corpo, à eternidade sobre o tempo, ao de-
oer sobre os praZJeres; j l1'3tiça em avaliar as riquezas do
Céu que duram sempre e os bens da terra que são passa­
geiros.
Do Espírito-Santo é o A m or In fin ito ; e o Sinal da
Cruz diz a cada um de nós:
— Deves imitar a Caridade do D ivino Espírito-San­
to, purificando e enobrecendo tua vida com afeições san­
tas, guardando até a menor fib ra do teu coração para te
preservares do egoísmo, do ódio, da inveja e dos demais
vícios que geram no in terior a degradação e no exterior a
desordem.
E não será pois o Sinal da Cruz um' excelente guia..
meu caro?
Quem é o professor de filosofia que póde jactar-se de
' apontar mais claramente a cada potência de nossa Alma o
caminho da perfectibilidade?
Todavia não conltecemos ainda senão urna parte des­
ta doutrina.

O resto, para ama^nhã,


se Deus quiser.
Adeus.
V IG É S IM A P R IM E IR A C A R T A

Paris, 18 de Dezembro de 1862.

Sumario:
— l. Imitação de Deus. — 2. O Sinal da Cru::
santi/icodor do Homem e das creaturas.
— 3. Ensinando-nos a Caricüzde, o Sinal
da Cruz é guia eloqüente e seguro.

Caro Am igo,

A s três Pessoas Divinas oferecem à nossa imitação


todas as perfei^ções.
Graças ao Sinal da Cruz é que podemos ver à. nossa
frente, a Santíssima Trindade para imitá-La.
Duas palavras resumem o que hoje mais necessita
im itar-se:

Samtidade e Caridade.

Santidade quer dizer unidade.


E ' a isenção de toda a mistura.
Deus é Santo, po.rque é Uno.
E ’ três vezes Santo, porque é três vezes Uno.
Uno em Sabedona In fin ita ; Uno em Poder In fin ito e
Uno em A m or Infinito.
Nada limita, nada pode alterar em Deus esta tríplice
unidade.
Deus é Santo, completamente Santo, perfeitamente
Santo.
Em todas as Suas obras Deus é Santo.
Em nenhuma delas pode entrar mistura culpável, de­
sordem ou pecado, sem que isso repugne à Santidade de
Deus.
Os Anjos maus sepultados no inferno, Adão c Eva
expulsos do P?.ra.íso terrestre, o mundo afogado no dilú­
vio, Sodoma devorada pelo fog o, o Im pério Romano desfa­
zendo-se aos golpes dos .Bárbaros, as calamidades tanto
públicas como particulares, o in fen io com seu fo g o eter­
no c a grande Vítima. do Calvário crucificada entre dois
ladrões, são outras t:mtas testemunhas da inexorável San­
tidade de Deus em S'uas ereaturas.
Eis a prim eira lição que o Sinal da Cruz sempre me
dá!
N ão posso fazê-lo sem que Ele m e diga:
Imagem Santa do Santo Deus três vezes Santo, ine-
xoràvelmente Santo, tambem tu deves ser ^ t o , três ve­
zes santo, inexoràvelmente santo:

a ) :— na memória,
b ) — no entendimento,
c) — na vontade.

Santo na minha Alm a e no meu corpo; — santo em


mim mesmo e santo em minhas o b ^ ; — sempre santo,
em tudo e em to da a parte, só ou acompanhado; na juven­
tude ou na velhice, — devo ser santo!
Eis a sublime Unidade que devo em mim realizar.

"Hom em , como és grande! (exclama T eitu lian o) Se


chegares a compreeender-te?!
“ O Homo, twntum nomen, si intelligas te !

Não é ainda bastante.


Como faz o próprio Deus, também devo realizar es­
ta unidade mesmo fo r a de mim.
A santidade ou unidade da minha vida deve raiar a
tudo quanto me rodeia.
Acções, palavras, tudo em mim deve servir para di­
recta ou indirectamente desviar do mal o meu próximo,
imagem de Deus como sou e destinado como eu ao mesmo
fim.
Deste dever, tão vivamente recordado pelo Sinal da
Cruz, nascem os prodígios de dedicação qu.e de contínuo
se renovam no seio do catolicismo.
Pergunta, meu caro, a essas legiões de Apóstolos de
ambos os sexos, pergunta-lhes qual o m otivo que os obri­
ga a por ao serviço de bárbaros desconhecidos as mais
distintas inteligências, as mais virtuosas vidas, o sangue
mais n obre! . . .

— “ A rpalavra do M estre (te responderão todos).


Temos mwido o Verbo Redentor a n d a n d o im p ri­
m ir em todos os membros da. fam ília humana, o Sina!
Augusto da Triinda,de.
Im o rta l e divina, esta. Jjalavm de ordem chega até
nof-so coração-; e, onde houver uma /i^onte a ser a r c a d o
o Sínaí libertador, corremos a.íé lá e lá traba.lha.re-
tnos, lá •m^oreremos, se p?’eciso f o r ! . .. ”
Houve, meu caro, ouve a São Francisco Xaviei^, o
generalíssimo dessas legiões heróicas de Missionários, o
São Paulo dos tempos modernos.
Sem dúvida sabes que, por seus trabalhos gigantes­
cos, este homem prodigioso conquistou à Fé e à civiliza­
ção o mundo das índias.
Qual a força. que eleva a tão alta potência a cora­
gem dêle e de seus sucessores até se transform ar em te­
meridade?
Quem vibra-lhes a vontade ao extremo do entusias­
mo, alem das raias da loucura?

— Sanctisa.lma. T rin itas!


Trindade sanUssi^^^a!

Eis o grite de guerra n<>S lábios de Francisco X a ­


vier, tão frequente como a respiração.
Ele te revela e te explica o pensamento que é comum
a todos os Apóstolos e Missionários: do Bem e da Verdade.
Com a vista iluminada pela Fé, lançando um olhar
sobre os numerosos povos da índia, da China e do JapãiO,
Francisco X a vier enxergava todos eLes sentados à som­
bra da morte e em vez do m arco glorioso da Santíssima
Trindade, vê na fron te deles o sinal da besta do Apoca­
lipse.
À vista de tamanha degradação, o zelo se lhe in fla­
ma na Alma.
E do peito in fla n d o irrompe o g rito de gu erra :
— 6 Sanctissima T rin itas!
6 Tri^ndade Saníísrima/
Que vergornha para V ós!
Que desgraça parn a o-bra de Vossas Mãos!

V ai tornar regulares estas imagens desfiguradas.


Para gravar em todas aquelas frontes o Sinal D i­
vino, Francisco X a v ier parte da Europa.
E i-lo: como um gigante mete mãos à obra.
O espaço desaparece debaixo de seus pés.
Os perigos não o intimidam ; antes, ' deles se ri.
O desejo da vontade regeneradora, não conhece por
limites senão os lim ites do mundo.
Ainda. assim, para seu coração, o mundo fo i peque­
no pois andou na sua. vida de Apóstolo o suficiente para
três vezes o percorrer à volta.
Obstando a m orte a que chegasse a todos os pontos
da terra, não o impedia que apontasse aos sucessores as
nações a conquistar (1 ).
^to-lhe satisfeitos os desejos.
Levados nas asas dos ventos, como diz Fenelon, m i­
lhares de Missionários chegaram a todas as ilhas, flores­
tas, e plagas, as mais remotas e inóspitas.
Deles o prim eiro cuidado é : restabelecer na frente
do homem (decaído até o ponto de devorar a carne de
seu semelhante) o- Sinal santificador da Cruz, dizendo,
com o chefe:

— O Sanciissi'OULi T rin ita s ! O' Trindadf' Santíssima!

(1) Vida de S. Fr. Xav., t. Il, liv. p. 208 — 213.


Esta é a força que anima a todos conquistadores.
E a prova disto está em que — prim eiro mar^cam as.
nações in fiéis com o selo da Trindade e depois — tratam
de manter nelas- a divina semelhança.

O Sinal da Cruz fa z m ais: — santifica tudo quanto^


toca, tanto ao Homem como às demais c ^ a t u ^ .
Santificando estas depois de haver santificado aque­
le, encaminha tudo ao verdadeiro fim — a 'IJITI.i^dade.
A F.é universal afirm a que os sinais religiosos têm
o po.der de virtualizar as creaturas inanimadas.
E porque é universal, esta crença não pode ser falsa.
A Igreja , M estra infalível da Verdade, considera-a
como parte do depósito confiado à sua vigilância e-
cuidado.
Pori isso é que todos os dias Ela a pratica e ensina a
praticar.
Não a vêS santificando pelo Sinal da Cruz, há de­
zoito século-s, e em toda a parte, a água, o sal, o azeite, o^
pão, a cei^a, a madeira?
Teològicamante, que quer dizer isto?
Quer dizer. que

— O Sinal da Cruz santifica. ao Homem e até -


::ls creátu.ras insensíveis. —

A respeito do Homem, não quer dizer que o Sinal da


Cruz lhe confere a graça santificante, como os Sacra­
mentos.
. Quer só dizer que nos comunica uma espécie de san­
tificação, semelhante àquela do catecúmeno quando sobre
ele se faz. a imposição das mãos antes do Batismo.
S. Agostinho diz que há va rias e::'pécíes de santifica­
ção (1 ).
O Sinal da Cruz é um acto a -que Deus lijça a. aplica­
ção dos merecimentos de Seu Divino Filho, sem por isso
lhe dar a virtude do Batismo ou da Pienitência.
A esmola não é um Sacramento; e, contudo, afirmam
todos, ser um acto bom, salutar, piedoso, saníi/icantc.
Quanto às creaturas, santificar uma cousa inani­
mada, não é co^nferir-lhe qualidade física, é reduzi-
la à sua pureza nativa, e com u n icr-lhe uma virtude su­
perior à sua natuneza.
Daqui dois efeitos de santificação:
Prim eiro santificar as creaturas subtraindo-as à in­
fluência do demónio.
Segundo torná-las próprias n produzir efeitos, supe­
riores às suas virtudes naturais.
Assim modificadas, to r n ^ - s e , nas mãos do Homem,
instrumentos de cura, armas contra o demónio, preserva­
tivos contra os perigos, tanto da' Alm a como do corpo.
Não poderiam citar-se factos milagrosos, públicos ou
particulares, antigos e modernos, devidos a creaturas in­
sensíveis, santificadas pelo Sinal da Cruz?
Se em vez de folhear fábulas e lendas pagãS! da Gré­
cia e de Roma, as novas gerações estudassem a História

(1) Non unius modi est sactificare; nam et catechumenum secun-


dum quendam suum modum, per Signum Cristi, et orationem
manus impositionis puto sanctificari. (L 11 De peccat. merit.,
c. c x x v n .
da Ig r e ja e a vida dos Santos, saberiam teus condiscí­
pulos, a tal respeito, factos melhor averiguados que os
fie Sócrates e Alexandre ( 1 ).

Pela imitação da Santidade e Caridade Divinas, o


Sinal da Cruz, guia eloquente e seguro, mete-nos e sus­
tenta-nos no caminho de nosso único e verdadeiro desti­
no.
Deus, de Quem somos filhos e de Quem. devemos ser
.a imagem, é Caridade.
Deu.s cfeariías est.
Estas palavras dizem tudo.
Dizem tudo o que Deus é em Si mesmo e nas Suas
•obras.
O Padre, porque é ^Deus, é Caridade.
O Filho, porque é Deus, é Caridade.
O Espírito-Santo, porque é Deus, é Caridade.
A Trindade Santa é Caridade.
Conheces palavra mais linda?
Pois, o Sinal da Cruz, cada vez que o fazemos, re­
pete-a a nosso coração.
Caridade significa união e efu.?âo. Entre. as três au­
gustas Pessoas, tudo é união e unidade.
Unidade em poder, em pensamento::., em operações.
Unidade na essência.
Nunca jam ais a sombra de um desacordo vem per­
turbar -esta h ^ m o n ia encantadora e perfeita.

(1) Vêde Gretzer, p. 696 e seg.


Porque, um s6 Am or, pleno, eterno^ inalterável, cons­
titui a deliciosa ligação da Santíssima Trindade.
Essencialmente comunicativa, a Caridade tende sem­
pre a dilatar-se.
A divina Caridade se dilata com força e abundância
infinitas.
A s obras exteriores de Deus são cinco, a sabeT:

l.a. — a Creação;
2." — a C ^ e r v a ç ã o ;
3.* — a Redenção;
4." — a Santificação;
5.* — a Glorificação.

Assim, crear é am ar; conservar é am ar; rem ir é-


am ar; santificar é am ar; glo rifica r é amar.
Toda a Caridade parte do coração.
E Deus é Todo um Coração.
Conheces talvez, meu caro, uma outra expressão-
mais deliciosa do que esta?
P ois bem : — sempre que fazemos o Sinal da Cruz,
ele no-la repete:

"Deus Chariías esí”

Deus é Caridade.
A ti, a mim, a todo o Homem de qualquer idade ou
condi^id, esta palavra diz o que devemos ser.
Imagem de Deus, nosso dever é — sermos a Ele se­
melhantes.
P ara isto precisamos ser Caridade.
Caridade em nós mesmos e em n osa s obras.
A semelhança de Deus nos é dada eni nós. mesmos
pela graça.
Em noasas obras a semelhança de Deus nos é dada
po 11 um princípio divino, que nos une a todos como pa^rtes
de um mesmo Corpo.
Nosso coroação entra a pulsar de acordo com o dos de­
mais e, repartindo-se em salutares efusões, realiza o últi­
mo desejo do D ivino Mestre, que na O ração da ú lt^ m
Ceia, disse:

— “ P aí, haja unidade entre e'tes, c^omo ha entre


N ó s.” —

Meu caro Frederico, vou apontar-te o questionário


destes pontos que fàcilm ente desenvolverás.
Só eles bastam a mostrar de sobejo a importância
do Sinal da Cruz, como ^ ú a do Homem.
Se teus condiscípulos tiverem ainda a in/elicidade
de duvidar desta verdade, tu lhes proporás calmamente
as seguintes qoosrtões.

— ha .prr&prio que o Sina,l da a re­


cordar-nos Deus e a Sanífesima T r i^ ^ d a . —

E' ou não é verdade?

— O Homem é /om d ao à imagem de Deus.


E ' ou não é. verdade?
— O prim eiro dever e a tendê^da natural de um
ente guaíquer é reproduzir em si o tilpo sobre gue /ora
form^ado. —
E' ou não é verdade?

— N ão se esforçando o H om em por perseverar s.m-


do a. imagem de Deus inevitàvelm ente se íraus/ornw. em
sentelha:nça do demónio, p o r suas paixões desregr^^s, dr
modo que, se tornando de dia p ora dia. ma.is sanfo,
mais carítativo, mais semelhante a Deus, torua-se cadc
vez mais perverso, mais egOÍSota, mais demónio, mo.w; (>,•,-;.
ta"animaltis homo” . —

E ’ ou não é verdade?

Ciente ou incientemente o íwmem tende cmisínnfr-


mente a fa.ze^r tado à própria imagem.

Desta acç.ão permanente resulta a santidade ou a


perversão,

a ordem ou R- desordem,
a salvação ou a ruíno dos indivíduos.
das fam ílias, das sociedades, das crenças e dos cos­
tumes. —
E ’ ou não é verdade?
Ainda que muito minguada lhes seja a lógica e pe­
quena a imparcialidade, a resposta de teus companhei­
ros tem que ser afirm ativa.
Mesmo que a contra,.gosto, teus adversários hão-de
concluir que

— N ada há üio bem ^ ^ ^ ^ o , tão /ilo&IJ/is'(), tão lógi­


co, dizem hoje, como seja o frequente do Sinal da
C ^ . —
Portanto, concluirás tu para eles:
Nem os primeiros Cristãos, nem os Cristãos de to ­
dos os séculos, nem a Ig r e ja Católica, nem a flo r da hu­
manidade, ninguém se enganou conse^rvando invariàvel-
m m te o uso deste Sinal misterioso.
Mais.
Oi erro, a sem-razõo e a vergonha,
estão é do dos que desprezOJYn o Sinal da.
Cruz.
Não se o fazendo,
envergonhando-se de fazê-lo,
ou zombando-se de quem o faz,
é que a gente se coloca na escória
da humanidade desce abaixo dos pagãos e se torna se­
melhante ao bruto.
Que resta pois, caro Frederico, a nós e a eles?
E ' o que te será dito nas últimas cartas, se Deus.
quiser.
Adeus.
V IG É S IM A S E G U N D A C A R T A

P a r is , 19 d e D e z e m b ro d e 1862.

Sumario:
— 1. Decisão de um Tribunal Supremo: —
Devemos praticar, resolutamente, muitas
vêzes e bem o Sinal da Crnz. — 2. Ra­
zões para praticar resolutamente o Sinal
da Cruz. — 3. Estado da saúde física
do mundo hodiemo. — 4. Quat o esta­
do sanitário das Almas no momento atual?

"l.i'O F re d e ric o ,

Q u a n d o n o s t r ib u n a is c iv is é d a d a sentença. d a
q u a l n ão h á a p e la ç ã o , u m a s6 so isa r e s t a a fe z e r-se .

E ' a c e ita r a sen ten ça c u m p rin d o -a .

S o b p e n a d e r e b e liã o e su a s con seqü ên cias, a sen ten ­


ça d ev e c u m p rir-se .

N a s qu estões d e D o u t r in a acon tece o m esm o.

Q u a n d o a A u t o r id a d e in fa lív e l d ecid e u m ponto em


lit íg io , n a d a m ais r e s t a que a c a t a r e s e g u ir a q u e la deci­
são.
S o b p e n a d a m a is g r a v e re b e liã o e s u a s co n seqü ên ­
cias, a d ec isã o do S u p re m o T r ib u n a l deve ser to m a d a
com o r e g r a de ^m .duta.
U m litíg io p e n d ia en tre nós e o s ^prim eiros C ris tã o s .
E r a n e c e ssá rio s a b e r -s e d e q u e lado e s ta v a a ra z ã o .
S e r ia d o s p rim e iro s C r is tã o s q u e fa z ia m m u íía 8 ve­
zes e bem o S in a l d a C ru z ?

O u s e r á dos m o d ern o s qu e o fa z e m p o u cas vezes e


m al?
A q u estão fo i e sc ru p u lo sa m e n te e x a m in a d a .
O s d e b a te s f o r a m pú blico s.
E o s a rra z o a d o s , b em co m p reen d id o s.
D a f l o r d a h u m a n id a d e e ra m o s Ju izes q u e con sti­
t u ía m o T rib u rta l so b e ra n o .
T i v e r a m p o r assesso res.

1.” — a Fé,
2.” — a ra z ã o ,
3.0 — a e x p e riê n c ia ,
4.® — os p o v o s d e
to d a s as cren ças.
O e.grégio T r ib u n a l d e c id iu a q u e stã o d an d o sen ten ­
ça. a f a v o r dos p ^ m e i r o s C r is t ã o s d a I g r e j a .
Que n os r e s t a a fa z e r ?
R e s ta -n o s tã o sõm en te —

R e a ta r a cadeia, de nossas a n íig a s íra d iç õ e s,’


g lo r io s a que f o i tão v ií e desgr(^a,.çad.(/mente cort^tada.

R e s ta -n o s —
P r a t i c a r o0on
1 resolu ção, mu>itas vezes e bem , o S in a l
fbL C ^ ^ .
E p o rq u e não p r a t ic á -lo com r e s v h r à o e bm i
claras?
P o r q u e fic a re m o s e n v e rg o n h a d o s p o r fa z ê -lo ?
N o t a , c a r o a m ig o : fa z ê -lo ou d e ix a r de o fa z cr, não
é coisa. fa c u lta tiv a .

H o n r a -s e m u ito q u e m o fa z .
E q u em n ão o fa z ?
D e so n ra -se .
F a z e n d o -o , tem os a t r á s d e n ós, em v o lta d e nós c co­
nosco, todos os H o m en s, o s g r a n d e s H o m e n s de todoll. os
sécu lo s, os g r a n d e s d o o rie n te e d o ^ocidente, e n fim toda
a im o r t a l N a ç ã o C a tó lic a , isto é, — o a p u r o d a H u m a n i­
d ad e.

E n ã o o fa z e n d o , te m o s a t r á s de nós, e m v o lta de
nós, e conosco o s pequenos her^ege;, os ^ ^ u e n o s in cré­
dulos, os p equen os i g o r a n t e s e os b ru to s. .. g ra n d e s c
pequenos.

F a z e n d o o S in a l d a C ru z , n ó s n os c o b rim o s a nós e
ta m b é m a s c re a t u r a s , c o m u m a d e fe s a in ven cível.

E n ã o o fa ze n d o , a nós e á s c re a t u r a s no3 d e s a rm a ­
m o s e fic a m o s ex p o sto s a o s m a io re s p e rig o s.

O H o m e m e o m u n d o v iv e m a re c e b e r n e c e ssà ria m c n -
t e in flu x o s ou d o ID spírito d o B e m , ou d o e s p írito do m aL

O e s p írito d o m a l a sse n h o re a n d o -se do H o m e m e das


c re a t u r a s , lh e s f a z s e n t ir s u a s m a lig n a s in flu ê n c ia s.

C o rp o e A lm a , e s p írito e m a té ria , tu.do então pai^ece


viciado.
O g ê n e ro h u m a n o tem s e m p re v iv id o n a cren ça des­
t a v e r d a d e fu n d a m e n ta l.

P o r isso, h á dezoito séculos, n o s g r it a m os C h e fe s d o


etern o co m bate, q u e n o s c u b ra m o s a nós e a s c re a tu ra s ,
com o S in a l d a C ru z , escudo im p e n e trá v e l às setas in ­
fla m a d a s d o in im ig o : S c u iu m in quo ig n iío e d ia b u li e x -
tin gu M n tu r sagittae.

Q u a is sold ad os in dóceis e in fié is, quei’em os n ós de­


p o r v o lu n ta ria m e n te n o ssa a r m a d u r a ?

Q u e re m o s f i c a r a peito descoberto, exp ostos e stu p i­


dam en te ao s g o lp e s m o rta is do exército in im ig o ?

S ó p a r a n ã o d e s a g ra d a rm o s a outros?

E que ou tros?

M as . . . , dizem e le s : — O m u n d o a c tu a l n ão f a z o
S in a l d a C ru z, e n e m p o r isso lh e v a i m al.

‘ S i n ão lh e -vai ^ a l , p o rq u e s e r á que s e o u v e re p e tir,


to d o s os d ia s, n a A le m a n h a , n a F r a n ç a , em to d a a p a r t e
e x p re ssõ e s q u a is de q u eix u m es?

‘N ã o h á saiide n a ép oca a c íu a l/ . . .

E s t a e x p re s s ã o que se to rn o u p o p u la r, n ã o co n sta de
p a la v r a s ocas.

Q u a n d o vós m esm os a re p e tis n ão p e n sa is bem ?

A s L e is D iv in a s , fe it a s p a r a o H o m e m que é e sp írito
e m a té ria , tê m n e sta v id a d u a s sa n ç õ e s:

um a, f ís ic a e o u tra , m o ra l.

A p ro fa n a ç ã o p r o g r e s s iv a d o s D o m in g o s e D ia s sa n ­
tific a d o s, o desp rezo das L e is d o je ju m e d a a b s t in e n -
cia, e o a b a n d o n o d a C o n fis s ã o e C om u n h ão , não com -
p^^ometem — só a n o s s a A lm a , n ã o : a sa ú d e d o co rp o lhea
p a g a trib u to .

A e x c ita ç ã o dos n egó cio s, a s a g ita ç õ e s d a política,


a fe b re d o s p ra z e re s (q u e f o r m a o c a r a c t e r d istin tiv o
d esta é p o c a d e m a t e r ia lis m o ) , a m o leza dos costum es,
o h á b ito a n o rm a lís s im o d e f a z e r d a noite dia. e d 01 d ia n o i­
te, p re o c u p a ç ã o d a s e n su a lid a d e nos alim en to s, o consu­
m o assu^stador d as b e b id a s alcoólicas, e o s qu in h en tos m il
b o teq u in s ou ta b e rn a s , q u a n ta con seq ü ên cia p ern icio sa
le v a à sa ú d e p ú b lic a ?

D e on de p ro c e d e a d im in u ição d a s fo rç a s , n a s g e r a ­
ções m o d e rn a s ? ,

S e r á f á c i l a c h a r h o je ra p a z e s n a s condições de p o­
d erem m a n e ja r a s arm as- de nossos avós da. id a d e m é d ia ?

N e m s iq u e r po d em c o m a a^n n adu ra d e le s !

A s n u m e ro s a s r e fo r m a s o p e r a d a s pelos conselhos de
re v is ã o m ilit a r p o r c a u s a do estio lam en to ou vícios d e
o rg a n is m o e a in c a p a c id a d e d e p esso as p a r a o j e ju m ecle-
ciástico a in d a o m a is sim p lific a d o , que s ig n ific a ç ã o
têm ? (1 ).

(1) Um jornal não suspeito, a Nação, oferece reflexões graves


sobre o recrutamento em França. Êle prova “que apezar
dos progre^os suce^ivos da higiene e da vulgarização das
comodidades da vida, a população em vez de melhorar, ràpi-
damente degenera e se abastarda”. Eis resultados singulares
que é forçoso admitir. O progresso, a higiêne e as comodi­
dades da vida, dão conseqUências que ninguém esperava. No
principio dêste século, a altura do soldado éra de sessenta c
duas polegadas, daí passou a sessenta, depois a cincoenta c
oito, hoje está reduzida a cincoenta e seis. E sabe Deus onde
irá parar...
Q u e re p re se n ta o au m en to c o n s id e rá v e l e crescen te
d as b o ticas, fa r m á c ia s e d ro g a ria s ; dos m édicos, das
casas de saúde, dos h o sp ita is e san ató rio s?
E os c a so s se m p re crescentes de s u ^ la io e a lien ação
m e n ta l, q u e t ê m a tin g id o a n ú m e ro s até h o je desconhe­
cidos, a te s ta rã o a f a v o r da. sa ú d e p ú b lic a ?
E ste s e o u tro s fa c t o s c o m p ro v a m que a v id a d o H o ­
m em n ã o é h o je r e g u la r com o a d e o u tro s tem pos.

P o r v e n tu ra p r o g r id e a sa ú d e e b e m e s t a r da n a tu ­
re z a , s o b re a q u a l se n ão f a z o S in a l d a C ru z ?
Q u e s ig n ific a m a s m o léstias d a s á rv o re s , dos b a t a ­
tais, d a s videiras;, dos cereais e h o rta liç a s 1
■ T a n t a s v a rie d a d e s de p la n ta s a ta c a d a s d e m o lé e fia s
g r a v e s e desconhecidas, doen ças re b e ld e s, p o r v e n t u r a é
q u e d e m o n stra m saú de p e r fe it a n a s c re a tu ra s do re in o
v e g e ta l? ( 1 )

(1) Nota da tradução brasileira: —


Que diremos hoje das pragas da nossa lavoura?
1 — A praga do eaíé; 2 — praga do algodão; 3 — praga da
cana; 4 — praga das larangeiras; 5 — praga das videiras;
6 — praga dos abacateiros; 7 — pragas do milho; 8 — pra­
gas da batatinha; 9 — pragas do arroz; e pragas do feijão.
Tudo isso nós temos tido e temos ^mbém so&ido as terrí­
veis conseqüências. Os antigos lavradores, nossos avoengoi,
Homéns de Fé e profunda seriedade, rezavam humildes diante
de Deus impreterivelmente, logo pela manhã ao levantar,
também quando o sol a pino marcava-lhes o meio dia à noite
ao deitar. Nunca foram capazes de tomar alimento por mais
frugal que fosse êle sem que antes e depois da refeição, re­
zassem abençoando e dando graças. Mais. Além disso, quando
se punham a trabalhar se lembravam da Divina sentença que
nos ífira dada no Paraíso terrrcstrc por causa do pecado.
E s t e fen ó m en o , tã o s in is tro e assu sta d o r, por não
haver ig u a l n a h is tó ria , n ã o p a re c e d a r feiçõ es de um
g r a n d e h o sp ital, à p re se n te v e getação , que, à sem elhan­
ç a do g ê n e r o h u m an o , so fre , la n g u e sc e e se v a i estiolan -
do? ( 1 )

— A terra só dará espinhos e abrolhos.


Comerás o pão com o suor de teu rosto; isto é. a
poder de trabalhos e esfórços. —
E por isso ao começar qualquer trabalho nunca deixavani de
se benzer. Antes de principiar a plantação, vinha sempre o
Sinal da Cruz a santificar tudo implorando sôbrc todos as
Misericórdias do Senhor Deus.
Ofereciam religiosamente os dízimos e as primissas, coisas
que os modernos talvez nem saibam o que seja!
&ci.ra afastar as artimanhas do demônio prejudicando a lavou!:-.
com Fé e fer^^or tomavam parte — 1.“ nas solenidades da
Candelária a 2 de Fevereiro; 2.“ na benção de Ramos e Missa
da Ressurreição; 3.o nas Procissões e Missas das Rogações ou
Ladainhas dos três dias que precedem a festa da Ascensão
do Senhor. Sabiam também rezar e Magniíicat e fazer uso
da véla benta e da palma benta. Em tudo isso, andava sem­
pre o Sinal da Cruz.
(1) Ofereço aos olhos de todos a maior parte dos vegetais, que
atualmente sofrem com a indicação das moléstias que os
ferem. L, indica manchas negras ou lepra. — O, sidium. —
F, ferrugem. I, insetos, ou pequenos animais que vivem nas
folhas ou cascas vegetais.

Carvalho. L .I. Roseira brava. O.


Faia. L. I. Ribcs nigra et rubra. L.
Olmo. L. I. Barberina vulgaris. O.
Bordo. L. I. Lilás. L. I.
Betula. L. I. Jasmim de Valença. L.
Chôpo de Itália. L. I. Sabugueiro. L.
Chôpo do Canadá. L. I. Wezelia. L.
Castanheiro. L. Queijeira do Canadá. L.
Salgueiro. L. F. Groselheira. L. I.
Ébano. L. I. Seringa Vulgaris. L.
Tilia. I. Althea. L. I.
Platano. L. Aveleira. L. I.
Macieira. L. I. Vime. L. I.
E ’ u m fa c t o :
N ã o se p o d e n e g a r.
O m u n d o actu al, c o n sid e ra d o n o H o m e m e n a s c re a ­
tu ra s a ele im ed iatam en te su je ita s, é h o je m a is e n fe rm o
q u e o u tro ra .
Q u a l é o m a l que o p e rse g u e ?
E ' o e n fra q u e c im e n to d a vida.
O V e r b o C r e a d o r é que é a v id a , e a v id a toda.
A v id a p o rta n to deve crescer p a r a o s qu e d ’E le se
a p ro x im a m , e deve d im in u ir p a r a os que se d e sv ia m d ’E le .
N o p e n s a r d a I g r e j a e n o de todos os séculos C r i s ­
tãos, o acto e x te rio r m a is u n iv e rs a l e o rd in á rio que^ se r­
v e p a r a c o lo c a r o iH o m e m em contac.to co m o P r in c íp io d a
v id a é o S in a l da C ru z.

Pereira. L. Pionia. L.
Cerejeira. L. Millefolium. L.
^mcixeira. L. Campanula. F.
Pecegueiro. L. O. Ortiga. L. O.
Damasqueiro. L. O. Cardo santo. F.
Amoreira. L. O. Camomila. L.
Larangeira. L. O. Violeta. L.
Videira. L. O. Brithrynum crista galli. L.
Cana de Açúcar. L. O. Margaridas. L.
Roseira. L. O. F. I. Dictera spectabilis. L.
Espinheiro. L. O. I. Rainha dos prados. L.
Glicinia cinensis. L. Heliotropo. L.
Framboezeiro. L. F. Primavéra. L.
Espinheiro. L. F. O. Taraxaco. F.
Lírio roxo. L. F. Feijão. L. F.
Chicórea. L. F. O. Escorcioneira. F.
Escabiosa. L. Aipo. F.
Agrimonia. L. Azeda. F.
Achemilla. L. Couve. L. F.
Trigo. L. F. Nabo. F. I.
Centeio. F. Beterraba. F.
Aveia. L. F. Fava. L. F.
Cevada. F. Trevo. L. O.
Batata. L. Junco. L. F.
E v ó s dele z o m b a is ; n ã o o fa z e is ; n ão o q u e re is f a ­
z e r.
Q u a n to a o s H o m e n s , h o je q u e re m a e ste S in a l (b e m
c o m o à oraç.ão, estações d a V ia -S 'a c r a e p e r e g rin a ç õ e s ,)
q u e re m s u b e titu ir p o r b a n h o s d e m a r ; b a n h o s fr io s , t é p i­
dos, q u e n te s; b a n h o s s u lfu r o s o s e fe r r u g in o s o s , estações
d e V ic h y , d a S u íç a , d a A le m a n h a , d o s P ir in e u s e ou tras.
Q u a n to à s c r e a t u r a s i^ n c io n a is , a acção d o s o b re n a ­
t u r a l q u e re m s u b s titu íd a s pelos e stru m e s a iiif ic ia is , p e la
lim p e z a d a s la g a r t a s , p e la d re n a g e m e p e la e n x o fra ç ã o e
m il o u tro s m eios m o d ern os.
M a s , o o e rto f o r a f ^ r u m a c o isa sem o m itir a ou tra.

" O p o r í e t k a e c facere., et ííla n o n o m itte re .”

O m undo actu al d e sp re z a n d o a S a b e d o r ia D iv in a
p e n s a que p o d e v io la r im p u n e m e n te u m a L e i re sp e ita d a

Devemos erta relação ã bondade de um sâbio naturalista. o


Snr. M. F. Verecruysae de Courtrai. Êle mesmo colheu êste
ano de 1862, folhas de todos êsses doentes, e delas nos man­
dou amostras. Pe^ita-n os êle que publicamente lhe expres­
semos nosso reconhecimento.
As creaturas materiais porque são incapazes de bem e do
mal, só adoecem por tabela, seguindo as condições do Homem.
Centro e resumo da creação, encerra o Homem tôdas as leis,
que regem as creaturas Inferiores. Se êle as transgride, tôda
a natureza sente os resultados desta violação. Tal acontece
com o pecado de Adão. A igual causa reproduzida pelo an­
dar dos séculos, se devem atribuir as moléstias das creaturas
irracionais, sempre na razão direta de suas causas.
Isaías escreveu: — “A terra foi infetada por seus habitantes.
Dai as lágrimas, o luto, a frouxidão da terra, a decadência
do globo, a doença das vidas e as lamentações dos cultiva­
dores". "Luxit et defluxit terra, et in fir ^ t a est ... defiuxit
orbis... et terra infecta ert ab habitatoribus suis, quia ...
^UTAVER^UNT JUS ... propter hoc ... infirmata ert vitis,
etc. (^ X IV , 4 et s. 99.) Habacuc, Jeremias, e os outros pro-
fétas falam nos mesmos termos dêste sofrimento da natureza.
p e la C ris ta n d a d e deco-de o b e rç o do C ristia n ism o , q u an d o .
até m esm o p a g ã o s a re s p e ita v a m .
E ' n o tá v e l a m á x im a dos a n tig o s p a g ã o s :
E ’ n e c e ssá rio o r a r p a r a h a v e r saú de fís ic a e m o r a l! .

‘O r a n d a m est u t s i í m e n s s a n a in c o rp o re s a n o .'

Não d evem os n os q u e ix a r pois, so frem o s o q u e se ■


p ro c u r a so fre r.

M e s m o que, sem o S in a l d a C ru z, a sa ú d e f ís ic a do
h o m em e d a n a tu re z a fo sse tão flo re sc e n te q u a n to se d e -
sej asse, a in d a a s s im e r a m is te r aten der à saú d e m oral,.
b em m a is im p o rtan te.
M a s ...
Q ual é o e stad o s a n it á r io d a s A lm a s n o m undo-
a c tu a l?
M u ito lo n ge m e le v a r ia a resp osta.
Só te fa ç o le m b ra r, m e u c a ro , q u e
M o r a l e fisic a m e n te , o H o m e m e stá n a a lt e r n a t iv a .
in e v itá v e l de v iv e r , ou d e b a ix o d a s a lu ta r in flu ê n c ia do-
E s p ír it o d o B em , ou d e b a ix o d a m a lé fic a a rt im a n h a do.
es p írito d o m al.
O S in a l d a C r u z colo ca-n o s n a p r im e ir a p o sição ; e a.
f a l t a d ele, na. segu n d a.
T a l é a d o u trin a d a I g r e ja .
D o u t r in a qu e f o i c o n fir m a d a p e la p r á t ic a dos la rg o s.
séculos cristãos.
P a r a vós,, a e x p e r iê n c ia d e dezoito séculos n a d a v a le .
V ó s n ã o q u e re is o S in a l lib e rta d o r.
V 6 s n ão a c re d ita is nele.
V ó s n ã o m a r c a is c o m ele n e m a fr o n t e , n e m os lábios,
n em o c o ra ç ã o , n em os alim en tos.
P o is b e m : n ão é p re c iso m ic ro sc ó p io p a r a d e s c o b rir
o sin a l d a b e s te em v o sc a fr o n t e , e m vo sso s lábio s, em
vo sso s corações, em v o sso s alim en to s.
Q u a is são o s s in a is d a b e sta n a fro n te ?

S ã o o o rg u lh o , a in su b o rd in a ç ã o , a c ó le ra , o desprezo,
o d e sc a ra m e n to , a v a id a d e , a a g ita ç ã o d a s fe iç õ e s, a in a p -
tid ã o p a r a a s c iên cias e s p iritu a is , o e n o jo p a r a o estudo
m o ra l, o d e sc a ra m e n to d a s fa c e s p o r v íc io s im p u ro s, ou
se u a b ra s a m e n to p e la acção do vin h o, a d e p re s s ã o d a
fro n te , a peq u en ez do â n g u lo fa c ia l, os a r e s de baix eza,
g ro s s e ria , a b a tim e n to e b c s tia lid a d e na. fis io n o m ia , e, f i ­
n alm en te, a c.ínica e x p re s s ã o dos olhos, cheios de adu lté­
rio, cheios d e um. p e c a d o p e r . a n e n t e , o lh o s que sem t r é ­
g u a s -provocam a s A lm a s in con stan tes. (1 )

S o b re os láb io s q u a is são os sin a is d a besta?


S ã o o ris o im o d e ra d o -ou im p u d ico , n èsciam en te ím ­
pio o u cru elm en te m o f a d o r ; a lo q u a c id a d e sem re g ra s ,
sem im p o rtâ n c ia e sem f i m ; a s pala^vTas obeenas, as ex­
p re ssõ e s r e p a s s a d a s de m e n tira , de irre lig iã o , d e b la s fê ­
m ia, d e ódio, de m a led icên cia, d e in v e ja , e de c o n c u p is-
cê.Hcia q u e se tra d u z e m e sp u m a , e sp u m a in fe c ta n te com o
a s exala^ções d e u m sep u lcro , co isa m o r t ífe r a com o o v e ­
neno da serpente. (2 )

(1) Animalis nutem homo non percipit ea quae sunt spiritus Dei.
(I Cor. XI, 14) Oculos habentes plenos adulteris et incessa-
bilis delicti, pellicientcs animas instabiles. (II Pctr., IX, 14.)
(2) Sepulcrum patens est guttur corum. . (Ps. XIII, III) — Des-
pumantes confusiones. (Ind., XIII.)
E s o b re o c o ra ç ã o q u a is são eles?
S ã o os m a u s p en sam en tos, o u m a u s desejos, a s deso-
n estid ad es, os a d u lté rio s, as v e rg o n h o s a s b a ix e z a s d o
egoísm o, os ro u b o s, os en ven en am en to s, os h o m icíd io s
( l ) , os d e sre sp e ito s à M u lh e r, o c o rte jo às p e rd id a s e a
ap o teo se das im p u d ic a s e d a v o lú p ia .

E ' s o b re o s alim entos, q u a is são os sin ais d a ^besta?


S ão o d e te rio ra m e n to , a m istu ra , a fa ls ific a ç ã o , s u a s
con seqü ên cias e a p e rn ic io sa in flu ên cia.
N ã o sen do p u r ific a d o s pelo S in a l redentoi*, ser-vem,
com o os p ró p rio s p a g ã o s recon h ecem , s e rv e m de ve íc u lo
a o dem ónio.

In flu in d o s o b re a A lm a e x i t a m m a u s apetites, liso n -


g e ia m gostos ra s te iro s , e d e sp e rta m to d as a s p a ix õ e s
m ás.
:Ca se n su a lid a d e n a s com i.das e b e b id a s resulta.: o
d espotism o d a ca^^e, a r e p u g n â n c ia a o tra b a lh o , a in c a ­
p a c id a d e p a r a r e s is t ir à s tentações, a quebro-, e, à s vezes,
o em b ru tecim en to d a in te lig ê n c ia , a m oleza dos costum es,
o s ib a ritis m o dos h ábitos, a id o la tria d o v e n tre , qu e t e r ­
m in a , h o je m a is qu.e n u n ca, pelo d esp rezo p ró p rio , p e ­
lo a b a fa m e n to d a con sciên cia e do sen so m o ra l, p elo in -
fa n t ic íd io e pelo su icíd io lento. (2 )

O lh a e m to rn o de tí, m e u caro, e p r o c u r a a s fro n te s,


o s lá b io s, os- corações, a s m esas, onde s e c o n se rv a m a sa n -

(1) De corde enim execunt cogitationes mamae. homicidia, adul-


teria. íornicationes, furta, falsa tatirnonia, blasphemiae. (Math.,
XV, 19, etc.)
(2) . . . Inimicos crucis Christi, quorum finis interitus: quorum
deus venter est, et glória in fusione ipsorum. (Philipp., III,
18.)
tidade, a d ig n id a d e , a s o b rie d a d e do H o m e m e do C r is ­
tão ; n o ta a s v id a s m o r t ific a d a s e p u ra s , a s v id a s fo rte s
c o n tra a s ten tações, a s v id a s d e d ic a d a s à C a r id a d e e à
V i r t u d e ; a s v id a s q u e ^ i d e m ^ m n e n h u m a c a n h a m e n to
r e v e la r -s e a a m ig o s e in im ig o s , c tu d o is to e n c o n tra rá s
sob a p ro tecção d o S in a l d a C ru z .

O q u e h o je te d ig o , a c e ita c()m o fa c to d a e x p e riê n c ia .

A m a n h ã , se D e u s q u ise r, d a r -t e -e i d is to a s ra z õ e s e
a s p ro v a s .
A deus.
V IG É S IM A T E R C E IR A C A R T A

P a r is , 20 de D e z e m b ro d e 1862.

Sumario:
— 1. Dogmo fundamental. — 2. A reforma,
primeira filha da renascença do paga­
nismo, da^rruba tôdas as Cruzes. — 3. A
revolução franceza, segunda filha da pa-
gan^mo, imita sua irmô. — 4. Primeira
obrigação: — fazer muitas vêzes o Sinal
do Cruz. — 5. Segunda obrigação: —
fozer bem o Sinal da Cruz. — 6. O
Sinal da C ^ feito de preferência na
fronte. — 7. Quatro coisas nece^d^ritu
para se fazer bem o Sinol da C ^ . —
8. Constantino.

M e u c a r o F re d e ric o ,

N ã o te es^queças de que estam os tira n d o a s conse­


q ü ê n c ia s p r á t ic a s d o ju íz o estab elecid o e n t r e n ós e n o s­
so s m aio res.

A p r im e ir a con seq ü ên cia é, qu e

D e v e m o s f a z e r o S ín a l d a C ru z bem f e iío e com f i r -


m e sa .
M u it o e m b o r a a d ec isã o sem m a is ap elo a t rib u n a l
a lg u m b a s ta s s e a d e t e r m in a r n o ssa con du ta, quero, to d a ­
via, p a r a t o r n á -la m a is re sp e itá v e l, m o s tra r-te as conse­
q ü ê n c ia s v e rg o n h o sa s, o s p e rig o s e d e s g ra ç a s d e u m a ou­
t r a reso lu ção, te ó ric a ou p rá tic a , le v a n ta d a c o n tra a q u e ­
la in a p e lá v c l d e d s ã o .
V is t e o sin a l d a b e sta g r a v a d o s o b re a.s fro n te s , lá ­
b io s, c o ra ç ã o e alim en to s n ã o sa n tific a d o s pelo S in a l d a
C ru z ?
M as . . . por que sel"á q u e o s in a l da b e sta m a rc a
tudo, H o m e m ou coisa, q u e n ã o s e ja p ro te g id o p elo S in a l
lib e rta d o r do H o m e m e d o m un do?
H á um d o g m a q u e é o m a is p r o fu n d o e incontestá­
vel d a h u m a n id a d e :

— A s u je iç ã o do h om em e d o mu^ndo oo e sp írito d ()
m al, dep ois d a q u e d a de A d ã o e ECJa, nossos rpr/meiros
pois.

P a r a t o r n a r m a is p a lp á v e l a e le v a d a m is s ã o d o S in a l
d a C ru z , v o u r e le m b r a r a lg u n s fa c to s h istó rico s n ão m u i­
to conhecidos.
O que se p a s a n a o rd e m fís ic a é o r e fle x o d a ordem
m o ral.
Q u a n d o u m a d in a s t ia o cu p a u m tro n o , te m o c u id a d o
de a r v o r a r lo g o em to d a a p a r t e s u a b a n d e ir a e em to d a
a p a rte gravar seus b ra z õ e s de a rm a s, com o sin al do
seu dom ínio.
S e u m d ia v e m e la a c a ir , o p rim e iro acto do vence­
d o r é s u b s titu ir pelos p r ó p r io s os e m b le m a s d a d in a stia
v e n c id a , p a r a d esta a r t e a n u n c ia r ao s p o v o s a in a u g u r a ­
ção dO' n o vo re in a d o .
Q u a n ta s vezes, n estes seten ta an os, n ã o se tem tid o
esta m u d a n ç a d e c o re s e escu d os? ! . . .
E m v in d o a to m a r po sse de S e u reino, o V e r b o E n ­
c a rn a d o ach ou s a ta n á s fe it o r e i e ídolo do m undo.
A s estátu as, os tro fé u s , os brasõen de a rm a s , a s in­
s íg n ia s d o a n tig o u s u r p a d o r a n d a v a m e s p a lh a d a s p o r to­
d a a p a rte .
A p e n a s f o r a o dem ó n io ven cid o , d e sa p a re c e ra m to ­
dos os s in a is de seu dom ínio.
E em' lu g a r deles b rilh o u a C r u z , que é o b ra s ã o do-
V e n c e d o r D iv in o .
Q u a ^ ^ o , p o r seus c rim es, u m a p o b re A lm a ou m esm o
u m a n a ç ã o to rn a a c a ir n a s g a r r a s d e satan ás e é p o r e le
d o m in a d a , o p r im e ir o aeto do- u s u r p a d o r é a p a g a r o S i­
n a l d a C ru z .
S ó então, n a d a m a is receben d o deste S in a l tem ível,
è que ele a li m a n d a e d e sm a n d a com o tiran o .

R e le m b ra urna p a g m a d a h is tó ria d e teu país.


N o t a bem o q u a d ro que a A le m a n h a te o fe re e e de
1520 a 1530.

D o R e n o ao D a n ú b io , to d as a s C ru zes que. d o m in a v a m
a s c o lin a s e a s m o n tan h as, que b o r d a v a m os ca m in h o s e
e s m a lta v a m os cam pos, que o r n a v a m o cum e das casas e
b r ilh a v a m no v é rtie das I g r e ja s , que d e c o ra v a m as
s a la s d o s rio s ou c o n so lav am a c h o u ^ m a do p o b re , to d a s
elas f o r a m d e rrib a d a s , q u e b ra d a s e dep ois la n ç a d a s ao
v en to ou a r r a s t a d a s à la m a , no m eio de in sultos e v o ze-
r ia s de u m p o v o d eliran te.
QJer era aquele furacão destruidor?
Era a volta do usurpador e o restabelecimento de seu
reinado.
ll:s d e aquele tempo, o espírito das trevas domina a
Alemanha e, nela como no antigo mundo, ele reina pelo
dospotismo, voluptuosidade, crueldade, assassínio, roubo,
confusão do justo pelo injusto.
É a anarquia intelectual, sob todos os nomes e todas as
formas.
Oferecem igual quadro a Prússia, a Saxônia, a H olanda, a
Dinamarca, a Suécia, a Noruega, a Inglaterra, a Suíça e todos os
JBíses onde o usurpador entra no lugar do Rei legítimo.
Este fato é tanto mais significativo quanto é certo não ser
m ic o nos anais da história.
Sempre que satanás se apodera de um país, ele se reproduz.
Geral ou particular, lento ou rápido, tais quadros sempre
^ i f e s t a m o caráter da vitória e a medida de sua extensão.

Em 1830 que foi a miniatura de 1793, as Cruzes derribadas


contaram-se aos centos.
território da França, quando o paganismo cantou seu
triunfo completo, não se contaram aos centos, mas aos milhares,
as Cruzes abatidas e quebradas.
N iq u e la época de uma recordação tão triste com o
instrutiva, salienta-se um dia que é nefasto entre todos.
Foi o dia lO de Agosto.
A o s assaltos das hordas fanatizadas, ele viu cair, no meio
das ondas de sangue, o Trono e o Altar.
Os massacres do Carm o e de S. Firmino, a proclamação da
República, o assassinato de Luís X V I, as hecatombes do terror, as
indecências do diretório, as apostasias, os sacrilégios, as sem i-
deusas da razão, foram as conseqüências nojentas daquele dia
lamentável.
:\11arcará ele eternamente e com precisão, a hora em que
satanás entrou triunfante no reino cristianíssimo da França.

"Neste momento, (escreve um "historiador daquela


época) uma "tempestade sem igual rebentava sobre
"Paris.
"Um calor pesado e sufocante impedira "todo o dia e
respiração.
"A tarde, nuvens grossas, variadas em "cores sinistras
tinham empanado o sol "no oceano .suspenso da
amosfera.
"As dez horas, a eletricidade figurava "por milhares de
relâmpagos, que "pareciam luminosas palpitações do
"finnamento.
"Os ventos encarcerados neste abafado "de nuvens,
romperam suas prisões e "com o rugido das vagas,
alastraram "searas, quebraram árvores, levaram
"telhados.
"A chuva e a saraiva retiniam sobre o "solo, como se do
altofora a terra "apedrejada.
"Fecharam-se as casas.
"As ruas e vielas num instante se "esvaziaram.
"Durante oito horas sucessivas, o raio "não dei-
“ x o u 'le cin iila r e f e r ir , m a ta n d o g ra n d e n ú m e -
“ ro de h om en s e m u lh eres.
“N a c in z a gu a rita s esta va m sentinelas f u l -
“ min^adas.
“ T o r c id M pelo v e n to e !]:ielo fo g o do C éu , gmde.s’
“ d e /etTo f o r ^ m arranc^adas à s p a red es a que
"e s t a v a m chumb^adas e a rrem essa d a s a distrin-
“ c ia s in c rív e is.
“ M o n te M a r t e e M o n te V a le ria n o , dois z im b ó -
“ rio s que se ele v a m n o h o rizo n te de P a r is , s u s -
“ten tara em s u a 'm áxim a su p e rfíc ie o flu id o
“ eléctrico a c u m u la d o em n u v e n s que os e n v o l-
'‘via.m.
“ P r e f e r in d o m o n u m en to s isolados o u cerca d os
" d e / e rro , o r a io derri b ou todas as C ru zes que
“ se e le va va m n a s e becos, desde a p la n í-
“ cie de I s s y e os bosques de S . Germa^no e de V e r -
“ salhes até a C r u z d a pon te de Cka.renton.
" N o d ia im ed ia to 0'8 b ra ç o s d estas Crruzes ju n c a -
“ uat^n o sóto, com o se u m e x é rc ito in v is ív e l tiv esse
“ d e s tru id o em su a p a s s a g e m tod-os os re je ita d o s
“ sin ais do c u lto C r is t ã o .”

C om o não! h á s a lto s em a n a tu re za , n ã o se d á o a c a s o
n a o rd e m m o ra l.

P o rta n to , os fa c to s r e fe r id o s tê m u m a sig n ific a ç ã o .


A s c irc u n s tâ n c ia s q u e o a c o m p a n h a ra m e se g u ira m ,
p ro v a m com e v id ê n c ia a r a z ã o de s e r d o S in a l d a C ru z
n u m P a ís on de não h á motirvo p a r a d e ix a r de e x istir.
P r o v a m ig u a lm e n te à s N a ç õ e s, à s P ro v ín c ia s , às A l ­
deias, aos H o m e n s de q u a lq u e r con dição, q u an to lhes im -
p o rta c o n se rv a r, m u ltip lic a r e h o n r a r o S in a l p ro te c to r
de to d a a creação.

Segundo con seqüên cia p r á tic a da sen ten ça dada é


— F a z e r m u ita s v ezes o S in a l d a C ru z.
P o r q u e ra z ã o h av em o s d e n ã o f a z e r o S in a l d a C r u z
m u itas vezes?
P o r q u e r a z ã o c a d a u m de n ó s h a d e p o r su a p a r t e não
v o lta r à p r á t ic a d e nossos m aio res?

N ão sendo p ro te g id o s pelo S in a l S a lu ta r, n em u m
in sta n te se ju lg a v a m eles s e g u ro s , m esm o n o s acto s m aia
o rd in á rio s d a vid a.

S e re m o s n ó s t a lv e z m a is fo r t e s d o q u e eles?

S e rã o m en os n u m e ro sa s ou m enos v iv a s e m nós a s
tentações?

S e rã o m en o s u rg e n te s p a r a n ó s o s p e rig o s ?

N o s s o s d e v e re s sã o ta lv e z m en o s o b rig a tó rio s ?

S e m p re q u e s a ía m de casa, n ossos pais, os p rim e iro s


C ris tã o s tin h a m os olhos o fe n d id o s p e la v is t a de está tu a s,
p in tu ra s, o bjectos obscenos, p rá tic a s e fe s t a s em que se
o sten tav a o e sp írito do m al.

D isc u rso s, can to s ou co n v ersaçõ es im p u d ic a s fe r ia m

seus castos ou vidos.

D e b a ix o de fo r m a s v a r ia d a s e sed u to ras, o sen su a­

lism o e o natl.lJralismo d a s ideias e do3 costum es, se m p re


c o n s p ira v a m c o n tra a v id a s o b re n a tu ra l, c o n tra o e s p íri­

to d e m o rtific a ç ã o , de sim p licid ad e, d e abneg^ação.


A d e ^ is tin h a m q u e d e fe n d e r a p r ó p r ia F é co n tra
os sa rc a sm o s, d esp re zo s e so fis m a s d a p le b e e d a filo s o ­
fia p agã. ,
T in h a m q u e re s p o n d e r p o r ela d ia n te d o s J-uízes, t i­
n h a m que c o n fe s s á -la n o s ^ ir it e a t r o s .
E p a r a se s a lv a re m d-e tan to s p e rig o s , q u a l e r a o s
­
e
g r e d o deles?

S e m p r e o S in a l d a C ^ .
E n ó s os C a tó lic o s deste século em que condições nos
ach am os?

N ã o s e to rn o u p a g ã o qu ase tu do o que ■n os rodeia?


E n c o n tra -s e p o r v e n tu ra , u m a p a la v r a d o E v a n g e lh o
n a m a io r p à r t e d o s H o m e n s e d a s coisas?

C om o a s de o u tro ra , n ã o estão as c id a d e s d a E u r o p a
aetu al in u n d a d a s de estátu as, q u a d ro s, g r a v u r a s e o u tro s
ob jecto s, c a p a z e s de a c e n d e r nos esp írito s m a is frio ^ o
fo g o im p u r o d a co n cu p iscên cia?

Q u e se o u v e n a s ru a s, n a s salas, p ro sa s q u o ti­
d ia n a s?
N a s casas, n a m o b ília , n o lu x o d a m ^ , n o v estu á­
rio e n os p ra z e re s , q u e f a l t a ao m u n d o actua.l p a r a se r
co m p letam en te p a g ã o ?
Os m a u s v ezo s sã o os m esm os que no tem po dos
C ésares. ■ ,'

O s espectá:culos são u m a s a rm a d ilh a s constantes.


D e s g r a ç a d o d a q u e le que n ão v e la r, d ia e noite, em
cu id a d o s pelo p r ó p r io coroação e pelos se n tid o s! . . .
S e é tã o d ifíc il d e fe n d e r nossos costum es, q u a n ta
g u ^ a n ã o te re m o s que su s te n ta r p a r a s a lv a r e g u a r d a r
a nossaF é?
V iv e m o s num a época eni. que as id e ia s fa ls a s , as
m en tiras, os s o fis m a s c irc u la m n a sociedade tão b a sto s
como o:: átom os q u e com põem a a tm o s fe ra .
P o r to d a a p a rte a s a re n a s dos a n fit e a t r o s onde de­
vem os com bater.
E o c o m b a te é pela. I g r e ja ,‘ p o r n o ssas trad ições, p o r
nossos b o n s costum es, pelo s o b re n a tu ra lis m o C ristã o .

N u n c a esta a r e n a e stá fe c h a d a ; m n com bate a in d a


ni.ío está acabad o e j á com eça outro m a is renh ido.

Colocados n a s m esm as condições, os p rim e iro s C r is ­


tão s n ão c o n h eceram m ais qu e u m a a ^ ^ ^ v ito rio sa , a^rma
u n iv ersal, a todos fa m ilia r , de que fa z ia m uso contínuo.

E r a o S in a l d a C ru z.
T e re m o s nós o u t r a m elh o r?
Ah! H o je m ais do q u e nunca, é necess.ano fa z e r a
m iú d o o S in a l protector, s o b r e nós e s o b re a s c re a tu ra s.

Q u em nos im p ed e a g o r a d e im itarm o s a nosaos avós?

Q u e h á de in co m p atív el com n o ^ a s ocupações o f a ­


zerm os o S in a l d a C ru z s o b r e o c o ração ?

A s s im com o fa z ia m os an tigos, p orque não o fa z e ­


m os t a m b e m c o m o p o le g a r s o b r e a fr o n t e , ou cru za n d o
n a hoca o p o le g a r s o b re o in d icad o r?

S e fo rm o s vencidos, q u e m s e rá o culpado?

" P e r d it io í'UOI ex íe, Is r a e l/ ’

Fazer b em o S in a l da C ru z é a te rc e ira ap lic a ç ã o


d a sen ten ça p ro n u n c ia d a .
Q u a n d o fiz e rm o s o S in a l a d o rá v e l, a re g u la r id a d e , o
re sp e ito , a a te n ç ã o , a c o n fia n ç a , a dev^oção, d e v e m a c o m ­
p a n h a r n ossa m ão.
A reg'lilarir!ad e e x ig e , que o S in a l d a C ru z , e m su a
f o n n a p e r fe it a , se fa ç a , n ã o c o m a m ã o e sq u e rd a , m a s
com a m ã o d ire ita .
E e la deve i r d e v a g a r , d a testa, à c in ta e do om bro
e sq u erd o a o d ire ito .
E n q u a n to ieso, se p ro n u n c ia m o N o m e d as trê s P e s ­
soas da T r in d a d e a u g u s ta . (1 )
N a d a d isto é a r b it r á r io .
S e h ou vessem de s a ir de seus tú m u lo s o s p rim e iro s
C ristã o s, h a v ía m o s d e v e r q u e desde os tem pos A p o s t ó ­
licos, f a z ia m a s s im o S in a l d a C ru z .

C u m p re o u v ir u m a teste m u n h a o c u la r.

“ A p e s a r de s ó h a v e r d ife r e n ç a de posição c m io
“ de n a tu re z a , n ó s fa z e m o s c o m a m.ão d ir e it a o
“ Sí^nal d a C r u z s o b r e o s catecúm cn os, d iz S. Ju<s-
“ tin o ; p o rq u e a d ir e it a é m ais n o b re q u e a e.'f-
“ q u e rd a .
"O ra m o s v o ltad o s a o O rie n te . p o r s e r a p a rte
" m a is n o b re dm c re a ç ã o .”

D e quem re c e b e u a I g r e j a este m o d o de o r a r , senão


dos p r ó p r io s A p ó s to lo s ? ( 2 )

(1) Nominato Spiritu Sancto, dum ab uno ad alterum latus sit


transversío. <Navarr., Comment. de Orat. et horis canon..
c. XIX; n, 200.)
(2) Quemadmodum dextera manu in Nomine Christi. eos, qui
Crucls signu obsignandi sunt, obisiP.'lamus propterca quorl
dextera manus praestantior ccnsetur quam sinistra; quam-
S o b re a n o b re z a d a m ã o d ire ita h á d e S an to A g o s ­
tinho u m a p assagem c u r i ^ a .

" N õ o rep re e n d e is vós, d iz ele, q u e m qtter c o m er


"c o m a esq^^da?
" S e co^nsiderais acção de i n j ú r i a à v o ssa m e sa
" o c o n v iv a qwe co m e co m a ^ ã o esqw erda, p o r -
“ que n ã o feaverá in jt ír ia à M e s o D iv in a fa z e n -
"d o -s e c o m o miLa esquerda. o que d ev e s e r fe ito
“ com a d ir e it a , ou com e sta o que d e v e s e r fe ito
"c o m a q u e la ? ” ( l )

S . G r e g ó r io a c re s c e n ta :

“ O m o d o d e en te n d e r en tre os ^homens é te r p o r
“ n o b r e e m a is p recio so o que f i c a à d ir e it a ; e co -
“m um e m enos p recio so o qu e f i c a à e sq u e r-
"d a .” (2 )

Q u a n to à s p alav ras- que a c o m p a n h a m o m ovim en to


d a m ão, é certo te re m ta m b e m u m a T ra d iç ã o A p o stó lic a .

quam situ non natura ab ea differat: sic ut quae pars sit


in natura praestantior, ad Dei venerationem cultumque se­
creta ert ... a quibus autem Ecdesia precandi morem acce-
pit? Ab iis etiam ubi precandum sit accepit.
(1) Nonne corripis eum, qui de sinistra voluerit manducare? Si
mensae tuae injuriam putas fieri, manducante conviva de
sinistra; quomodo non fit injuria m e ^ e Dei, si quod dex-
trum est, sinistrum feceris; et quod sinistrum est, dextrum
faceris? psal., c. ^ ^ e v l . )
(2) Ipso enim locutionis uso, pro dextro habere dieirnur, quod
pro magno pensamus; pro sinistro vero quod despicimuil
(Morai., Lib. XX, c. XVIII.)
" A quaíq?.W?- luga?- que te n h a is de vos diriV/ji^, d i 1.
“ S . E f r e m , /«.rci prim eii*o o S in a i da Ct-uz rli-
“ zendo:
''E m N om .e d o P ^ r e e rio F ü h o t e do E s p ír it o -
“ S a n t o ." (1 )

K T e r t u lia n o diz :

“ N o P a 4 r e e n o F ilh o e -tw E síJ írito -S an to , e' ^ m -


■■s ig n a d a a F é.^’ (2

Sto. A le x a n d r e , so ld a d o e m á r t ir n o re in a d o d e M a jri-
m iano, sen do co n d e n a d o à m orte, volte--se p a r a o o rie n te , e,
fa z e n d o trê s v e ze s o S in a l d a C r u z s o b r e se u co rp o , d iz :

‘G ló r ia a V ó s, ó D e u s de nosaos P a is , que sois —

“ P a d r e , Fi7ho e E s p ír it o -S a n t o ." (3 )
E n t r e os p rim e iro s C ris t ã o s e r a uso ta m b é m fa z e r -s e
o S in a l ela C r u z com o p o le g a r s o b re a fro n te .

■*F r o n t e m cnu:i.s l r i g ^ ^ d o terimm:u.s.’'

F a z ia m assim ,

!.• — p a r a f a c i li t e r a q u ase incessan te re p e ti­


ção rlo S in a l a d o r á v e l;

(1) Quoecumque pertransii. signa prlmum in Nomine Patris ct


Füii et Spiritus-Sancti. (De panoplia.)
(2) Fides absignata in Patre et Filio et Spiritu-Sancto. (De
Baptism c. VI.>
(3) Totum Cruce ter signavit, et ad orientem versus: Glória.
inquit, tlbi sit Deus Patrum nostrorum, Pater, et Filius et
Spiritus-Sanctus.
2.* — d e v id o ao m ed o que tin h a m de s e tra íre m .

T a l é h o je a in d a o S in a l d a C ru z u sado m a is de f r e ­
quente n a E s p a n h a e em o u tro s v á r io s países.

P o r que p r e fe r ia m eles a fr o n t e em vez do coroação?


M e u c a r o F re d e ric o , a q u i co m o em tudo o qu e é a n ­
tigo, h á g ra n d e s m istérios.

V o u a p o n ta r cinco.

1.° — A h o n r a d o D iv in o C ru c ific a d o .

“ N ã o é sem razão, diz S. A g o stin h o , q u e o V e r b o


“ E n c a r n a d o q u is q u e n o s s a fro n te fo sa e m a ^ -
“ d a com o S e u S in al. A fr o n t e é a sede d o p u -
“ d o r ; e ele q u is que o C ris tã o se n ã o e n v e rg o -
“n h a s s e pelos o p ró b rio s de se u M e stre . Se, pois,
“ o fiz e re s sem a c a n h a m e n to d ian te dos hom ens,
“ conta com a M is e r ic ó r d ia D i v i n a .” ( 1 )

2.* — A h o n ra d e v o s s a fro n te .

“ O S in a l d a C ru z, d iz T e rtu lia n o , é o S in a l das


“ fr o n t e s : s i^ m c u lu m fr o n t iu m .” ( 2 )

D iz Sto. A g o s t in h o :

“ U m a fro n te sem S in a l d a C ru z é sem elh an te a


“ u m a cabeça sem cabolo. C a b e ç a calva e fro n te

Non sine causa signum suum Christus in fronte nobis voluit.


tanquam in sede pudoris, ne Christi epprobria Chrisüanus
erubescit. (In ps. XXX; Ernarr. VI, n. 8.)
(2) Contr. Marcion.. lib. V.
“ sem S in a l d a C r u z aão o b je c to s d e esc á rn io c
“ v e rg o n h a . T a l fr o n t e é im p u d e n te . E scu ta o
“ h o m em qu e in s u lt a outro. Ê le lhe d iz : T u n ão
“ tens fro n te , o que e q u iv a le a c h a m a r-lh e im p u -
“ dente. D e u s m e liv r e d e te r a fr o n t e n u a ; sem -
“ p r e e la s e ja c o b e rta e o r n a d a p e lo S in a l d e m eu
“ M e s t r e .” ( 1)

3.o — O m ila g r e d a R eden ção.

O S in a l d a C ru z é u m t r o fé u ; e os tro fé u s se co­
lo cam nos lu g a r e s m a is altos e p ú b lico s, on de to d a a g e n ­
te os p o s s a v e r e p o r eles r e c o r d a r os t r iu n fo s d o v e n c e ­
d o r.
“A tro c o d e que, p o is , e x c la m a o g r a n d e A g o s -
“ tin h o , h a v e r ia o V e r b o D iv in o de n ã o p o r n a
“ fr o n t e d o h om em (a f r o n t e q u e é o m a is n o b re
‘‘ e v isív e l de seus m e m b r o s ), a C ru z , o S in a l da
“ v it ó r ia a lc a n ç a d a s o b re a s potên cias in fe r -
“ n a is ?" (2 )

Dos lu g a r e s de su p líc io passan do p ara a fro n te


dos Im p e ra d o re s , e r a n e c e ssá rio q u e a C r u z p ro c la m a sse
ete rn a m e n te o g r a n d e m ila g r e d a c o n v e rsã o d o u n iverso .

4 .” — A p r o p r ie d a d e d iv in a .

T o m a n d o p osse do H om em , o D iv in o C ru c ific a d o
m arco u -n o s com o seu sin ete, com o o- p r o p r ie t á r io fa z aos
objecto& que lhes p erten cem .

(1) Non habeam nudam frontem; tegat eam Crux Domini mei.
(In ps., c. XXXI.)
(2) Ipsan cruccm de diabulo superato, tanquam trophaeum in
írontibus fidclú:m. positurus erat. (In Joan. Tract. XXXVI.)
“ Logo que o R e d e n to r, diz S . C e s á rio d e A r le s ,
“ deu lib e r d a d e ao H om em , m a rc o u -o com seu
“ S in a l, q u e é a C ruz. C o m o a p a re c e g rav ad a
“ nas p o rta s dos p alácio s, nós a tra ze m o s em
“ n o ssa fro n te . E ’ o V e n c e d o r q u e m a coloca aí,
“ p a r a d iz e r a todos q u e e n tra m o s e m su a p o sse e
“ som os se u p a lá c io seu tem plo v iv o . P o r isso,
“o dem ônio in v e jo s o e en raiv ecid o , t r a b a lh a
“ se m p re a v e r se n os r o u b a o S in a l de n ossa
“ fr a n q u ia , a c a r t a de n o ssa lib e r d a d e .’' ( 1 )

5.0 — A d ig n id a d e d o H o m e m .

A fr o n t e é a p a r t e m a is n o b re do H o m em , é quase
p a r a a s s im d izer, a sé d e d a
O qu e d o m in a a c ab eça, d o m in a o H o m e m .
P o r isso, de to d a s as p a r t e s d o corpo, é a c a b e ç a a que
o dem ónio, c o m m a is em p en h o p r o c u r a d e s fig u r a r .
A d e s fig u ra ç ã o deste o r g ã o p o r c o m p ressõ es a r t i f i ­
ciais, c o rre u todo o m undo e a in d a existe e m m u itos
países.
L e s f i g u r a r a im a g e m de D e u s, e n fra q u e c e r as f a c u l ­
dades in telectu ais, d e se n v o lv e r as in clin ações b a ix a s e
v is, eis o re su lta d o desto d e s fig u r a ç ã o h u m an am en te
in e x p lic á v e l.

N o s s o S'enhor, R e p a r a d o r de to d as coisas, q u is que


o S'inal da C ru z ; d e p re fe rê n c ia , fo sse m a rc a d o so b re a

. (1) Et ideo nunc (diabolus) gemit, invidet. circuít, sin forte vel
furto a nobis possit auferre instrumentum ipsius manumis-
sionis et acquisitae tabulae libertatis. (Homil. V, de parcha.)
fro n te p a ra lib e r t a r o H o m e m e re s titu ir-lh e , com a p le ­
nitude de su as fa c u ld a d e s , a d ig n id a d e de su a essência.

Q u a tro c o is a s são n ecessárias p ara fa z e r -s e b em o


S in a l d a C r u z :

"— R esp eito , aten ção, c o n fia n ç a e devoção. —

R espeito. M u ito g r a n d e é o resp eito qu e devem os ao


S in a l da C r u z p o r q u e é ele u m acto de R e lig iã o e acto
q u a tro vezes v e n e rá v e l, a s a b e r :

1.“ — p e la o r ig e m ;
2.0 — p e la a n t ig u id a d e :
3.® — pelo u so que fiz e r a m dele os A p ó sto lo s, os M á r ­
tires, os C atólicos d a p r im it iv a I g r e j a e de tod os os sé­
culos, re p re s e n ta n te s d o q u e h a v ia d e m a io r e m a is santo
no M undo.
4.0 — p e la g ló r ia com qu e h á -d e b r i lh a r n o últim o
dia, ao a n u n c ia r a c h e g a d a d o J u iz S o beran o .
A p a r e c e r á en tão no a r , a C ru z, cin tila n te de luz, e
se c o lo cará ao lad o do T r ib u n a l S u p re m o , con solan do os
.Justos e c o n fu n d in d o os pecadores.
A ten çõo. Sem a d e v id a a te n ç ã o o S in a l R e d e n to r
n ão p a s s a rá d e u m m o v im en to m aq u in a i. Q u ^ % sem p re
inútil a quem a s s im s e m atenção o p ra t ic a r , f i c a se n d o um
proc-edimento in ju r io s o àquele C u ja M a je s ta d e , ^m or
e B e n e fíc io o S a g r a d o S in a l f a z re c o rd a r.
Con/iatnça. F u n d a d a n a p r á tic a d a l g i ’e ja , no teste­
m unho dos séculos e n o s e fe ito s m a ra v ilh o s o s que e le p r o ­
duz, n o ssa c o n fia n ç a n o S in a l da C r u z d ev e s e r filia l, vi­
va, fo rte .
T em ív el a o dem ónio, é ele o S in a l lib e r t a d o r do H o -
mLhi e do m undo.

D en oção. P r a t ic a n d o o S in a l d a C r n z o q u e é qu e eu
faço ?
D e c la ro -m e discípulo, irm ã o , a m ig o e filh o de um
D e u s C ru c ific a d o .
M as, se o c o ra ç ã o d is c o rd a r dos lábios, se o e x te rio r
não e stiv e r de acordoi co m o íntim o n ão hú devoção.
E: então m into a D eu s. m in to ao m u n d o, m in to n
m iln m esm o.
O u çam o s a n ossos p a is :

" Q u a n d o te benze.s, pen.sa n o s m istério s d a C ^ . N iio


íirtsfü. f o r m á - la sitnples?nente co-m o dedo.
E ' n ecessário qi.te o acto -seja acompan^hado de F é e
1>oa. v o n tad e.
Q u a n d o com o S i n a l d 4 m a rc a s o peito, os oíhos
e o n tro s w ern liro s, te o fe r e r e s tt D ^ w em sac ri/ íe io a g r a ­
d á v e l.”
''M a rc a tid o -te com o S in a l da C ru z, tu te p r o c ^ ^ a s
so ld a d o de C risto.
S e p o rém , segu n d o tuas /orça.?, tu n d o ezerces nem.
a C a rid a d e , n e m a ju s t iç a , nem o- C a stid a d e , f i c a certo
d e qne .semelhante S i ^ d do^ te ,s’ervit^ó. ”
“ M u i g r a n d e c o is a i o S iu a l d a Cr^-u.z; deve poj^ isso
s e i'v ir de ^ a ^ c a sO p a r a as g r a n d e s coi.-;as e c o is a s F e -
ciosas.
D e çu e se rv e po?^ 'm arca de o u r o em o b jecto s de palha.
O'K
Que s ig n ific a o d a C rw z n a fr o n íe e nos lábios,
q-imndo a A ím a est!i. c o b e rta dc e n c h a s o u de^'negrida de
p ecad o s e c h a g a d a de C»'im.es?” (1 )

“ Q u e f a z gtte-m f o r ^ o S i M Í . d a C r u z e rpeca,?
C o lo ro n a bo ca o S in a l d a Vid.a, e c ro fja n o ccn^aç«o
v J;unhal. d a moi^íe.” ( 2 )

D a i o p ro v é rb io d o s p r im e ir o s C r is t ã o s :

“ Irm ã o s , íra íje i a J esu s C r is t o n o coração e n a fro n te


o S in a i d ’E i e : HabettJ C h ris tu m in c o rd ib u s, et sig n u m
e/ws in f r o n t ib u s ." (3 )

D a í a s p a la v r a s de S a n to A g o s t in h o :

“D eus n ã o q u e r p in to re s, o p e ra d o re s d e se^/s
M is té rio s . S e te^ndes em vossa. fr o n t e o S in a l d a h u m il­
dade .de J esu s C risto , tende tCliYn.bém em vosso p e ito a.
im ,itação dessa. hum^ildade /” ( 4 )

P o rta n to , n in g u é m p en se nem d i g a : — “ fa z e r bem


ou o S in a l d a C ru z , pou co im p o r t a ,” — p o rq u e di­
fe re n te m e n te p e n s a ra m os sécu los cristã o s, a I g r e j a C a ­
tólica q u e é a 1\fustra in fa lív e l d a V er.d ad e e a p r ó p r ia
V e r d a d e em p essoa, no C o ^ w M ís tic o d e N o s s o S e n h o r
J esu s C risto .

(1) S. Chriys., Homil. 54, in Math.; S. Eph., De adorat. vivif.


cruc.; S. Aug., Serm., 215. De temp. — Signum maximum
atque sublime. Lact., Dev. instit., lib. IV, c. XXVI.
(2) Qui se signat et aliquid de sacrílego cibo manducat, quo-
modo se signat in ore, et gladium slbi mittit in pectore.
(S. Coes., Serm... 278, inter Augustim.)
(3) Bed., t. III, In collert. flor. et paraph.
(4) Factorem quaerit Deus signorum suorum,nonpictorem, etc.
(S. Aug., Ser. 32.) '
O SINAL D A CRUZ 333
^

M e sm o que fo s s e pequeno o v a lo r d o S in a l d a C ru z,
d e v e ría m o s le m b ra r' d a q u ilo q u e disse o V e r b o E n car­
nado:

Q u em é fiel nas coisas pequen as se rá fie l n a s g r a n ­


d e s ; e q u em é in ju s to no p o u c o ta m b é m é in ju s t o n o m u i­
to. (S . L u c a s 16-10)

E s t a fid e lid a d e q u o tid ia n a fo rm a a V id a C r is t ã e


p r e p a r a a fe lic id a d e ete rn a .

E m n egócio de salvação , n ão è b a sta n te o q « e é


ficien te.
Q uem n ã o fa z senão o n ecessário, não o fa r á poi^
m u ito tem po.

Faça. eu cin q ü e n ta vezes a o d ia o S in a l d a C r u z , c


se ele é b e m fe ito , ten h o c in q u e n ta b o a s o b ra s , c in q ü e n ­
ta d e g r a u s de g ló r ia e fe lic id a d e p a r a a vLda eterna.
São m a is cinquenta. m o ed as p a r a p a g a r m in h a s dí­
vid as o u a s d e m e u s ir m ã o s existen tes n a t e r r a ou n o p u r ­
g a tó rio . M a is cin q u en ta sú p lic a s p a r a o b te r a c o n v e r­
s ã o dos p ^ a d o r e s e a p e rs e v e ra n ç a d o s ju s to s , para; a f a s ­
t a r d o m u n d o e d a s c r e a t u r a s a s m o léstias, os p e rig o s e os
fla g e lo s .
C a lc u la , m e u c a r o , a som a de m é rito s acu m u lad os
n o f i m d e um a se m a n a , d e u m an o , de u m a v id a d e cin ­
q u en ta a {lo s !?

C a rísá im o F re d e ric o , a g o r a conheces o S in a l d a C ru z


e a m a n e ira d e o fa z e r .
D e ix a -m e c o n fia r -t e u m a a s p ir a ^ le .
Se e s tra n g e iro ch egasse a P a r í s e p e r g u n t a s s e :
Q u a l é o ra p a z que, n a im ensa cap ital, fa z m elhoi; o
S in a l da C ru z?

O in d icad o p o r tod os quero que s e ja s tu.

P o r ta l preço ■eu te p ro m e to

a) v id a tão d ig n a com o tiv e ra m nossos avó& da p r i ­


m itiv a I g r e j a ;

h) m o rte g lo rio s a d ia n te de D e u s ;

c) e, se tan to fo s s e n ecessário, a s h o n ra s d a C a n o ­
nização.

" I n hoc sig n o v in e c s .”


P o n e síe s in a l v en cerás.

E xp ressão d iv in a !
S e m p re a n tig a e s e m p re nova;!
E ’ a fó r m u la de u m a L e i.
Q u em p r im e ir o m e receu o u v i-la fo i o g r a n d e C a p itã o
lib e rta d o r d e R om a.
C o n sta n tin o M a g n o fo i tipo de H om em .

O g r a n d e Im p e r a d o r a v a n ç a v a d e m a rc h a fo r ç a d a a
e o m b a te r M a x e n c io , h o r r iv e l tira n o , que se h a v ia a p o d e ­
r a d o d a C a p it a l d o m u n d o.

E m p le n o m eio d ia , o S in a l da C ru z a p a re c e de re
­
pente a C o n sta n tin o e a seu exército, co m e sta in s c riç ã o ;

P o i' este s in a l vena^erás.


“ I n hoc sign o v in c e s ."

D e noite, su sten tan d o n a m ão a C ru z d o dia, o F i ­


lho de D eus aparece ao Im p e ra d o r o rd e n a -lh e que fa ç a
um L ábaro sem elh an te p a r a u s á -lo nos com bates, e lhe
pi'om ete a v itó ria .
C o n stan tin o o bedece; o S in a l celeste é levan tad o, à
fre n te das legiões, e to r n a -s e célebre o L 'i b a ^ m n o tá­
vel. ( 1 )
■ E sta ini,.ígnia de c o n fia n ç a a n im a aos so ld ad o s de
C o n sta n tin o e in tim id a os de M a x e n c io .
A s á g u ia s ro m a n a s fo g e m dian te d a C ru z.
O p a g a n is m o se c u r v a d ia n te d o C ristia n ism o .
S a ta n á s , o a n tig o tir a n o de R o m a e d o m u n d o, ren-: •
d e -s e d ian te de .Tesus C risto , S a lv a d o r de Roma. e da H u ­
m a n id a d e in te ira .
A s s im d e v ia ser.
M a x e n c io é d e rro ta d o e a fo g a d o .
C onstantino e n tra em .R om a.
Um a e s tá tu a lá o re p re s e n ta su sten tan do a C ruz,
com a se g u in te in sc riç ã o d it a d a p o r ele m esm o.

“ P o t esiíc S i n a l sa.í'!dar, verdadeü^o sím bolo fie /or­


ço. é lib e rte i i:osso. cid ad e d o ju g o d a tir a n ia e. d e i li-
bm^dade ao sen ad o e a -0 p o v o , p^^"» os re c ia b e le c e r em
m a jesta d e e esplendor, a n tig o s .'’ ( 2 )

O u tro C o n stan tin o és tu, meu F re d e ric o , som os nós


os batizad o s, é tod o o m u n d o cristão.

(1) O Labaro era uma Cruz com ferro de lança na extremidade


.superior. Eos braços pendia um véu de púrpura com uma
águia pintada. Not. do trad.
(2) Hanc inscriptionem, latino sermone, mandat incídere: Hoc
salutari signo, vero fortitudinis indicio, civitatem vestram
tyrannidis jugo liberavi, et S. P. Q. R. in libertatem vindicans
pristinac amplitudini et splendori restitui. (Euseb., Vit. Cons-
tant., lib. E, c. X X X III.)
L a n ç a d o s n a a re n a d a v id a , n ós tcdos, com as fa c u l­
dad es e sen tidos n a van g-uai’da, m a rc h a m o s ao encontro
d e u m tira n o m a is tem ív el q u e M a x e n c io .

Rom a n ó s é o C éu , c u ja s p o rta s ele p r o c u r a f e ­


c h a r-n o s.

A r r e m e t e ele s e m p re c o n tra nós a fr e n t e de suas' le­


giõ es in fe rn a is .
O co m bate é in e v itá v e l.

Com o a C o n stan tin o , D e u s n o s d á ig u a l m eio de ''e n -


cer.
E ’ o S in a l da C ru z.

“ I n h oc S igw o v t a r e s ."

H o je , com o o u tro ra , este S in a l é o t e r r o r dos dem ó-


m os.
■ “ PorTOÜlo d o e m o n u m ."

C u m p re f a z ê -lo com F é.
O c a m in h o da- C id a d e E te rn a , p o r E le n o s será
a b e rto .
Viencedores e p a r a sem p re, n o ssa g r a t id ã o le v a n t a r á à
v is ta dos A n j o s e dos E le ito s u m a estátu a c o m inscrição
eom o a d e C o n stan tin o .

" P o r este S in a i s a lu ta r, v e rd a d e iro sím b o lo da, f o r -


(;a, é que mtde v e n c e r o dem ónio, lib e r t a r m e u to rj)o e
m in h a A l? n a da. t ir a n ia , e d a r à s m in h a s fa c u ld a d e s e sen­
tidos a vc?'dadeira libe^^^lde, p a ra os estabelece^r loor to­
d a a e te rn id a d e n o s esp len d o res de u m a g ló r ia s e m 'rnan-
t:ha n em lihnites."

“ I n hoc S ig n o V in c e s ".
R ep etin d o as p a la v r a s dos P a d r e s e d o s D o u to re s d o
0 i'ie n te e do O cidente, d ire m o s :
S a lv e ! Ó S in a l d a C ru z !
E s t a n d a r t e d o g r a n d e R e i, t r o fé u im o rta l do S en h o r,
S in a l de vida, sa lv a ç ã o e bênção.
T e r r o r de s a ta n á s e d a s legiões in fe rn a is , b a lu a r t e
in e x p u ^ m v e l, a r m a d u r a in v e n c ív e l !
E s c u d o im p e n e trá v e l, e sp a d a r e a l, h o ^ ^ da fro n te !
E ’s a e sp e ra n ç a dos C ris tã o s , o rem éd io d a s e n fe r ­
m id a d e s, a re s a u rre iç ã o d o s m o r t o s ; g u ia d o s cegos, a m ­
p a ro dos fr a c o s , con solação dos p o b r e s ; p r a z e r do bons,
te r r o r dos m au s, f r e io d o s r ic o s ; r u ín a dos so berbo s, ju g o
do in ju sto s, lib e rd a d e dos escravos.
E ’s a g ló r ia dos m á rtire s , a. c a stid a d e dos v irg e n s , a
v irtu d e dos san tos, és o fu n d a m e n to d a I g r e ja .
C a r o F re d e ric o , a í ten s a re sp o sta à s tu a s questões.
A a u to rid a d e d os séculos r e s o lv e u -a s a teu fa;vor.
A vitoriosa. a p o lo g ia d e t u a n o b r e c o n d u ta , h a j a de te
a r m a r p a r a se m p re c o n tra a s z o m b a r ia s e s o f i s ^ n s dos
in fe rio re s , tão rid íc u lo s e a tre v id o s com o ig n o ra n te s.
A g o r a s a b e s q u a n to é im p o rta n te e solidam en te f u n ­
d a d a a p r á t ic a h a b it u a l do S in a l d a C ru z.
E ’s com petente p a ra c a lc u la r o v a lo r m esq u in h o dos
que o n ão fa ze m .
S'abes a p r e c ia r a fa lt a de c a rá c te r d o s que se e n v e r-
•ronham de o fa z e r .

A d e u s.
Q u e o S e n h o r se sm ereeie de nós.
I n hoc S tg n o vinces.

F IM
í N D I C E

Prefácio (da segunda edição francesa ) .............. 7


Carta de S. ^m . o Cardeal Altíeri a Mons. Gaurnf' ___ 15
B reve de S. Santidade o Papa; Pio I X .............................. 17
N ota Prelim inar (d a primeira edição francesa) ............ 20

P R IM E IR A C A R T A

1. O mundo actua.l ......................................................... 21


2. Hoje o Cristão não faz ou faz raras vezes, ou faz mal
feito o Sinal da C ruz ................................................ 25
3. Os antigos Cristãos faziam-no, e muitas vezes, e bem
feito .................... 26
4. Quem estará com a razão e com a Verdade?.......... 28

SEG UND A CARTA

1. Precedentes a favor dos primeiros Cristãos ............. 29


2. Primeiro precedente: a proximidade dos Apóstolos 30
3. Segundo precedente: a santidade ........................... 31
4. Terceiro precedente: o uso dos verdadeiros Cristãos 35
5. F o ram os Padres da Ig re ja grandes genios? ......... 36

T E R C E IR A C A R T A

1. Continuação do terceiro precedente: os Doutores elo


oriente e do ocidente ................................................ 38
2. Constantino, Teodósio, Carlos Magno, São Luis,
Bayard, D. João d’Austria, Sobieski .......................
3. Quarto precedente: conduta da Igreja ............ ............ 42
4. Quinto precedente: os que fazem o Sinal da Cruz .. . 1-7
5. Resumo .......................................................................... 48
QUARTA CARTA

1. Resposta a um a objecção ............................................. 50


2. Razões tiradas d a própria nat^ureza do Sinal d a Cruz:
O Sinal da C ruz é cinco coisas .................................. 53
3. É um Sinal que enobrece o homem, porque é divino 54
4. A idade de ouro do Cristianismo .............................. 55
5. Quem é o autor do Sinal da Cruz? .......................... 57

Q U IN T A CARTA

1. O Sinal da C ^ b nos enobrece .................................. 59


2. É o brasão do Católico que é um grande povo ____ 61
3. O Sinal d a C ^ nos ensina a respeitar nossa pessoa 63
4. Vergonha dos que nSo fazem o Sinal da Cruz............ 65
;) . Desprezo do grande tesouro que é — a vida - ------ 67

SEXTA CARTA

1. Resumo da carta p ^ ^ a le n te ..................................... 70


2. O Sinal da Cruz é um L iv ro que encerra toda a ciôn-
cla de Deus, do homem e do m u n d o ............... 71
3. Um Mistério ................................................................ 73
4. O Sinal da Cruz nos ensina com autoridade, lucidez
e profundeza ....... 74
5. O Sinal da Cruz, Mestre o mais sábio e o mais conciso 7'7

S É T IM A C A R TA

1. Luga^- que o Sina I da Cruz ocupa no mundo .......... 79


2. E m que se tornou o mundo, desde que deixou de fa ­
zer o Sinal da C r u z %
3. O Sinal d a C^ruz é um tesouro que nos enriquece .. . 85
-1. Um a grande Lei moral .............................................. 8i

O IT A V A C A R T A

1. O Sinal da Cruz conhecido e praticado desde a origem


do mundo .................................................................... 90
2. Sete modos de fazer o Sinal da Cruz ....................... 91
3. Jacob, Moisés, Sansão, fizeram o Sinal da Cruz .. . 92
4. Testemunho dos Padres, — Sansâo, David, Salom ão
e todo o povo judeu faziam o Sinal da Cruz e reconhe­
ciam o valor dele ......................................................... 95
N O N A CARTA
1. O Sinal da Crua entre os pagãos. N ovas particulari­
dades sobre um a form a exterior do Sinal da Cruz
entre os primeiros Cristãos ...................................... 103
2. Os mártires do anfiteatro ............................................ 105
3. Etimologia da palavra “a d o rar" .............................. 103
4. Os pagãos adoravam fazendo o Sinal da Cruz. De
que modo o faziam? Prim eiro modo ....................... 111

D É C IM A C ^ r p A

1. Segundo e terceiro modo pelos quais os pagãos fa ­


ziam o Sinal d a Cruz. Testemunhos. Pieta.s publico 114
2. Os pagãos c o n h e c ia m uma potência misteriosa
no Sinal da Cruz. De onde lhes vinha esta crença? 119
3. Grande mistério do m undo moral. Importância do
Sinal d a Cruz aos olhos de Deus. O Sinal da Cruz
do mundo físico ......................................................... 120
4. P a l a ^ s dos Padres e de Platão .............................. 122
5. Inconsequência dos pagãos antigos e modernos. R a ­
zão do ódio particular do demónio ao Sinal da Cruz 125

U N D É C IM A C A R T A

1. O Sinal da Cruz é um tesouro que nos enriquece


porque é um a suplica: Provas. Súplica poderosa:
Provas. Súplica universal: Provas ........................... 130
2. E le provê a todas as necesidades. O Homem carece
de l ^ s p ara o seu espírito. O Sinal da Cruz, con­
segue-as: Provas ......................................................... 139

D U O D É C IM A carta

1. Necessidade perpétua do Sinal da, Cruz para obter


força. Recomendação e prática dOs Chefes da luta
espiritual. Sinal d a Cruz nas tentações ................ 148
2. Sinal da Cruz n a morte. Exem plo dos Mártires.
Exem plo dos verdadeiros Cristãos, no acto de m orrer 154
3. Os moribundos podiam a seus irmãos lhes fizesem o
Sinnl de Cruz ................................................................ Ifi9

D É C IM A T E R C E IR A C A R T A

1. O Sinal da C ru z na ordem temporal ......................... 162


2. Dá vista aos cegos ouvidos aos surdos ..................... 163
3. D á a fala aos mudos ....... 166
4. D á uso dos membros aos coxos ep a ra litic o s 168
5. Cura febres e outras moléstias.................................... 171
!l. Lim pa os leprosos e tira o cancer 173 .
7. ^ ra z à vida os próprios mortos................................... 175
8. Conclusão .................................................................... 177

D É C IM A Q U A R T A CARTA

1. O Sinal da Cruz aplaca as tempestad<*s .................. 1.71-:


2 A paga os incêndios ...................................................... 180
3. Defende dos perigos ................................................... 181
4. Suspende o ímpeto das ondas. Faz entrar as águas
em seu leito ................................................................ 183
5. A fugenta os animais ferozes ..................................... 185
6. Preserva do veneno ................................................... 187
7. Livra-nos das tempestades e dos raios ....................... 189
8. Protege-nos d e tudo o que possa prejudicar a saúde
e a vida ......................................................................... 191

D É C IM A Q U IN T A CARTA

1. Resposta a uma questão ............................................ 195


2. O Sinal da Cruz renova hoje seus antigos milagres 197
3. A vida é ^ a luta ..................................................... 199
4. Satanás existe? ......................................................... 20J
5. O Sinal da Cruz é a 11.rma especial, a arm a de pre-
' cisão, contra, os Anjos maus ou demonios ................ 202
fi. Prim eiro Tribunal ..................................................... 204
7. Segundo Tribunal ....................... ■............................... 206
S. Experiências ................................................................ 209

D É C IM A S E X T A C A R T A

1. O Sinal da Cruz despedaça os ídolos : 213


2. O Sinal d a C i^ z Pxpulsa os demónios ...................... 215
3. Os exorcismos ............................................................. 219
■1. Inutiliza os ataques directos dos demônios................. 220
5. Inutiliza tambem os indirectos. Todas as ^ a t u r a s
sujeita!'. ao demónio lhe seivem de instrumento para
nos fazerem mal. ' O Sinal da Cruz im ^ ^ e-o s em
sua acção nociva contra nosso corpo <' nossa Alm a.
Profunda filosofia dos primeiros Ciistãos. Uso, que
faziam do Sinal da Cruz. Quadro por S. Crisóstomo 224
il. Duas grandes Verdades ................................................ 226
7. Pára-raio e Monumento ................................................. 228
íNDICE 343
—— »

D É C IM A S É T IM A C A R T A

1. Natureza do Sinal da Cruz e o caso que dele hoje


se fa.?. 231
2. Que coisa anunciam o esqi.K'cimento P o desprezo <lo
Sinal da ^ u z ? 232
3. Espectáculo do mundo actual ...................................... 234
-1. Permanecer fiel ao Sinal da Cruz, principalmente
antes e depois da comida ............................................ 237
5. Volta de satanás .......................................................... 239
fi. A razão, a liberdade e a honra o recomendam ........ 241
7. A conveniência dos q'Ue fazem o Sinal da Cruz antes
e depois da comida ....................................................... 242

D É C IM A O IT A V A C A R T A

1. A hunra exige que se faça oração antes e dcpnis da


comida .......................................................................... 246
2. O ra r antes e depois de comer é tão antigo cotno o
universo, e lão cxtcnso como d gênero h u m a n o . ms
3. Benedicite e Graças de todos os povos ........ 251
4. Quem n3o pratica tais provas, assemelha-se aos se­
res que não pertencem ao gênero h u m a n o 255

D É C IM A N O N A C A R T A

1. A bênção da mt:>Sa é um acto de lib e r d a d e ............... 260


2. Três tiranos ................................................................ 262
3. Vitória sobre o mundo .......................................... 264
4. Vitória sobre a c a r n e .................................................... 213ô
5. Vitória sobre o demônio ............................................... 270
6. Conclusão notável ........................................................

V IG É S IM A C A R T A

1. Um viajor desnorteado .............................................. 276


2. O Sinal d a Cruz é um verdadeiro guia ..................... 278
3. A lembrança é o pulso da amindc^ .......................... 279
4. Importância do Sinal da Cruz ................................... 280
5. Lem branças Divinas ................................................... 283
6. A lei da imitação ........................................................ 287
V IG É S IM A P R IM E IR A C A R T A

1. Imitação de Deus .. . ............................................... 290


2. O Sinal da Cruz santificador doHomem e das
creaturas .................................................................... 295
3. Ensinando-nos a Caridade, oSinal da Cruz é gu 'a
eloquente e seguro .................................................. 297

V IG É S ^ ^ SEGUNDA CARTA

1. Decisão de ^ Tribunal supremo: Devemos praticar,


resolutamente, mtl-itos vezes e bem o Sinal da Cruz 302
2. Razões p ara praticar resolutamente o Sinal da Cruz ^304
3. Estado de saúde fisica do mundo hodierno .............. 307
4. Qual o estado sanitário das Alm as no mundo actual? 311

V IG É S IM A T E R C E IR A C A R T A

1. Dogm a 'fundamental ................................... 315


2. A reform a, prim eira .filha da renascença do paganis-
. mo derruba todas as C^tres .. 317
3: A revolução francesa, segunda filha do paganismo,
imita sua irm ã ............................................................. 318
4. Primeira obrigação: fazer muitas vezes o Sinal da
Cruz ............................................................................. 321
5. Segunda obrigação: F azer bem o Sinal da C r u z 323
6. O Sinal d a Cruz feito de preferência na f r o n t e 327
7. Quatro cousas necessárias para sd fazer bem o Sinal
da Cruz ........................................................................... 330
8. Constantino .............................................................. . 333
Composto e Impresso na
LI N Ò C R Â F I C A
R. Almirante Barroso, 478
SAO PAULO

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